CAPA – Manchete principal: *”Brasil tem 849 mortes em 24 horas e 37.312 no total”*
EDITORIAL DA FOLHA- *”Novo ingrediente”*: A despeito de passos iniciais promissores, os movimentos que procuram articular a sociedade contra os rompantes autoritários de Jair Bolsonaro ainda têm muito chão a percorrer. Assim o indicam os protestos realizados no domingo (7) em diversas cidades do país. Se o objetivo era uma demonstração de força e coesão, os resultados são ambíguos. Começa-se, claro, pela decisão controversa —e sem dúvida temerária— de estimular pessoas a ocuparem as ruas em plena pandemia que não atingiu seu pico em território nacional. Questionada abertamente por partidos de oposição, autoridades e entidades, a estratégia decerto mobilizou menos gente do que poderia em outras circunstâncias. Embora longe de desprezíveis, os contingentes visíveis nas capitais não se comparam, por exemplo, aos das manifestações em defesa da educação no ano passado. Louve-se, de todo modo, a índole pacífica de praticamente todos os atos. Mal se pode listar como exceção o confronto de um pequeno grupo exaltado com a Polícia Militar na cidade de São Paulo, quando as vias já esvaziavam. O governo Bolsonaro, tudo indica, pretende carimbar nos movimentos os rótulos da baderna e da perseguição política —o que serve tanto para atiçar suas hostes mais fanáticas quanto para buscar aliados entre militares e policiais. Na semana passada o presidente chegou mesmo a chamar de “terroristas” os organizadores dos protestos, e o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, achou tempo na noite de domingo para atacar os “vândalos” dispersados pela PM paulista, a seu ver antidemocráticos. O que de fato ameaça o mandatário, contudo, é a contínua desmoralização de seu governo e o acúmulo de questionamentos cada vez mais graves a sua conduta. Alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal devido à escandalosa interferência na Polícia Federal, entre outros percalços judiciais, e com sustentação precária no Congresso Nacional, Bolsonaro já experimentou o primeiro aumento importante de sua reprovação com os impactos iniciais da pandemia de Codiv-19 no país. Ainda terá de gerir uma economia em frangalhos, com desemprego em alta e contas públicas mais ruinosas a demandar ajustes amargos. As perspectivas para o que resta de seu mandato se afiguram, pois, sombrias. Os movimentos da sociedade mostram a vitalidade da democracia —o que só é má notícia para um presidente em conflito com as instituições, se não com as ruas.
PAINEL - *”Centrão diz que eleição não pode ser adiada com base em achismo e quer manter disputa em outubro”*: Presidentes de partidos do centrão decidiram se posicionar contra o adiamento das eleições e agora defendem que o pleito permaneça em outubro, como está na Constituição. Os políticos dizem que não há comprovação de benefícios para a saúde das pessoas em mudar a data em um mês. "Não dá pra se basear em achismo. Teria que ter comprovação científica. Se tiver, vamos mudar, mas nada hoje diz que novembro vai estar diferente", afirma o deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP). PP, PL, Solidariedade e PSD estão com posições semelhantes. Todos dizem, no entanto, que se houver questão médica relevante que prove ter diferença de um mês para o outro, topam mudar. Há pouco mais de um mês, os partidos sinalizavam pela defesa do adiamento, o que teria que ser feito por meio da aprovação de uma proposta de emenda à Constituição. Em reunião nesta segunda (8), o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sugeriu ao presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, que leve médicos para conversar com líderes. No encontro, segundo relatos, houve consenso de que a mudança de data é necessária, na contramão dos presidentes do partidos do centrão. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), também participou. Barroso deve agendar para a semana que vem a reunião com especialistas. Na conversa no TSE, a ideia discutida foi de passar a eleição para novembro. +++ Esse centrão veste a fantasia do terraplanismo sanitário quando lhe convém. É um dos grandes problemas da política nacional.
PAINEL - *”Tenho muita vontade de gritar e berrar, mas não posso, diz Xuxa após postar selo antifascista”*: Depois de insinuar adesão aos movimentos de oposição contra Bolsonaro com a publicação da hashtag Somos 70% e o selo antifascista, Xuxa diz ao Painel ter "muita vontade de gritar, berrar", mas não pode. "Gostaria muito de dar minha opinião sincera, mas infelizmente nós artistas assinamos um contrato que não podemos falar sobre política", afirma a apresentadora da Record. A amigos e colegas, Xuxa tem lembrado que é contra machismo, racismo, homofobia, e se opõe a pessoas que liberam a destruição do cerrado e da Amazônia para uso da agropecuária.
PAINEL - *”Ex-assessora de Flávio Bolsonaro nega vazamento da PF e ataca Paulo Marinho”*: Ex-assessora de Flávio Bolsonaro na Assembleia do Rio, Valdenice Meliga negou ter participado da suposta reunião na qual um delegado, simpatizante da família, teria antecipado a operação Furna da Onça. O episódio foi trazido pelo empresário Paulo Marinho (PSDB), adversário político do presidente, em entrevista à Folha, em maio. "É história desse homem escroto, irresponsável, ele não tem prova nenhuma. Claro que é mentira. É um irresponsável, um louco, um mal caráter. Só porque vem candidato quer se dar bem, quer aparecer. Ele é suplente do Flávio e quer o lugar do senador", disse Meliga ao Painel, nesta segunda (8). A Polícia Federal e o Ministério Público investigam o caso. A ex-assessora já foi ouvida pela PF.
*”Exército negocia parceria com empresa de armas apoiada por Eduardo Bolsonaro”* - Após intenso lobby do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o Exército está prestes a fechar uma parceria para a fabricação de pistolas da marca americana SIG Sauer no Brasil. O filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é entusiasta de armas, e é visto no mercado como uma espécie de garoto-propaganda da SIG. Sua insistência em promover a empresa gerou desconforto em setores do Exército, já incomodados pela revogação de portarias de controle de armas e munições por ordem do presidente. No seu canal no YouTube e em sua conta no Facebook, Eduardo aparece testando pistolas da marca em um clube de tiro em março deste ano. Em 16 de abril do ano passado, postou no Twitter a foto de uma reunião com representantes da empresa, prometendo ajudá-los: “Falta a garantia política de que o lobby não atochará tantas burocracias para emperrar a instalação” de uma fábrica no país. Em janeiro, o deputado disse que havia sido procurado pela SIG e que acreditava no interesse de outras empresas no Brasil, como a Beretta —a legendária forja italiana dá nome à sua cachorra. Há duas semanas, visitou o general Alexandre Porto, que assumiu a Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados do Exército em substituição a Eugênio Pacelli, cujas portarias foram derrubadas. A Folha não conseguiu falar com o deputado, que presidia a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara nesta segunda (8). A negociação para a nacionalização do portfólio da empresa começou em 2018, mas a chegada da família Bolsonaro ao poder acelerou o processo. Como o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril explicitou, Bolsonaro defende armar a população. A sugestão não foi bem digerida entre fardados, dado que o monopólio da força é dos militares e da polícia. O Ministério Público Federal apura a derrubada das portarias de controle. A ideia da abertura do mercado em si, hoje dominado pela brasileira CBC/Taurus, não é nova. Em 2017, no governo Michel Temer (MDB), a estatal suíça Ruag recebeu autorização para abrir uma fábrica. A Assembleia Nacional do Estado europeu acabou barrando o negócio no ano seguinte, por temer danos de reputação ao país. Outras empresas foram contatadas, inclusive a SIG. Uma delas, a nacional DFA, recebeu neste ano autorização para fabricar em Anápolis (GO) pistolas da marca eslovena Arex e espingardas da turca Barathrum. O acerto com a SIG, contudo, é diferente. Segundo o Centro de Comunicação Social do Exército, está sendo negociada uma parceria entre a sucursal americana da marca, de origem suíço-alemã, e a brasileira Imbel. A Indústria de Materiais Bélicos do Brasil é uma empresa pública ligada ao Comando do Exército. Ela faz munições, fuzis e pistolas. É dependente do governo. Custou R$ 152,2 milhões ao Tesouro para seguir operando em 2019. O Exército informa que as duas empresas só precisam agora do aval dos respectivos governos para firmar um acordo de produção conjunta no Brasil. Ainda não há detalhes sobre metas e investimento. A sucursal americana da SIG foi procurada pela Folha desde a semana passada, mas não respondeu ao contato. Para a empresa, o negócio com a Imbel viria em boa hora. O governo alemão acaba de endurecer as leis de controle sobre armas de atiradores profissionais, e a empresa irá fechar sua fábrica no estado de Schleswig-Holstein. Com 125 empregados, a unidade desde os anos 1990 não era a principal da marca, título que está com a fábrica de New Hampshire (EUA), que negocia com o Brasil. Lá, 1.200 trabalhadores fornecem pistolas e fuzis para as Forças Armadas e polícias americanas. Ainda na Alemanha, seu ex-presidente teve de fazer um acordo judicial em 2019 para evitar ser preso por ter triangulado uma exportação ilegal de 38 mil pistolas para a Colômbia, nos anos 2000. A SIG disputa mercados com pesos-pesados como a CBC/Taurus, fabricante brasileira presente em mais de cem países e uma das principais fornecedoras de munição da Otan (aliança militar ocidental). A briga dos Bolsonaros com a CBC/Taurus é antiga. Desde que era deputado, o hoje presidente falava em “quebrar o monopólio” da empresa. Na realidade, o domínio da empresa tem a ver com a lei, que dá ao Exército a primazia de vetar a importação de armas que tenham similares nacionais. A Taurus sempre se defende da acusação apontando para o fato de que o que trava a entrada de estrangeiros aqui é a carga tributária: 73% do custo de uma pistola é em imposto. No ano passado, Bolsonaro editou um decreto facilitando o acesso a armas —que acabou derrubado no Senado—, que paradoxalmente fez as ações da Taurus subirem. Já Eduardo, além de seu trabalho em prol da SIG, sempre fez críticas abertas ao mercado nacional, ressaltando os problemas de qualidade que a Taurus teve com alguns de seus produtos. A SIG também tem suas questões: o modelo P320, exatamente o que o Exército quer fabricar no Brasil, teve de passar por um recall devido a disparos involuntários nos EUA. A P320, pistola feita de polímero, custa entre R$ 10,7 mil e R$ 19,7 mil no site da distribuidora brasileira da SIG. +++ A reportagem apresenta muitas supostas conclusões que não estão embasadas em muita coisa. Por exemplo, afirma que o Exército não gostou da ideia de armar a população porque é a instituição que tem o domínio da força. Esta é uma hipótese construída sem base, mas é apresentada como certa, como um ponto de discordância entre o presidente e o Exército. Ao mesmo tempo, o texto apresenta a ideia de que Eduardo Bolsonaro é protagonista na parceria entre o Exército e a empresa americana e, novamente, trata-se de uma afirmação baseada em que?
