quarta-feira, 3 de junho de 2020

Análise de Mídia 03/06

DOS JORNAIS DE HOJE: O tom crítico ao presidente Jair Bolsonaro aumenta nas reportagens. Todos os jornais apontam que Jair Bolsonaro está “pressionado” ou até mesmo “acuado”. Uma das consequências dessa pressão seria uma tentativa de buscar diálogo com o ministro do STf Alexandre de Moraes. No entanto, a postura crítica contra Celso de Mello não tem qualquer mudança, diz o noticiário. As páginas dos cadernos de Política mostram que o PGR Augusto Aras está sob pressão tanto da sua categoria como do STF e da opinião pública (jornais) que acompanham cada passo e declaração dele.
Outro fator de pressão sobre o governo que ganha evidência em todos os jornais são os movimentos suprapartidários contra a postura autoritária e negacionista do governo de Jair Bolsonaro. As reportagens buscam detalhar como se organizaram e o que pretendem esses movimentos. Ainda sobre tais ações, todos os jornais adotaram tom crítico ao ex-presidente Lula pelo posicionamento que ele apresentou sobre os manifestos. Folha, O Globo e Estadão apontaram que Lula está se isolando, já o Valor afirmou que o ex-presidente constrangeu lideranças petistas. O texto publicado pelo Valor foi o único que consultou integrantes do PT – nenhum ouviu o ex-presidente Lula -, e apesar da manchete, Gleisi Hoffmann, Fernando Haddad, Gilberto Carvalho e Paulo Teixeira mostraram sintonia com o posicionamento apresentado por Lula.
Se a crítica a Bolsonaro é forte nos cadernos de política, nos de Economia, a perspectiva que rege esse noticiário é semelhante a da agenda liberal de Paulo Guedes. Um exemplo é uma reportagem da Folha sobre a fila de famílias no Bolsa Família. O jornal assume que a fila aumentou porque o governo não tinha recursos, ao invés de apontar que o contingenciamento é uma opção política que vem desde o golpe, quando Michel Temer assumiu e implementou o Teto de Gastos.
Por fim, os jornais publicam informações sobre a pandemia no Brasil e no mundo. As reportagens indicam que diferentes regiões do país estão planejando afrouxar o distanciamento social em meio ao crescimento exponencial de casos. Há pesquisadores que falam em um “verdadeiro genocídio” no Brasil diante de decisões mal planejadas por governantes.
 
CAPA – Manchete principal: *”Brasil Supera 30 mil mortes de Covid-19, SP bate recorde”*
EDITORIAL DA FOLHA - *”Os militares e a lei”*: A ascensão de Jair Bolsonaro trouxe consigo o inevitável debate a respeito da identificação dos militares com sua administração. Cercado por generais da reserva já na campanha e depois dela, o capitão reformado do Exército sempre se esforçou para sequestrar a credibilidade das Forças Armadas, construída na redemocratização. A retórica belicosa e o discurso salvacionista ganham campo à medida que menos insígnias existam no ombro do militar. Esses militares da reserva viram sua imagem ser associada à do governo, e o agravamento da crise política —impulsionado pela reação negacionista do governo à pandemia e seus efeitos sanitários devastadores— acentuou preocupações. É necessário, contudo, desmistificar a ideia de adesão e demarcar diferenças importantes. De fato, quase todo domingo o presidente brinda o país com a presença em atos antidemocráticos que pedem atrocidades como o fechamento do Supremo Tribunal Federal ou do Congresso. Os três generais com assento no Palácio do Planalto, todos com quatro estrelas e apenas um deles ainda no serviço ativo, passaram ao centro do debate político. Todos, por exemplo, tiveram de depor ao Supremo no inquérito acerca das múltiplas evidências de interferência de Bolsonaro na Polícia Federal. Dois deles, Augusto Heleno e Luiz Eduardo Ramos, externaram publicamente irritação com as recentes decisões da corte, apontando um imaginário cerco a Bolsonaro.
Outro general da reserva, o ministro Fernando Azevedo, da Defesa, deixou o comedimento e passou a apoiar queixumes de colegas. Cometeu ainda o desatino de dividir um helicóptero com Bolsonaro e sobrevoar um ato golpista. Nada disso ajuda o país num momento em que manifestações de rua acabam em conflitos, animando vivandeiras a pedir a intervenção das Forças Armadas a partir de leituras delirantes do artigo 142 da Constituição, que regula a manutenção da lei e da ordem. O antídoto foi identificado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em entrevista ao UOL: a permanência da adesão inequívoca da ativa armada à Carta. Isso é imperativo. Como ele disse, o fato de haver generais no governo não implica apoio político dos fardados a qualquer projeto, quanto mais um de cunho autoritário. Que os reservistas instalados na administração façam proselitismo, vá lá. Os que estão no exercício da função militar são servidores do Estado, da ordem e da Constituição. A população brasileira é majoritária e inequivocamente a favor da democracia, como mostram pesquisas do Datafolha nas duas últimas décadas. As Forças Armadas demonstraram honradez e disciplina nestes 35 anos de democratização e garantiram ao país a travessia por inúmeras crises políticas, sempre com respeito à Carta e à normalidade democrática.
PAINEL - *”Moro é rejeitado em movimentos pela democracia e critérios geram debates”*: Os critérios para definir quem pode participar dos movimentos da sociedade civil criados em defesa da democracia estão gerando debates dentro dos grupos. Ainda que se disponham a congregar pessoas de múltiplos pontos do espectro ideológico, há diferenças que podem ser irreconciliáveis. No caso do 'Juntos pela Democracia', diz-se que a porta está quase totalmente aberta. "Entrarão todos, menos os fascistas. Moro, fora. É o limite", diz o jornalista Juca Kfouri, um dos articuladores. No "Basta", que reúne juristas e advogados, Moro também não seria bem recebido. "Natural que exista constrangimento com a adesão de algumas pessoas. Estas mesmas figuras são responsáveis diretas por parte importante das mazelas do país", diz o advogado Marco Aurélio Carvalho, um dos articuladores do manifesto. "Não se pode esquecer que o bolsonarismo é filho legítimo da Lava Jato e do golpe de 2016", completa. A presença da assinatura do ex-procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, da Lava Jato, quase fez com que o advogado Carlos de Almeida Castro, o Kakay, retirasse seu apoio, como mostrou a coluna de Mônica Bergamo. O "Somos 70%", inspirado em resultado de pesquisa do Datafolha, foi criado pelo economista Eduardo Moreira e disseminou-se de forma descentralizada nas redes sociais. Por esse caráter difuso, Moro teria mais facilidade em se juntar ao clube: bastaria publicar a hashtag do movimento em seu perfil. "Essa é a diferença do Somos 70%. Não é um movimento com dono, não escolhe as pessoas. As pessoas que o escolhem", diz Moreira. "Qualquer um que esteja contra o governo faz parte. É uma constatação. Não tem lista nem veto", completa.
E não repudiaria se Moro se juntasse? "Poderia diz er assim: 'Sergio Moro, penso absolutamente diferente de você em relação a caminhos para o país'. E é isso aí. Estamos os dois contra o governo", responde Moreira. "As pessoas querem foto de Moro abraçado com Flávio Dino. Isso não vai ter e é isso que faz o fracasso dos movimentos. Vira movimento de vaidade", diz.
PAINEL - *”STJ adia julgamento e acusado de corrupção tomará posse no TER”*
PAINEL - *”Associação recebe abaixo-assinado contra Aras e deve mandar ao Congresso”*
PAINEL - *”CSN faz home office seletivo e casos de coronavírus explodem na empresa”*
*”Celso manda recado, e Bolsonaro busca diálogo com Moraes em meio a embate com STF”* - As duras críticas recentes do ministro do Supremo Tribunal Federal Celso de Mello ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e a ameaça do Palácio do Planalto de apresentar pedido de suspeição contra o magistrado se contrapõem à mudança de estratégia do governo em relação a outro algoz no STF, Alexandre de Moraes. Após atacar Moraes por ter impedido a posse de Alexandre Ramagem no comando da Polícia Federal e por ter determinado operação policial contra seus apoiadores, o chefe do Executivo participou, nesta terça-feira (2), da posse do ministro do STF como membro titular do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Moraes também fez um gesto em direção ao Executivo e classificou como amigos os generais que compõem a Esplanada dos Ministérios. Ainda na tentativa de buscar uma trégua, o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, fez uma visita à residência de Moraes em São Paulo no fim da tarde de segunda-feira (1º), conforme revelou a GloboNews, um dia depois de participar de manifestações que pediam o fechamento do Congresso e do Supremo. A conversa, segundo interlocutores dos ministros, foi amistosa, e Azevedo procurou botar panos quentes na disputa entre os Poderes. Bolsonaro e aliados deram outra sinalização interpretada como bandeira branca ao Judiciário. Além do presidente, ao menos cinco ministros participaram, por videoconferência, da posse no TSE, entre eles os generais Walter Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), além de Azevedo e Silva. Na cerimônia, apenas o presidente da corte eleitoral, ministro Luís Roberto Barroso, fez um breve discurso, com um resumo da carreira de Moraes e elogios à sua atuação. ​Logo em seguida, já na sessão de julgamentos do TSE, Barroso comentou que a solenidade foi "muito prestigiada, inclusive com o presidente da República e uma bancada de generais".
​Moraes concordou. "São todos meus amigos generais desde as Olimpíadas, que nós cuidamos na segurança no Rio de Janeiro", afirmou em referência aos jogos realizados em 2016, quando era ministro da Justiça. Por outro lado, a estratégia de ataque a Celso de Mello segue a mesma, apesar de ainda não haver decisão sobre o eventual pedido de suspeição do magistrado no inquérito relatado por ele e que apura a acusação do ex-ministro da Justiça Sergio Moro de que Bolsonaro desejava interferir na Polícia Federal. Depois de enviar a colegas um texto em que compara o Brasil de Bolsonaro à Alemanha de Adolf Hitler, Celso manteve o tom elevado no despacho em que rejeitou a apreensão do celular do presidente. Apesar de a decisão ter sido favorável a Bolsonaro, o decano do STF mandou duros recados ao Planalto e rebateu a afirmação do presidente de que "ordens absurdas não se cumprem". "A insólita ameaça de desrespeito a eventual ordem judicial emanada de autoridade judiciária competente, inadmissível na perspectiva do princípio da separação de Poderes, se cumprida, configuraria gravíssima transgressão, por parte do presidente, da supremacia da Constituição", escreveu Celso. O decano avisou ainda que não haverá recuo por parte do STF, que "não transgredirá nem renunciará ao desempenho isento e impessoal da jurisdição, fazendo prevalecer os valores da ordem democrática". Celso também alertou que nenhum dos três Poderes pode "submeter a Constituição a seus desígnios" No Planalto, auxiliares do presidente avaliaram, sob condição de anonimato, que a situação está momentaneamente mais calma, uma vez que Bolsonaro não precisou entregar o celular. No entanto, interlocutores provocam o STF e dizem que os recados do decano não passam de retórica e que, no fim, Bolsonaro ganhou a queda de braço ao ficar desobrigado de entregar o aparelho.
Outro fato que despertou a atenção dos ministros do Supremo foi a entrevista à TV Globo em que o procurador-geral da República, Augusto Aras, deu a entender que há previsão de intervenção militar na Constituição. "Quando o artigo 142 estabelece que as Forças Armadas devem garantir o funcionamento dos Poderes constituídos, essa garantia é no limite da garantia de cada Poder. Um Poder que invade a competência de outro Poder, em tese, não há de merecer a proteção desse garante da Constituição", disse Aras. E completou: "Se os Poderes constituídos se manifestarem dentro das suas competências, sem invadir as competências dos demais Poderes, nós não precisamos enfrentar uma crise que exija dos garantes uma ação efetiva de qualquer natureza". Diante da reação negativa de ministros, políticos e advogados, porém, Aras emitiu uma nota "a propósito de interpretações feitas a partir das declarações" e mudou de tom. "A Constituição não admite intervenção militar. Ademais, as instituições funcionam normalmente. Os Poderes são harmônicos e independentes entre si", disse em texto divulgado nesta terça-feira (2). Na nota, Aras pregou que os Poderes devem "praticar a autocontenção" para evitar conflitos que, "associados à calamidade públicas e a outros fatores sociais concomitantes, podem culminar em desordem social". "As Forças Armadas existem para a defesa da pátria, para a garantia dos Poderes constitucionais e, por iniciativa de quaisquer destes, para a garantia da lei e da ordem, a fim de preservar o regime da democracia participativa brasileira", afirmou.
Reservadamente, integrantes do Supremo fizeram duras críticas a Aras, que tem perdido prestígio na corte por causa da postura adotada em relação ao Planalto. Também nesta terça, Aras deu parecer favorável ao depoimento de Bolsonaro no inquérito aberto após Moro pedir demissão da Justiça. Em manifestação com apenas um parágrafo, Aras concordou com o pedido da PF para que o chefe do Executivo seja ouvido no inquérito da suposta interferência no órgão. Apesar de a Procuradoria-Geral da República ter concordado com a medida, ainda não está definido como ela ocorrerá. Caberá a Celso decidir a forma do interrogatório. Se for levado em consideração o precedente do inquérito que investigou o então presidente Michel Temer (MDB), Bolsonaro terá a prerrogativa de responder aos questionamentos da PF por escrito. A oitiva de Bolsonaro é considerada fundamental para elucidar os fatos em apuração, tendo em vista que algumas das principais suspeitas sobre o mandatário decorrem de falas dele próprio em aparições públicas e no vídeo da reunião ministerial de 22 de abril. O presidente ainda não apresentou, no inquérito, a sua versão sobre os fatos até agora levantados, embora venha se defendendo publicamente de algumas das suspeitas.
*”Celso de Mello rejeita pedido de apreensão de celular de Bolsonaro, mas alerta presidente”* - O ministro Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal), rejeitou o pedido feito por partidos de oposição para a apreensão do celular de Jair Bolsonaro, mas fez um alerta sobre a possibilidade aventada pelo presidente de descumprir decisão judicial. Segundo ele, isso configuraria crime de responsabilidade. O pedido para apreensão de celular tinha como objetivo coletar provas de uma suposta interferência política do presidente na Polícia Federal, acusação feita pelo ex-ministro Sergio Moro e que é alvo de inquérito no Supremo. "Pedido não conhecido, por ausência de legitimidade ativa dos noticiantes", concluiu Celso. Além do presidente, o pedido de apreensão para perícia incluía o filho dele, vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), o ex-diretor-geral da PF Maurício Valeixo, Sergio Moro e a deputada Carla Zambelli (PSL). Celso de Mello aproveitou a decisão para mandar um recado ao presidente, que disse que não entregaria o celular. "Contestar decisões judiciais por meio de recursos ou de instrumentos processuais idôneos, sim; desrespeitá-las por ato de puro arbítrio ou de expedientes marginais, jamais, sob pena de frontal vulneração ao princípio fundamental que consagra, no plano constitucional, o dogma da separação de Poderes", diz trecho da decisão.
O decado do STF disse ainda que "na realidade, o ato de insubordinação ao cumprimento de uma decisão judicial, monocrática ou colegiada, por envolver o descumprimento de uma ordem emanada do Poder Judiciário, traduz gesto de frontal transgressão à autoridade da própria Constituição da República". Para Celso de Mello, Bolsonaro estaria sujeito a crime de responsabilidade em caso de recusa. "É tão grave a inexecução de decisão judicial por qualquer dos Poderes da República (ou por qualquer cidadão) que, tratando-se do Chefe de Estado, essa conduta presidencial configura crime de responsabilidade, segundo prescreve o art. 85, inciso VII, de nossa Carta Política, que define, como tal, o ato do Chefe do Poder Executivo da União que atentar contra "o cumprimento das leis e das decisões judiciais" (grifei)". No domingo (31), em mensagem enviada a colegas da corte, o ministro Celso de Mello disse que o bolsonarismo quer uma ditadura militar instalada no Brasil.
*”Aras esclarece declaração e afirma que Constituição não prevê intervenção militar”*
*”'Presidente esqueceu de combinar comigo', diz Aras sobre arquivar inquérito contra Bolsonaro”* - O procurador-geral da República, Augusto Aras, afirmou, em entrevista ao jornalista Pedro Bial, da TV Globo, que não é amigo do presidente Jair Bolsonaro e que a relação entre os dois é apenas respeitosa. Aras definiu como "declaração unilateral" a posição do presidente sobre a possibilidade de arquivamento do inquérito em que Bolsonaro é suspeito de violar a autonomia da Polícia Federal, logo após visita feita ao procurador. "O presidente esqueceu de combinar comigo", disse sobre a declaração, na entrevista exibida na madrugada desta terça (2). "Se eu não tenho condições de controlar os meus colegas da primeira instância, que ousam contra as minhas posições e gritam todo dia que têm independência funcional, imagine se eu ou qualquer outra autoridade possa controlar o que diz o senhor presidente." Aras disse ter sido surpreendido pela visita e relatou ter recebido Bolsonaro de forma cordial, como faz com todas as autoridades. Afirmou ainda que faz parte de sua personalidade a postura amável, mas firme e dura quando é necessário. Durante a entrevista, a declaração sobre a declaração unilateral do presidente foi a mais crítica a Bolsonaro. Diante de outros questionamentos, o PGR optou por uma posição mais compreensiva com o presidente, definido por ele como um homem "muito espontâneo" e que tem convicções próprias. O procurador-geral afirmou, por exemplo, que não vê ilegalidade no fato de Bolsonaro não usar máscara de proteção contra o coronavírus em áreas públicas de Brasília nos últimos dias, apesar de o item ser obrigatório no Distrito Federal desde o dia 18 de maio. "Quando atua nos limites do Palácio do Planalto, não comete ilícito ao não usar a máscara. O regramento vale para o Distrito Federal. Ele age de acordo com a legalidade", afirmou. Diante da insistência do jornalista, que citou a presença de Bolsonaro em área do Distrito Federal, sem máscara, o procurador-geral disse não haver provas de que Bolsonaro tem Covid-19 e que a questão está mais ligada às responsabilidades políticas do que jurídicas. Aras repetiu durante a entrevista que a sua posição é a de garantir o equilíbrio entre os Poderes que estão em conflito no momento e que a ele cabe cumprir as leis e a Constituição. "O Ministério Público não pode ser um fator de desequilíbrio", afirmou. Para ele, não pode haver política partidária na PGR. Bial brincou dizendo parecer "assédio hetero" a concessão da Ordem do Mérito Naval ao procurador-geral, mas Aras alegou não ter sido comunicado sobre essa homenagem. No entanto, revelou que a receberia com grande honra por ter apreço à Marinha do Brasil.
