terça-feira, 7 de setembro de 2021

Bolsonaristas amanhecem a 500 metros do Supremo

 Foi rápido. Na noite de ontem, após intensa pressão, um grupo de bolsonaristas acompanhado de inúmeros caminhões rompeu o cerco policial e avançou na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, até a altura do Palácio do Itamaraty. Antes das 22h já estava a cerca de 500 metros da Praça dos Três Poderes, a menos de um quilômetro do Palácio do Supremo. À frente do grupo, sorridente, avançava também o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho Zero Três. A tropa de choque foi mobilizada e, durante a madrugada, a maior preocupação da polícia era com o forte consumo de álcool no local. Não parou de chegar gente um minuto. A expectativa da PM é de que cem mil pessoas compareçam à manifestação de agora pela manhã. O presidente Jair Bolsonaro vai discursar — à tarde segue para São Paulo, onde também falará no evento da Avenida Paulista. (Correio Braziliense)

Desde cedo uma caravana de aproximadamente 100 trailers e ônibus de manifestantes ocupava uma das principais avenidas de Brasília. (Metrópoles)

O objetivo do presidente é simples: uma demonstração de força diante de um cenário de crescente fragilidade. Acossado por investigações no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), escolheu o Judiciário, mais especificamente o ministro do STF Alexandre de Moraes, que vai presidir o TSE ano que vem, como alvos. Mas ele também se vê às voltas com a CPI da Pandemia, a pandemia propriamente dita, a inflação crescente, a economia estagnada, a crise hídrica, perda de apoio no setor financeiro e em parte do agronegócio, popularidade em queda e mau desempenho nas pesquisas eleitorais para o ano que vem. As manifestações e seu ruído são a aposta do governo para sair das cordas. (Folha)

Essa é exatamente a expectativa de integrantes do governo. Na manhã de ontem Bolsonaro sobrevoou com seus ministros militares as concentrações para os atos de hoje no Distrito Federal. Mesmo que não sejam o suficiente para intimidar o STF e o Congresso ou mais ainda para dar margem a uma ruptura institucional, o presidente espera mostrar que ainda é eleitoralmente viável. (CNN Brasil)




Na véspera de suas manifestações de caráter golpista, Jair Bolsonaro editou uma Medida Provisória alterando o Marco Civil da Internet a fim de impedir que redes sociais e aplicativos suspendam ou bloqueiem contas. Segundo a Secretaria de Comunicação da Presidência, o objetivo é proteger a “liberdade de expressão”. Perfis e sites bolsonaristas têm sido sistematicamente retirados da rede por promoverem discursos de ódio, incentivarem atos antidemocráticos e disseminarem notícias falsas. As redes amanhecem o dia 7 com as mãos atadas, impossibilitadas de expurgar desinformação. (Poder360)

Míriam Leitão: “O deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), que foi relator do marco civil da internet, diz que há dois caminhos para derrubar a MP de Bolsonaro, antes mesmo que ela seja adotada pelas operadoras. Um seria simplesmente o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), devolvê-la ao Executivo, por considerar que não há urgência nesse assunto que justifique a MP. Outro seria entrar com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) no STF.” (Globo)




Enquanto boa parte do mundo político acompanha em compasso de espera as manifestações de hoje, três pré-candidatos à Presidência — o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), o ex-presidente Lula (PT) e o governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB) — se anteciparam e foram às redes. Em um vídeo caseiro e com tom incisivo, o pedetista pediu que todos, mesmo os apoiadores do presidente, tomem cuidado hoje. Segundo Ciro, Bolsonaro “quer cadáveres”, de preferência “de uma senhora ou uma criança” para produzir um “ambiente de caos institucional” e usar como justificativa para o “apelo ao autoritarismo”. Ele também conclamou os militantes do PDT a não participarem de atos hoje. (Poder360)

