Jair Bolsonaro depende do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF) para ter viabilidade eleitoral em 2022. E tanto o Supremo quando o Centrão, grupo que dá apoio ao governo no Legislativo, alertam que a pregação golpista nos atos convocados para amanhã pode fechar essa porta. O STF, por exemplo, é crucial para o parcelamento de precatórios, que viabilizaria um programa assistencial federal. Já a base no Congresso avalia que a retórica radical tem impacto negativo sobre a economia, alimentando a queda de popularidade do presidente. Partidos do Centrão já discutem abertamente o desembarque do governo. (Folha)
Governista na Câmara e oposicionista fora dela, o PSDB leva essa divisão para a reação aos atos bolsonaristas. O diretório paulista, sob as bênçãos discretas do governador João Doria, decidiu aderir à contramanifestação da esquerda amanhã no Vale do Anhangabaú. Doria a princípio era contra esse ato, temendo violência, mas foi derrotado na Justiça. Já o governador gaúcho Eduardo Leite foi numa linha mais tucana tradicional, condenando todas as manifestações. (Veja)
Não é só o meio político. Em mais um sinal de que o capital quer distância dos discursos de ruptura, desabou a adesão do varejo à Semana Brasil, uma campanha do governo para estimular promoções no comércio durante o feriado da Independência, informa o Painel SA. Em 2019, três mil empresas se inscreveram; este ano, pouco mais de 200. (Folha)
Enquanto isso... Bolsonaro investe para turbinar as manifestações divulgando vídeos com convocações e convidando seus ministros para os atos. É provável que somente aqueles mais alinhados ideologicamente com o governo aceitem. Ciro Nogueira (Casa Civil) e Flávia Arruda (Secretaria de Governo), representantes do Centrão no Planalto, já declinaram. (CNN Brasil)
Mas mesmo entre os grupos tradicionalmente mais fechados com o presidente há mobilização contra os atos de amanhã. O grupo evangélico Movimento Batista por Princípios está exortando fiéis a não participarem das manifestações bolsonaristas. Eles acham incoerente que pastores “expressem sua solidariedade a uma manifestação de claro apoio a iniciativas autoritárias e pouco democráticas do atual presidente da República”. (UOL)
Thomas Traumann: “Se existe um roteiro para as ações de Bolsonaro para o dia 7, a pergunta natural é ‘o que acontece no dia 8?’. A resposta depende de como as oposições reagirem Em condições normais, a ideia de um presidente como Jair Bolsonaro derrubando ministros do Supremo seria capaz de juntar os maiores adversários. Se as oposições não souberem, Bolsonaro sabe o que quer fazer a partir de 8 de setembro.” (Veja)
Os governadores estão de olhos em suas polícias militares e nos atos de apoio a Jair Bolsonaro marcados para amanhã. Apreensivos. Cada um a sua maneira, estão trabalhando para evitar a participação de PMs da ativa nas manifestações. Ceará e Rio Grande do Norte, que foram alvos de greves nas polícias, estão concedendo promoções para driblar o congelamento de salários e diminuir a insatisfação na tropa – mesma estratégia adotada pelo Distrito Federal. No Espírito Santo, o governo colocou toda a PM em prontidão no dia 7. Quem não estiver de serviço ou no quartel, será considerado desertor. (Estadão)
A preocupação não é infundada. Uma pesquisa online do Instituto Atlas Intelligence indica que três em cada dez policiais militares pretendem participar dos atos pró-governo. O regulamento das PMs proíbe expressamente que pessoas da ativa participem de atos políticos. Para o ex-governador Paulo Hartung, que enfrentou um motim da PM no Espírito Santo em 2017, os estados têm ferramentas para conter a insubordinação policial. (Globo)
Mônica Bergamo: “Uma carta assinada por ex-presidentes, ex-premiês e parlamentares de 26 países afirma que os protestos convocados por Jair Bolsonaro (sem partido) para o dia 7 de Setembro são ‘uma insurreição’ que ‘colocará em risco a democracia no Brasil’. Entre os mais de 150 signatários estão os ex-presidentes do Paraguai Fernando Lugo, da Colômbia Ernesto Samper, do Equador Rafael Correa, da Espanha José Luis Rodríguez Zapatero e o vice-presidente do Parlamento do Mercosul, Oscar Laborde.” (Folha)
Celso Rocha de Barros: “Nesta terça-feira os golpistas de Bolsonaro farão uma manifestação para tentar convencer os quartéis de que um golpe seria popular. É quase impossível que as manifestações não encham. É, de longe, a manifestação fascista que passou mais tempo sendo planejada. A passeata desta terça foi convocada do centro do poder para destruir os limites que a democracia lhe impõe. Se isso for suficiente para convencer as Forças Armadas, então já teve golpe.” (Folha)
Autorizado pelo ministro do STF Alexandre Moraes, o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, foi transferido ontem para um hospital particular na Zona Oeste do Rio. O político de 68 anos, que cumpre prisão preventiva por incitar atos antidemocráticos, tem uma infecção urinária. Pela decisão de Moraes, Jefferson será monitorado por tornozeleira eletrônica e não pode receber visita nem acessar a internet. (G1)
Um tem o dinheiro; o outro, a capilaridade e os quadros. PSL e DEM estão avançando nas negociações para se fundirem numa única legenda, diante da perspectiva de o Senado rejeitar a volta das coligações em eleições proporcionais. Ex-nanico inflado pela onda bolsonarista em 2018, o PSL tem 53 deputados, empatado com o PT como maior bancada na Câmara. Pelo menos a metade deve deixar a legenda, mas ela conserva a gorda fatia do Fundo Eleitoral. Já o DEM tem 28 deputados, mas uma ampla estrutura nacional e nomes com potencial para disputar o Planalto, como o ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta. (Globo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário