quarta-feira, 17 de junho de 2020

Análise de Mídia 17/06

DOS JORNAIS DE HOJE: A lógica da imprensa tradicional se mantém: o tom com relação ao presidente Jair Bolsonaro é crítico, mas o noticiário econômico continua de acordo com a agenda de Paulo neoliberal.
A Folha de S. Paulo dá destaque à ação da PGR que quebrou o sigilo de parlamentares bolsonaristas no inquérito que investiga o incentivo a manifestações contra a democracia. O noticiário político do jornal gira em torno da repercussão do caso. Já o caderno de economia expõe o aumento do desemprego e de medidas que ampliam a permissão para corte em salários. A Folha publica reportagem destacando a inacreditável fala de Paulo Guedes. O ministro da Economia afirmou que vê um futuro brilhante porque pior do que está não pode ficar. Pode-se dizer que ele praticamente parafraseou o palhaço e deputado ‘Tiririca’. O jornal, no entanto, publica reportagem sobre o considera como sendo falhas de análises feitas pela equipe econômica do governo.
O caderno de política do Estadão vai no mesmo sentido, mas entrevista um cientista político que analisa o comportamento de Jair Bolsonaro e dos fardados que compõem o governo federal. No caderno de economia, o jornal tenta fazer um trabalho de “futurologia” e defende que o marco regulatório do saneamento pode ser um impulso para a economia do país no pós-pandemia. Evidentemente, nenhuma fonte contrária ao projeto é ouvida pela reportagem.
O Valor Econômico publica reportagem sobre como o governo federal não está investindo o dinheiro que deveria ser direcionado para o combate à pandemia. Apenas 28% da verba foi utilizada até agora. O levantamento é da Instituição Fiscal Independente. Em outra reportagem, o Valor ouve especialistas ligados ao mercado que veem possibilidade de o comércio passar por situação não tão ruim daqui para frente. Eles consideram que a reabertura gradual será importante. Um economista da XP declarou ao jornal que o mês de abril foi ruim para o comércio porque parte dos que recebem o auxílio emergencial podem estar fazendo uma poupança. O jornal também publica reportagem sobre o ataque à demarcação de terras indígenas que está sendo gestado de dentro da Funai. Por fim, o Valor aborda a oferta de crédito para micro e pequenos empresários.
 
CAPA – Manchete principal: *”PGR pede, e Moraes quebra sigilo de 11 parlamentares”*
EDITORIAL DA FOLHA - *”Violência mascarada”*: Num momento em que exacerbações de agentes de segurança pública geram protestos nos Estados Unidos e são questionadas em diversos países, inclusive o Brasil, o governo decidiu excluir do relatório anual Disque Direitos Humanos dados sobre a violência policial em 2019 —o primeiro ano da gestão de Jair Bolsonaro. Não causa surpresa o ímpeto do presidente da República em ocultar ou falsear informações de caráter público. Tal esforço, que abrange de informações sobre o desmatamento a mortes causadas pela Covid-19, já se caracteriza como política sistemática e deliberada, a atestar o caráter autoritário e antirrepublicano da administração.Do alto de sua ignorância e aversão a tudo que contribua para o esclarecimento, o debate democrático e o aperfeiçoamento das instituições, Bolsonaro repete de modo incansável a nota obscurantista do ataque à ciência, à informação e à transparência. Para tanto, conta com o apoio inestimável de colaboradores como a ministra Damares Alves, titular da pasta da Mulher, da Família e Direitos Humanos, responsável pela divulgação dos dados em tela. O relatório ora desvirtuado —a pretexto de verificação de inconsistências— é considerado um dos termômetros da violação dos direitos humanos no país, tema que o presidente e sua claque desprezam.
A compilação é feita com base em denúncias endereçadas ao serviço Disque 100, criado em 1997, que se mantém desde 2003 sob a responsabilidade federal. O objetivo é colher relatos de violações, entre as quais aquelas que eventualmente sejam cometidas por membros de corporações policiais. A exclusão dessa modalidade de violência atende às simpatias e ligações que o presidente e parte de sua família mantêm com setores da área de segurança pública, nem sempre dispostos a se submeter às leis e à necessária prestação de contas à sociedade. A supressão dos dados ocorre enquanto se avolumam sinais de aumento do uso de força excessiva por parte das polícias. Corroboram esse diagnóstico os dados recém-divulgados pelo governo paulista que dão conta de uma elevação, em abril (já durante, portanto, a quarentena para combater a pandemia), de 54,6% do número de mortes decorrentes de intervenção da PM. O resultado, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, fecha o pior quadrimestre desde que começou o levantamento, em 2001. Não parece um fenômeno aleatório, dada a ascensão de forças políticas, nos Executivos e Legislativos do país, que incentivam a truculência e a impunidade policial.​
PAINEL - *”Posição dura da PGR em inquérito de atos antidemocráticos sugere recado a Alexandre de Moraes”*: O posicionamento da PGR foi o ponto mais relevante das operações autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes nesta segunda (15) e terça (16). Depois de ser contrário a quase todas as medidas no inquérito de fake news, desta vez o órgão foi o autor dos pedidos de diligências na investigação dos atos antidemocráticos. Alguns foram considerados bastante duros, como quebras de sigilo. A avaliação no mundo jurídico é que a posição de Augusto Aras serve como um recado ao Supremo. Segundo esta análise, a mensagem ao STF é que, embora participe, o PGR não considera legítimo o inquérito das fake news. O dos atos antidemocráticos, por outro lado, foi aberto a seu pedido e segue o rito tradicional, com solicitações de medidas sendo feitas pelo Ministério Público. As datas das manifestações da PGR nos dois inquéritos corrobora a avaliação. As petições foram enviadas entre o dia 20 e 27 de maio, o que deixa mais distante a possibilidade de ter sido uma mudança de postura de Aras em relação ao presidente, diante das críticas que vem sofrendo. Há quem veja recado também que a investigação serve de alerta para Bolsonaro, pois agora há um inquérito tratado com lupa pela PGR, com medidas duras, sem poupar aliados e sem sinal de estar perto do fim. Ainda assim, há desconfiança sobre os posicionamentos do procurador-geral.
PAINEL - *”Novo ministro foi a favor de saída de Weintraub e diz a aliados que demissão está decidida”*: O ministro Fábio Faria (Comunicações) é um dos defensores da demissão de Abraham Weintraub da Educação. Em conversa com parlamentares, disse que Bolsonaro não voltará atrás e já bateu o martelo da demissão. Faria justificou seu posicionamento por estar em busca de pacificação entre as instituições.
PAINEL - *”Metrô de São Paulo teve 278 afastamentos de funcionários devido ao coronavírus”*
PAINEL - *”9 em cada 10 querem que dinheiro do fundão eleitoral vá para combate do coronavírus”*
PAINEL - *”Líderes colocam dúvida sobre aprovação de proposta que adia eleição”*
PAINEL - *”#Juntos e #Somos70% participam de live com partidos políticos para debater democracia”*: Membros dos movimentos #Juntos e #Somos70% participam​ nesta quinta (18) de live com representantes de partidos políticos e da UNE (União Nacional dos Estudantes). O encontro virtual está sendo organizado pelos cinco partidos de oposição que criaram o movimento Janelas pela Democracia (PSB, PDT, Rede, PV e Cidadania) e também terá a participação da Frente Povo Sem Medo (ligada ao PT). Ciro Gomes, Marina Silva, os parlamentares Randolfe Rodrigues e Alessandro Molon, além dos ex-governadores Márcio França e Cristovam Buarque deverão participar. Artistas também foram convidados, como o cineasta Zelito Viana e a cantora Tereza Cristina.
PAINEL - *”Rio entrega no limite lista de compromissos para evitar expulsão do regime de recuperação”*
*”A pedido da PGR, Moraes determina quebra de sigilo de 10 deputados e 1 senador bolsonaristas”* - A pedido da Procuradoria-Geral da República, o ministro Alexandre de Moraes, relator no STF (Supremo Tribunal Federal) do inquérito que apura atos antidemocráticos organizados por apoiadores de Jair Bolsonaro, determinou a quebra do sigilo bancário de dez deputados federais e um senador bolsonaristas. São os deputados Daniel Silveira (PSL-RJ), alvo de mandado de busca e apreensão nesta terça-feira (16), Cabo Junio do Amaral (PSL-MG), Carla Zambelli (PSL-SP), investigada também no inquérito das fake news, Caroline de Toni (PSL-SC), Alê Silva (PSL-MG), Bia Kicis (PSL-DF), General Girão (PSL-RN), Guiga Peixoto (PSL-SP), Aline Sleutjes (PSL-PR) e Otoni de Paula (PSC-RJ). O senador Arolde de Oliveira (PSD-RJ) completa a lista. O inquérito foi autorizado pelo Supremo após manifestações terem sido realizadas em 19 de abril. O pedido de investigação foi feito pelo procurador-geral da República, Augusto Aras. A solicitação de quebra de sigilo foi feita pela PGR e autorizada no dia 27 de maio por Moraes. No mesmo despacho de maio, o ministro do STF autorizou a Polícia Federal a cumprir, na manhã desta terça-feira (16), mandados de busca e apreensão. As medidas, que atingem aliados de Bolsonaro, têm o objetivo de instruir o inquérito que investiga a origem de recursos e a estrutura de financiamento de grupos suspeitos da prática de atos antidemocráticos. Entre os alvos estavam um advogado e um marqueteiro ligados à Aliança pelo Brasil, partido que Bolsonaro tenta criar desde sua saída do PSL, no final do ano passado. No total foram cumpridos 21 mandados de busca e apreensão nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Maranhão, Santa Catarina e no Distrito Federal. Uma linha de apuração neste inquérito, segundo a PGR, busca esclarecer se os investigados se articularam com parlamentares e outras autoridades com prerrogativa de foro no STF "para financiar e promover atos que se enquadram em práticas tipificadas como crime pela Lei de Segurança Nacional (7.170/1983)".
O vice-presidente Hamilton Mourão avaliou que houve um certo exagero na operação. "Eu acho que é meio exagerado isso aí. Eu acho que considerar que essa meia dúzia de gente que estava aí na rua como uma ameaça é a mesma coisa que a gente considerar aquela turma que aparece com bandeira de foice e martelo como ameaça", afirmou. Em uma rede social, o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ) anunciou ser um dos alvos das buscas da PF. “Polícia Federal em meu apartamento. Estou de fato incomodando algumas esferas do velho poder”, disse. Policiais vasculharam o gabinete de Silveira na Câmara, o apartamento funcional em Brasília e sua residência no Rio de Janeiro. Agentes federais também cumpriram mandados em endereços do blogueiro Allan dos Santos, do site Terça Livre, do advogado Luís Felipe Belmonte, um dos responsáveis pela montagem da Aliança, e do marqueteiro Sérgio Lima, também do partido que Bolsonaro pretende criar. Belmonte apareceu em um vídeo postado no YouTube no mês passado por Sara Winter no qual a líder do grupo armado de extrema direita 300 do Brasil pede ajuda contra ações do Governo do Distrito Federal, que buscava desmobilizar acampamentos de apoio ao presidente na região central de Brasília. O empresário Otávio Fakhoury é outro alvo da operação. Ele e Allan dos Santos já tinham sofrido busca e apreensão no inquérito de fake news, também sob a relatoria do ministro do STF Alexandre de Moraes.
Fakhoury negou participação em atos ilícitos. Em nota, o empresário informou que seus advogados buscam no Supremo acesso integral aos autos, o que lhe permitirá apresentar esclarecimentos aos investigadores a oitiva da PF estava agendada para hoje. Já o blogueiro Allan dos Santos postou vídeo após a PF deixar sua casa em Brasília e afirmou que seus advogados tentariam ter acesso aos autos do inquérito. Ele disse que teve o computador apreendido pela polícia. Ambos fazem ataques à corte de forma recorrente. Em vídeos e nas redes sociais, além de espalhar hashtags contra a corte, Allan tem participado de protestos com bandeiras antidemocráticas em Brasília. Em um deles, fez uma foto mostrando o dedo do meio para o prédio do STF. Em maio, ele passou a fazer menção ao artigo 142 da Constituição, defendendo o uso das Forças Armadas contra os ministros. Naquele mês, após a nomeação de Alexandre Ramagem para a PF ser barrada por Moraes, Fakhoury escreveu na rede social que quando o povo perdesse a paciência com os “ditadores togados do STF”, a toga dos ministros viraria pano de chão. Nesta terça-feira, Allan retuitou o post do deputado federal Márcio Labre (PSL-RJ) contra a operação. O parlamentar afirmou que estava indo para Brasília para brigar e que por ele Polícia Federal não cumpriria mais nenhuma ordem do STF.
Labre também defendeu o uso das Forças Armadas contra a corte após a operação contra bolsonaristas no inquérito das fake news, no final de maio. Numa entrevista a um canal do YouTube nesta segunda-feira (15) e em um post no mesmo site no sábado (13), o parlamentar afirma que “se o dono do fuzil resolver que a caneta não vale, acabou”. “Não adianta você apontar a caneta para o dono do fuzil. É o dono do fuzil que decide se obedece ou não, porque caneta não atira, mas fuzil atira”, disse. Houve mandados também contra Alberto Junio da Silva, conhecido como Beto Louco, da Rádio Onda Poços, de Minas Gerais, e contra a jornalista Camila Abdo, de São Paulo. Em entrevista a uma afiliada da TV Globo, Alberto Silva, de Poços de Caldas (MG), negou participação em atos antidemocráticos. “Desde que foi decretada a questão da pandemia, escolhi, por uma questão de obedecer ao próprio Ministério da Saúde, a não estar participando dessas manifestações”, afirmou. Camila Abdo disse em vídeo publicado em um aplicativo de relacionamento que a PF levou seus celulares e seu computador e que prestou depoimento. Ela reforçou apoio ao presidente Bolsonaro. Em São Paulo, duas empresas de tecnologia estão na lista de Moraes: a Novo Brasil Empreendimentos Digitais e a Inclutech Telecnologia da Informação. Nesta segunda-feira, no âmbito do mesmo inquérito sobre protestos antidemocráticos, a ativista Sara Winter, do grupo armado de extrema direita 300 do Brasil, foi presa após operação da PF.
Na ocasião, Moraes atendeu a um pedido do Ministério Público Federal feito na sexta-feira (12), a partir de indícios de que o grupo liderado por Sara está organizando e captando recursos financeiros para ações que se enquadram na Lei de Segurança Nacional. Além dela, outras três pessoas foram presas. Outros dois nomes ainda estavam sendo procurados pela PF. Na noite de sábado, integrantes do grupo atacaram o prédio do STF em Brasília com fogos de artifício. A pedido do presidente do tribunal, ministro Dias Toffoli, a Procuradoria-Geral da República abriu investigação para a responsabilização dos autores. Também no sábado o Governo do Distrito Federal, usando a Polícia Militar, recolheu barracas e outros utensílios de militantes do 300 do Brasil sob a justificativa de que os acampamentos não são permitidos no local. Winter pediu a intervenção do presidente Jair Bolsonaro. ​O objetivo de Aras, ao pedir a investigação ao STF, é apurar possível violação da Lei de Segurança Nacional por "atos contra o regime da democracia brasileira por vários cidadãos, inclusive deputados federais, o que justifica a competência do STF". “O Estado brasileiro admite única ideologia que é a do regime da democracia participativa. Qualquer atentado à democracia afronta a Constituição e a Lei de Segurança Nacional”, afirmou o procurador-geral, sem citar o presidente Bolsonaro, que também participou de ato em Brasília.
A Constituição proíbe o financiamento e a propagação de ideias contrárias à ordem constitucional e ao Estado democrático de Direito. Prevê como crimes inafiançáveis e imprescritíveis ações desse tipo, promovidas por grupos armados, civis ou militares. Já a Lei de Segurança Nacional diz que é crime fazer, em público, propaganda de processos violentos ou ilegais para alteração da ordem política ou social. Também veda incitar a subversão da ordem política ou social; a animosidade entre as Forças Armadas ou entre estas e as classes sociais ou as instituições civis; e a luta com violência entre as classes sociais. No pedido de abertura de inquérito, o procurador-geral não cita o presidente da República como um dos possíveis organizadores ou financiadores de atos deste tipo. Mas o inquérito também é entendido como um recado ao presidente. Um dia após a PF cumprir 29 mandados de busca e apreensão no chamado inquérito das fake news, no mês passado, Bolsonaro criticou a investigação que atingia seus aliados e disparou queixas contra a corte. “Não teremos outro dia como ontem, chega”, disse, na saída do Palácio da Alvorada, em declaração transmitida pela rede CNN Brasil. “Querem tirar a mídia que eu tenho a meu favor sob o argumento mentiroso de fake news.” O presidente afirmou, ainda, ter em mãos as “armas da democracia”. E disse que "ordens absurdas não se cumprem" e que "temos que botar limites".