*”Toffoli cobra trégua entre Poderes e diz que 'dubiedade' de Bolsonaro sobre democracia assusta”* - O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Dias Toffoli, afirmou nesta segunda-feira (8) que ações do presidente Jair Bolsonaro e de seu governo têm "trazido dubiedades que impressionam e assustam não só a sociedade brasileira, mas também a comunidade internacional”. Toffoli ressaltou que é necessário estabelecer uma “trégua entre os Poderes” para o devido enfrentamento à pandemia do novo coronavírus. E avisou, em afirmação direcionada "diretamente e em especial” ao chefe do Executivo, que “não é mais possível atitudes dúbias”. O discurso ocorreu em evento por videoconferência em que associações de magistrados, de integrantes da Polícia Federal e do Ministério Público e entidades da sociedade civil entregaram um manifesto de apoio ao Supremo e ao Judiciário. O texto é considerado uma demonstração de força do STF em meio a atritos com Bolsonaro. Nele, as entidades afirmam que os ataques à Justiça ameaçam os valores democráticos do país, além de ressaltarem que a liberdade de expressão “não abarca discursos de ódio e a apologia ao autoritarismo, à ditadura e a ideologias totalitárias que já foram derrotadas no passado”. Um dos principais pivôs das disputas com o Palácio do Planalto, o ministro Alexandre de Moraes fez questão de participar da solenidade e foi o único integrante do STF presente além de Toffoli. No discurso, o presidente da corte destacou que o Brasil tem uma “imprensa livre” e que tem atuado com qualidade na “defesa das instituições”. Toffoli elogiou, ainda, a iniciativa de veículos de comunicação de se unirem para compilar os dados do novo coronavírus no Brasil. Sobre a relação com Bolsonaro, Toffoli lembrou que, ano passado, o chefe do Executivo foi “firme junto à sua base contra a abertura de CPI [sobre o STF] e se manifestou publicamente contra processos de impeachment” de ministros da corte. Toffoli ressaltou que teve “relacionamento harmonioso” com Bolsonaro e seus auxiliares e disse ter certeza que são “democratas, chegaram ao poder pela democracia e pelo voto popular e merecem respeito”. O magistrado também elogiou o empenho do Congresso em evitar crises e adotar as medidas necessárias de combate à Covid-19. E disse que é momento de “diálogo, em vez de confronto, de razão pública no lugar das paixões extremadas”. “Os Poderes da República em todas as esferas da federação, as instituições públicas e privadas e a sociedade civil devem unir forças para, com diálogo, transparência e ciência, preservar vidas, vencer a pandemia e superar suas consequências nefastas nos âmbitos sociais e econômicas”, disse. Mais cedo nesta segunda, Toffoli elogiara o procurador-geral da República, Augusto Aras, conforme noticiou o Painel. Sem dar nomes, o presidente do STF declarou que Aras age com parcimônia, firmeza, liderança, prudência e altivez, mas sem cair na vaidade e sem fazer holofotes, como "infelizmente" ocorria num passado recente. +++ A crítica que Dias Toffoli faz integrantes do MPF que estavam nos holofotes “num passado recente” é significativa.
*”Celso de Mello prorroga por mais 30 dias inquérito sobre interferência de Bolsonaro na PF”*
ENTREVISTA - *”Não é preciso Lula e Ciro se abraçarem para vencer Bolsonaro, diz coordenador do Somos 70%”* - Criador de um movimento que pegou "meio sem querer", segundo suas próprias palavras, o economista Eduardo Moreira, 44, defende a união dos diferentes matizes democráticos em torno do objetivo comum de se opor ao governo e aos ideais preconizados por Jair Bolsonaro (sem partido). "Acho que é uma percepção errada das pessoas de que o Brasil vai dar certo quando o Ciro [Gomes] e o Lula derem um abraço. Quando [Flávio] Dino e [Luciano] Huck se juntarem numa chapa. Isso não vai acontecer. Ciro e Lula vão continuar discutindo, o Huck e o Dino também. Mas a gente quer discutir dentro das regras democráticas", afirma o coordenador do Somos 70%. Inspirado na soma do péssimo, ruim e regular dado a Bolsonaro nas pesquisas do Datafolha, o movimento adota uma linha mais flexível que os demais e diz estar aberto a todos aqueles que sejam contra o governo, incluindo gente que dele participou efetivamente, como o ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro. "Estava vendo outro dia que o Lobão, a Joice Hasselmann, essas pessoas estão dizendo que são parte dos 70%. Como que eu vou dizer que não? Se é contra o governo, está na estatística. Não é um clube." Moreira se diz progressista, alinhado ao MST e afirma que o ex-presidente Lula —que criticou o elitismo desses movimentos— foi tratado com muita violência nos últimos anos, tendo sido alvo de uma condenação injusta. "Acho que quando o presidente Lula fala que a população mais pobre deveria se ver retratada nesses movimentos ele tem, sim, uma parcela de razão. (...) Adoraria ver o presidente Lula se juntando a esses movimentos, mas compreendo e respeito a atitude dele." Moreira afirma ter feito campanha para Ciro Gomes (PDT) no primeiro turno de 2018 e para Fernando Haddad (PT) no segundo. - Como tem sido a relação entre os grupos? - Os três movimentos são muito recentes. Acho que as pessoas deveriam entender que os movimentos não nascem como uma empresa, com "business plan", projeto de longo prazo. Acho que nascem de forma diferente, vão se compreendendo, entendendo a força que representam. Os movimentos estão crescendo, trazendo pessoas para a sua causa, para o seu formato, e agora começaram a conversar. Acho isso muito importante não no sentido de consolidar os movimentos em um só, não acredito que isso vá acontecer nem deva existir. São movimentos complementares. O Juntos tem importantes formadores de opinião. O Basta! tem importantíssimas pessoas do mundo jurídico. E o Somos 70%, desde o começo, quer representar os 70%. Todas as peças. Não tem rosto de ninguém famoso. A ideia é retratar o povo, que forma os 70%, e não a elite, que forma 1%. Uma parte da elite forma os 70%. E fazer com que essas pessoas sejam vistas, ouvidas. Uma coisa curiosa é que você vê em crises, e agora na pandemia, na Europa, na Ásia, nos Estados Unidos, vários líderes repetem a frase "I see you, I hear you". E no Brasil? Quem está escutando as pessoas mais pobres? Não temos dado voz às pessoas na fila dos R$ 600, aos 30 mil mortos. A ideia é que as pessoas possam se ver e se entender como maioria. Acho que o Bolsonaro foi muito esperto quando resolveu colar na imagem do cara simples, que come sanduíche, sai do palácio e ouve as pessoas. Isso fez com que o governo, com essa cara meio forçada popular e com suas milícias digitais e seus milhões de robôs, aparentasse ser a maioria, quando não era. As pesquisas já mostravam que não era maioria em relação a isolamento social, preservação da Amazônia, popularidade. O que o Somos 70% faz é trazer de volta a sensação, principalmente ao cidadão comum, de que é maioria. E aí ele não precisa ter medo de ter sua voz.
- O sr. disse que pretende que o grupo chegue nas pessoas que não fazem parte da elite, diferenciando-se dos outros grupos. O sr. acha que já é possível ver isso? - Acho que não. A gente tem uma falsa percepção. Parei para encher o tanque do meu carro e perguntei: 'Você sabe o que é o Somos 70%?'. Ela respondeu: 'Não, moço, não ouvi ainda, não'. Eu já imaginava. A gente hoje se fecha em bolhas que são tão pequenas e, ao mesmo tempo, na nossa cabeça, tão representativas do mundo que tem lá fora. Os algoritmos das redes sociais, o WhatsApp, viram o nosso "Show de Truman" [filme em que o personagem principal pensa habitar um mundo normal, mas vive em um reality show]. E a gente acha que o mundo é isso. Mas não é. Hoje, olhando algumas pesquisas que mostram a popularidade da hashtag Somos 70%, na internet, nos últimos dias, deu para ver que o ritmo de crescimento é impressionante. Cada vez mais o número de pessoas, espalhadas pelo Brasil, de vários estratos sociais, ficam sabendo da hashtag. As pessoas ouvem, mas e aí? Onde vai chegar? O que quer dizer? Isso vai se construindo. No último dia 1º, fiz um post e minha vida virou essa maluquice. Não planejei. O que aconteceu? O movimento já estava aí. Quando a pessoa é inteligente, ela percebe que abriu a vela para um vento muito forte, e ela tenta olhar para o vento para ir direcionando a vela, e não tenta mudar a direção do vento com a vela dela. O que a gente está fazendo aqui é olhar para que lado está o vento que pegamos meio sem querer. Sem tentar moldar os 70%.
