segunda-feira, 22 de junho de 2020

Análise de Mídia 22/06

DOS JORNAIS DE HOJE: A imprensa continua sem saber exatamente como enquadrar Jair Bolsonaro. Essa dificuldade não é enfrentada somente pelos órgãos de imprensa. O recurso de apelas para a distorção da realidade em qualquer tema dá ao presidente da República uma boa margem para contra-atacar diante de qualquer crítica que ele sofra. Em função da pandemia e do caos que se instaurou no país, a margem argumentativa de Jair Bolsonaro diminuiu apesar das suas constantes tentativas de esvaziar as pressões que lhe são feitas. No momento, o presidente está acuado e espera qualquer possibilidade que venha a surgir para tentar criar um novo conflito cultural. A estratégia do “movimento bolsonarista” gera confusão e deixa diferentes parcelas da população (mesmo as formadas por seus apoiadores) perdidas com relação ao que está acontecendo – há desconfiança sobre a veracidade de tudo.
A Folha de S. Paulo destaca as medidas adotadas pelo governo que diminuem a transparência. O jornal também aborda a tentativa de aproximação do governo federal com integrantes do STF e a continua tentativa do presidente de colar sua imagem às Forças Armadas. Dessa vez, Bolsonaro transformou o velório de um militar em ato político. Já o caderno de economia mostra os problemas da economia brasileira e de que forma os brasileiros estão se comportando. A Folha ainda aborda a violência policial no estado de São Paulo e um pouquinho da situação nas periferias. A falta de informação sobre a realidade das periferias mostra como a prática jornalística está distante desses locais que abrigam grande parte da população.
O Estadão destaca a quantidade de trabalhadores que está afastada do trabalho em função da covid-19. Além disso, o jornal mostra a tentativa de aproximação do STF com as Forças Armadas e a preocupação dos militares da ativa com a participação no governo de Jair Bolsonaro. O Estadão também aborda o caso Queiroz e a força do bolsonarismo no YouTube.
 
CAPA – Manchete principal: *”Transparência do governo piora na gestão Bolsonaro”*
EDITORIAL DA FOLHA - *”Hora do saneamento”*: Finalmente parece avizinhar-se a aprovação do projeto de lei que moderniza a regulação dos serviços de saneamento básico. Depois de mais de dois anos de tramitação, a derradeira votação no Senado poderá ocorrer nesta semana. O parecer do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) mantém os dispositivos essenciais aprovados pela Câmara dos Deputados, que pretendem levar à universalização do fornecimento de água e da coleta de esgoto até 2033 —ou até 2040 em casos excepcionais. Estima-se que o novo marco regulatório vá abrir espaço para R$ 700 bilhões em novos investimentos nesse período. Nada menos que 100 milhões de brasileiros hoje expostos ao esgoto a céu aberto dependem desses investimentos, que se tornam ainda mais essenciais após a pandemia.
O ponto mais polêmico do texto, a abertura do mercado para empresas privadas, é na verdade um avanço de grandes proporções. No lugar dos chamados contratos de programa atuais, celebrados em sua maior parte pelas prefeituras com empresas estatais sem metas ou referências técnicas, surge o regime de concessão, com licitação. Apesar de o projeto permitir a extensão por até 30 anos dos contratos de programa atuais, desde que realizada até 2022, serão obrigatórios em qualquer caso a incorporação da meta de universalização e o atendimento dos critérios técnicos. Fica reduzido, assim, o risco de continuidade de maus serviços. Outra objeção importante é a de que municípios pobres poderão ficar desatendidos. A proposta busca resolver o problema ao garantir a competência dos estados para definir blocos regionais, de modo a assegurar a universalização. Famílias carentes, além disso, terão subsídios e até gratuidade na conexão à rede de esgoto. Os ganhos para o país serão significativos. A prestação de serviços por meio de concessão aumenta a segurança jurídica do setor, pois passam a ser definidos de forma clara todos os parâmetros técnicos e financeiros e as obrigações das concessionárias. O resultado esperado é a maior atração de dinheiro privado, assim como já ocorreu em outras áreas, como concessões rodoviárias e transmissão e geração de energia. A defesa do regime atual, que mantém dezenas de milhões sem esgoto, não se justifica. Decorre de preconceito ideológico ou do interesse em manter influência política em empresas estatais ineficientes. O país não pode mais aceitar conviver com carências vergonhosas de saneamento. Acesso a água e esgoto para todos é direito básico.
PAINEL - *”Oposição a grupos de extrema direita melhora imagem do STF no Congresso, também alvo de ataques”*: Os atritos com Jair Bolsonaro e especialmente com seus apoiadores de extrema direita têm funcionado como banho de loja para o STF na relação com o Congresso, onde os parlamentares também têm sofrido com ataques agressivos. Se em 2019 os ministros da corte foram alvos dos congressistas, que articularam três pedidos de CPI da Lava Toga, agora eles são vistos como último recurso na briga com grupos antidemocráticos. Senadores dizem que hoje não assinariam pedido de CPI. "Hoje é o mecanismo de preservação da democracia que nós temos funcionando. Mudou o contexto", explica o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Ele foi um dos idealizadores da CPI em 2019, quando dizia que o presidente do STF, Dias Toffoli, tentava intimidar parlamentares com o inquérito das fake news. O senador Álvaro Dias (Podemos-PR) argumenta no mesmo sentido. "Hoje, atacar o Supremo é dar força a grupos criminosos que tentam alvejar as instituições democráticas", afirma. Para o senador Alessandro Vieira (Cidadania-ES), que entregou requerimentos para abrir a CPI em 2019, não é bem assim. "Não queremos atingir o STF. A ideia é investigar possíveis infrações dos magistrados. É CPI técnica".
Major Olímpio (PSL-SP) concorda, mas diz que a CPI não tem futuro. "Pularam fora. Está morta. Os ataques ao STF são graves e desmobilizam os senadores. Além disso, tem a turma Tim Maia, só esperando os motivos para ir embora", afirma. "Vejo o movimento perdendo força, sim. Até arrisco dizer que não conseguiríamos as 27 assinaturas", diz o senador Plínio Valério (PSDB-AM). A razão? "Esse Vasco x Flamengo entre Judiciário e Executivo". Os pedidos de CPI tinham o objetivo de investigar eventuais irregularidades na atuação dos magistrados e o que chamam de "ativismo judicial", a interferência do Judiciário nos demais Poderes. À época, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) era o principal adversário da CPI. Hoje, dizem os parlamentares, é Davi Alcolumbre (DEM-AP) que tenta agradar o STF, já que apresentará à corte uma tese que poderá permitir sua recondução à presidência do Senado.
PAINEL - *”Ofensiva do centrão tenta mudar critérios técnicos para distribuição de R$ 10 bilhões contra a pandemia”*: Ofensiva do centrão travou acordo feito entre Eduardo Pazuello (Saúde) com municípios e estados sobre a distribuição dos R$ 10 bilhões da MP 969, destinados ao combate do coronavírus. O acerto de ministro e secretários havia definido critérios técnicos, como população e capacidade assistencial instalada. O centrão quer distribuição política. O tema foi tirado da pauta da Comissão Tripartite, na qual estão Pazuello e secretários, pouco antes de reunião na quinta (18).
PAINEL - *”Investigadores creem que contato na caderneta de Queiroz é de agente da PF conhecido dos Bolsonaros”*: Em caderneta de Fabrício Queiroz, encontrada em dezembro de 2019, investigadores acharam papel que dizia "Aroldinho federal" e "Aroldinho pode chegar até o Queiroz caso seja preço (sic)". Eles acreditam ser Aroldo Mendonça, agente da PF aposentado que é conhecido dos Bolsonaros. Nas redes sociais, Aroldo se descreve da seguinte forma: filho, pai, trabalhou com o pai, entrou na PF e hoje está com Bolsonaro. Assim como o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), é dono de franquia da loja de chocolates Kopenhagen. Aroldo afirma que não é amigo de Flávio, mas que fez campanha para ele e esteve com ele só em eventos políticos, em 2018, pois seria candidato a deputado pelo PSL --a exceção foi uma vez em que jogaram bola, diz. Ele acabou desistindo da candidatura. O diretório do PSL definiu o nome de Aroldo como candidato à prefeitura de Duque de Caxias em 2020, mas ele diz que não concorrerá. O agente diz ter estado pessoalmente com Queiroz só três vezes, na mesma época, quando trocaram números de telefone. As únicas mensagens que mandaram um ao outro, diz, foram sobre eventos de campanha, para saber onde estava Flávio e coisas do tipo. Afirma que votou em Flávio e em Jair Bolsonaro, mas que, caso tenham cometido irregularidades, que paguem, como qualquer um. "Se não nem tive contato com o tal Queiroz solto, imagine preso", argumenta. Sobre a loja de chocolates, diz ser "pura coincidência". "Mas, diante da citação, sugiro que seja apurado se há algum vínculo entre as franquias. Não quero que paire dúvidas sobre a minha vida ou de meus familiares", completa. Ele diz que nesta segunda (22), com seu advogado, vai se colocar à disposição da Justiça para fornecer qualquer informação que possa interessar à investigação: dados telefônicos, bancários, etc.. Anotações como a que se refere a "Aroldinho da PF" e outras similares levantaram a suspeita nos investigadores de que Queiroz poderia continuar a cometer delitos caso fosse custodiado no Batalhão Especial Prisional da Polícia Militar do Rio. Por isso, a Promotoria solicitou que fosse mandado para Bangu.
PAINEL - *”Delegado que não viu problema na evolução patrimonial de Flávio diz não ter relação com Bolsonaros”*: Em explicações ao Ministério da Justiça, o delegado da PF Erick Blatt chamou de absurda qualquer ilação de que tenha relações com a família Bolsonaro. Ele diz não ter havido ingerência de qualquer pessoa no inquérito eleitoral sobre Flávio Bolsonaro. Como mostrou o Painel, Blatt, na contramão das suspeitas do Ministério Público do Rio no caso da rachadinha, concluiu após apenas duas diligências que a evolução patrimonial de Flávio era compatível com sua renda. A PF pediu o inquérito de Blatt na investigação das acusações feitas por Sergio Moro a Bolsonaro. A polícia quer saber quais poderiam ser os interesses da família no Rio.
PAINEL - *”Organização que administra Cinemateca pediu ajuda a Pelé, que não quis se envolver”*
*”Gestão Bolsonaro acumula ao menos 13 medidas para reduzir transparência oficial”* - O governo do presidente Jair Bolsonaro acumula desde janeiro de 2019 ao menos 13 medidas para dificultar ou sonegar informações do país, segundo levantamento feito pela Folha. No período, o governo federal tentou mudar duas vezes a LAI (Lei de Acesso à Informação), esconder pesquisas da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) sobre drogas e tirar os dados da violência policial do anuário sobre direitos humanos. A última tentativa foi a de ocultar dados sobre a pandemia do novo coronavírus, que até este domingo (21) havia infectado 1.086.990 pessoas e deixado 50.659 mortos, segundo levantamento feito por consórcio de veículos de imprensa do qual a Folha faz parte. Em meio à pandemia, o Ministério da Saúde passou a atrasar a divulgação dos dados da doença. O boletim que era divulgado às 19h foi transferido para as 22h. Bolsonaro, a apoiadores, justificou a mudança. "Acabou matéria do Jornal Nacional [da TV Globo]", disse o presidente. A pasta também chegou a alterar a forma com que os dados da Covid-19 eram apresentados —sem os números acumulados de casos e mortes, apenas com atualizações diárias. Contudo, após reação da sociedade civil, do Congresso e do Judiciário, o governo recuou. Apesar das declarações do presidente, oficialmente o governo nega a tentativa de esconder as informações. Em sessão na Câmara, o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou que o objetivo era promover “mais transparência”. "Se não informarmos o número de óbitos por dia, o gestor não sabe o que está acontecendo em sua cidade e que medidas deve tomar. E você tem metade do mundo dizendo que queremos esconder óbitos. Pelo amor de Deus! Isso é impossível", afirmou. As mudanças propostas pelo Ministério da Saúde sobre os dados da Covid-19 colocaram novamente em xeque a transparência do governo federal —para entidades e especialistas, ela piorou desde a posse de Bolsonaro. Os dados sobre a divulgação da pandemia estão sendo analisados pela OKBR (Open Knowledge Brasil). A organização mostra que o governo federal está atrás de estados brasileiros na transparência dos dados públicos.