Já Lula se contrapôs a Bolsonaro, usando um tom de pronunciamento oficial, e dizendo que o presidente estimula confrontos em vez de buscar soluções para os problemas do país. Em seguida, listou propostas, sem entrar em detalhes, para temas como preços dos combustíveis e dos alimentos. (Folha)

Matheus Leitão: “O ex-presidente Lula falou em união, data nacional, pacificação ao celebrar, solidariedade às vítimas da Covid-19 no seu pronunciamento de 7 de setembro. Não havia nada de novo no que ele disse, era até óbvio, mas soou uma novidade para quem ouviu nos últimos dias o crescente ruído das ameaças do presidente Bolsonaro.” (Veja)

No domingo, Eduardo Leite havia divulgado um vídeo também cuidadosamente produzido apresentando-se como alternativa de Centro a Lula e Bolsonaro. Usando uma camisa amarela, ele criticou a apropriação das cores nacionais. “Ninguém vai roubar as cores do Brasil”, diz ele, criticando ainda o clima de confronto das manifestações de Sete de Setembro: “Essa guerra aí de um lado contra o outro, esse Brasil do nós contra eles, esse é um Brasil pequeno.” (Congresso em Foco)




A despeito das tentativas de intimidação, o Supremo Tribunal Federal (STF) continuou o cerco a organizadores de “protestos criminosos e violentos” convocados para hoje. O ministro Alexandre Moraes mandou bloquear as contas da Aprosoja Nacional (Associação Brasileira dos Produtores de Soja) e da Aprosoja de Mato Grosso (Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso), supostas financiadoras das manifestações. Em outra frente, também por ordem de Moraes, a Polícia Federal prendeu o blogueiro Márcio Giovani Niquelatti, vulgo Professor Marcinho, e o ex-PM mineiro Cássio Rodrigues de Souza. Niquelatti anunciou na internet que um empresário havia oferecido um prêmio pela cabeça do ministro, enquanto Souza fez diretamente ameaças de morte a Moares em redes sociais. (UOL)

Por via das dúvidas o STF reforçou a segurança pessoal dos dez ministros, recomendando ainda que eles evitem locais públicos. O prédio do Supremo, na Praça dos Três Poderes, já foi cercado por barreiras. (CNN Brasil)

E a medida não foi tomada cedo demais. Ontem mesmo militantes bolsonaristas fizeram um protesto em frente ao STF, gritando palavras de ordem como “supremo é povo” e “Xandão na cadeia”, em referência a Moraes. Uma faixa pedia que Bolsonaro usasse o Exército para “destruir o STF e o Congresso”. (Poder360)




Míriam Leitão: “Será um triste 7 de setembro. Em vez de data nacional a ser celebrada por todos, será o dia em que Bolsonaro tentará amedrontar o país convocando os seus radicais para as ruas e usando o aparato do Estado brasileiro, inclusive policiais militares. Isso para parecer forte, quando sabe que está cada vez mais fraco.” (Globo)

Carlos Alberto dos Santos Cruzgeneral da reserva e ex-ministro da Secretaria de Governo: “Neste ano, o feriado e as cores nacionais foram sequestrados por interesses políticos. Os fanáticos não representam a maioria da população ordeira que se manifesta. Extremistas não representam aqueles que votaram por transformações em ambiente de paz, legalidade e prosperidade. A grande massa das pessoas de bem, motivada por boas intenções, não deve servir de escudo para extremistas, irresponsáveis e inconsequentes. O 7 de Setembro é dia de celebração e não deve ser transformado em dia de conflito.” (Estadão)

Raul Jungmann, ex-ministro da Defesa: “O Presidente encontra-se mais e mais isolado. Não detém força para promover um golpe de Estado. Mas, de promover distúrbios, conflitos e violência, sim. Todos devemos nos preocupar com isso. Porém, as instituições, a mídia, a sociedade e o empresariado têm reagido crescentemente.”(Estadão)