SUPREMO
Aras voltou a demonstrar incômodo com a vinculação do seu nome a uma possível futura vaga no STF e atribuiu especulações nesse sentido a candidatos que estão na carreira jurídica e desejam fritá-lo. Ele afirmou que está no auge de sua trajetória profissional e pretende cumprir os dois anos à frente da PGR. "Não faço projetos para além de dois anos", garantiu. A possibilidade de Aras ser indicado caso seja aberta uma terceira vaga no STF foi citada por Bolsonaro em uma de suas lives. Ao responder pergunta encaminhada por Joaquim Barbosa, ex-presidente do STF, sobre a inconveniência de um procurador-geral almejar uma vaga no tribunal superior, Aras concordou com a avaliação. Na opinião dele, quem quer ser procurador-geral não pode desejar ser ministro do STF e, se isso ocorrer, será devido às circunstâncias.
FAKE NEWS
Aras negou ser contra o inquérito que apura a disseminação em massa de notícias falsas e ameaças a integrantes do STF. Segundo ele, a sua posição foi de pedir que "fossem fixadas as balizas" da investigação. "É preciso que o Supremo diga quais são os limites desse inquérito", afirmou. Após a operação desencadeada na semana passada, Aras solicitou ao STF que suspenda a tramitação do inquérito até o julgamento do plenário. Ele disse que foi "surpreendido" com a operação da PF "sem a participação, supervisão ou anuência prévia do órgão de persecução penal". Também defendeu a necessidade de preservar as “prerrogativas institucionais do Ministério Público de garantias fundamentais, evitando-se diligências desnecessárias, que possam eventualmente trazer constrangimentos desproporcionais".
*”Tensão renovada nas ruas e embate STF-Bolsonaro agitam os militares”* - A perspectiva de uma renovada tensão em protestos de rua se somou ao embate entre o presidente Jair Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal, elevando a apreensão na cúpula do serviço ativo das Forças Armadas. Entre oficiais-generais, há a preocupação de que os clamores golpistas do bolsonarismo ganhem corpo se houver um acirramento sem controle de manifestações contra o presidente. A avaliação é preliminar, até porque os protestos começaram no último domingo (31), como reação aos atos pró-intervenção nos outros Poderes. Na memória está 2013, quando atos inicialmente pacíficos por questões de mobilidade, após serem catalisados por dura repressão policial em São Paulo, explodiram nos maiores protestos da história. Há dois tipos de preocupação entre os militares da ativa, contudo, uma distinção que arrepia políticos com interlocução na área. A primeira, mais corrente, é a de que as Forças temem ser instrumentalizadas pelo seu comandante, Bolsonaro. O presidente já disse mais de uma vez que previa o risco de o Brasil virar um Chile, em referência à turbulência de violentos protestos enfrentados pelo governo de centro-direita local desde 2019.
Esse temor já vem desde o ano passado, e a pandemia da Covid-19 parecia afastá-lo —até o fim de semana passado. Para Bolsonaro, a desordem viria de setores da esquerda, o usual espantalho de seu campo político. Por ora, os atos pelo Brasil são atribuídos a grupos antifascistas, mas o fato é que eles não são organizados de maneira centralizada. Com isso, teoricamente há maior risco de as coisas saírem do controle, como aconteceu em 2013. O roteiro a seguir já foi decantado pelo bolsonarismo, centrado no artigo 142 da Constituição, que prevê que um dos Poderes peça a ação pontual de militares para restabelecer ordem em caso de anarquia civil. Só que tal condição implicaria a perda de controle de polícias no país todo, o que parece um despropósito. O governo federal foi leniente com a insurreição da PM cearense no começo deste ano, mas não há sinais de revoltas locais neste momento. A desconfiança atinge os três ramos fardados. No Exército, há subjacente a questão do afastamento crescente do comandante, general Edson Pujol, de Bolsonaro e de seus ministros egressos da Força. Tudo começou no ano passado, quando a ala militar do governo se engalfinhou com os bolsonaristas ideológicos e perdeu o embate em boa parte das vezes.
Já ali Pujol buscou mostrar distância. Os generais de terno deram a volta por cima em 2020 e se reforçaram, aumentando o estranhamento. A pandemia explicitou as divisões. Enquanto Bolsonaro ainda chamava a doença de "gripezinha", Pujol conclamava uma operação de combate. Bolsonaro passou a queixar-se do comandante em privado com alguns aliados. No dia 1º de maio, na troca de chefia do Comando Sul do Exército, a rixa veio a público. Pujol, primeiro da fila fardada a ser cumprimentada por Bolsonaro, estendeu-lhe o cotovelo, segundo o protocolo para evitar contato físico na pandemia, quando o presidente lhe deu a mão. O cumprimento virou uma forma informal, em algumas unidades militares, para identificar quem é bolsonarista (estende a mão) e quem não é (oferta o cotovelo). No dia seguinte, o presidente reuniu-se com os três chefes de Força e ministros militares, e sugeriu que poderia remover Pujol. O candidato especulado para o posto seria Luiz Eduardo Ramos, seu fiel escudeiro e secretário de Governo, que ainda é um general da ativa. O mal-estar foi tão grande que Ramos procurou Pujol e enviou dezenas de mensagens para negar a hipótese, revelada então pela Folha. Alguns oficiais veem Pujol ainda mais isolado e ainda passível de ser substituído, mantendo o moinho de rumores alimentado.
No sábado passado (30), Bolsonaro foi sozinho ao Comando de Operações Especiais do Exército, em Goiânia, num tipo de visita que costuma ser feita com comandante da Força presente. Havia também o simbolismo, que muitos veem como mera retórica de Bolsonaro, de o comando ser a unidade de reação rápida perto do centro do poder. Antes, o presidente havia visitado a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, no Rio, igualmente sem a presença de Pujol. A segunda preocupação entre os militares é o Supremo. Há um quase consenso entre fardados, estejam no governo ou fora dele, de que a corte age politicamente motivada contra o Planalto. A questão é o que fazer com isso. Para os entusiastas do intervencionismo estimulado pelo presidente, seria possível invocar o mesmo artigo 142 da Constituição em caso de novas ações como o veto à indicação do diretor-geral da Polícia Federal. Não há referência lá em fechar Poderes por isso. Mas a hipótese circula em grupos de WhatsApp de generais e coronéis com grande desenvoltura. Ela é amparada em uma leitura feita em artigo pelo jurista Ives Gandra da Silva Martins, que foi secundada em entrevista pelo procurador-geral Augusto Aras, que depois tentou se corrigir. Não é possível quantificar quais apoios são majoritários, embora a maior distância da Marinha e da Força Aérea do governo seja notória. Do lado dos militares no governo, dos quais Ramos é o único da ativa, a crise os fez fechar com Bolsonaro.
O temor do fracasso que um impeachment colaria à imagem do grupo, a ampliação do poder e a defesa corporativa permitiram até uma aliança com o antes Grande Satã da política, o centrão. A radicalização de Bolsonaro ofuscou inclusive o caráter moderador sempre atribuído ao ministro Fernando Azevedo (Defesa), autor de notas de defesa da Constituição quando o chefe abraçava golpistas. Nas duas últimas semanas, ele apoiou uma nota ameaçadora do colega Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e sobrevoou uma manifestação antidemocrática com Bolsonaro. A sinalização foi muito malvista entre integrantes da cúpula da ativa e de interlocutores de Azevedo na política. Já aliados dele afirmam que é apenas um sinal de lealdade próprio da doutrina militar e lembram que ele já acompanhou a ascensão e queda de um presidente de perto. Azevedo era um jovem major quando serviu como ajudante de ordens de Fernando Collor, estando ao seu lado na fatídica fotografia em que o então presidente olha ao relógio para assinar seu termo de renúncia, em 1992. Por fim, observando o cenário está o vice-presidente, general Hamilton Mourão. Ele reitera em declarações e entrevistas a mistura de crítica ao Supremo e respeito à Constituição. Para um político que o conhece bem, a incógnita é a qual leitura da Carta ele vem se referindo.
+++ A reportagem inteira é baseada em informações de bastidores, sem fontes confirmadas. É difícil saber qual o nível de conhecimento de órgãos de imprensa sobre o funcionamento do Exército, uma força tão fechada em sua cúpula.
*”Sara Winter, alvo de operação das fake news, é expulsa do DEM após ameaçar ministro do STF”*
*”Convocação de atos de rua pró-democracia ganha força, mas ideia divide grupos durante pandemia”*
*”Senado adia votação diante de divergências em projeto de lei sobre fake news”* - O projeto de lei sobre fake news foi retirado da pauta da sessão virtual do Senado desta terça-feira (2) após horas de discussão nos bastidores em relação a mudanças feitas no texto original. A decisão pelo adiamento foi anunciada por um dos autores da proposta, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), após um acordo com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). O motivo, segundo Vieira, foi um atraso na finalização do relatório, que está sendo construído pelo senador Angelo Coronel (PSD-BA), presidente da CPMI das Fake News. A expectativa é que o tema volte à pauta no próximo dia 10. Alvo de críticas de entidades progressistas, de empresas e de aliados do governo do presidente Jair Bolsonaro, o projeto vinha sendo desidratado. Pontos sensíveis, classificados de censura pelos críticos, foram retirados. Pela madrugada, um esboço do relatório circulou entre os parlamentares, mas foi duramente criticado, especialmente pelos autores do projeto em trâmite no Senado. De autoria de Angelo Coronel, o texto incorpora críticas recebidas em consulta pública e altera uma série de pontos considerados preocupantes por organizações ligadas a direitos na internet. “O texto que circulou na madrugada não tinha condições de ser votado. Mudou muito do que estamos propondo, impossível ser colocado em votação daquela forma. Conversamos com o relator, e agora ele vai ter mais tempo de fazer as mudanças”, afirmou Vieira.
A minuta de relatório de Coronel exigia documentos de identificação para cadastro em redes sociais, como CPF e RG, e permitiria que delegados de polícia ou membros do Ministério Público requisitassem a provedores de aplicações de internet, como redes sociais, essas informações. Também criava um “sistema de pontuação das contas de usuários” com base, entre alguns pontos, no “histórico de conteúdos publicados”. Chamado de "score chinês" por críticos ao projeto, ele deve ser eliminado pelo próprio autor. A redação original do projeto foi apresentada em duas frentes: na Câmara, pelos deputados Tabata Amaral (PDT-SP) e Felipe Rigoni (PSB-ES), e no Senado, por Alessandro Vieira. O texto avançou no Senado e foi modificado nos últimos dias, após críticas de organizações da sociedade civil, de aliados do governo e de empresas de tecnologia. Também nesta terça, Tabata e Rigoni retiraram o projeto anterior e apresentaram nova versão.
A ideia do texto é que pessoas que financiam redes de robôs ou contas falsas que cometem crimes como difamação em redes sociais sejam enquadradas nas leis de organização criminosa (12.850/2013) e de lavagem de dinheiro (9.613/1998), que preveem penas de 3 a 10 anos de prisão. A minuta do senador Angelo Coronel, que causou polêmica durante a madrugada, estipulava que contas na internet tivessem verificação da identidade de seu responsável. Ele exigia cópia de documento de identificação com foto, cópia do CPF ou CNPJ e de comprovante de endereço. “Os provedores de aplicação [como redes sociais] deverão manter banco de dados com todas as informações e documentos utilizados na identificação de suas contas”, dizia a minuta. Para especialistas, isso burocratiza o acesso às redes e fornece a empresas privadas mais dados além dos que elas já coletam. "Agregar CPF, RG e endereço é temerário porque piora o conjunto de dados que as grandes empresas têm. Faz com a rede social o que o Nubank, por exemplo, faz para abertura de contas bancárias. É uma medida inédita e, no limite, pode ser vista como um tratamento de usuários como potenciais criminosos, além de burocratizar o acesso", diz Bruna Martins dos Santos, analista de políticas públicas na organização Coding Rights. A ideia de incluir CPF em cadastros não é nova, ronda o Legislativo desde a promulgação do Marco Civil da Internet, em 2014. "É uma proposta zumbi, cria mais problemas do que soluciona. A identificação real na internet gera um ambiente muito propício para a vigilância absoluta", diz Danilo Doneda, professor do IDP (Instituto Brasiliense de Direito Público).
Sobre o sistema de pontuação, o texto de Coronel dizia que o provedor de aplicação, como redes sociais e outros sites, deve manter um banco de dados com tempo desde a abertura da conta, "manifestações dos demais usuários", histórico de conteúdos publicados e de reclamações registradas. “É uma mistura do sistema de score da China com um episódio de "Black Mirror" [que mostra uma sociedade distópica de vigilância]. O texto não foi modificado, ele foi reescrito, desconsiderando o funcionamento de serviços de internet e padrões de regulação internacional”, diz Pablo Ortellado, doutor em filosofia, professor da USP e colunista da Folha. Em entrevista à Folha antes do adiamento da pauta, o senador Angelo Coronel afirmou que esse ponto seria revisto. A identificação por documentos, entretanto, tende a ser mantida. "Se não colocar identificação, continuam as fake news. A própria rede vai ter um campo para que ele [usuário] se cadastre. Com isso, você evita a proliferação de pessoas que usam rede social de forma criminosa", afirmou o senador. Nos casos de investigação criminal, a polícia hoje persegue o conteúdo até chegar no IP, o que na visão do senador é insuficiente. "Estou na CPMI das Fake News há seis meses. A gente pede e as empresas não dão. Dizem que estão regidos pelo MLAT", lembra Coronel. MLAT é a sigla para tratado de assistência jurídica mútua, acordo vigente entre Brasil e Estados Unidos que determina os procedimentos para obtenção de comunicação privada de empresas estrangeiras no país. Além dessas mudanças, o texto propunha que empresas de tecnologia com mais de 2 milhões de usuários não pudessem fazer moderação de conteúdo e retirá-los de forma automática. Hoje, o Facebook barra publicações de cunho pornográfico ou com violência visual explícita.
Ficaria vedada a exclusão de conteúdo promovido por uma conta identificada —ou seja, de uma pessoa que deu seu CPF e RG— sem ampla defesa. A redação também alterava o artigo 19 do Marco Civil da Internet, que versa sobre censura. Pelo Marco Civil, as plataformas devem retirar um conteúdo da rede mediante decisão judicial. O relatório prévio sobre fake news determinava que uma simples ação na Justiça já seria suficiente para o banimento. "Estamos estudando a parte do Marco Civil. Vou manter como está no Marco Civil", disse Coronel à Folha. Especialistas também afirmam que a minuta dava espaço para bloqueios de aplicações como os registrados nos últimos anos, quando a Justiça determinou a suspensão do WhatsApp. Na semana passada, o STF (Supremo Tribunal Federal) adiou o julgamento sobre esses casos. A Coalizão Direitos na Rede divulgou nota assinada por 35 entidades e empresas, como Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), ITS-Rio, Facebook, Fercomércio-SP e ISOC Brasil, afirmando que a votação às pressas do projeto sobre fake news coloca em risco a liberdade de expressão online. "Em um contexto em que o Senado realiza deliberações por meio do sistema remoto, sem a existência de comissões, o debate aprofundado sobre o tema se mostrou comprometido desde o início", diz a nota.
*”Grupo hacker expõe dados pessoais atribuídos a Bolsonaro, filhos e aliados”* - Um perfil que se identifica como sendo do grupo de hackers Anonymous Brasil anunciou nesta segunda-feira (1º) ter vazado dados pessoais do presidente Jair Bolsonaro e de dois de seus filhos, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Também foram expostas informações atribuídas à ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, ao ministro da Educação, Abraham Weintraub, e ao deputado estadual Douglas Garcia (PSL-SP). Pouco depois, as informações foram retiradas do ar. "A turma 'pró-democracia' vazou meus dados pessoais e de outros na internet. Após vermos violações do direito à livre expressão, agora ferem a privacidade. Sob a desculpa de 'combater o mal', justificam seus crimes e fazem justamente aquilo que nos acusam, mas nunca provam!", escreveu Carlos, em sua conta no Twitter. Garcia, também pela rede social, confirmou que seus dados são verdadeiros e disse que faria um boletim de ocorrência. Procurado pela Folha, o grupo afirmou que divulgou o número do CPF, telefones e Whatsapp, e-mails, endereços, renda e bens. No site da Justiça Eleitoral há uma lista dos bens e salários de todos os políticos, porém, dados pessoais não eram públicos. "Os dados foram soltos no dia 1º de junho, às 21h30, pelo @AnonymouBrasil. Depois disso houve uma discussão com o Douglas [Garcia] e fomos suspensos", afirmou o grupo
Após o grupo ser suspenso pela rede social, eles já criaram um novo endereço. "Estávamos há 8 anos com o twitter @AnonymouBrasil, depois dos vazamentos do Bolsonaro, filhos e afiliados, a conta foi suspensa. Seguimos com essa secundária. #Anonymous #Antifascista". Um outro perfil também criado pelo Anonymous chegou a publicar fotos de um dos documentos. Um deles mostra o registro de uma empresa digital, com capital social de R$ 1.000, em nome de Bolsonaro e dos filhos. O endereço não foi exposto, mas o grupo incluiu uma foto da casa onde a empresa estaria registrada. ​
*”Bolsonaro diz que vazamento de dados pessoais por grupo de hackers é 'clara medida de intimidação'”*
*”Ministro da Justiça determina que PF investigue vazamento de supostos dados de Bolsonaro”*
*”PT rejeita pedidos de filiação com nomes da família Bolsonaro”*
*”Bolsonaro evita imprensa, abre espaço a youtubers e planeja regionalizar informações oficiais”* - Acuado politicamente e medindo forças com o STF (Supremo Tribunal Federal), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) passou a adotar uma estratégia de comunicação em que evita perguntas de jornalistas e abre espaço para youtubers simpáticos a ele. Na semana passada, influenciadores digitais bolsonaristas foram alvo de operação da Polícia Federal no âmbito do inquérito do STF que apura a disseminação de notícias falsas pela internet, as fake news. Um dia após a operação, Bolsonaro não escondeu sua irritação em um pronunciamento sem espaço para perguntas de jornalistas diante do Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente. "Querem tirar a mídia que eu tenho a meu favor sob o argumento mentiroso de fake news." Nesta segunda (1º) e nesta terça (2), o presidente também evitou a imprensa na saída do Alvorada. No dia 25, ele apareceu diante dos apoiadores que o aguardavam no local acompanhado do youtuber Fernando Lisboa, do Vlog do Lisboa, canal que tem 532 mil inscritos no YouTube e 78,6 mil seguidores no Twitter. Pouco antes da aparição, o influenciador havia tomado café da manhã com o presidente. Lisboa não foi alvo da operação deflagrada dois dias depois. Em seus vídeos, há elogios a Bolsonaro e críticas a ministros do Supremo, governadores, como João Doria (PSDB-SP), e ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
A imprensa também é alvo dos ataques de Lisboa. No dia em que acompanhava Bolsonaro, transmitiu as agressões verbais de simpatizantes do presidente aos jornalistas. Horas depois, minimizou os episódios de hostilidade. "Se a mídia não quer ser hostilizada, me desculpa, tome um pouco de vergonha na cara, que é bom, um pouco de 'semancol', caráter, e mostra a verdade. Ninguém está pedindo aqui para ficar bajulando o Bolsonaro, não. Mas que mostre a verdade, só isso. Ok?", afirmou em um vídeo assistido por quase 64 mil pessoas. No dia 23, Bolsonaro recebeu no Palácio da Alvorada um grupo de youtubers e deputados de sua tropa de choque. Entre os influenciadores, estava Bárbara Zambaldi Destefani, 33, responsável pelo canal Te Atualizei, com 586 mil inscritos no Youtube, e pelo perfil @taoquei1, seguido por cerca de 250 mil internautas no Twitter. No fim de semana, Destefani publicou entrevista de 52 minutos com Bolsonaro. Para gravar o vídeo "O homem por trás da República - Entrevista com o presidente Jair Messias Bolsonaro", assistido mais de 880 mil vezes, ela foi recebida também no Palácio do Planalto, segundo agenda oficial do presidente. O encontro ocorreu horas antes de vir a público vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, citada pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro em depoimento à Polícia Federal como evidência de que Bolsonaro desejava interferir na autonomia da PF. A influenciadora anuncia perguntas que, segundo ela, "normalmente as pessoas não perguntam, que não têm interesse em perguntar porque o Brasil, atualmente, vive de polêmicas, de narrativas".
E, em seguida, vêm questionamentos como "qual o dia mais feliz da sua vida?", "o melhor momento do dia é...?", "o senhor é caçado pela mídia, sua família é perseguida, 90% do que o senhor fala é deturpado..." e "o que te faz acordar todos os dias para mais um dia?". A youtuber aparece no despacho do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que deflagrou a operação da PF contra o esquema de fake news. O ministro diz que uma rede de 11 perfis no Twitter, entre os quais o @taoquei1, atua de modo sincronizado para espalhar ataques contra adversários de Bolsonaro e conteúdo falso. Moraes pediu a quebra de sigilo de identidade de três perfis, entre os quais o @taoquei1. A Folha entrou em contato com Fernando Lisboa e Bárbara Destefani através de suas contas no Twitter no domingo (31), mas não houve retorno até o momento da publicação desta reportagem. Em um vídeo publicado na internet, Destefani diz que apareceu no inquérito do STF porque entrevistou Bolsonaro. "Se vão fazer uma busca e apreensão na minha casa, não sei. O que eu sei, tenho certeza absoluta, é que, quando a PF chegar na minha casa, se isso acontecer, para pegar meu celular e o meu computador, eles não vão nem abrir, vão ter certeza que eu não sou financiada", disse a influenciadora. No início da semana passada, a Secom (Secretaria de Comunicação) da Presidência anunciou que está debatendo a criação de uma rede para distribuir conteúdo sobre o governo federal a veículos regionais "com o objetivo de democratizar e regionalizar o acesso à informação e fontes oficiais​".
A estratégia de valorizar blogueiros simpáticos ao governo e de tentar espaço na mídia regional também foi adotada pelo ex-presidente Lula (PT). "Atualmente, os fatos que ocorrem em Brasília são divulgados, em sua maioria, por grandes veículos de circulação nacional. A ideia do projeto é dar uma atenção às empresas de comunicação regional que têm dificuldade de manter suas equipes de jornalismo na capital federal", diz o material de divulgação da Secom da gestão Bolsonaro. A Secom tem sido criticada nas redes sociais durante a pandemia do novo coronavírus. A comunicação oficial ignora os números de mortos e, no "placar da vida", enumera apenas os números de infectados, de "brasileiros salvos" e dos que estão "em recuperação". Aos que reclamam, o perfil da Secom responde que "todos os dados sobre o coronavírus no Brasil são atualizados diariamente pelo Ministério da Saúde no portal http://covid.saude.gov.br, lá você encontra todas as informações". Na quinta-feira (28), uma internauta indagou se não publicar o número de mortos é uma estratégia. "Não é estratégia, aqui o foco é celebrar as vidas que foram salvas. Os números negativos já são bastante divulgados pela mídia", respondeu o perfil oficial do governo, mais uma vez indicando o site do Ministério da Saúde para os interessados na informação completa. No domingo (31), a Folha procurou o secretário da comunicação, Fabio Wajngarten, e a assessoria de imprensa da Presidência, mas não obteve resposta. Nesta segunda, Bolsonaro não só não falou com os jornalistas ao sair do Palácio da Alvorada, como mandou que os apoiadores fossem até uma pista de acesso na área interna da residência oficial. "A imprensa não vai poder dizer mais que eu estou agredindo ela, está certo? Conversar com o povo porque este pessoal aí não... se transmitisse a verdade, tudo bem, mas deturpam, inventam", disse Bolsonaro. A conversa foi transmitida ao vivo por apoiadores e pela própria equipe da Presidência da República.
+++ Os veículos de imprensa mencionam o ex-presidente Lula, mas não o procuram para que se posicione sobre o que está sendo dito. Além disso, a construção da notícia não é bem feita. O texto menciona blogueiros, mas não diz se estes são jornalistas ou se são meros “influencers”. A reportagem não tem começo, meio e fim. Ela faz um “apanhadão” de informações que não tem coesão.
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ELIO GASPARI - *”Uma carta de Mussolini para Bolsonaro: 'os fascistas comiam com as mãos'”*
*”Após evidência de gasto elevado, governo Bolsonaro atrasa dados sobre cartão corporativo”* - Após o elevado gasto com cartão corporativo da Presidência da República ser revelado pela imprensa, o governo Jair Bolsonaro (sem partido) não seguiu o protocolo e a fatura de maio ainda não foi apresentada. Os dados mais recentes divulgados pelo Portal da Transparência mostram o extrato de abril, referente às despesas de março. A CGU (Controladoria-Geral da União), responsável pela plataforma, informou à Folha, por duas vezes em maio, que a fatura do mês (com os gastos de abril) seria publicada até o último domingo (31). Porém, o portal segue inalterado. A última atualização foi em 1º de abril, segundo a CGU. Procurada, a CGU disse que o lançamento deverá ser feito até esta quarta-feira (3) e que o atraso ocorreu por causa da sobrecarga no processamento de dados a serem incluídos no portal. O Palácio do Planalto não se manifestou. No dia 10 de maio, reportagens mostraram o alto volume das despesas com cartão corporativo da Presidência da República. Acuado, Bolsonaro chegou inclusive a se defender sobre o assunto em conversa com apoiadores na frente do Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente.
A Folha noticiou que a gestão atual gasta mais com esses cartões do que Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB). Sob Bolsonaro, gastou-se, em média, R$ 709,6 mil por mês, o que representa uma alta de 60% em relação ao governo do emedebista e de 3% em comparação com a administração da petista. Por mês, Dilma tinha uma média de gastos de R$ 686,5 mil, enquanto Temer despendia R$ 441,3 mil. Os dados são do Portal da Transparência do governo federal, que reúne informações de 2013 a março de 2020 (fatura mais recente, de abril). Os valores foram corrigidos pela inflação do período. As comparações são com base nas faturas do CPGF (Cartão de Pagamento do Governo Federal) da Secretaria de Administração da Presidência da República, que cuida das despesas de Bolsonaro, de sua família e de funcionários próximos —por exemplo, da Casa Civil. No dia 7 de maio, a CGU declarou que não havia atraso na publicação da fatura do mês, que reúne as despesas realizadas em abril. "Os dados de cartões de pagamento estão atualizados até 04/2020. A próxima atualização, cuja periodicidade é mensal, está prevista para o dia 31." No dia 18 de maio, em um novo questionamento, a CGU manteve o prazo. "Considerando as rotinas de processamento e carga dos dados no Portal da Transparência, a CGU trabalha com um prazo estimado de publicação até o final de cada mês subsequente." O órgão ainda ressaltou que, sempre que possível, antecipa a atualização do sistema, citando que o extrato de abril (com gastos de março) foi disponibilizado no dia 1º, e não no dia 31 de abril.
"É preciso que esses dados sejam divulgados de maneira regular para que haja o acompanhamento sobre essas verbas que interessam a todos. Não há nenhum motivo para esse atraso", disse o secretário-geral da ONG Contas Abertas, Gil Castello Branco. Os cartões corporativos do Planalto são usados, entre outras despesas, para a compra de materiais, prestação de serviços e abastecimento de veículos oficiais. Eles também financiam a operação de segurança do presidente em viagens (até o momento foram 13 internacionais), além da manutenção e realização de eventos na residência oficial, o Palácio da Alvorada. Os valores totais das despesas do cartão da Presidência são divulgados. Porém, há sigilo sobre a maioria dos gastos, como alimentação e transporte do presidente. O argumento é que são informações sensíveis da rotina presidencial e que a exposição pode colocar o chefe do Executivo em risco. Em resposta às reportagens de maio, Bolsonaro disse que a fatura de seu cartão incluiu R$ 739 mil, em fevereiro, usados em uma operação de repatriação de 34 brasileiros que estavam em Wuhan, na China, onde foram registrados os primeiros casos de coronavírus. Isso, porém, ainda não foi comprovado, pois o governo mantém o sigilo sobre quase todo o detalhamento do extrato. Apesar de Bolsonaro citar apenas este argumento, a Secretaria-Geral da Presidência afirmou, na época, que o aumento das despesas com os cartões corporativos também são decorrentes, entre outros gastos, do "atendimento da manutenção" e de "eventos na residência presidencial". A pasta ressaltou que o número de parentes do presidente é maior do que o dos antecessores, o que "acarreta no incremento de despesas para as atividades, sobretudo as de segurança institucional".
Em relação às viagens do presidente, o governo disse que todas têm suporte da equipe de segurança, o que inclui hospedagem, alimentação, pedágios e combustível. Nos deslocamentos internacionais, são pagas ainda despesas aeroportuárias. Antes de assumir o governo, a equipe de Bolsonaro chegou a avaliar o fim desses cartões, que desencadearam um escândalo político com auxiliares do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Os cartões corporativos, porém, ainda continuam funcionando. Esses meios de pagamento foram criados em 2001, no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Na gestão Bolsonaro, as despesas vinculadas ao gabinete do presidente e a funcionários do Planalto aceleraram a partir de outubro do ano passado. No discurso que fez após a saída do ex-juiz Sergio Moro do Ministério da Justiça, em abril, Bolsonaro citou iniciativas que ele disse ter tomado para evitar gastos excessivos do dinheiro público e para "dar exemplo".
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*”Fila do Bolsa Família ainda penaliza Norte e Nordeste”* - O Bolsa Família atendeu menos famílias nas regiões Norte e Nordeste em maio deste ano do que no mesmo mês de 2019, justamente no momento em que o governo avalia prorrogar o auxílio emergencial e economistas falam em criar uma renda básica permanente para reduzir as desigualdades sociais. Nas regiões mais ricas do país, o Sul e o Sudeste, houve um aumento no número de beneficiários, considerando o mesmo período. Há um ano, o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) iniciou uma sequência de cortes de famílias e praticamente travou a entrada de novos beneficiários. Com o afrouxamento do Orçamento neste ano por causa da pandemia, mais dinheiro foi destinado ao programa e o governo atende a mais pessoas carentes. Mas a fila de espera ainda persiste. São 433 mil famílias aptas a receber o benefício e que ainda aguardam liberação, segundo dados obtidos pela Folha por meio da Lei de Acesso à Informação. Esta é a primeira vez que o Ministério da Cidadania revela oficialmente o tamanho da fila. Desde outubro do ano passado, quando a Folha mostrou o enxugamento no Bolsa Família, o governo se recusava a apresentar informações à imprensa e à Câmara, que cobrava respostas. Sem dinheiro, a equipe de Bolsonaro passou a controlar o acesso ao programa a partir de junho de 2019. A fila chegou a 1 milhão de famílias em dezembro do ano passado e, no primeiro trimestre de 2020, a 1,6 milhão, segundo técnicos do governo que não quiseram ser identificados. O valor extra para o Bolsa Família na pandemia permitiu que o Ministério da Cidadania incluísse cerca de 1,2 milhão de famílias. Isso, contudo, não representou uma retomada do programa ao período anterior aos cortes. Norte e Nordeste ainda não se recuperaram totalmente (queda de aproximadamente 1,5%), enquanto que Sul e Sudeste registraram uma ampliação da cobertura —de 1,21% e 1,33%, respectivamente.
Portanto, a fila de espera remanescente penaliza mais os estados das regiões mais pobres. O Ministério da Cidadania diz que o sistema para incluir famílias é automático e leva em consideração um modelo com a estimativa de pobreza em cada estado. O governo, porém, usa um mecanismo estatístico com base em dados colhidos no Censo de 2010, realizado pelo IBGE. Na época, foi calculado que 13,8 milhões de lares se encaixam em situação de vulnerabilidade de renda. “Definiu-se, assim, o número estimado de famílias pobres por município, servindo de parâmetro para as concessões de benefício do Bolsa Família atualmente”, diz a pasta. Hoje, o programa atende a 14,3 milhões de lares —sem considerar a fila de espera. A tabela usada pelo governo aponta, por exemplo, que, em março, quando muitos estados do Nordeste registraram a menor cobertura dos últimos anos, a região tinha 105% dos benefícios estimados no sistema. Ou seja, o Bolsa Família atendia mais do que o esperado pelo modelo do governo, enquanto a fila de espera atingia nível bastante elevado. O mesmo aconteceu com o Norte —mas em alguns estados da região, como Rondônia, a estatística ainda indicava déficit de cobertura. Por isso, na hora que o programa foi destravado, em abril por causa do coronavírus, a liberação foi maior para as outras regiões —o Sul tinha, em março, uma cobertura de 73% do parâmetro calculado há dez anos, e o Sudeste, de 84%.
“Isso precisa ser ajustado. O IBGE tem estudos mais recentes. Por exemplo, a Pnad [Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios], que é menos ampla que o Censo, mas que serviria para reestimar a distribuição da pobreza”, avalia Maurício Bugarin, professor do Departamento de Economia da UnB (Universidade de Brasília) e que já fez um estudo sobre a qualidade do gasto público no Bolsa Família. Para aprimorar o programa, ele sugere uma ampliação do orçamento. Assim, seria possível criar medidas que estimulem famílias a se tornarem independentes, com acesso a microcrédito e educação financeira. O governo estuda uma reformulação dessa política social desde do primeiro ano da atual gestão, mas, até hoje, não foi lançado. O Bolsa Família é o carro-chefe dos programas sociais do governo e transfere renda diretamente para os mais pobres. A fila de espera se forma quando as respostas demoram mais de 45 dias.
O prazo vinha sendo cumprido desde agosto de 2017, durante a gestão de Michel Temer (MDB). Mas, por falta de recursos, o programa não consegue cobrir a todos desde junho do ano passado. O Bolsa Família atende a famílias com filhos de 0 a 17 anos e que vivem em situação de extrema pobreza, com renda per capita de até R$ 89 mensais, e pobreza, com renda entre R$ 89,01 e R$ 178 por mês. O benefício médio foi de R$ 191,86 até março. Temporariamente, durante a pandemia, o valor depositado a quase todas as famílias será o mesmo do auxílio emergencial dado a trabalhadores informais e microempreendedores —de R$ 600. Técnicos do governo temem que, sem a ampliação do Bolsa Família, a fila aumente ainda mais. Mais pessoas devem sofrer corte na renda por causa da crise econômica e entrar na faixa considerada pobre ou extremamente pobre, que tem direito à transferência. Assim que estourou a pandemia, Onyx Lorenzoni, recém-transferido para o Ministério da Cidadania, anunciou que em abril a cobertura do Bolsa Família, após sofrer sucessivos cortes, seria recorde. Mas não foi. Foram 14,27 milhões de famílias beneficiadas em abril, contra 14,34 milhões em maio do ano passado. Em maio de 2020, a cobertura passou para 14,28 milhões, ainda sem retomar o patamar anterior à maior sequência de cortes na história do programa.
+++ A reportagem assume a lógica dos governos de direita que administram o país desde o golpe de 2016, dizendo que não havia recursos e, por isso, o programa foi travado. A implementação do teto de gastos e os cortes no Bolsa Família fazem parte de uma opção política. No entanto, o jornal se recusa a apresentar essa leitura e assume a lógica da direita. Isso porque o jornal é considerado crítico ao governo. Na verdade, é crítico à postura de Bolsonaro, ao discurso ideológico, mas apoia a agenda econômica.
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*”Governo vai usar BNDES para destravar R$ 20 bilhões de crédito para pequenas e médias empresas”* - Numa tentativa de destravar empréstimos para pequenos e médios empresários durante a pandemia do novo coronavírus, o governo Bolsonaro lançou um programa que permite o uso do FGI (Fundo Garantidor para Investimentos) do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para a concessão de crédito. O chamado Programa Emergencial de Acesso a Crédito foi lançado nesta terça-feira (2) em Medida Provisória publicada no Diário Oficial da União. O instrumento é destinado a empresas que tenham registrado em 2019 receita bruta entre R$ 360 mil e R$ 300 milhões. O fundo servirá como garantia a empréstimos concedidos por instituições financeiras. Desde o início da pandemia, empresas se queixam do aumento das exigências de garantias por parte dos bancos para o acesso a crédito, além do aumento das taxas de juros. O objetivo, de acordo com a MP, é "facilitar o acesso a crédito por meio da disponibilização de garantias e de preservar empresas de pequeno e de médio porte diante dos impactos econômicos decorrentes da pandemia de coronavírus, para a proteção de empregos e da renda". O governo fica autorizado a destinar R$ 20 bilhões para o FGI para a cobertura de operações financeiras contratadas no âmbito do programa. Segundo a medida, os aportes no fundo ocorrerão em quatro parcelas sequenciais, no valor de R$ 5 bilhões.
