quarta-feira, 2 de junho de 2021

Deu na Imprensa - 02/06/2021

 

Nos jornalões, a alta do PIB é comemorada em tom ufanista como se o país estivesse retornando ao eixo do desenvolvimento. Dos quatro jornalões, só a Folha e O Globo destoa, apontando que PIB sobe e volta ao pré-Covid, mas ganho não chega a pobres, enquanto o diário carioca lembra que desemprego ainda resisteValor e Estadão celebram o feito e projetam otimismo. Diz o diário financeiro na manchete de primeira página: PIB forte leva a projeções de crescimento acima de 5%. E o outro: PIB trimestral surpreende e previsão para ano chega a 5,5%. Já a edição brasileira do El País foca na política: Planalto omite de CPI agenda que mostraria aglomerações de Bolsonaro em Brasília.

O presidente Jair Bolsonaro comemora: "Lamentamos as mortes, mas, apesar de tudo, o Brasil vai bem", disse. Ao admitir que estava sendo filmado rindo, presidente reagiu: "Se a gente não tentar ser feliz, vai esperar o quê? O PIB do primeiro trimestre teve crescimento de 1,2% em relação ao trimestre anterior, segundo o IBGE. O outro tema do dia é o anúncio do presidente de que a Copa América será realizada em quatro cidades brasileiras, causando alvoroço na imprensa internacional, que adverte para a decisão ser tomada em meio ao agravamento da pandemia no país – leia mais em Brasil na Gringa neste briefing.

A euforia do mercado financeiro, que fechou o dia em alta e recorde na B3 – Ibovespa fechou aos 128.267 pontos, alta de 1,63%; já o dólar caiu 1,49%, a R$ 5,146, menor patamar desde dezembro – se espalha pelas páginas do Valor e do Estadão, mais estridentes com os resultados obtidos do PIB. 

Em artigo na Folha, o ex-ministro Nelson Barbosa diz que a recuperação da economia, por um lado, foi vigorosa; por outro, vulnerável"Na comparação com o mesmo período de 2020, houve queda de 0,8% nos serviços, provavelmente devido ao arrocho fiscal e aos efeitos da segunda onda da Covid sobre a prestação de serviços pessoais nas cidades", diz. "Não há como ignorar que a recuperação econômica está bem desigual, entre setores, entre regiões e, sobretudo, entre ricos e pobres. A queda do consumo das famílias é preocupante, mas isso pode ser atenuado com o auxílio emergencial, que voltou a ser pago a partir de abril".

Dos colunistas, Vinícius Torres Freire é dos poucos a pintar um cenário mais realista e menos rosáceo sobre o futuro do país, na FolhaPIB foi muito bem, mas povo miúdo ainda vai mal"Há indícios de que pode não haver tombo no segundo trimestre, prejudicado pelos horrores da chamada 'segunda onda' da epidemia. Abril foi ruim, mas há sinais de que a recuperação de maio foi forte. A confiança de empresários e consumidores aumentou. O crédito, o total de empréstimos bancários, aumenta. Emprego e renda vão mal, mas despioram e tendem a despiorar um pouco mais com o avanço da vacinação, um progresso assassino de lerdo, mas que terá efeitos visíveis no segundo semestre", aponta.

No GloboZeina Latif escreve sobre o PIB de cada um e faz uma leitura semelhante: "Se a leitura do PIB não é grandes coisas, a sensação térmica de importante parcela da população é pior ainda. O PIB aumenta, mas não o bem-estar de muitos, pois as atividades econômicas que mais sofrem com a crise são justamente aquelas que empregam mão de obra menos qualificada e informais. Para piorar, as exigências tecnológicas impostas pela pandemia destroem empregos", resume. "O governo celebra os números do PIB, mas Paulo Guedes compreendeu bem que nem todos participam dessa festa. Não à toa promete mais políticas de transferência de renda até a eleição".

No EstadãoFábio Alves diz que a sensação nas ruas é diferente do otimismo dos economistas"A percepção é, realmente, de que a economia está se recuperando, mas, em termos de sensação da população nas ruas, não haverá diferença entre um crescimento entre 3,0% e 3,5% que todo mundo esperava na virada do ano para uma expansão de 5,0% em 2021 de algumas projeções agora", diz Luiz Felipe Laudari, diretor de investimentos da Mauá Capital. "É um efeito mais matemático do que, de fato, um crescimento mais acelerado". Segundo ele, a taxa de desemprego de 14,7% no trimestre até março, se ajustada para a população economicamente ativa histórica, com base na taxa de participação histórica, seria, na realidade, de 21%. "É possível imaginar a economia ganhando tanta tração com essa taxa elevada de desemprego?", argumenta. 