*”PF faz busca e apreensão contra aliados de Bolsonaro em inquérito sobre atos antidemocráticos”*
*”Mourão diz ver exagero em operação contra aliados de Bolsonaro e defende superação de 'ruídos'”* - Em conversa com a Folha, o general da reserva disse que não se pode considerar "meia dúzia de gente que estava na rua" como uma ameaça, apesar de, na avaliação dele, ter sido um inconveniente a iniciativa de um grupo governista de atirar fogos de artificio sobre a sede do Supremo. "Eu acho que é meio exagerado isso aí. Eu acho que considerar que essa meia dúzia de gente que estava aí na rua como uma ameaça é a mesma coisa que a gente considerar aquela turma que aparece com bandeira de foice e martelo como ameaça", afirmou. No caso dos fogos de artifício, Mourão avaliou que a penalidade mais apropriada seria a aplicação de multas contra os responsáveis pelo ocorrido. Até o momento, Bolsonaro não se manifestou nem sobre os mandados de busca e apreensão nem sobre o ataque ao prédio do Supremo. Apesar da crítica à operação policial, o vice-presidente defendeu um diálogo harmonioso entre Executivo e Judiciário e avaliou que tem havido um ruído de comunicação que precisa ser superado. "Eu acho que tem muito ruído na comunicação. É [preciso] tirar o ruído da comunicação. A rádio, quando você fala para transmitir mensagem, tem um botão que se chama supressor de ruído. É só acionar o supressor de ruído", disse. Mourão considerou também que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, cometeu um erro ao ter participado de protesto no fim de semana que criticava o STF. O Palácio do Planalto já informou a integrantes do Supremo que o ministro deve deixar o cargo como um gesto de paz. "Eu acho que o Weintraub, no momento em que ele anda debaixo de fogo, deveria estar abrigado. Ele rompeu um principio básico da segurança"​, afirmou o general.
+++ É importante observar que embora os militares não tenham tutelado Jair Bolsonaro, os fardados aumentaram demais o tamanho do espaço que ocupam no governo e acuaram a chamada “ala ideológica” com quem brigavam desde o início do mandato de Jair Bolsonaro.
*”Saiba quem são os principais alvos da operação da PF contra atos antidemocráticos”*
*”Em recado ao Planalto, Celso de Mello diz ser inconcebível que autoritarismo resista no Estado brasileiro”* - Em meio à crescente tensão entre o STF (Supremo Tribunal Federal) e o Palácio do Planalto, os ministros da corte aproveitaram sessão da Segunda Turma desta terça-feira (16) para mandar recados ao Executivo. A fala mais dura foi do decano, Celso de Mello, que disse ser “inconcebível” a sobrevivência de “resíduo de forte autoritarismo” no Estado brasileiro. “É inconcebível que ainda sobreviva no íntimo do aparelho de Estado brasileiro o resíduo de forte autoritarismo, que insiste em proclamar que poderá desrespeitar, segundo sua própria vontade arbitrária, decisões judiciais. Esse discurso não é um discurso próprio de um estadista comprometido com o respeito à ordem democrática e que se submete ao império da Constituição e das leis da República”, afirmou o ministro. Sem citar diretamente o presidente Jair Bolsonaro, o magistrado se referiu à ameaça feita pelo presidente e seus ministros de que o governo pode descumprir eventualmente decisões da corte. Esta não é a primeira vez que Celso manda recados ao Planalto. No fim de maio, ao retirar o sigilo do conteúdo de uma reunião ministerial do governo Bolsonaro, o ministro do STF escreveu em decisão que o descumprimento de determinação da Justiça é crime. Celso disse ainda que é preciso resistir, “mas resistir com as armas legítimas da Constituição e das leis dos Estado brasileiro e reconhecer, na independência da Suprema Corte, a sentinela das liberdades. porque sem juízes independentes, jamais haverá cidadãos livres neste país”. Antes do decano, a presidente da Segunda Turma, ministra Cármen Lúcia, deu início à sessão com um recado ao momento político em que apoiadores do presidente têm atacado o STF.
Cármen afirmou estar preocupada com o cenário e disse que os ataques não são espontâneos, mas “instigados e incentivados”, sem citar nomes. “Gostaria de expressar a preocupação com o cenário que se está buscando construir no palco das relações sócio-políticas no país, esse cenário instigado e incentivado, que nada tem de espontâneo, por alguns poucos que se negam a acatar os valores de humanidade, de respeito social, individual e institucional parecem não se preocupar em que a convivência democrática não pode ser dificultada, tem que ser facilitada”, afirmou a ministra. Ela ainda saiu em defesa dos ministros do STF, alvo de ataques da base de apoio de Bolsonaro. “Somos nós juízes constitucionais, servidores públicos, a quem incumbe o dever de em última instância judicial não deixar que o Estado democrático de Direito se perca, porque todos perderão. Atentados contra instituição, contra juízes e contra cidadãos que pensam diferente volta-se contra todos, contra o país”, afirmou. Cármen disse que as ações de “uns poucos” não intimidarão os integrantes da magistratura na tarefa de guardar a Constituição e fazer ser cumprida a lei. “Este tribunal é presente, está presente, permanecerá presente e atuante. Este tribunal teve um passado a ser reverenciado e o cidadão brasileiro tem um futuro a ser assegurado. Esse futuro tem a sua garantia democrática na Constituição que será guardada, respeitada e aplicada”, disse, encerrando sua fala.
Com uma série de questões pendentes na Justiça, o governo Bolsonaro tem adotado postura de ataque em relação ao Judiciário e, em especial, ao STF. Em manifestações em defesa do governo, apoiadores do presidente têm dirigido críticas à instituição. Na semana passada, o próprio presidente da corte, Dias Toffoli, em live organizada pela Associação dos Magistrados Brasileiros, pediu uma trégua entre os Poderes. Ele disse, em afirmação destinada "diretamente e em especial" ao chefe do Executivo, que "não é mais possível atitudes dúbias". Nesta segunda-feira (15), dois dias depois de o STF ter sido alvo de ataques de manifestantes que lançaram fogos de artifício contra a sede da corte, Bolsonaro pediu à sua equipe que evite criticar publicamente o tribunal para não intensificar o tensionamento. Como mostrou a Folha, no domingo (15), o ministro da Justiça, André Mendonça, e outros membros do governo buscaram integrantes do Supremo para minimizar a participação do ministro da Educação, Abraham Weintraub, no protesto contra o STF e evitar que a manifestação de apoiadores do presidente no dia anterior respingasse na relação entre os Poderes. Nas conversas, ministros da corte fizeram chegar ao governo profunda insatisfação com o silêncio de Bolsonaro diante do ataque ao Supremo.
ENTREVISTA - *”PM sabia que haveria ataque ao Supremo e não fez nada, diz governador do DF”*: O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), afirma que a Polícia Militar sabia do risco de ataque ao STF (Supremo Tribunal Federal) e que, mesmo assim, não atuou para impedi-lo. Por isso, segundo ele, o subcomandante da polícia, Sérgio Luiz Ferreira de Souza, foi exonerado. No último sábado (13), o prédio do STF foi alvo de fogos de artifício disparados por militantes do grupo armado de extrema direita 300 do Brasil. “No Distrito Federal, aonde eles acamparem, eu tiro. Aqui eles não ficam”, afirmou Ibaneis à Folha. O governador diz que determinou o fechamento da Esplanada no domingo (14) porque, ao desmobilizar o acampamento do grupo no sábado, soube que havia um plano para atacar o Supremo. Ibaneis voltou a fechar a Esplanada dos Ministérios, de terça (16) até a noite desta quarta-feira (17), após identificar novas ameaças. Ibaneis interrompeu a entrevista e tomou o celular da repórter após ser questionado sobre o comportamento do presidente Jair Bolsonaro, que tem comparecido sem máscara a manifestações, contrariando decreto do governo do DF. “Essa entrevista não está dada e eu quero que ela seja apagada”, disse o governador. Pouco depois, Ibaneis devolveu o celular. Em seguida participou de uma agenda. Quando acabou, o governador chamou a reportagem, pediu desculpas, e a conversa foi retomada.
- Desde abril, em que houve a manifestação na frente do QG do Exército, o DF é palco de protestos com bandeiras pelo fechamento do Congresso, anti-STF, com aglomeração, algumas com a participação do presidente Bolsonaro. Por que só neste último final de semana o sr. decidiu fechar a Esplanada?
- Acho que você está tentando confundir um pouco as coisas. Os atos que tiveram ali tiveram alguns fatos que poderiam ser trazidos como antidemocráticos ou como uma agressão ao Supremo, tanto que o Supremo abriu um inquérito e está apurando. Mas não era uma manifestação, você via pessoas normais, de bem, que estavam ali se manifestando em apoio a Bolsonaro. O que nós tivemos este final de semana foi um fato totalmente diferenciado. Tivemos um ataque a instituições da República e aí, eu como governador, tomei uma atitude de fechamento. São coisas totalmente diferentes.
- Este ato [ataque ao STF] que ocorreu foi no sábado à noite. O sr. tomou uma atitude para proibir as manifestações que ocorreriam no domingo.
- Sim. Não estou entendendo a diferença. Espero que a sra. como repórter me faça perguntas que sejam claras. Não tenta me levar para conduzir uma resposta. Olha, a entrevista está acabada. Eu não vou ser conduzido por você.
- Não, governador, eu não quero conduzir.
- Você está conduzindo.
- Não, governador, quero conversar.
- Você faça perguntas claras que lhe dou respostas claras. Não queira pegar 90 dias de acontecimento e tentar transformar tudo num sábado. Se você fizer perguntas corretas eu vou responder corretamente, caso contrário, não vamos ter conversa.
- Qual foi a diferença para o sr. dessas manifestações que ocorreram até sábado?
- Tivemos as informações de que no tal acampamento dos 300 estava sendo preparado com armamentos, com outros tipos de munições, um ataque a instituições da República, como de fato ocorreu no sábado no Supremo. Por isso, o fechamento. O que estava se colocando ali era um ataque muito claro aos Poderes da República, em especial ao STF, por isso a decisão de fechamento.
- O sr. acha que no sábado houve inação da polícia?
- Acho, tanto que exonerei o subcomandante. Porque se ele já tinha informações de que iria acontecer aquilo, eles deveriam ter proibido que esses meliantes estivessem lá. No momento da desmobilização do acampamento, ele sabia que isso ia acontecer. Por isso o subcomandante foi exonerado.
- O ministro Weintraub participou de manifestações pequenas na Esplanada no domingo e o sr. o multou.
- Eu não multei. Quem multou foi o DF Legal, é um órgão independente, uma secretaria que cuida de fiscalização.
- Ele foi o terceiro multado no DF. Na semana anterior, o presidente saiu a cavalo pelas ruas sem máscara. Por que ele não foi multado?
- O que estamos fazendo no DF é orientando as pessoas sobre o uso de máscaras, tanto que só temos três casos de multa, deveríamos ter 3.000 ou 30 mil. Agora o que acontece é que o que o ministro fez num momento de radicalismo. Eu espero que pague, porque se não eu vou negativá-lo.
- No final de semana anterior, o presidente Bolsonaro saiu a cavalo sem máscara.
- Mas ele estava em um movimento, não foi uma provocação, o ministro quis provocar o nosso decreto, a orientação que estamos dando.
- Mas era o presidente da República, o presidente que saiu sem máscara. Por que ele não foi multado?
- Gente, vocês não vão querer me colocar contra o presidente da República, porque eu gosto do presidente.
- O sr. vê diferença nesses atos?
- Eu vejo diferença. Eu acho que é mais orientação. Eu mesmo peguei o telefone, liguei para o pessoal da assessoria do presidente e pedi que ele não fizesse mais isso, porque ele incentiva pessoas mais humildes, que não tem a consciência do que está acontecendo.
- O sr chegou a pedir que o presidente não participe mais de manifestações?
- Eu não pedi nada. Eu não tenho direito de fazer isso com ele não. Ele é livre. Ele vai participar de quantas manifestações ele quiser. Ele vai andar pelas ruas dessa cidade com toda tranquilidade.
- O sr acha que ele deveria ter se manifestado… [a pergunta seria se Bolsonaro deveria ter se manifestado sobre o ataque ao Supremo. Neste momento, o governador pega o telefone da repórter]
- Você está muito, olha, muito no ‘acho’. Eu não respondo no acho. Não adianta, porque essa entrevista não está dada, porque eu não estou aqui para achar. Você está achando.
- Mas o celular é meu...
- ‘Você está achando’. Você vai apagar a entrevista e acabou.
- Não, governador, a gente está conversando.
- Não estamos conversando. Você está querendo que eu ache. Eu não estou aqui para achar.
- Eu não estou querendo. Estou aqui para perguntar a sua opinião, a opinião do governador.
- Por favor, eu não estou aqui para lhe dar opinião, estou aqui para dar a entrevista.
- Mas é o que estou fazendo, estou perguntando e o sr. está respondendo.
- [O governador sai andando com o celular da Folha] Você vai abrir isso aqui e vai apagar.
- Governador, por que eu vou apagar a entrevista?
- Porque eu não estou aqui para achar.
- Nós estamos tendo uma conversa. O sr. é o governador do DF.
- Vamos acabar com isso.
- Assessor: O sr. tem o direito de não dar a entrevista.
- Ibaneis: Eu não vou [dar]. E essa entrevista não está dada e eu quero que ela seja apagada.
- Tá, agora posso conversar com o sr. Eu vou tirar ela do gravador e vamos conversar. Eu não quero conversar com você. Por favor, tchau.
- Assessora: Você pode apagar a entrevista?
- Ibaneis: Não estou aqui para achar, eu sou governador, estou aqui para decidir.
[Entrevista é retomada]
- A gente estava falando sobre a questão das manifestações. Sobre o fato de no sábado ter havido um ato de algumas pessoas contra o STF. E o que estava querendo entender foi se o sr. tomou a decisão de fechar a Esplanada após esse ato ou se foi anterior.
- Eu tomei a decisão de fechar a Esplanada a partir do momento em que, ao finalizar a retirada do acampamento dos 30, ou dos 300 como eles se chamam, porque eu acho que não tenham mais do que 30, a partir do momento em que se verificou que eles não estavam ali para fazer manifestação pacífica, discutindo as ideias, que é o que está na Constituição. O que se verificou no momento da retirada eram pessoas preparadas para uma verdadeira guerra institucional, desrespeitando o Supremo Tribunal Federal, alvo naquele momento. Antes dos fogos, eu já havia determinado ao meu consultor jurídico que preparasse o ato.
- Por que o acampamento dos 300 do Brasil acabou no sábado e não antes?
- Tivemos informações de que estavam preparando atos como esse que ocorreu. Ela (a informação) chegou pela manhã e fez com que eu determinasse.
- O sr determinou o fechamento da Esplanada por dois dias, mas os 300... Os 30.
- Esse grupo continua em Brasília. Eles podem achar outros lugares para acampar. O que se pode fazer com relação a isso?
- Brasília não é território. O que estamos fazendo é o seguinte. Os inquéritos policiais foram abertos. Boa parte deles já foram ouvidos. A polícia está trabalhando, fazendo seu papel. Eles é que vão dar encaminhamento. Se fosse eu, após a apuração, encaminharia ao Poder Judiciário para que o Judiciário e o Ministério Público, porque cabe ao Ministério Público, requisite as prisões se for o caso, faça o que tem que fazer. No Distrito Federal, aonde eles acamparem, eu tiro. Aqui eles não ficam. Eu não vou permitir numa Brasília que eu estou esteja governando que tenham atos antidemocráticos.​
- O sr. entende que cabe ao presidente da República se manifestar sobre esses que se dizem apoiadores dele e que fazem esse tipo de ato que o sr. considera antidemocrático?
- Eu vi o presidente por várias vezes dizer que haviam pessoas infiltradas. Acho que essa investigação que está sendo feita pelo Supremo Tribunal Federal, conduzida pelo ministro Alexandre de Moraes com muita competência, e agora com a participação do procurador-geral da República, vai fazer com que a gente chegue no ponto de saber se eram infiltrados, como aparentavam ser nas manifestações anteriores, ou se essas pessoas estão trabalhando de forma orquestrada, coordenada e financiada. Está muito perto de se chegar aí.
