Na esteira dos atos bolsonaristas, caminhoneiros bloquearam estradas federais em pelo menos 16 estados nesta quarta-feira. Em vez das reivindicações da categoria, os cartazes nos caminhões traziam ataques ao STF e a outras instituições da democracia. Houve incidentes de violência contra motoristas que se recusaram a aderir, e já há registro de falta de combustíveis em postos no Norte de Santa Catarina devido ao bloqueio de uma base de distribuição. (Metrópoles)
Ainda durante a tarde de ontem, o analista de redes Pedro Barciela percebeu que o movimento bolsonarista dos caminhoneiros, desta vez, não foi deslanchado pelas vozes habituais do bolsonarismo. O grupo do presidente perdeu o controle do levante que incitou. (Twitter)
O Planalto entrou em pânico. No fim da noite, o presidente Jair Bolsonaro gravou um áudio pedindo que os caminhoneiros liberem as estradas, dizendo que ação “atrapalha a economia” e “prejudica todo mundo, em especial, os mais pobres”. (G1)
Com prisão preventiva decretada pelo STF, o ativista Marcos Antônio Pereira Gomes, conhecido como Zé Trovão, questionou a autenticidade do áudio. Foragido, ele cobrou um “vídeo com data e hora”. Em resposta, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, publicou um vídeo confirmando a fala do presidente e reiterando o pedido de desbloqueio. (Metrópoles)
Entidades sindicais dos caminhoneiros autônomos, como o Sindicatos dos Transportadores Autônomos de Carga de Goiás (Sinditac-GO), dizem que os bloqueios são organizados pelo agronegócio bolsonarista. (Poder360)
Fazendo coro aos sindicatos, o presidente da Frente Parlamentar de Caminhoneiros e Celetistas, o deputado Nereu Crispim (PSL-RS), que representa os motoristas autônomos, cobrou da Polícia Rodoviária Federal (PRF) garantia de segurança para os profissionais que não aderirem ao movimento. (UOL)
“Ninguém fechará esta Corte!” Esse foi o tom do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, em resposta aos discursos golpistas de Jair Bolsonaro no 7 de Setembro. Ao abrir a sessão de ontem na Corte, Fux reagiu a ameaça do presidente de não cumprir decisões do ministro Alexandre Moraes, chamado de “canalha” por Bolsonaro. “O Supremo Tribunal Federal também não tolerará ameaças à autoridade de suas decisões. Se o desprezo às decisões judiciais ocorre por iniciativa do chefe de qualquer dos Poderes, essa atitude, além de representar atentado à democracia, configura crime de responsabilidade, a ser analisado pelo Congresso Nacional.” A pena é o impeachment. (UOL)
Porém... No que depender do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), por enquanto o Congresso não vai analisar nada. Aliado de Bolsonaro, o deputado fez um pronunciamento em que condenou “bravatas em redes sociais, vídeos e um eterno palanque” e garantiu que a “Constituição jamais será rasgada”, mas não fez qualquer menção aos mais de 130 pedidos de impeachment do presidente que repousam em sua gaveta, tampouco à ameaça de ignorar decisões judiciais. A crítica mais direta a Bolsonaro se referiu à insistência deste no voto impresso, apesar de a Câmara já ter derrubado a proposta. (Poder360)
Então... Na avaliação do presidente do PSD, Gilberto Kassab, Lira “não vai conseguir se contrapor a um movimento crescente da sociedade” a favor da destituição de Bolsonaro. Ele fez a afirmação no podcast Café da Manhã. (Folha)
Nos bastidores, Lira e o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, procuraram o decano do STF, ministro Gilmar Mendes, para tentar estabelecer alguma ponte entre o Planalto e o Supremo. Os dois buscavam também uma solução para o impasse do rombo dos precatórios. Ouviram de Gilmar que, no atual clima, essa solução não existe. (Folha)
Enquanto aliados tentam refazer pontes, Bolsonaro as queima. Em reunião com seus ministros, ele deixou claro que não vai baixar o tom no confronto com o STF e ainda cobrou “soluções jurídicas” para que a PF não cumpra ordens de Moraes, o que, como apontou Fux, é crime de responsabilidade. (Estadão)
Então... Fux falou duro, Lira reclamou, mas o procurador-geral da República fez a Polyanna. Augusto Aras ignorou todas as exortações golpistas de Bolsonaro e saudou as manifestações do feriado como “uma festa cívica” de uma “sociedade plural e aberta”. Essa postura não é gratuita. Aras ainda não desistiu da indicação, que no momento está com André Mendonça, para uma vaga no STF. E tem seus motivos. (UOL)
Segundo Bela Megale, após os discursos de Bolsonaro, a perspectiva de o Senado marcar a sabatina de Mendonça diminuiu ainda mais. (Globo)
Lira quer deixar o Sete de Setembro para trás porque sua prioridade é outra: aprovar ainda hoje o Código Eleitoral. Ele queria ter fechado a fatura na quarta-feira, mas teve que adiar a votação por falta de acordo. “Amanhã (hoje) ou nós resolvemos, ou nós não votamos e deixamos a legislação como está”, disse. Para entrar em vigor já nas eleições do ano que vem, o código precisa ser aprovado na Câmara e no Senado e sancionado pelo presidente até 1º de outubro, daí a pressa de Lira. (Poder360)
A executiva nacional do PSDB decidiu ontem, por unanimidade, se declarar em oposição ao governo Bolsonaro e buscar uma “frente oposicionista de centro”. Porém, talvez por força do hábito, não conseguiu chegar a um acordo sobre o apoio a um processo de impeachment e vai iniciar um debate interno. Resta saber como a direção pretende enquadrar a expressiva ala bolsonarista de sua bancada na Câmara. (Poder360)
Aécio Neves (MG), tido como mentor dos deputados tucanos governistas, nem se dignou a participar da reunião virtual da executiva, conta Guilherme Amado. Coube a aliados dele, como o também mineiro Paulo Abi Ackel, brigar para que o apoio ao impeachment não passasse. (Metrópoles)
Empenhado em rivalizar com as manifestações bolsonaristas, o MBL anunciou ontem a participação em seus atos marcados para o dia 12 de centrais sindicais, à exceção da CUT, e de políticos e artistas de esquerda, como a deputada estadual Isa Penna (Psol-SP) e o cantor Tico Santa Cruz. Um dos mais esperados fora da direita e da centro-direita é o deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), líder da Oposição na Câmara, que busca adesão de mais siglas de esquerda. (Poder360)
Alexandre Moraes dá sinais de que também não vai fugir das polêmicas com o Executivo. Ontem ele liberou para votação do Plenário virtual do STF três projetos que questionam decretos do governo facilitando a compra e importação de armas de fogo e munições. As ações estavam paradas devido a um pedido de vistas de Moraes e devem ser decididas no próximo dia 17. (G1)
Nenhum comentário:
Postar um comentário