quarta-feira, 24 de junho de 2020

Cem dias de solidão em meio à pandemia

Brasil

Já se passaram cem dias desde que o designer Paulo Sampaio, de 33 anos, viu sua vida mudar abruptamente. De uma última saída livre no final de semana para uma caminhada no parque Ibirapuera, que acabou em um boteco, passou ao isolamento abrupto dentro de casa. Era a nova realidade imposta pela pandemia do coronavírus, que dava os primeiros sinais de alarme no Brasil. Na segunda seguinte, 16 de março, escolas começavam a fechar em São Paulo. Atividades culturais também eram interrompidas, em meio a uma série de medidas que visavam a desacelerar o contágio em massa. Como muitos moradores de São Paulo, Sampaio passou a sair de casa para atividades essenciais. Viveu o primeiro mês relativamente tranquilo. Mas logo o tempo começou a pesar. O sono parou de vir, e levantar da cama virou uma tarefa árdua. Estavam ali os sinais de que sua saúde mental já pedia ajuda, algo por que muitos outros brasileiros têm passado, segundo um levantamento do Ministério da Saúde, que aponta que quatro em cada dez pessoas apresentaram problemas com o sono ou declararam pouco interesse em fazer as coisas durante a pandemia, aponta reportagem de Beatriz Jucá.
Para psicólogos e psiquiatras, a intensidade provocada por tantos dias de isolamento torna cada vez menos comum que pessoas, mesmo as que defendem a quarentena, consigam se manter totalmente fiéis a ela. Isso acontece porque os mecanismos de alerta do corpo humano, principalmente os cerebrais, que agem diante de um perigo —como a possibilidade de infecção por um vírus— entram em colapso depois de um tempo. É o que alguns especialistas chamam de “fadiga da quarentena” ou falência adaptativa, explica a reportagem de Joana Oliveira.
Mas a saúde e a economia não são as únicas áreas em que a crise sanitária deixará marcas profundas. A Unesco alerta que 40% dos países mais pobres não apoiaram os alunos em situação de risco durante a pandemia, exacerbando desigualdades educacionais que já vinham de longe. “Repensar o futuro da educação é tão ou mais importante depois da pandemia da covid-19, que salientou as desigualdades. Se não agirmos, haverá obstáculos ao progresso das sociedades”, adverte a diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay.


Cem dias de solidão na pandemia
Cem dias de solidão na pandemia
Distúrbios no sono, falta ou excesso de apetite e pouco interesse em fazer as coisas se tornaram comuns, aponta pesquisa do Ministério da Saúde

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