- O sr. não tem informação de que há membros do governo infiltrados?
- Se tem uma pessoa que trabalha distante do que a polícia faz, sou eu. Agora quando chega ao meu conhecimento, através de relatórios, eu tomo providências. E a decisão às vezes ela é dura, como foi essa de sábado, como foi essa de domingo. Como foi essa de hoje [terça, 16].
- O que o sr. vai fazer no próximo final de semana? Não sei se há algum aviso de que haverá manifestações.
- Olha, se tiver aviso, e as manifestações ocorrerem como vinham ocorrendo, com pequenos focos de inconstitucionalidade, elas poderão acontecer. Se tiver um forte indício de que não serão manifestações democráticas, a Esplanada ficará fechada.
- O sr. falou com o presidente sobre esse assunto?
- Eu tenho muito pouco contato com o presidente. Eu gosto do jeito dele, acho que ele tem condições de fazer um belíssimo trabalho, mas tenho pouco contato com o presidente.
- O sr. acha que o ministro Weintraub precisa sair do governo?
- Eu, há 15 dias, avisei ao ministro Jorge de Oliveira que a melhor maneira de pacificar os Poderes seria exonerar o Weintraub. Após a fala dele naquela reunião, eu olhei aquele vídeo várias vezes. Os demais ministros que estavam ali podem até ter falado besteira.
- Não só pelos palavrões?
- Os palavrões acontecem. O único que agiu para mim de forma a caracterizar um crime foi o Weintraub. Eu deixei bem claro. Se não chegou é porque não quiseram passar, mas eu deixei bem claro. Olha, se quiser pacificar, pensar em algum tipo de caminho, seria demitir o Weintraub, e olha o seguinte, ele já vai muito tarde, se for. Porque não está fazendo nada pela educação.
*”Após identificar ameaça a bispo católico, Governo do DF volta a fechar Esplanada”*
*”Ação da PF aumenta pressão de filhos de Bolsonaro para manter Weintraub”* - A operação da Polícia Federal contra alvos ligados ao bolsonarismo fez aumentar a pressão dos filhos do presidente Jair Bolsonaro em favor da manutenção de Abraham Weintraub na pasta da Educação. Weintraub é um expoente da dita ala ideológica do governo, que professa no discurso a ideia de uma revolução política de destruição da política tradicional. Ele e o chanceler Ernesto Araújo são os principais ministros associados ao grupo, que é liderado pelos filhos do presidente, especialmente o vereador carioca Carlos (Republicanos) e o deputado federal paulista Eduardo (PSL), e emula ideias do escritor Olavo de Carvalho, hoje crítico do governo. O ministro da Educação ficou por um fio no cargo após virar alvo do STF (Supremo Tribunal Federal) no inquérito tocado pela corte que apura a disseminação de fake news. Na reunião ministerial de 22 de abril, Weintraub havia dito que os ministros do tribunal eram "vagabundos" que deveriam ir para a cadeia. O episódio só fez crescer o embate entre Bolsonaro e o Judiciário. No domingo (14), Weintraub participou de um ato pedindo o fechamento do Supremo e do Congresso, na manhã seguinte ao ataque com fogos de artifício ao prédio da corte por militantes bolsonaristas. O ministro Dias Toffoli, presidente do STF, fez chegar ao Planalto extrema contrariedade e a ideia de que o diálogo se tornaria impossível entre os Poderes.
A cabeça do ministro, que já havia sido prometida havia duas semanas como forma de apaziguar as relações pelo Planalto, voltou a ser colocada na guilhotina. Bolsonaro e Weintraub conversaram na tarde de segunda (15), e o presidente disse à noite que estava tentando resolver o "problema" —um discurso ambíguo que convence a poucos. O ponto é que Weintraub virou um talismã dos radicais bolsonaristas, apesar dos inúmeros problemas de sua gestão à frente do MEC e do fato de que teve de ceder ao centrão uma série de cargos com enormes verbas na pasta no processo de "seguro contra impeachment" que Bolsonaro está operando. Com isso, a operação contra pessoas como o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos nesta manhã de terça (16) inflou o discurso da ala ideológica de não ceder simbolicamente ao Supremo —ainda que ela tenha sido pedida pela Procuradoria-Geral da República. O papel da PGR era alvo de especulação entre governistas, dada a proximidade do governo de seu chefe, Augusto Aras. Para bolsonaristas, importava mais o fato de que a ação havia sido autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, um dos alvos preferenciais do bolsonarismo. Eduardo repostou, no Twitter, mensagem de apoio a Weintraub feita pelo deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), um dos alvos da PF hoje.
Integrantes da ala militar do governo e outros ministros aconselharam Bolsonaro a se livrar de Weintraub para arrefecer a beligerância na praça dos Três Poderes. Ouviram ponderações favoráveis a isso na segunda, mas nesta terça o clima mudou. Pesa em favor do ministro da Educação o apreço pessoal de Bolsonaro por ele. Na noite passada, a discussão era onde acomodá-lo sem parecer que seria uma afronta ao Supremo —até embaixadas foram cogitadas. O caso seguia inconcluso até a noite desta terça, mas a balança por ora foi reequilibrada em favor do ministro pelo que os ideológicos chamam de cerco judicial ao Planalto, um raciocínio que encontra eco entre os ministros oriundos das Forças Armadas e em alguns setores da ativa. Por outro lado, o sentimento majoritário no serviço ativo é o de que Bolsonaro esticou demais a corda. Incomodou-os especialmente a nota divulgada na sexta (12), na qual o presidente, o vice Hamilton Mourão e o ministro Fernando Azevedo (Defesa) falaram em nome das Forças Armadas de forma ameaçadora. Disseram que elas não aceitariam ordens absurdas (do Supremo, no caso, pois a nota foi posterior a decisão de Luiz Fux dizendo que os militares não são poder moderador) e julgamentos políticos (aludindo à ação de cassação da chapa Bolsonaro-Mourão na Justiça Eleitoral), algo fora do regramento constitucional. O Supremo, por sua vez, abriu um canal institucional com a ativa, na figura de uma visita de cortesia do ministro Gilmar Mendes ao comandante do Exército, Edson Pujol, que está distante do Planalto.
+++ Weintraub é um talismã para o “bolsonarismo radical”, diz a reportagem. Difícil enxergar um símbolo maior da distorção da realidade.
*”STF forma maioria para manter Weintraub em inquérito das fake news”*
RAUL JUNGMANN - *”Quem fala pelas Forças Armadas é a Constituição”*
*”Juiz arquiva inquérito da facada, mas diz que caso pode ser reaberto se houver novos elementos”*
ELIO GASPARI - *”Governo atira para todos os lados, mas não vai a lugar algum”*
*”Em recado a Bolsonaro, Congresso vai retomar votação de vetos presidenciais”* - Após embates de Jair Bolsonaro com os Poderes Judiciário e Legislativo, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), marcou para esta quarta-feira (17) a retomada das sessões do Congresso, mesmo que de forma remota, para a votação de vetos presidenciais. Depois de duas semanas de espera, e com a MP 936 com votação prevista ainda para esta terça-feira (16), Alcolumbre avisou que a sessão para apreciar os vetos do presidente será realizada na quarta. A sessão será feita de forma virtual. Na fila, há 26 vetos de Bolsonaro à espera de apreciação do Congresso —e pelo menos 20 devem ser apreciados nesta quarta. Entre os mais polêmicos está o que prevê reajustes aos servidores públicos, congelados até o fim de 2021 em contrapartida ao apoio a estados e municípios durante a pandemia da Covid-19. Apesar de ter feito o papel de apaziguador em momentos de maior estridência do embate com o Executivo, Alcolumbre está sendo pressionado pelos parlamentares a tomar decisões mais duras contra Bolsonaro. Para que um veto seja derrubado pelo Congresso, são necessários, no mínimo, 257 votos de deputados (de um total de 513) e 41 de senadores (de um total de 81).
“O Davi tomou a decisão de tentar contornar a crise, mas ele não pode ficar agindo em defesa apenas. Ele precisa, dentro do possível, colocar matérias polêmicas em votação e o veto é uma delas”, disse o líder do PSD, senador Otto Alencar (BA). Diante da insatisfação de parlamentares, Alcolumbre procurou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a fim de articular a retomada das sessões do Congresso. Parlamentares acreditam que a ação conjunta de Alcolumbre e Maia deva servir como uma espécie de recado a Bolsonaro. O presidente chegou a participar de atos em que os manifestantes gritavam "Supremo é o povo" e "Abaixo a ditadura do STF". No último dia 31 congressistas foram chamados de corruptos. "O melhor recado para uma tentativa frustrada de ditador são as instituições democráticas funcionarem. A gente tem de fazer o que tem de ser feito. Vamos fazer a instituições funcionaram. Não tem recado melhor de ser dado”, disse o líder da Rede no Senado, Randolfe Rodrigues (AP). O reajuste dos servidores, um dos vetos a ser analisado, foi aprovado na Câmara dentro do projeto que destinou ajuda financeira aos estados e municípios para o combate à pandemia causada pelo novo coronavírus. Ele foi arquitetado por líderes governistas, que se uniram a parlamentares da oposição e do centrão para afrouxar a regra da equipe econômica. O reajuste foi chancelado pelo Senado, mas vetado por Bolsonaro. O ministro da Economia, Paulo Guedes, defendia a suspensão dos reajustes a servidores até o fim de 2021 como forma de que esses trabalhadores também sejam afetados pela crise econômica causada pelo coronavírus. Além disso, ficou vedado ampliar despesas obrigatórias, como aumentar o quadro de funcionários públicos.
A medida de ajuste fiscal foi uma contrapartida para a ajuda a governadores e prefeitos na pandemia. Com isso, o valor das transferências diretas a governadores e prefeitos ficou em R$ 60 bilhões, a serem pagos em quatro parcelas que saem direto do caixa do Tesouro e vão para o caixa dos governos regionais. Outro veto que os parlamentares querem colocar em votação é o que prevê a liberação de R$ 8,6 bilhões para estados, Distrito Federal e municípios comprarem equipamentos e materiais de combate ao novo coronavírus. O dinheiro estava em um fundo gerido pelo Banco Central e que foi extinto por meio de uma medida provisória. O fim do fundo foi pedido pela equipe de Guedes, que queria usar os recursos para reduzir a dívida pública. O Congresso mudou o destino do dinheiro para o enfrentamento da pandemia, mas Bolsonaro vetou. “O presidente da República, mais uma vez, mostra falta de sensibilidade para o atendimento e o combate a esse vírus no nosso país”, criticou a líder do Cidadania no Senado, Eliziane Gama (MA). No Senado, outro veto que ganha força para ser derrubado é o reduziu as categorias beneficiadas pelo auxílio emergencial de R$ 600. Motoristas de aplicativos, pescadores, diaristas e ambulantes de praia estão entre as categorias que ficaram sem o recurso no período da pandemia. Apesar da mobilização, o líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), diz acreditar que o governo vá conseguir manter o veto. “Não podemos sofrer por antecipação. O histórico do governo é de ganhar muito mais do que perder.”
+++ A reportagem mostra que o governo está pressionado pelo Legislativo e o noticiário já mostrou que há também pressão do Judiciário. Por outro lado, Jair Bolsonaro, nesse momento, parece tentar diminuir a temperatura.
*”Cientistas e médicos recomendam ao Congresso que eleições sejam adiadas”*
*”'Lula faz parte dos 70%, queira ele ou não', afirma coordenador de grupo pela democracia”* - Representantes dos movimentos pela democracia que surgiram nas últimas semanas defenderam movimentos plurais e diversos para garantir engajamento da população. Eles se reuniram nesta terça-feira (16) no Ao Vivo em Casa, série de transmissões que a Folha está promovendo durante a pandemia. O debate teve mediação da jornalista Camila Mattoso, editora do Painel. O advogado Pierpaolo Bottini, do Basta!, o economista Eduardo Moreira, do Somos 70%, e Alê Youssef, do Estamos Juntos, foram os entrevistados. Os três concordam que a prioridade dos movimentos é estabelecer um denominador comum que englobe os defensores da democracia, independentemente da coloração política. O esforço dos coordenadores não evitou críticas e polêmicas, nas últimas semanas, sobre eventuais signatários. Em uma delas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que não tem mais idade "para ser maria vai com as outras". "Eu, sinceramente, não tenho condições de assinar determinados documentos com determinadas pessoas", afirmou em reunião do PT do dia 1º de junho. Sobre isso, Eduardo Moreira, do Somos 70%, disse: "O Lula faz parte dos 70%, queira ele ou não queira". O economista não vê o grupo como um movimento, e sim como uma constatação matemática —por isso, nem sequer tem um manifesto. Ele chegou ao nome observando pesquisas de opinião. Segundo o Datafolha, 67% acham o governo péssimo, ruim e regular. A porcentagem se repete entre aqueles que rejeitam a aproximação com o centrão e até aumenta quando se fala em armar a população: 72% discordam de frase de Bolsonaro sobre o assunto. "Eu tenho um ótimo relacionamento com o presidente [Lula] e entendo o momento que ele passa. No final das contas, é uma negociação. (...) Ignorar uma fala dessa do Lula, eu acho besteira, mas condicionar a existência de um movimento desse à existência do Lula, eu também acho besteira", afirmou Moreira. "Ele fala com legitimidade pelas camadas mais baixas da população brasileira."
Já o advogado Pierpaolo Bottini, do Basta!, ponderou as críticas que o ex-presidente teceu. "Não assinar, ok, mas criticar essa movimentação da sociedade civil?", afirmou. Bottini representou o movimento que teve início com uma reunião de amigos advogados em meio a um dos confrontos de Bolsonaro com o STF. Em poucos dias, o manifesto tinha 700 assinaturas. Hoje, já conta com a assinatura, por exemplo, de um dos autores do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. "A gente briga politicamente e ideologicamente dentro de uma arena, mas não queremos perder essa arena. Então a gente vai se juntar para, pelo menos, preservar esse local onde a gente possa fazer a nossa discussão democrática", afirmou.
Alê Youssef, do Estamos Juntos, discorreu no mesmo sentido. "Todos podem assinar o nosso manifesto, sem exceção, desde que concordem com aquilo que a gente está defendendo. O nosso limite é a Constituição", disse, sobre uma eventual assinatura do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Sergio Moro. Seu eventual apoio também foi alvo de polêmicas nas últimas semanas. "Se A ou B de grandes nomes da política assinarem, eles serão signatários, eles não serão líderes. Não serão condutores de movimento algum", afirmou. "A gente tem que ter a compreensão de que a luta pela democracia não vai se dar com uma frente ampla que seja só de um partido ou da esquerda. A gente precisa de muito mais amplitude", afirma. "Obviamente, nós estamos em luta contra a desigualdade social e pela inclusão social. Para resolver a nossa maior vergonha nacional que é a desigualdade social, tão imposta nesse momento."
+++ Novamente, Eduardo Moreira faz uma boa defesa do posicionamento apresentado pelo ex-presidente Lula.
CONRADO HÜBNER MENDES - *”É esse STF que deixa milicos tão irritadiços?”*
*”Vice de Witzel já planeja governo pós-impeachment alinhado com deputados”*
*”Juiz do RS determina censura prévia de reportagem sobre auxílio emergencial da Covid-19”* - Uma reportagem sobre o pagamento irregular do auxílio emergencial durante a epidemia da Covid-19 sofreu censura prévia por decisão da Justiça na segunda-feira (15). A veiculação estava programada para esta terça-feira (16) pela RBS TV, afiliada da Globo no Rio Grande do Sul. O juiz Daniel da Silva Luz, da comarca de Espumoso, a 214 km de Porto Alegre, no noroeste gaúcho, concedeu liminar após ação judicial de pessoa suspeita de recebimento irregular do benefício e que não teve sua identidade revelada. A censura é para impedir a vinculação da autora do processo à reportagem. O juiz determinou multa de R$ 50 mil em caso de descumprimento da decisão. O processo está sob segredo de Justiça, impedindo a consulta pública pelo sistema digital. “É lamentável que, mais de 30 anos depois de a Constituição ter banido a censura prévia no Brasil, persistam decisões judiciais nesta linha. Decisões do gênero não são apenas frontalmente contra a Constituição. Desde o surgimento da internet, se tornaram também inócua”, disse à Folha Marcelo Rech, vice-presidente Editorial e Institucional do Grupo RBS. Segundo Rech, a proibição aumentou a curiosidade sobre o caso, que agora circula em grupos de redes sociais.
