Uma terça-feira de noticiário quente na mídia comercial brasileira e muita exposição negativa sobre o Brasil no exterior. Os jornais se dividem quanto aos temas das manchetes de capa. A Folha relata que a CPI quer investigar testes de Covid e líder do governo, enquanto O Globo reporta que o STF recebe pedido de ação contra Bolsonaro por prevaricação. Já o Estadão informa que a ANEEL quer dobrar taxa sobre energia por conta do risco de apagão. Valor destaca que o Congresso discute reduzir tributação de dividendos, enquanto a edição brasileira do El País traz ampla reportagem apontando que a América do Sul é agora o epicentro mundial da pandemia. Na política, a pressão sobre Bolsonaro se mantém em alta – com jornais estrangeiros tratando da nova crise contra o presidente da República na compra de vacinas, o aumento da pobreza e da desigualdade no país, responsabilizando diretamente o líder da extrema-direita brasileira, e a informação no jornal inglês The Guardian de que o país poderia ter poupado 400 mil vidas, se Bolsonaro tivesse adotado outro comportamento diante da crise sanitária – leia em Brasil na Gringa. Folha informa que a CPI quer investigar compra de testes de Covid e fechar o cerco a Ricardo Barros, líder do governo Bolsonaro. Sentindo o cerco, o presidente disse ontem que não tem como saber o que acontece nos ministérios. Ao Globo, Barros disse não vai deixar a liderança. A ministra Rosa Weber, do STF, cita 'grave suspeita' e diz que compra da Covaxin pelo governo foi 'pouco transparente'. Ontem, senadores apresentaram notícia-crime contra Bolsonaro no STF por suposta prevaricação no caso Covaxin. Em entrevista à Folha, o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), resume o caso: "Não se tratava de ideologia, era o velho esquema de corrupção". A Folha avança na apuração e revela que o advogado de Ricardo Barros trabalhou para chineses da CanSino em negociação com governo Bolsonaro, alvo da CPI da Covid. E mais: o jornal informa que o servidor da Saúde réu com Ricardo Barros atuou em compra da Covaxin pelo governo. Ao Globo, o líder disse que prejuízo de R$ 19,9 milhões na Saúde foi 'caso isolado de insucesso'. Estadão diz que Bolsonaro mantém o PP na chefia de área que compra vacinas no Ministério da Saúde. "Setor responsável por contratos na pasta é dominado por indicações do partido de Ricardo Barros, implicado no caso Covaxin", informa. Segundo o jornal, a Anvisa se queixou de abordagem direta da Precisa para liberação de vacina indiana. "Manifestação é mais um elemento que reforça as suspeitas de irregularidades sobre a importação da Covaxin, que previa a entrega de 20 milhões de doses por R$ 1,6 bilhão", aponta O Globo. O Palácio do Planalto discute chance de Eduardo Pazuello se pronunciar em defesa de Bolsonaro no caso da Covaxin. Míriam Leitão escreve no Globo que Bolsonaro tem muito a explicar: "O jogo mudou. Com a notícia-crime protocolada por três senadores, o presidente terá que dar as respostas que tem se negado a apresentar desde que o assunto veio à tona. A resposta 'eu não tenho como saber o que acontece nos ministérios' não melhora a vida de Bolsonaro". No Valor, Andréa Jubé ouve o líder José Guimarães (PT-CE) sobre a estratégia das oposições de reforçar as manifestações para avançar o pedido de impeachment. "Para o vice-presidente nacional do PT, deputado José Guimarães, 'o que fará Arthur Lira deferir o pedido de impeachment é a pressão social'. Segundo o petista, a oposição deve 'concentrar todos os esforços nas mobilizações de ruas, porque não tem essa de deixar sangrar para facilitar nossa vida em 2022'. Guimarães acredita que Bolsonaro não se sustentará até o ano que vem num ambiente de instabilidade: 'Vamos apostar todas as fichas no impeachment'. Em outra frente de desgaste, Estadão relata que o orçamento secreto incluiu outros três ministérios e que negociação ocorreu até por WhatsApp. Resposta do governo ao TCU mostra acertos para repasse de R$ 261 mi de emendas de relator pelas pastas da Defesa, da Agricultura e da Justiça. A movimentação de recursos para garantir apoio político teve foco maior no Desenvolvimento Regional, mas também