MIDIALTERNATIVA FREE PRESS: Deu na Imprensa

Os jornalões brasileiros — à exceção da edição brasileira do El País — destacam nas manchetes a crise envolvendo a empresa Evergrande, que corre o risco de quebrar e arrasou com as bolsas em todo o mundo, elevando o medo de uma crise financeira global. Mas é a passagem de Bolsonaro por Nova York — vexame global — que repercute nas redes sociais e na imprensa estrangeira.

Eis as manchetes: Folha: Risco de gigante chinesa dar calote cria temor de crise global. Estadão: Crise de gigante da China derruba bolsas e atinge o Brasil. O Globo: Temor de calote de gigante chinesa derruba mercado global. Valor: Crise em companhia chinesa espalha temores pelo mundo. El País (Brasil): Bolsonaro vai à ONU com discurso menos estridente, mas o mesmo comportamento.

Há grande expectativa para o discurso do presidente Jair Bolsonaro, na abertura da Assembleia Geral da ONU — uma tradição que vem desde a criação das Nações Unidas. Jornais especulam que Bolsonaro tentará se desfazer da imagem ruim, por conta dos ataques que o governo tem promovido a políticas de proteção à Amazônia, e criticas às medidas de isolamento impostas pela pandemia — um aceno à base radical no Brasil. Ele deve anunciar a doação de vacinas — inacreditável! Estadão é o único a lembrar que faltam vacinas no Brasil.

Ontem, o presidente teve um encontro patético com o primeiro-ministro Boris Johnson, que elogiou a vacina da AstraZeneca, enquanto um cético Bolsonaro balbuciava que não tomou nenhuma dose de imunizante. O brasileiro é único dos presidentes do G20 sem vacina na Assembleia-Geral da ONU. A vergonha não acabou aí: um diplomata brasileiro, integrante da comitiva de Bolsonaro em Nova York, recebe diagnóstico de Covid.

A imprensa nacional — com algumas reportagens negativas no exterior (leia em Brasil na Gringa) — tratam do desgaste do Brasil e do líder extremista. Nos on-lines, pegou mal o gesto obsceno do ministro da Saúde, que devolveu os apupos e vaias nas ruas de Nova York estendendo o dedo médio como resposta. Jamil Chade é cruel: “É um retrato fiel do governo”.

Na política, um dos destaques do dia é a decisão de Renan Calheiros (MDB-AL) de adiar a apresentação do relatório da CPI da Covid após ação contra Precisa e suspeitas sobre Prevent Senior. Outro tema nos jornais é a provocação de Jair Renan, filho de Bolsonaro, que visitou ontem loja de armas e provocou a ira da CPI.

Outra controvérsia é o apoio do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) que elogiou Bolsonaro pelo envio da MP que facilita e garante impunidade por fake news ao Congresso. O parlamentar defende “lei que conforte todos”.

Na economia, impressiona os dados da última rodada de pesquisa do DataFolha sobre a percepção da população para a conjuntura nacional. É uma sequência de dados ruins para o governo, em cinco reportagens da Folha:

E, para piorar, a crise na China pode ter efeito devastador para o Brasil. Conforme aponta Míriam Leitão, no Globo, uma crise internacional é tudo que o Brasil não precisa neste momento. “E foi isso que se vislumbrou ontem, quando mercados do mundo inteiro despencaram pelo temor do efeito de contágio de uma gigante imobiliária. O centro do problema fica exatamente no país do qual o Brasil mais depende, a China”, lembra.

“O Brasil é um país em crise institucional, risco fiscal elevado e um presidente visto como uma aberração, como se viu ontem em Nova York. A cotação de uma das commodities que o Brasil exporta, o minério de ferro, caiu de US$ 222 a tonelada para US$ 95, em apenas dois meses”, ressalta.

LULA

Estadão bate de novo em Lula ao apontar que o PT tem divulgado que o ex-presidente foi inocentado em ações não julgadas. Ele obteve vitórias recentes na Justiça, mas houve absolvição em apenas três casos; partido fala em 19 processos. “As recentes vitórias do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Justiça levaram o PT a usar politicamente as decisões e a divulgar que o petista foi ‘inocentado’ em ações que não tiveram o mérito julgado”, diz o jornal. “Segundo juristas, embora Lula possa ter se livrado da maioria dos processos, as decisões não atestam, necessariamente, que ele foi absolvido”.

Em artigo na Folha, Horácio Lafer Piva, Pedro Passos e Pedro Wongtschowski escrevem que o destino do Brasil é o único medo que nos assombra. “Não há de nossa parte qualquer temor de Lula, a quem bem conhecemos”, apontam, como resposta ao professor Rogério Cezar Cerqueira Leite. “Vencendo Lula ou um nome novo, como julgamos preferível, estaremos na primeira fila para aplaudir e desejar sucesso por ele e pelo Brasil. Mais claro, impossível, caro professor”.