Procurado, o magistrado informou que o "processo tramita em segredo de Justiça e não concederá entrevista sobre este caso". A RBS entrará com um recurso para tentar reverter a decisão. “Entendemos, porém, que, embora lamentável, esta se trata de uma decisão isolada, que não caracteriza o momento geral do Judiciário, um Poder que tem se mostrado amplamente a favor do Estado de Direito e da liberdade de expressão no Brasil”, disse Rech. Entidades que representam órgãos de imprensa emitiram uma nota conjunta de repúdio. “A decisão judicial privilegia o interesse individual em detrimento ao direito da coletividade. As matérias jornalísticas podem e devem colaborar na apuração e identificação de eventuais crimes, e são serviço indispensável à população”, diz a nota assinada pela Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), a Aner (Associação Nacional de Editores de Revistas e a ANJ (Associação Nacional de Jornais).
*”China e Índia trocam acusações após pior conflito em 53 anos matar dezenas”*
*”Coreia do Norte explode escritório diplomático que mantinha com Coreia do Sul”*
*”Trump assina decreto para estimular mudanças na polícia, mas resposta é considerada fraca”*
*”Com novos casos, Pequim fecha jardins de infância, escolas primárias e de ensino médio”*
*”Nova Zelândia volta a registrar casos de Covid-19 após 25 dias livre da doença”*
*”Parlamento da Hungria retira poderes especiais dados a Orbán para combater pandemia”*
*”26 milhões não procuraram emprego durante a pandemia apesar de quererem trabalhar”* - O Brasil tem 25,6 milhões de pessoas que gostariam de estar trabalhando, mas não procuraram emprego no mês de maio, durante a pandemia do novo coronavírus no país, informou nesta terça-feira (16) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Desse total, 17,7 milhões afirmaram não ter procurado ocupação ou por causa da pandemia ou por não ter trabalho na localidade em que moram —o que também pode estar ligado à Covid-19. Essa é a primeira edição de uma pesquisa extraordinária realizada pelo IBGE, chamada de Pnad Covid19, para medir os efeitos da doença sobre a população e sobre o mercado de trabalho. Ela não é comparável, porém, com a Pnad Contínua, que mede o desemprego no país. A pesquisa identificou também que a pandemia afastou 14,6 milhões de pessoas do trabalho. Segundo o IBGE, a motivação do afastamento foram questões relacionadas à Covid-19, como estar em quarentena, isolamento, distanciamento social ou férias coletivas. Esse número sofreu queda ao longo de maio: eram 16,5 milhões no início do mês.
Outras 10,9 milhões de pessoas estavam desempregadas no período, o que significa que procuraram, mas não encontraram ocupação. Assim, no total, cerca de 28,6 milhões de pessoas tiveram acesso restrito ao mercado de trabalho durante o mês de maio. De acordo com a pesquisa, o contingente de desocupados também aumentou, indo de 9,8 milhões de pessoas na primeira semana para 10,8 milhões no fim do mês. Já 8,8 milhões de brasileiros trabalham de forma remota durante a pandemia. No fim de maio, o IBGE já havia divulgado na Pnad Contínua que a pandemia do novo coronavírus contribuiu para que 4,9 milhões de posto de trabalho fossem perdidos no Brasil no trimestre encerrado em abril, um recorde na série histórica. Desse total, 3,7 milhões postos de trabalho informais foram perdidos. Segundo a Pnad Covid divulgada nesta terça, o contingente de informais caiu ao longo do mês, indo de 35,7% na primeira semana do mês para 34,5% na última, com redução de 870 mil postos informais no período.
Segundo Cimar Azeredo, diretor de pesquisas do IBGE, a informalidade funciona como um amortecedor para as pessoas que vão para o desemprego ou para a subutilização. "O trabalho informal seria uma forma de resgate do emprego, portanto não podemos dizer que essa queda é positiva”, afirmou Azeredo. De acordo com o IBGE, como a pesquisa é inédita, é necessário aguardar os próximos resultados para avaliar com mais precisão o impacto da pandemia entre os informais. Outros dois indicadores divulgados pelo IBGE em junho mostram os impactos da pandemia na economia brasileira. A indústria teve queda de 18,8% na comparação com março, e 27,2% se analisado o mesmo período do ano passado. Já o comércio recuou 16,8% nos dois níveis de análise. Os números, tanto no setor industrial quanto no varejo, são recordes negativos. Um dos setores que mais sentiu o distanciamento social foi o da indústria têxtil, com queda de 28,5% na produção industrial e 60,6% do comércio de vestuário, tecidos e calçados. Segundo Fernando Pimentel, presidente da ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), mais da metade das empresas do setor demitiram durante a pandemia. Segundo ele, se não fosse a MP (Medida Provisória) 936, que autoriza o corte de salários e jornadas de trabalhadores, o número de demissões teria sido bem maior. Cerca de 10 milhões de brasileiros tiveram o contrato de trabalho afetado pela medida. "A economia despencou. Se não tivessem essas medidas, mais empregos teriam sido perdidos. A redução de quadros foi de até 20% do contingente e englobou cerca de 60% das empresas", disse Pimentel. ​
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, apontou que a flexibilização nas medidas restritivas, que vem ocorrendo em alguns estados neste mês de junho, vai ajudar a economia a se recuperar e novos postos de trabalho surgirem. "Hoje, consigo enxergar uma recuperação. A economia vai reabrir de maneira gradativa e vamos sentindo com mais intensidade em junho e assim por diante", apontou o economista, fazendo ressalvas que a melhora vai depender também da evolução da pandemia, já que novas medidas restritivas podem frear a retomada. Para Otto Nogami, economista do Insper, o que chama a atenção é a quantidade de pessoas fora da força de trabalho, que chega a 74,6 milhões. Segundo ele, o número é preocupante e uma contribuição da pandemia. O processo de recuperação não será rápido. "Na medida que pequenos negócios encerram atividades, você começa a ter um impacto na estatística geral. O agregado de perdas de mercado é gigante, as micro e pequenas empresas representam a base da pirâmide, e ela está sendo desmontada", disse o economista. A Pnad Covid foi divulgada pela primeira vez pelo IBGE, em parceria com o Ministério da Saúde, e mobilizou dois mil agentes, que vão ligar a 193,6 mil domicílios em 3.364 cidades em todo o país. O primeiro caso conhecido de Covid-19 ocorreu em 25 de fevereiro. No mês seguinte, março, o país começou a sentir os efeitos econômicos do novo coronavírus, com fechamento de bares, restaurantes e comércio como forma de evitar avanço da pandemia.
+++ Como sempre, apenas analistas ligados ao mercado financeiro comentam o rumo da economia. Vale ressaltar que um dos ouvidos afirmou ao jornal que a flexibilização do isolamento é algo positivo.
PAINEL S.A. - *”Retomada do futebol pode estancar assinantes perdidos pela TV paga”*
*”Justiça do Trabalho suspende demissões feitas pela Fogo de Chão no Rio”*
*”Bancários protestam contra demissões e aumento de metas no Santander”*
*”Senado dá aval para governo ampliar suspensão do contrato e redução de jornada e salário”* - Os senadores aprovaram nesta terça-feira (16) a MP (Medida Provisória) da redução de jornada, corte de salário e suspensão de contratos de trabalho. O texto permite que o governo prorrogue a vigência da medida até o fim do ano, enquanto durar a vigência do estado de calamidade pública causado pela pandemia do novo coronavírus. O texto foi aprovado com 75 votos favoráveis e nenhum contrário. Por acordo, os senadores retiraram todos os destaques que haviam sido encaminhados à medida. Finalizada a votação no Senado, a MP será agora encaminhada para sanção do presidente da República Jair Bolsonaro. O corte na jornada é acompanhado de uma diminuição proporcional de salário, que pode ser de 25%, 50% ou 70%. A medida vale por até três meses. Já a suspensão de contrato tinha vigência de dois meses. Agora, o governo de Jair Bolsonaro prepara um decreto para ampliar o prazo de suspensão de contrato e redução de salário e de jornada de trabalhadores, medida adotada para tentar conter demissões durante a crise econômica causada pela pandemia do novo coronavírus. A proposta do Ministério da Economia prevê que o prazo máximo para a suspensão integral de contratos seja ampliado dos atuais dois meses para quatro meses. Já a redução proporcional de salário e jornada passaria de três meses para até quatro meses. Pela proposta da equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, é possível combinar períodos de suspensão do contrato com redução de jornada, mas ainda está em discussão o prazo máximo que o trabalhador poderá ser submetido a essas medidas.
Hoje, o teto é de 90 dias —o empregador pode, por exemplo, suspender o contrato por 60 dias e, em seguida, reduzir a jornada por mais 30 dias. Pelas contas da equipe econômica, o programa de proteção ao emprego deveria alcançar 24,5 milhões de trabalhadores com carteira assinada, mais de 70% de todos os empregados formais do país. Após dois meses e meio de vigência do programa, as adesões estão bem abaixo do estimado, em cerca de 11 milhões de trabalhadores afetados. O custo total do programa aos cofres públicos é projetado em R$ 51,2 bilhões. Além disso, estima-se que 1 milhão de empregados que tiveram o contrato suspenso estão voltando ao trabalho em setores que ainda não puderam reabrir, como bares e restaurantes. Por isso, existe a pressão para a prorrogação da medida. O relatório votado pelo Senado foi construído por Vanderlan Cardoso (PSD-GO), que analisou 80 emendas no Senado. Segundo o relator, estimativas da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho apontam que, sem a adoção dessas medidas, cerca de 12 milhões de brasileiros poderiam perder seus empregos. Destes, 9,3 milhões recorreriam ao seguro desemprego e os outros 3,5 milhões buscariam benefícios assistenciais para sobreviver. “Não há como negar que, apesar do custo financeiro das medidas adotadas, elas são imprescindíveis para assistir os trabalhadores, bem como auxiliar empregadores a manterem os empregos. Sem elas os prejuízos sociais seriam incalculáveis”, disse o relator.
O texto colocado em votação no Senado foi o mesmo que saiu da Câmara, apenas com alterações de redação feitas pelo relator, a fim de que o texto não precisasse retornar para a Câmara. Dois artigos inteiros, contudo, foram impugnados pelos senadores. No texto que havia sido aprovado na Câmara, os deputados alteraram o índice de correção de dívidas trabalhistas, e inseriram na CLT um dispositivo que aumentava o valor da gratificação de função do bancário, incluindo na lei trecho que já era contemplado por convenção coletiva. A intenção era que bancários pudessem continuar recebendo sete salários de gratificação de função, anualmente, sem qualquer alteração na jornada de trabalho, segundo a justificativa do destaque. O trecho trouxe polêmicas, sobretudo pela alteração na CLT. Sob receio de judicialização, os senadores conseguiram a impugnação de todo o artigo que trata deste trecho. A impugnação, por retirar do texto o trecho na íntegra, não faz a medida retornar para a Câmara. "Se aprovarmos com essa medida, estaríamos abrindo margem para um precedente grave", disse a líder do Cidadania, Eliziane Gama (MA), autora do requerimento que pediu a impugnação. No mesmo artigo impugnado, estava incluído também um trecho que realizava a atualização de débito judicial trabalhista.
Até então, a atualização era feita pela TR, mas a maioria das decisões do TST (Tribunal Superior de Trabalho) e dos TRTs (Tribunais Regionais de Trabalho) tomava como base o IPCA-E, índice inflacionário, além de juro de 1% ao mês, segundo o autor da emenda aprovada na Câmara, deputado Christino Áureo (PP-RJ). Pelo texto que saiu da Câmara, a correção seria feita pelo IPCA-E mais a remuneração adicional da poupança, que é de 70% da Selic (hoje em 3% ao ano). No Senado, o relator fez uma mudança de redação, deixando claro no texto que a correção pela inflação e de juros sobre o valor a ser recebido pelo trabalhador numa ação judicial começaria a partir do momento em que a pessoa teria direito ao montante. Mesmo com a mudança de redação, o trecho foi suprimido pelos senadores. Outra medida retirada pelos senadores por meio de impugnação foi o artigo que trazia a possibilidade de renegociação de empréstimo consignado (descontado direto do contracheque) por funcionários que tiveram a jornada e salário reduzidos, o contrato suspenso ou contraírem o novo coronavírus. Eles poderiam renegociar o crédito e diminuir as prestações na mesma proporção do corte salarial. Também teriam carência de 90 dias para pagar. O autor do requerimento de impugnação, senador Weverton Rocha (PDT-MA), alegou que a medida geraria mais dívidas aos trabalhadores durante a negociação. "Essa medida vai salvaguardar os trabalhadores brasileiros", disse o senador.
Na sequência da votação, os senadores apreciaram o texto sem os dois artigos retirados na íntegra, mantendo as demais decisões dos deputados, que incluíram também na MP a possibilidade de prorrogação do dispositivo por decreto enquanto durar o estado de calamidade pública, que se encerra em 31 de dezembro. Por acordo individual, o empregador pode fazer cortes de jornadas e salários em 25%, 50% ou 70%, a depender da faixa de renda do trabalhador. Nos acordos coletivos, é permitida redução em qualquer percentual. Trabalhadores afetados pela medida têm direito a uma estabilidade provisória no emprego pelo período equivalente ao da redução do corte de salarial. Se a empresa decidir demiti-lo sem cumprir a carência, precisa pagar uma indenização maior. De acordo com a MP, as negociações para a redução de jornada e salário podem ser feitas com trabalhadores que ganham piso salarial de R$ 2.090 e trabalhem em empresas com receita superior a R$ 4,8 milhões. Se o faturamento da companhia for menor que isso, o piso é para a redução de R$ 3.135. O texto permite, no entanto, acordo individual para trabalhadores que ganham entre o piso (R$ 2.090 ou R$ 3.135) e R$ 12,2 mil se a redução proporcional de jornada e salário for de 25%, limitando o poder dos sindicatos.
O governo paga aos trabalhadores com redução de jornada e salário uma proporção do valor do seguro-desemprego. A compensação é de 25%, 50% ou 70% do seguro-desemprego, que varia de R$ 1.045 a R$ 1.813,03. No caso da suspensão de contrato, o empregado recebe valor integral do seguro-desemprego. O setor empresarial conseguiu manter a garantia de prorrogação da reoneração da folha de pagamento a 17 setores até 31 de dezembro de 2021. Os setores beneficiados teriam o fim da reoneração em 31 de dezembro deste ano. O Ministério da Economia é contrário. Segundo a pasta, essa medida representará uma renúncia fiscal de R$ 10,2 bilhões —dinheiro que deixa de entrar nos cofres públicos. Pela MP, o trabalhador afetado por corte de jornada ou suspensão de contrato recebe um auxílio do governo para amenizar a queda na renda da família. O projeto prevê um auxílio de R$ 600 pago durante três meses a trabalhadores intermitentes. Os sindicatos ainda tentam aumentar o período para 120 dias. De acordo com a MP, o salário-maternidade deverá considerar a remuneração integral. A manutenção do emprego prevista pela MP contaria a partir do término do período de estabilidade da mãe previsto no ato das disposições constitucionais transitórias.
+++ O governo apresentou ao país duas possibilidades: Trabalhar e conviver com a pandemia ou parar a economia e quebrar o país. Ao provocar o conflito, o governo federal conseguiu multiplicar o número de mortos e aumentar o problema econômico
*”Câmara aprova MP que reduz contribuições de empresas ao Sistema S”*
*”Abril foi o fundo do poço para o comércio no Brasil, dizem economistas”*
*”Comércio despenca 16,8% e sofre pior queda em 20 anos com distanciamento social no Brasil”*
*”Vendas no varejo nos EUA crescem 18% em maio após reabertura”*
ANÁLISE - *”Depressão do setor varejista vai continuar, no Brasil e nos Estados Unidos”*
*”Vejo um futuro brilhante porque é muito difícil a gente piorar, diz Guedes sobre recuperação econômica”* - O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou, nesta terça-feira (16), que os embates entre os poderes são o "ruído de uma democracia vibrante". "Eu não compartilho do pessimismo de quem olha para isso e teme o caos, acha que o Brasil vai se incendiar a qualquer momento, o meu acompanhamento da história brasileira é outro, meu acompanhamento é que a democracia está cada vez mais robusta e mais flexível", disse em evento virtual do IGP (Instituto de Garantias Penais). "Ela [a democracia] tinha viajado todo espectro para esquerda até a extrema-esquerda, agora viajou pelo espectro da centro-direita e está indo até a direita mais extrema. Tem a capacidade de absorver os choques, os ruídos são naturais", completou. O governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é marcado por embates com os poderes Legislativo e Judiciário, que se agravaram após o início da pandemia do novo coronavírus. "Eu prefiro o ruído da democracia ao silêncio de uma ditadura. Você não sabe o que está acontecendo hoje na Coreia do Norte, quantas vítimas do coronavírus tem lá", argumentou.
