Um dos ministros mais perigosos do governo Bolsonaro acaba de pedir demissão. Ricardo "Yale" Salles, representante de tudo que há de mais danoso para o meio ambiente, deixou a Esplanada alegando "motivos familiares". Mas nós sabemos muito bem os motivos de Salles: o STF está em seu encalço e colocou fim à farra da exportação de madeira sem autorização que vinha ocorrendo sob seu comando. A aliança imunda entre o Ibama e as madeireiras você viu primeiro no Intercept. Em março do ano passado mostramos o esquema adotado pelo ministério para legalizar a exportação irregular que acabou dando origem à operação Akuanduba. A manobra derrubou um mecanismo criado pelo Ibama em 2011 com o objetivo de controlar a retirada de madeira do Brasil. A partir daquele momento, as empresas só podiam exportar madeira com uma autorização do Ibama, emitida no embarque. Desde 2019, sob o governo Bolsonaro, essa regra era desrespeitada. Era Salles passando sua boiada. A farra acabou em janeiro de 2020, quando os Estados Unidos passaram a exigir a autorização do Ibama. As cargas começaram a ficar retidas em portos no exterior e um ex-PM que Salles escalou para chefiar o Ibama no Pará, Walter Magalhães, autorizou, retroativamente, a exportação de 5 contêineres retidos. Nossa reportagem mostra como a "ação emergencial" foi estendida a outras empresas e, dias depois, o presidente do Ibama, Eduardo Bim, contrariando parecer de técnicos da autarquia, derrubou a necessidade de autorização e liberou geral a exportação de madeira nativa. A operação que a Polícia Federal colocou nas ruas em maio deste ano aponta para um “grave esquema de facilitação ao contrabando de produtos florestais”. Eduardo Bim foi afastado do cargo e o Coaf indicou uma "movimentação extremamente atípica" no escritório de advocacia que tem Salles como sócio. As transações, de 2012 até junho do ano passado, somam R$ 14 milhões. Demorou, mas nosso trabalho causou o impacto esperado. Ricardo Salles precisa ser investigado, denunciado e responsabilizado por sua gestão desastrosa, pelos danos que causou ao país e a centenas de populações vulneráveis. E, claro: precisa responder pelos casos de corrupção que envolvem suas decisões políticas. Não temos como recuperar o que foi destruído sob o comando de Salles. Mas temos um caminho bem nítido para percorrer: precisamos ir pra cima da escória que tomou conta deste país. É preciso que todo dia a Justiça bata à sua porta cobrando explicações por seus atos. Não podemos dar descanso para Bolsonaro e sua trupe. Sabemos que no lugar de Salles virá um igual ou pior. Mas isso não diminui a importância dos fatos recentes. A pressão sobre ele foi grande o suficiente para que optasse por perder o foro privilegiado, mesmo protegido pelo Palácio do Planalto no cargo. Temos que fazer com que todos eles sintam a mesma pressão.
Um abraço, |
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