Apesar de ocupar a terceira posição no ranking, a gestão Bolsonaro perde para dez unidades da Federação que dividem os dois primeiros lugares na transparência da Covid-19. "O governo federal demorou muito para abrir os dados, alguns estados avançaram muito mais rápido. Vimos retrocessos e avanços, as melhorias aconteceram depois de muita demanda e pressão social", afirma Fernanda Campagnucci, diretora-executiva da OKBR. Procurado, o governo não se manifestou.​ Essa falta de transparência, segundo especialistas, é visível desde o início do governo. Em janeiro de 2019, um decreto assinado pelo vice-presidente, Hamilton Mourão, alterou regras de aplicação da LAI. A medida ampliava o grupo de agentes públicos autorizados a colocar informações públicas nos mais altos graus de sigilo: ultrassecreto e secreto. A tentativa só foi frustrada após o Congresso avisar ao Planalto que derrubaria a medida, causando o primeiro revés legislativo do presidente. "As ações administrativas do atual governo vêm minando a transparência. A tentativa de mudança de dispositivos da LAI por medidas provisórias é um exemplo claro. Há uma deterioração da transparência de forma ostensiva", diz Marina Iemini Atoji, gerente de Projetos da Transparência Brasil. Os casos se multiplicaram também na Esplanada. Em fevereiro de 2019, o Ministério da Justiça negou um pedido por informação sobre eventual encontro do então titular da pasta, Sergio Moro, com representantes de um fabricante de armas e munições sob o argumento de "direito à privacidade".
A própria CGU (Controladoria-Geral da União), órgão de controle do governo, impediu a divulgação de relatórios de monitoramento de redes sociais encomendados pela Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República). Em maio deste ano, a Casa Civil se negou a fornecer estudos e relatórios sobre hidroxicloroquina e cloroquina produzidos pelo CCOP (Centro de Coordenação das Operações do Comitê de Crise da Covid-19). A Presidência da República também se recusou a divulgar exames segundo os quais Bolsonaro teve exames com resultado negativo para o novo coronavírus. Eles se tornaram públicos após batalha judicial. O número de pedidos aceitos por LAI reduziu proporcionalmente em relação ao número de solicitações de 2012 a 2019. No primeiro ano, 84% dos pedidos foram aceitos, em 2019 a porcentagem foi de 72%. Em 2020, até o momento, o governo aceitou 67% dos pedidos. "Há uma piora bastante preocupante. Já não estava bom, disseram que ia melhorar [a divulgação], e piorou. Se você olhar os números por estatísticas, o quadro se mantém estável. Mas há uma piora significativa na qualidade das respostas. É possível perceber também o aumento da negativa do pedido de acesso sem uma base sólida de contestação", diz a representante da Transparência Brasil. Em março, o governo editou a MP 928 que restringia a LAI. Segundo o texto, durante a pandemia —período considerado de calamidade pública—, órgãos federais poderiam ignorar o prazo de 20 dias para dar respostas a pedidos feitos por meio da lei. Por unanimidade, o STF (Supremo Tribunal Federal) derrubou a suspensão do prazo, mas o governo não respeitou integralmente a decisão. Levantamento da Transparência Brasil mostra que órgãos federais negaram atendimento a pelo menos 24 pedidos de informação no intervalo de um mês, mesmo após a suspensão da MP. O governo também impôs sigilos a pareceres jurídicos emitidos por todos os ministérios e enviados para orientar a Presidência nos projetos aprovados no Congresso.
A justificativa dada pelo ministro da CGU, Wagner Rosário, foi que "o trabalho não pode ser interrompido para que seja realizada a resposta ao cidadão". "Nossas pesquisas têm apontado para uma certa resistência dos órgãos federais em garantir acesso às informações em que existe pouca dúvida de que são públicas", afirma Bernardo Schwaitzer, pesquisador do Programa de Transparência Pública da FGV. Além da falta de divulgação, houve a tentativa de desqualificação dos dados públicos por parte do governo federal. Bolsonaro e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, contestaram as informações do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) sobre desmatamento e queimadas no país. O então diretor do órgão, Ricardo Galvão, foi exonerado após defender a divulgação dos dados. "Há sempre um movimento de rechaçar a informação que apresenta uma perspectiva crítica, a administração sempre tenta esconder. Como temos uma sociedade muito atenta, esses retrocessos acabam sendo barrados pelo Legislativo, Judiciário", afirma Campagnucci, da OKBR. Ela acrescenta que existem diversas formas de acabar com a transparência. Entre elas cita a falta de divulgação dos dados e a redução de investimento para a área como ocorreu com o IBGE. O órgão anunciou corte no orçamento para a realização do Censo 2020. Isso deve gerar impacto sobre os dados produzidos pela pesquisa e a comparação com edições anteriores. "Se os dados não são divulgados, como contratações, nomeações, não há como identificar irregularidades, conflitos de interesse, nepotismo e corrupção de forma ampla", diz Guilherme France, coordenador de Pesquisa da Transparência Internacional.
+++ O texto apresenta uma leitura de conjunto importante, mas apenas constata. A reportagem poderia ser mais aguda ouvindo especialistas sobre qual o objetivo em diminuir a transparência. Além disso, historiadores poderiam dizer em quais outros períodos governos adotaram tais práticas.
*”Veja medidas de Bolsonaro que reduziram transparência no governo desde 2019”* - Ao menos 13 medidas tomadas pelo governo do presidente Jair Bolsonaro desde janeiro de 2019 sonegaram informações ou dificultaram o acesso a elas, segundo levantamento da Folha. No período, o governo federal tentou mudar duas vezes a LAI (Lei de Acesso à Informação), esconder pesquisas da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) sobre drogas e tirar os dados da violência policial do anuário sobre direitos humanos. A última movimentação foi para ocultar dados sobre a pandemia do novo coronavírus. Em meio à pandemia, o Ministério da Saúde passou a atrasar a divulgação dos dados da Covid-19 e alterou a forma de apresentação dos números. Para entidades e especialistas, a transparência do governo federal piorou desde a posse de Bolsonaro.
Alterações na LAI (jan.2019)
Um decreto alterou regras de aplicação da Lei de Acesso à Informação (LAI), ampliando o grupo de agentes públicos autorizados a colocar informações públicas nos mais altos graus de sigilo: ultrassecreto e secreto. A medida foi revogada após pressão da sociedade e risco de derrota no Congresso.
Extinção de conselhos civis (abr.2019)
Extinguiu colegiados federais (conselhos, comitês, grupos de trabalho, entre outros), reduzindo a participação social —e, consequentemente, a transparência. O próprio decreto é pouco transparente, pois não enumera os colegiados a serem extintos e tem redação dúbia.
Reforma da Previdência (abr.2019)
O Ministério da Economia decretou sigilo sobre estudos e pareceres técnicos que embasaram a PEC (proposta de emenda à Constituição) da reforma da Previdência. Após indicativo de derrubada do sigilo no Congresso, o governo abriu parte dos dados.
​Redução no IBGE (abr.2019)
O IBGE anunciou corte no orçamento para a realização do Censo 2020, o que geraria impacto sobre os dados produzidos pela pesquisa e a comparabilidade com os anos anteriores.
Pesquisa da Fiocruz sobre drogas (abr.2019)
O governo censurou um estudo da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) que mostrou não existir uma epidemia de uso de drogas no país. O então ministro da Cidadania, Osmar Terra, discordava do resultado da pesquisa. Três meses depois, após intensa pressão, o governo liberou os dados.
Proteção de Dados (jul.2019)
O presidente vetou trecho da lei que assegurava a proteção de dados dos autores de pedidos de acesso a informações. O texto garantia que a identidade do requerente não circularia por todos os órgãos e departamentos acionados para o envio da resposta.
Sigilo da lista de visitantes do Alvorada (ago.2019)
O governo classificou como "reservadas" as informações sobre o registro de visitantes dos palácios da Alvorada e do Jaburu. Esses dados ficarão sob sigilo por cinco anos.
Dados sobre desmatamento (ago.2019)
O presidente Bolsonaro e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, contestaram e desqualificaram dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) sobre desmatamento e queimadas. O então diretor do INPE, Ricardo Galvão, foi exonerado após defender as informações.
Número de desempregados (mar.2020)
O governo suspendeu temporariamente a divulgação dos dados de emprego, sob a justificativa de atraso na coleta e consolidação dos dados. Os números saíram apenas no fim de maio, mas há relatos de problemas nos microdados.
Suspensão da LAI por conta da pandemia (mai.2020)
Uma medida provisória suspendeu os prazos de atendimento a pedidos de informação determinados na Lei de Acesso a Informações e limitou a possibilidade de recurso contra negativas de atendimento. A medida foi suspensa após liminar do STF.
Dados da Covid-19 (jun.2020)
O Ministério da Saúde restringiu a divulgação de dados sobre o impacto do novo coronavírus, deixando de informar o total de mortes e de casos confirmados. O governo já vinha atrasando a divulgação de dados, dificultando o trabalho da imprensa. A medida gerou reação da sociedade civil, do Congresso e do Judiciário, o que levou o governo a recuar.
Violência policial (jun.2020)
O governo excluiu do relatório anual dos direitos humanos, o Disque Direitos Humanos, os indicadores de violência policial no Brasil. Segundo o Ministério da Mulher, da Família e Direitos Humanos, há inconsistência nos dados coletados.
Pareceres sigilosos (jun.2020)
Baseada em um procedimento não previsto na LAI e contrariando a si própria, a CGU (Controladoria Geral da União) adotou o entendimento de que pareceres jurídicos usados para embasar a sanção e vetos presidenciais a projetos de lei aprovados no Congresso são sigilosos.
*”Brasília tem Esplanada dividida entre protestos pró e contra Bolsonaro”* - Manifestantes contrários e pró-governo Jair Bolsonaro participaram neste domingo (21) de protestos na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. A concentração dos atos começou às 9h. Ambos os grupos saíram em passeata pela Esplanada em direção ao Congresso Nacional. Os manifestantes, separados pela Polícia Militar do Distrito Federal, ocuparam as duas pistas do Eixo Monumental. Os agentes de segurança fizeram um cordão de isolamento no canteiro central da via. No sábado (20), o governador Ibaneis Rocha (MDB) cogitou determinar o fechamento da Esplanada. A área, na região central de Brasília, no entanto, foi aberta para pedestres neste domingo, com restrição apenas para carros. Segundo a SSP (Secretaria de Segurança Pública), houve restrição a eventos passados, mas os atos neste domingo foram liberados. O acesso à Praça dos Três Poderes, onde fica o Palácio do Planalto, permaneceu totalmente fechado. Houve princípio de confusão quando um grupo de bolsonaristas forçou as grades para que o caminho fosse aberto. De acordo com a SSP, dois pequenos incidentes foram registrados e rapidamente solucionados —a pasta não infomou quais. O órgão também não informou o efetivo de policiais militares "por questões de segurança". Os apoiadores do presidente partiram da frente da Catedral. Os manifestantes, vestidos em sua maioria de verde e amarelo, portavam faixas de apoio a Bolsonaro. "Supremo é o povo" e "intervenção militar já" estavam entre as mensagens de faixas e cartazes. Houve frases com críticas à Câmara, ao Senado e ao STF (Supremo Tribunal Federal). Faixas foram estendidas na pista em apoio ao presidente. Do alto de caminhões de som, organizadores gritavam palavras de ordem e faziam orações. Uma cruz de madeira com a bandeira do Brasil foi carregada pela avenida. Apesar das orientações das autoridades sanitárias em defesa do distanciamento social para evitar a transmissão do novo coronavírus, houve pontos de aglomeração. A maioria dos manifestantes usava máscara.
O protesto contra o governo partiu do lado oposto do Eixo Monumental. O grupo, com presença mais baixa do que o ato bolsonarista, saiu da altura do Teatro Nacional, na região central da capital federal, também em direção ao Congresso. Os manifestantes, em sua maioria com roupas pretas e vermelhas, portavam faixas e cartazes contra o fascismo e o racismo e em defesa da democracia. O grupo estendeu uma faixa na pista com a mensagem de "Fora, Bolsonaro —a sua gripezinha já matou 50 mil". Outra faixa dizia "não ao congelamento salarial". Em acordo com o Congresso, o governo travou reajustes de servidores públicos até o fim de 2021. Houve aglomeração entre os participantes. A maioria deles também usava máscara. Os dois atos chegaram ao Congresso por volta das 12h. Neste domingo, Bolsonaro viajou pela manhã para o Rio de Janeiro. A assessoria de imprensa do Palácio do Planalto afirmou que ele tinha agenda na Brigada de Infantaria Paraquedista. Bolsonaro participou pela manhã da cerimônia fúnebre de um soldado da Brigada de Infantaria Paraquedista. Ele voltou a Brasília no início da tarde. Ainda pela manhã, a Polícia Civil do DF cumpriu um mandado de busca e apreensão em uma chácara usada como ponto de apoio do grupo bolsonarista "300 do Brasil". A ação é parte de investigação sobre a prática de supostos crimes de milícia privada, ameaças e porte ilegal de armas, segundo informou a assessoria de imprensa da polícia.