No Brasil, a divulgação de dados sobre a evolução da Covid-19 é alvo de desconfiança. O governo ameaçou sonegar dados, atrasou boletins, retirou informações do ar, deixou de divulgar os números totais de casos e mortes e divulgou informações conflitantes. No evento, o ministro elogiou a atuação do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli e criticou a atuação dos tribunais de conta estaduais. “TCEs aprovam contas sem usar os mesmos critérios que o TCU [Tribunal de Contas da União] usa para a União”, condenou. Além disso, ele reforçou a importância da continuidade da agenda de reformas econômicas. "O Brasil vai surpreender e atravessar as duas [ondas], o congresso está conversando e vamos prosseguir com as reformas", declarou. Guedes defendeu ainda a reforma tributária e a aprovação do pacto federativo. “Se fizermos a reforma tributária de forma adequada, vão desaparecendo aqueles lobbies pela desoneração de um lado e aqueles contenciosos, que podem chegar a R$ 1 trilhão, do outro lado, que na verdade oneram o verdadeiro pagador de impostos”, destacou. Em seu ponto de vista, o modelo tributário atual onera excessivamente apenas um terço dos contribuintes.
“O contribuinte acaba tendo que pagar muito mais porque um terço está desonerado [por influência política] e o outro terço não paga porque prefere ir para a Justiça, fica só aquele um terço final de bons pagadores e pessoas sérias que acabam se sacrificando pagando impostos exorbitantes para não ter também os serviços de contrapartida”, ponderou. Ele defendeu o que chamou de “passaporte tributário”, em que o contribuinte pagaria um valor mais baixo para quitar seus débitos fiscais. “Eu deixo você entrar nesse regime novo mediante um pequeno acerto de contas do passado [...] temos que oferecer uma chance a quem quiser comprar esse passaporte a um preço moderado, baixo”, explicou. Segundo ele, a retomada econômica após a crise deve começar até novembro. “Vejo um futuro brilhante porque é muito difícil a gente piorar, nosso viés cultural já nos botou num buraco, então nós vamos ter que melhorar”, concluiu.
+++ Diante do caos gerado pelo governo do qual faz parte, Paulo Guedes sorri. Triste para os brasileiros que sofrem.
*”Avanço da pandemia expõe falta de planos e previsões falhas da equipe de Guedes”* - Era 11 de março. A OMS (Organização Mundial da Saúde) declarava a pandemia do novo coronavírus. O ministro Paulo Guedes (Economia), que acabara de anunciar uma previsão de alta de 2,1% do PIB (Produto Interno Bruto) no ano, pediu uma reunião de emergência na Câmara e deixou líderes decepcionados, com a percepção de que o governo não estava dimensionando corretamente os efeitos da crise. Era o reflexo do otimismo resistente da equipe do ministro. O primeiro caso confirmado de Covid-19 no Brasil foi em 26 de fevereiro. Na época, integrantes do time de Guedes chegaram a cogitar um impacto mínimo na economia. No Brasil, o calor diminui a propagação do vírus, diziam eles, tentando afastar o cenário de medidas de isolamento que ganhavam força na Europa e já haviam sido adotadas na Ásia. Na última semana, o Brasil ultrapassou a marca de 40 mil mortos e cerca de 830 mil casos confirmados. Para a economia, a projeção oficial mais recente é um tombo de 4,7% no ano. A queda ainda é considerada eufórica fora do governo. Economistas e organismos internacionais já veem um recuo de mais de 7%. "O processo da crise é muito dinâmico e requer revisões mais frequentes de projeções macroeconômicas e fiscais. O número de [queda de] 4,7% do governo me parece ainda otimista", disse o diretor-executivo da IFI (Instituição Fiscal Independente, órgão ligado ao Senado), Felipe Salto. Integrantes do governo reconhecem terem sido surpreendido pelos efeitos da pandemia, apesar dos sinais devastadores do coronavírus em outros países antes da chegada do vírus no Brasil. As medidas sanitárias e uma campanha contra a transmissão vieram primeiro, enquanto a equipe econômica subestimava a força da crise. Guedes chegou a declarar que, com R$ 5 bilhões, o vírus seria aniquilado. O governo, até hoje, continua injetando bilhões de reais na saúde pública. As primeiras ações no campo da economia surgiram em 14 de março após o reconhecimento da situação de pandemia e cobranças do Congresso por iniciativas.
Porém, a linha adotada ainda estava com viés maior nos empresários e trabalhadores formais. Uma exceção foi a ampliação de verba para o Bolsa Família passar a atender pessoas que estavam na fila de espera, renascida na atual gestão. Foram quase dez dias entre o primeiro caso confirmado e a primeira reunião do grupo emergencial de acompanhamento dos efeitos da Covid-19 na economia. Esse mesmo período foi usado para o primeiro desenho da distribuição do auxílio emergencial —a operação mais complexa. O governo era pressionado a lançar logo um plano de ajuda a profissionais autônomos, informais, microempreendedores individuais e desempregados. Mas não sabia, diante do prazo restrito, como encontrar ou cadastrar essas pessoas, nem como pagar. Isso exige tempo, o que já havia minguado. O benefício só foi sancionado em 1º de abril e começou a ser pago no dia 9 do mesmo mês. Novamente o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) recebeu críticas. A demora na liberação do dinheiro criou até uma campanha —#pagalogo— nas redes sociais, principal plataforma usada na campanha presidencial. O time de Guedes temia descumprir regras fiscais. O valor do auxílio foi outra discussão. Inicialmente, Guedes propôs R$ 200. Depois, Bolsonaro declarou que o benefício subiu para R$ 600 após estudos do governo. O relator da proposta na Câmara, deputado Marcelo Aro (PP-MG), diverge dessa versão. "Somente quando viram que o projeto [prevendo valor maior que R$ 200 de auxílio] seria aprovado, mesmo com os votos do governo contrários, o governo sugeriu um acordo", disse Aro.
No início de maio, quando o número de mortes por Covid-19 ultrapassou marca de 10 mil no Brasil, o governo cortou a previsão oficial para o PIB, de uma estabilidade de 0,02% para recuo de 4,7%. Poucos dias depois, o presidente Bolsonaro considerou Guedes ainda otimista nas análises. "A desgraça que vem pela frente, eu acho que o Paulo Guedes tá sendo até legal, hein, Paulo Guedes? Eu não sou economista, não. Vai ser uma porrada muito maior do que você possa imaginar. Não são apenas os informais. Eu acho que já bateu a 10 milhões de carteira assinada, foi pro saco", disse o mandatário na reunião de 22 de abril, que teve o conteúdo liberado pela Justiça. O Banco Mundial anunciou, em junho, que projeta uma queda de 8% no PIB do Brasil neste ano. A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) estima um recuo de 7,4% na economia brasileira. O governo, por enquanto, considera esses números exagerados. Até o início de março, a previsão do governo era de que o coronavírus ia gerar impactos somente por causa de fatores externos (como na falta de produtos para abastecer fábricas, por exemplo). Adolfo Sachsida, secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, disse no fim de fevereiro que achava improvável haver restrições de circulação no território nacional. A aposta era que o vírus não se espalharia no país em razão do clima. "Acho que não [haverá restrição de circulação]. Pelo que li, acho que o impacto no Brasil dificilmente vai ser por contaminação interna", disse Sachsida no dia 27 de fevereiro. "Vai ser muito difícil imaginar que o Brasil vai sofrer uma grande crise porque uma parcela expressiva da população neste verão pegou isso. Acho pouco provável", afirmou o secretário na época. Os impactos previstos pela equipe econômica eram, até então, baseados somente em três fatores. O primeiro era a demanda externa, ou seja, a desaceleração da economia no mundo e o menor apetite por produtos brasileiros. O segundo seria o da oferta, pois fábricas nacionais poderiam desacelerar a produção se parassem de receber insumos estrangeiros (principalmente da China). E o terceiro era o preço das commodities.
Foi somente em março que o governo passou a entender que a crise seria maior do que se pensava. A equipe econômica passou a estudar medidas considerando o impacto das restrições de circulação. O diretor de Política Econômica do Banco Central, Fabio Kanczuk, afirmou recentemente que a autoridade monetária não previa uma crise tão grande. O ceticismo continuava mesmo após uma reunião emergencial do Fed (o banco central americano), convocada em 3 de março para reduzir os juros em 0,5 ponto percentual. As últimas vezes em que o Fed havia se reunido fora do calendário foram em setembro de 2001 —após os atentatos de 11 de setembro— e em outubro de 2008, no auge da crise financeira mundial. "Quando o Fed reduziu os juros em março, todo o mundo disse: 'Que loucura, por que estão fazendo isso? Eles estão sabendo de algo que não sabemos? Estão criando pânico'. Pensamos que no Brasil atingiria parte da economia, algo similar com a greve dos caminhoneiros, que atingiu a economia por um período. Não era esperado que fosse grande", disse há pouco mais de uma semana, reconhecendo que o entendimento mudou ao longo daquele mês. Na reunião com congressistas, em 11 de março, Guedes disse que, no pior cenário, haveria avanço de 1%. Hoje, o Focus já prevê uma queda de 6,48% para o PIB brasileiro. Procurado, o Ministério da Economia não quis se manifestar.
VINICIUS TORRES FREIRE – *”Ruim para os EUA, pior para o Brasil”*
*”Caixa emprestará R$ 3 bi em crédito para micro e pequenas empresas”*
*”EUA atropelam Brasil e anunciam candidato à presidência do BID”*
*”Europa abre investigação formal sobre concorrência da Apple em música e livros”*
HELIO BELTRÃO - *”Trainees de ditadores”*
*”Azul e Latam vão compartilhar de voos no Brasil a partir de agosto”*
*”Corticoide dexametasona reduz mortalidade em pacientes graves com Covid-19, diz estudo”*
*”Maioria dos estados ignora protocolo do governo e não indica cloroquina para casos leves”*
*”Mais de 20% da população mundial tem alguma doença que pode agravar a Covid-19, diz estudo”*
*”Nova plataforma do governo sobre coronavírus tem dados limitados”*
*”Brasil tem recorde diário e deve chegar a 1 mi de casos de Covid-19”*
ESPER KALLÁS - *”O estigma dos morcegos”*
*”Escolas particulares querem volta às aulas antes das públicas”*
*”Sisu do 2º semestre é adiado e Weintraub anuncia inscrições em julho”*
*”Após novo atraso na entrega, governo de SP cancela compra de 1.280 respiradores chineses”*
*”Após registrar primeira queda semanal, SP volta a bater recorde de óbitos e novos casos em um dia”*
*”Quinze dias após reabrir comércio, Ribeirão Preto vê disparada de mortes por Covid-19”*
*”Rio passa para segunda fase de reabertura e libera mercadão”*
ILONA SZABÓ DE CARVALHO - *”Tecnologia e discriminação”*
*”Circo gaúcho tem plateia dentro dos carros durante pandemia do novo coronavírus”*
*”Deputados entram em hospital da Covid-19 em Vitória após fala de Bolsonaro”*
*” Polícia investiga participação de dois PMs em morte de jovem em São Paulo”*
*”Justiça determina que Rio pague R$ 1 mi à família de Maria Eduarda”*
MÔNICA BERGAMO - *”Novas datas para eleições dividem senadores e parlamentares”*
MÔNICA BERGAMO - *”Apesar de exposição, secretário municipal de Saúde de SP segue testando negativo para Covid-19”*
MÔNICA BERGAMO - *”Silvio Santos não vai à posse do genro Fábio Faria, novo ministro das Comunicações”*
MÔNICA BERGAMO - *”Olívio Dutra, ex-governador do RS e fundador do PT, assina manifesto 'Estamos Juntos'”*: O ex-governador Olívio Dutra, do Rio Grande do Sul, assinou o manifesto “Estamos Juntos”, pela democracia. Dutra é fundador do PT e próximo de Lula –que criou mal estar ao criticar a adesão a documentos e dizer que não é “maria vai com as outras”. O ex-governador se soma a lulistas de primeira hora, como Fernando Haddad, Celso Amorim, Manuela D`Avila, Guilherme Boulos e Paulo Vannuchi. Os organizadores do movimento, por sinal, fizeram uma reunião virtual com Gleisi Hoffmann para explicar como ele nasceu —de forma espontânea e sem qualquer ligação com partidos políticos. Gleisi depois conversou com Lula. Segundo ela, o PT não é contra movimentos. Mas, “como partido, tem a responsabilidade de mostrar saídas e colocar claramente suas posições”.
MÔNICA BERGAMO - *”Mães solo da periferia de SP compõem um dos grupos mais vulneráveis à Covid-19, diz estudo”*
MÔNICA BERGAMO - *”Campeonato Carioca será feio e sem qualidade com retorno sem preparo, diz sindicato de futebolistas”*
 
CAPA – Manchete principal: *”Nova lei de saneamento pode ser impulso para a economia pós-covid”*
EDITORIALDO ESTADÃO - *”Bolsonaro e o dia de São Nunca”*: Um governo que trabalha apenas para dar sobrevida política ao presidente da República dificilmente será capaz de propor as reformas de que o Brasil urgentemente precisa e, mais, de articular sua aprovação no Congresso. Mesmo antes da presente crise, quando a continuidade do mandato de Jair Bolsonaro não estava em questão e não havia a emergência nacional causada pela pandemia de covid-19, a agenda de reformas não era tratada com a devida seriedade pelo governo. Nada mudou de lá para cá – com a agravante de que a monopolização das atenções do Congresso para o combate aos efeitos da pandemia deu a um presidente tão desinteressado nas reformas que prometeu o pretexto ideal para deixá-las para o Dia de São Nunca. Não surpreende assim que o presidente Bolsonaro tenha informado na segunda-feira, em entrevista à TV Band News, que a reforma administrativa, prometida por ele no ano passado e de novo no início deste ano, “com toda a certeza” ficará para 2021. “É um desgaste muito grande”, disse o presidente, argumentando que o maior obstáculo à reforma administrativa é uma suposta campanha da imprensa contra seu governo. “Eu não estou preocupado com reeleição, mas nós devemos nos preocupar com o brasileiro de forma honesta, justa, e não ser massacrado pela opinião pública por uma coisa que você não fez e não propôs. Então, a guerra da mídia é importante, por isso o atraso no envio da reforma administrativa”, disse Bolsonaro.
Para o presidente, portanto, a reforma administrativa só será enviada quando houver um “bom trabalho de mídia” para convencer os funcionários públicos de que eles não perderão sua estabilidade. “Senão, chega para os 12 milhões de servidores públicos que estou acabando com a estabilidade deles. Eu não estou preocupado com reeleição, mas temos que ouvir nossos eleitores”, disse o presidente. Ou seja, a obsessão de Bolsonaro, preocupadíssimo com a reeleição, é não contrariar sua base eleitoral. Logo, se vier, a reforma administrativa tem tudo para ser apenas um arremedo. Já a reforma tributária é, nas palavras de Bolsonaro, “complicada”. Deve ser mesmo. Em 23 de setembro de 2019, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a proposta de reforma tributária seria enviada pelo governo “na semana que vem”. Pouco menos de seis meses depois, em 5 de março deste ano, o mesmo ministro disse que a proposta de reforma tributária seria enviada “na semana que vem”. Aparentemente essa tal “semana que vem” vai demorar ainda mais para chegar, pois Bolsonaro informou que quer uma reforma “que possa ser aprovada”. Em outras palavras, o governo está longe de elaborar uma proposta politicamente factível. Assim, a exemplo do que aconteceu com a reforma da Previdência, o Executivo, preocupado somente em evitar desgaste eleitoral, tende a deixar para o Congresso o protagonismo da reforma tributária. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, já avisou que essa reforma é prioridade do Legislativo, a partir de projetos apresentados pelos próprios parlamentares.