A MP não fixou uma regra sobre qual será a taxa de juros praticada pelos bancos, diferentemente, por exemplo, do crédito para financiar a folha de pagamento (no qual os bancos são obrigados a emprestar pela Selic, hoje em 3% ao ano). A regulamentação a ser feita pelo Ministério da Economia trará uma definição sobre o tema, segundo fontes do governo. A expectativa da pasta é que o programa vai estar regulamentado e operacional ao final do mês. Procurados, os bancos afirmaram que devem aguardar regulamentação da medida para decidir como vão atuar na linha de crédito. Em nota, o Itaú Unibanco afirmou, por meio de sua assessoria, que enxerga de forma positiva medidas que contribuem para a sustentabilidade e viabilidade das operações de micro, pequenas e médias empresas neste momento de pandemia. “Assim como tem feito para os demais programas criados pelo governo nesse contexto, o banco estará 100% apto a oferecer as novas linhas quando estiverem regulamentadas e disponíveis”, diz o Itaú. Já a Caixa disse, também em nota, que adotará critérios técnicos para a concessão de crédito com a nova garantia. Na semana passada, o governo já havia publicado outra MP para liberar R$ 15,9 bilhões em recursos do Tesouro que serão usados como garantia de empréstimos a micro e pequenas empresas, no âmbito de um programa de crédito destinado a esse segmento.
A lei que criou o Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte) foi sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro em meados de maio. Os bancos que fizerem parte do programa terão de operar com recursos próprios para conceder os créditos às empresas. No entanto, contarão com garantia aportada pelo Tesouro de até 85% do valor de cada operação. A garantia do Pronampe ocorre através do FGO (Fundo de Garantia de Operações), administrado pelo Banco do Brasil. O ministro da Economia, Paulo Guedes, vinha criticando a atuação de bancos durante a crise da covid-19. Guedes e sua equipe consideram que recursos estão ficando represados nas instituições, em vez de serem emprestados a empresários que passam aperto com a pandemia.
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*”'A gente lamenta todos os mortos, mas é o destino de todo mundo', diz Bolsonaro”* - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) lamentou, na manhã de hoje, os mais de 30 mil óbitos no Brasil por conta do novo coronavírus, mas apontou que a morte é o 'destino de todo mundo'. A fala aconteceu após uma apoiadora pedir, na saída do Palácio da Alvorada, que Bolsonaro enviasse uma mensagem de conforto para as famílias em luto em consequência da pandemia. "A gente lamenta todos os mortos, mas é o destino de todo mundo", disse o presidente. Ainda sobre o coronavírus, o presidente voltou a defender o uso da cloroquina. Para o chefe do Executivo, quem critica o medicamento precisa apresentar alternativas. A cloroquina não tem eficácia comprovada, mas foi usada no tratamento da covid-19 no início da pandemia no Brasil e em outros lugares do mundo em casos específicos, sob supervisão médica. O governo federal mudou recentemente o protocolo sugerindo o uso também em casos leves, o que é refutado por grande parte dos especialistas.
Países como a França suspenderam a aplicação diante de resultados de novos estudos, e a OMS (Organização Mundial da Saúde) não recomenda seu uso. "O pessoal que reclama da cloroquina, então dê alternativa. Que diga 'sou contra isso', mas aponte qual é a outra [alternativa]. Sabemos que pode ser que não seja tudo isso que alguns pensam, mas é o que aparece no momento. Pode [não ser tudo isso], mas tem muito relato de pessoas, muito médico favorável. A briga farmacêutica é muito grande", disse, em transmissão gravada por apoiadores. Com a confirmação de 1.262 novas mortes contabilizadas pelo Ministério da Saúde hoje, o Brasil tem 31.199 óbitos. Segundo o balanço mais recente, o país registra 555.383 casos confirmados de covid-19 em todo o território. Em 1º de maio, o número de pacientes infectados era de 91.589. Ainda segundo a pasta, 300.546 casos seguem em acompanhamento. Mais de 223 mil pacientes já se recuperaram da doença. Os dados da Universidade Johns Hopkins apontam o país atrás de apenas outros três no total de mortos pela covid-19. São eles: Itália (33.475), Reino Unido (39.123) e Estados Unidos (105.003).
*”SP tem recorde de mortes e de novos casos de coronavírus em um dia”*
*”Com diminuição da fila por vaga de UTI, Pernambuco anuncia reabertura gradual”* - Após 15 dias da chamada quarentena rígida contra o novo coronavírus em Pernambuco, com restrição de circulação de carros e de pessoas no Recife e em quatro cidades da região metropolitana, o governador Paulo Câmara (PSB) anunciou na segunda-feira (1) a retomada gradual das atividades econômicas. Pernambuco foi um dos primeiros estados do Brasil a adotar medidas restritivas. O primeiro decreto, com regulamentação para evitar aglomerações, foi assinado no dia 13 de março. A partir do dia 8 de junho, serão liberadas obras de construção civil, desde que funcionem com 50% da carga de trabalhadores, e o comércio atacadista, das 9h às 18h. O protocolo de distanciamento social, higiene e monitoramento deve ser cumprido. Praias, parques e calçadões permanecem fechados.
No dia 15 de junho, salões de beleza, barbearias e serviços de estética vão ser liberados para atendimento de um cliente por vez. Lojas de varejo de bairro que tiverem até 200 m2 estarão autorizadas a retomarem a atividade a partir desse dia. Shoppings centers, centros comerciais e praças de alimentação poderão funcionar apenas para entrega de produtos nos pontos de coleta, sempre no horário das 12h às 18h, também a partir do dia 15 de junho. Os treinos dos times de futebol da capital e do interior estarão liberados a partir do dia 15. Os jogos, mesmo sem a presença de público, ainda não têm data definida. O planto de reabertura gradual, de acordo com o governo, só será finalizado totalmente após 11 semanas. Na tarde desta segunda-feira, autoridades sanitárias estaduais informaram que o momento aponta para a tendência de uma estabilização da curva dos casos da Covid-19 em Pernambuco. O patamar, porém, ainda é bastante elevado. Três dados básicos para decisão de colocar em prática o plano de flexibilização foram analisados durante 22 semanas epidemiológicas: número de casos da doença, quantidade de óbitos e pressão no sistema de saúde por demanda de vagas de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e de enfermaria.
Pernambuco ocupa a quinta colocação em número de mortes em decorrência do novo coronavírus. Até esta segunda-feira, havia o registro de 2.875 óbitos. São 34.900 casos confirmados da doença no estado. Nas últimas semanas, a SES (Secretaria Estadual de Saúde) registrou uma diminuição na fila por uma vaga de UTI para pacientes com síndrome respiratória aguda grave. Na manhã desta segunda-feira, 78 pessoas, incluindo seis crianças, esperavam por um leito de UTI na rede pública de Pernambuco. Há uma semana, 189 doentes aguardavam a vaga. No início de maio, havia 256 pacientes, conforme a Folha mostrou. A quarentena mais rígida, com rodízio de veículos e permissão para a população sair de casa apenas para realizar atividades essenciais, teve início no dia 16 de maio e terminou no domingo passado (31). No primeiro dia sem "lockdown", foram registradas aglomerações, sobretudo nos transportes públicos. As taxas de isolamento social ficaram abaixo dos 50% no Recife (47,3%), Olinda (47,1%), São Lourenço da Mata (44,3%), Camaragibe (44,3%) e Jaboatão dos Guararapes (43,9%). O governo de Pernambuco destacou que o restabelecimento escalonado das atividades econômicas e a circulação de pessoas nas próximas semanas serão avaliados diariamente. Há um alerta de que o cumprimento do cronograma de reabertura depende do comportamento das curvas de contaminação e de mortes provocadas pelo novo coronavírus. “Os dados da saúde mostram que a epidemia teve uma estabilização em Pernambuco. Mas esta não é uma condição estática, obedece a uma dinâmica com muitas variáveis”, disse o governador Paulo Câmara (PSB).
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*”Maior favela de palafitas do Brasil enfrenta pandemia, incêndio e enchentes”* - Por cima da água que passa embaixo das palafitas que abrigam centenas de famílias na zona noroeste de Santos, no litoral paulista, um incêndio começou na noite do último dia 20 de abril, e 125 famílias foram afetadas pelo fogo e viram seus barracos queimarem. Maior comunidade de palafitas –tipo de habitação sustentada por estacas às margens de um rio –do Brasil, a favela do Dique Vila Gilda abriga cerca de 26 mil pessoas. E, além dos problemas rotineiros, como incêndios e tempestades, que alagam as ruas e casas, o Dique vem sofrendo os impactos da pandemia de Covid-19, com proliferação de casos da doença e subnotificação. “Nesse incêndio eu não consegui ajudar. Sempre sou o primeiro a ir, mas não tinha forças mesmo. Só ouvia o pessoal passando”, conta o morador Carlos Alberto Moraes, 50. Piloto, apelido que Carlos conta ter ganhado na comunidade pelo modo como dirige a bicicleta inseparável, estava de cama, febre e sintomas do novo vírus no dia que viu o fogo se alastrar entre os barracos vizinhos.
“Do meio das palafitas para o final é onde o bicho pega. É muito difícil. Ali as pessoas dormem preocupadas com água, vento e fogo, porque podem perder tudo”, disse José Virgílio de Figueiredo, 71. Presidente e fundador do Arte no Dique, instituição cultural da comunidade que tem 85% de seus colaboradores oriundos das palafitas, Virgílio apontou que sente a proximidade do novo coronavírus pelo aumento de pessoas ao seu redor com sintomas da doença. São amigos, conhecidos, mães de alunos, jovens e colaboradores do instituto que foram contaminados, alguns deles em leitos de hospitais da região. “Não é uma coisa passageira”, diz. Em um dos becos da comunidade, diversos moradores apresentaram sintomas semelhantes: perda de paladar, dor de cabeça e febre. “Aqui quase todo mundo pegou. Eu e meu marido quase nem saímos de casa mais”, conta a dona de casa Sonia Maria Aparecida, 58, cuja filha e o neto contraíram o vírus.
A assistente de marketing Denise Correia Santos, 33, foi uma das moradoras do Dique que sofreu com a subnotificação. Quando conversou com a reportagem, ela ainda se recuperava em casa de um diagnóstico positivo do Covid-19, obtido após duas visitas a hospitais da região que haviam descartado a hipótese de coronavírus. “Os médicos diziam que poderia ser problema gastrointestinal, um outro disse que era coluna”, apontou. Sem febre nem falta de ar —sintomas típicos da Covid-19—, Denise começou a sofrer de fortes dores de estômago, similares a uma gastrite. O desconforto foi aumentando com o passar dos dias e passou a ser acompanhado de inchaço abdominal, até se tornar quase insuportável. Ela só teve o diagnóstico positivo 11 dias depois do início dos sintomas depois de se dirigir a um dos pontos de testes grátis disponibilizados pela Prefeitura de Santos. Enquanto estava doente, Denise, que mora no Dique com o marido e três filhos, mandou as crianças para a casa da irmã, outra que passou a ter os sintomas de coronavírus. Ela conhece outros moradores da comunidade, inclusive do grupo de risco, que foram dispensados de hospitais locais, mas com a piora dos sintomas fizeram o exame gratuito com a prefeitura e tiveram resultado positivo. “Muita gente aqui não tem como ficar em casa, porque famílias de muitas pessoas moram juntas em uma mesma casa, de poucos cômodos, então é difícil”, relata.
O bairro do Rádio Clube, onde está o Dique, é o terceiro em Santos com mais casos do novo coronavírus: são 212 contaminados e sete óbitos. A Baixada Santista, por sua vez, é um dos focos da Covid-19 no estado de São Paulo. De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a Baixada Santista tem 192 favelas, sendo que 38 delas ficam em Santos. O Dique Vila Gilda, que fica às margens do rio dos Bugres, é a maior, com 3.490 casas, e só fica atrás da Vila Esperança, em Cubatão, a maior da região. A comunidade também está próxima das unidades de saúde: a 886 metros de um hospital com possibilidade de internação e 373 metros de um estabelecimento atenção primária. Além da Covid-19, os habitantes do Dique convivem com a dificuldade de impor o isolamento social em uma comunidade com casebres grudados entre si, que abrigam até uma dezena de pessoas em um mesmo cômodo, segundo relatos ouvidos pela Folha. “Uma palafita tem 20 m², com sete pessoas dentro. É impossível respeitar uma quarentena aqui”, disse um dos frequentadores do local.
A preocupação ainda tem aumentado com o ressurgimento de bailes funk, agora improvisados por sons de carros. Foram constantes as reclamações de moradores à reportagem, que visitou o local no dia 27 de maio. A maior parte deles não quis se identificar com medo de retaliações. “Fim de semana é complicado. Vem muita gente de fora da comunidade. Eles vêm, ligam carros com som alto e aí começa, né? Tem muita aglomeração. No último feriado lotaram as ruas. Tem sido cada dia mais difícil”, disse Solange Aparecida Aires, 56, moradora do Dique desde os 12 anos. Ela teme perder o pai de 86 anos, que já tem a saúde debilitada após sofrer três AVCs e tem os filhos e netos com problemas respiratórios, todos com quadros agudos de bronquite. Outra dificuldade vista no Dique é a chegada de ambulâncias. Além de ser uma região perigosa, a favela é de difícil acesso, especialmente para dentro das palafitas, o que atrapalha atendimentos dos moradores, ainda mais em uma pandemia. Segundo relatos de moradores, em alguns casos, após a chegada do Samu, a pessoa tem que ser transportada pelos moradores até o veículo, porque não tem como entrar nos becos das palafitas. Os moradores se ajudam.
SOLIDARIEDADE EM MEIO AO CAOS
Por outro lado, a doença vem ajudando o espírito de solidariedade na região. Até o fim de maio, o Arte no Dique ajudou a prestar atendimento a 400 famílias, com doações de cestas básicas, máscaras, cartões de alimentação, limpeza e higiene. Também foram doadas marmitas e até 70 quilos de frutas por dia às famílias das palafitas. A entidade, que tem parcerias com a iniciativa privada e com prefeitura, tem como proposta a realização de ações, oficinas e cursos profissionalizantes aos moradores da região.
A sede do instituto abriga oficinas de balé, percussão, violão, customização, informática, capoeira e teatro, todas online durante a pandemia, além de atividades como sessões de cinema e palestras, suspensas por enquanto. Apesar da ajuda da ONG, ainda há limitações. As cestas doadas, por exemplo, só podem ser retiradas na própria sede do Arte no Dique. Sem condições de atenderem a todos, líderes comunitários apontam pessoas que fizeram pedidos e apresentam mais necessidade. Depois disso, são realizados agendamentos. No incêndio de 20 de abril, além de suas casas, 35 famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família também perderam os cartões de saque do benefício, o que vem dificultando o recebimento dos valores. A Prefeitura de Santos afirma que, no momento, estão em construção 1.318 apartamentos em dois conjuntos habitacionais que atenderão moradores do Dique Vila Gilda. E que, atualmente, 641 famílias recebem mensalmente auxílio financeiro. Contra a subnotificação, o município tem oferecido testes rápidos e grátis do Covid-19 pela cidade. Também conta que, desde março, oferece 40 mil refeições nas quatro unidades do Bom Prato da zona noroeste. Sobre os bailes funk, a Polícia Militar diz que busca proporcionar segurança à comunidade e tem realizado operações específicas para impedir que ocorram eventos não autorizados.
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MÔNICA BERGAMO - *”Organizadores de manifestação contra Bolsonaro temem presença de infiltrados”*: Uma das maiores preocupações dos organizadores do ato contra Bolsonaro marcado para o domingo (7) é a presença de infiltrados nas manifestações. Em reuniões que antecedem o evento, já há uma discussão de estratégias para identificar pessoas que se inserem nas passeatas apenas para criar confusão.
MÔNICA BERGAMO - *”Fala de Lula contra manifestos contrariou apoiadores”*: A fala de Lula se dizendo contra a adesão a manifestos pela democracia que não contemplem pautas trabalhistas contrariou apoiadores do petista que endossaram os documentos. Emissários do PT conversaram com alguns deles para sondar as reações, que foram, em sua maioria, de desaprovação.
MÔNICA BERGAMO - *”Estudo brasileiro começa a testar uso de plasma em pacientes de Covid-19”*
MÔNICA BERGAMO - *”Deputados temem que sessões virtuais de CPI na Alesp gerem dificuldades para obter depoimentos”*
MÔNICA BERGAMO - *”Associação de cineastas faz ato contra a crise da Cinemateca”*
MÔNICA BERGAMO - *”Abril teve queda de 23% na busca de crédito por empresas, diz Serasa”*
 
CAPA – Manchete principal: *”30 mil histórias – Recorde de mortes em 24 horas no país põe em xeque as medidas que afrouxam distanciamento”*
EDITORIAL DO GLOBO - *”A violência é inimiga da democracia”*: Orisco de a crise institucional ser agravada pela violência começou a surgir no domingo na Avenida Paulista, quando a Polícia Militar interveio para manter separados grupos pró-Bolsonaro e autodenominados pró-democracia, convocados entre integrantes de torcidas organizadas de times de São Paulo. A bandeira de uma organização neonazista ucraniana em um carro de som bolsonarista e a tentativa de repetir no Brasil a politização de grupos de torcedores como ocorre na Argentina deram um ar de distanciamento da realidade aos dois lados, mas não se pode menosprezar o que aconteceu neste domingo. Na Avenida Atlântica, por sua vez, houve nova indicação de que a política pode estar se infiltrando nos estádios, também com o desfile de torcedores democratas, o que é ruim para a política e para o esporte. Torcer por um time nada tem a ver com ideologia, nem preferências políticas podem estar subordinadas a performances e paixões esportivas. São universos distintos. Lideranças políticas da grande maioria dos defensores da democracia —os 70% mensurados em pesquisas —precisam agir para esvaziar qualquer possibilidade de a desavença ideológica se converter em conflitos que só interessam aos que não desejam que as instituições republicanas façam a devida mediação entre os diversos segmentos políticos e ideológicos, dentro da regra do jogo, ou seja, a Constituição. É fácil perceber quem eles são. São necessários cuidados não apenas sanitários na fase em que o país entra, como início do relaxamento de quarentenas e isolamentos sociais, quando a circulação nas grandes cidades começará a voltara o normal. O retor nodas sessões presenciais no Congresso e do trabalho nas comissões reativarão o fluxo da política representativa, e espera-se que a reabertura desses canais sirva para descomprimir o ambiente. Mas podem ser mal usados.