A operação foi feita pela Coordenação Especial de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado do órgão no início da manhã e contou com a participação de 30 policiais. Na casa, na região de Arniqueiras, foram apreendidos fogos de artifício, telefones celulares, um facão, cartazes, discursos, um cofre e outros materiais usados em manifestações. Ninguém foi preso. O "300 do Brasil" também é investigado pela Polícia Federal. O grupo defende o governo Bolsonaro e prega intervenção militar contra o Supremo e o Congresso. Eles acampavam na Esplanada dos Ministérios, mas foram retirados pelo governo do DF. Na noite de sábado passado (13), integrantes do grupo atacaram a sede do STF com fogos de artifício. A pedido do presidente do tribunal, ministro Dias Toffoli, a PGR (Procuradoria-Geral da República) abriu investigação para a responsabilização dos autores. Na segunda-feira (15), no âmbito do inquérito sobre protestos antidemocráticos, a ativista Sara Giromini, conhecida como Sara Winter, que faz parte do grupo, foi presa após operação da PF.​
*”Sinal de trégua de Bolsonaro é recebido com frieza por membros do Supremo”* - A tentativa de trégua ofertada pelo governo Jair Bolsonaro ao STF (Supremo Tribunal Federal) foi recebida com frieza e ceticismo pela corte. Na sexta-feira (19), três ministros da área jurídica foram ao encontro de Alexandre de Moraes, relator de dois inquéritos que tiram o sono do Planalto e alvo constante da militância radical bolsonarista. Um deles é o das fake news, que alimenta apuração sobre o mesmo tema que poderá resultar no julgamento de cassação da chapa presidencial. Outro, o dos atos antidemocráticos que apoiam o presidente. Houve dois erros por parte da comitiva enviada a São Paulo, formada pelos ministros André Mendonça (Justiça), Jorge de Oliveira (Secretaria-Geral) e José Levi do Amaral (Advocacia-Geral da União).
Primeiro, na avaliação de ministros da corte, eles deveriam ter procurado o presidente do Supremo, Dias Toffoli, se a intenção era a de uma trégua institucional. Ao falar com Moraes, eles se comportaram como advogados de defesa do presidente, o que causou contrariedade no presidente do Supremo. O segundo equívoco era de origem: a troika não tinha como garantir que os ataques por parte do presidente e, principalmente, por seus aliados, teria como de fato acabar. Com tudo isso, o encontro seguiu com cordialidade e promessas de tentativa de tranquilização de ânimos, sempre em termos genéricos, mas só. Segundo a Folha ouviu de membros do governo, os ministros tiveram a impressão de que Moraes ouviu com indiferença a proposta de apaziguamento do trio. A questão central já não é mais os ataques, físicos até, contra o Supremo. Isso, para membros do tribunal, já está contemplado pelas investigações e prisões recentes. O limite do conflito institucional já havia sido ultrapassado, e, para observadores, não há acomodação possível. Pode haver descobertas de ligação de membros do Executivo com a estrutura dos atos antidemocráticos e a propagação de fake news.
O celular apreendido com um dos autores do ataque com fogos de artifício ao Supremo pode revelar ligações comprometedoras. A prisão de Fabrício Queiroz, o ex-faz-tudo do clã Bolsonaro, consolida esse cenário. Embora o Supremo nada tenha a ver com a apuração do Ministério Público do Rio, o caso aperta o torniquete judicial sobre o presidente. Segundo pesquisas qualitativas nas mãos de adversários de Bolsonaro, cerca de metade dos 30% que apoiam o presidente mudariam de ideia se houver corrupção envolvendo sua família. Se o cálculo estiver certo, isso derrubaria o apoio a Bolsonaro para o nível considerado perigoso para a abertura de processos de impeachment. Na lógica desses opositores, isso poderá acontecer, alimentando a tempestade perfeita em que o governo está enredado: os mais de 50 mil mortos da Covid-19, a crise econômica à espreita e a balbúrdia política. Com isso, Bolsonaro teria até agosto ou setembro, quando atores políticos estimam que o pior da pandemia terá passado, para reagir. Poderá então haver um incremento de pressão nas ruas, que ainda registram protestos tímidos de lado a lado, como neste domingo, e Brasília passará a funcionar.
Até aqui, Bolsonaro agiu de forma convencional, atraindo apoio de votos do centrão e outros com cargos. Segundo líderes do grupo, não parece algo que resista a revelações graves contra a família presidencial. O tempo corre contra o presidente, que tem se mostrado abatido segundo aliados. Não só ele: a apatia de Paulo Guedes, o outrora superpoderoso ministro da Economia, tem chamado a atenção na Esplanada. A atuação errática dos últimos dias se refletiu na operação para tirar Abraham Weintraub do Brasil com um passaporte diplomático. Mesmo que o ex-ministro da Educação não estivesse sob ameaça de prisão, a impressão foi a de uma fuga orquestrada. Restam enfim os militares do governo, incomodados com a associação a um presidente questionado eticamente. Seus passos estão sendo escrutinados por todo o mundo político neste momento.
+++ A pandemia acabou emparedando Jair Bolsonaro porque todos os veículos de comunicação e as plataformas na internet, até mesmo os influenciadores digitais, passaram a abordar a epidemia, as mortes e algo sobre política. Desta forma, ficou muito mais difícil para Jair Bolsonaro distorcer a realidade e tergiversar. Embora o presidente venha conseguindo determinar os debates (economia X saúde e governo federal X governadores), a realidade trágica do país o impede de criar ilusões que fragmentem a opinião pública.
*”Fux será relator de processo que pode reabrir investigação da facada em Bolsonaro”*
*”Operação que prendeu Queiroz abre novas lacunas sobre 'rachadinha' de Flávio Bolsonaro”*
*”Advogado que abrigou Queiroz diz que deixará defesa de Flávio Bolsonaro”*
*”Em velório de paraquedista, Bolsonaro diz que missão das Forças Armadas é defender a democracia”* - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse neste domingo (21) que a missão das Forças Armadas é defender a democracia. Ele foi ao Rio de Janeiro para o velório de um jovem paraquedista que morreu em um acidente durante treinamento. “A nossa missão, a missão das Forças Armadas, é defender a pátria, é defender a democracia. E como dizia [aquele] que se tornou um grande amigo, o ex-ministro Leônidas Pires Gonçalves [ministro do Exército no governo de José Sarney, morto em 2015], nós estamos a serviço da vontade da população brasileira”, discursou. Ele desembarcou no Rio pela manhã e participou de toda a cerimônia em homenagem ao militar, realizada no ginásio da 26ª Brigada de Infantaria Paraquedista, na zona oeste carioca. Por volta das 11h30, quando o caixão deixou o local, voltou diretamente para Brasília, sem falar com a imprensa. O evento contou com a banda do Exército e estava bastante cheio, apesar da pandemia do novo coronavírus. Compareceram muitos militares e a família e amigos do soldado, que chegaram em um ônibus. Quase todos estavam de máscara, incluindo o presidente. No vídeo do discurso, publicado por Bolsonaro nas redes sociais, ele tenta confortar os pais do jovem, diz que “todos nós, assim como o soldado Chaves, devemos nos preparar se assim um dia a nação o pedir” e parece se emocionar ao final, ao prestar continência à vítima. “Ele aqui, ao buscar vencer um obstáculo, se preparava, treinava, se empenhava, sofria, mas tinha um objetivo: formar-se e ser um militar da nossa gloriosa Brigada de Infantaria Paraquedista, cujo objetivo, com as demais forças, Marinha e Aeronáutica, era defender a sua pátria e acima de tudo dar a sua vida pela nossa liberdade”, afirmou.
Segundo o Comando Militar do Leste (CML), o soldado Pedro Lucas Ferreira Chaves, de 19 anos, morreu na manhã de sábado (20) depois de sofrer um acidente durante um lançamento de paraquedistas na Base Aérea dos Afonsos, próximo ao local do velório. O militar ficou preso à aeronave durante o salto. Foram feitos os procedimentos de emergência, mas depois disso o paraquedas não abriu corretamente e Chaves sofreu ferimentos graves ao chegar no solo. Vídeos gravados por moradores da região mostram o momento da queda. O soldado recebeu os primeiros socorros imediatamente pela equipe médica local e foi levado ao Hospital Geral do Rio de Janeiro, na Vila Militar, mas não resistiu. Foi instaurado um Inquérito Policial Militar para apurar as circunstâncias do acidente. “Está sendo prestado todo o apoio psicológico e religioso à família do militar. Os integrantes do Comando Militar do Leste e da Brigada de Infantaria Pára-quedista sentem-se consternados pela perda e rogam a Deus pelo conforto da família enlutada”, diz a nota do CML. Bolsonaro é capitão do Exército da reserva e já integrou a Brigada de Infantaria Paraquedista, entre o final da década de 1970 e início da década de 1980. Ele também sofreu um acidente de paraquedas naquela época. Segundo o livro "Bolsonaro: o Homem que Peitou o Exército e Desafia a Democracia”, de Clóvis Saint-Clair, ele perdeu o controle do equipamento ao passar por uma ventania durante um curso de salto livre e despencou de uma altura de oito metros na Avenida das Américas, uma das principais vias da Barra da Tijuca. Quebrou os dois braços e os tornozelos.
+++ Jair Bolsonaro se enrola na bandeira do Brasil como símbolo de patriotismo. O presidente cria uma simulação de patriotismo que é baseada no protocolo militar e, por isso, é bem aceita pelas Forças Armadas que permitem que Bolsonaro faça uso dos militares para se beneficiar politicamente. O patriotismo defendido pelo presidente não condiz com o todo da sua agenda política que “desprotege” e “precariza” o país e a vida dos brasileiros. As contradições nesse sentido precisam ser apontadas.
*”Polícia faz buscas em chácara de apoio de grupo bolsonarista em Brasília”* - A Polícia Civil do Distrito Federal cumpriu, na manhã deste domingo (21), um mandado de busca e apreensão em chácara usada como ponto de apoio do grupo armado de extrema direita 300 do Brasil. A ação é parte de investigação sobre a prática de supostos crimes de milícia privada, ameaça e porte ilegal de armas, segundo informou a assessoria de imprensa da Polícia Civil. A operação foi feita pela Coordenação Especial de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado do órgão no início da manhã e contou com a participação de 30 policiais. Também são investigados os grupos Patriotas e QG Rural. Na casa, na região de Arniqueiras, foram apreendidos fogos de artifício, telefones celulares, um facão, cartazes, discursos, um cofre e outros materiais usados em manifestações. Ninguém foi preso. O 300 do Brasil também é investigado pela Polícia Federal. O grupo defende o governo Jair Bolsonaro e prega intervenção militar contra o Supremo Tribunal Federal e o Congresso. Eles acampavam na Esplanada dos Ministérios, mas foram retirados pelo Governo do Distrito Federal. Na noite do último dia 13, integrantes do grupo atacaram o prédio do STF em Brasília com fogos de artifício. A pedido do presidente do tribunal, ministro Dias Toffoli, a Procuradoria-Geral da República abriu investigação para a responsabilização dos autores. Na segunda (15), no âmbito do inquérito sobre protestos antidemocráticos, a ativista Sara Giromini, conhecida como Sara Winter, que faz parte do grupo, foi presa após operação da PF.
CELSO ROCHA DE BARROS - *”A instabilidade atual também é obra do centrão”*
*”Único impeachment de governador até hoje no país teve batalha sangrenta em plenário”*
*”Funcionários com cargo de supervisor comandam apenas uma pessoa no TJ-SP”*
*”Prestes a assumir presidência da UE, Merkel faz de canto do cisne grande desfecho”*
NELSON DE SÁ - *”Xi e Bolsonaro compram cada vez mais do candidato Trump”*
*”Weintraub causa 'indignação' ao sair às pressas para os EUA, diz NYT”*
MATHIAS ALENCASTRO - *”Jair Bolsonaro é um Viktor Orbán da série B”*
*”Cautela dos mais ricos freia saques da poupança e indica recuperação lenta”* - O saldo recorde da poupança registrado em maio –R$ 921 bilhões– resulta não só do aumento do volume de depósitos, fruto do auxílio emergencial, mas também de uma queda significativa das retiradas. A queda nos resgates à primeira vista é contraintuitiva, considerando a alta do desemprego e as reduções salariais, fatores que deveriam levar as famílias a usar mais suas reservas. No entanto, o que parece estar ocorrendo é o movimento contrário, alimentado por uma atitude precaucionista entre as classes média e alta diante de um quadro de incerteza e volatilidade, afirmam economistas. O dado reforça a avaliação de que o impacto econômico da pandemia está sendo sentido de forma heterogênea por famílias de maior e menor renda, o que pode agravar a desigualdade social. Em março, quando a pandemia estourou no Brasil, o volume sacado da aplicação foi R$ 209,7 bilhões –valor 5,8% superior ao registrado em fevereiro e 14,4% maior que o observado no mesmo período do ano passado. Apesar do agravamento causado pela crise do novo coronavírus desde então, o montante resgatado em abril caiu 11,8% em relação a março, para R$ 184,9 bilhões. O número é inferior mesmo ao observado em abril do ano passado (-8,2%), meses antes do início da pandemia. Em maio ocorre uma recuperação parcial do volume de saques, que volta ao mesmo patamar de fevereiro, mas o montante total permanece inferior na comparação anual (-3%). Há quatro vetores principais em ação que explicam esse resultado, um no sentido de aumentar os saques e três no de reduzir, analisa Martin Iglesias, especialista em investimentos do Itaú Unibanco. Incentiva o aumento dos resgates a perda de renda das famílias, que se viram obrigadas a usar suas reservas. A pandemia levou a uma queda recorde de postos de trabalho –foram 4,9 milhões de vagas perdidas no trimestre encerrado em abril.