A boa notícia, portanto, é que o País parece depender cada vez menos da iniciativa de um governo tão perdido. Embora seja no mínimo excêntrico que, num regime presidencialista, o debate político esteja ocorrendo sem a participação do presidente – que, desde a posse, se dedica exclusivamente a causar tensão e criar instabilidade –, parece haver um bom clima para tocar adiante as reformas quando a pandemia arrefecer. E as reformas são ainda mais importantes diante da perspectiva sombria para as contas nacionais. Nesse cenário de incerteza, teme-se, com razão, que a anunciada saída do secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, espécie de guardião dos limites fiscais, sinalize afrouxamento da agenda de controle dos gastos públicos. Mas essa agenda, mais do que nunca, não pode ficar na dependência dos humores de um ou outro funcionário do Ministério da Economia, do ministro Paulo Guedes ou, pior, do presidente Bolsonaro. O esforço de manutenção dos mecanismos de responsabilidade fiscal e de aprovação das mudanças necessárias para adequar os gastos públicos à real capacidade do País depende fundamentalmente da mobilização da sociedade – esta sim, a avalista indispensável das reformas.
COLUNA DO ESTADÃO - *”Projeto abre brecha para criminalizar atos”*: Olíder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), apresentou projeto de lei para incluir “razões políticas” no rol de motivações de atos terroristas. No limite, pode ser um atalho para criminalizar protestos. Na justificativa da proposta, o deputado cita “ameaças terroristas” contra Jair Bolsonaro e as recentes manifestações de rua com presença de grupos como o “Antifas”. Segundo ele, esses atos “pedem a luta armada para a tomada do poder”. A oposição enxerga no gesto uma “provocação” que pode tumultuar o ambiente na Casa.
» Sem essa. Vitor Hugo nega tal intenção. De acordo com ele, o tema do terrorismo já foi tratado em um projeto anterior. Para o deputado bolsonarista, todo ato terrorista tem algum tipo de viés político.
» Hot. “Esse projeto sempre vai gerar reações contra e a favor. Já é polarizado pela natureza dele”, disse. A chance de o projeto avançar é pequena. Porém, mais uma vez, os aliados do presidente, seguindo a cartilha de Abraham Weintraub, dão mostras de estarem pouco dispostos a baixar a temperatura no País.
» Hummm. No caso das manifestações brasileiras, ele alega que cada uma seria analisada separadamente, mas destaca que atos “pacíficos que não destruam patrimônio” estariam liberados.
» Nem pensar. O líder da oposição na Câmara, André Figueiredo (PDT-CE), rechaça a ideia: “É mais uma das estratégias do governo para marcar posição”.
*”Supremo quebra sigilo de parlamentares governistas”*
*”Celso fala em ‘resistir com armas legítimas’”*
*”Maioria do STF quer Weintraub em inquérito”*
*”’Sou mais aterrorizado que terrorista’, diz autor de charge”* - O chargista Renato Aroeira estava em seu apartamento no Leblon, no Rio, quando soube anteontem, pelo noticiário, que é um dos alvos de um pedido de investigação protocolado na Procuradoria-Geral da República pelo ministro da Justiça, André Mendonça. Com aval do presidente Jair Bolsonaro, o ministro solicitou, com base na Lei de Segurança Nacional, a abertura de um inquérito sobre uma postagem do jornalista Ricardo Noblat que compartilhava uma charge – de autoria de Aroeira – sobre Bolsonaro. “Fiquei muito tenso, porque, apesar de já ter sido processado, é a primeira vez que sou questionado pelo Estado. Nem na ditadura militar isso aconteceu. Até então, eu tive processos partindo de personalidades, autoridades, governadores, o escambau. Mas é a primeira vez que viro inimigo público. Isso me deixou angustiado e nervoso”, afirmou o mineiro de 66 anos, 50 deles dedicados à profissão de chargista. O cartunista brincou sobre a possibilidade de ser considerado um “terrorista” por ser enquadrado na Lei de Segurança Nacional. “Eu sou mais um aterrorizado que um terrorista. Eu sou um cara que está apavorado com a inconsequência desse pessoal do governo. Sou um sujeito que está tenso com a abertura (do isolamento social por causa da pandemia do novo coronavírus), quando não era isso que a gente tinha que fazer. Eu fico atônito quando vem o presidente falar que precisa invadir hospital! É difícil a gente não ficar indignado”, disse. A charge que motivou o pedido do ministro da Justiça mostra uma cruz vermelha, símbolo de serviços de saúde, com as pontas pintadas de preto, formando uma suástica nazista. Ao lado, uma caricatura de Bolsonaro segura uma lata de tinta preta, e diz: “Bora invadir outro?”. A sátira foi publicada após o presidente sugerir, em uma live, que seus apoiadores entrassem em hospitais de campanha para filmar o local. Colegas de profissão, músicos e escritores e artistas lançaram a campanha #SomosTodosAroeira nas redes sociais e fizeram um abaixo-assinado virtual que, até a tarde de ontem, havia conseguiu mais de 10 mil assinaturas de apoio.
Aroeira relatou já ter sido processado por Bolsonaro em outra ocasião. O então deputado não gostou de uma charge em que sua caricatura aparecia rolando morro abaixo, com seus membros formando o símbolo nazista a cada giro. “Ele me processou alegando ‘grande angústia moral por ter sido ofendido’. A juíza disse, na sentença, que uma pessoa que posa com um sósia do Hitler não pode se sentir moralmente indignado e angustiado com a charge”, disse. ‘Grave’. O diretor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), Floriano Marques, questionou a ação do presidente contra o chargista, usando a Lei de Segurança Nacional e o ministro da Justiça. “Se o presidente tivesse entrado com uma ação de indenização por perdas e danos, com seu advogado, diria que ele está em pleno exercício do seu direito. Mas usar a máquina do Estado, citando uma lei como a Lei de Segurança Nacional, que existe para proteger as instituições, não indivíduos, com o ministro solicitando, aproxima-se de uma ação de Estado contra a liberdade de imprensa, o que pode ser jurídica e politicamente grave.” Entidades como Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e Associação Nacional de Jornais (ANJ) também criticaram o fato de o presidente usar o Ministério da Justiça para buscar reparação.
*”Bolsonaro intimida Poderes para impedir sua queda, diz analista”* - Não vai ter golpe – pelo menos não uma quartelada clássica, como as do passado –, mas a ofensiva autoritária do presidente Jair Bolsonaro, tendo as Forças Armadas como guarda pretoriana, pode em tese ser vitoriosa. A possibilidade, afirma o cientista político e professor da UERJ Christian Edward Cyril Lynch, se concretizará se o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, intimidados, renunciarem às suas prerrogativas. “Bolsonaro só colou nos militares para poder usá-los como guarda pretoriana contra o impeachment, intimidando o Congresso”, afirma Lynch. Abaixo, os principais trechos da entrevista.
- Quando Bolsonaro foi eleito presidente, dizia-se que os militares o enquadrariam ou conteriam seus arroubos. Por que isso, aparentemente, não aconteceu?
- Não foi por falta de vontade. Bolsonaro não é propriamente um militar; ele é um político de baixo clero que, tendo sido tenente, formou sua clientela eleitoral representando os interesses de seus antigos companheiros de farda e de outras corporações armadas. Os filhos ampliaram a clientela do pai explorando um eleitorado de direita radical na base do populismo, seguindo técnicas de manipulação digital sofisticadas. Então, enquanto os generais palacianos se orientam mais conforme uma lógica de caserna, fechada, hierárquica e disciplinada, imaginando um “bom governo” ordeiro e harmonioso, a família Bolsonaro se orienta por uma lógica de “guerra cultural” que mantenha o País em estado de permanente polarização e inquietação. Daí as tensões frequentes entre o núcleo conservador reacionário, “lacrador” e radical, a quem Bolsonaro deve a sua eleição, e o núcleo dos generais palacianos, mais moderado e tradicional. A aliança com os primeiros é estratégica, e com os segundos, apenas tática.
- Como o Centrão entra na equação? No que resultará a mistura de militares com deputados fisiológicos e algumas vezes processados por corrupção?
- Dispor de uma base parlamentar é condição de viabilidade de qualquer governo normal, e essa discussão só parece bizarra porque se trata do governo Bolsonaro. Ao buscarem o apoio dos conservadores do Centrão, os generais foram pragmáticos, recorrendo ao presidencialismo de coalizão, respeitando a “estratégia” de não os colocar na cabeça dos ministérios, e sob promessa da não reiteração de práticas de corrupção. É evidente que a entrada do Centrão rompe com a narrativa antissistema do radicalismo reacionário, mas os generais não pertencem a esse grupo.
- Bolsonaro, ao longo do governo, tem oscilado entre a ala militar e a ala ideológica. Agora, parece estar fechado com os ex-colegas de farda, mas já esteve assim no passado e mudou de lado. A atual posição pró-militar, na sua avaliação, é definitiva?
- Claro que não. É tática. Bolsonaro só colou nos militares para poder usá-los como guarda pretoriana contra o impeachment, intimidando o Congresso. Alguns dos generais se incomodaram, o Alto Comando também, fizeram declarações moderadas, e afastaram a possibilidade de golpe com que o presidente flertava junto ao seu público de radicais. Afinal, em último caso, os generais palacianos sempre terão o general Mourão, para ser acionado em caso de emergência. Não estão amarrados ao mesmo mastro que Bolsonaro na tempestade. Se hoje parece haver maior comunhão entre eles é porque o inquérito das fake news no STF elevou a possibilidade de cassação da chapa pelo TSE, o que liquidaria a solução Mourão. Fato é que, alguma hora, os generais palacianos terão de se sentar com os congressistas e os juízes para dar uma solução mais definitiva a essa crise infindável que, começada em 2013, não termina graças ao radicalismo do “núcleo ideológico”.
- Invertendo o slogan que marcou o ocaso do governo Dilma: vai ter golpe?
- Já não se fazem mais golpes como antigamente. Se o Congresso e o Supremo Tribunal cederem à intimidação da família Bolsonaro, renunciando ao livre exercício de suas prerrogativas constitucionais, o golpe estará consumado e será o primeiro de vários outros. Mas, sinceramente, creio que, com seu aguçado senso de sobrevivência corporativa, os militares não cairão nesse truque. Perceberão a inutilidade de seus esforços e contribuirão, no momento oportuno, para a costura da única saída constitucional aceitável para todos, que passa pela assunção da Presidência da República pelo general Hamilton Mourão.
*”Maia defende aumentar tempo de TV na campanha”* - A ampliação do tempo de campanha eleitoral na TV neste ano já começou a fazer parte das discussões políticas. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), disse que se trata de uma “boa ideia” após se reunir, nesta terça-feira, com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, e também com médicos para avaliar a data das eleições municipais.
As disputas estão marcadas para 4 de outubro, mas, por causa da pandemia do novo coronavírus, devem ser adiadas. Uma das propostas prevê que o primeiro turno ocorra em 15 de novembro e a segunda rodada, em 6 de dezembro. A mudança, porém, depende da aprovação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC). “Acho que é uma boa ideia (aumentar o tempo de TV na campanha desse ano). Vamos ter mais dificuldade, mesmo em um momento de queda da curva, de aglomeração, de proximidade. Talvez ampliar (...) o tempo de televisão durante o dia ou aumentar em cinco dias seja um caminho que possa ajudar”, disse Maia, que defende início da votação de uma PEC em até duas semanas. “É preciso uma solução rápida”. A reunião para discutir o assunto, por videoconferência, também contou com a participação do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, do vice-presidente do TSE Edson Fachin, de líderes dos partidos no Congresso e de infectologistas como David Uip e Clóvis Arns da Cunha. Maia disse que a ideia de ampliar o tempo de campanha na TV partiu do líder do PDT na Câmara, deputado Wolney Queiroz (PE). Segundo Maia, não é preciso recurso para isso, mas, sim, a renúncia fiscal das emissoras de TV. “Não seria nenhum valor absurdo em relação à importância do eleitor poder conhecer seus candidatos”, afirmou ele.
Uma das ideias aventadas no encontro foi a de realizar o primeiro turno em dois dias, para reduzir aglomerações. O ministro Barroso observou, porém, que isso implicaria em um custo adicional de R$ 180 milhões. Ficou acertado ali que Alcolumbre coordenará o grupo de parlamentares que vai debater a data da eleição.“A gente sabe que tem muito prefeito que considera que a data (da eleição) deveria ser outubro e alguns até defendem a prorrogação, impossível do ponto de vista constitucional”, afirmou Maia. O socorro pago pela União a Estados e municípios para compensar a queda de arrecadação de impostos durante a crise vai até setembro. Depois disso, a perspectiva é que muitas prefeituras não tenham dinheiro para saldar as folhas de pagamento, o que pode arranhar a popularidade dos que tentam a reeleição. Na avaliação do epidemiologista Paulo Lotufo, que participou do encontro virtual, o risco de manter as eleições em 4 de outubro é muito alto. “Cada um soube (na reunião) respeitar todos os lados e os líderes colocaram suas preocupações”, afirmou o epidemiologista Paulo Lotufo.
*”Com medo de novo surto, Pequim veta viagens, isola bairros e proíbe até taxis”*
*”Confronto na fronteira entre a China e a Índia deixa 20 mortos”*
*”Trump atropela o Congresso e inicia reforma na polícia”*
*”Estudo indica 1º remédio capaz de reduzir a mortalidade em casos graves de covid”*
*”No mundo, há 153 drogas e vacinas em teste”*
*”Acordo não garante produção de vacina chinesa no Brasil”* - O contrato, anunciado pelo governador João Doria (PSDB) na quinta-feira, data em que o Estado ultrapassou a marca de 10 mil mortes, está sob sigilo, uma situação que o presidente do Instituto Butantã, Dimas Covas, disse ser de praxe por envolver questões relacionadas ao desenvolvimento do produto. O Estadão havia pedido ao governo paulista acesso à íntegra do documento, o que não foi atendido. O maior benefício do acordo, disse Doria na semana passada, “é a transferência de tecnologia para a produção nacional, em larga escala”, completou. “É isso que vai atender de fato a população e salvar milhões de vidas de brasileiros.”
Segundo Covas, o acordo não envolve cifras monetárias, uma vez que o compromisso é que o Butantã faça o estudo clínico da vacina, que tem o nome provisório de Coronavac. Ele estima, com base em outros estudos clínicos já feitos pelo instituto, que o investimento necessário seja da ordem de R$ 85 milhões. “O acordo inicial é que o Butantã seja responsável pela produção de vacinas, mas é lógico que isso (produção) não está contratado ainda”, disse Covas. “Você não vai contratar uma coisa que ainda está em desenvolvimento. O acordo tem ‘se’, tem fases. Se essa fase for bem-sucedida, vou para a próxima fase. São os ‘ses’ que envolvem essa parceria”, afirmou Covas. Essa gama de incertezas abre espaço, segundo Covas, até para que vacinas feitas na China sejam usadas no SUS, no lugar da produção local, “num primeiro momento, até recebendo mais vacinas (da China) enquanto a fábrica do Butantã não estiver operacional”, afirmou. Ele ressalta que a vacina terá um rótulo “Butantã-Sinovac”. Desse modo, a viabilização de se produzir ou não o imunizante no Estado ainda depende de uma série da fatores. “O Butantã vai fazer o estudo clínico e ele tem acesso a essas vacinas, produzidas na China. Em um segundo momento, o Butantã vai discutir a tecnologia para a produção em larga escala. Aí, em um terceiro momento, e aí a vacina vai ter de estar adiantada, você fala: vou investir de fato em uma fábrica”, diz Covas.
A decisão pelo investimento em uma produção própria está atrelada à certeza da eficácia da vacina e à disponibilidade de doses importadas. A capacidade de produção da Sinovac, segundo Covas, é de milhões de doses, mas diante do tamanho do mercado chinês, a remessa para o parceiro paulista poderia não ser suficiente. Segundo Covas, as vacinas já estão sendo produzidas na China, com os riscos do investimento assumidos pela Sinovac. “O Butantã tem as instalações, mas não tem as instalações na escala de necessidade de uma vacina mundial”, afirmou Covas. Além disso, há discussão sobre qual será a demanda do produto quando a vacina estiver pronta. “Não se sabe se essa vacina será necessária no futuro. O risco é enorme, você não sabe. Você está fazendo uma parte agora, lá na frente você não sabe qual vai ser a real necessidade dessa vacina. O vírus pode não circular mais, como aconteceu com SARS”, disse o médico. “O acordo prevê a fase completa, desenvolvimento clínico, transferência de tecnologia e produção”, segundo Covas. Mas, a cada nova etapa, termos aditivos entre as duas partes terão de ser assinados. Para o Butantã, o mais interessante no acordo com a Sinovac Biotech é o estudo clínico que comprova a eficiência da vacina. “Eu não pago royalties. O Butantã é sócio dos chineses. O Butantã é dono do estudo clínico. O sucesso da vacina está no que nós estamos fazendo. A vacina da Sinovac, sem o estudo clínico, ela vai poder ser usada na China. Não vai poder ser usada aqui no Brasil”, afirma.