Folha reforça a posição de cautela apontando que o novo boom das commodities é responsável pela alta do PIB. E o peso do agronegócio no PIB subiu de 5% para quase 7%. Além disso, analistas veem alta maior do PIB em 2021, mas alertam para Covid e falta de energia podem atrapalhar o desempenho da atividade econômica. Para colocar um pouco de realidade nas manchetes ufanistas, vale lembrar que, com atraso na vacinação, Brasil perde sete posições em ranking do PIB de 50 países. Jornais reportam que o ritmo de vacinação contra a Covid-19 no Brasil caiu 16% em maio

Na política, o tema quente do dia foi a ida da médica Nise Yamaguchi à CPI da Covid para prestar depoimento. Ela tentou proteger Bolsonaro, mas acabou desmascarada pelas mentirasNise contradisse a Anvisa e o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta sobre a mudança na bula da cloroquina, mas confirmou reuniões com Bolsonaro por tratamento precoce. O Globo elenca oito contradições de Nise na CPI.

Ainda na política, Folha reporta que organizadores falam em ampliar atos de protesto contra Bolsonaro para fora da esquerda, mas veem resistências. Grupos que lançaram manifestos suprapartidários pela democracia em 2020 deixam participação a critério de cada membro, mas MBL e Vem Pra Rua não aderem. Movimentos sociais, estudantis e sindicais, além de partidos de esquerda estiveram por trás das manifestações que levaram milhares de pessoas às ruas em 210 cidades do Brasil e em 14 países.

Outro assunto na agenda dos jornais é o agravamento da crise entre as Forças Armadas e Bolsonaro. O presidente nomeou o ex-ministro Eduardo Pazuello, general de três estrelas da ativa e investigado pelo Exército por indisciplina, a ocupar o cargo de secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. A nomeação é vista como uma provocação do presidente às FFAA

Elio Gaspari alerta na Folha e no Globo para a anarquia militar de Bolsonaro"Ela contaminou o século 20 e agora é diferente, pior", escreve o colunista. "O risco de 'que a anarquia se instaure dentro das Forças' tornou-se visível com o general Pazuello subindo no carro de som de Bolsonaro, mas ele está aí desde 2018, quando o comandante do Exército sugeriu com seu famoso tuíte que o Supremo Tribunal Federal negasse o habeas corpus que impediria a prisão de Lula. Ele ecoava uma manifestação do comandante das tropas do Sul, general Jair Dantas Ribeiro, em 1962, forçando a realização de um plebiscito para enterrar o regime parlamentarista", aponta.

BRASIL NA GRINGA

O britânico Financial Times relata que o PIB do Brasil voltou aos níveis pré-pandêmicos"Taxa de expansão econômica supera expectativas e estimula esperanças de recuperação mais rápida", informa. "Dados oficiais divulgados na terça-feira mostraram que a economia cresceu 1,2% em relação ao trimestre anterior, quando se expandiu 3,2%. Em comparação com o mesmo trimestre do ano passado, a economia cresceu 1%". De acordo com o correspondente Bryan Harris, os cientistas já deram o alarme sobre uma potencial terceira onda da Covid.

New York Times informa que um ataque cibernético interrompeu a produção em frigoríficos de carne da JBS. Todas as plantas de carne bovina da JBS nos Estados Unidos foram fechadas na terça-feira, e muitas de suas fábricas de suínos e aves foram afetadas, de acordo com um sindicato e postagens no Facebook destinadas aos funcionários. 

O assunto é a manchete principal do Wall Street Journal, que reporta que algumas das maiores fábricas de processamento de carne dos Estados Unidos reduziram as operações após o ataque, potencialmente atrasando negócios com compradores de carne, confinamento de gado e outros fornecedores. O inglês The Guardian informa que a Casa Branca entrou em contato com a Rússia após o ataque ao maior frigorífico do mundo. O ataque de ransomware à JBS, provavelmente por um grupo com sede na Rússia, interrompeu a produção de carne na América do Norte e na Austrália. O britânico Times e o alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung também noticiam que o ataque é atribuído a hackers russos.

