A segunda-feira era para ser o dia em que os governadores, em reunião virtual, tentariam botar água na fervura entre o Planalto e o STF. Em vez disso, o dia começou em plena ebulição, com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afastando sumariamente o coronel da PM Aleksander Toaldo Lacerda do Comando de Policiamento do Interior (CPI) 7. Ele usava sua conta no Facebook para atacar autoridades, incluindo o próprio Doria, e convocar “amigos” para o ato bolsonarista no Sete de Setembro. A insubordinação das PMs passou a ser o tema do encontro. (G1)
Embora alarmados com o clima de radicalização, os governadores não soltaram uma nota oficial. Em vez disso, pediram uma reunião com Bolsonaro e os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e o STF, ministro Luiz Fux. No pedido formal do encontro, o Fórum de Governadores diz buscar uma agenda comum e estratégias para “salvaguardar a paz social, a democracia e o bem-estar socioeconômico da população brasileira”. Nenhum dos líderes dos Poderes respondeu ainda. (UOL)
Bernardo Mello Franco: “Governadores aliados de Bolsonaro vetaram a divulgação de uma carta conjunta contra as ameaças do presidente à democracia e ao STF. A proposta foi bombardeada por Romeu Zema (Novo-MG), Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Carlos Moisés (PSL-SC), que pretendem concorrer à reeleição em 2022 com apoio do presidente.” (Globo)
A preocupação dos governadores não é exagerada. Pelo menos no Rio e em São Paulo já foram identificadas movimentações de PMs, principalmente via Whatsapp, para engrossar as manifestações bolsonaristas. (Poder360)
Militares avaliam que João Doria e seu secretário de Segurança, o general da reserva João Camilo Pires de Campos, agiram rápido e corretamente no caso de Lacerda e mandaram um recado duro que pode arrefecer os ânimos nas polícias estaduais. (UOL)
E o vice-presidente Hamilton Mourão, ele próprio general da reserva, faz pouco caso de todo o barulho em torno das manifestações prometidas para o feriado. Na avaliação dele, os atos são “fogo de palha”. (Estadão)
Pois é... Mas o editorial que abre a página de opinião do Estado de S. Paulo, hoje, veio ainda mais duro do que o habitual. “Como os próprios organizadores têm alertado, o objetivo das manifestações bolsonaristas não é manifestar apoio ao presidente Jair Bolsonaro. A convocação não é para expressar determinada posição política e sim para invadir o Supremo Tribunal Federal e o Congresso. Depois de tudo o que já foi divulgado, eventual tentativa de golpe no dia 7 de setembro não será nenhuma surpresa. Será a estrita realização das táticas e objetivos anunciados, repetidas vezes, por bolsonaristas.” (Estadão)
Em tempo. Pelo menos um dos ministros mais leais a Bolsonaro, o general Luiz Eduardo Ramos, vem se mostrando preocupado com a escalada de sua retórica. Entenda a crise fabricada pelo presidente. (Folha)
Meio em vídeo. O governador João Doria suspendeu um coronel PM que, no Facebook, chamou ministro do Supremo de Hitler, chamou o presidente do Congresso de covarde, o próprio Doria de “cepa indiana” e a partir daí convocou seus “amigos” para a manifestação bolsonarista. Não é o único caso. A PM bolsonarista está começando a botar a cabeça para fora. Confira o Ponto de Partida no YouTube.
Em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, na noite de ontem, Doria disse que é preciso ter cuidado, pois “as milícias bolsonaristas estão agindo com força redobrada com vistas às manifestações” do feriado, com risco inclusive de invasão do STF e do Congresso. Ele reconheceu que foi um erro ter apoiado Bolsonaro no segundo turno em 2018. “Escolhemos o remédio errado para resolvermos o problema histórico do PT”, admitiu, afirmando que Bolsonaro faz um governo “pior que os de Lula e Dilma”. E fez uma previsão sombria para 2022: “Não será uma eleição para bonzinhos. Se preparem para um festival de fake news.” (Poder360)
Assista à integra da entrevista no YouTube.
Integrantes do Conselho Superior do MPF acusam o procurador-geral da República, Augusto Aras, de ter interceptado uma representação contra ele mesmo por prevaricação ao não investigar denúncias contra Bolsonaro. Segundo os procuradores, Aras fez uma “ação ágil, celeremente coordenada e bem orquestrada” para barrar a investigação. Eles pretendem recorrer ao STF. (Estadão)
Enquanto isso... O ministro do STF Alexandre Moraes arquivou uma notícia-crime contra Aras enviada ao Supremo pelos senadores Fabiano Contarato (Rede-ES) e Alessandro Vieira (Cidadania-SE), que também acusavam o PGR de prevaricação. (Poder360)
Pois é... Está marcada para hoje a sabatina de Augusto Aras na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado para analisar sua recondução ao cargo. (G1)
E o pastor Silas Malafaia vai procurar o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), presidente da CCJ, para tentar um milagre e salvar a candidatura de André Mendonça ao STF. (Globo)
Recém-migrado do PSOL para o PSB, o deputado Marcelo Freixo está de acenos com o PP, principal partido da base de Jair Bolsonaro, em busca de adesão a sua candidatura ao governo do Rio, apoiada por Lula. Pausa para respirar. Malu Gaspar explica que, com esse movimento, Freixo busca ao mesmo tempo isolar os bolsonaristas raiz no estado e entrar em áreas onde o PP é forte, como a Baixada Fluminense. O presidente do PP e ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, estaria a par da movimentação. (Globo)
Falando em alianças, Lula se encontrou ontem no Ceará com os senadores Tasso Jereissati (PSDB), candidato às prévias tucanas, e Cid Gomes (PDT), irmão de Ciro Gomes. A despeito da disputa nacional, PT e PDT devem manter a parceria no estado. Já com Tasso a conversa foi, nas palavras do ex-presidente, “um diálogo sobre a democracia”. (Folha)
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