Outros laboratórios. O plano do Butantã, de qualquer modo, é produzir uma vacina nacional, e há contato com outros laboratórios para viabilizar a produção, caso o produto da Sinovac não dê certo. A vantagem do produto chinês, diz Covas, é que a tecnologia usada neste tipo de vacina já é conhecida pelo instituto paulista.
*”País registra 1.338 mortes em 24 horas”*
*”Belo Horizonte tem explosão de casos ao reabrir comércio”*
*”Conselho prevê aulas com rodízio e máscaras”* - Quando forem retomadas, as aulas presenciais nas escolas terão menos alunos por sala e só atividades individuais, nada de trabalhos em grupo. Haverá rodízio entre estudantes em sala e em casa, com continuidade das atividades online. No intervalo, refeitórios terão lugares marcados para que estudantes mantenham a distância entre si. Cada um deverá ter a própria garrafinha de água. Podem ocorrer aulas de reposição aos sábados ou em outros períodos. Professores e alunos devem usar máscaras o tempo todo. Essas são algumas das diretrizes elaboradas pelo Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) para o retorno às aulas presenciais no País. Os secretários estaduais não têm previsão de datas para a volta, mas elaboraram a cartilha nacional para que Estados façam adaptações às realidades locais, principalmente em relação às ações sanitárias. O documento dedica grande espaço a medidas pedagógicas. As escolas devem apresentar alternativas para o cumprimento da carga horária mínima anual com ampliação da jornada diária e reposição de aulas aos sábados ou à noite. O documento prevê a “possibilidade de prorrogação do calendário para o período de recesso ou para o ano seguinte”. Isso significa que o ano letivo não deve acabar em dezembro. “Os anos letivos de 2020 e 2021 serão entendidos como um ciclo. Com isso, os alunos não seriam prejudicados. Os conteúdos de 2020 seriam distribuídos nesse ciclo”, diz a secretária de educação de Alagoas, Laura Souza, uma das coordenadoras do documento. “Vamos olhar para o currículo e identificar aprendizagens fundamentais que não podem faltar para todos os estudantes.” Embora seja orientado principalmente para escolas públicas, a cartilha do Consed também influencia as particulares. Em São Paulo, gestores e professores já começaram a quebrar a cabeça para se adequar ao “novo normal” antes mesmo de o documento ser divulgado. Medidas de prevenção, como máscaras, medição de temperatura e álcool em gel, são itens de consenso. O problema será o distanciamento social.
Rodízio. No Colégio Equipe, em Higienópolis, região central paulistana, os mais de 600 alunos deverão viver um rodízio de uma turma por vez, por dia e por período na escola. “Na segunda-feira, teremos aulas apenas para os alunos do 1.º do ensino médio, por exemplo. Esses alunos, da mesma turma, serão distribuídos em várias salas”, diz a diretora Luciana Fevorini. O mesmo rodízio deve ocorrer com os 814 alunos do Colégio Gracinha, no Itaim-Bibi, na zona oeste de São Paulo. “Será muito difícil que a gente retorne com todos de uma vez. Concordamos que o retorno deve ser gradual, por partes, com poucos alunos”, avalia Wagner Cafagni Borja, diretor geral.
Eliana Rahmilevitz, diretora pedagógica da Stance Dual School, escola bilíngue na Bela Vista, região central da cidade, mostra preocupação com o lado emocional dos quase 500 alunos e suas famílias. “Queremos ouvir o que eles têm a dizer nas aulas de teatro, música e artes.” O documento divulgado pelo Consed faz recomendações sobre “como” as escolas devem proceder, mas não faz referência ao “quando”. Ainda não há previsão de reabertura das escolas para aulas presenciais. Benjamim Ribeiro da Silva, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino de São Paulo, aposta no mês de agosto como a possível retomada de todas as escolas, privadas e públicas. Os colégios particulares de São Paulo preparam protocolo próprio, já apresentado ao governo estadual, mas ainda não obtiveram retorno. Uma das preocupações dos autores do estudo é com o financiamento das ações na esfera pública. “Os cuidados de prevenção vão criar custos extras. Não temos margem para tantos investimentos. É preocupante”, diz Claudio Furtado, secretário de Educação da Paraíba e também coordenador do estudo do Consed. Ele diz que não houve participação do Ministério da Educação (MEC). “Por isso, o protocolo é importante como ação unificada de Estados e Distrito Federal.” Procurado, o MEC não se manifestou.
*”MEC adia para julho abertura das inscrições do Sisu”*
*”Marco regulatório do saneamento pode impulsionar investimentos pós-covid”* - Prestes a ser votado no Senado, o novo marco regulatório do setor de saneamento básico pode impulsionar novos investimentos e ajudar na retomada econômica do País no pós-pandemia. A expectativa é de que o relatório do projeto de lei – que deverá dar mais segurança jurídica aos investidores e estabelecer metas de qualidade e cobertura dos serviços – seja apresentado e votado, sem mudanças no texto, na próxima semana, depois de mais de dois anos de discussões sobre as mudanças. Considerado o setor mais atrasado da infraestrutura, o saneamento precisa de algo em torno de R$ 500 bilhões para universalizar os serviços de água e esgoto, segundo a Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib). Em 15 anos, seria necessário investir R$ 33 bilhões por ano no setor. Se considerar a recuperação de redes obsoletas, o montante subiria para R$ 47 bilhões por ano. “No momento, não há nenhum mercado tão grande e que esteja prestes a se modernizar como o Brasil”, diz o presidente do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos. Por isso, investidores de vários países estão de olho na evolução do novo modelo no Congresso, completa Ordélio Azevedo Sette, sócio e fundador da Azevedo Sette Advogados. “Clientes da França, Holanda e Finlândia têm nos procurado para saber mais informações sobre as mudanças no setor, que devem promover mais concorrência no mercado.”
Um dos objetivos da regulamentação é permitir o avanço dos investimentos, sobretudo da iniciativa privada, e reduzir a deficiência dos serviços públicos. Hoje, quando o contrato de uma área de concessão vence, ele é automaticamente renovado, sem nova licitação. Pelo projeto de lei, todos os contratos vencidos teriam de passar por um processo de concorrência. Mas, depois de muita relutância dos representantes das estatais, essa regra passará por um período de transição e só valerá a partir de março de 2022. Até lá, as estatais poderão buscar a renovação dos contratos por mais 30 anos, desde que comprovem a capacidade econômico-financeira para fazer a universalização dos serviços. Hoje a maioria das estatais não tem condições de bancar a estrutura operacional e fazer os investimentos necessários. “Nem mesmo as estatais superavitárias conseguem fazer os investimentos exigidos”, diz a advogada Bruna Bouissou, sócia do Azevedo Sette. Para ela, o novo marco do setor não é perfeito, mas é necessário. A advogada destaca que os governos não têm mais condições de bancar os investimentos num setor tão carente de melhorias. “E com a pandemia, os problemas financeiros das estatais (que já tinham problemas) vão se agravar e elas terão dificuldade de investir”, diz o diretor da Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon), Percy Soares.
+++ Como era de se esperar, pouquíssimas fontes apresentam análise sobre a conclusão que é apresentada na manchete. Obviamente, vozes contrárias ao projeto não têm espaço na reportagem.
*”ANA dará diretrizes ao setor de saneamento”* - Uma das mudanças mais importantes do novo marco regulatório é a participação da Agência Nacional de Águas (ANA) na elaboração das diretrizes do setor. Na avaliação de especialistas, é essa alteração que trará mais segurança jurídica para os contratos e para os investidores. Atualmente, 52 agências reguladoras fazem a regulamentação do segmento. “Isso cria um cenário caótico e atrapalha os investimentos”, diz o diretor da Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon), Percy Soares. Exemplo disso, é que desde o início da quarentena foram publicados 230 decretos regionais sobre conta e proibição de corte de água durante o período do coronavírus. Dentre as mudanças previstas pelo projeto de lei, a competência da ANA é quase uma unanimidade, seja entre a iniciativa privada ou o setor público. “Essa medida cria uma linha de melhores práticas que é muito positiva para o setor e para os investimentos”, diz a advogada Ana Cândida de Mello Carvalho, do Barbosa, Müssnich, Aragão (BMA). Para ela, essa foi uma das maiores conquistas do modelo.
O presidente da Associação Brasileira das Empresas de Saneamento Básico Estaduais (Aesbe), Marcus Vinícius Fernandes Neves, também elogia a medida e acredita que a ANA conseguirá trazer maior organização para o setor. Mas o executivo, que defende a união do público e do privado nos investimentos, critica outros pontos do projeto de lei. Um deles está associado à formação de blocos para o processo licitatório, uma das bandeiras da Aesbe durante as discussões. O problema, reclama Neves, é que não há obrigatoriedade dos municípios participarem desse bloco. “Ou seja, se uma cidade maior quiser ficar de fora, ela pode. Isso traz uma fragilidade jurídica para o modelo.” Outra crítica se refere ao prazo de 2033 para as empresas universalizarem os serviços de água e esgoto. “Hoje temos empresas privadas que fizeram estudos e que mostram que a universalização só ocorrerá em 2037. É preciso reconhecer o que os estudos estão definindo.” Ele conta que enviou ao Senado Federal uma carta apontando algumas mudanças no texto que irá a votação. Há também quem seja contra a privatização das empresas estaduais neste momento. Com o argumento de que a pandemia derrubou o valor de mercado das companhias, eles tentam inviabilizar a votação. “Mas esse argumento não se sustenta uma vez que o processo de privatização é burocrático e longo. Não se vende uma empresa em menos de um ano”, diz Soares.
Aprovação. Para a advogada do BMA, o melhor neste momento seria aprovar o texto do como está. “Uma prorrogação poderia inviabilizar todo o projeto e todas as conquistas até agora.” O presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Venilton Tadini, também acredita que é preciso levar adiante o novo marco regulatório, sobretudo por causa do momento atual. “O setor tem uma cadeia grande, que envolve engenharia, projetos, construção, fabricantes de equipamentos e operação dos serviços. Isso representa geração de empregos.” Ele destaca que a mudança do setor não será do dia para a noite, exige planejamento e execução como em toda obra de infraestrutura. Mas é preciso começar, diz o executivo. “O setor vem de um passado em que os recursos tinham origem no Estado. Com a questão fiscal se agravando, as empresas perderam capacidade de investimento.” O resultado disso é que 100 milhões de brasileiros ainda não têm acesso à coleta de esgoto e 35 milhões não são abastecidos com água potável. “No meio dessa pandemia, essas pessoas não têm água nem para lavar a mão”, diz Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil.
*”Senado dá aval para governo prorrogar corte de salários”*
 
CAPA – Manchete principal: *”Pequena empresa receberá empréstimo via ‘âncoras’”*
*”Na saúde, governo gasta só 28% do total autorizado para despesas emergenciais”* - Os gastos emergenciais autorizados para combater a pandemia de covid-19 estão piorando as projeções para as contas públicas brasileiras, mas parte deles apresenta baixo nível de execução. Na área de saúde, por exemplo, dos R$ 12,5 bilhões autorizados, apenas 28,3% foram efetivamente gastos até o momento, segundo dados da Instituição Fiscal Independente (IFI). No total, as despesas autorizadas para o governo federal somam R$ 403,9 bilhões, dos quais 33,6% foram gastos até o momento. “É preocupante, porque sabemos que Estados e municípios precisam de celeridade no ataque frontal à pandemia”, disse o diretor-executivo da IFI, Felipe Salto, referindo-se aos gastos na área de saúde e também aqueles para dar suporte financeiro aos entes subnacionais. A baixa execução mostra falta de coordenação do governo, o peso da burocracia e a falta de zelo para garantir que os recursos cheguem à ponta, avaliou Salto. Mesmo nos programas sob responsabilidade do governo federal, há alguns rodando num ritmo abaixo do esperado. Provavelmente, por problemas no desenho da política, acredita Salto. Integrantes do governo já admitiram, por exemplo, falhas na linha de financiamento para pagar folhas salariais e discutem ajustes com o Congresso Nacional. Dos R$ 34 bilhões autorizados para esse programa, R$ 17 bilhões já foram liberados, mas nem tudo foi utilizado. Os recursos autorizados que estão parados poderiam ter outro uso mais eficiente, comentou o economista.
Outro problema apontado pelo diretor-executivo da IFI é a falta de sinais claros sobre o que vem mais adiante. O governo tem indicado que pode prorrogar programas, mas não está claro como isso será feito. Tampouco está claro como será a retomada da agenda de reformas estruturais que estava posta antes da pandemia. No momento, essas propostas estão paradas. Em reunião recente com outras instituições fiscais independentes de países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), para a qual o Brasil foi convidado, a mensagem foi muito clara, relatou: neste ano de pandemia, é necessário aumentar gastos. Em 2021, a história é outra. “A busca do equilíbrio nas contas não pode sair do radar”, afirmou. Em seu mais recente boletim, divulgado nesta segunda-feira, a IFI cortou R$ 1 trilhão sua projeção do valor nominal do Produto Interno Bruto (PIB) de 2020, de R$ 10,6 trilhões em novembro de 2019 para R$ 9,6 trilhões. “Isso afeta a trajetória da dívida”, afirmou. O desempenho é ruim mesmo num cenário de juros baixos. No cenário-base, o PIB recua 6,5% neste ano. O déficit primário do governo central chega a R$ 877,8 bilhões, ou 12,7% do PIB. A dívida bruta deve atingir 96,1% do PIB e sua estabilidade só será alcançada em 2033 ou 2034. No cenário mais pessimista, a dívida ultrapassaria os 100% do PIB ainda em 2020. A IFI calcula que uma eventual prorrogação do auxílio emergencial em 2020 poderá elevar seu custo para R$ 308,8 bilhões. O cálculo considera dobrar a despesa com o benefício em três meses, estimada em R$ 154,4 bilhões.
*”No Rio, Crivella quer acelerar ainda mais reabertura”* - Prefeito cogita antecipar fim do isolamento social na cidade
*”Número de mortes pela doença já supera 45 mil”*
*”Guedes vê ‘manicômio tributário’ no país”*
*”Rio propõe compensação de R$ 1,7 bi por violações a RRF”*
*”Brasil sobe em ranking, mas segue pouco competitivo”* 
- País só avançou quatro postos em lista internacional porque outras nações tiveram piora mais acentuada da nota
*”País volta à lista dos 25 mais atrativos para investidor externo”* - Depois de sair do ranking em 2019, Brasil é considerado 22º país mais confiável para investimentos em atividades produtivas
*”Após tombo histórico em abril, varejo deve ter leve melhora”* - As vendas no varejo brasileiro sofreram um colapso em abril, primeiro mês inteiro com restrições de circulação e atividade por causa da pandemia da covid-19. Embora o resultado seja considerado devastador, economistas avaliam que esse foi o fundo do poço. Para maio e junho, com a reabertura de estabelecimentos em muitos municípios, é esperado um crescimento marginal no setor, ainda que para níveis muito baixos. No conceito restrito e no ampliado (inclui veículos e material de construção), as perdas foram recordes para as séries iniciadas no começo dos anos 2000: 16,8% no restrito e 17,5% no ampliado em relação a março, segundo o IBGE. As quedas foram mais intensas do que a mediana das estimativas do Valor Data, de 11,7% e 21,3%, respectivamente. Em relação a abril de 2019, o varejo restrito ficou 16,8% abaixo, e o ampliado, 27,1%. Foi o segundo mês consecutivo em que o setor sentiu o impacto da covid-19, já que medidas de isolamento começaram em meados de março. De lá para abril, o IBGE mostra avanço no percentual de empresas que relataram impacto do isolamento na receita, de 43,4% para 63,1%. Nesses dois meses, o varejo ampliado, que entra na conta do Produto Interno Bruto (PIB), acumula queda de 28,8%, observa em relatório Fernando Montero, economista-chefe da Tullett Prebon.