NYT noticia que a OMS liberou a vacina fabricada pela empresa farmacêutica chinesa Sinovac para uso emergencial, abrindo caminho para que ela seja incluída na Covax, a iniciativa mundial difusa da qual os países de baixa renda dependem para a vacina. A decisão foi anunciada terça-feira, cerca de um mês após a agência autorizar outra vacina chinesa, da Sinopharm, para uso emergencial. O jornal diz que os ensaios da CoronaVac no Brasil e na Turquia apresentaram resultados diferentes, mas mostraram que a vacina protege contra a Covid-19.

O português Diário de Notícias relata que o Brasil voltou a se aproximar da marca das 2.500 mortes registradas em 24 horas. Agora são 465.199 óbitos desde o início da pandemia, informou o Ministério da Saúde. "O número de óbitos quase triplicou face às 860 vítimas mortais registadas na segunda-feira. Contudo, as autoridades de saúde justificam essa discrepância com a falta de recursos humanos para processar os dados ao fim de semana, com os números a acabarem por ser consolidados às terças-feiras", relata.

Sobre a Copa América, o francês Le Monde e o inglês The Guardian noticiam que o Brasil confirmou organização da competição internacional de futebol. O diário francês destaca que depois que Colômbia e Argentina se retiraram por motivos de saúde, a competição pode começar em 13 de junho, anunciou Bolsonaro. O jornal britânico traz cobertura crítica: 'Vergonhoso': Bolsonaro denunciado por sediar a Copa América em meio à pandemia"Presidente do Brasil é acusado de manejar mal o surto da Covid", relata. "Torneio de futebol mudou-se da Colômbia e Argentina".

O alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung diz que Bolsonaro julgou mal"Esperava que seus compatriotas loucos pelo futebol o agradecessem por sediar a Copa América em um curto espaço de tempo. Mas a maioria acha esse torneio inadequado", diz o jornal. "Talvez Jair Bolsonaro tenha se lembrado das fotos de julho de 2019. Naquela época – antes da pandemia – o presidente brasileiro era festejado com a Seleção Nacional. A multidão no estádio lotado do Maracanã, no Rio de Janeiro, festejou na Copa América, o campeonato sul-americano, pelo primeiro título da Seleção em anos. O time e o presidente se presentearam com um troféu pela foto de torcida. A mensagem por trás disso: com ele, tempos melhores voltarão. Quase dois anos depois, o Brasil está mergulhado na pandemia. A fome e a pobreza devido à crise econômica que a acompanha são palpáveis e visíveis em todos os lugares"

O francês Libération também adota uma cobertura negativa ao relatar que Bolsonaro fez provocações ao anunciar a Copa América no Brasil"O presidente brasileiro gerou polêmica ao aceitar a realização da copa sul-americana de futebol em seu país em menos de duas semanas, enquanto é duramente criticado por sua gestão da epidemia de Covid-19, que ainda assola o país", informa.

O espanhol El País destaca a declaração de especialista: "A Copa América no Brasil é inaceitável para a saúde pública e pode acelerar a terceira onda". O epidemiologista brasileiro Bruno Gualano alerta para o risco à saúde de organizar um torneio continental quando a pandemia se agravar no país. "Nos últimos dias, o Brasil ultrapassou 460.000 mortes e 16,5 milhões de infectados pelo covid-19. Também detectou variantes das cepas brasileira e indiana em seu território, tem atrasos na vacinação e aumento da ocupação hospitalar. O cenário preocupa os especialistas, que prevêem a iminência de uma terceira onda ainda mais mortal do que os anteriores. Mesmo assim, o governo de Jair Bolsonaro, um negador da pandemia, comemora a decisão de sediar a Copa América", diz o texto. 

m artigo no El PaísEliane Brum diz que Bolsonaro declara guerra ao Brasil"Encurralado, o presidente agita sua base na Amazônia e explora a violência contra os indígenas e a selva", opina. Ela denuncia: "Com 120 pedidos de impeachment de Bolsonaro apodrecendo no Congresso, a cada dia que a extrema direita permanece no poder a guerra interna piora. Todos os esforços visam neutralizar os ataques de Bolsonaro e seus seguidores contra o Brasil. Mineiros ilegais, ladrões de terras públicas e madeireiros são sua base de apoio na Amazônia. E o Bolsonaro é sua oportunidade de legalizar os crimes na selva"

