Pandemia ameaça os 'campeões do Brasileirão' da educação

 

E se o Brasil comemorasse a educação como se fosse uma vitória no futebol? Vez por outra essa pergunta circula quando alguém quer apontar a falta de interesse do país pelo tema. Em algumas cidades do interior do Piauí, porém, não se trata de uma pergunta retórica. Elas comemoram suas vitórias no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) como se fosse a final do Brasileirão. Na semana passada houve nova celebração dos resultados positivos do exame, mas, desta vez, um outro adversário de peso tinha de ser encarado, a covid-19. A reportagem de Diogo Magri e Regiane Oliveira mostra como as cidades estrelas do Ideb se esforçam para não deixar as crianças sem aprender. As educadoras Ruthnéia Lima e Osana Morais driblam a crise e veem nela uma janela de oportunidade para se discutir mudanças na educação. “A covid-19 está forçando uma reinvenção do fazer na escola pública, que fez chegar ao aluno, nas condições que esse aluno podia receber, o material xerocado, as aulas no rádio, no WhatsApp, com carro de som, pelo telefone. Não paramos. Trabalhamos mais do que antes”, garante Morais. Enquanto o Brasil ultrapassa as 137.000 vítimas pelo novo coronavírus, a Europa vive os dilemas da segunda onda de contágios, em patamares superiores à primeira em março deste ano. Na Espanha, o Governo regional de Madri impôs restrições à mobilidade em seis de seus distritos. A reportagem de Ignacio Gallego conta, de Madri, que as áreas confinadas são mais pobres, mais densas e têm uma alta proporção de população migrante, que se vê impedida de deslocar-se até o trabalho. “Não consigo uma autorização que me permita me deslocar”, diz a paraguaia Marisa Sanabria. Também nesta edição, o repórter Breiller Pires responde: não existe "racismo reverso", tal como sugeriram influenciadores da extrema direita, conservadores e até mesmo liberais no fim de semana, em rechaço ao programa trainee da rede varejista Magazine Luíza, que, em sua edição deste ano, abriu inscrições somente para candidatos negros. A reportagem explica por que a discriminação contra brancos no mercado de trabalho não existe. Já a especialista em tecnologia e políticas públicas Natália Paiva escreve, em primeira pessoa, sobre sua jornada para criar filhos antirracistas: "Precisamos entender o que é ser antirracista; e a necessidade de falar proativamente sobre o tema com nossos filhos —uma questão sobre a qual eu mesma, como mãe negra de filhos de pele clara, até recentemente tinha dúvidas". Após sete anos no Brasil, o EL PAÍS lança sua campanha de assinatura digital. Em outubro, a edição brasileira fechará o conteúdo. A cada dia, apresentaremos em nossa newsletter as facetas do novo projeto do jornal e as vozes da sociedade que o acompanham. Nesta terça, é a vez do premiado ativista do movimento negro e fundador do cursinho popular Uneafro Brasil, Douglas Belchior. O paulista de Suzano é leitor e uma voz no EL PAÍS. "Na conjuntura especialmente desafiadora que o Brasil se encontra, com um Governo autoritário e negador de direitos, a opinião pública nunca foi tão importante”, afirma.

Avanço no Ideb é celebrado como a final do ‘Brasileirão’ no interior do Piauí Os bons resultados chegam em um momento em que as escolas públicas enfrentam a pandemia com o temor de que as conquistas possam retroceder