BRASIL NA GRINGA

O português Diário de Notícias traz um perfil de Luiza Trajano, apresentando-a: Quem é a única brasileira na lista da Time que Lula quer para vice? “Empresária de sucesso preocupada com diversidade e igualdade, Luiza Trajano, 72 anos, é o sonho do antigo presidente e pré-candidato em 2022. E é ele quem assina o texto sobre a milionária na revista”, escreve o correspondente João Almeida Moreira.

O New York Times debocha da presença do líder extremista na Assembleia Geral da ONU: “O presidente Jair Bolsonaro, do Brasil, um cético declarado quanto à vacinação, cuja popularidade caiu em casa em parte por causa do que os críticos chamam de seu tratamento desastroso da pandemia, prometeu antes de seu discurso que não seria vacinado. Ele foi infectado com Covid há mais de um ano e depois afirmou ter se curado tomando hidroxicloroquina, um medicamento antimalárico que não se mostrou eficaz no tratamento de Covid”.

O argentino Página 12 também debocha do brasileiro: Bolsonaro teve que comer pizza em uma calçada de Nova York porque não foi vacinado. Ele viajou para os Estados Unidos para participar da Assembleia Geral da ONU. Segundo o articulista Eric Nepomuceno, há uma expectativa tensa com Bolsonaro na ONU: “E numa ridícula tentativa de desafio, no dia da sua chegada saiu do hotel sem tomar banho depois da longa viagem (ou tomou banho e vestiu as mesmas roupas com que viajava ...) para comer uma fatia de pizza com a mão uma calçada, cercada por vários cúmplices, ou melhor, membros de sua comitiva. Entre eles, ninguém menos que o Ministro da Saúde do Brasil. Todos, é claro, sem máscaras”

E o inglês The Guardian noticia o encontro entre o primeiro-ministro inglês e o presidente brasileiro. Boris Johnson usa a reunião do Bolsonaro para promover vacina da AstraZeneca. Primeiro-ministro britânico diz que vacina desprotegida do presidente brasileiro Covid é 'ótima' sem usar máscara.

INTERNACIONAL

A manchete do New York Times: Vacina contra Covid estimula forte resposta imunológica em crianças mais novas, afirma a Pfizer. Crianças vacinadas de 5 a 11 anos mostraram evidências de proteção contra o vírus, disse a empresa. Os dados devem ser revisados pelo FDA antes que as crianças possam ser inoculadas.

O NYT ainda destaca que mercados globais desmaiam enquanto as preocupações aumentam com os planos das superpotências. O S&P 500 fechou em queda de 1,7% devido a uma série de tensões, como o estalido mercado imobiliário da China e o fim das medidas de estímulo nos EUA.

Washington Post destaca em manchete que democratas revelam novo plano para financiar o governo e suspender o teto da dívida à medida que o confronto com o Partido Republicano se aproxima. Os legisladores têm menos de duas semanas para aprovar um projeto de lei para evitar uma paralisação do governo e estão ficando sem tempo no limite da dívida.

“O plano esboçado pela presidente da Câmara, Nancy Pelosi (D-Califórnia) e pelo líder da maioria no Senado, Charles E. Schumer (DN.Y.), visa evitar o que eles descreveram como um dia do juízo final econômico — uma paralisação federal no início de outubro e um Departamento do Tesouro que não consegue pagar suas contas logo em seguida”, diz o Post. “Os golpes duplos podem prejudicar a recuperação dos EUA, alertaram os democratas, deixando milhões de americanos sem ajuda crítica enquanto desestabiliza os mercados globais”.

Wall Street Journal destaca na capa que Xi Jinping tem como objetivo refrear o capitalismo chinês. “Ele se importa com a visão socialista de Mao”, rasga na primeira página. “Indo muito além de conter os gigantes da tecnologia, ele quer que o Partido Comunista controle os fluxos de dinheiro e estabeleça limites mais rígidos para a obtenção de lucros, mostram seus discursos e dizem autoridades. É provável que haja mais turbulência para as empresas estrangeiras”, destaca.

AS MANCHETES DO DIA

Folha: Risco de gigante chinesa dar calote cria temor de crise global

Estadão: Crise de gigante da China derruba bolsas e atinge o Brasil

O Globo: Temor de calote de gigante chinesa derruba mercado global

Valor: Crise em companhia chinesa espalha temores pelo mundo

El País (Brasil): Bolsonaro vai à ONU com discurso menos estridente, mas o mesmo comportamento

BBC Brasil: O risco de viagens aos EUA em meio a novo pico de mortes por covid

UOL: Bolsonaro tentará na ONU equilibrar melhora na imagem e aceno à base

G1: Sem vacina, Bolsonaro abre hoje a Assembleia Geral da ONU em NY

R7: Depósito da sexta e penúltima parcela do auxílio emergencial começa hoje

Luís Nassif: A disseminação das altas de preços em agosto

Tijolaço: Doria, ao definir ‘prioridade’ antilulista, entrega o bolsonarismo da ‘3ª Via’