quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Num rompante, Bolsonaro desiste do Renda Brasil

 


O presidente Jair Bolsonaro publicou ontem cedo, em todas suas redes, um vídeo no qual se posta irritado com as manchetes dos jornais do dia. Não gostou de saber pela imprensa que a equipe econômica estudava o congelamento de benefícios e aposentadorias, além da desvinculação com o salário mínimo, para financiar o programa Renda Brasil — uma versão ampliada do Bolsa Família. “É um devaneio de alguém que está desconectado com a realidade”, afirmou o presidente. “Quem porventura vier propor uma medida como essa, eu só posso dar cartão vermelho. É gente que não tem o mínimo de coração, o mínimo de entendimento como vivem os aposentados.” A ideia, que saiu do Ministério da Economia, foi divulgada inicialmente por Waldery Rodrigues, secretário especial de Paulo Guedes. Guedes que tirou o corpo fora. “Como todos os jornais deram isso, que o presidente vai tirar dinheiro dos frágeis e vulneráveis para passar aos paupérrimos, o presidente repetiu o que tinha dito antes”, disse o ministro. “E levantou um cartão vermelho, que não foi para mim.” Ao sair do Planalto, Guedes se queixou de que estava havendo barulheira. “Aí descredenciou a ideia do Renda Brasil.” (G1)

O que avaliam os principais líderes oposicionistas, segundo Mônica Bergamo, é que com a desistência Bolsonaro só terá notícias ruins para dar — inflação de alimentos, corte no auxílio emergencial, Amazônia. (Folha)

Bruno Boghossian faz um ponto: “Jair Bolsonaro tinha gostado da ideia de turbinar o Bolsa Família. A decisão de abater a proposta do Renda Brasil mostra que, embora seduzido pelo plano de cimentar sua popularidade entre famílias de baixa renda, não está disposto a perder apoio em outros segmentos. Nas últimas semanas, disse duas vezes que não pretendia ‘tirar dinheiro dos pobres para dar para os paupérrimos’. O governo nunca demonstrou interesse em cobrar essa conta dos mais ricos. O presidente se mostra indisposto a comprar essa briga enquanto ainda tenta consolidar suas curvas de popularidade. Ao desistir do novo programa, o presidente reconhece que seu projeto político é incompatível com uma parcela considerável da agenda de Guedes.” (Folha)

Thomas Traumann, um contraponto: “Chamado às pressas ao Planalto para se explicar, Guedes saiu da reunião com o presidente preocupado com o seu pescoço. Além de não entender os limites impostos pelo presidente, a equipe de Guedes repetiu um trajeto equivocado no qual os colunistas e repórteres dos jornais que o presidente despreza souberam antes de Bolsonaro quais eram os planos. É preciso viver em outro planeta para não entender o quanto isso irrita o presidente. Guedes entrou no governo com a missão de dar um choque liberal na economia. Com a pandemia, o espaço das reformas foi reduzido. A arrogância do próprio Guedes acabou com qualquer diálogo com o Congresso, onde as reformas precisam ser aprovadas. A pandemia, no entanto, deu uma nova oportunidade para brilhar. Ele recebeu de Bolsonaro a missão de formatar um novo programa social, o Renda Brasil, capaz de trazer ao presidente o mesmo sucesso do Bolsa Família, que ajudou as vitórias petistas de 2006, 2010 e 2014. Se obtivesse sucesso na modelagem do Renda Brasil, Guedes voltaria a ter voz e voto nas decisões do governo. Perdeu de novo. Agora, sem reformas e sem Renda Brasil, Guedes é um posto sem combustível.” (Veja)




Meio em vídeo: Thiago Rondon acaba de assumir uma coordenadoria no TSE para enfrentar a desinformação digital. Programador sofisticado, Thiago também conhece muito democracia. E tem algumas pistas sobre como enfrentar o problema, conforme conta em entrevista. Assista.

Aliás... Uma nova pesquisa do Instituto Pew, nos EUA, sugere que a Geração Z não se expõe a desinformação digital. O grupo, nascido entre 1997 e 2012, afirma receber a maioria de suas informações pelas redes sociais. Mas aplicam ceticismo, buscam contexto e percebem nuances onde gerações mais velhas se perdem. (Axios)




Yoshihide Suga, veterano político do Partido Liberal Democrata, é o novo premiê japonês. (CNN)

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