Com isso, o varejo ampliado está 34,1% abaixo do ponto mais alto da série (agosto de 2012), segundo o IBGE. Em fevereiro, antes do choque da covid-19, estava 7,5% abaixo. Todos os dez segmentos monitorados tiveram queda em abril, inclusive atividades ditas essenciais. “A massa de rendimentos dos trabalhadores, uma proxy [aproximação] do consumo das famílias, teve queda de 3,3% no trimestre até abril deste ano, o que significa menos R$ 7,3 bilhões. Então, a atividade também não se sustentou”, disse Cristiano Santos, gerente da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC). Vendas em supermercados e afins, por exemplo, subiram 14,2% em março, mas caíram 11,8% no mês seguinte. Artigos farmacêuticos, que sustentaram alta de 1,4% em março, recuaram 17% em abril. Economistas apontam que há também um efeito de “normalização” dessa demanda, após pessoas realizarem estocagem no início da pandemia. Em geral, bens não duráveis registraram em abril quedas semelhantes ao varejo como um todo. Outras atividades tiveram perdas muito superiores. A mais intensa foi em tecidos, vestuário e calçados (-60,6%). “Foi realmente dizimado”, diz Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter. É uma tempestade perfeita que atinge o segmento, o que inclui não só paralisação de atividades e queda na renda das famílias, mas também limitações para aquisição on-line e o fato de que muitas compras são motivadas por compromissos das pessoas, adiados pela pandemia.
A queda em vestuário preocupa um pouco mais porque o segmento engloba muitas lojas de menor porte, com maior fragilidade financeira, aponta Isabela Tavares, economista da Tendências Consultoria. Ainda assim, ela afirma que, por ora, não há temor de quebra de cadeias. “É bem prejudicial, mas a gente espera que os níveis de abril tenham sido os piores.” A avaliação vale para o varejo em geral. Com cidades sobretudo do Sul retomando atividades em maio e grandes centros urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro, reabrindo gradualmente a partir de junho, a expectativa é que esses meses registrem alta na margem, embora na comparação interanual permaneçam negativos, diz Isabela. Alguns segmentos com desempenho muito ruim em abril, como veículos (-36,2%), já dão sinais de melhora, afirma Rafaela. As vendas do setor cresceram 11,6% em maio, ante abril, mas ainda caem 74,6% em relação a 2019, segundo a associação das concessionárias (Fenabrave). A Guide Investimentos afirma em relatório que “o resultado devastador” do varejo ilustra o fechamento do comércio em algumas das principais cidades do país em abril e “como esse movimento perdurou durante boa parte do mês de maio, só esperamos uma recuperação a partir de junho”. Isabela também diz ver “efeitos de maior intensidade” a partir deste mês. Vitor Vidal, economista da XP Investimentos, destaca a melhora nos primeiros indicadores de confiança de junho. Mas ele avalia também que é preciso compreender melhor qual tem sido a destinação do auxílio emergencial, já que, para Vidal, havia expectativa de um desempenho melhor em supermercados, exemplo. “O dinheiro do auxílio está indo muito para o trabalhador informal, alguém que ganha e, em geral, precisa gastar, mas pode ser que ele esteja criando uma poupança. É algo que precisamos monitorar para ver como será a retomada”, afirma.
Para Rafaela, do Inter, captações recordes da poupança nos últimos meses até podem ajudar no futuro próximo. “As pessoas estão guardando dinheiro, consumindo menos. Quando restrições forem levantadas, elas podem voltar a consumir, não exatamente como antes, claro”, afirma. Uma barreira será a dos efeitos prolongados da pandemia no mercado de trabalho, com aumento da informalidade e renda média em queda, o que gera grande incerteza para consumidores, diz Isabela, da Tendências.
+++ Essa reportagem chama atenção para dois pontos. O primeiro, economistas ligados ao mercado financeiro depositam esperança na reabertura do comércio. É provável que eles não leiam notícias sobre a pandemia. Por enquanto, em muitos dos lugares em que houve abertura, ocorreu também aumento dos casos. Ou seja, é provável que o fechamento retorne. O segundo, o economista da XP considera a possibilidade de que trabalhadores informais estejam fazendo uma “poupança” com o dinheiro do auxílio emergencial. Em que mundo ele vive?
*”Na pandemia, 17,7 milhões deixam de buscar emprego”*
*”Financiamento estatal a fundo perdido em inovação via Finep é o maior em cinco anos”*
*”Especialistas atacam nova política da Funai”* - “Há uma ofensiva geral para fazer desaparecer as terras indígenas do mapa do país.” A frase de Manuela Carneiro da Cunha, professora titular aposentada da Universidade de São Paulo e referência internacional da antropologia, resume o que outros especialistas no assunto e lideranças indígenas pensam do atual momento do governo Jair Bolsonaro e da atuação da Fundação Nacional do Índio, a Funai. “Querem eliminar tudo o que não for terra indígena homologada. E de quem é a culpa da não demarcação? Da União.” Nesta semana o Valor publicou com exclusividade uma entrevista do presidente da Funai, Marcelo Xavier, em que ele anuncia a intenção do governo de acelerar a elaboração de decreto que tornará os critérios para demarcação de terras indígenas “mais rigorosos e ágeis”. Xavier, que preside a Funai há um ano e é delegado da Polícia Federal, citou o controverso argumento do “marco temporal”, defendido pelos ruralistas, e que está agora no Supremo Tribunal Federal (STF). Disse estimular indígenas a formarem cooperativas para desenvolverem atividades econômicas nas terras. Uma das prioridades são atividades de mineração, afirmou ele, citando projeto que tramita desde fevereiro no Congresso regulamentando a iniciativa. “A Funai tem o dever de defender os direitos dos povos indígenas e não de levantar teses contra os índios. Só por isso ele [Xavier] já está violando preceitos da função que se comprometeu a executar”, reage Dinaman Tuxá, um dos coordenadores-executivos da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), grande rede de entidades indígenas do País. “O agronegócio se apropriou da Funai para contaminar a política indigenista. Está fazendo isso dentro da instituição que deveria proteger os indígenas”, segue Dinaman Tuxá.
Em junho de 2019, Franklimberg Ribeiro de Freitas foi exonerado da presidência da Funai sob pressão de ruralistas liderados pelo secretário de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura, Luiz Antonio Nabhan Garcia. Foi o primeiro general a deixar o governo Bolsonaro. Na ocasião, em entrevista ao site “Amazônia Real”, o general disse que Nabhan pressionou por 58 cargos na Funai. “É a mesma lógica vigente no Ministério do Meio Ambiente”, afirma o procurador da República Julio José Araújo Junior, coordenador do grupo de trabalho Povos Indígenas e Regime Militar do Ministério Público Federal. “A Funai se dedica hoje a desmantelar todo o arcabouço protetivo em relação aos povos indígenas”, continua. “São muitos ataques coordenados”, diz. “A questão indígena é hoje o que a reforma agrária foi no passado para certos setores econômicos.” Ele identifica várias frentes organizadas na matéria anti-indígena e que “conseguem, neste governo, que os órgãos indigenistas se voltem contra os índios”. A Constituição, em seu artigo 231 diz: “São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”. “A Constituição não diz que a terra indígena tem que ser formalizada para ser reconhecida como tal. Ela reconhece o direito. A demarcação é a natureza declaratória daquela realidade”, segue.
A questão do marco temporal é complexa e muito polêmica. Ruralistas querem que a linha de corte da demarcação seja a promulgação da Constituição, 5 de outubro de 1988. Os índios só poderiam requerer áreas que ocupavam naquela data. “Acontece que ocorreram expulsões de índios pela força em Mato Grosso do Sul e oeste do Paraná desde a década de 1940”, exemplifica Manuela, “e isso não cancela seu direito sobre a terra.” “O que a gente vê é que tentaram fazer uma lei para aplicar o marco temporal e não conseguiram, porque o movimento indígena fez muita mobilização. Tentaram fazer isso pela via do Judiciário e o Supremo não está comprando a ideia. Agora, acredito, devem vir com um novo decreto com essas mesmas balizas do marco temporal”, diz Eloy Terena, advogado da Apib. A tese do marco temporal é, no seu entender, inconstitucional. “Quando a Constituição foi promulgada, em 1988, não trabalhou com data certa. Disse que são reconhecidas aos índios as terras tradicionalmente ocupadas. É um direito originário. Em nenhum momento a Constituição restringe o direito a terras ocupadas somente nesta data”, continua Eloy Terena. Se o marco temporal for regularizado por decreto, abre-se a possibilidade de inviabilizar inúmeras terras indígenas que ainda não tiveram seus procedimentos concluídos, teme o advogado da Apib. “Existe um passivo grande ainda de terras por serem demarcadas.”
“Não sabemos o que está na mesa agora, mas a impressão que temos não é positiva”, diz Márcio Santilli, sócio-fundador do Instituto Socioambiental (ISA) e presidente da Funai à época do decreto presidencial de 1996, que é o atual regramento sobre as demarcações das terras indígenas. “Não se trata de um decreto de demarcação de terras indígenas e sim de não demarcação, segundo o que ele enuncia”, diz. Santilli reconhece que a demarcação nunca foi tarefa fácil para os governos. “Os processos estão judicializados e não é a mudança do decreto de demarcação que irá alterar isso aí”, explica. “Perante a Constituição não existe índio sem terra”, resume. Ele adianta que o próprio decreto - “Se em vez de demarcar, não demarca” - pode ser entendido como inconstitucional e ser judicializado. “É obrigação constitucional da União demarcar.” Santilli também refuta a ideia de que é preciso ajudar os índios a desenvolver atividades econômicas. “Os índios sempre desenvolveram atividades produtivas, tanto é que estão vivos. Que eles se organizem para poder comercializar seus excedentes e fazer parcerias econômicas é interessante, mas acho que o modelo de cooperativa não é o melhor. Podem fazer isso através de suas próprias associações.” Ele cita outros problemas que os índios têm e deveriam ter apoio da Funai. “As terras indígenas são bens da União. Os índios têm dificuldade em acessar crédito pelas regras normais do mercado. Não podem dar uma propriedade em garantia. Aí sim há entraves. A regar do jogo comercial não combina com sua forma de organização e isso não diz respeito apenas aos índios, mas também aos quilombos e às reservas extrativistas.”
Santilli diz que o término de processos demarcatórios pode acarretar injustiça a não índios. “Como fica a situação destas pessoas é cabível de ser discutido e eventualmente a União tem que indenizar. O que não pode é negar terra a índios.” Henyo Barretto, professor do departamento de antropologia da Universidade Nacional de Brasília (UnB), lembra que governos tentam continuamente alterar os processos de demarcação de terras indígenas. “Este é o período mais longevo em que predominou um marco regulatório para o procedimento de demarcação”, diz. “Em nenhum destes momentos, os índios foram consultados para saber o que achavam”, registra. Barretto lembra, ainda, que o Brasil ratificou a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho em 2002. Ela diz que em qualquer alteração que afete o direito dos índios à terra, eles devem ser consultados.
*”Moro diz que PT e Bolsonaro se parecem”* - Ex-ministro e ex-juiz afirma que tanto o partido quanto o presidente negam a realidade
+++ Um oportunista tentando atrair holofotes.
*”Supremo e PGR fecham o cerco sobre base bolsonarista na Câmara”*
*”Mello menciona ‘forte autoritarismo’”*
*”Alcolumbre tira veto presidencial da pauta”* 
- Ato de Bolsonaro impediria repasse de R$ 8,6 bilhões em recursos a governos estaduais e municipais, para uso no combate à pandemia
*”Barroso propõe, mas siglas se dividem sobre adiar eleição”* - Resistência pode levar à manutenção da data atual, já que a mudança exigirá a aprovação de uma PEC
*”MP 936 é aprovada sem ampliar jornada de bancários”*
*”Câmara derrota governo e limita corte no Sistema S”*
*”Consumo se recupera nos EUA com pacote de ajuda”* - O aumento nos gastos de consumo aconteceu depois que 2,5 milhões de americanos retornaram ao trabalho em maio e da ajuda à renda das famílias dada pelo governo federal na forma de depósitos diretos em contas bancárias, aumento dos benefícios aos desempregados e do Programa de Proteção aos Salários
*”Governo chinês isola Pequim para conter novo surto”* - No mais grave surto de covid-19 desde fevereiro, o número de novas infecções na capital chinesa subiu para 106 desde quinta-feira
*”Covid-19 acelera mais na América Latina”*
*”Mais kirchnerista, Fernández frustra produtores argentinos”* 
- Maiores restrições cambiais, mais impostos às exportações e expropriação minam confiança e podem ter impacto negativo nos investimentos no médio prazo
*”Empresas atuarão no repasse de recursos a fornecedores”* - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai disponibilizar até R$ 2 bilhões para empresas de grande porte atuarem como “âncoras” e fornecerem capital de giro para seus fornecedores e clientes, informou ao Valor o assessor especial do Ministério da Economia, Guilherme Afif Domingos, ex-presidente do Sebrae. Ele reuniu-se ontem com BNDES, Sebrae e um conjunto de empresas para tratar do mecanismo inédito no Brasil. “É uma iniciativa de tempos de guerra que vai gerar um filhote para tempos de paz”, disse Afif. “Hoje estamos dando oxigênio para capital de giro, mas imagine usar esse mecanismo para investimentos de longo prazo a juros compatíveis, que antes só tinha para a JBS.” Esse mecanismo, que Afif comparou a “respiradores de baixo custo” para empresas, foi formulado a partir da constatação de que nem o BNDES nem o sistema bancário têm capacidade de emprestar ao pequeno varejo. Decidiu-se passar o papel de âncora para grandes empresas não financeiras, que têm carteiras de fornecedores e clientes cuja sobrevivência na pandemia é de seu interesse. As ancoradas serão micro, pequenas e médias empresas. Afif destacou a atuação do presidente do BNDES, Gustavo Montezano, na estruturação dessa ferramenta. A linha de crédito será operada diretamente pelo BNDES, que emprestará até R$ 200 milhões por empresa âncora. O prazo de carência será de até 24 meses, com pagamento em até 60 meses.
O custo será de Selic mais 0,1% ao mês, acrescido de uma taxa de risco que variará entre 1,4% e 1,6% ao ano. A garantia será dada pela empresa âncora que, se for o caso, pode pedir uma garantia suplementar a sua ancorada. A empresa âncora assume a responsabilidade perante o banco e se compromete a repassar os recursos a seus ancorados nas mesmas condições recebidas. “Ela não pode ter ganho, não pode fazer intermediação”, disse. Afif informou que a proposta foi bem-recebida pelas empresas presentes à reunião. E que elas estão dispostas a utilizar o mecanismo. Não é necessária uma regulamentação adicional, informou. O BNDES já pode receber as propostas. Não havia impedimento a esse tipo de operação. “Faltava a iniciativa”, disse. Essas operações poderão atender a negócios muito pequenos no interior do país, que não necessariamente conseguiriam acessar as linhas do Programa de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe). A Caixa anunciou ontem o início das operações com essa linha. O ex-presidente do Sebrae disse que grandes instituições financeiras, como Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil, já informaram que vão emprestar com o Pronampe. O governo negocia no Congresso o uso de R$ 5 bilhões que estão em um fundo para o desenvolvimento da infraestrutura turística no Brasil para fortalecer o Fundo Garantidor de Operações (FGO), que dá suporte ao Pronampe. Afif comentou que recursos adicionais são bem-vindos. E brincou que, se faltar dinheiro, será um bom sinal.
Na semana passada, em videoconferência com associações dos setores de varejo e serviços, o ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a falar na possibilidade de o governo perdoar dívidas de empréstimos tomados por empresas. Afif explicou que esse mecanismo poderá ser acionado se o Pronampe não der certo. Essa ferramenta cria uma espécie de conta corrente da empresa na Receita Federal. Ela obtém o empréstimo com recursos do Tesouro e vai quitando com o pagamento de tributos. “Quando atingir o montante [emprestado], zera a conta”, explicou. Se acionado, esse crédito poderá ser oferecido às microempresas e, talvez, para as de médio porte. Guedes também ouviu na reunião com associações pedidos de medidas específicas para determinados setores, como o de turismo, que será dos últimos a retomar sua atividade. Ou serviços de saúde e educação. “Não queremos fazer tratamento setorial”, afirmou Afif. “Na hora que começarmos a fazer isso, vai ter fila e uns levam, outros não.” Por isso, a intenção é adotar mecanismos universais. Como, por exemplo, as linhas que fazem parte do Pronampe.

Nenhum comentário:

Postar um comentário