Os de fato democratas devem atentar para o que aconteceu na noite de segunda e início da madrugada de ontem em Curitiba. Uma manifestação política, convocada para ser contra o racismo, inspirada nos protestos americanos, dentro dos marcos da liberdade constitucional de expressão, foi transformada em quebra-quebra e vandalismo. Começou com gritos contra Bolsonaro e de reverência à vereadora assassinada Marielle Franco — tudo legal — e terminou de forma violenta, coma necessária intervenção da polícia. Deve-se recordar 2013, ocasião em que uma série de demandas pela melhoria de serviços públicos básicos — transporte, educação — levou a uma articulação de jovens por meio das redes sociais que desembocou numa série de manifestações em grandes cidades, deflagradas pelo aumento de R$ 0,20 na tarifa de ônibus na cidade de São Paulo. O PT e sindicatos, donos de máquinas capazes de mobilizar protestos a qualquer hora, em qualquer lugar, foram surpreendidos. Mas também se aproveitaram do momento os black blocs, grupo de extremistas de diversos matizes, para praticar o vandalismo que ressurge agora em Curitiba. Em 2013, os depredadores esvaziaram aquela mobilização importante por um Estado capaz de dar à população um retorno proporcional aos pesados impostos que recolhe. A violência agora produzirá estragos políticos ainda maiores.
*”142, o artigo da vez – PGR, OAB e STF rechaçam uso da Constituição para intervenção militar”*
ANALÍTICO - *”Lula se enfraquece ao se isolar de manifestos pró-democracia”*: Ao criticar os manifestos pró-democracia lançados no fim de semana, o expresidente Lula talvez tenha sacramentado a sua despedida do papel de protagonista da vida política nacional que exerceu desde a redemocratização. Seja no movimento pelas Diretas, nos dois processos de impeachment ou nas oito eleições presidenciais ocorridas no período, o líder petista sempre esteve em cena com destaque. Agora, caso os movimentos atuais ganhem corpo (o manifesto Estamos Juntos já reuniu 2,5 milhões assinaturas), Lula pode se consolidar apenas como líder de um grupo minoritário e sectário na política nacional, num movimento oposto ao que o levou ao poder em 2002. Pessoas próximas reconhecem que o ex-presidente ainda não encontrou o seu espaço depois que deixou a prisão, em novembro. Seu círculo de interlocutores diminuiu, tanto na quantidade como na diversidade de visões. Em sua fala contra os movimentos pró-democracia na segunda-feira, Lula descartou dividir manifestos com quem apoiou o impeachment de Dilma Rousseff. Porém, não mencionou que, ainda em 2017, durante uma caravana pelo Nordeste, foi recebido com pompa em Alagoas pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL). Renan presidia o Senado na época do afastamento da ex-presidente e votou pelo impeachment. Lula também provocou constrangimentos entre aliados. Ao dizer não ter mais idade para ser “Maria vai com as outras”, o ex-presidente criticou de forma indireta Fernando Haddad, que assinou o manifesto Estamos Juntos. Quando citou o Basta!, voltou-se contra boa parte dos advogados do Grupo Prerrogativas, que apoiaram a sua cruzada contra a Lava-Jato. Ao destilar as suas críticas aos documentos pró-democracia, Lula se esquece que a sua participação em um movimento desse tipo hoje em dia talvez não tenha mais o poder catalisador do passado. Em março, um manifesto pela renúncia de Bolsonaro reuniu nomes de partidos de esquerda e centro-esquerda. Na ocasião, muitos políticos só aceitaram assinar o texto porque o petista ficou de fora.
*”Ministro da Justiça manda PF investigar hacker”*
*”Secom faz 2 milhões de anúncios em sites inadequados”* - Relatório produzido apedido da CPMI das Fake News identificou 2,065 milhões de anúncios pagos com verba da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) em sites, aplicativos de telefone celular e canais de YouTube que veiculam conteúdo considerado inadequado. Entre eles estão páginas que divulgam notícias falsas, oferecem investimentos ilegais e até aplicativos com conteúdo pornográfico. O relatório, elaborado por consultores legislativos, foi divulgado ontem pela CPMI. Seus dados foram obtidos por meio da Lei de Acesso a Informação(LAI). O relatório diz que, apesar de ter solicitado informações do período entre janeiro e novembro de 2019, a Secom só forneceu dados referentes a 38 dias, entre 6 de junho e 13 de julho do ano passado. Mesmo assim, segundo o relatório, foi possível identificar que parte dos anúncios pagos pela Secom foi parar em canais com conteúdo inadequado. A verba utilizada nesse período era para a campanha sobre a Reforma da Previdência e se refere ao orçamento distribuído na internet por meio da plataforma Adwords e Adsense do Google. Essa publicidade é direcionada de forma automática, mas é possível bloquear tanto sites específicos quanto categorias de assuntos.
No total, os consultores da CPMI identificaram 893 canais considerados inadequados que veicularam um total de 2.065.479 anúncios. Entre esses canais estão 47 sites que divulgam notícias falsas, 741 canais do YouTube que foram removidos pela plataforma por descumprimento de regras, 12 sites com notícias sobre jogos de azar, sete que fazem ofertas de investimentos ilegais e quatro com conteúdo pornográfico. A classificação do que é um site que divulga notícias falsas foi feita pela própria equipe que elaborou o relatório. Entre as páginas citadas nessa categoria estão vários sites de apoio ao presidente Jair Bolsonaro — como o “Jornal da Cidade Online”, “Jornal 21 Brasil”, “Terça Livre” — e também críticos ao presidente, como “Diário do Centro do Mundo” e “Revista Fórum”. Ao todo, os 47 sites que divulgam notícias falsas identificados pelo relatório receberam 653.378 anúncios. Os sites com conteúdo pornográfico receberam 27 anúncios. O relatório ainda identificou cinco canais que fazem promoção pessoal de autoridades como o presidente Jair Bolsonaro e que receberam anúncios pagos pela Secom. Entre os canais identificados pelo documento estão canais no YouTube como o “Bolsonaro TV” e o canal pessoal do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), além do site do senador.
O relatório aponta que a destinação de verba pública para a promoção pessoal de autoridades pode ser interpretada como violação à Constituição Federal. O documento critica a forma como a Secom utilizou suas verbas e aponta para o potencial prejuízo à imagem do governo. “Além disso, fica claro que a utilização do programa Google Adsense pela Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República gerou várias incorreções na condução da política de publicidade oficial da Presidência da República”, diz um trecho.
VOTAÇÃO ADIADA
Sem acordo, a votação de um projeto de lei para criminalizar a produção e disseminação de fake news no Senado foi adiada. O próprio autor, Alessandro Vieira (Cidadania-SE), pediu a retirada da proposta, que terá pelo menos mais uma semana de debates e enfrenta críticas por parlamentares e entidades por supostamente abrir margem para interpretação de restrição à liberdade de expressão. A aprovação de uma legislação que crie previsões específicas para essas práticas na internet tem amplo apoio popular, conforme mostrou pesquisa Ibope divulgada ontem. Mas a definição de quais serão as balizas legais ainda demanda debate.
*”Aras retoma delação que atinge amigo de Moro”* - O procurador-geral da República, Augusto Aras, retomou a negociação de um acordo de delação premiada com o advogado Rodrigo Tacla Duran, que mira um amigo do ex-ministro da Justiça Sergio Moro e pode ser usada para atacá-lo. Tacla Duran está foragido e teve sua proposta de delação rejeitada em 2016 pela Lava-Jato. Os fatos relatados por ele em relação ao amigo de Moro, o advogado Carlos Zucolotto, já foram investigados pela própria PGR e arquivados em 2018, sob a conclusão de que não ficou comprovada a prática de crimes. Tacla Duran acusou ter pago US$ 5 milhões a Zucolotto em troca de obter condições favoráveis na delação que negociava em 2016 com a Lava-Jato. O advogado era operador financeiro da Odebrecht em contas no exterior e teve seu acordo recusado por suspeita de omissão de atos ilícitos e ocultação de recursos. Aras deixou de fora da negociação a força-tarefa da Lava Jato de Curitiba, responsável por investigar os crimes de Tacla Duran e que conhece todo o histórico envolvendo sua tentativa frustrada de acordo.
No último mês, Moro se tornou adversário do presidente Jair Bolsonaro, após ter pedido demissão do governo e acusado o presidente de tentar interferir politicamente na Polícia Federal. Essa nova tentativa de delação é vista por fontes do Ministério Público Federal como uma possível retaliação de Aras ao ex-ministro. Um integrante do gabinete do procurador-geral, porém, afirma que as tratativas começaram por iniciativa da defesa de Tacla Duran há aproximadamente três meses, portanto antes do rompimento entre Moro e Bolsonaro.
CONFIDENCIALIDADE
As conversas avançaram agora e, no início de maio, foi assinado um termo de confidencialidade para formalizara fase preliminar das tratativas de acordo. Fontes próximas ao advogado afirmam que ele decidiu procurar Aras para uma nova tentativa de acordo por acreditar que o novo PGR não está alinhado com os procuradores da Lava-Jato e, por isso, estaria disposto a ouvi-lo. Na negociação, Tacla Duran cita denúncias que já fez anteriormente à imprensa, como o suposto pagamento de US$ 5 milhões a Zucolotto, que seriam compensados com vantagens como a diminuição do valor de sua multa, acordada inicialmente em R$ 55 milhões na sua delação. Zucolotto é padrinho de casamento de Moro e amigo próximo dele. Ainda não está definido se o assunto entrará em seu acordo coma equipe de Aras. Esse mesmo relato foi objeto de uma investigação na PGR aberta em 2018. O caso foi arquivado pelo então vice-procurador-geral da República Luciano Mariz Maia porque não se provou a participação de Zucolloto nas negociações nem o suposto acordo para reduzir o valor da multa.
Os relatos de Tacla Duran sempre foram vistos com cautela pelos investigadores. Foragido no exterior ao menos desde novembro de 2016, quando foi alvo deu mm andado de prisão determinado por Moro, ele tentou negociar uma delação mas, segundo fontes que acompanharam as tratativas, resistia a admitir que atuou como operador financeiro de contas da Odebrecht no exterior. Ele não foi preso e está na Espanha, país que negou sua extradição. Tacla Duran é réu em quatro ações penais movidas pela Lava-Jato, acusado de operar esquemas de lavagem de dinheiro para diversas empreiteiras e diferentes partidos políticos. Procurado, afirmou que não iria se manifestar. Seu advogado, Sebastian Suárez, não comentou os fatos da reportagem, mas afirmou em nota que o cliente “tem status de testemunha protegida” e que isso lhe garante “medidas de proteção e segurança, entre elas sigilo amplo e irrestrito”. Questionada sobre eventual uso político da delação, a PGR afirmou que não se manifesta sobre “supostos acordos de colaboração em andamento”. Zucolotto disse nunca ter falado com Tacla Duran e que apenas foi contratado pela irmã dele para extração de cópias em processos de execução fiscal. Afirmou que nunca teve conversas prometendo vantagens em delações da Lava-Jato.
*”Para chefe de Fundação, movimento negro é ‘escória’”*
*”30 mil mortes – Recorde na semana de reabertura”*
*”Redução de isolamento pode elevar casos em 150%”* - Os municípios brasileiros que reduziram o distanciamento social nesta semana podem ter em dez dias um aumento de 150% no número de infectados e mortos pelo coronavírus. A projeção é de um grupo de cientistas de universidades de São Paulo, que alerta para o risco da explosão de casos de doença e morte por Covid-19 no Brasil. O especialista em modelagem computacional Domingos Alves, do portal Covid-19 Brasil, que reúne cientistas e estudantes de várias universidades brasileiras, explica que as projeções são baseadas nos números oficiais e nas taxas de crescimento de casos registradas em cidades que afrouxaram o relaxamento, como Blumenau (SC) e Milão, na Itália, em fevereiro, o que levou a Covid-19 a explodir no país europeu em março. Em Blumenau, o número de infectados aumentou 160% cinco dias após a reabertura de shoppings e lojas de rua. Segundo Alves, os municípios do Rio de Janeiro e de Guarulhos têm a situação mais crítica devido à falta de leitos e à tendência de aumento de casos já antes da flexibilização do distanciamento. Estima-se que, das pessoas infectadas pelo coronavírus, 30% não terão sintomas; 55% apresentarão sintomas de leves a moderados; 10%, sintomas graves; e 5% serão casos críticos — destes, metade morrerá. Como os sintomas costumam surgir de cinco a sete dias após a infecção, os cientistas projetam que 15% dos novos infectados vão precisar ser internados daqui a uma semana. Os pesquisadores calculam que, no estado de São Paulo, se o percentual de distanciamento social, hoje em 50%, cair para 25%, haverá dentro de dez dias mais 11 mil casos excedentes e 56 mil internações.
—Isso esgotará os leitos disponíveis elevará ao caos. O único distanciamento que vemos neste momento é aquele entre o que falam governadores e prefeitos e o que dizem os comitês científicos que os assessoram. O relaxamento social só tem motivação política. Não existe ciência nisso. Os estados de Rio de Janeiro, São Paulo e Amazonas terão um massacre —afirma Alves, integrante do portal Covid-19 Brasil e líder do Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP).
Análises do grupo integrado por Alves mostram que a curva decrescimento do Brasil é a que mais acelera no mundo e a única que a partir do 50° dia após o surgimento de casos continua a acelerar. “De fato, a partir do 54º dia, o Brasil é o país com a maior taxa de crescimento de casos confirmados. No Brasil, as curvas da taxa de aceleração dos casos confirmados ainda estão aumentando desde o início da pandemia”, frisa nota técnica assinada pelos grupos de monitoramento Ação Covid-19, Covid-19 Brasil e Laboratório de Saúde Coletiva (Unifesp), além dos cientistas Gerusa Maria Figueiredo, Ivan França Junior e Ricardo Rodrigues Teixeira, todos da USP. Em quase todos os estados brasileiros, o crescimento da Covid-19 continua a acelerar. A exceção é o Ceará, que nos últimos quatro dias tem mantido uma desaceleração.
— Não estamos falando do que vai ocorrer dentro de um ou dois meses, mas de uma semana a dez dias. Até agora, temos acertado nossas projeções e, por isso, estamos tão preocupados. É nosso dever alertara população que ela foi liberada para ir ao abatedouro —destaca Alves.
Os pesquisadores dizem que cidades como Manaus, Belém, Rio e SP deveriam entrar em lockdown e não em relaxamento. Eles dizem que de maneira alguma o Brasil poderia flexibilizar o distanciamento social.
—A palavra é dura, mas será um genocídio. Os pacientes, em sua maioria pobres, não terão assistência. Vão morrer em casa. É fácil botar a culpa na população, mas a responsabilidade de estabelecer regras e de dar segurança é dos governantes —diz Alves.
*”Covid-19 pode chegar a 40% dos Ianomami próximos ao garimpo”*
 
 
CAPA – Manchete principal: *”TCU diz que 8,1 milhões podem ter recebido os R$ 600 indevidamente”*
EDITORIAL DO ESTADÃO - *”’Traidores da pátria’”*: Oministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello rejeitou, a pedido da ProcuradoriaGeral da República, um requerimento de partidos de oposição para que o celular do presidente Jair Bolsonaro fosse apreendido na investigação sobre sua suposta tentativa de interferir politicamente na Polícia Federal. Ao fazê-lo, o decano do STF apenas seguiu o que está na lei, que limita ao Ministério Público a prerrogativa de requerer diligências desse tipo em investigação penal, assim como havia meramente seguido a praxe ao encaminhar tal requerimento para análise do Ministério Público. Como se sabe, esse foi um dos casos que serviram de pretexto para que o presidente da República ameaçasse descumprir ordens judiciais que considerasse “absurdas”. Quando o pedido de apreensão do celular de Bolsonaro foi encaminhado pelo ministro Celso de Mello à Procuradoria-Geral, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, emitiu uma “nota à Nação” para dizer que “o pedido de apreensão do celular do presidente da República é inconcebível e, até certo ponto, inacreditável” – como se Celso de Mello tivesse aceitado o requerimento – e para declarar que a atitude do ministro do Supremo poderia resultar em “consequências imprevisíveis” – uma explícita ameaça de ruptura institucional. Para não haver dúvidas sobre a disposição hostil do bolsonarismo, o próprio presidente avisou: “Me desculpe, senhor ministro Celso de Mello. Retire o seu pedido, que meu telefone não será entregue. Ninguém vai pegar o meu telefone”.
Diante desse comportamento irresponsável, de afronta explícita às instituições, o ministro Celso de Mello aproveitou seu despacho sobre o pedido de apreensão do celular de Bolsonaro para lembrar ao presidente sobre o dever primário de todos e de cada um dos brasileiros de cumprir as ordens da Justiça. De singelo indeferimento de uma solicitação, o despacho de Celso de Mello tornou-se poderoso manifesto em defesa da Constituição contra seus ruidosos inimigos que hoje, por infelicidade eleitoral, ocupam os mais altos postos no Executivo. Primeiro, o ministro Celso de Mello declarou que o Supremo “não transigirá nem renunciará ao desempenho isento e impessoal da jurisdição, fazendo sempre prevalecer os valores fundantes da ordem democrática e prestando incondicional reverência ao primado da Constituição, ao império das leis e à superioridade político-jurídica das ideias que informam e animam o espírito da República”. Em outras palavras, o STF não se intimidará diante dos arreganhos dos camisas pardas do bolsonarismo. Cabe ao Judiciário, escreveu Celso de Mello, entre outras coisas, “repelir condutas governamentais abusivas” e “impedir a captura do Estado e de suas instituições por agentes que desconhecem o significado da supremacia da Constituição e das leis da República”.