- Onde vocês querem chegar com o movimento? Qual é o objetivo final? - Acredito que os 70% gostariam de poder estar dando as cartas, falar sobre meio ambiente. Os 70% gostariam de poder estar falando em paz, brigando democraticamente. Dentro dos 70% você tem correntes ideológicas, pessoas que pensam diferente, que vão brigar e não vão fazer as pazes. Acho que é uma percepção errada das pessoas de que o Brasil vai dar certo quando o Ciro e o Lula derem um abraço. Quando Dino e Huck se juntarem numa chapa. Isso não vai acontecer. Ciro e Lula vão continuar discutindo, o Huck e o Dino também. Mas a gente quer discutir dentro das regras democráticas, sim. Esses 90% vão poder se impor na discussão, democraticamente, porque são os 70% que acreditam até na briga, dentro do jogo democrático. O Eduardo tem suas crenças pessoais. As pessoas sabem que eu sou mais de esquerda, progressista, muito próximo ao MST. Mas eu sou 0,001%. Eu sei que sou parte da turma que quer poder brigar democraticamente. Da turma que quer falar sem ser ameaçado. Hoje cedo uma pessoa entrou na minha live e falou "morte a esses comunistas". Morte. Como é que pode? Esses são os 30%.
- Os outros grupos já estão querendo definir se são a favor do impeachment. Ainda é cedo para isso ou vocês também querem? - O Eduardo Moreira é a favor do impeachment. Só que se você for olhar a população brasileira hoje, as pesquisas dizem que 50% são a favor. Então não são 70% a favor do impeachment. As pautas que falei: rejeição à aproximação com centrão, Datafolha diz que é 67%. A favor do estado incentivar a cultura, Datafolha mostra que são 67% também. Que são contra as frases do Bolsonaro de armar a população, 72%. Que acham o governo péssimo, ruim e regular, 67% segundo o Datafolha. Então veja que tudo isso é quando você pode se sentir como parte da maioria. Se você é a favor do impeachment, você não é maioria hoje no país. Como formador, me exponho como a favor do impeachment, mas não vou fazer com que o movimento Somos 70% adote uma bandeira do Eduardo, senão estaria usando o 70% para algo que não é dividido por 70% da população.
- O sr. já nos disse que não há veto no Somos 70% e, por isso, não barraria a eventual entrada de Sergio Moro, que, segundo os outros grupos, não seria bem recebido neles. Mas pessoalmente o sr. acharia boa ou ruim a presença dele? - Isso quase me deu problema. Saiu por aí que 'Os 70% aceitariam Sergio Moro'. Não é isso. Para ficar claro: o Eduardo Moreira pensa o mundo absolutamente diferente do Moro, acha que a conduta do Moro foi longe de ser correta na Lava Jato e o que foi demonstrado na Vaza Jato [diálogos que colocaram em xeque a imparcialidade do então juiz na Lava Jato], e acha que o Moro foi cúmplice desse governo por tempo suficiente para fazer com que Moro tenha identificação com esse governo e tenha uma parcela de responsabilidade relevante em tudo o que está acontecendo. Agora, se o o Moro está contra o governo, ele faz parte da estatística dos 70%. Não faz parte de um movimento, de uma lista, que vai ser impressa, distribuída por WhatsApp. Faz parte da maioria estatística. Gerou uma polêmica, como se nós estivéssemos aceitando o Moro em nosso movimento. Não tem essa lista. Estava vendo outro dia que o Lobão, a Joice Hasselmann, essas pessoas estão dizendo que são parte dos 70%. Como que eu vou dizer que não? Se é contra o governo, está na estatística. Não é um clube.
- Como o sr. pretende organizar o grupo? Vai ter comitê executivo? - A ideia do grupo é ser o mais horizontal e descentralizado possível. Acabei me tornando um porta-voz e coordenador. Costumo informar as pessoas por meio das redes sociais. Faço uma live todos os dias para cerca de 10 mil pessoas. São pessoas que juntas criaram o 70%, postam, dão ideias. É um movimento de "grassroots", que tem militância de base, de pessoas que correm atrás, se dedicam, em vez de lideranças que vão postar porque tem milhões de seguidores. Sem ter rostos tão famosos, é o movimento que mais tem aparecido. Para você ver o poder do "grassroots". A base tem esse poder no Brasil, e não poderia ser esquecida.
- O Lula fez críticas aos movimentos, disse que não é "maria vai com as outras" e apontou elitismo. Como o sr. recebeu isso? - Respeito demais a história do presidente Lula, a importância dele para a população mais pobre deste país, e acho que quando o presidente Lula fala que a população mais pobre deveria se ver retratada nesses movimentos ele tem, sim, uma parcela de razão. Dando esse input... Como a gente fala input em português? Input é input, né? É que eu não gosto de falar termos em inglês, mas é isso que o presidente dá aos movimentos, né? Input. O que eu acho que as pessoas têm que entender é que o establishment tratou o presidente com muita violência nos últimos anos. O presidente perdeu a esposa, o irmão, e as pessoas fizeram piada, durante o velório ameaçavam o presidente. A gente querer que uma pessoa que por dois anos viu essa Vaza Jato, a forma como foi feito o processo todo de prisão, que teve tanto sofrimento na vida familiar nesse período... A gente esperar que ele saia sendo o consolidador da paz no país e tenha atitudes altruístas que nós não temos acho que é deixar de lado o lado humano do presidente. Adoraria ver o presidente Lula se juntando a esses movimentos, mas compreendo e respeito a atitude dele.
- Em quem o sr. votou na última eleição? - Não votei [estava em viagem], mas fiz campanha para o Ciro [Gomes] no primeiro turno e para o [Fernando] Haddad no segundo turno.
- O sr. vê a prisão do presidente Lula como um problema? - O processo que levou à prisão foi totalmente fora do rito normal e do que poderia se esperar de uma Justiça que funcionasse de igual para todos. Acho que se você tivesse as provas que o presidente Lula teve você não seria preso nem por dez dias.
- O sr. disse que o 70% está aparecendo mais que os outros. - Não. Não foi isso que eu disse. Disse que a repercussão nas redes, segundo as pesquisas, mostra que é o movimento mais compartilhado. Só estou dizendo isso porque tem tanta vaidade que eu tomo cuidado com cada palavra. Sai uma manchete dizendo que o Eduardo Moreira disse que estão vendo mais ele que os outros e esse negócio é igual ginásio. 'E aí, moral, você viu o que ele falou?'. É igualzinho. Tem que tomar o maior cuidado para não estragar o esforço que estamos fazendo por causa da vaidade do ser humano.
- Gostaríamos de saber quem pagou o vídeo que vocês divulgaram. - Tudo voluntariamente. Foram agências de publicidade. O primeiro foi com agências do Sul, e o segundo, de São Paulo. A do Sul foi a Berro Motion. A de São Paulo foi uma grande agência que não quer se identificar.
- E vão para a TV também com esses vídeos? - Eu não tenho dinheiro para isso. Mas eu também não planejava começar um movimento desses.
- O sr. disse que não tem pessoas famosas no grupo, mas vimos que a Xuxa aderiu ao Somos 70%. - Isso é maravilhoso, mas ela aderiu. Eu digo que na organização e na lista e nas peças nós não temos. Xuxa, Monja Coen, deputados, senadores, várias pessoas publicaram a hashtag. Políticos do PT, PSDB, PDT. +++ É boa a defesa que Eduardo Moreira faz do ex-presidente Lula.
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES - *”Com manifestações na pandemia, esquerda faz o que criticava”*
*”Para evitar avanço do centro, Bolsonaro intensificará polarização com PT”* - Como reação aos protestos do último domingo (7), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) definiu estratégia política para tentar evitar que nomes de legendas de centro ganhem capilaridade eleitoral com as manifestações contra o governo. Em conversas reservadas, o presidente avaliou com auxiliares nesta segunda-feira (8) que os protestos pelo país tiveram uma adesão de público menor do que a esperada pelo Palácio do Planalto, mas que acabaram dando visibilidade à ideia de formação de uma frente ampla de siglas de centro contra o governo. Nos últimos meses, partidos como PDT, PSB, Rede e PV vêm discutindo uma união nacional. No final do mês passado, nomes como o do apresentador Luciano Huck e o do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, assinaram um manifesto conjunto a favor da democracia. Apesar de a maior parte das siglas de centro ter desencorajado as pessoas a participarem dos protestos, por causa da pandemia do coronavírus, a formação de uma união partidária foi um dos assuntos que gerou adesões nas redes sociais no domingo. Segundo relatos feitos à Folha, o núcleo digital do Palácio do Planalto, por exemplo, identificou que a defesa de uma frente contra o governo ganhou adeptos nas redes durante as manifestações críticas ao presidente. Para evitar que a ideia ganhe força nas próximas semanas, diante de novos protestos sendo articulados por entidades civis, Bolsonaro pretende reforçar a polarização com o PT, redobrando os ataques ao partido, e ignorar críticas de lideranças de centro. A estratégia é evitar que os discursos de nomes de centro, entre eles Ciro Gomes e até o ex-ministro Sergio Moro, reverberem junto à opinião pública, criando um ambiente pouco favorável ao fortalecimento de alternativas eleitorais fora da polarização da direita contra a esquerda. Para isso, a ideia é que Bolsonaro reforce as críticas aos protestos contra o governo e a tentativa de vinculá-los a grupos violentos de esquerda. Nesta segunda-feira, por exemplo, ele publicou fotografia nas redes sociais de um boneco dele pendurado de cabeça para baixo. "Essa é a turma que respeita a democracia e as instituições", escreveu. Pela manhã, em conversa com um grupo de apoiadores, o presidente classificou as manifestações como "o grande problema do momento" e disse que "estão começando a colocar as mangas de fora". "Eu peguei um câncer em tudo o que é lugar. Um médico não pode de uma hora pra outra resolver esse problema todo. O grande problema do momento é isso que vocês estão vendo aí um pouco na rua", disse Bolsonaro. Em linha semelhante, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República divulgou nota pública na qual afirmou que o Palácio do Planalto foi "vítima de um ato de vandalismo". Ele fazia referência a uma lata de tinta vermelha jogada na manhã desta segunda na rampa da sede administrativa do governo federal. "Após ser detido pela equipe de segurança do Palácio do Planalto, o responsável pelo ato foi entregue às autoridades policiais, para adoção das medidas legais cabíveis", afirmou o GSI. O número de adesões aos protestos de domingo foi abaixo do que esperava a equipe presidencial e com menos episódios de vandalismo. A ideia de assessores palacianos era explorar cenas de violência para tentar desacreditar os grupos contrários ao presidente. A impressão de que não houve uma adesão grande é compartilhada por líderes e dirigentes partidários. A avaliação é de que os protestos não foram grandes o suficiente para convencer o Poder Legislativo a instaurar um processo de impeachment de Bolsonaro. O diagnóstico foi de que os protestos ainda são embrionários, em parte devido ao temor de as pessoas saírem às ruas e serem contaminadas pelo novo coronavírus, e não atingiram camadas importantes das classes média e baixa. A expectativa maior é acerca do impacto sobre a sociedade do término do pagamento do auxílio emergencial —o governo quer estendê-lo até agosto, mas com um valor menor do que os atuais R$ 600. A avaliação é de que só será possível mensurar a temperatura das ruas após o arrefecimento da crise e término do benefício. +++ A Folha, assim como outros veículos, costuma apontar o dedo para as contradições do presidente, mas não o fez nesse caso. A estratégia política do governo que o jornal anuncia contradiz o que Bolsonaro costuma chamar de “democracia”. Quando os apoiadores do seu governo vão às ruas “por vontade própria” é democracia e liberdade. Já se a oposição estiver nas ruas, são movimentos que ele classifica como terrorista, que torcem contra o país. Assim como as grandes empresas de comunicação do país, Jair Bolsonaro não gosta e não admite o contraditório. É um bom momento para debater e questionar a repressão à pluralidade de ideias, algo que impera no Brasil há décadas. Repressão essa que é protagonizada pelos donos de jornais e emissoras de TV e de rádio.