alcançou o Programa Calha Norte, tocado pelos militares nos extremos da Amazônia. SUPREMO Valor relata que o encurralamento de Bolsonaro na CPI e seu declínio nas pesquisas de opinião fortaleceram senadores da base governista e fora dela a retomar a discussão em torno da vaga do ministro Marco Aurélio Mello no STF. As resistências ao nome do advogado-geral da União, André Mendonça, somada à oportunidade de uma reconfiguração de forças na mesa do Senado, colocaram em pauta o nome do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). A ida de Pacheco para o Supremo devolveria as chances de o Senado voltar às mãos do MDB. LULA O Globo informa que o ministro Ricardo Lewandowski, do STF, anulou ontem as provas produzidas contra Lula a partir do acordo de leniência da Odebrecht celebrado pela força-tarefa da Operação Lava-Jato. A decisão foi tomada no caso do Instituto Lula. Na última quarta-feira, o plenário da Corte confirmou, por 7 votos a 4, a decisão da Segunda Turma que declarou o ex-juiz Sergio Moro parcial ao analisar o processo do petista no caso do tríplex de Guarujá. Após o placar sobre a suspeição, o ministro Gilmar Mendes estendeu os efeitos da decisão para os outros processos conduzidos pelo ex-magistrado contra Lula. ÍNDIOS Folha noticia que o Brasil foi citado pela primeira vez como um caso de risco de genocídio no Conselho de Direitos Humanos da ONU, por causa de crimes contra populações indígenas. Em relatório apresentado na 47ª sessão regular do conselho, Alice Wairimu Nderitu, conselheira especial para prevenção de genocídio, afirmou: "Na região das Américas, estou particularmente preocupada com a situação dos povos indígenas. No Brasil, Equador e outros países, peço aos governos que protejam as comunidades em risco e garantam a responsabilização pelos crimes cometidos". Nos termos adotados pelo Estatuto de Roma, documento que criou o Tribunal Penal Internacional, genocídio implica condutas praticadas contra um grupo nacional, étnico e religioso com a finalidade de destruir no todo ou em parte esse grupo. LÁZARO Jornais informam que o presidente comemorou ontem a morte do bandido Lázaro Barbosa, que morreu nas mãos da polícia após um cerco que durou 20 dias. CPF cancelado, escreveu Bolsonaro nas redes sociais. Barbosa ficou conhecido como serial killer do DF. A expressão CPF CANCELADO é adotada por um apresentador de TV bolsonarista para comemorar a morte de criminosos. CRISE Jornais reportam que o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, pediu ontem que a população poupe energia e água para enfrentar a crise hídrica. "O uso consciente e responsável de água e energia reduzirá consideravelmente a pressão sobre o sistema elétrico, diminuindo também o custo da energia gerada", declarou. Albuquerque fez um pronunciamento em rede nacional de TV. O objetivo foi tentar afastar os rumores de que pode haver apagão ou racionamento de energia neste ano devido ao agravamento da crise hídrica, que deixou os reservatórios das hidrelétricas em seu pior nível em 91 anos. Valor aponta que medida provisória dá a ministros mais poderes para enfrentar a crise. MP cria instância decisória para adotar as medidas urgentes para afastar o risco do país sofrer apagão. BRASIL NA GRINGA New York Times traz ampla reportagem de duas páginas sobre a crise sanitária no país. No Brasil, um toque de finados mais terrível a cada dia – é o título da reportagem sobre as 500 mil mortes. "Com 2,7% da população mundial, o Brasil sofreu 13% das fatalidades do Covid-19 e a pandemia não está diminuindo", informa. Com chamada de capa e foto ocupando o centro da página, o Washington Post noticia a erupção de cidades de tendas no Brasil, descrevendo o aumento da pobreza e da desigualdade social no país. "Bolsonaro disse que sua resposta direta à pandemia protegeria os pobres do Brasil. Mas eles acabaram sofrendo mais", relata o jornal, em reportagem do correspondente Terrence McCoy. "Em face de um dos piores surtos do mundo, ele minou quase todas as medidas de contenção propostas por funcionários federais e estaduais, apelando para as necessidades dos brasileiros pobres da classe trabalhadora. Eles