quinta-feira, 24 de junho de 2021

Salles cai no dia em que CPI chega ao gabinete de Bolsonaro

Jair Bolsonaro foi avisado pessoalmente sobre as possíveis irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin e não tomou providências. Em entrevista aos repórteres Natália Portinari, Julia Lindner e Thiago Bronzatto, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Fernandes Miranda disse ter se encontrado com o presidente no Palácio da Alvorada no dia 20 de março e mostrado a ele documentos com pedido para pagamento antecipado fora do contrato para importar doses perto do vencimento. A Covaxin foi a única vacina comprada com um intermediário, a Precisa Medicamentos, e custou R$ 80 por dose, o imunizante mais caro adquirido pelo Brasil. O encontro no Alvorada foi arranjado pelo deputado bolsonarista Luís Miranda (DEM-DF), irmão do servidor, que sustenta as afirmações. Bolsonaro teria dito aos dois que encaminharia o caso à Polícia Federal, mas o diretor-geral à época, Rolando Alexandre de Souza, disse não se lembrar de qualquer pedido nesse sentido. (Globo)

O presidente da Câmara, Arthur Lira, afirmou ter aconselhado Luís Miranda a levar a público a história. Até aqui, Lira vinha atuando apenas em favor do presidente. (Poder 360)

Com a denúncia na rua, o governo enfim acionou a PF — contra os denunciantes. Em tom agressivo, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, disse que Bolsonaro mandou PF, CGU e MPF investigarem o deputado e seu irmão. “Quero alertar o deputado Luis Miranda de que o que foi feito hoje é no mínimo denunciação caluniosa e isso é crime tipificado no Código Penal”, disse Onyx. “Deputado Luís Miranda, Deus está vendo. Mas o senhor não vai só se entender com Deus, mas com a gente também.” (Estadão)

Miranda reagiu dizendo que pedirá à CPI da Pandemia a prisão do ministro por coação de testemunha. Na sexta-feira, ele e o irmão prestarão depoimento à comissão do Senado. O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), pedirá segurança para os dois e seus familiares. (Metrópoles)

O relator da CPI, senador Renan Calheiros, cogita pedir prisão de Onyx por coação de testemunha. (G1)

Durante seu pronunciamento, Onyx negou que o governo já tenha feito algum pagamento à Precisa, mas, como revela Valdo Cruz, o Ministério da Saúde já empenhou (reservou) R$ 1,6 bilhão para a compra da vacina, cujo contrato foi anunciado em fevereiro pelo próprio ministério. (G1)

O ministro também disse que o documento apresentado pelos irmãos Miranda era falso, diferente das duas versões enviadas pela Precisa. A empresa, porém, já havia admitido mais cedo ter enviado uma terceira versão, desmentindo Onyx. (Globo)

Para o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), a denúncia é a mais grave já recebida pela comissão e que terá de ser tratada “com delicadeza”. (Poder360)

Enquanto isso... Ontem foi um dia de derrotas para o governo no STF. O ministro Luiz Roberto Barroso rejeitou a ação de Bolsonaro para suspender decretos estaduais de distanciamento social, e seu colega Kássio Nunes Marques manteve a quebra, determinada pela CPI, dos sigilos telefônico e telemático de Francisco Emerson Maximiano, sócio-administrador da Precisa. (Globo)

Thomas Traumann: “Bolsonaro sabia. O caso Covaxin desmonta a narrativa do presidente de que havia recusado as ofertas da Pfizer por preço e por falta de autorização. Ao contrário da Pfizer, que enviou mais de 80 emails para fechar o negócio, a Covaxin resolveu a compra em menos de dois meses por R$ 80 a dose. O primeiro lote da Pfizer saiu por R$58 a dose. O governo que prometia uma nova política chafurda em um esquema de corrupção que aproveitou o desespero das pessoas por remédios e vacinas.” (Veja)




Enquanto o país digeria a denúncia envolvendo Bolsonaro e a Covaxin, uma edição extra do Diário Oficial da União anunciou a exoneração “a pedido” do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por favorecimento a madeireiros ilegais na Amazônia. (G1)

Radar: “A decisão de exonerar Salles veio, segundo fontes da investigação, porque o governo foi alertado de que uma leva de novas provas contra Salles foi enviada ao STF e poderia ‘contaminar o PR (Presidente da República)’. Além disso, o celular do ministro foi aos Estados Unidos para passar pela quebra de senha. Também estaria próxima a chegada, no STF, das quebras de sigilo bancário de Salles e da mãe dele.” (Veja)

Com a demissão, porém, os inquéritos contra Salles podem sair do STF. (Poder360)

Salles foi substituído por Joaquim Álvaro Pereira Leite, até então secretário da Amazônia e Serviços Ambientais no ministério. A troca não indica mudanças na política ambiental. Leite foi conselheiro da Sociedade Rural Brasileira (SRB), uma das maiores entidades ruralistas do país, e sua família está envolvida em disputas de terras com indígenas no interior de São Paulo. (BBC Brasil)

Quem riu por último foi o delegado federal Alexandre Saraiva. Em abril ele foi afastado da superintendência da PF no Amazonas após apresentar denúncia-crime contra Salles ao STF por interferir na investigação extração ilegal de madeira. Ontem, Saraiva tuitou “Eu avisei que não ia passar boiada” e “E eu continuo delegado de Polícia Federal”. (Folha)

Vera Magalhães: “A queda, antes improvável, de um dos ministros preferidos de Bolsonaro coincide com o dia em que a história do ‘Covaxingate’ atingiu o ponto de ebulição, com a revelação de um combo que inclui compra superfaturada, participação direta do próprio Bolsonaro e denúncia (ignorada) de pressão política. A queda de Salles não vai evitar que Bolsonaro continue a passar calor com o Covaxingate. E não pode fazer com que a Justiça, a PF e o MP, além da imprensa e da sociedade, continuem atentos ao comando de ‘passar a boiada’ no Meio Ambiente, uma vez que esta é a vontade do presidente, não de nenhum ‘zero dois’.” (Globo)




O Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu ontem a votação do processo sobre a parcialidade do então juiz Sérgio Moro ao condenar o ex-presidente Lula no caso do tríplex do Guarujá. Embora a maioria já estivesse formada em 7 a 2, mas o decano Marco Aurélio pediu vistas. Nesta quarta-feira, ele e o presidente da Corte, Luiz Fux, votaram contra a parcialidade de Moro, o que não afetou o resultado. (G1)

Nas redes sociais, Moro comentou o resultado negando mais uma vez que tivesse sido parcial. (Twitter)




A Justiça Federal do DF aceitou denúncia contra o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, Filipe Martins, por ter feito um gesto racista numa audiência no Senado. Ele usou os dedos para formar as letras W e P, para simbolizar a expressão “white power”, que em inglês significa “poder branco”. (Jornal Nacional)

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