Os argentinos Clarín e Página 12 repercutem as declarações do presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), apontando que Bolsonaro atrasou a compra de vacinas para obter imunidade coletiva. "Temos evidências suficientes", disse. Aziz considera que já existem evidências suficientes de que o governo Bolsonaro agiu "deliberadamente", através de um "gabinete paralelo", para atrasar a compra de vacinas, apostando tudo na "imunidade do rebanho". "Não há mais nada a provar", disse. P12 reforça: Há evidências que Bolsonaro atrasou intencionalmente a compra de vacinas.

 

AS MANCHETES DO DIA

Folha: PIB sobe e volta ao pré-Covid, mas ganho não chega a pobres  

Estadão: PIB trimestral surpreende e previsão para ano chega a 5,5%  

O Globo: PIB cresce mais que esperado, mas desemprego ainda resiste

Valor: PIB forte leva a projeções de crescimento acima de 5%

El País (Brasil): Planalto omite de CPI agenda que mostraria aglomerações de Bolsonaro em Brasília

BBC Brasil: Em meio à exportação recorde de alimentos, seca e pandemia agravam fome no campo

UOL: OMS não foi consultada sobre decisão de realizar Copa América no Brasil

G1: Famílias contraem dívidas milionárias na busca por UTIs e tratamentos contra Covid

R7: Vacinação contra covid-19 no Brasil levaria quase um ano para terminar no ritmo atual

Luis Nassif: Exportações e câmbio explodem os preços ao produtor

Brasil 247: Aos risos, Bolsonaro comete novo crime, agride apresentadora da CNN e a chama de "quadrúpede"

DCM: Cai o comandante da PM de PE após ataque a manifestantes em Recife

Rede Brasil Atual: CPI da Covid: senadores desmontam versão farsesca de Nise Yamaguchi

Brasil de Fato: PM diz que arquiteto negro se suicidou em SP, mas amigos querem investigação da morte

Ópera Mundi: Breno Altman: Esquerda não precisa de aliança para atrair eleitor centrista

Fórum: Bolsonaro ataca apoiador que criticou Copa América: "fique em casa e desligue a televisão"

Poder 360: Covid: 54% dos internados em UTIs públicas morrem; nas particulares são 30%

Vi o Mundo: Senador Otto Alencar desmonta Nise Yamaguchi: ela não consegue discernir entre protozoário, que é alvo da cloroquina, e vírus — para a qual não tem eficácia

New York Times: Rivais de Nova York afiam ataques em corrida pela prefeitura

Washington Post: Relatório de chamadas para reformas no Instituto Militar da Virgínia

WSJ: Ataque de sequestro de dados atinge operações de carne da JBS nos EUA

Financial Times: Aumento da inflação na zona do euro aumenta as apostas para os formuladores de políticas do BCE

The Guardian: Plano de recuperação da Covid considerado "inadequado"

The Times: Nova esperança para 21 de junho, quando as mortes caírem a zero

Le Monde: Regionais, pré-visualização da presidencial

Libération: Feminicidas. A falha

El País: A Justiça deixa Gali partir apesar da ira de Marrocos

El Mundo: O tarifaço de luz nasce com recorde na faixa mais usada 

Clarín: Estoura outra polêmica devido à falta da vacina Pfizer na Argentina

Página 12: "Cabe a nós dizer Nunca Mais à manipulação do Poder Judiciário"

Granma: O Conselho de Ministros aprova a melhoria dos atores da economia cubana

Diário de Notícias: Enfermeiros fazem mais horas extra do que a lei permite e não recebem por todas

Público: Critério de risco da Covid-19 revistos para conselhos com menos população

The Moscow Times: Senadores russos adotam projeto de lei "extremista" que impediria os críticos das pesquisas

Frankfurter Allgemeine Zeitung: Perspectivas melhores

Süddeutsche Zeitung: Reforma de enfermagem. Por favor, mantenha as crianças fora da conta

Global Times: Xi: A China precisa de uma voz que corresponda à sua força nacional, seu status internacional

Diário do Povo: Xi enfatiza a melhoria da capacidade de comunicação internacional da China

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