O ministro salientou que “o ato de insubordinação ao cumprimento de uma decisão judicial”, como ameaçou fazer o presidente Bolsonaro, “traduz gesto de frontal transgressão à autoridade da própria Constituição da República”. Para Celso de Mello, “é tão grave a inexecução de decisão judicial por qualquer dos Poderes da República” que, “tratando-se do chefe de Estado, essa conduta presidencial configura crime de responsabilidade”. Por fim, o ministro Celso de Mello recordou que “a condição da guarda da Constituição da República foi outorgada a esta Corte Suprema pela própria Assembleia Nacional Constituinte, que lhe conferiu a gravíssima responsabilidade de exercer, em tema de interpretação de nossa Carta Política, o monopólio da última palavra”. Assim, as decisões do Supremo, goste ou não o presidente da República, devem ser cumpridas, mesmo que se discorde delas. Deveria ser desnecessário enfatizar essa obrigação, que é de todos os cidadãos, a começar pelo chefe de Estado. Mas, nestes tempos estranhos, nunca é demais lembrar que descumprir uma ordem emanada do Supremo equivale a desrespeitar a Constituição. Mais do que isso: Celso de Mello, lembrando as palavras do deputado Ulysses Guimarães por ocasião do encerramento da Assembleia Constituinte, advertiu que descumprir ou afrontar a Constituição é ato de traição – e “traidor da Constituição”, disse Ulysses, “é traidor da Pátria”.
COLUNA DO ESTADÃO - *”Governadores temem poder paralelo da PM”*: Governadores e autoridades estaduais de Segurança manifestaram à Coluna grande preocupação com o alinhamento das PMs a Jair Bolsonaro em meio ao aumento da tensão nas ruas. A ligação dos praças com o presidente não é de hoje, mas foi escancarada domingo durante protestos. Em grupos de WhatsApp, policiais exaltaram a truculência dispensada aos manifestantes contrários a Bolsonaro. O maior temor é quanto a um “poder paralelo” nos Estados. Em São Paulo, onde João Doria já sofria com a base da PM antes da crise, o clima está pesado.
» Resumo. O vídeo gravado pelo deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), no qual um policial diz que mandou queimar a faixa pró-democracia no ato do Rio, representa, segundo um conhecedor da polícia, a síntese do sentimento na tropas.
» Caminho… A publicação do manifesto Basta! contra ataques de Jair Bolsonaro às instituições, foi custeada com doações dos signatários, via Sindicato dos Advogados de São Paulo.
» …da vaquinha… “O sindicato não se omitirá frente às constantes ameaças à democracia. Resistiremos”, disse à Coluna o presidente da entidade, Fábio Gaspar.
» …jurídica. O manifesto já reúne mais de 25 mil assinaturas, entre elas, a do presidente da OAB nacional, Felipe Santa Cruz, e do renomado Antonio Cláudio Mariz de Oliveira.
» Vem, gente. PDT, PSB, Rede, Cidadania e PV vão convidar os signatários dos manifestos contra Bolsonaro para participar da live Janelas Pela Democracia, no próximo dia 18.
» Costura… A nota que está sendo articulada também pela oposição com partidos de centro, em defesa da democracia, não vai citar diretamente Bolsonaro.
» …fina. O objetivo é agregar o máximo possível de partidos. Rodrigo Maia (DEM-RJ) acompanha tudo bem de perto. » O tempo... Ao rechaçar o endosso a manifestos suprapartidários, Lula explicitou que só se preocupa com a volta do PT ao poder. Deu sinais de ter sido acometido por grave miopia política.
» ...passou e... Os tempos mudaram após o mensalão e o petrolão. Os petistas deixaram de ter força para, sozinhos, representar qualquer caminho de recuperação e de união do País.
» ...Carolina não viu. Lula não quer ser “maria vai com as outras”, mas pode terminar como a moça que ficou na janela e perdeu o bonde da história.
+++ A Coluna ainda traz uma caricatura do ex-presidente Lula ajeitando um óculos “fundo de garrafa” no rosto.
*”Organizações engrossam manifestos pró-democracia”* - A onda de manifestos assinados por personalidades brasileiras de diferentes setores da sociedade em defesa da democracia e em oposição à retórica do presidente Jair Bolsonaro ganhou volume com a articulação de organizações da sociedade civil. Ontem, 130 entidades subscreveram o documento “Juntos pela democracia e pela vida”, que diz ser “preciso reconhecer de forma inequívoca que a ameaça fundamental à ordem democrática e ao bem-estar do País reside hoje na própria Presidência da República”. Entre os signatários estão grupos de renovação e formação política surgidos nos últimos anos; entidades formadas a partir do incremento do combate à corrupção no País; movimentos de transparência nas atividades partidárias e na administração pública; institutos de gestão da educação e outras áreas; organizações ambientalistas, contra o armamentismo, entre outras. O manifesto foi divulgado pelo Pacto pela Democracia, que abriga movimentos e grupos de diferentes espectros políticos e tradições – como RenovaBR, Raps, SOS Mata Atlântica, a ONG Sou da Paz, a Rede Nossa São Paulo, o Instituto Vladimir Herzog, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e o Instituto Ethos.
O manifesto foi lançado na esteira de iniciativas recentes como o Basta!, que reúne advogados e juristas, e o Movimento Estamos Juntos, que agregou centenas de personalidades – do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) ao deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) – e o Somos 70%. Segundo o sociólogo Ricardo Borges Martins, coordenador do movimento, o Pacto pela Democracia não definiu se vai defender o impeachment de Bolsonaro, mas pretende atuar em três frentes. “Somar vozes na sociedade, responder institucionalmente às falas e atitudes do presidente e suas bravatas, como dizer que tem provas de que a eleição de 2018 foi fraudada, e levar à série a nova dinâmica de produção de informação nas mídias sociais”, disse Martins ao Estadão. O sociólogo reconheceu ainda que o “campo democrático” precisa avançar muito na dinâmica das redes sociais, universo em que os bolsonaristas conseguem exercer um diálogo de forma mais direta. O grupo nasceu em 2017 com o nome Nova Democracia e, inicialmente, reunia apenas grupos de renovação política como Acredito, Agora!, RenovaBR e Ocupa Política. No ano seguinte, após a eleição de Bolsonaro, o coletivo arregimentou líderes de esquerda e direita, além de organizações para um movimento mais amplo, que nasceu em evento em junho daquele no ano no Masp, em São Paulo.
‘Reação’. Atualmente, o Pacto Pela Democracia é uma organização com sede própria, sete diretores executivos remunerados e seis financiadores que pagam R$ 150 mil cada por ano. Entre os patronos estão Maria Alice Setúbal, Beatriz Bracher, Fundação Lemann e a National Environment for Democracy, ONG americana ligada ao Congresso. “Quem defende a democracia estava muito calado enquanto eles ocupavam espaço. Os bolsonaristas são sempre bons de rede”, disse o cientista político Luiz Felipe D’Avila, fundador do Centro de Liderança Pública (CLP), uma das ONGs que assinaram o manifesto do Pacto pela Democracia. Para D’Avila, o momento ainda é de defender os princípios violados da democracia.
Já o ambientalista Mário Mantovani, diretor do SOS Mata Atlântica, que também integra o pacto, acredita que um eventual processo de impeachment do presidente “está amadurecendo”. “Estava na hora dessa reação. A luta era muito desigual, com robôs e um grupo muito violento. Houve uma falência múltipla do governo, que não entregou nada e só privilegiou grupos de interesse.” “A Presidência da República age em ataques graves e sistemáticos aos próprios fundamentos da vida democrática; pois, em lugar de união e paz na construção conjunta do País, dedicase a afirmar a cisão, a discriminação, o racismo e o caos como pilares de seu projeto de poder”, afirma o manifesto divulgado ontem. “O governo incita abertamente movimentos golpistas na sociedade, enquanto alicia as Forças Armadas e atores políticos corruptos para o avanço de um horizonte autocrático.” A reação de grupos e personalidades levou organizações tradicionais a reagir. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) se reuniu com representantes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e das seis maiores centrais sindicais em videoconferência para articular um ato em defesa da democracia com a participação de diferentes setores da sociedade.
*”Inquérito vai apurar vazamento de dados de Bolsonaro”*
*”Decano nega pedido de apreensão de celular de presidente”*
*”Nome do Centrão para banco do NE é alvo de investigação”*
*”Bolsonaristas usam símbolos internacionais da ultradireita”* - O uso de um símbolo ucraniano milenar em manifestação próBolsonaro em São Paulo, no último domingo, chamou atenção para as referências que influenciam os grupos que dão apoio ao governo. A bandeira motivou um esclarecimento do embaixador da Ucrânia no Brasil, uma nota de repúdio de descendentes de ucranianos no País, e preocupação entre especialistas que acompanham a “tropicalização” de símbolos associados à extrema direita no mundo – das tochas e máscaras em frente ao Supremo Tribunal Federal às Cruzadas da Idade Média. Vermelha e negra, a bandeira ucraniana que causou a confusão na Avenida Paulista tem um tridente estilizado em branco. É um símbolo nacional adotado oficialmente na Ucrânia desde a independência, em 1991, quando se separou da União Soviética. Integrantes de torcidas organizadas antifascistas acusaram o símbolo como referência neonazista, o que foi rechaçado pelo dono da bandeira.
Brasileiro radicado na Ucrânia há seis anos, o técnico em segurança Alex Silva lembra que o tridente era o símbolo do príncipe Vladimir, que levou o cristianismo à Ucrânia no século 10. Ele conta que o avô de sua esposa, que é ucraniano, teve o irmão morto por nazistas na Segunda Guerra Mundial. “Aquilo não tem nada a ver com símbolo nazista”, disse Silva ao Estadão. “É uma ofensa enorme, você não tem ideia de como isso me ofende pessoalmente e ofende a honra da minha esposa.” Ele chama atenção para o significado das cores: o preto é uma referência à terra, e “o vermelho representa o sangue dos heróis ucranianos que foi derramado por gerações, por séculos”. O tridente e as cores são usados também pelo grupo paramilitar Pravyi Sektor (Setor Direito), de extrema direita, que se tornou partido político após a queda do presidente ucraniano Viktor Yanukovich. As cenas de batalha campal em Kiev, que levaram à queda do presidente, têm inspirado bolsonaristas no Brasil. No Twitter, o deputado federal Daniel Silveira (PSLRJ) escreveu que “está na hora de ucranizar o Brasil”, bordão que já era repetido pela ativista bolsonarista Sara Winter. “Isso significa ucranizar o Brasil: jogar o político sujo na lata de lixo, como fez o povo ucraniano, de uma maneira honrosa”, diz Silva. A imagem remete à foto de um deputado ucraniano, que defendia Yanukovich e sua política pró-Rússia, atirado no lixo em uma manifestação em 2014. Descendentes de ucranianos em Curitiba, onde há a maior comunidade no País, divulgaram uma nota de repúdio contra o uso da bandeira. “Temos ciência da existência absolutamente minoritária de movimentos extremistas na Ucrânia, que se apropriaram indevidamente dos símbolos nacionais para disseminar ideais fascistas e neonazistas”, diz a nota do Grupo Folclórico Ucraniano Poltava.
Para especialistas, o uso das cores é considerado preocupante, mais do que sua origem no século 10. “A bandeira não é nazista mas, como se diz, é uma apropriação simbólica”, diz o professor David Magalhães, da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), que dá aulas de Relações Internacionais e coordena o Observatório da Extrema Direita, que reúne pesquisadores de outras universidades. “Essa relação do sangue e a terra é muito forte no movimento ultranacionalista. Isso não apaga nada do fato”, diz. O professor chama atenção para uma inconsistência no discurso anticorrupção no Brasil, associado ao deputado na lata de lixo. “Bolsonaro está se aproximando da faceta mais podre do sistema, que é o Centrão. Eles realmente ignoram essa faceta.” Já o pesquisador Gustavo Menezes, especialista em relações internacionais na região da exURSS, diz que muitos símbolos associados à extrema direita foram apropriados pelo novo governo da Ucrânia. “Há uma espécie de tentativa oficial de apresentar o movimento como positivo, é por isso que vão tentar normalizar o uso daquelas cores”, diz. “Certamente é algo que torna a Ucrânia atraente para os bolsonaristas, porque parte dessas políticas oficiais são exatamente uma tentativa de colocar o nazismo e o comunismo como males de igual teor.”
*”Militares podem atuar em crise, diz Aras”*
*”Camargo chama movimento negro de ‘escória maldita’”* - O presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, classificou o movimento negro como “escória maldita”, que abriga “vagabundos”, e chamou Zumbi de “filho da puta que escravizava pretos”. A portas fechadas, Camargo também manifestou desprezo pela agenda da “Consciência Negra” e prometeu botar na rua diretores da autarquia que não tiverem como “meta” a demissão de um “esquerdista”. As afirmações do presidente da Fundação Palmares foram feitas durante reunião com dois servidores, no dia 30 de abril. O Estadão teve acesso ao áudio da conversa e apurou que o encontro ocorreu, na tarde daquele dia, para tratar do desaparecimento do celular corporativo de Camargo. Ao ser cobrado pelo ressarcimento do telefone, ele ficou irritado e alegou que o aparelho sumiu no período em que estava afastado do cargo, por decisão judicial. No diálogo, Camargo diz que havia deixado o celular numa gaveta da fundação e insinua que o furto pode ter sido proposital, com o intuito de prejudicá-lo. É nesse momento que ele se refere ao movimento negro de forma pejorativa. “Eu exonerei três diretores nossos (...). Qualquer um deles pode ter feito isso. Quem poderia? Alguém que quer me prejudicar, invadir esse prédio para me espancar, invadir com a ajuda de gente daqui... O movimento negro, os vagabundos do movimento negro, essa escória maldita”, disse o presidente da Fundação Palmares. “Agora, eu vou pagar essa merda aí”, completou, numa referência ao telefone.
A gravação veio à tona na esteira dos protestos antirrascistas nos EUA após a morte do segurança George Floyd, asfixiado por um branco. Discípulo do escritor Olavo de Carvalho, guru do bolsonarismo, Camargo se apresenta no Twitter como um “negro de direita, antivitimista, inimigo do politicamente correto, livre”. Jornalista de formação, ele coleciona polêmicas. Em um post recente, após o assassinato de Floyd – vítima da brutalidade policial norte-americana –, Camargo afirmou, por exemplo, que “nosso inútil movimento negro tenta i4 mportar para o Brasil os atos anarquistas e criminosos do Black Lives Matter, a antifa negra dos EUA”. Na conversa com os dois servidores da Palmares, um deles coordenador de gestão, Camargo afirmou que seu afastamento da autarquia, por três meses, ocorreu porque suas opiniões em redes sociais foram censuradas. Na época, a Justiça considerou suas declarações, minimizando o crime de racismo, incompatíveis com o cargo. Camargo relatou que, por causa dessa suspensão, teria de devolver o salário de dezembro e tentaria parcelar o débito em dez vezes. Logo depois, ameaçou fazer retaliações. Entre um palavrão e outro, o presidente da Fundação Palmares afirmou que o processo para tirá-lo da instituição “não vai dar em nada” porque teria havido “usurpação” do poder do presidente Jair Bolsonaro. “Esses filhos da puta da esquerda não admitem negros de direita. Vou colocar meta aqui para todos os diretores, cada um entregar um esquerdista. Quem não entregar esquerdista vai sair. É o mínimo que vocês têm que fazer”.
Expressão. Sob o argumento de que suas opiniões refletem “liberdade de expressão”, Camargo mais uma vez criticou Zumbi dos Palmares, que dá nome à autarquia. “Não tenho que admirar Zumbi dos Palmares, que, para mim, era um filho da puta que escravizava pretos. Não tenho que apoiar agenda consciência negra. Aqui não vai ter, vai ter zero da consciência negra”. O Ministério Público Federal encaminhou representação à Procuradoria da República no Distrito Federal, no mês passado, pedindo que o presidente da Fundação Palmares responda na Justiça por improbidade administrativa. A iniciativa foi tomada depois de Camargo ter determinado, no dia 13 de maio – data da abolição da escravatura –, a publicação de uma série de artigos depreciativos sobre Zumbi, nas redes e no site da instituição. No áudio ao qual o Estadão teve acesso, Camargo também se referiu a uma mãe de santo como “macumbeira” e avisou que não daria verba para terreiros. “Tem gente vazando informação aqui para a mídia, vazando para uma mãe de santo, uma filha da puta de uma macumbeira, uma tal de Mãe Baiana, que ficava aqui infernizando a vida de todo mundo”, disse ele, numa referência a Adna dos Santos.
Conhecida como Mãe Baiana, Adna é uma das lideranças mais atuantes do candomblé no Distrito Federal. “Não vai ter nada para terreiro na Palmares enquanto eu estiver aqui dentro. Nada. Zero. Macumbeiro não vai ter nem um centavo”, garantiu Camargo. Em outro trecho, ele trata com desdém a cultura afrodescendente. “Eu não vou querer emenda dessa gente aqui. Para promover capoeira? Vai se ferrar”, esbravejou. A Defensoria Pública da União (DPU), que analisa recurso contra a nomeação de Camargo, é definida por ele como um órgão “miserável” e “totalmente aparelhado, (...) de esquerda”. Em nota divulgada ontem, Camargo lamentou o que chamou de “gravação ilegal” de uma reunião interna. Afirmou que a Fundação Palmares está em “sintonia” com o governo Bolsonaro e sob um novo modelo de comando, voltado para a população. “(...) Não apenas para determinados grupos que, ao se autointitularem representantes de a toda população negra, histórica e deliberadamente se beneficiaram do dinheiro público”, escreveu. “Infelizmente, ainda existem, na gestão pública, pessoas que não assimilaram esta mudança e tentam desconstruir o trabalho sério que está sendo desenvolvido.”
*”Após críticas, senadores adiam votação do projeto sobre fake news”*
*”Retórica incendiária de Trump agrava protestos contra racismo nos EUA”* - O discurso incendiário do presidente Donald Trump, que defendeu uma repressão dura contra os protestos nos EUA, agravou ainda mais a situação. As manifestações contra o racismo e a violência policial, que chegaram ao oitavo dia, tiveram ontem mais gente na rua do que o habitual em Nova York, Los Angeles e Washington. Em Nova York, uma multidão desceu a Primeira Avenida e se concentrou na Foley Square nas primeiras horas da tarde. Protestos também ocorreram em outros pontos da cidade, como Brooklyn e Queens. As aglomerações preocupam as autoridades sanitárias, que temem uma nova onda de contaminações na cidade mais afetada pela covid-19 no país. Atlanta, Los Angeles e Houston também registraram uma concentração grande de pessoas, assim como a capital, que viveu uma madrugada caótica depois da violência registrada na segunda-feira, quando a polícia usou bombas de gás e balas de borracha para retirar os manifestantes da frente da Casa Branca – o objetivo era abrir caminho para Trump posar para fotos diante da Igreja de St. John segurando uma Bíblia na mão. Os manifestantes acabaram se dispersando pelos bairros de Washington e foram caçados durante a madrugada. A segurança foi reforçada. Veículos blindados da Guarda Nacional cercaram a Casa Branca e cruzamentos estratégicos. Helicópteros deram rasantes durante a noite, jogando luz sobre quem estivesse na rua.