Por outro lado, houve também uma redução do consumo, um reordenamento da prioridade dos resgates entre diferentes aplicações e uma redução do ritmo de migração da poupança para outros investimentos, afirma Iglesias. No primeiro trimestre, o consumo das famílias caiu 2% em relação aos três meses anteriores, pior resultado desde 2001, segundo dados do IBGE. O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) projeta um tombo de 11,2% no indicador até o fim do ano. Já o reordenamento das prioridades de investimento responde a um comportamento de aversão ao risco. "Nós passamos por uma volatilidade muito forte no mercado. Nesse cenário, algumas pessoas optaram por resgatar os ativos de maior risco em vez da poupança", diz Iglesias. Esse comportamento explica também o terceiro vetor: em vez de sair da poupança em busca de investimentos com maior retorno, como fundos multimercado –movimento que vinha crescendo nos últimos anos--, os investidores preferiram se manter numa aplicação de menor risco, ainda que de rentabilidade menor. Outro fator que ajuda a entender a preferência pela poupança em detrimento de outras aplicações de renda fixa é a vantagem de tributação –os rendimentos da aplicação são isentos de Imposto de Renda, aponta Ricardo Barboza, professor colaborador do Coppead (UFRJ) que vem estudando o impacto da incerteza na economia brasileira no período recente. Esse quadro não é uma exclusividade brasileira: foi visto em escala internacional com o aumento da demanda por títulos do Tesouro americano. "É como se o mercado de investimento para pessoas físicas tivesse um componente contracíclico. Quando as coisas ficam mais difíceis, aquele que pode, cuja renda não caiu tanto ou não caiu, tende a segurar seus gastos e aumentar as aplicações", afirma o economista do Itaú. Já José Francisco de Lima Gonçalves, economista do Banco Fator, levanta a hipótese de parte dos beneficiários do auxílio emergencial de R$ 600 não estar resgatando o dinheiro. Seriam pessoas com condições de se manter com outras fontes, preferindo manter o auxílio na poupança por cautela. "Quem tem renda média para cima está atrás de rendimento, não de liquidez. Então quem vai para a poupança é quem não faz aplicações mais sofisticadas", afirma. Claudio Considera, do Ibre (FGV), vai na mesma linha –para ele, a queda nos resgates pode ser resultado da cautela dos beneficiários do auxílio. "Poupança é lugar de guardar dinheiro, não é de quem procura rentabilidade."
A evolução do nível de preços nos últimos meses, no entanto, aponta que a demanda segue em alta entre as classes mais baixas, enquanto as mais altas estão freando seu consumo. De acordo com o Ipea, houve uma deflação (queda dos preços) de 0,45% na cesta de consumo das faixas de renda mais elevadas no acumulado de janeiro a maio. Já entre as faixas de renda mais baixas, ocorreu o inverso: alta de 0,45% nos preços, puxada pela demanda em alta por alimentos, principal componente da cesta de consumo da base da pirâmide. "Isso significa que o salário real de quem ganha pouco está diminuindo e o de quem ganha muito está aumentando. Quem consome mais está perdendo renda, quem tem propensão menor ao consumo, aumentando. Em termos agregados isso pode representar um entrave para a recuperação, na medida em que temos dificuldade no nosso melhor motor, que é o consumo entre as camadas de renda mais baixa", diz Barboza. Débora Freire, professora de economia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), que tem pesquisado o impacto do programa de renda emergencial, destaca que a população que está recebendo o auxílio na poupança está sacando. "São pessoas que consomem a maior parte da renda e não têm reserva para poupar", diz. A economista aponta que as famílias da base tendem a sofrer um impacto na renda em cenários recessivos 20% maior do que a média da população.
As implicações macroeconômicas das diferenças de propensão ao consumo e capacidade de poupança são um dos principais argumentos dos defensores da criação de uma renda básica universal em caráter permanente. Uma das ideias para financiar o auxílio é elevar a tributação sobre as rendas mais elevadas. "O que podemos dizer a priori é que o impacto dessa tributação na economia é positivo porque você vai transferir renda de uma classe que consome uma menor parte da sua renda para uma, mais ampla, que tende a consumir uma parte maior", diz Freire.
+++ O fato de não haver nenhuma voz que faça uma leitura política do sistema significa que as visões apresentadas na reportagem sejam exclusivamente técnicas? Óbvio que não. As visões apresentadas são uma leitura do sistema socioeconômico e este não pode estar dissociado de um entendimento político. Portanto, o que há é apenas a falta de pluralidade de discursos.
PAINEL S.A. - *”Inadimplência da pessoa física deve crescer em série nos próximos meses”*: A taxa de inadimplência da pessoa física deve deve crescer nos próximos meses, segundo projeções do instituto de varejo Ibevar, que trabalha com estimativa de avanço de 5,79% em junho, 5,96% em julho e 6,09% em agosto, na comparação com os mesmos períodos de 2019.
*”Aplicativos de encontro crescem no isolamento, diz executiva do Tinder”*
*”Cenário externo ofusca crise política brasileira e anima mercado, diz presidente de banco”*
*”Com mala higienizada e tapioca embalada no café do hotel, turismo volta a se mexer”*
*”Empresa que criou tecnologia para SP na pandemia diz que Brasil precisa disponibilizar dados”*
*”Folha tira dúvidas sobre a declaração do IR”*
*”Crise leva 20 mil lojas a fecharem as portas na capital”* - Aproximadamente 20 mil lojas encerraram as atividades na capital paulista desde março, quando começou o distanciamento social por causa da pandemia de coronavírus. O número representa 10% do total de estabelecimentos comerciais na cidade. A estimativa é do economista Marcel Solimeo, da ACSP (Associação Comercial de São Paulo). Apesar dos dados elevados, a perspectiva é de que mais lojas continuem fechando nos próximos meses. “Nós ainda não saímos da crise. O fato de terem permitido uma abertura parcial do comércio é um avanço, mas longe de ter resolvido a questão. Um problema era a loja estar proibida de abrir. O outro, que estamos vivendo agora, é o da descapitalização do consumidor, que perdeu renda”, comenta Solimeo. A FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), estima que, apenas na capital, o comércio perdeu quase R$ 17 bilhões entre março e o dia 9 de junho, véspera da reabertura gradual do setor na cidade. Trata-se de um prejuízo de aproximadamente R$ 220 milhões ao dia. De acordo com Guilherme Dietze, assessor econômico da federação, os tipos de lojas que mais sofrem com a crise são aquelas que trabalham com itens que não são considerados como de primeira necessidade. Entram nessa categoria, por exemplo, os ramos de vestuário e calçados. Isso ocorre porque, em situações de baixa na economia, as pessoas dão prioridade a produtos essenciais, como de alimentação e farmácia. "Aqui também entra uma característica importante da quarentena. As pessoas que têm ficado em casa estão com menos necessidade de comprar roupas para sair ou para trabalhar", explica Dietze. Isso faz a demanda do segmento esfriar ainda mais, segundo ele.
Um dos afetados pela diminuição na procura por itens de vestuário foi o comerciante Ivan Zegales Laura, 38 anos. A família dele, que veio da Bolívia na década de 1980, abriu em 2002 uma loja de roupas femininas no Bom Retiro. No ano passado, inaugurou uma filial no mesmo bairro. Porém, a empresa, que chegou a ter 15 funcionários, foi atingida fortemente pela crise, o que o fez decidir pelo fechamento dos dois pontos comerciais. "Tivemos uma queda de 90% nas vendas desde março. A situação só não foi pior porque atendemos alguns clientes pelo WhatsApp", lamenta. Na opinião de Zegales, que também é formado em Economia, a situação da loja dele foi ainda mais difícil por se tratar de um comércio atacadista. "Meus clientes também não estão vendendo e deixam de comprar de nós, que ficamos endividados. É uma situação em cadeia", analisa. Zegales considera que, se o poder público tivesse adotado medidas mais restritivas no início da pandemia, como o lockdown, a situação do comércio poderia estar melhor hoje. "A prorrogação da quarentena a cada 15 dias é muito ruim para nós, pois não conseguimos nos planejar." Quem também foi afetado pela crise foi Rodrigo Jacopetti, 24. Ao lado de mais dois sócios, ele tinha uma hamburgueria no bairro de Perdizes (zona oeste), perto do Allianz Parque. "O negócio vinha andando, mas a gente dependia muito do estádio", comenta. Com a quarentena, grandes eventos, como shows e atividades esportivas, foram proibidos, o que comprometeu a renda da lanchonete. Jacopetti conta que chegou a pensar em manter a casa funcionando apenas com delivery, mas que, após estudos, os sócios chegaram à conclusão de que a opção não era viável, já que o fluxo de caixa não seria suficiente.
Dono de banca há quase 50 anos luta para se manter
A família do comerciante Nelson Damasceno, 80 anos, é dona de uma banca de jornais na região do Brooklin (zona sul) desde 1952. Apesar de ser bastante conhecido na região, ele está com dificuldades para manter o negócio. De março para cá, durante o período da pandemia, a banca viu sua receita cair cerca de 70%. "Nas semanas em que fiquei proibido de abrir, tive que me virar com o dinheiro da aposentadoria", diz Damasceno, que trabalha sozinho no comércio. "Todo mundo teve queda no faturamento. O que não é alimento praticamente parou", lamenta. A situação de Damasceno viralizou nas redes sociais depois que um perfil no Instagram publicou a história do idoso e pediu para que as pessoas da região comprassem os produtos na banca dele. Na postagem, é feito um pedido para que os consumidores apoiem pequenos comerciantes.
Cerca de 70 mil trabalhadores foram demitidos, diz sindicato
A crise provocada pelos efeitos do novo coronavírus já provocou a demissão de aproximadamente 70 mil trabalhadores só na capital paulista, segundo o presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, Ricardo Patah. A categoria tem aproximadamente 500 mil pessoas na cidade. Patah informa que cerca de 300 mil comerciários estão com jornadas e salários reduzidos, enquanto outros 30 mil tiveram os contratos de trabalho suspensos. Em torno de 50 mil funcionários de áreas administrativas das lojas foram colocados em home office. Os efeitos da crise podem ser observados por quem passa pelas ruas do Brás e do Bom Retiro, bairros conhecidos pela grande quantidade de lojas de roupas, principalmente por atacado. Nessas duas regiões, diversas lojas estão fechadas, com placas de "vende-se", "aluga-se" ou "passa-se o ponto". Apenas na rua José Paulino, no Bom Retiro, foram vistas cerca de 50 placas desse tipo, contando as que foram colocadas em lojas dentro de galerias comerciais.
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*”PM de SP sofre 'apagão' de comando em meio a casos de violência policial”* - As recorrentes casos de violência envolvendo policiais militares de São Paulo têm ligação direta, segundo especialistas ouvidos pela Folha, com a distribuição do efetivo que provocou uma espécie de apagão no comando operacional na corporação paulista, com déficit de tenentes e sargentos. Das 2.961 vagas para os tenentes existentes na corporação, há um déficit de 450 cargos (15%), cerca de duas vezes a capacidade de formação anual da academia do Barro Branco, a escola de oficiais da Polícia Militar paulista. Já com relação aos sargentos, das 7.483 vagas destinadas às 2ª e 3ª classes, 2.196 (29,3%) não estão ocupadas, segundo dados do governo. As funções de sargento e tenente são as duas mais importantes instâncias de fiscalização do policiamento de rua, já que esses são os comandantes diretos das equipes e os responsáveis pela cobrança do cumprimento de normas. Sem fiscalização presente, segundo os especialistas, aumentam as chances dos chamados desvios de conduta. “Está acontecendo um grave fato na Polícia Militar. Ela não está tendo fiscalização, ela não está tendo comando. As ocorrências evidenciam isso”, afirma o juiz Ronaldo João Roth, do TJM (Tribunal de Justiça Militar) de São Paulo, ex-oficial da PM paulista e um dos magistrados mais cultuados entre os próprios integrantes da corporação.