não podiam ficar em casa, disse ele. Eles tiveram que trabalhar para sobreviver". Alerta o jornal: "Quase 1 em cada 5 brasileiros afirma ter ficado sem qualquer renda. Metade do país está lutando para colocar comida na mesa. Dezenove milhões dizem que estão passando fome. As taxas de desemprego e desigualdade estão em níveis recordes. Depois que o governo reduziu um programa de pagamentos de pandemia aos brasileiros mais pobres, o maior número de brasileiros em uma década caiu na extrema pobreza, vivendo com menos de US$ 2 por dia. A população de sem-teto aumentou". O jornal Washington Post reproduz ainda despacho da AP informando que Brasil vai realocar tropas para a Amazônia para combater o desmatamento. "O presidente do Brasil está enviando tropas de volta à Amazônia para reforçar o policiamento contra a exploração madeireira e outros desmatamentos ilegais, em meio a críticas internacionais ao aumento do desmatamento e apenas dois meses após a retirada de missão militar semelhante", diz o texto. O britânico Financial Times traz resenha do livro Carne, Bíblia e Balas, de Richard Lapper, que trata da ascensão e o governo do Bolsonaro no Brasil. "Um olhar abrangente e revigorantemente equilibrado sobre o que a administração populista nos diz sobre a nação latino-americana moderna", resume o jornal. "A confusão do governo de Bolsonaro espreita ao longo deste livro incisivo, desde o aumento do desmatamento na Amazônia até o tratamento desajeitado da China (o maior parceiro comercial do Brasil). Essa bagunça voltou para casa com a pandemia Covid-19. A resposta inicial do presidente ao teste: 'Não vou andar por aí com o rabo entre as pernas'", diz a resenha. "No entanto, é a inépcia da classe política brasileira que realmente explica sua ascensão. Com uma compreensão nascida de anos de observação dos jogos de poder de Brasília, Lapper descreve em detalhes com muitas estatísticas como os negócios são feitos e os fundos são arranhados. Em 2018, uma combinação de má gestão econômica, clientelismo político e corrupção — descrições que ocupam a primeira metade do livro — lentamente desacreditaram os partidos estabelecidos do Brasil, especialmente o Partido dos Trabalhadores, de esquerda". Já o jornal The Guardian repercute estudo de Pedro Hallal apontando que o Brasil poderia ter impedido 400.000 mortes de Covid com uma resposta melhor. "O epidemiologista por trás do estudo da escala do desastre diz que o governo de Jair Bolsonaro é 'inteiramente' responsável", sublinha. "O Brasil poderia ter salvado 400.000 vidas se o país tivesse implementado medidas de distanciamento social mais rígidas e lançado um programa de vacinação mais cedo, de acordo com um eminente epidemiologista que está liderando o primeiro estudo para quantificar a escala do desastre de Covid no país", diz a reportagem, assinada por Flávia Milhorance. "Essas políticas teriam evitado 80% das mortes de meio milhão de Covid registradas em um dos países mais afetados do mundo, disse Pedro Hallal, professor da Universidade Federal de Pelotas". Ele é direto: "A responsabilidade por esses números está inteiramente nas costas do governo federal — e particularmente nas do presidente". O francês Le Monde destaca o novo escândalo contra Bolsonaro: suspeita de corrupção na compra da vacina. "O pedido de abertura de inquérito foi apresentado ao Supremo Tribunal Federal por três senadores. Este procedimento pode levar à destituição do Chefe de Estado", informa o jornal, a partir de despacho da AFP. "O pedido é baseado no depoimento, sexta-feira, de um funcionário do Ministério da Saúde e seu irmão deputado que teve o efeito de uma bomba durante uma audiência perante esta comissão. Esse funcionário, Luis Ricardo Miranda, responsável pelas importações de medicamentos do ministério, viu no dia 18 de março pousar em sua mesa uma fatura suspeita de 45 milhões de dólares por três milhões de doses da vacina Covaxin, do laboratório indiano Bharat Biotech", noticia. O argentino Página 12 também noticia a investida de senadores ante o STF contra Bolsonaro por crime de prevaricação. Senadores pedem ao Supremo Tribunal Federal que investigue Bolsonaro