quinta-feira, 24 de junho de 2021

Ricardo Salles fora do governo

 

Quarta-feira, 23 de junho de 2021
Ricardo Salles fora do governo

Um dos ministros mais perigosos do governo Bolsonaro acaba de pedir demissão. Ricardo "Yale" Salles, representante de tudo que há de mais danoso para o meio ambiente, deixou a Esplanada alegando "motivos familiares". Mas nós sabemos muito bem os motivos de Salles: o STF está em seu encalço e colocou fim à farra da exportação de madeira sem autorização que vinha ocorrendo sob seu comando.
 
A aliança imunda entre o Ibama e as madeireiras você viu primeiro no Intercept. Em março do ano passado mostramos o esquema adotado pelo ministério para legalizar a exportação irregular que acabou dando origem à operação Akuanduba. 
 
A manobra derrubou um mecanismo criado pelo Ibama em 2011 com o objetivo de controlar a retirada de madeira do Brasil. A partir daquele momento, as empresas só podiam exportar madeira com uma autorização do Ibama, emitida no embarque. 
 
Desde 2019, sob o governo Bolsonaro, essa regra era desrespeitada. Era Salles passando sua boiada. 
 
A farra acabou em janeiro de 2020, quando os Estados Unidos passaram a exigir a autorização do Ibama. As cargas começaram a ficar retidas em portos no exterior e um ex-PM que Salles escalou para chefiar o Ibama no Pará, Walter Magalhães, autorizou, retroativamente, a exportação de 5 contêineres retidos. Nossa reportagem mostra como a "ação emergencial" foi estendida a outras empresas e, dias depois, o presidente do Ibama, Eduardo Bim, contrariando parecer de técnicos da autarquia, derrubou a necessidade de autorização e liberou geral a exportação de madeira nativa. 
 
A operação que a Polícia Federal colocou nas ruas em maio deste ano aponta para um “grave esquema de facilitação ao contrabando de produtos florestais”. Eduardo Bim foi afastado do cargo e o Coaf indicou uma "movimentação extremamente atípica" no escritório de advocacia que tem Salles como sócio. As transações, de 2012 até junho do ano passado, somam R$ 14 milhões. 
 
Demorou, mas nosso trabalho causou o impacto esperado. Ricardo Salles precisa ser investigado, denunciado e responsabilizado por sua gestão desastrosa, pelos danos que causou ao país e a centenas de populações vulneráveis. E, claro: precisa responder pelos casos de corrupção que envolvem suas decisões políticas.
 
Não temos como recuperar o que foi destruído sob o comando de Salles. Mas temos um caminho bem nítido para percorrer: precisamos ir pra cima da escória que tomou conta deste país. É preciso que todo dia a Justiça bata à sua porta cobrando explicações por seus atos. Não podemos dar descanso para Bolsonaro e sua trupe. 
 
Sabemos que no lugar de Salles virá um igual ou pior. Mas isso não diminui a importância dos fatos recentes. A pressão sobre ele foi grande o suficiente para que optasse por perder o foro privilegiado, mesmo protegido pelo Palácio do Planalto no cargo. Temos que fazer com que todos eles sintam a mesma pressão.

Um abraço,

Leandro Demori
Editor-executivo

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