sexta-feira, 23 de julho de 2021

Centrão dá volta em militares e controla governo

 Brasília amanheceu agitada com a manchete do Estadão informando que, por interlocutores, o ministro da Defesa general Walter Braga Netto teria mandado dizer ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que, sem voto impresso, não haveria eleições no ano que vem. Por telefone e sem ser gravado, conversando com jornalistas, Lira negou que o recado tenha ocorrido. Mas, quando em público via Twitter, não negou e escolheu a ambiguidade. “O brasileiro quer vacina, quer trabalho e vai julgar seus representantes em outubro do ano que vem através do voto popular, secreto e soberano”, afirmou. “As últimas decisões do governo foram pelo reconhecimento da política e da articulação como único meio de fazer o país avançar.” (Estadão)

Pois é... O que muitos jornalistas ouviram nos bastidores e Vicente Nunes publicou em sua coluna é que a ameaça aconteceu, o intermediário enviado por Braga Netto foi o senador Ciro Nogueira, presidente do PP, e que a fonte da reportagem do Estadão foi o próprio Arthur Lira. Ciro que, agora, assumiu a Casa Civil, ministério que costura a relação entre Planalto e Congresso. (Correio Braziliense)

Então... Como afirma Eliane Cantanhêde em sua coluna, Braga Netto e a cúpula da Defesa não perceberam. Mas os militares tomaram uma volta e perderam a briga política para o Centrão que está assumindo o governo.

Igor Gielow: “O episódio é apenas o primeiro salvo no conflito que se seguirá, com o centrão buscando desalojar os militares da miríade de cargos que amealharam no governo federal. Para um governo altamente militarizado, a impressão que fica é que, neste primeiro assalto, os fardados tomaram uma surra do antigo inimigo.” (Folha)

Enquanto a briga do Centrão com os militares corria nos bastidores, autoridades tratavam de tentar apaziguar. Um dos primeiros a botar panos quentes foi o presidente do TSE, ministro Luiz Roberto Barroso. Ele disse ter conversado na manhã de ontem tanto com Lira quanto com Braga Netto e que ambos negaram qualquer ameaça às eleições. “Temos uma Constituição em vigor, instituições funcionando, imprensa livre e sociedade consciente e mobilizada em favor da democracia”, escreveu Barroso em rede social. (G1)

Mais contundente foi o vice-presidente Hamilton Mourão: “É lógico que vai ter eleição, quem é que vai proibir eleição no Brasil, pô? Por favor, gente, nós não somos República de banana.” (Metrópoles)

Vera Magalhães: “O aspecto mais imediato da publicação da ameaça feita por Braga Netto foi enterrar de vez a cantilena bolsonarista pelo tal voto impresso, ou auditável. Lira deixou claro que o PP não está indo para a Casa Civil a passeio: o poder e o acesso sem precedentes que seu partido amealhou com Bolsonaro, além do fato de que eles têm o presidente como refém, não tornam a sigla sócia de nenhum plano tabajara para empastelar as eleições.” (Globo)




Então... Mesmo com a ida do senador Ciro Nogueira (PI) para a Casa Civil e a presença de Arthur Lira (AL) na presidência da Câmara, o PP não deve permanecer muito tempo no poder. Não como PP, quer dizer. Está em curso uma negociação para que o partido se funda ao DEM e ao PSL para formar o maior partido do Congresso, com 121 deputados e 15 senadores. De acordo com a apuração do Poder 360, presidentes das três legendas dividiriam o comando da nova agremiação da seguinte forma: Luciano Bivar (PSL) seria o presidente, ACM Neto (DEM) o vice e o próprio Nogueira (PP) o secretário-geral. Dos três, somente o demista ainda resiste à ideia, mas as pressões em seu partido são cada vez maiores. (Poder360)

Apenas lembrando. O PP nasceu PDS na reforma partidária de 1980, fundado por integrantes da Arena, partido governista na ditadura militar. Já o DEM passou a maior parte de sua existência como PFL, fruto de uma dissidência do mesmo PDS na disputa presidencial indireta de 1985.

E o presidente Jair Bolsonaro teve ontem um arroubo de sinceridade ao reagir a críticas à nomeação de Nogueira para a Casa Civil. “Eu sou do Centrão. Eu fui do PP metade do meu tempo. Fui do PTB, fui do então PFL”, disse, em entrevista a uma rádio. (G1)




Meio em vídeo. Ameaça de golpe de Estado. A Arena, partido do tempo da ditadura, renascendo. Um general demitido do Planalto pela imprensa, sem que soubesse. O Brasil viveu essa semana um turbilhão — mas as peças extraordinárias se encaixam, e dá para compreender. Vamos explicar no Ponto de Partida. Confira no YouTube.




A deputada Joice Hasselman (PSL-SP) acionou a Polícia Legislativa após acordar no fim de semana em seu apartamento funcional coberta de ferimentos e sem se lembrar como os sofrera. Ela teve cinco fraturas no rosto e na costela e um corte no queixo. O marido da deputada, que é médico, dormia em outro cômodo. A Polícia Legislativa vai analisar as imagens das câmeras de segurança para verificar se alguém entrou no apartamento. (G1)

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