“Se você não tem tenentes suficientes, que coloque, então, os tenentes que estão nos quartéis para trabalhar na rua. O serviço administrativo deve ser esvaziado da presença de oficiais. Basta lembrar da Operação Ubirajara. A corregedoria comprovou com escutas telefônicas os desvios de condutas de policiais que o comando não detectou.” A operação mencionada pelo juiz foi uma investigação da Corregedoria da PM de 2018 que levou à condenação de 42 policiais militares de um único batalhão da capital, envolvidos com o crime organizado. Atualmente, cerca de 300 policiais militares são investigados por suspeitas de envolvimento com contrabando. Outro especialista que aponta ligação direta entre a distribuição de efetivo e os casos de violência policial é o coronel da reserva Glauco Carvalho, ex-comandante da PM na capital e doutor em ciência política pela USP. Para ele, os casos são fruto de uma engenharia que diluiu a força policial nas ruas e levou os oficiais para dentro de quartéis. Segundo Carvalho, isso ocorreu por uma soma de fatores, incluindo o congelamento do efetivo da Polícia Militar, que é praticamente o mesmo nos últimos 20 anos apesar do crescimento da população de mais de 20%.
Outro ingrediente para o cenário atual foi a ampliação do número de batalhões pelo estado, apesar do efetivo congelado. Os batalhões são estruturas de comando que demandam oficiais para comandar seções administrativas. A corporação tem 102 batalhões espalhados pelo estado. No final dos anos 1990, segundo integrantes da polícia, o número não chegava a 60. Em 2012, segundo informações enviadas ao TCE (Tribunal de Contas do Estado) pela PM, a corporação tinha um efetivo de 84.962 policiais. Desse total, 23.788 estavam no serviço administrativo. A falta de efetivo, em especial nas regiões periféricas na capital, deixa o policial fragilizado porque há um número insuficiente de policiais para apoiá-lo em caso de ocorrências de maior gravidade. “O policial hoje se sente complemente isolado e abandonado no serviço operacional. A prática da violência e das execuções extrajudiciais, não raramente, são uma questão de sobrevivência do policial. Essa é uma hipótese. Não raramente ele e sua família são ameaçados. Não tem a quem recorrer. Não tem suporte de efetivo operacional”, diz Para Carvalho, há uma necessidade de redistribuição de efetivos na polícia, com a possível eliminação da instância de batalhão e a permanência apenas dos comandos regionais maiores, os CPAs (Comando de Policiamento de Área) e as companhias. Carvalho também aponta a necessidade de uma redistribuição mais justa do efetivo entre as regiões mais nobres e periféricas. Ele cita como o exemplo a diferença entre Moema, zona sul, e Guaianazes, na zona leste. A primeira tinha um policial para cada grupo de 280 habitantes, enquanto a segunda tem um policial para 1.600 pessoas.
Para a socióloga Viviane de Oliveira Cubas, do NEV (Núcleo de Estudo da Violência) da USP, a falta de comandantes não é suficiente para explicar os casos de violência policial e nos faz questionar sobre qual polícia temos nas ruas. “Quando você vê uma pessoa caída no chão e três ou quatro policiais em cima dela dando cacetada, isso não é questão de treinamento. Que polícia é essa? Talvez você possa até pensar que a presença de um tenente ou de um sargento próximo possa evitar isso, mas e quando ele não estiver?” Essa fiscalização constante, ainda segundo Cubas, não seria necessária se tivéssemos policiais que se vigiassem, com freios morais próprios, como se espera de policiais. A socióloga também defende pesquisas para entender como esses policiais se enxergam como profissionais. “Há uma tendência de individualizar o problema , mas pela frequência e pela recorrência desses casos, não é isso.” “O impacto dos casos de violência policial é negativo não só para a população, que passa a olhar o policial com outros olhos, mas também para o bom policial. Muitos deles têm nos dito que está difícil vestir a farda porque eles ficam com vergonha. É legítimo que sintam isso”, diz ela.
OUTRO LADO
A Secretaria da Segurança de São Paulo informou que a gestão João Doria (PSDB) já investiu mais de R$ 400 milhões para modernizar a estrutura policial, melhorar as condições de trabalho dos agentes de segurança e reforçar o efetivo policial para ampliar a capacidade de ação das polícias. “Quase 6.000 novos agentes foram formados e incorporados às diversas áreas de atuação policial. Outras 6.000 vagas serão preenchidas por concursos em andamento e mais 8.400 contratações já foram autorizadas pelo governador”, diz a nota. “Excessos cometidos por alguns policiais em serviço não refletem a realidade da atuação policial em São Paulo e não devem ser analisados como padrão das instituições de segurança no estado.” Ainda segundo o governo paulista, a Polícia Militar mantém atenção especial ao sistema de fiscalização da conduta dos policiais em todos os níveis hierárquicos, “inclusive com a aplicação de ferramentas de tecnologia e inteligência para o registro de atividades operacionais”. “O histórico da Polícia Militar mostra que a instituição é implacável contra desvios de conduta e não tem compromisso com o erro. Desde janeiro de 2019, 220 policiais militares foram excluídos por violar os princípios e valores da instituição. A PM conta, ainda, com a Corregedoria, órgão responsável pelo Sistema de Justiça e Disciplina internos”, diz a nota. A Secretaria da Segurança informou ainda que há uma formação humanística e o processo de treinamento continuado, com reforço doutrinário e prático nos procedimentos operacionais e legislação, além do forte Sistema de Saúde Mental, que apoia, monitora e acompanha os policiais militares.​
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*”Maioria dos estados não divulga dados sobre cor de vítimas da Covid-19”* - Apenas 8 das 27 unidades da federação divulgam dados sobre a cor dos mortos e de doentes com Covid-19. A conclusão é de um levantamento feito pelo consórcio de veículos de imprensa que avaliou a transparência na divulgação dos números da doença pelas secretarias estaduais de Saúde. Foram avaliados pontos como forma de divulgação (em portais e em redes sociais, por exemplo), disponibilidade dos dados em formato de tabelas, perfil das vítimas e informações sobre testes realizados. O grupo, que reúne Folha, O Estado de S. Paulo, O Globo, G1, Extra e UOL, foi criado para acompanhar e divulgar os números da doença no país, após o Ministério da Saúde ter tirado dados do ar e ameaçado sonegar informações. Embora informações sobre sexo e idade das vítimas sejam publicadas por todos os estados, apenas Alagoas, Amazonas, Ceará, Espírito Santo, Rio Grande do Norte, Rondônia, Rio Grande do Sul e Paraná divulgam dados sobre a cor de quem foi contaminado ou morreu em razão do coronavírus. Há diferenças no grau de transparência mesmo entre quem divulga os recortes raciais. Enquanto em Alagoas há gráficos com informações consolidadas nos boletins diários, o Espírito Santo traz uma grande tabela com especificações de cada vítima em vez de números agregados. Uma portaria do Ministério da Saúde editada em 2017, no governo de Michel Temer (MDB), tornou obrigatória a coleta de informações sobre raça/cor nos sistemas de informação pelos profissionais de saúde. Ainda assim, nem sempre o registro é feito. Segundo boletim epidemiológico da pasta, que traz informações consolidadas sobre a Covid-19 semanalmente, em cerca de 35% das internações e dos óbitos não há informações sobre a cor dos pacientes.
No fim de abril, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) emitiu nota em que ressalta a importância da divulgação de informações sobre a cor das vítimas do coronavírus para a formulação de políticas de combate à doença, “especialmente tendo em vista o perfil de extrema desigualdade racial existente no Brasil”. É o mesmo que afirma Emanuelle Góes, doutora em saúde pública e pesquisadora da Fiocruz Bahia. “Desagregação por raça e cor tem a ver com pensar política de saúde com equidade e com superação das desigualdades. Na pandemia, isso se torna urgente. É importante observar quem são as pessoas por grupo racial e também por sexo e região para entender o perfil populacional das pessoas atingidas”, diz. Ela afirma que há uma proporção maior de pessoas negras nos registros de mortes do que no de casos. Dados do Sistema de Vigilância da Síndrome Respiratória Aguda Grave mostram que, no Brasil, pretos e pardos são 61% dos mortos pela Covid-19 e 55% dos internados. Esses percentuais se referem apenas às situações em que a cor do paciente é informada. Emanuelle lembra que a população negra é a que mais depende dos serviços públicos de saúde e a que é mais sofre com suas precariedades e deficiências, o que explica a maior expressividade nos registros de mortes. “A população negra em geral está nas franjas das cidades, nas periferias, e periferia nao tem acesso a serviço de saúde, principalmente de média e alta complexidade, que é o que a Covid tem demandado”, afirma. Ela diz também que o racismo institucional faz com que o atendimento recebido pelos negros no serviço de saúde seja de menor qualidade e leva muitos a resistir a procurar auxílio médico.
TRANSPARÊNCIA
Para além da cor, o consórcio avaliou a divulgação de informações sobre testes de detecção da Covid-19. O baixo número de exames diagnósticos é um problema enfrentado pelo Brasil desde o início da pandemia. Seis estados, incluindo São Paulo, não divulgam ou divulgam apenas parte do total de testes feitos. Por outro lado, todos trazem dados sobre sexo e idade das vítimas e sobre números de casos e óbitos nos municípios. Quanto ao estado das UTIs, apenas cinco não disponibilizam ao público as informações em seus portais ou boletins. A transparência na divulgação dos números da Covid-19 tem sido monitorada por organizações como a Transparência Brasil Internacional e a Open Knowledge Brasil, que têm rankings próprios sobre o tema. Fernanda Campagnucci, da Open Knowledge, diz que tem notado melhoras na divulgação, mas ainda há gargalos. "Depois de 11 semanas de avaliação, identificamos uma expressiva melhora. Embora tenham melhorado, dados de ocupação de leitos e de capacidade de testagem seguem sendo gargalos —o que é grave, agora que os estados estão reabrindo suas atividades", diz. No início deste mês, o Ministério da Saúde ameaçou sonegar dados, atrasou boletins, retirou informações do ar, deixou de divulgar totais de casos e mortes e divulgou dados conflitantes. Os números só voltaram a ser publicados na totalidade após decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
OUTRO LADO
Em nota, as secretarias de São Paulo, Goiás e Rio de Janeiro afirmaram que não há obrigatoriedade no preenchimento e divulgação de dados sobre raça/cor nos sistemas de registros da doença. Goiás complementou que tem “atuado junto aos municípios e instituições que notificam os casos que preencham as fichas com a maior quantidade de informações a que tiverem acesso.” Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que “o campo raça/cor é indicado como essencial no preenchimento das notificações de casos e óbitos da Covid-19 no Brasil pelas secretarias de Saúde”. Disse ainda que “estão sendo feitos ajustes para que essas informações sejam de preenchimento obrigatório” a partir desta semana. Minas Gerais afirmou que considera disponibilizar a informação e que tem orientado os municípios nesse sentido. Mato Grosso do Sul também disse que possui as informações e que avalia incluí-las em uma plataforma ainda em construção. Mato Grosso disse que “a nota informativa é padronizada por meio de um sistema que fornece estritamente as informações que constam no boletim”, e o Distrito Federal afirmou que não divulga informações pessoais das vítimas. Sergipe disse que há problemas na qualidade dos dados sobre raça/cor e que tem feito orientações às secretarias municipais para tentar contornar a questão. Roraima afirmou que “a utilização das variáveis pertinentes à análise epidemiológica, que são expostas no boletim, são aquelas disponibilizadas pelos sistemas de informações oficiais”. As demais secretarias não responderam os questionamentos da reportagem sobre a inclusão de informações sobre a cor das vítimas.
*”Festa em Brasília teve teste de Covid-19 na entrada com interpretação errada dos resultados”*
*”Em 1 mês, Pazuello melhora relação com estados, mas abre crise dos dados da Covid”*
*”Escalada de mortes aumenta apreensão nas periferias, dizem líderes comunitários”* - A escalada das mortes causadas pela Covid-19 aumentou a apreensão de moradores de áreas periféricas das principais cidades do país e tem estimulado iniciativas independentes do poder público para obtenção de alimentos, de acordo com uma enquete com líderes comunitários de dez regiões. O avanço do coronavírus também tem provocado insatisfação crescente com a resposta das autoridades responsáveis pelo enfrentamento da pandemia, conforme os relatos das lideranças, colhidos por pesquisadores da Universidade de São Paulo e do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento). A enquete ouviu 79 lideranças das regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Manaus e do Distrito Federal, além de três cidades do interior, Campinas (SP), Joinville (SC) e Maringá (PR). Os depoimentos foram colhidos entre os dias 25 de maio de 5 de junho. A falta de comida e outros efeitos da crise econômica, como a falta de emprego e renda, são as principais preocupações da população desde o início de maio, quando os pesquisadores fizeram sua primeira enquete com os líderes comunitários, mas a rápida propagação do vírus trouxe novos problemas.