De acordo com o New York Times, citando fontes do Departamento de Justiça, a ordem para reprimir os protestos pacíficos diante da Casa Branca foi dada pessoalmente pelo secretário de Justiça, William Barr. A decisão foi criticada por democratas – e também por alguns republicanos. “Donald Trump transformou o país em um campo de batalha, alimentada por velhos ressentimentos e novos medos”, afirmou Joe Biden, adversário do presidente nas eleições de novembro. “É isso o que queremos ser? É isso que queremos passar para nossos filhos e netos?” Muitos viram no discurso de Biden, feito na Filadélfia, o relançamento de sua campanha, até então discreta em razão da pandemia de coronavírus. Alguns aliados também se queixaram, embora o tom das críticas tenha sido mais ameno. “A questão é, foi certo usar gás lacrimogêneo para abrir caminho para que o presidente tirasse uma foto? Claro que não”, afirmou o senador Tim Scott, único negro republicano no Senador. A diocese episcopal de Washington, que é comandada por uma mulher, Mariann Budde, também reclamou do presidente. “Foi um ultraje”, afirmou Mariann. “O presidente usou a Bíblia e uma das igrejas da minha diocese, sem nos perguntar, como cenário para uma mensagem antiética dos ensinamentos de Jesus e de tudo o que nossa igreja prega.”
Em queda. Alguns analistas, porém, preferiram explicar o gesto de Trump – que não é religioso e não frequenta a igreja. Pesquisas do Public Religion Research Institute, realizadas em abril, mostram que o presidente perdeu apoio entre os evangélicos brancos (11 pontos porcentuais), católicos brancos (12 pontos porcentuais) e protestantes brancos (18 pontos porcentuais). Ontem, foi a vez de Trump fazer um afago aos católicos. Ao lado da primeira-dama, Melania, ele esteve no santuário nacional dedicado a João Paulo II, em Washington. Os dois posaram para fotos diante da estátua do papa, mas não escaparam de uma nova saraivada de críticas.
As mais duras vieram do arcebispo de Washington, Wilton Gregory. “Acho desconcertante e repreensível que qualquer instalação católica se permita ser tão flagrantemente manipulada de uma maneira que viola nossos princípios religiosos”, disse o arcebispo. “Ele (João Paulo II) certamente não toleraria o uso de gás lacrimogêneo para silenciar, espalhar ou intimidar os manifestantes para tirar fotografias em frente a um lugar de oração e paz.” Diante dos ataques, a Casa Branca convocou seus aliados mais fiéis, que ontem defenderam as últimas ações do presidente. “A imprensa caiu na tática dos agitadores profissionais”, disse o senador republicano Marco Rubio. “Todos sabiam que a multidão tinha de ser dispersada em razão do toque de recolher. E esperaram a polícia entrar em ação para ter a história que queriam e dizer que os policiais atacaram manifestantes pacíficos.” Kellyanne Conway, assessora da Casa Branca, respondeu à bispa da igreja de St. John. “A igreja não é dela. A Bíblia não é dela. Não examinamos o coração e a alma das pessoas ou julgamos a fé ou por que o presidente quis caminhar até lá”, disse Kellyanne. “Precisamos de mais orações, não menos.”
*”Símbolos de Paris, cafés reabrem com normas rígidas”*
*”Escolas públicas e privadas de São Paulo devem retomar aula presencial em agosto”* - As escolas devem voltar a funcionar em São Paulo no início de agosto, com 20% dos alunos. O plano que será anunciado na sexta pelo Estado valerá para estaduais, municipais, particulares, universidades, Fatecs e até cursos de inglês. Ainda se discute se será um grupo de 20% dos alunos frequentando aulas todos os dias da semana ou se grupos diferentes de 20% dos estudantes irão uma vez por semana, completando 100% na sexta-feira.
Segundo apurou o Estadão, o esquema funcionaria por duas semanas e depois o número de crianças e jovens aumentaria aos poucos. O governo do Estado descartou a possibilidade, antes aventada, de iniciar as aulas com os alunos mais novos, da educação infantil (zero a 5 anos). O protocolo da volta prevê também uso de máscaras e distanciamento de 1,5 metro dentro das salas de aula. Quem não estiver nas aulas presenciais teria de continuar com atividades a distância, tanto em instituições públicas quanto nas particulares. O plano vale para o todo o Estado, mas cada região paulista poderá determinar uma data de reabertura. São Paulo, que tem a maior rede de ensino do Brasil, caminha para uma solução diferente de outros Estados. “Já é praticamente unanimidade começar a voltar pelas pontas, e principalmente pelo 3.º ano do médio por causa do Enem”, diz o vicepresidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e secretário de Pernambuco, Fred Amâncio, com relação ao conjunto de Estados. Depois, segundo ele, voltariam o 9.º ano e o 6.º ano, ou seja, quem está no fim dos ciclos. “Não dá para colocar todo mundo dentro da escola, é um dos ambientes de maior risco”, diz.
No sábado, o secretário de Estado da Educação, Rossieli Soares, reuniu-se por videoconferência com representantes de todos os segmentos para discutir as medidas, que devem fazer parte de um decreto. No caso de prevalecer a opção de voltar apenas um grupo de 20% de cada instituição, ainda se discute qual será o grupo prioritário. Escolas particulares, por exemplo, poderiam ter liberdade para escolher quais séries ou estudantes incluiriam nos 20%. As universidades públicas (USP, Unesp e Unicamp) e as Fatecs (faculdades de tecnologia) pediram prioridade na volta às aulas presenciais para os alunos que estão no último ano, para não prejudicar a formatura. Nas Fatecs, muitos estudantes precisam cumprir atividades práticas em laboratórios essenciais para formação. Já os representantes de escolas particulares (Sieeesp) requisitaram o retorno da educação infantil. “Se não voltarem, nem que seja em dias alternados, muitas vão falir”, diz o presidente do Sieeesp, Benjamin Ribeiro da Silva. Como a lei não exige que crianças de até 3 anos estejam matriculadas em instituições de ensino no Brasil, 30% dos pais, segundo estimativa do sindicato, já tiraram os filhos da escola. Outros grupos, de escolas particulares da capital, querem prioridade para os alunos do 3.º ano do médio.
Exterior. As experiências internacionais têm tanto os que optaram pela volta dos alunos mais velhos que estão terminando a escola, como a China, quanto outros que preferiram iniciar com os menores, como a Dinamarca. A opção pelas crianças, em vez dos adolescentes, é justificada pelo fato de os pais também começarem a voltar ao trabalho e não terem com quem deixá-las. Lá fora, os protocolos, em geral, incluem rodízio de alunos, distanciamento, máscaras e impedimento de os pais entrarem nas escolas. “Além do Enem, voltar com os alunos do ensino médio tem um propósito de desenvolver o protagonismo juvenil. Eles podem ser parceiros dos professores para conscientizar os menores”, diz o secretário de Educação do Espírito Santo, Vitor de Angelo. As crianças teriam mais dificuldade em cumprir as novas regras sanitárias nas escolas, afirma ele. O plano no Espírito Santo é voltar às aulas em julho, dividindo as turmas de ensino médio em duas metades e alternando as semanas. Depois de 15 dias, começariam a retornar o ensino fundamental, também com revezamento. Em Minas, não há data definida para retorno porque o Estado entende que o pico de casos de covid-19 deve ocorrer em julho. Mesmo assim, a ideia também é recomeçar as aulas pelo 3.º ano do ensino médio. “Nosso foco será em quem está concluindo a educação básica e os mais vulneráveis, que não estão tendo acesso ao ensino a distância”, diz a secretária de Educação de Minas, Julia Sant’Anna. O Ceará informou que ainda está elaborando seu plano, mas também deve dar prioridade para os alunos do 3.º do médio.
*”Brasil bate recorde e atinge 31 mil mortes”*
*”Governo autoriza reajuste de remédio”* - Depois de suspender por dois meses, o governo federal autorizou nesta segunda-feira o reajuste de até 5,21% nos preços de medicamentos para o ano de 2020. O aval para o aumento foi publicado na noite de segunda-feira em edição extraordinária do Diário Oficial da União (DOU) em decisão da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED). As empresas já podem aplicar o aumento nos preços. “As empresas produtoras de medicamentos poderão ajustar os preços de seus medicamentos em 31 de maio de 2020, nos termos desta resolução”, diz o ato. O reajuste dos preços dos remédios é definido pela CMED em março de cada ano, passando a valer a partir do dia 1.º de abril. Neste ano, no entanto, governo e indústria farmacêutica fizeram um acordo para adiar a correção por 60 dias dentro do conjunto de ações para atenuar os efeitos econômicos do novo coronavírus no País.
A suspensão do reajuste dos medicamentos foi formalizada pela Medida Provisória 933/2020, editada no fim de março, que aguarda votação no Congresso. A Câmara dos Deputados deve votar a medida provisória ainda esta semana. Pela resolução da CMED publicada no Diário Oficial, o reajuste máximo dos medicamentos permitido para este ano será aplicado em três faixas, de 5,21%, 4,22% e 3,23%, a depender do tipo de medicamento. O teto do aumento autorizado para os medicamentos no ano de 2020 é superior ao do ano passado, que foi de 4,33%, e ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 11 de março de 2020, que acumulou 4,01% no período entre março de 2019 e fevereiro de 2020.
Congresso. Ontem à noite, os senadores aprovaram um projeto de lei que suspende reajustes de preços de medicamentos e de mensalidades de planos de saúde e seguros privados. O texto, de autoria do senador Eduardo Braga (MDB-AM), foi aprovado por 71 votos a favor e 2 contrários. Agora, o projeto de lei vai para análise da Câmara dos Deputados. Além da suspensão do reajuste anual de planos de saúde por 120 dias, o projeto também proíbe o aumento de mensalidades por mudança de faixa etária do beneficiário. O texto aprovado pelo Senado abrange todos os tipos de planos de saúde: individual, familiar, e coletivos – aqueles contratados por meio de empresas ou sindicatos, por exemplo.
Segundo o relator da matéria, o senador Confúcio Moura (MDB-RO), a pandemia do novo coronavírus reduziu o poder de compra da população. “O efeito econômico da pandemia reflete na diminuição do poder aquisitivo dos consumidores de medicamentos e planos de saúde, ao mesmo tempo que também, por conta do quadro epidemiológico, gera maior necessidade de acesso a medicamentos e a serviços de saúde”, justificou o senador. O porcentual máximo de reajustes para planos de saúde individuais e familiares é divulgado anualmente pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Já os valores aplicados para planos coletivos são estabelecidos pelas próprias operadoras, sem interferência do órgão regulador. O texto aprovado pelos senadores também determina o congelamento de preços de medicamentos por 60 dias. A medida, no entanto, só valerá se a proposta for aprovada pelos deputados e sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro.
*”Bilionário assumirá secretaria do Ministério da Saúde”*
*”TCU vê irregularidade no pagamento de auxílio emergencial a 8,1 milhões”*
*”Governo edita MP que destrava crédito para empresas”* - O governo federal editou a medida provisória (MP) ontem que criou o Programa Emergencial de Acesso a Crédito e fez alterações em duas leis na tentativa de destravar empréstimos para as pequenas e médias empresas do País durante a pandemia do novo coronavírus. Dentre os vários pontos, o texto autoriza a União a aumentar em até R$ 20 bilhões a sua participação no Fundo Garantidor para Investimentos (FGI), gerido pelo BNDES, exclusivamente para a cobertura das operações contratadas no âmbito do programa instituído pela MP. O Ministério da Economia informou que, para cada R$ 1 destinado ao fundo, até R$ 5 em financiamentos às pequenas e médias empresas podem ser liberados. Desse modo, se o aporte somar os R$ 20 bilhões disponíveis (liberados de acordo com a demanda), até R$ 100 bilhões poderão ser emprestados. Porém, a nova linha de crédito ainda depende de regulamentação. A expectativa do governo é o programa estar “operacional” no fim deste mês e atender empresas com faturamento entre R$ 360 mil R$ 300 milhões que empregam juntas 3,3 milhões de trabalhadores. Medidas provisórias têm força de lei assim que publicadas no Diário Oficial, mas precisam ser aprovadas pelo Congresso em até 120 dias para não perderem a validade.
Opções. Antes dessa MP, o governo já havia lançado outros programas para os pequenos negócios. No entanto, os resultados ficaram aquém do esperado. Como o Estadão/Broadcast mostrou, desde o início da turbulência econômica deflagrada pelo novo coronavírus, os bancos já emprestaram mais de R$ 900 bilhões em recursos novos, renovações e suspensão de parcelas de empréstimos, conforme balanço da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) publicado na segunda-feira. Apesar de o volume beirar R$ 1 trilhão, o recurso à pequena e média empresa ainda enfrenta dificuldades para chegar na ponta, seja por problemas na oferta seja até mesmo pelo baixo apetite por endividamento frente às restrições impostas para concessão aos empréstimos. Antes desse programa, o governo já anunciou duas linhas de crédito emergenciais, mas que ainda não tiveram grande impacto para os empresários. Uma delas disponibiliza um total de R$ 40 bilhões, com juros de 3,75% ao ano, mas que só pode ser acessada caso as empresas não demitam os trabalhadores. Os recursos são depositados diretamente nas contas dos funcionários. Como a adesão foi baixa até o momento, com R$ 2 bilhões em crédito contratados, ela será reformulada. A outra é o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe). A linha de crédito foi sancionada pelo presidente em 19 de maio, para capital de giro (despesas como água, luz, aluguel, reposição de estoque, entre outras), com possibilidade de emprestar até R$ 18 bilhões. Os juros são de 1,25% ao ano, mais a taxa Selic (atualmente em 3% ao ano).
 
CAPA – Manchete principal: *”Um terço das classes A e B pede auxílio emergencial”*
*”ONU vê ‘impacto devastador’ de covid-19 sobre minorias étnicas”* - Segundo Michelle Bachelet, impacto desproporcional sobre minorias étnicas ou raciais expõe desigualdades alarmantes
*”Prefeitura e Estado divergem sobre isolamento no Rio”* - No Rio, falta articulação entre capital e governo estadual na condução da quarentena, dizem especialistas
*”Morte por doença volta a crescer e bate recorde”* - Ministério da Saúde completa 19 dias com interino no comando
*”Brasil diz que vai participar do G-7 ampliado de Trump”* - Depois de ter sido ignorado pelo presidente americano, país vai ser convidado para reunião nos EUA, afirma Bolsonaro
*”Retomada da economia chinesa pode pressionar as importações brasileiras”* - Segmentos como aço, brinquedos, têxteis e confecções estão entre os mais vulneráveis
*”Consumo em restaurantes tem queda de 61,2% na primeira quinzena de maio”*
*”Escolas estaduais terão ‘rombo’ de até R$ 30 bi”* - A crise trazida pelo novo coronavírus deve gerar um rombo de até R$ 30 bilhões no orçamento nas escolas estaduais em 2020, mostra um estudo do Instituto Unibanco e do movimento Todos Pela Educação. O valor é resultado da queda de receitas tributárias e aumento de custos e equivale a cerca do dobro do que a União contribui anualmente via Fundeb, principal fundo da educação básica. Se nenhum socorro for adotado, o risco é de colapso financeiro das redes de ensino, alerta o estudo. “O efeito da pandemia sobre o sistema de ensino será numa intensidade que nunca vimos. A experiência de 2008 é só referencial, mas não suficiente para ser prever o que veremos”, diz Ricardo Henriques, superintendente-executivo executivo do Instituto Unibanco. Economista português, naturalizado brasileiro, Henriques afirma que há o risco de se criar a “geração pandemia” de jovens. “Poderá ser um grupo estruturalmente punido pela falta de ações agora e com grande chance de ficar de fora do sistema de ensino.”
O estudo desenhou três cenários com estimativas para a queda de arrecadação dos tributos vinculados à educação. A perda estimada de receita no conjunto das redes estaduais deve ficar entre R$ 9 bilhões e quase R$ 28 bilhões neste ano, a depender da intensidade do choque na economia. Ao mesmo tempo, as medidas emergenciais para viabilizar o ensino remoto têm custo extra estimado de R$ 2 bilhões. Para os cálculos, foram utilizados dados do Tesouro Nacional, informações consolidadas de receitas tributárias de abril e maio e estimativas de especialistas. “Os R$ 2 bilhões extras já foram comprometidos e não têm nada a ver com a ver reposição das aulas, mas com medidas educacionais para dar conta dos efeitos da pandemia. E mais gastos virão por aí”, afirma João Marcelo Borges, diretor de estratégia política do Todos Pela Educação. Embora questionadas pela eficácia, as ações para garantir a continuidade das aulas em casa foram adotadas em larga escala pelo país. Levantamento em 22 redes estaduais identificou que 95% delas adotaram entre 5 e 15 soluções para enfrentar a pandemia, o que inclui despesas do ensino a distância e o oferecimento de alimentação aos alunos.
Em 86% das redes, por exemplo, há entrega de material impresso às famílias e transmissão de conteúdo pedagógico pela TV. Em 63%, aulas online e ao vivo estão sendo realizadas e, em 45% dos Estados pesquisados, os governos locais estão patrocinando pacote de dados de internet para os estudantes e professores. Segundo Borges, o desfalque nos cofres estaduais também preocupa porque o aumento de despesas deverá continuar depois da retomada das aulas. “Devemos ter novos alunos entrando na escola pública, de famílias de classe média baixa, que não vão conseguir mais pagar as mensalidades”, afirma. A evasão de alunos, que ocorre tradicionalmente com mais força no ensino médio, é outro risco que tende a se concretizar passado o período de afastamento das atividade presenciais. “Esses alunos provavelmente terão de auxiliar na renda das famílias. É difícil estimar qual será esse número, mas ele deve ser maior no ciclo do ensino médio, onde já é mais elevado”, afirma Borges. Para Henriques, existe uma falta de clareza sobre a natureza dos serviços públicos de educação, cuja demanda por atendimento é constante e não sazonal, como em crises de saúde. A “conta” adicional deixada pela crise, se não for saneada agora, poderá ser “empurrada” e comprimir o orçamento dos Estados para educação pelos próximos anos.
