Dias depois de manifestantes irem às ruas em Cuba, as ruas de Havana e das principais cidades do país parecem ter sido tomadas pela calmaria. Uma mera aparência. A tensão é palpável nos discursos de líderes da ilha e nas redes sociais, a polarização é cada vez maior. O correspondente Mauricio Vicent explica que as manifestações sacudiram o imaginário coletivo, a ponto de marcar um antes e um depois. Desde segunda-feira, após o chamamento do Governo, vários grupos afins ocuparam parques e espaços públicos para encenar sua adesão à revolução. No Capitólio Nacional, onde no domingo aconteceram os distúrbios mais importantes, mais de uma centena de pessoas se reuniram ao grito de “Viva Fidel!”. Tudo isso em meio a cortes de internet e informações escassas, confusas e cheias de especulações. "Que as experiências afetivas que os estrangeiros tiveram com a história da ilha se submetam a julgamento crítico (...) Nenhum altar pessoal nem sonho utópico íntimo vale mais do que qualquer um dos corpos que a esta hora desapareceram, estão presos ou, inclusive, baleados", analisa o escritor cubano Carlos Manuel Álvarez em artigo para o EL PAÍS. Quem deu a ordem para que o Exército aumentasse a produção de cloroquina no ano passado? O Ministério da Defesa? O Ministério da Saúde? O Exército assegura que as ordens partiram das pastas, que negam as afirmações. A repórter Marina Rossi conta como este jogo de empurra provoca ainda mais suspeitas sobre o medicamento defendido sistematicamente pelo presidente Jair Bolsonaro e seus aliados no tratamento da covid-19 (embora seja ineficaz para combater o coronavírus) e que virou um dos eixos de investigação da CPI da Pandemia. Em sua nova coluna, Vladimir Safatle analisa o momento político do Brasil, que segundo ele, está em uma rota de colisão em câmera lenta. "A verdadeira face fardada foi mostrada semana passada, com a nota ameaçando a CPI e o Poder Legislativo", escreve o filósofo. "Quem acredita que as Forças Armadas entregarão os 7.000 cargos que ocupam caso percam a eleição deveria lembrar o que significa situações nas quais um setor do poder constitui um Estado dentro do Estado." Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul e pré-candidato a presidente da República pelo PSDB, fez uma jogada ensaiada dias atrás: tornou pública sua homossexualidade em rede nacional. De Porto Alegre, o repórter Flávio Ilha mergulha na estratégia política do tucano, que se fia no balanço das contas públicas, na disposição privatizante e em suas convicções antipetistas para brigar no PSDB pela vaga em 2022. Um dos desafios é tornar crível seu distanciamento de Bolsonaro sem afastar sua base conservadora. Ainda nesta edição, a repórter Daniela Mercier apresenta o projeto Afro Memória. A iniciativa —que envolve o Cebrap, a Unicamp e a Universidade da Pensilvânia— capta, conserva, digitaliza e divulga arquivos até então esquecidos ou não catalogados da trajetória das organizações e movimentos sociais negros do Brasil. O acervo que tem mais de 65.000 arquivos analógicos traz preciosidades até então desconhecidas ao público. "É a história da luta contra o racismo e organizações antirracistas”, diz o cientista social Mário Medeiros, que dirige o arquivo, na Unicamp. |
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