A velocidade do contágio da população, citada como uma preocupação por apenas 6% das lideranças no início de maio, agora foi mencionada por 30%. O aumento das mortes por Covid-19, que não havia sido apontado como um problema na primeira enquete, foi citado por 16% dos entrevistados desta vez. "A percepção de que a doença está se espalhando sem controle e provocando mais mortes está aumentando a insatisfação da população com as respostas oferecidas pelas várias esferas de governo à pandemia", afirma a socióloga Priscila Vieira, pesquisadora do Cebrap e uma das responsáveis pela enquete. Problemas para conseguir o auxílio emergencial pago pelo governo federal a trabalhadores informais e de baixa renda foram apontados por 29% dos líderes comunitários, percentual semelhante ao do início de maio, quando ainda havia filas nas agências da Caixa Econômica Federal para obter o dinheiro. Os relatos sugerem que os principais problemas no início eram as dificuldades encontradas por muitas pessoas para se cadastrar e receber a ajuda. Nas últimas semanas, há preocupação crescente com os limites do programa, que impedem muitas pessoas que perderam renda de ter acesso ao benefício. A insuficiência das cestas básicas distribuídas por prefeituras e governos estaduais continua sendo uma das maiores preocupações da população, segundo 38% das lideranças. Isso tem levado a iniciativas das próprias comunidades para buscar parcerias na sociedade para conseguir alimentos e distribuí-los. Associações de bairro e outras organizações locais foram apontadas como parceiras por 66% dos entrevistados. Igrejas e associações religiosas foram citadas por 15%. Somente 8% das lideranças mencionaram o envolvimento de empresas com as iniciativas implementadas nas áreas em que atuam.
Moradores que colaboraram como voluntários para a distribuição de alimentos e outras atividades foram citados por 41% dos participantes da enquete. "Muitas pessoas que não participavam das organizações que atuam nessas comunidades se mostrou disposta a ajudar na pandemia", afirma Vieira. Além de distribuir comida e produtos essenciais para evitar infecções pelo coronavírus, como material para limpeza e higiene pessoal, essas iniciativas também têm sido importantes para disseminar informações sobre a doença e recomendações dos médicos para preveni-la, segundo os pesquisadores. Os líderes comunitários citaram a produção de panfletos com orientações, mensagens difundidas por carros com alto falantes e vídeos e áudios transmitidos por telefone celular. "O alcance dessas ações é limitado, mas elas preenchem lacunas deixadas pelas ações governamentais", diz Vieira. Os entrevistados também mencionaram parcerias com psicólogos e centros de atendimento psicológico para oferecer atendimento à população, inclusive a distância. Segundo a enquete, medo, ansiedade, depressão e outros problemas psicológicos foram apontados como preocupação por 18% das lideranças. O grupo responsável pela enquete faz parte da Rede de Pesquisa Solidária, iniciativa que reúne dezenas de pesquisadores de instituições públicas e privadas. A rede tem produzido boletins semanais com os resultados de seus estudos, que estão disponíveis no site da iniciativa.
PAOLA MINOPRIO - *”O novo normal”*
*”Luz ultravioleta pode eliminar coronavírus, mas uso é limitado e exige cuidados”*
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MÔNICA BERGAMO - *”Jornalista branco processa ativista negra por injúria racial e calúnia por fake news”*: Um jornalista branco processa uma ativista negra e outras cinco pessoas por injúria racial e calúnia por estes terem compartilhado, em redes sociais, o que ele afirma serem notícias falsas a seu respeito. O assessor de imprensa Fabiano de Abreu diz que uma foto sua foi publicada por um usuário angolano dizendo que Rodrigues vendeu-lhe maconha estragada na tentativa de matá-lo. “Não confie no branco… No de branco quis dizer…”, comentou uma mulher —a qual ele está processando. O jornalista nega ser traficante de drogas, diz que a repercussão da publicação prejudica o seu trabalho e pede indenização de R$ 500 mil. A foto compartilhada, segundo ele, é de 2015, e nela ele está acompanhado de empresários do meio musical de Angola.
MÔNICA BERGAMO - *”Galeria Solidária arrecada R$ 20 mil e distribui a fotógrafos prejudicados pela pandemia”*
 
CAPA – Manchete principal: *”Covid-19 afasta 1,4 milhão do mercado de trabalho no País”*
EDITORIAL DO ESTADÃO - *”Os jovens e a pandemia”*: Além de expor velhas fragilidades do sistema de ensino brasileiro, a pandemia do novo coronavírus agregou novos desafios às crianças e adolescentes. Segundo estimativa da Unicef, 35 milhões de jovens no País estão fora das salas de aula em razão das restrições de circulação de pessoas impostas para diminuir a taxa de expansão do novo coronavírus. Ainda que seja uma empreitada difícil, dadas as limitações de diversas ordens, é uma exigência de justiça com o País, muito especialmente com as novas gerações, assegurar, nas atuais condições de isolamento social, um mínimo de continuidade ao processo educativo desses jovens, em seus respectivos níveis de ensino. Recente estudo do Fórum Econômico Mundial observa que “a pandemia é uma oportunidade para nos relembrar das habilidades que os estudantes precisam nesse mundo imprevisível, como decisões embasadas, solução criativa de problemas e, talvez, acima de tudo, adaptabilidade”. Além disso, como especialistas têm ressaltado, ensino a distância não é sinônimo de aula online, devendo incluir também vários modos de estimular a aprendizagem remota e a construção colaborativa do conhecimento. Além da interrupção das aulas presenciais, a pandemia do novo coronavírus expôs desigualdades sociais e econômicas que, em situação normal, já afetavam as condições de ensino e, no contexto causado pela covid-19, são ainda mais deletérias. Segundo dados da pesquisa TIC Kids Online 2019 do Cetic.br/NIC.br, divulgados pela Unicef, 4,8 milhões de estudantes vivem em famílias que não têm acesso à internet. Para esses jovens, que representam quase 14% do total dos estudantes, a pandemia do novo coronavírus significou de forma imediata a interrupção do aprendizado. Ou seja, a situação de vulnerabilidade tornou-se ainda mais limitadora. Vale lembrar que o dado não se refere a um detalhe ou circunstância acessória. Em pleno século 21, 4,8 milhões de estudantes não têm acesso à internet em suas casas. A consequência é evidente: a falta de acesso a essa infraestrutura básica acarreta profundas restrições e dificuldades de aprendizado. Um país responsável com seu futuro não pode fechar os olhos a tal disparidade.
“Tendo em vista as diferentes realidades brasileiras e as limitações de acesso à internet de forma gratuita, as opções de atividades para a continuidade das aprendizagens em casa não estão se dando de forma igual para todos os estudantes. Há, portanto, o risco de o isolamento social agravar as desigualdades de aprendizagem, impactando em especial meninas e meninos em situação de vulnerabilidade – entre eles, moradores de comunidades e periferias, indígenas e quilombolas e com deficiência”, disse Florence Bauer, representante da Unicef no Brasil. Especialmente preocupante é o fato de que a pandemia afeta mais fortemente os jovens que já estavam em situação de fragilidade. Por exemplo, “crianças e adolescentes que já estavam em atraso escolar ficam ainda mais em risco de deixar a escola e não retornar quando as aulas presenciais voltarem”, lembrou Florence Bauer. Antes da pandemia, 1,7 milhão de crianças e adolescentes estavam fora da escola, segundo os dados do Suplemento de Educação da Pnad 2018. “Temos certeza que esse número deve aumentar, porque as crianças perdem o estímulo. E, com o desemprego e a queda na renda das famílias, muitas correm o risco de ir para o trabalho infantil”, disse a representante da Unicef. A entidade alerta para o risco real de se perder uma geração inteira, por força dos efeitos da pandemia na saúde, na educação e na pobreza. “Embora crianças e adolescentes não sejam os mais afetados diretamente pelo novo coronavírus, como em todas as emergências e crises humanitárias, são eles os que mais sofrem de maneira indireta, correndo o risco de serem as maiores vítimas dessa crise em médio e longo prazos”, lembrou Florence Bauer. Tal quadro reforça a importância de um enfrentamento responsável, diligente e coordenado da pandemia. As novas gerações merecem esse cuidado.
*”STF e Forças Armadas buscam pacificação”* - Em meio às disputas entre o Poder Executivo e o Judiciário, o Supremo Tribunal Federal (STF) e as Forças Armadas estabeleceram contatos direitos buscando evitar a escalada da crise. Se ao STF interessa mostrar que está apenas cumprindo seu papel em suas decisões, aos militares é importante demonstrar distância dos radicais – mesmo os fardados – que buscam pôr o País sob tensão a fim de obter uma ruptura institucional. Diante das movimentações, ontem foi a vez de o presidente Jair Bolsonaro dizer no Rio: “A nossa missão, a missão das Forças Armadas, é defender a pátria, é defender a democracia”.
Na manhã de 10 de junho, o ministro Gilmar Mendes, do STF, encontrou-se com o general Edson Leal Pujol, comandante do Exército, no Setor Militar Urbano. Em plena crise entre o Palácio do Planalto e o Judiciário, Gilmar pretendia medir a temperatura no Quartel General. A conversa evidenciou o afastamento do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, da interlocução entre os Poderes. Gilmar indicou que o Supremo não tem intenção de interromper o mandato de Bolsonaro. Observou que muitas avaliações sobre o comportamento dos magistrados não passam de “teorias conspiratórias”. Nas palavras do ministro, a preocupação na Corte é com o “telefone sem fio”, uma série de mensagens “dúbias” de Bolsonaro em relação à democracia, e também com a insistência dele em sugerir que as Forças Armadas estariam com o governo numa possível ruptura institucional. Pelo Twitter, Gilmar afirmou que “Exército não é milícia”. Além disso, classificou a ideia de que os militares podem fechar o STF e o Congresso como “incompatível” com a Constituição de 1988. Pujol mais ouviu do que falou. Gilmar encontrou ali um general econômico nas palavras, mas que deu a entender a existência de um mal-estar nas Forças Armadas com posições de ministros da Corte em relação ao Planalto, possivelmente numa referência a ações de Celso de Mello e de Alexandre de Moraes. A conversa entre o ministro e o general também girou em torno de missões militares de logística e apoio ao combate à pandemia do coronavírus e da Operação Verde Brasil, de repressão ao desmatamento na Amazônia.
Mudo. Pujol se mantém calado ao longo da sucessão de crises, voltado às responsabilidades da área. No encontro com Gilmar, sinalizou que não aceita nem mesmo o papel de interlocutor político da caserna ou do governo com o Judiciário, que era do ministro da Defesa. O posto está vago. O general Fernando Azevedo e Silva, que já foi assessor do atual presidente da Corte, Dias Toffoli, perdeu espaço na interlocução depois de emitir três notas para explicar atos e declarações de Bolsonaro e sobrevoar com ele, num helicóptero, uma manifestação antidemocrática.
Mesmo com a recusa em ocupar o posto de Azevedo e Silva, Pujol recebe pedidos de encontros. Do lado do governo não faltam convites. Bolsonaro tem insistido em aparecer ao lado dos comandantes das Forças. Foram três reuniões oficiais desde abril, um recorde da Presidência, fora as que não estavam previstas na agenda. Na última quarta-feira, por exemplo, Bolsonaro chamou Pujol para assistir à cerimônia da bandeira, no Palácio da Alvorada. Com esses gestos, o presidente procura mostrar que as Forças estão ao seu lado. Assim, alimenta o discurso caro a apoiadores extremistas, insinuando que pode haver um golpe em andamento, mesmo sem uma sinalização sobre isso. Quando assumiu a Defesa, em janeiro de 2019, Azevedo e Silva avisou aos comandantes que tinha a prerrogativa de fazer manifestações políticas. Argumentou que estava num posto com essa característica. Diante disso, a exemplo de Pujol, o almirante Ilques Barbosa, da Marinha, e o brigadeiro Antônio Carlos Bermudez, da Aeronáutica, evitam exposições nas mídias sociais e se mantêm quietos, focados nas ações de suas áreas. Em 2018, às vésperas do julgamento do habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o então comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, tuitou que repudiava “a impunidade” e que a força estava “atenta às suas missões institucionais”. Hoje, Villas Bôas, na reserva, tem 780 mil seguidores. Na esteira de Villas Bôas, muitos oficiais da ativa criaram perfis pessoais no Twitter e no Facebook. Pujol não aceitou. Em julho de 2019, o então chefe do Estado Maior do Exército e atual ministro da Casa Civil, general Walter Braga Netto, assinou a portaria 196, que proibiu a militância virtual dos militares da ativa. Braga Netto observou que manifestações políticas são vedadas no Estatuto dos Militares e no Regulamento Disciplinar.