Ricardo Rangel: “Economia, saúde, educação, meio ambiente, relações externas, ciência, cultura… não há caso registrado de presidente que tenha cometido tantos erros, em tantas áreas, quanto o atual. Há indícios, no entanto, de que a conclamação para o ‘golpe’ (ou seja lá o que for) possa ter sido não apenas o maior dos erros de Jair Bolsonaro, mas o erro definitivo.” (Veja)

Hélio Schwartsman: “Bolsonaro já deu pistas sobre suas intenções quando declarou ter três alternativas para o futuro: ‘estar preso, ser morto ou a vitória’. Dessas, a prisão me parece hoje a mais provável, mas o presidente há de preferir a terceira. Resta indagar o que seria, a essa altura, uma vitória para Bolsonaro. Acredito que, sem acontecimentos mais dramáticos no Dia da Pátria, a única vitória que Bolsonaro poderá extrair serão imagens de uma Avenida Paulista razoavelmente cheia.” (Folha)

Joel Pinheiro da Fonseca: “Há dois anos Bolsonaro e seus bajuladores vêm nos ameaçando com um autogolpe que até agora não veio. Também não acredito que virá nesta terça. Com o debate público cada vez mais moldado pelas redes sociais, mostras ostensivas de poder e provocações bombásticas são mais valorizadas pelos fã-clubes políticos (não só de Bolsonaro) do que realizações. Os protestos se encaixam nessa lógica: não atingem resultados nem garantem novos votos. Cheios de som e fúria, não significam nada.” (Folha)

Eliane Cantanhêde: “Pergunte-se aos manifestantes o que Bolsonaro fez de bom para o Brasil nas mais variadas áreas e eles não terão o que dizer. Sem nada a favor, a resposta será com ataques e inverdades contra os Poderes da República e os que cobram o que o presidente é incapaz de oferecer: governo, estabilidade, conhecimento e equilíbrio pessoal. O que interessa a ele e seus seguidores não é nada disso, é a foto, a foto para manter o mito de pé.” (Estadão)

Merval Pereira: “Não é normal chegarmos ao ponto de ter data marcada com antecedência para um golpe de Estado. E, quando o dia chega, como hoje, não se sabe o que pode acontecer. Bolsonaro avança contra marcos democráticos como liberdade de expressão e direitos humanos alegando estar defendendo essas mesmas liberdades. Estamos numa situação-limite. Depois das manifestações, teremos uma visão clara do que pode acontecer no país.” (Globo)

Diogo Mainardi: “Jair Bolsonaro tenta achacar o resto da sociedade dizendo que é capaz de provocar uma ruptura. Na verdade, porém, a ruptura já ocorreu. A parcela minimamente civilizada da sociedade brasileira, que é majoritária, nunca mais vai se conciliar com os 580 mil mentecaptos que, hoje, pretendem ir às ruas para pisotear 580 mil cadáveres. Essa ruptura jamais será remendada.” (Antagonista)

Helena Chagas: “Agora, até o 7 de setembro está sedo vilipendiado por uma manifestação golpista, convocada por um presidente golpista. Mas é, ou deveria ser, uma festa de todos os brasileiros, sem donos. Quem gosta vai, quem não gosta, fica em casa. Mas sem medo, porque, como se dizia antigamente, o Brasil é nosso, e não do Bolsonaro e seus fanáticos. O grito a ser entoado neste dia da Independência deveria ser: Bolsonaro, devolve a minha pátria!” (Divergentes)




Meio em vídeo. Todo mundo está muito ansioso com o que vai acontecer no Brasil no Sete de Setembro. A gente não tem como prever o futuro. Mas podemos entender, podemos dar nome ao que Bolsonaro está tentando fazer. Sabe qual o nome? Confira a resposta no Ponto de Partida (YouTube).

Hoje, às 19h, o editor-chefe do Meio, Pedro Doria, e o cientista político Christian Lynch farão um Conversas diferente no YouTube. Uma live analisando os acontecimentos do dia.

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