A sensação de fim de mundo trazida pela covid-19 deixou de ser uma metáfora hiperbólica quando passei a cobrir o impacto dessa terrível doença sobre os povos originários do Brasil que, além do garimpo ilegal, da grilagem de terras e dos madeireiros, passaram a lidar com mais esse inimigo mortal. Talvez o mundo inteiro não se acabe, mas o Brasil, onde a pandemia é só o capítulo mais recente do genocídio indígena, sim. Essa é minha percepção (e meu desespero) ao contar como mesmo os povos isolados —são cerca de 114 no país— já padecem desse mal. À mercê do Governo de Jair Bolsonaro, abertamente contrário às políticas indigenistas, esses povos recorrem ao clamor internacional para tentar sobreviver: neste mês, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) apresentará ao Tribunal Penal Internacional (TPI) uma denúncia contra o presidente ultradireitista, acusando-o de genocídio e ecocídio. Outra vez a hipérbole e o terror de duas palavras que encerram a ameçada de fim do Brasil, de sua história, de sua cultura, de sua natureza, de sua gente. Na mesma semana em que publicamos essa notícia, veio a aprovação do PL 490, que dificulta a demarcação e proteção de territórios indígenas e coloca em risco, mais uma vez, a existência dessas civilzações. Como disse Eliane Brum, é o golpe fatal para a extinção da Amazônia. Agarro-me à esperança de, como reza Ailton Krenak, “adiar o fim do mundo”, quem sabe quando governantes e legisladores ecoarem as palavras de outro grande líder, Raoni Metukitire, que me disse uma vez, no coração da Amazônia: ”É a floresta que segura o mundo. Se acabarem com tudo, não é só índio que vai sofrer.”
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