*”Grupos marcam novos atos contra Bolsonaro e planejam mobilização prolongada”* - Organizações que puxaram os protestos deste fim de semana contra o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) decidiram convocar novos atos para o próximo domingo (14) em várias cidades e já planejam uma mobilização duradoura. O movimento Somos Democracia, que reúne integrantes de torcidas organizadas de times de futebol, o MTST (Movimento dos Trabalhadores sem Teto) e a Central de Movimentos Populares (CMP) confirmaram nesta segunda-feira (8) a realização de novas manifestações. "Nosso objetivo é mostrar que a maioria da população está contra as políticas assassinas do governo e as ameaças de ruptura com a democracia. A gente não sabe dizer quando a gente vai parar essas manifestações", diz Danilo Pássaro, membro da Gaviões da Fiel, do Corinthians, e um dos mobilizadores. A decisão foi tomada apesar das críticas à formação de aglomerações em plena pandemia da Covid-19, o que contraria as orientações médicas de só romper as normas de distanciamento social em caso de extrema necessidade. Os organizadores dizem que valerá novamente o pedido aos participantes para usar máscara, levar álcool em gel e tentar manter distanciamento. As pautas serão, mais uma vez, um misto de crítica a Bolsonaro, defesa dos pilares democráticos, apoio à causa antirracista e desagravo ao SUS. Diferentes movimentos estão por trás das convocações, incluindo os grupos que se denominam antifascistas, coletivos independentes e núcleos partidários. "O ideal é manter as manifestações até conseguirmos afastar o presidente Jair Bolsonaro, pelos crimes cometidos contra a vida, a saúde do povo e a ordem democrática", afirma Raimundo Bonfim, da CMP, entidade que compõe a Frente Brasil Popular. Em São Paulo, a nova manifestação foi marcada para a avenida Paulista, em frente ao Masp, a partir das 14h. A opção pelo local foi tema de uma série de discussões na semana passada que culminaram com uma decisão judicial que impediu o uso da via, ao mesmo tempo, por apoiadores e críticos do governo. A preocupação do governo João Doria (PSDB) e da Polícia Militar de São Paulo era a repetição do conflito ocorrido no domingo anterior (31), quando houve briga de pessoas que marchavam de lados opostos. A PM interveio na confusão e usou bombas de gás para dispersar participantes. Manifestantes que empunhavam cartazes em defesa da democracia reclamaram da ação da corporação e apontaram excessos. A maioria deles, na ocasião, era ligada a torcidas organizadas dos quatro principais clubes do estado (Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo). Em São Paulo, o ato neste domingo se concentrou no largo da Batata, em Pinheiros (zona oeste). O chamado também teve a participação de coletivos do movimento negro —que enfatizaram a bandeira antirracista, em alinhamento aos protestos que eclodiram nos Estados Unidos— e de outras entidades. O ex-presidenciável Guilherme Boulos (PSOL), coordenador da Frente Povo sem Medo, também encampou a convocação. Ele descreveu a mobilização como histórica e afirmou em uma rede social que, com ela, "começou uma caminhada que vai derrotar Bolsonaro". "O desenvolvimento desse processo, o que vai acontecer nas próximas semanas, ainda não dá para saber, sobretudo por causa da pandemia", diz Boulos à Folha, ressaltando que o principal resultado colhido até agora foi a quebra do monopólio do bolsonarismo sobre o asfalto. "O bolsonarismo já era minoria na sociedade, e agora é também minoria nas ruas. Isso é muito importante. As manifestações pela democracia e contra o Bolsonaro foram muito maiores do que aquelas em defesa do governo." Para ele, "a grande potência" dos eventos consistiu em reunir uma diversidade de perfis, "com torcedores organizados, movimento negro, movimentos sociais, jovens, estudantes, sem-teto, professores". A frente liderada por ele ainda debaterá a adesão ao novo ato, mas a tendência é que isso ocorra. "O Somos Democracia, dos torcedores organizados, já puxou um evento. O MTST com certeza estará lá", diz. Ele, que também é pré-candidato a prefeito da capital paulista pelo PSOL, reitera a recomendação de que pessoas de grupos de risco evitem se somar às passeatas e afirma que "todos os cuidados sanitários" continuarão a ser respeitados. Neste domingo, entretanto, a maior parte das pessoas no largo da Batata se reuniu em pequenos grupos, ignorando os apelos feitos no carro de som para que os manifestantes se posicionassem sobre marcas no chão que indicavam a distância mínima necessária, de 1 m. O PSOL e o PT aderiram à causa ao longo da semana e declararam apoio aos atos de rua, enquanto um grupo de outros cinco partidos (PSB, PDT, Cidadania, Rede e PSD) publicou um comunicado conjunto pedindo que as pessoas não compareçam a manifestações neste momento em função do coronavírus. Líderes dos recém-criados manifestos da sociedade civil que se contrapõem a Bolsonaro e pregam a defesa da democracia também optaram por desestimular atos presenciais neste momento de disseminação do vírus. Os grupos Estamos Juntos e Basta!, que reúnem representantes da sociedade civil, artistas, intelectuais e políticos de diferentes ideologias, têm concentrado esforços no ativismo virtual. Segundo o porta-voz do movimento Somos Democracia, o objetivo é ampliar no próximo fim de semana o número de cidades com atos. Pássaro diz que 14 estados registraram manifestações, mas o engajamento tende a crescer agora porque "a maioria dos protestos ocorreu pacificamente". "Vamos novamente para as ruas em defesa da democracia, contra o racismo e o fascismo", resume ele. Organizadores buscaram minimizar episódios de tensão que foram registrados, no encerramento do protesto em São Paulo (onde a PM usou bombas para dispersar um grupo que permanecia nas ruas após o fim oficial do ato) e em Belém (onde 112 pessoas foram detidas por formarem aglomeração). Os casos foram tratados como episódios isolados. Sobre o ocorrido em Pinheiros, Pássaro diz que já tinha saído da região na hora do incidente. "Foi injustificável a forma como a polícia tratou aquelas pessoas. Eram grupos pequenos", afirma. O presidente reagiu nesta segunda às manifestações de seus detratores e as classificou como "o grande problema do momento". "O grande problema do momento é isso que vocês estão vendo aí um pouco na rua ontem, estão começando a colocar as mangas de fora", disse Bolsonaro a apoiadores.