O cenário, afirma Henriques, indica para precarização da educação pública num momento em que mais brasileiros devem precisar acessá-la. Ele estima que o período de normalização do calendário escolar e dos impactos financeiros da crise deve levar até um ano e meio, com chance elevada de adentrar 2022. As medidas sanitárias para evitar o contágio pelo novo coronavírus vão exigir turmas menores e maior contratação de professores temporários, ou seja, ainda mais despesas. “O custo sanitário não é o álcool gel. Grosso modo, será necessário até dobrar a quantidade de turmas nas escolas, terão de ser grupos menores, de 15 a 20 alunos”, diz Henriques. Segundo ele, algumas escolas têm tamanho suficiente para comportar mais turmas, mas em outras não se sabe como será a oferta ao longo do tempo. A fragilidade financeira das escolas estaduais torna mais urgente a aprovação do novo Fundeb com mais recursos federais. Hoje, a União aporta no fundo uma complementação de 10% a cada ano (cerca de R$ 15 bilhões) e defende elevar o repasse para 15%. A proposta com tramitação mais adiantada, na Câmara dos Deputados, propõe alta para 20%. Também há um texto no Senado com previsão de acréscimo para 40%. As últimas sinalizações do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e da Presidência da República sugerem que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) sobre o tema pode ser votada em junho. O Fundeb no modelo atual expira em dezembro e, por isso, a reformulação precisa ser votada ainda em 2020.
*”Cálculos indicam que curva de contágio ainda é exponencial no Brasil”*
*”Feudo político cria círculo vicioso em portos, diz TCU”*
*”Crítica de Lula a manifestos suprapartidários constrange petistas”* - Os obstáculos impostos pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para aderir a movimentos e manifestos dos últimos dias em defesa da democracia provocaram um grau de surpresa e até constrangimento entre petistas. Dirigentes e lideranças do partido tentaram amenizar as críticas de Lula às articulações suprapartidárias para que o PT não seja visto como sectário num momento em que diferentes grupos da sociedade e forças políticas buscam convergir numa união até então inédita contra o presidente Jair Bolsonaro. Braço direito de Lula durante a gestão do petista, o ex-ministro Gilberto Carvalho disse que “não há por que criar polêmica” em relação aos manifestos suprapartidários. No PT, Carvalho sempre fez a ponte com movimentos populares e entidades da sociedade civil. “É preciso procurar o maior grau de unidade possível. Podemos ter aliados para caminhar 100 metros, outros para caminhar 200 metros e outros para ir mais longe. O momento é muito dramático para ficar escolhendo só quem pensa parecido”, disse. “É preciso dialogar com quem está disposto a fazer qualquer tipo de ação.” Na segunda-feira, em reunião do Diretório Nacional do PT, Lula pediu cautela ao partido antes de aderir a manifestos apoiados por adversários políticos e ex-aliados. “Sinceramente, não tenho mais idade para ser ‘maria vai com as outras’. O PT já tem história neste país, já tem administração exemplar neste país. Sinceramente, não tenho condições de assinar determinados documentos com determinadas pessoas”, disse.
Gilberto Carvalho minimizou as declarações de Lula e disse que foi um “alerta” para que o PT não seja “massa de manobra dos que se arrependeram de votar em Bolsonaro”. O ex-ministro, no entanto, defendeu a articulação de manifestos como o “Estamos Juntos”, “Basta!”, “Somos 70%” e “Unidade Antifascista”, e disse que eles mostram um processo de amadurecimento de ex-eleitores de Bolsonaro e de quem não votou no PT. “Como não saudar Lobão, que apoiava Bolsonaro e mudou de posição? Ou FHC, que saiu da omissão?” Apesar de os manifestos não terem o apoio do PT, há petistas entre os signatários, como o ex-prefeito Fernando Haddad. “Saúdo quando a centro-direita entende o risco da extrema direita, e coloca as liberdades civis em primeiro lugar. A disputa tem que ser feita com argumentos. É muito positivo”, disse Haddad, que apoia o Movimento Estamos Juntos. Haddad evitou polêmicas com Lula e justificou que é preciso compreender as reflexões dentro de um contexto. “Ele estava possivelmente falando de documento mais contundente em relação ao quadro geral.” O ex-prefeito defendeu a necessidade de uma frente democrática porque Bolsonaro “não é comprometido com o funcionamento das instituições”, mas sustentou que vê “pouco grau de sinceridade em alguns dos signatários”. Para Haddad, isso cria um certo constrangimento “porque muitos, ali, infelizmente, naturalizaram a eleição do Bolsonaro”. Essa é uma das críticas de Lula.
O PT afirmou que há pelo menos duas diferenças entre o que o partido defende e o que os grupos registraram nos manifestos: a crítica à política econômica, com a garantia dos direitos dos trabalhadores, e a saída imediata de Bolsonaro e do vice Hamilton Mourão, com a realização de novas eleições. “Somos contra [Paulo] Guedes e as reformas que ele fez, mas parte dos signatários defende a política econômica. Essas diferenças não podem nos separar agora. Temos que ter uma visão mais ampla e generosa”, disse Carvalho. Vice-presidente nacional do PT, o deputado Paulo Teixeira (SP) afirmou que a Executiva Nacional do partido vai analisar esses movimentos recentes na segunda-feira. “A preocupação é com os rumos desse movimento, se vão abranger as bandeiras dos trabalhadores, se terão a clara vontade de substituir Bolsonaro. Os manifestos não falam em substituir Bolsonaro”, disse Teixeira. A presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), defendeu Lula e reforçou que é necessário saber quais são os objetivos dos grupos suprapartidários. “As manifestações são bem-vindas, mas é preciso ter clareza do que se defende. O povo deve ser a centralidade da pauta. São os que mais sofrem com essa política econômica que ataca os mais pobres”, disse. Gleisi afirmou que o PT não apoiou os manifestos porque não foi chamado para debatê-los. “Não fomos procurados por quem organizou os manifestos. Não nos convidaram, não conversamos. Não nos recusamos a participar, mas não podemos ser só uma adesão. Algumas questões têm de ser colocadas. Tem que ter o povo.” Carvalho disse que está em debate no PT um outro manifesto, com foco no trabalhador e no “fora, Bolsonaro”. “Tudo pode se unir. São pequenos riachos que convergem para o mesmo rio, que ninguém vai conseguir segurar”, disse. “Se ampliar e tiver magnanimidade de espírito, as iniciativas vão se unificar.”
+++ A manchete é maldosa e não condiz com o que diz a reportagem. As lideranças petistas que se pronunciaram declaram que a observação feita pelo ex-presidente Lula faz todo sentido.
*”PF vai apurar vazamentos de dados”*
*”Manifestações antibolsonaristas empurram Planalto ao diálogo”* 
- Aconselhado por militares e aliados, presidente inicia conversas com o Supremo
*”’Bolsonaro é instrumento dos militares’”* - Para professor da UFRJ, especialista em militarismo, Forças Armadas não representam mais parte moderna da sociedade para arrogarem papel moderador
*”Aras aprova depoimento, mas procuradores ainda veem submissão”* - Lista tríplice para procurador-geral da República foi formulada pela primeira vez em 2001
*”Sob críticas, projeto sobre ‘fake news’ tem votação adiada”*
*”Crise afetará por até 5 anos os emergentes, diz Banco Mundial”* - Estudo da entidade descarta uma recuperação rápida dos países emergentes e diz que a sua produção potencial deverá cair
*”Venda de commodities à China deve ter forte queda, mas Brasil perde menos”* - Estudo da Unctad mostra que as exportações de commodities para o mercado chinês poderão diminuir de US$ 61,3 bilhões em 2019 para algo próximo de US$ 33,1 bilhões neste ano por causa da covid-19
*”Infecções sobem com volta às aulas e Israel decreta quarentena”* - Ao menos 220 estudantes e professores foram infectados nos últimos dias, sendo que 150 são da mesma escola em Jerusalém
*”Cresce calote no financiamento de imóveis comerciais nos EUA”* - A taxa de inadimplência nos financiamentos de imóveis comerciais dados como garantia a bônus subiu de 2,3% em abril para 7,4% em maio
*”Protestos se espalham pelo mundo”*
*”Trump é criticado por republicanos e religiosos; toque de recolher continua”* 
- O presidente Donald Trump sofreu duras críticas ontem de líderes religiosos, democratas e até alguns republicanos por ter autorizado o uso da violência para dispersar um protesto pacífico fora da Casa Branca
*”Um terço da classe A e B pediu auxílio emergencial”* - Um terço das famílias das classes A e B solicitou o auxílio emergencial de R$ 600 do governo federal nos últimos meses - e 69% foram aprovadas para receber o benefício. Isso significa que 3,89 milhões de famílias mais ricas têm algum integrante recebendo a ajuda criada para apoiar trabalhadores pobres na pandemia. A conclusão é de uma pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva e obtida pelo Valor, que ouviu 2.006 pessoas de 72 cidades de todo o país, no período de 20 a 25 de maio, uma amostra considerada representativa da população nacional. A margem de erro da pesquisa é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos. O auxílio emergencial é pago pela União para apoiar trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI) e desempregados (que não recebem seguro-desemprego). Para ser aprovado, é preciso ter uma renda per capita de até R$ 522,50 mensais ou renda familiar de até R$ 3.135 (três salários mínimos). Para burlar as regras do programa e obter o benefício, integrantes dessas famílias de classes mais altas estão omitindo a renda familiar no cadastro no site da Caixa Econômica Federal. São esposas de empresários, jovens de famílias de classe média e servidores aposentados, mostram denúncias feitas nas últimas semanas.
Renato Meirelles, fundador e presidente do Instituto Locomotiva, realizou pesquisas qualitativas com integrantes dessas famílias de maior renda (mais de R$ 1.780 por pessoa por mês) que solicitaram o auxílio emergencial. Segundo ele, esses indivíduos não se consideram fraudadores do programa por diferentes motivos. “O argumento, em geral, é algo do tipo: ‘Sempre paguei impostos e nunca tive nada em troca do governo’. Ou ainda que ‘a crise está difícil para todo mundo’. São pessoas que realmente acham que têm o direito ao benefício por esses fatores. Não existe um sentimento de que estão cometendo fraude”, diz Meirelles. Solicitar e receber o auxílio emergencial com a declaração de informações falsas podem tipificar os crimes de falsidade ideológica e estelionato. Para o crime de falsidade ideológica, por exemplo, a pena varia de um a cinco anos de reclusão. Meirelles afirma, porém, que a percepção de impunidade também é grande. A pesquisa do Instituto Locomotiva mostra que as famílias das classes A e B também sofrem, claro, com a forte recessão econômica, provocada pelas medidas de enfrentamento da pandemia. Segundo a pesquisa, 55% das famílias das classes A e B relataram redução da renda por causa da crise econômica.
A sondagem mostra ainda que 36% dessas famílias de maior rendimento tiveram algum integrante com negócio fechado ou sem funcionar. Outros 18% relatam perda de emprego de alguém da família. E mais 8% tiveram que pegar dinheiro emprestado para enfrentar o pior período da pandemia. Diferentemente das famílias mais pobres, porém, apenas 2% das classes A e B relataram falta de dinheiro para comprar alimentos e somente 3% falta de recursos para itens de higiene. Das famílias das classes A e B, 20% deixaram de pagar alguma conta por causa da pandemia. “A crise econômica atinge a todas as classes econômicas. Mas a questão é o que deve ser priorizado do recurso público. É um momento para oferecer apoio para a parcela da população mais vulnerável, mas o poder público mostrou muita dificuldade para fazer o dinheiro chegar a quem precisa”, diz Meirelles. Dados da Caixa Econômica Federal mostram que foram beneficiadas até aqui 57,9 milhões de pessoas, com valores creditados de R$ 74,6 bilhões (incluindo a primeira e a segunda parcela). Desse total, 19,2 milhões de pessoas estão no Bolsa Família e 10,5 milhões no Cadastro Único do governo federal. Diante da maior recessão econômica da história republicana, a prorrogação do auxílio emergencial parece inevitável. Sua extensão, porém, é uma boa oportunidades para fechar brechas do programa, diz Gil Castello Branco, fundador e diretor-executivo da ONG Contas Abertas, que fiscaliza gastos realizados pelo setor público.
Segundo ele, o problema é que o governo federal tem diferentes bancos de dados e dificuldade para cruzá-los. É o caso de dados do Imposto de Renda da Receita Federal, de doações de campanhas eleitorais, de aposentados e pensionistas, de militares. Seria uma “colcha de retalhos”. “Os sistemas do governo aparentemente não conversam. O governo precisa resolver uma coisas simples, que é o cruzamento com diversos bancos de dados. Como o auxílio era uma emergência, o governo correu para pagar e depois foi verificar quem realmente tinha que receber”, diz Castello Branco. Ele lembra que o governo descobriu que um doador de mais de R$ 10 mil das últimas eleições recebeu a ajuda emergencial. “Enquanto no mundo debate-se a inteligência artificial em diversos processos de automação, no Brasil ainda estamos tentando cruzar cadastros”, afirma Castello Branco. No fim de maio, o ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Wagner Rosário, informou que o órgão apura pelo menos 160 mil possíveis irregularidades no pagamento do auxílio emergencial. Entre eles, 17 mil sócios de empresas. Apesar das dificuldades de colocar o programa de pé, o benefício vem sendo elogiado por especialistas como uma ferramenta acertada para amortecer o aumento da pobreza durante a pandemia. Somente no trimestre móvel até abril deste ano, 4,9 milhões de pessoas perderam suas ocupações no país.
Segundo projeções do Banco Mundial, mais 5,7 milhões de brasileiros poderiam entrar para a pobreza extrema (renda per capita de US$ 1,90 por dia) somente neste ano sem as medidas adotadas pelo governo federal, incluindo a flexibilização da jornada de trabalho nas empresas. Procurado, o Ministério da Cidadania, responsável pelo auxílio emergencial, informou, por meio de nota, que os cidadãos que burlarem a legislação precisarão ressarcir os cofres públicos dos valores recebidos, além das sanções civis e penais. E que as ilegalidades são informadas para a Polícia Federal.
*”Nas favelas, mais da metade utiliza o benefício para ajudar parentes e amigos”* - Mais da metade dos moradores de favelas brasileiras que conseguiram receber o auxílio emergencial de R$ 600 do governo federal usou o recurso para ajudar financeiramente familiares e amigos, mostra pesquisa do Instituto Data Favela, parceria do Instituto Locomotiva com a Central Única das Favelas (Cufa), obtida pelo Valor. De acordo com a pesquisa, realizada de 19 a 22 de maio e que ouviu 3.561 pessoas em 72 cidades, 56% dos moradores das favelas que receberam a primeira parcela do auxílio destinar parte do dinheiro para familiares e amigos. O destino principal do recurso foi a compra de alimentos (95% dos beneficiados). “Nas favelas ninguém morre de fome se o vizinho está comendo. É o contraponto da falta de solidariedade de quem está fraudando o auxílio emergencial. Não tenho dúvida de que a elite tem a aprender com um morador de favela”, diz Renato Meirelles, fundador do Instituto Locomotiva e do Data Favela. Outros itens básicos estão nas prioridades de compra com o uso do auxílio do governo. É o caso de produtos de higiene (91% de citações), limpeza (90%), pagamento de contas básicas (80%) e remédios (77%). Neste último caso, as menções são mais frequentes no Norte (86%) e Nordeste (85%) do país. A pesquisa mostra ainda que dois em cada três moradores das comunidades do país solicitaram o auxílio emergencial, dos quais 39% não tiveram o pedido aprovado. O elevado percentual de insucesso nas solicitações pode ter relação com dificuldade para preencher corretamente o formulário no site da Caixa Econômica Federal.
Segundo Celso Athayde, fundador da Cufa, existe ainda falta de informação sobre o programa e seus critérios de elegibilidade dentro das favelas. “Há quem acredite que só os previamente cadastrados em programas sociais têm direito ao auxílio, como o Minha Casa, Minha Vida, Cadastro Único de programas sociais”, explica. De acordo com a pesquisa do Instituto Data Favela, as comunidades brasileiras têm cerca de 13 milhões de moradores. Da população com 16 anos ou mais, 54% vivem de empreitadas individuais, como autônomos ou microempreendedores. Somente 30% são formalizados, com CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica), mostra a pesquisa. Athayde diz que a situação social nas favelas, já historicamente grave, está mais preocupante. Dos moradores de comunidades, 34% declararam na pesquisa que a renda da família foi a zero. Outros 56% perderam metade ou mais da metade da renda da família. São manicures, camelôs e prestadores de serviços afetados pelo isolamento. Por meio da Cufa, Athayde tem conseguido atenuar parte desse quadro. Segundo o balanço mais recente da organização, foram distribuídos até aqui cerca de R$ 100 milhões em alimentos e produtos nas comunidades de todo o país, além de 7,1 mil toneladas de cestas básicas pelo projeto “Mães da favela”. As doações foram recebidas de cerca de 160 empresas do país.
Neste semana, a Cufa foi responsável pela distribuição de 30 mil botijões de 13 quilos de gás para as mães de favelas, doados pela empresa Supergasbras, do grupo SHV Energy. Segundo a companhia, a ação beneficiou mais aproximadamente 120 mil pessoas de 174 comunidades. Em Vitória, a Cufa também distribuiu cerca de mil cestas básicas para comunidades da região. Segundo Athayde, os moradores das favelas continuam saindo de casa para trabalhar - porteiros, frentistas, caixas de supermercado, entregadores. Apesar disso, ele reafirma que as favelas estão evitando o pior cenário em número de casos e mortes por causa da pandemia. “Na questão sanitária, a situação está mais complicada do que o noticiário tem mostrado, porque não há uma medição correta do número de casos, por falta de testes. Mesmo assim, o quadro não se agravou como inicialmente a gente imaginava”, diz Athayde. “Mas essa talvez seja a realidade não só das favelas, mas também de outros lugares do país.”
*”Nova linha tem potencial de liberar até R$ 100 bi a pequena e média empresa”* - Programa vai contar com garantia do FGI, que receberá aportes de até R$ 20 bi do Tesouro
*”Teto de juros definirá interesse de bancos em novo programa de crédito”*
*”Cresce aposta em Selic abaixo de 2%”*

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