segunda-feira, 1 de junho de 2020

Protestos e tensão marcam fim de semana

Foi um fim de semana de protestos pelo Brasil. Na noite de sábado, poucas dezenas de pessoas do grupo batizado de 300 se aglomerou à frente do Supremo para protestar contra as investigações que envolvem o presidente Jair Bolsonaro e seus seguidores. Portavam tochas seguindo a estética compartilhada por fascistas e Klu Klux Klan. No domingo, torcidas organizadas de Corinthians, Palmeiras e Santos se encontraram na Avenida Paulista em um ato pró-democracia. Quando já estavam lá fazia mais de uma hora, por volta das 13h, houve um conflito com grupos pró-bolsonaristas. A polícia investiga se o estopim foi o uso de uma bandeira utilizada pelo movimento neonazista ucraniano. Neste momento, a PM tratou de separar os dois grupos — mas os ânimos estavam acirrados e os torcedores puseram barricas pela rua, com objetos em chamas. Os policiais chegaram a disparar bombas de efeito moral contra este grupo, que reagia lançando pedras. Ainda é difícil afirmar quem iniciou as hostilidades. Também na manhã de domingo, Bolsonaro recebeu em frente ao Planalto simpatizantes. Uma das faixas dizia: ‘Forças Armadas, fechem o Congresso e o STF já’. Sobrevoou de helicóptero a pequena manifestação e passou em revista, montado em um cavalo da PM. (G1)


Míriam Leitão: “Não existe o dono da rua. O presidente se comportava como se a rua fosse dele. O que este domingo mostrou é que o país tem várias vozes. As que o apoiam estão se aproximando perigosamente do que há de pior na extrema direita. As ruas pareciam unânimes porque os que discordam do presidente estão tentando respeitar as normas de segurança de não fazer aglomeração. O protesto pro-democracia deste domingo nasceu convocado por torcidas de futebol. É como se as panelas estivessem cansadas de ficar apenas nas janelas e fossem para a rua mostrar que a democracia tem seus defensores também. Um líder simplesmente não faz o que Bolsonaro tem feito: aumentar as fraturas da sociedade no meio de uma tragédia sanitária, que tem como único remédio o isolamento social. O resultado óbvio dessa presidência insensata foi o confronto de grupos, como o que houve na Paulista.” (Globo)

Igor Gielow: “O conflito nos atos pró-democracia em São Paulo é tudo o que o bolsonarismo poderia querer para invocar seus fantasmas de uma intervenção militar em favor do presidente da República, ainda que o escopo dos incidente seja mínimo. A questão se chama artigo 142 da Constituição, uma peça mal redigida que permite leituras diversas. Desde que a esquerda colocou o governo de joelhos com protestos no Chile, o presidente brasileiro insinua que o mesmo se dará por aqui. Para, logicamente, invocar sua leitura torta do artigo 142. Sob ele, qualquer Poder constituído poderá chamar militares para resolver situações de anarquia. Nada disso se insinua com algumas centenas ou milhares de torcedores na avenida Paulista, é óbvio. Mas o que importa são as cenas pinçadas de embate com a Polícia Militar.” (Folha)



O ministro Celso de Mello foi particularmente duro na leitura que fez a seus pares, no Supremo, do momento brasileiro. “Guardadas as devidas proporções, o ‘ovo da serpente’, à semelhança do que ocorreu na República de Weimar, parece estar prestes a eclodir no Brasil”, escreveu. É a metáfora habitual para tratar do surgimento do nazismo. “É preciso resistir à destruição da ordem democrática. ‘Intervenção militar’, como pretendida por bolsonaristas e outras lideranças autocráticas que desprezam a liberdade e odeiam a democracia, nada mais significa, na novilíngua bolsonarista, senão a instalação, no Brasil, de uma desprezível e abjeta ditadura militar.” (Globo)

Marcos Nobre: “O inquérito das fake news é um exemplo perfeito para demonstrar esse colapso institucional. Na sua origem, esse inquérito foi classificado, quase unanimemente entre os juristas, como algo inédito e sem amparo na legislação. Isso é um indício de colapso institucional. Mas o colapso maior ocorre quando Bolsonaro tenta se apossar da Polícia Federal, com a ideia de que um órgão de Estado é um instrumento do governante. O ministro Alexandre de Moraes foi o primeiro a tomar uma atitude efetiva para barrar o projeto autoritário de Bolsonaro. Foi o primeiro que não fez nota de repúdio, manifesto, reunião virtual e agiu para atingir um pilar de sustentação de Bolsonaro, que é essa rede de desinformação, calúnia e difamação que sustenta uma boa parte da base dele. O ministro foi direto na ferida e usou mecanismos institucionais para combater um Estado que é de absoluta anormalidade. Nós não podemos combater com armas normais uma situação anormal. Não tem nada normal funcionando, mas é importante ter feito isso, principalmente num momento em que Bolsonaro resolve fazer um governo de guerra. Nessa escalada retórica, há um lado simplesmente diversionista, que é tirar o foco da pandemia, porque Bolsonaro sabe que vai ser responsabilizado pela falta de resposta do País, pela recessão econômica e pelo agravamento das duas pela crise política que ele produziu. O outro lado é: qual é a probabilidade de isso acontecer? No momento, como golpe organizado, ainda parece baixa. Isso não impede que haja atos descoordenados e isolados por parte de uma base fanática de Bolsonaro, armada e militarista.” (Estadão)



Há um debate em curso na comunidade das pesquisas de opinião. De acordo com Andrei Roman, CEO da Consultoria Atlas que produz uma pesquisa, há um problema na distribuição amostral dos levantamentos feitos pelo Datafolha. Dentre os eleitores que votaram no segundo turno, em 2018, 63% dos entrevistados dizem ter votado em Bolsonaro e, 37%, no petista Fernando Haddad. É uma diferença de 25% — quando a distância entre os dois, na eleição, foi de 10%. Este viés, diz Roman, sugere que há um excesso de bolsonaristas na amostra, o que distorce o resultado final. O Datafolha vem indicando que o presidente tem por volta de 33% de apoio enquanto as outras pesquisas aproximam o resultado da casa dos 25%. (El País)




Manifestantes voltaram às ruas nas principais cidades dos Estados Unidos no domingo, em mais um dia de protestos contra o racismo após a morte do ex-segurança George Floyd. Após um início pacífico, que contou com a participação de policiais em alguns estados, houve novos confrontos e prisões. Dezenas de cidades estão sob toque de recolher e ao menos cinco pessoas morreram desde o início dos protestos, na semana passada, segundo o New York Times. Outras centenas foram detidas.

Em Minneapolis, um caminhão-tanque avançou sobre os ativistas, mas ninguém ficou ferido. O motorista foi retirado do caminhão e espancado por manifestante.

Pois é... uma família negra em Minneapolis ganha por ano menos da metade do que uma família branca, em média. E a propriedade de imóveis entre negros é três vezes menor que entre as famílias brancas. Como resultado, muitas famílias negras foram efetivamente excluídas da prosperidade de que desfruta a população predominantemente branca da cidade. As comunidades negras da cidade também sofreram outras formas de repressão. Nas décadas de 50 e 60, os planejadores urbanos devastaram o bairro de Rondo, historicamente de negros, transformando sua principal avenida na rodovia Interestadual 94.

Minneapolis, Los Angeles, Nova York, Memphis, Denver e Louisville. Milhares de pessoas foram às ruas nos Estados Unidos para protestar contra a morte de George Floyd. Fotos.

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