*”Protesto mancha Planalto de vermelho, e Bolsonaro fala em 'mangas de fora' em atos contra governo”*
*”Weintraub reivindica liberdade de expressão ao ser processado, mas processa quem o critica”* - Enquanto clama por liberdade de expressão, ao enfrentar as consequências de ataques ao Supremo Tribunal Federal e à China, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, processa jornalistas e comunicadores, como o youtuber Felipe Neto, que publicaram reportagens ou comentários que o desagradaram. Weintraub move ao menos sete processos por dano moral, calúnia ou difamação. Ele ainda lança mão para sua defesa nas ações de escritórios de advocacia de dois de seus assessores mais próximos no MEC (Ministério da Educação), o que é visto com ressalva por especialistas. O ministro da Educação tem um histórico de ataques pelas redes sociais, sendo a imprensa, o PT e a esquerda seus alvos prediletos. Mas Weintraub se colocou no centro da crise política depois de o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril mostrá-lo defendendo prisão para "esses vagabundos", a começar pelo STF. As imagens vieram à tona após denúncia do ex-ministro da Justiça Sergio Moro de interferência do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal. No mesmo encontro, Weintraub disse odiar os termos "povos indígenas" e "povo cigano", o que lhe rendeu questionamentos do Ministério Público Federal. Antes disso, o ministro da Educação já havia feito comentários considerados racistas sobre a China e os chineses. Uma postagem, do início de abril (e apagada posteriormente), provocou abertura de inquérito no STF após solicitação da PGR (Procuradoria-Geral da República). Trata-se do primeiro ministro de Bolsonaro a ter uma investigação pedida pelo órgão comandado pelo procurador-geral, Augusto Aras. Ao reagir às investigações e oitivas agendadas pela PF, Weintraub reforçou pelas redes sociais o argumento da liberdade de expressão. No último dia 2 ele até trocou a imagem de seu perfil no Twitter por uma ilustração de seu rosto com uma mordaça vermelha. "Prestei depoimento à PF, em respeito à polícia. Fui muito bem recebido pelo diretor-geral Rolando [Alexandre de Souza] e por toda sua equipe. Agradeço especialmente a você, que me apoia na luta pela liberdade!", escreveu em seu perfil no dia 4. Weintraub foi ouvido naquele dia pela PF no âmbito do inquérito que investiga o racismo. Os primeiros processos movidos por Weintraub identificados pela Folha são de novembro de 2019. Em três ações diferentes, ele processa a Revista Fórum e o site Brasil 247 por causa de textos que ele considera agressivos. O ministro também entrou com ação cível contra o jornal Valor Econômico após publicação de reportagem que repercutiu declarações dele durante evento do MEC. Outro processo criminal é movido contra a repórter que assina a reportagem. No mesmo mês, Weintraub entrou com ação contra o professor Paulo Ghiraldelli Junior, após publicação de crítica ao ministro. Essas ações tramitam na Justiça de São Paulo. O youtuber Felipe Neto foi processado pelo ministro neste ano, depois de publicações que classificaram o ministro como "vagabundo" e "imbecil". O processo contra Neto corre na Justiça do Rio de Janeiro. "Confesso que, assim que li a inicial do processo, minha primeira reação foi dar risada. Ali estava o ministro da Educação, que posta publicamente a opositores no Twitter frases como: 'Prefiro cuidar dos estábulos, ficaria mais perto da égua sarnenta e desdentada da sua mãe', me processando por chamá-lo de imbecil e dizer que ele não sabe escrever", disse Felipe Neto. Até abril passado, quando Weintraub completou um ano na pasta, 42% das suas postagens no Twitter continham algum tipo de ataque. Em todas as ações o ministro é defendido ou pelo escritório de advocacia de Victor Metta ou pelo de Auro Hadano Tanaka, ambos nomeados assessores especiais do MEC desde o primeiro semestre de 2019, conforme publicou o jornal O Globo em maio. Para o diretor da Faculdade de Direito da USP, Floriano de Azevedo Marques, a contratação privada do escritório de um assessor direto não necessariamente contém ilegalidades, contanto que não haja dinheiro público envolvido e os advogados não atuem no processo durante o expediente. "Se o ministro estiver usando o assessor para sua defesa pessoal, disponibilizando o horário em que é remunerado pela União para seu patrocínio pessoal, estaria caracterizado improbidade administrativa", disse Marques. O professor ressalta que a situação de Tanaka é mais delicada, uma vez que o assessor aparece nos processos como defensor de Weintraub. No caso de Metta, é o escritório que tem ele como sócio que consta das ações. Ambos, com salários de R$ 13,6 mil, fazem parte do grupo mais próximo do ministro e o representam em muitas agendas. Tanaka, por exemplo, acompanha o ministro em alguns encontros com a imprensa. Ele também defende o ministro na ação do STF sobre o suposto racismo contra chineses. De acordo com a AGU (Advocacia-Geral da União), Weintraub optou por constituir advogado privado. A AGU, responsável pela defesa do governo, defende o ministro em quatro interpelações judiciais no STF e, desde o início do ano passado, atua ou atuou em 26 processos representando Weintraub. Procurado, o MEC não respondeu aos questionamentos da Folha sobre as ações e o uso de assessores como advogados. Ao jornal O Globo, em maio, a pasta afirmou que o regime de trabalho dos dois não exige exclusividade, o que permitiria outras atividades. O ministro do STF Alexandre de Moraes disse ver "indícios de prática" de seis delitos na intervenção de Weintraub na reunião ministerial de 22 de abril. Segundo o Código Penal, o ministro da Educação pode ser enquadrado por difamação e injúria. "O ministro da Educação não tolera a democracia nem a liberdade de imprensa. Nos processa por causa de um artigo de opinião de um professor universitário e usa um advogado do Ministério da Educação para essa tarefa", disse o diretor de redação da revista Fórum, Renato Rovai. A Editora 247, responsável pelo site Brasil 247, informou em nota que causou surpresa o processo movido por Weintraub, "que usa frequentemente sua liberdade de expressão nas redes sociais para atacar e insultar adversários políticos". Procurado, Paulo Ghiraldelli Junior não respondeu à Folha. O jornal Valor Econômico afirmou que não iria comentar.
*”Entenda entraves para a formulação de lei contra as fake news no Congresso”* JOEL PINHEIRO DA FONSECA - *”A verdade nos libertará de Bolsonaro”* *”Doria arranha imagem técnica com mudança abrupta entre 'lockdown' e abertura”* *”Congresso quer ouvir médicos antes de decidir adiamento de eleições”*
*”Congresso inicia debate sobre lei para reformar sistema policial dos EUA”* *” Na Europa, 10% dos negros dizem já ter sido parados pela polícia por racismo”* *”Nova Zelândia anuncia que não tem mais casos ativos de coronavírus”*
*”OEA usou dados e métodos incorretos para concluir fraude na Bolívia, dizem pesquisadores”* - A eleição foi a mais contestada em décadas: Evo Morales, o primeiro presidente indígena da Bolívia, concorria ao quarto mandato, enfrentando uma oposição que o considerava autoritário e disposto a manter o poder. Quando começou a contagem preliminar de votos, em 20 de outubro de 2019, havia muita tensão. Quando a apuração parou —repentinamente e sem explicação— e recomeçou um dia depois, mostrou que Evo tinha votos suficientes para se eleger. Em meio a suspeitas de fraude, protestos irromperam pelo país, e a comunidade internacional pediu uma avaliação da Organização dos Estados Americanos (OEA), que havia sido convidada a observar as eleições. A declaração da organização, que citou "uma mudança inexplicável" que "modifica drasticamente o resultado da eleição", aumentou as dúvidas sobre a imparcialidade da votação e deslanchou uma série de fatos que mudaram a história do país sul-americano. A oposição aproveitou a reivindicação para intensificar os protestos, reunir apoio internacional e, semanas depois, tirar Evo do poder com apoio militar. Agora, um estudo realizado por pesquisadores independentes, usando dados obtidos pelo New York Times de autoridades eleitorais bolivianas, revelou que a análise estatística da OEA foi falha. A conclusão de que a porcentagem de votos de Evo saltou inexplicavelmente nas cédulas finais se baseou em dados incorretos e técnicas estatísticas inadequadas, segundo os pesquisadores. "Examinamos com atenção as evidências estatísticas da OEA e encontramos problemas em seus métodos", disse o economista Francisco Rodríguez, professor de estudos latino-americanos na Universidade de Tulane, em Nova Orleans (EUA). "Quando corrigimos esses problemas, os resultados da OEA desaparecem, não deixando evidências estatísticas de fraude." Rodríguez realizou o estudo com Dorothy Kronick, especialista em política latino-americana na Universidade da Pensilvânia, e Nicolás Idrobo, estudante de doutorado na mesma universidade e coautor de um livro sobre métodos estatísticos avançados. O estudo deles é um trabalho em andamento, ainda não revisado por pares. Os autores disseram que a verificação se concentrou apenas na análise estatística da OEA dos resultados da votação, e não prova que a eleição foi livre e justa. Na verdade, houve muitos problemas documentados na votação. Na tentativa de reprimir os protestos quando reivindicou a vitória, Evo pediu à OEA que realizasse uma auditoria eleitoral "compulsória". O relatório resultante, de cem páginas e publicado em dezembro, continha evidências de erros, irregularidades e "uma série de operações maliciosas" destinadas a alterar os resultados. Isso incluía servidores de dados ocultos, comprovantes de votação manipulados e assinaturas falsificadas, o que, segundo a organização, impossibilitava sua validação dos resultados eleitorais. A OEA encontrou evidências de manipulação em pelo menos 38 mil votos. Evo reivindicou a vitória definitiva por uma margem de 35 mil votos. "Houve fraude —simplesmente não sabemos onde e quanto", disse Calla Hullum, especialista em Bolívia na Universidade de Miami que observou a eleição e analisou as conclusões da OEA. "O problema do relatório da OEA é que foi feito muito rapidamente", afirmou Hullum. Isso moldou a narrativa da eleição antes que os dados pudessem ser analisados adequadamente, explicou. A afirmação inicial da OEA é especificamente o que os acadêmicos contestam em seus estudos. A queda de Evo abriu caminho para um governo interino de direita liderado por Jeanine Añez, que não cumpriu sua obrigação de convocar rapidamente novas eleições. O novo governo perseguiu apoiadores do ex-presidente, reprimiu a dissidência e trabalhou para consolidar seu poder. Sete meses após a queda de Evo, a Bolívia não tem governo eleito. Uma nova eleição está prevista para 6 de setembro. A OEA disse que confirmou sua análise estatística porque detectou com sucesso os primeiros indícios de fraude. "É um ponto discutível", disse o chefe de observações eleitorais da organização, Gerardo De Icaza, respondendo às perguntas levantadas pelo novo estudo. "As estatísticas não provam ou refutam a fraude. Evidências concretas, como relatórios falsos das urnas e estruturas de TI ocultas, sim. E foi isso o que descobrimos." "A OEA acabou derrubando qualquer legitimidade que os resultados da votação pudessem ter", disse Gonzalo Mendieta, renomado colunista boliviano. Em sua auditoria das eleições, a organização disse ter encontrado uma "tendência altamente improvável nos últimos 5% da apuração" que levou Evo a superar o limite para a vitória simples, sem um segundo turno. Os autores do novo estudo disseram que não conseguiram replicar as conclusões da OEA usando suas prováveis técnicas. Para eles, uma mudança repentina na tendência apareceu apenas quando excluíram os resultados de cabines eleitorais processadas manualmente e com relatórios tardios. Isso sugere que a organização usou um conjunto de dados incorretos para chegar à sua conclusão, disseram os pesquisadores. A diferença é significativa: as 1.500 cabines de apuração tardia que foram excluídas representam a maior parte dos votos finais que as análises estatísticas da OEA consideram suspeitos. Além disso, os acadêmicos disseram que a organização usou um método estatístico inadequado que criou artificialmente a aparência de uma ruptura na tendência da votação. O consultor da OEA que conduziu sua análise estatística, professor Irfan Nooruddin, da Universidade de Georgetown, disse que o novo estudo deturpou seu trabalho e está errado. Ele não deu detalhes e não compartilhou seus métodos ou dados com os autores do estudo, apesar de diversos pedidos.