por "vacinação". "Eles acusam o presidente de tráfico de influência, corrupção e prevaricação, entre outros crimes", resume o jornal. O diário português Público destaca que cumplicidade de Bolsonaro em escândalo de compra de vacinas deixa Governo brasileiro sob fogo. Ele alega ignorância para justificar suspeitas de corrupção na compra de vacinas. Em artigo no Página 12, Emir Sader fala sobre o novo ciclo do PT. "O novo ciclo que se abre é a luta pela redemocratização do Brasil, quando novos horizontes se abrem para o país e para o PT, com a luta pela eleição de Lula para a presidência. O partido tem que se reciclar, tem que estar à altura dos desafios e das circunstâncias. Será um período até as próximas eleições presidenciais, outubro e novembro de 2022, ou outubro se Lula vencer no primeiro turno, ou antes, em caso de impeachment de Bolsonaro". INTERNACIONAL New York Times destaca em manchete de primeira página que um juiz rejeita dois casos antitruste contra o Facebook. Segundo o jornal, as decisões foram um grande golpe nas tentativas de conter a Big Tech. O juiz disse que uma das denúncias, da Comissão Federal de Comércio, não continha fatos e deu à agência 30 dias para arquivá-la. Wall Street Journal também deu destaque à notícia: Ações judiciais antitruste do governo contra o Facebook rejeitadas por juiz federal. Ele decidiu que a Federal Trade Commission e os estados não fizeram alegações válidas de que o Facebook se envolveu em monopolização ilegal. |
AS MANCHETES DO DIA |
Folha: CPI quer investigar testes de Covid e líder do governo Estadão: Com risco de apagão, agência quer dobrar taxa sobre energia O Globo: STF recebe pedido de ação contra Bolsonaro por prevaricação Valor: Congresso discute reduzir tributação de dividendos El País (Brasil): América do Sul, epicentro mundial da pandemia BBC Brasil: Brasil tem 'legião de bebês prematuros' com alta de covid em grávidas UOL: Planos devem R$ 2,9 bi ao SUS; valor pagaria 58 milhões de doses de vacina G1: Crise hídrica: Brasil pode repetir cenário de 2001 com apagão e racionamento? R7: Brasil recebe nesta terça-feira mais 528,8 mil doses da vacina da Pfizer e 1 milhão da CoronaVac Tijolaço: Hoje é dia do "choque da inflação" Brasil 247: Senadores que denunciaram Bolsonaro ao STF apontam indícios claros do crime de prevaricação DCM: Intermediadora de corrupção pressionou Anvisa por liberação da Covaxin Rede Brasil Atual: Governo pede 'esforço' de consumidores; Aneel fala em aumento na conta de luz Brasil de Fato: Tenente-coronel critica PM de Goiás no caso Lázaro: "Operação foi uma catástrofe" Ópera Mundi: Kfouri: É necessário um choque de capitalismo no futebol brasileiro Fórum: Exclusivo: CanSino rompe com empresa de amigo de Ricardo Barros em compra de 5,2 bilhões em vacina Poder 360: Bento Albuquerque nega risco de apagão, mas pede economia de energia New York Times: Juiz rejeita casos antitruste contra Facebook Washington Post: Juízes passam disputa de gênero WSJ: Processos antitruste do Facebook rejeitados por juiz Financial Times: Javid muda o tom das restrições em um apelo à nação para aprender a viver com a Covid The Guardian: Ministros devem acabar com o isolamento de alunos na Inglaterra The Times: Alunos enfrentam proibição total de uso de telefone celular Le Monde: Derrota grave para RN e LRM contra a abstenção massiva Libération: Bertrand-Macron. Uma direita para dois El País: O Tribunal de Contas reclama 1,9 milhão a Oriel Junqueras El Mundo: "A pressão do Governo não nos afeta, vamos seguir adiante" Clarín: Apesar das fortes queixas, o governo defende a restrição de voos Página 12: A todo trem Diário de Notícias: "As escolas eram as últimas a fechar, aqui foram as primeiras" Público: Cerca de 10% das câmaras estiveram sempre nas mãos do mesmo partido Frankfurter Allgemeine Zeitung: Próxima demolição de desempenho The Moscow Times: Rússia quebra recorde diário de fatalidades por coronavírus Global Times: Xi e Putin anunciam extensão do tratado de amizade antes do centenário do PCC Diário do Povo: Xi discursa na cerimônia de entrega da medalha de 1º de julho |
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