+++ Jair Bolsonaro apela para a distorção da realidade com o objetivo de manter e acumular apoio de parte da opinião pública. Ao mesmo tempo, ele divide a sociedade e injeta ódio entre as partes divididas através de informações falsas e do tal discurso “dúbio” do qual o STf tem reclamado. Essa estratégia foi utilizada para derrubar o governo Dilma Rousseff e agora é utilizada para a implementação no Brasil de uma cultura retrógrada e neoliberal. Um ponto importante e que talvez não tenha ficado claro, é que as Forças Armadas não podem evitar que o presidente da República participe de suas cerimônias ou que discurse nelas. A politização das Forças, nesse momento, tem origem na atuação de Jair Bolsonaro.
*”Generais criticam presença de oficiais da ativa no governo”* - O discurso de distanciamento das Forças Armadas da política é prejudicado pela presença de militares da ativa na gestão Bolsonaro. Os ministros da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, e da Saúde, Eduardo Pazuello, por exemplo, são generais da ativa. O entendimento geral nas três forças é de que o escolhido, ao assumir o posto de natureza civil, deveria pedir transferência para a reserva. Ramos disse, recentemente, que pretende aposentar a farda para se dedicar à articulação política do governo. O Estadão revelou que 2,9 mil militares da ativa ocupam cargos no Executivo. São 1.595 integrantes do Exército, 680 da Marinha e 622 da Força Aérea. A reportagem levou o Tribunal de Contas da União (TCU) a decidir contar quantos militares ocupam cargos na administração Bolsonaro, além de fazer uma tabela comparativa da atual gestão com as de Michel Temer e Dilma Rousseff.
Ramos. “Respeito a decisão da maioria do Tribunal. Mas também não seria importante saber quantos médicos e engenheiros tem no governo? Quantos homens e mulheres? Quantos indígenas, negros, pardos e brancos? Digo com propriedade que militares são cidadãos fardados que mesmo na reserva continuam servindo ao País. Diante disso questiono: há algum problema com os militares?”, perguntou Ramos, em postagem nas redes sociais, no dia 18. De qualquer forma, há também incômodo, na Marinha e na Aeronáutica, com a nomeação do pessoal da ativa para trabalhar no Planalto e na Esplanada, e com a tentativa de Bolsonaro de colar sua imagem à das Forças Armadas.
Em fevereiro, o presidente convocou o almirante Flávio Rocha para assumir uma assessoria especial no seu gabinete. Atualmente, o oficial executa várias tarefas para ajudar Bolsonaro a solucionar problemas, principalmente os políticos. A presença de Rocha no gabinete presidencial preocupa a Marinha. Das três forças, a Aeronáutica é a que tem menos pessoal da ativa no governo. A maior apreensão, atualmente, é com uma onda de manifestos de militares da reserva a favor de Bolsonaro e contra o Judiciário e o Congresso. Embora afastados do dia a dia da força, os oficiais aposentados da Força Aérea Brasileira (FAB) acabam sendo vistos como representantes da instituição. Na última quinta-feira, saiu o último deles. O texto 504 Guardiões da Nação, que circulou nas redes, contava com 243 militares da reserva, a maioria da FAB, aí incluídos seis tenentesbrigadeiros, ex-integrantes do Alto Comando da Aeronáutica. Hoje, os militares mais conhecidos e barulhentos do País, que fazem postagens com ameaças veladas às instituições, estão na reserva ou não têm tropas. A lista dos oficiais da caserna com real poder de mando, por outro lado, inclui nomes desconhecidos, distanciados do debate político. São os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica e os comandantes do Exército em oito regiões militares, todos eles generais de quatro estrelas – à exceção do chefe do Comando do Planalto, um general três estrelas. Esses sete oficiais integram o seleto grupo dos 16 que formam o Alto Comando do Exército, subordinados a Pujol. Na Aeronáutica e na Marinha, forças com outros modelos de divisão operacional, os comandantes de áreas também têm patentes de três estrelas.
*”’Missão é defender democracia’, diz presidente em velório”*
*”Em mensagens, o desabafo da filha de Queiroz”* - Apesar de não ter sido alvo da operação que prendeu Fabrício Queiroz, a filha mais velha do ex-assessor do hoje senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), Nathália Melo de Queiroz, criticou o que considera erros do pai. Em conversa com a mulher do pai em outubro do ano passado, a personal trainer, também investigada pelo Ministério Público do Rio, chamou Queiroz de “burro”. Também reclamou da insistência dele em se envolver com política, mesmo sendo o principal alvo – e símbolo – da investigação contra o ex-chefe na Assembleia Legislativa do Rio. As mensagens, via aplicativo de celular, foram descobertas pelo MP em quebras de sigilo e são parte da apuração. A indignação expressa nas mensagens indica que Nathália, apesar dos indícios de que transferiu para o pai até 81% do que recebeu como assessora parlamentar, leva uma vida diferente da de seus pares. Personal trainer com mais de 11,6 mil seguidores no Instagram – a conta passou a ser fechada após as investigações –, Nathália posta imagens de natureza, selfies e fotos doando sangue que, volta e meia, recebem comentários de celebridades. Recentemente, figuras como Dany Bananinha e o ator Thiago Gagliasso passaram por lá.
Mesmo reclamando do modo como o pai insistia em permanecer ativo na política, a ex-assessora apontada como ‘fantasma’ pelo MP não deixa de dar suas opiniões para os seguidores. No início deste mês, na esteira da onda de imagens com a bandeira “antifascista” nas redes sociais, autodenominou-se uma “professora antifascista”. Muito do movimento tinha como objetivo criticar o presidente Jair Bolsonaro. A atuação de Nathália como personal trainer de celebridades – Bruna Marquezine e Bruno Gagliasso, por exemplo – ajudou a chamar atenção para o fato de ela ser “fantasma”. Isso porque fotos da professora com os clientes famosos eram publicadas no Rio de Janeiro, enquanto seu nome estava registrado como assessora do então deputado Jair Bolsonaro em Brasília. Ela não aparecia na capital federal. Nathália é tida como a mais articulada da família. Acaba sendo a responsável por lidar, por exemplo, com os advogados do caso. Seu nome também aparece nas investigações, por repasses que fez ao pai, mas, por não estar sob suspeita de obstrução de Justiça, não foi alvo de nenhuma medida cautelar na atual fase investigação.
Cotidiano. Sabe-se que Nathália está cansada de toda a investigação, que fez com que ela perdesse clientes e mudasse a rotina. Queria poder retomar o estilo de vida que mantinha até ser citada constantemente no noticiário. Mas os desdobramentos do Caso Queiroz, cada vez mais próximo ao Palácio do Planalto, não deixam. Enquanto a mulher de Queiroz – Márcia Oliveira Aguiar, com prisão decretada e considerada foragida pelo MP – e outras pessoas próximas a ele mantinham conversas que indicavam um esquema para protegê-lo e mantê-lo escondido, Nathália só é citada no documento recente do MP quando resolve elencar os problemas do pai. Ao encaminhar para Márcia, que não é sua mãe, uma reportagem do jornal O Globo que mostrava um áudio de Queiroz falando sobre cargos em Brasília, em outubro do ano passado, Nathália escreveu: “Meu pai não se cansa de ser burro, né?” Márcia respondeu: “Cara, é foda! Não sei, cara, quando é que teu pai vai aprender a fechar o caralho da boca dele? Eu tô cansada!” As conversas não pararam por aí. Nathália, inconformada com a suposta burrice do pai, voltou a mandar uma longa mensagem para a mulher dele, que não é sua mãe. “Eu não consigo mais ter pena do meu pai, porque ele não aprende. Meu pai é burro! Meu pai é burro! (...) Ele continua falando de política. Ele continua se achando o cara da política.”
O Estadão procurou Nathália por diferentes meios, mas ela não respondeu.
*”YouTube bolsonarista alcança 5 milhões”* - Em evidência depois de duas operações policiais autorizadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que tiveram, entre os alvos, influenciadores digitais bolsonaristas, canais de YouTube que apoiam o presidente Jair Bolsonaro somam mais de 5 milhões de inscritos. Entre vídeos que defendem o mandatário, atacam seus adversários políticos e prometem “fatos que a imprensa tradicional não mostra”, eles somam mais de 640 milhões de visualizações. Os números podem não ser grandes o suficiente para alcançar a lista de 10 canais mais acessados da plataforma, formada por músicos, comediantes e programas infantis – o décimo colocado no ranking tem 19,3 milhões de inscritos. Mas perfis que falam de notícias e política costumam ter menos seguidores. Os canais dos três maiores jornais do País, por exemplo, têm, juntos, 1,4 milhão de inscritos. Procurado na semana passada, o YouTube não respondeu à reportagem.
O levantamento de audiência dos bolsonaristas foi feito pelo Estadão levando em conta os dez maiores canais entre os youtubers que foram alvo de mandado de busca e apreensão nos inquéritos das fake news e dos atos antidemocráticos, ou que foram recebidos por Bolsonaro no Palácio da Alvorada em 23 de maio. Na terça-feira passada, a Polícia Federal (PF) cumpriu 21 mandados de busca e apreensão em cinco Estados e no Distrito Federal como parte do inquérito que apura a organização e o financiamento de atos antidemocráticos, como os que pediam o fechamento do Congresso Nacional e do STF, além da volta da ditadura militar. Um dos endereços visitados pela PF foi o de Alberto Silva, responsável pelo canal O Giro de Notícias, que tem cerca de 1,2 milhão de inscritos e já divulgou notícia falsa. No início de junho, o Projeto Comprova, coalizão de redações para verificar boatos compartilhados na internet, desmentiu vídeo do canal que dizia que o número de casos de covid-19 era menor que o oficial.
Legalidade. Após a operação, o Supremo entrou na pauta de O Giro de Notícias. Em vídeo gravado na na sexta-feira com o título “Chegaaa!!!”, Silva diz que juristas lhe falaram que o STF está cometendo crime no inquérito das fake news, que teve início após decisão de ofício do ministro Dias Toffoli. Na última quinta-feira, por 10 votos a 1 o Supremo decidiu que a investigação não infringiu a Constituição e pode continuar. “Medo de ser preso porque estou dando minha opinião? Jamais”, diz Silva no vídeo, gravado sem seu equipamento, já que seus celulares e computadores foram apreendidos pela PF. “Ao contrário do que às vezes entende ou prega o Supremo, eu prego o caminho correto, legal”, afirma o youtuber. Na descrição do vídeo, há dados de sua conta bancária para que seguidores façam doações para a compra de novos equipamentos. Procurado por email, Silva não respondeu. “Eu tenho nojo do STF, eu tenho repúdio, me dá até ânsia de vômito, porque são 11 que querem mandar em uma nação inteira. E, se for preciso fechar, que feche. Não vai fazer falta nenhuma, pelo contrário, fará um bem à nação brasileira", disse Fernando Lisboa, em um dos vídeos mais vistos do seu canal, em 19 de março de 2019. O Vlog do Lisboa tem 548 mil e entrou na mira do inquérito dos atos antidemocráticos. O vídeo “Agora não tem mais volta – fecha o STF, fecha o Senado, fecha a Câmara – Bolsonaro” fez com que Lisboa fosse denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por crimes contra a segurança nacional e a ordem política e social. Em 1º de junho, porém, o juiz Tiago Bologna Dias, da 2ª Vara Federal de Guarulhos, rejeitou a denúncia por entender que “fechar o Supremo” é uma “palavra de ordem para inflamar correligionários” e não significa que haveria atos de violência contra o Judiciário. Procurado na sexta-feira, Lisboa não respondeu às tentativas de contato.
*”Influenciadores pedem doações ao público”*
*”Moro vira alvo em vídeos após romper com presidente”*
*”Polícia Civil do DF faz ação contra grupo de extremistas”*
*”Epidemia ganha velocidade nos EUA e 12 Estados batem recorde de casos”* - Enquanto a maior parte dos EUA retoma lentamente as atividades econômicas, pelo menos 12 Estados estão reabrindo no momento em que batem recorde de novas infecções. Os casos mais graves são Flórida, Texas e Arizona, que registram entre 3,5 mil e 4 mil novos casos de covid-19 todos os dias. Apesar do esforço de Donald Trump e do vice-presidente americano, Mike Pence, em declarar o fim da pandemia, o vírus vem se acelerando nacionalmente. Em todo o país, os casos aumentaram 15% nas últimas duas semanas, puxados por novos surtos no Sul, na Costa Oeste e no Centro-Oeste. Ontem, pelo terceiro dia seguido, o número de novas contaminações chegou à marca de 30 mil – o que não se registrava desde abril. Ontem, o assessor comercial da Casa Branca, Peter Navarro, admitiu que a Casa Branca está se preparando para uma segunda onda do vírus. “Estamos garantindo o estoque de equipamentos, antecipando um possível problema no outono (a partir de setembro)”, afirmou Navarro ao programa State of the Union, da CNN. “Estamos fazendo tudo o que podemos.”