*”Guedes diz a deputados que Bolsa Família se chamará Renda Brasil e será pago a informais”* - O ministro Paulo Guedes (Economia) afirmou a deputados federais nesta segunda-feira (8) que o governo deverá lançar o programa Renda Brasil para substituir o Bolsa Família logo após o fim da pandemia do novo coronavírus. Segundo congressistas que participaram da reunião, o ministro disse que a iniciativa será um programa de transferência de renda para os mais vulneráveis e será mais abrangente do que o atual Bolsa Família. A ideia é incluir até informais identificados pelo governo Jair Bolsonaro e hoje são beneficiados pelo auxílio emergencial de R$ 600. Guedes, porém, não deu detalhes sobre a iniciativa. Desde o ano passado, a equipe de Jair Bolsonaro trabalha em uma transformação do Bolsa Família e já previa mudar o nome do programa para Renda Brasil. Segundo integrantes da equipe econômica disseram à Folha, diversas áreas do ministério estão fazendo estudos para aprimorar o desenho de programas sociais e usar melhor os recursos destinados a eles. Para deputados, a decisão de lançar a iniciativa atrelada ao fim da pandemia é uma forma de o governo suprir o fim da ajuda financeira paga a parcela da população afetada pela pandemia. O auxílio emergencial começou a ser pago em abril e a previsão era a de que ele durasse três meses. A última parcela do benefício ainda será paga, mas o governo deverá estender o pagamento do auxílio por mais dois meses, mas com um valor menor, de R$ 300. Uma das análises feitas pelo ministro a deputados é que a pandemia ajudou o governo a atualizar a base de dados de informais e isso poderia ser aproveitado no novo programa. Na avaliação de dirigentes partidários e de integrantes do governo, os protestos contra o governo registrados neste domingo (7) foram embrionários, mas poderiam ser inflados no futuro com a participação de descontentes com o fim do auxílio emergencial. Além de tentar barrar a insatisfação popular com o governo, o Executivo também alteraria de uma vez por todas o nome do programa que foi marca de gestões petistas. A reunião desta segunda com Guedes teve como objetivo discutir com líderes de partidos de centro da Câmara medidas a serem tomadas após a pandemia do coronavírus. Os ministros Walter Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) também participaram. Segundo líderes partidários, o ministro da Economia falou que haverá dois choques passada a crise com a doença: um de empregos e outro de investimentos. Os investimentos viriam com o aporte de dinheiro público para obras do governo que gerariam empregos. Esse braço está previsto no programa do governo chamado de pró-Brasil que teve inicialmente o repúdio de Guedes que o considerou o criticou por ser muito desenvolvimentista e parecido com programas do PT. Nesta segunda, Guedes acenou a ala militar do governo que defende o programa, sinalizando que pode colaborar com a iniciativa. O ministro fez questão de ressaltar, no entanto, que espera que a maior parte dos investimentos para tocar as obras venham do setor privado. Antes de Guedes falar, o ministro da Casa Civil disse que houve ruídos de que a ala militar e a Economia não estavam agindo em parceria, mas que eles queriam mostrar que estavam unidos. Congressistas disseram que o ministro da Economia e Braga Netto estavam em sintonia. Em outra frente, o titular da Economia também disse que o Renda Brasil teria um gatilho para incentivar os beneficiados a procurarem emprego. O ministro disse ainda que o governo percebeu com o pagamento do auxílio emergencial a importância da transferência de renda aos vulneráveis. Por isso, avaliou Guedes, lançar um programa mais abrangente do que o Bolsa Família poderia ter impacto ainda maior para a população mais pobre que a outra frente de investimentos em obras. Disse ainda que a carteira de trabalho verde amarela seria benéfica por desburocratizar processos de contratação e facilitar a a busca por empregos. Além disso, na reunião, os ministros do governo também pediram aos deputados empenho para aprovar a reforma tributária, administrativa, a autonomia do Banco Central, entre outros projetos. Congressistas, por sua vez, pediram a Guedes que não mexa no Sistema S, como o governo já sinalizou que poderia fazer. O encontro, na avaliação de deputados, foi um gesto de aproximação do ministro da Economia com o Congresso. Hoje, o Bolsa Família atende a famílias com filhos de 0 a 17 anos e que vivem em situação de extrema pobreza, com renda per capita de até R$ 89 mensais, e pobreza, com renda entre R$ 89,01 e R$ 178 por mês. O benefício médio foi de R$ 191,86 até março. Temporariamente, durante a pandemia, o valor depositado a quase todas as famílias será o mesmo do auxílio emergencial dado a trabalhadores informais e microempreendedores —de R$ 600. Técnicos do governo temem que, sem a ampliação do Bolsa Família, a fila aumente ainda mais. Mais pessoas devem sofrer corte na renda por causa da crise econômica e entrar na faixa considerada pobre ou extremamente pobre, que tem direito à transferência. Assim que estourou a pandemia, Onyx Lorenzoni, recém-transferido para o Ministério da Cidadania, anunciou que em abril a cobertura do Bolsa Família, após sofrer sucessivos cortes, seria recorde. Mas não foi. Foram 14,27 milhões de famílias beneficiadas em abril, contra 14,34 milhões em maio do ano passado. Em maio de 2020, a cobertura passou para 14,28 milhões, ainda sem retomar o patamar anterior à maior sequência de cortes na história do programa. Com o afrouxamento do Orçamento neste ano por causa da pandemia, mais dinheiro foi destinado ao programa e o governo atende a mais pessoas carentes. Mas, conforme mostrou reportagem da Folha na semana passada, a fila de espera ainda persiste. São 433 mil famílias aptas a receber o benefício e que ainda aguardam liberação, segundo dados obtidos pela Folha por meio da Lei de Acesso à Informação. Esta é a primeira vez que o Ministério da Cidadania revela oficialmente o tamanho da fila. Desde outubro do ano passado, quando a Folha mostrou o enxugamento no Bolsa Família, o governo se recusava a apresentar informações à imprensa e à Câmara, que cobrava respostas. Sem dinheiro, a equipe de Bolsonaro passou a controlar o acesso ao programa a partir de junho de 2019. A fila chegou a 1 milhão de famílias em dezembro do ano passado e, no primeiro trimestre de 2020, a 1,6 milhão, segundo técnicos do governo que não quiseram ser identificados. O valor extra para o Bolsa Família na pandemia permitiu que o Ministério da Cidadania incluísse cerca de 1,2 milhão de famílias. Isso, contudo, não representou uma retomada do programa ao período anterior aos cortes. Norte e Nordeste ainda não se recuperaram totalmente (queda de aproximadamente 1,5%), enquanto que Sul e Sudeste registraram uma ampliação da cobertura —de 1,21% e 1,33%, respectivamente. +++ Esta reportagem traz de volta a discussão lançada no início da resumo analítico de hoje: a censura do contraditório. Quem é que discute o que é prioritário para o país neste texto? Nenhum dos criadores do Bolsa Família foi procurado para opinar sobre as mudanças, sobre a proposta do atual governo. A reportagem é superficial, incompleta. Não oferece ao público leitor uma perspectiva geral das correntes políticas que existem no país.
*”Moradores da periferia de SP não conseguem pagar contas e pôr comida na mesa com auxílio de R$ 600”* - Os R$ 600 do auxílio emergencial pagam apenas o aluguel na casa do autônomo Diogo Carmona, 45, que mora em Guaianases, no extremo leste da capital paulista. Ao lado da família, ele vendia trufas de chocolate, mas desde o início da pandemia do novo coronavírus, as encomendas diminuíram 90%. “Moro com quatro pessoas e pago aluguel de R$ 600”, diz. “Ainda tem a conta de luz e de água, fora a comida.” Nas últimas semanas, o governo sinalizou que pode estender o prazo de concessão do auxílio emergencial para além dos três meses inicialmente previstos. O próprio presidente Jair Bolsonaro disse a prorrogação é quase certa. O valor, no entanto, poderá ser menor. Há técnicos ventilando a possibilidade de que o valor caia para R$ 300. O ministro da Economia, Paulo Guedes, por sua vez, quer retomar sua proposta inicial de pagar R$ 200 e afirmou que se os R$ 600 forem mantidos, as pessoas não sairiam mais de casa porque "a vida está boa". “Ninguém sai de casa, e o isolamento vai ser de oito anos porque a vida está boa, está tudo tranquilo”, disse Guedes. Na família Carmona, não está tudo tranquilo: além da perda de renda, Diogo, a mãe e o irmão tiveram a Covid-19. Internados em um dos hospitais de campanha da cidade, ele e a mãe se recuperaram, mas o irmão acabou vítima da doença. A internação deixou a situação financeira da família ainda mais delicada e ele precisou pedir ajuda a amigos. “Não é fácil não ter o que comer e ter que correr para os amigos, pedindo uma cesta básica para não passar fome.” Para garantir a sobrevivência da família, ele calcula que o valor ideal do benefício deveria ser de R$ 1.045, o equivalente a um salário mínimo. Ao lado dele, diversas famílias de Guaianases também precisam do auxílio para passar pela fase mais delicada da pandemia. O distrito ocupa o terceiro pior índice de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) na cidade de São Paulo, que apura a qualidade de vida, a renda e a escolarização. A costureira Marlene dos Santos, 52, também discorda de que a vida está tranquila, apesar de ter recebido o valor do auxílio emergencial. Ela mora com o filho no Jardim das Orquídeas, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. “Logo que começou, não tive mais como trabalhar. Ninguém tinha como vir aqui, não podia mais fazer roupas”, acrescenta. Nas primeiras semanas, ela conseguiu algumas encomendas de máscaras, mas depois ficou sem dinheiro até para comprar o material para produzi-las. A costureira diz que sua salvação é que não paga o aluguel. “Estou me equilibrando só com o básico do básico. Não é suficiente. Imagina você passar um mês com R$ 1.200 tendo um filho adolescente?”, questiona. “Não é suficiente.” Apenas com água, luz e internet —que virou uma despesa essencial no isolamento e com as aulas online—, Marlene diz gastar mais de R$ 300. Ela também diz que vem contando com o auxílio de amigos. “Temos esses gastos, mais a compra no mercado. A gente vai apertando. Algum amigo ajuda também e vamos levando”. Em Carapicuíba, também na Grande São Paulo, a diarista e cabeleira Alenice Maria Tigre, 40, afirma que o auxílio apenas ajuda e, todo mês, R$ 500 são gastos no supermercado. “O dinheiro até dá, mas só o básico”, relata. “Esse valor já ajuda. O bom seria se esse dinheiro continuasse pelo menos até passar esse vírus.” Ela, o marido e o filho de três anos dependem do dinheiro que chega do governo. Mas a conta fica mais difícil de fechar com os gastos no supermercado subindo. De acordo com pesquisa do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) em abril, o custo da cesta básica na capital, que é a mais cara do Brasil, teve um aumento de 7,8% em relação a março, para R$ 556,25. Os R$ 600 pagos pelo governo correspondem à metade da renda do trabalhador informal brasileiro antes da crise, segundo o economista Juan Pereira. “No ano passado, a média de um informal estava entre R$ 1.200 e R$ 1.300. Portanto, a gente fala de menos da metade de um rendimento médio”, pontua. “Quem tem a vida tranquila quando se ganha menos do que se ganhava meses atrás?” Morador de Interlagos, zona sul da capital, Juan reforça que a população que depende do auxílio está numa situação complicada. Ele cita o aluguel, alimentação, conta de luz e de água. “Os R$ 600 são melhor que nada, mas o valor está mais próximo do nada, se pensarmos nas condições dignas para que a população viva com segurança em casa.” Para ele, um dos compromissos do governo no pós-pandemia deveria ser o da garantia de uma renda básica aos informais. “Há pelo menos cinco anos temos mais de 10 milhões de desempregados no país, somado a isso, as pessoas hoje são contratadas como pessoas jurídicas, sem garantia de direitos”, defende.