A declaração de Navarro, no entanto, contraria a mensagem passada pelo próprio governo. Na quarta-feira, Trump promoveu uma blitz em jornais e TVs para tranquilizar a população. “A pandemia está indo embora”, afirmou o presidente em entrevistas ao Wall Street Journal e às emissoras Fox News, Sinclair e Gray TV. Pence também passou os últimos dias dizendo que o “perigo já passou”. Na semana passada, a preocupação da Casa Branca era rebater as críticas ao presidente, que marcou um comício na cidade de Tulsa, no Estado de Oklahoma, que também vem registrando crescimento no número de novos casos. O comparecimento, no entanto, foi abaixo do esperado – apenas 6 mil pessoas em uma arena com capacidade para 20 mil. No fim de semana, o governador da Flórida, o republicano Ron DeSantis, afirmou que as novas infecções afetaram de maneira desproporcional os jovens, entre 20 e 30 anos. Segundo ele, o aumento de casos ocorre em razão da testagem, que também cresceu. Especialistas, no entanto, apontam dois fatores preocupantes: o número de internações, que vem aumentando, e a proporção de testes com resultado positivo, que passou a barreira de 10% e chegou ao nível mais alto desde abril. O aumento no número de casos nos EUA, segundo epidemiologistas, pode ter duas origens. A primeira, o feriado do Memorial Day, em 25 de maio, quando os americanos lotaram parques, praias, balneários e piscinas públicas em diversas partes do país. No Texas, a taxa de internação cresceu 66% desde o feriado. Outro fator é a retomada das atividades econômicas, especialmente em Estados governados por republicanos, ansiosos em replicar as determinações da Casa Branca para que o país retorne à normalidade – a Califórnia, governada por um democrata, onde os casos também estão crescendo, seria uma exceção à regra. Ontem, Michael Osterholm, diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), comparou a pandemia a um incêndio florestal. “Não acho que vai desacelerar. Não teremos uma, duas ou três ondas. O que veremos é um longo e complicado incêndio florestal de casos”, disse Osterholm ao programa Meet the Press, da NBC.
*”Pegadinha esvazia comício de Trump”* - Tinha tudo para ser o retorno triunfal de Donald Trump. Pressionado por múltiplas crises, o presidente marcou um comício para o sábado à noite em Tulsa. O chefe de sua campanha, Brad Parscale, anunciou que mais de um milhão de pessoas haviam se cadastrado para o evento. Como a arena tinha capacidade para 20 mil, eles prepararam um palco na parte externa, onde Trump e o vice-presidente Mike Pence fariam discursos para as 40 mil pessoas que não conseguiriam entrar. Mas alguma coisa deu errado. Apenas 6 mil pessoas compareceram, deixando à vista uma imensidão de cadeiras vazias. Trump cancelou o discurso que faria fora da arena. A imagem de funcionários desmontando o palco, diante de meia dúzia de curiosos, foi constrangedora. O porta-voz da campanha, Tim Murtaugh, culpou manifestantes que teriam impedido a entrada dos apoiadores – o que não aconteceu. Sobrou até para a imprensa, acusada de disseminar o medo de que a aglomeração propagasse o coronavírus.
Ontem, no entanto, surgiu outra explicação. Milhares de adolescentes, usuários do TikTok (um aplicativo de vídeos curtos) e fãs de K-Pop (música pop coreana), reivindicaram a proeza de arruinar a noite do presidente. Tudo começou quando a campanha tuitou um pedido para que os eleitores se inscrevessem usando o telefone para ter acesso ao comício. Imediatamente, contas de fãs de K-Pop compartilharam a informação, incentivando a inscrição – a ideia era não comparecer e deixar Trump falando sozinho. A ideia se tornou viral. “Isso se espalhou no Alt TikTok”, disse o youtuber Elijah Daniel, de 26 anos, que participou da pegadinha digital. “O Twitter do K-Pop e o Alt TikTok têm uma grande comunidade, que espalha informações muito rapidamente. Todos conhecem os algoritmos e sabem como impulsionar os vídeos.” Alguns cantaram vitória ainda no sábado. “Você (Parscale) acaba de ser feito de bobo por adolescentes no TikTok”, tuitou a deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez, em resposta ao chefe de campanha de Trump. Steve Schmidt, estrategista republicano, acrescentou: “Os adolescentes americanos deram um golpe selvagem contra o presidente.” Ontem, Parscale garantiu que a campanha passa um pente-fino em números falsos de telefone e leva em consideração os registros fictícios no cálculo do público. “Os esquerdistas e os trolls acham que afetaram o comparecimento, mas não sabem o que estão dizendo ou como funcionam nossos comícios”, disse.
*”Pandemia faz USP, Unesp e Unicamp perderem ao menos R$ 1,2 bilhão”* - Previsões do governo de São Paulo indicam que as três universidades públicas paulistas perderão pelo menos R$ 1,2 bilhão este ano por causa da pandemia de coronavírus, o que representa 11% a menos no orçamento. Já no mês passado, os recursos recebidos do Estado pelas Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Estadual Paulista (Unesp) não foram suficientes nem sequer para pagar seus professores e funcionários. Elas passaram a usar seus parcos fundos de reserva.
As instituições são financiadas por 9,57% do ICMS no Estado. Como as pessoas estão comprando pouco, a arrecadação diminuiu e as universidades temem entrar em mais uma grave crise financeira – justamente quando tinham acabado de equilibrar as contas. Os reitores de USP, Unesp e Unicamp pedem mais recursos ao governo de João Doria, mas o Estadão apurou que ainda não há previsão de qualquer ajuda às universidades. As três juntas têm 180 mil alunos e estão entre as mais importantes universidades do País. Durante a pandemia, conseguiram manter 90% das aulas teóricas online e deram incentivo aos pesquisadores para abrir seus laboratórios para trabalhos relacionados à covid-19. Foram cientistas da USP que sequenciaram o genoma dos dois primeiros casos de coronavírus no Brasil em tempo recorde, por exemplo. Com seus orçamentos ainda sustentam hospitais universitários, que têm atendido pacientes de coronavírus. O caso da Unicamp é o mais preocupante porque ela mantém cinco hospitais, um deles de referência, que atende 6,5 milhões de pessoas na região de Campinas. Os recursos do SUS representam só 30% dos custos, segundo a reitoria. Assim como no Hospital Universitário da USP (HU), os funcionários estão na folha de pagamento da instituição, além de materiais, infraestrutura. “A situação está muito crítica, as contas não fecham”, diz o reitor da Unicamp, Marcelo Knobel. O Estado pediu que as universidades enxugassem suas despesas durante a pandemia e, assim, foram suspensos concursos para contratação – até os que já estavam em andamento.
A Unesp, que não contratava profissionais desde 2014 porque enfrentou uma grave crise financeira nos últimos anos, tinha finalmente previsto recursos este ano para chamar 100 novos professores e 70 funcionários técnico-administrativos. Eles iriam para cursos de Educação Física, Odontologia e Microbiologia, entre outros. Tudo foi suspenso. “Isso afeta muito. O governo do Estado está falando muito em valorização da ciência, seria interessante manter o reconhecimento às universidades”, diz o reitor da Unesp, Sandro Valentini, sobre a possibilidade de recursos extras. As universidades pedem ao Estado uma fatia dos R$ 6 bilhões que foram destinados pelo governo federal para o enfrentamento ao coronavírus e que podem ser usados para compensar perdas. Outro R$ 1 bilhão precisa ir para ações de saúde e assistência social. Além das contratações, foram suspensos pagamentos de valetransporte e adiados os recolhimentos de FGTS e investimentos em obras civis. As instituições fizeram ainda reestruturação de contratos de serviços terceirizados e economia em limpeza e eletricidade. As três universidades juntas conseguiram reduzir cerca de R$ 300 milhões. Para se ter uma ideia da situação atual, em maio, o repasse do governo para a USP foi de R$ 328 milhões, mas a folha de pagamento é de cerca de R$ 400 milhões. São 5 mil docentes e 13 mil funcionários. Isso significa um comprometimento de 122% do orçamento com pessoal. Na Unicamp, foi de 125% e na Unesp, de 118%. Elas precisaram usar seus fundos de reserva, que hoje têm R$ 220 milhões (Unesp), R$ 400 milhões (Unicamp) e R$ 700 milhões (USP). Mas, pela despesa que as universidades têm com salários, esses valores não duram mais que dois meses.
Pesquisas. As três instituições enfrentaram a maior crise financeira da história há cerca de três anos. A USP fez um inédito plano de demissão voluntária, algo impensável há pouco tempo. A Unesp deixou até de pagar o 13.º dos professores. Depois de diversos planos de redução de custos, elas conseguiram se reerguer e puderam voltar a investir. Em janeiro deste ano, o comprometimento do orçamento com folha de pagamento estava em 75%, considerado muito positivo. E aí veio a pandemia. “A nossa área administrativa está a todo tempo estudando cenários, que mudam muito. Nossa preocupação é que vamos viver uma crise econômica e não estamos conseguindo lidar com ela como País”, diz o reitor da USP, Vahan Agopyan. Além das despesas com pessoal e manutenção da universidade, ele se preocupa com a queda do investimento em pesquisas, que vem da indústria e de agências de fomento, e na USP chega a R$ 1,5 bilhão. “Já temos visto agências internacionais reduzirem investimento por precaução. Os valores podem diminuir drasticamente”, diz. “Aí a universidade deixa de fazer a sua função fundamental, que é pesquisa, o que forma profissionais que possam vencer desafios.”
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*”Covid-19 tira 1,4 milhão do mercado de trabalho por motivo de doença”* - Quando Alcides da Silva, de 52 anos, começou a sentir dores e uma febre alta, ficou desesperado. Três vizinhos em Guaianazes, periferia de São Paulo, haviam morrido após contrair o novo coronavírus e, de uma hora para outra, o peso do desemprego que ele carrega há mais de um ano se somou ao medo do coronavírus. “Imagine ver as contas chegando e não poder procurar trabalho. É como olhar para os lados e não ver saída.” O auxiliar de limpeza viu suas chances de voltar ao mercado de trabalho ficarem ainda mais distantes quando o primeiro teste de covid-19 que fez deu inconclusivo. Ele precisa ficar em isolamento e tomando remédios. “Minha rotina virou ir ao médico. E quando se chega a uma certa idade, fica cada vez mais difícil trabalhar. Recebi duas cestas básicas de um movimento que faz ocupações para quem não tem casa. Todo mundo se ajuda, mas o dia seguinte preocupa.” Silva faz parte de um contingente que cresceu muito com o avanço da covid-19: o de pessoas que se tornaram indisponíveis para trabalhar, sobretudo por terem ficado doentes ou tiveram de cuidar de alguém doente. Segundo um levantamento de Marcel Balassiano, pesquisador do Ibre/FGV, com base nos dados da Pnad Contínua, o número de brasileiros que estavam desempregados, mas ficaram impedidos de buscar trabalho por problemas pessoais – sobretudo por estarem doentes – saltou de 3,3 milhões no trimestre até fevereiro para 4,7 milhões até abril. São cerca de 1,4 milhão de pessoas, um aumento de 45%.
Essa alta é bem maior que a do número de desalentados, aqueles que deixaram de procurar trabalho por acharem que não iriam encontrar uma nova colocação, que cresceu 7% no mesmo período. O número inclui pessoas que não estavam disponíveis por conta de estudos ou mulheres que ficaram grávidas. Mas a alta expressiva aponta que a saúde foi o item que mais pesou no aumento. E a avaliação de Balassiano é que esse quadro pode ficar ainda pior. “O País já estava em uma situação muito ruim, que o novo coronavírus só agravou. A dívida pública vai para 90% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto se tenta achar saídas para minimizar a crise de saúde. O mercado de trabalho tende a piorar”, diz. Em maio, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) fez, em parceria com o Ministério da Saúde, uma pesquisa específica, a Pnad Covid-19. Como as amostras e os períodos são diferentes, não é possível comparar a Pnad Covid com a Pnad Contínua, mas os números de maio revelam detalhes dos efeitos da pandemia. Eles apontam, por exemplo, que 25,7 milhões de pessoas estavam fora da força de trabalho, mas gostariam de trabalhar. Além disso, 17,7 milhões de trabalhadores não puderam procurar emprego por causa da pandemia ou não acharam uma vaga na região em que moram.
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