PAINEL S.A. - *”Coronavírus gera disputa entre gigantes do sabão em pó”* PAINEL S.A. - *”Após ataque de Olavo a Hang, empresários que apoiam Bolsonaro dizem que não darão dinheiro a guru”* *”Otimismo com recuperação faz dólar cair para R$ 4,86; nos EUA, Nasdaq bate recorde e S&P 500 apaga perdas no ano”*
*”BNDES lança socorro de R$ 2 bilhões para hospitais e laboratórios”* - O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) lançou nesta segunda (8) uma linha de R$ 2 bilhões para socorrer hospitais e laboratórios privados que enfrentam dificuldades financeiras em meio à pandemia do novo coronavírus. Os recursos não são vinculados e podem ser usados para reforçar o fluxo de caixa das instituições. A linha é parte da terceira rodada de programas de socorro do banco estatal, que já disponibilizou R$ 138 bilhões a empresas impactadas pela crise. O setor hospitalar já havia sido beneficiado antes, com uma linha também de R$ 2 bilhões para a compra de equipamentos. Segundo o presidente do BNDES, Gustavo Montezano, o novo programa tem o objetivo de reforçar a liquidez das instituições de saúde que sofrem os efeitos da redução na procura por procedimentos médicos não relacionados à pandemia. Poderá ser usada tanto por instituições filantrópicas como não filantrópicas. A criação de uma linha de crédito vinha sendo pleiteada pela FBH (Federação Brasileira de Hospitais), que alertava para o risco de demissões no setor. Segundo a entidade, a queda na procura por atendimentos não emergenciais chega a até 80% em alguns casos. Além da queda de receita, os gestores dos hospitais reclamam de aumento nos gastos com materiais de proteção individual, que ficaram até 400% mais caros por causa do aumento da procura. Segundo a FBH, uma caixa de máscaras com 150 unidades, que antes era comprada por R$ 5,20, agora é encontrada por preços que variam de R$ 40 a R$ 80. Os financiamentos terão prazo de 48 meses, com 12 de carência e limite de R$ 200 milhões por grupo econômico. O custo é taxa Selic mais 1,5% ao ano, além do chamado spread de risco (taxa que varia de acordo com a análise de risco de cada instituição). A linha permite extensão por seis meses do prazo de carência e redução dos juros para 1,1% ao ano em caso de manutenção de empregos ou reposição de postos de trabalho, seguindo nova política do banco de incluir cláusulas sociais em seus contratos de crédito. O programa anterior, para a compra de equipamentos, tem teto de R$ 150 milhões por operação e prazo para pagamento de 60 meses, com carência de 3 a 24 meses. Os recursos podem ser gastos com leitos, insumos, peças e componentes. A expectativa do banco é que o crédito permita a implantação de mais de três mil leitos de UTI no país. O financiamento está disponível também para produtores de equipamentos ou empresas com interesse em adaptar sua atividade para fornecer para a área de saúde. O programa já financiou leitos no Ceará e em São Paulo, por exemplo, além de projeto de produção de monitores sinais vitais e kits de testes rápidos.
*”Petrobras sobe preço da gasolina em 10%”* *”Economia brasileira deve encolher 8% em 2020 e terá recuperação fraca, projeta Banco Mundial”* *”Rio poderá cair em abismo fiscal em setembro, diz secretário de Fazenda”* VAIVÉM DAS COMMODITIES - *”Importações do agronegócio atingem patamar recorde”*
CECILIA MACHADO - *”Mais um novo programa”* *”Fintechs que dependem de investidores terão que lutar para sair da crise, diz presidente da Transferwise”* *”Brasil tem 849 mortes por coronavírus em 24 horas, revela consórcio de veículos de imprensa; são 37.312 no total”*
*”Veículos de comunicação formam parceria para dar transparência a dados de Covid-19”* - Em resposta à decisão do governo Jair Bolsonaro de restringir o acesso a dados sobre a pandemia de Covid-19, os veículos O Estado de S. Paulo, Extra, Folha de S.Paulo, O Globo, G1 e UOL decidiram formar uma parceria e trabalhar de forma colaborativa para buscar as informações necessárias nos 26 estados e no Distrito Federal. Em uma iniciativa inédita, equipes de todos os veículos vão dividir tarefas e compartilhar as informações obtidas para que os brasileiros possam saber como está a evolução e o total de óbitos provocados pela Covid-19, além dos números consolidados de casos testados e com resultado positivo para o novo coronavírus. O governo federal, por meio do Ministério da Saúde, deveria ser a fonte natural desses números, mas atitudes recentes de autoridades e do próprio presidente colocam em dúvida a disponibilidade dos dados e sua precisão. Mudanças feitas pelo Ministério da Saúde na publicação de seu balanço da pandemia reduziram a quantidade e a qualidade dos dados. Primeiro, o horário de divulgação, que era às 17h na gestão do ministro Luiz Henrique Mandetta (até 17 de abril), passou para as 19h e depois para as 22h. Isso dificulta ou inviabiliza a publicação dos dados em telejornais e veículos impressos. “Acabou matéria no Jornal Nacional”, disse o presidente Jair Bolsonaro, em tom de deboche, ao comentar a mudança. A segunda alteração foi de caráter qualitativo. O portal no qual o ministério divulga o número de mortos e contaminados foi retirado do ar na noite da última quinta-feira. Quando retornou, depois de mais de 19 horas, passou a apresentar apenas informações sobre os casos “novos”, ou seja, registrados no próprio dia. Desapareceram os números consolidados e o histórico da doença desde seu começo. Também foram eliminados do site os links para downloads de dados em formato de tabela, essenciais para análises de pesquisadores e jornalistas, e que alimentavam outras iniciativas de divulgação. Entre os itens que deixaram de ser publicados estão: curva de casos novos por data de notificação e por semana epidemiológica; casos acumulados por data de notificação e por semana epidemiológica; mortes por data de notificação e por semana epidemiológica; e óbitos acumulados por data de notificação e por semana epidemiológica. Neste domingo (7), o governo anunciou que voltaria a informar seus balanços sobre a doença. Mas mostrou números conflitantes, divulgados no intervalo de poucas horas. Em razão das omissões, a parceria entre os veículos de comunicação vai coletar os números diretamente nas secretarias estaduais de Saúde. Cada órgão de imprensa divulgará o resultado desse acompanhamento em seus respectivos canais. O grupo vai chamar a atenção do público se não houver transparência e regularidade na divulgação dos dados pelos estados. "Numa sociedade organizada como a brasileira, é praticamente impossível omitir ou desfigurar dados tão fundamentais quanto o impacto de uma pandemia. Com essa iniciativa conjunta de levantamento de dados com os estados, deixamos claro que a imprensa não permitirá que nossos leitores fiquem sem saber a extensão da Covid-19 “, afirmou Sérgio Dávila, diretor de Redação da Folha. “É nossa responsabilidade cotidiana transmitir informações confiáveis para a sociedade. E, agora, no momento mais agudo da pandemia, precisamos assegurar à população o acesso a dados corretos o mais rápido possível, custe o que custar”, disse Murilo Garavello, diretor de Conteúdo do UOL. “É triste ter que produzir esse levantamento para substituir uma omissão das autoridades federais. Transparência e honestidade deveriam ser valores inabaláveis na gestão dessa pandemia. Vamos continuar cumprindo nossa missão, que é informar a sociedade”, afirmou João Caminoto, diretor de Jornalismo do Grupo Estado. "O jornalismo tem a missão de levar à população os números mais precisos sobre a pandemia. É fundamental conhecer a real extensão dos fatos. Esses dados são decisivos para que as pessoas saibam como agir nesse momento tão difícil", destacou Humberto Tziolas, diretor de redação do Extra. “Neste momento crucial, deixamos nossa concorrência de lado por um bem comum: levar à sociedade o dado mais preciso possível sobre a pandemia. Essas informações orientam as pessoas e as políticas públicas. Sem elas, o país mergulha em um voo cego. O jornalismo cumprirá seu papel”, afirmou Alan Gripp, diretor de redação de O Globo. "A missão do jornalismo é informar. Em que pese a disputa natural entre veículos, o momento de pandemia exige um esforço para que os brasileiros tenham o número mais correto de infectados e óbitos”, afirmou Ali Kamel, diretor-geral de Jornalismo da Globo (TV Globo, GloboNews e G1). “Face à postura do Ministério da Saúde, a união dos veículos de imprensa tem esse objetivo: dar aos brasileiros um número fiel." +++ A Folha, obviamente, é ufanista com relação à união dos veículos de comunicação. Mas ter que esperar transparência das grandes empresas de jornalismo que atuam no Brasil é algo um tanto complicado. No entanto, qualquer crítica ao jornalismo nesse momento precisa ser bem feita. Ainda mais vinda do PT porque o que os jornais e a Globo mais querem é igualar petismo e bolsonarismo.
*”Congressistas e entidades elogiam consórcio de imprensa para coletar dados da Covid-19”*
*”Pressão de militares após recordes de mortes levou a mudança em dados”* - A mudança brusca no formato dos boletins do novo coronavírus, feita na sexta-feira (5), partiu da cúpula militar à frente do Ministério da Saúde. A intenção foi pressionar técnicos a entregar uma plataforma com destaque para números menos impactantes. A pressa se deu após uma sucessão de recordes no número de mortes pela Covid-19 na semana passada. Na quarta-feira (3), foram 1.349 notificações de óbitos e, na quinta (4), 1.473 quando o país passou de uma morte por minuto. Os boletins começaram a ser divulgados por volta das 22 horas. O site com as informações chegou a ficar fora do ar. Após a repercussão negativa, com reação de Congresso, Judiciário e opinião pública, o governo Jair Bolsonaro recuou nesta segunda-feira (8). A pasta decidiu manter os números acumulados de mortes e casos confirmados. O objetivo dos fardados era acelerar a conclusão de uma nova plataforma de divulgação dos dados, que ainda estava em produção. De acordo com relatos feitos à Folha, uma proposta foi apresentada há cerca de 20 dias. O ministro interino, Eduardo Pazuello, gostou particularmente da ideia de destacar somente os números de mortes ocorridas nas últimas 24 horas e que tiveram a confirmação de infecção pelo novo coronavírus. Desde o início da pandemia, usa-se o modelo que tem como base a data de notificação "“ou seja, pode incluir um óbito ocorrido há um mês, por exemplo. Um terço das mortes ocorre nos últimos três dias. Os técnicos da Saúde não eram contrários à mudança de modelo. Porém, defendiam que os demais dados continuassem disponíveis para consulta por especialistas, imprensa e a sociedade em geral. Os militares, a princípio, concordaram, mas enfatizam que o novo modelo precisa se tornar a base da discussão na sociedade. Como os técnicos não avançaram com a criação da plataforma, a pressão da cúpula militar aumentou. Na quarta, por exemplo, a pasta argumentou haver problemas técnicos para justificar a publicação às 22h. Nesse horário, as edições dos principais jornais já estão fechadas e telejornais já foram ao ar. Veio então a ordem para retirar informações do boletim do dia seguinte, também divulgado tarde da noite. A mudança mais impactante foi a exclusão do total de casos confirmados e de mortes registrados desde o início da pandemia. Também não estava presente o número de casos em observação. Bolsonaro não confirmou que era sua a ordem de adiar o boletim, mas disse que, com a mudança de horário, "acabou matéria no Jornal Nacional", em referência ao telejornal da Rede Globo. Para justificar o adiamento, o presidente afirmou que os dados sairiam "mais consolidados" às 22h. Em seguida, Bolsonaro citou novamente o telejornal e disse que o governo "não tem que correr para atender a Globo". O Palácio do Planalto já vinha pressionando o ministério a minimizar dados negativos. Prova disso foi que, gradualmente, desde a gestão de Nelson Teich o boletim diário passou a destacar dados de recuperados e entrevistas coletivas diárias foram diminuídas. A Secom (Secretaria de Comunicação Social) criou o "Placar da Vida", que é divulgado diariamente nas redes sociais da Presidência. Nele, são omitidas mortes e é destacado o número de recuperados. Nas entrevistas no Planalto, há dois meses, ministros vêm criticando a imprensa pela divulgação de imagens de caixões e de dados sobre aumento de óbitos pela doença. O argumento é que isso causa desespero na população. A mudança na divulgação de dados e a retirada do ar dos dados negativos sobre a pandemia geraram repercussão negativa, tanto no Brasil quanto no exterior. A universidade americana Johns Hopkins, referência mundial nas estatísticas da Covid-19, chegou a excluir dados referentes ao Brasil. Houve reação por parte de especialistas, políticos e da Justiça. As críticas levaram os servidores da Saúde a concluir em menos de três dias a nova plataforma, apresentada nesta segunda. Em entrevista no Planalto, sem Pazuello, a pasta confirmou que vai promover mudança na divulgação, dando destaque para dados efetivamente registrados nas últimas 24 horas. O governo também recuou na prática de divulgar os dados apenas às 22h. A pasta agora disse que pretende divulgar os novos dados referentes à Covid às 18 horas. Os secretários da pasta afirmam que chegaram a acordo com os estados, que vão fornecer as informações até às 16h, possibilitando que elas sejam analisadas e contabilizadas. O novo formato estará disponível em uma plataforma interativa na internet. O secretário-executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, afirmou que a plataforma poderá estar disponível a partir desta terça-feira (9). "A gente vinha trabalhando com data de notificação, mas a data de notificação ela prejudica uma análise, precisa fazer trabalho estatístico e ela prejudica uma análise. A nossa intenção e estamos perseguindo este objetivo é trabalharmos com a data de ocorrência", afirmou. Nesta terça-feira (9), haverá uma reunião do ministério com os secretários de Saúde estaduais para discutir os últimos detalhes para o lançamento da plataforma. O secretário-executivo --que é coronel do Exército-- defendeu o novo modelo, afirmando que oferece dados mais completos para a análise do momento atual vivido pelo país. O secretário afirma que as novas informações vão indicar aos gestores "como proceder e como o gestor, usando a ferramenta pode proceder em relação aos seus municípios", afirmou. Em entrevista concedida à emissora CNN Brasil, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), criticou a falta de transparência do governo na divulgação dos dados do novo coronavírus. A mudança de metodologia e os atrasos levaram veículos de comunicação a se unirem para buscar as informações necessárias nos 26 estados e no Distrito Federal. "Nós não podemos achar normal, num momento como esse, outros órgãos que devam ou precisem cumprir o papel que é do governo federal", afirmou. Maia disse esperar que o governo reveja a decisão até esta terça-feira (9). Caso contrário, Congresso, imprensa e órgãos públicos serão "obrigados a construir um mecanismo para dar publicidade aos números e garantir a transparência que é tão importante neste momento". Na entrevista, Maia informou que Pazuello disse que participaria, nesta terça, da reunião da comissão externa de ações contra o coronavírus. O deputado Pedro Paulo (DEM-RJ) entrou com uma notícia-crime no STF (Supremo Tribunal Federal) contra Pazuello, por prevaricação, improbidade administrativa, por retardar o fornecimento de informações e por as ter fornecido, argumenta, de forma incorreta ou imprecisa. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), confirmou que a comissão mista que acompanha ações de combate ao coronavírus vai trabalhar agora com os números fornecidos pelas secretarias estaduais de saúde. Os dados serão tabulados e divulgados pelo Congresso, mas sem data definida ainda. "É papel do parlamento buscar a transparência em um momento tão difícil para todos", afirmou Alcolumbre. "É muito importante que haja coerência nas mensagens sobre a pandemia de coronavírus, para que as pessoas possam confiar nelas, possam entender onde está a doença e avaliar seu risco", afirmou o diretor-executivo da Organização Mundial da Saúde, Michael Ryan. A declaração foi dada em resposta a pergunta sobre a ameaça do governo Bolsonaro de sonegar dados e divulgação de dados divergentes. Segundo Ryan, a OMS tem recebido dados detalhados sobre coronavírus no Brasil. "Espero que qualquer mal entendido seja resolvido rapidamente." O diretor afirmou ainda que a comunidade científica e técnica latino-americana já demonstrou excelente desempenho no combate a doenças contagiosas, como sarampo e cólera, e que os governos precisam começar a apoiá-los.
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MÔNICA BERGAMO - *”Witzel desiste de fazer oposição a Bolsonaro depois de operação da PF”*: O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC-RJ), jogou a toalha e já comunicou a pessoas próximas que não fará mais oposição frontal ao presidente Jair Bolsonaro. Ele já teria inclusive enviado sinais a Bolsonaro de que pretende erguer a bandeira branca. O ponto de virada de Witzel foi a operação de busca e apreensão da Polícia Federal feita na residência oficial, onde ele vive. Ela foi autorizada pela Justiça. A mulher de Witzel, Helena, é personagem central das investigações. O escritório de advocacia dela mantinha contrato de R$ 540 mil com empresa investigada por desvios de recursos em contratos com o governo do Rio. Witzel passou a temer pelo pior —inclusive pela prisão dele ou da mulher. A operação ocorreu no dia 26 de maio, um mês depois de Sergio Moro ter acusado Bolsonaro de tentativa de interferência política na PF. Do dia da operação para cá, Witzel nunca mais criticou Bolsonaro no Twitter. Na sexta (5), ele fez uma referência negativa ao presidente em uma entrevista —mas respondendo à insinuação feita por Bolsonaro de que “brevemente” poderá ser preso. O governador do Rio atacava o presidente semanalmente. Em maio, foram pelo menos 14 postagens falando mal diretamente dele. Uma outra atacava o filho dele, Flávio Bolsonaro. E 11 falavam de “bolsonaristas” ou o criticavam indiretamente. “Presidente Bolsonaro, ninguém vai conseguir fazer um trabalho sério com sua interferência nos ministérios e na Polícia Federal”, escreveu Witzel no Twitter no dia 15. “Bolsonaro caminha para o precipício e quer levar com eles todos nós”, registrou no dia 12. Depois da operação da PF, ele só posta mensagens sobre a Covid-19 e imagens de visitas a hospitais. +++ Isso acontece quando se faz política sem convicções, quando o discurso é vazio e eleitoreiro.
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