segunda-feira, 26 de julho de 2021

Raio-x das 'lives' de Bolsonaro mostra escalada do autoritarismo

 


A semana começa com a expectativa de trocas ministeriais com a chegada do senador Ciro Nogueira (PP-PI) para assumir a Casa Civil. É um estreitamento de laços do presidente Jair Bolsonaro com o Centrão para garantir a sustentação do seu Governo. Bolsonaro já percebeu que sua popularidade está caindo. E, assim como busca reforço com os deputados do Centrão, ele aumenta o discurso golpista acusando sem provas a potencial fraude na eleição de 2022. No primeiro semestre de 2021, o presidente subiu o tom de suas falas, intensificando a frequência a referências autoritárias. A 14 meses das eleições presidenciais, ampliou a campanha de desconfiança sobre o sistema eleitoral brasileiro, como revela um levantamento da Lagom Data feito com exclusividade para o EL PAÍS. Reportagem de Marcelo Soares mostra como o presidente passou a usar com mais frequência em suas lives expressões como “meu Exército” e “minhas Forças Armadas”, em que evoca simbiose com os militares e se apropria para uso pessoal da atribuição constitucional de que foi incumbido. E se finalmente o Governo Bolsonaro abraçou a campanha de vacinação contra a covid-19, nas transmissões nas redes sociais ele segue difundindo informações errôneas sobre a doença.

Os protestos deste sábado mostram que as ruas não vão parar de pressionar pelo impeachment de Bolsonaro. Os atos aconteceram em mais de 500 cidades, segundo os organizadores, incluindo capitais no exterior, como Lisboa e Londres. Puxados por movimentos sociais e centrais sindicais, as manifestações ganharam apoio de mais legendas, como os partidos Cidadania e PSDB. Oito quarteirões na avenida Paulista foram tomados pelos manifestantes, mostrando um pouco mais de dispersão que os protestos anteriores.

A pandemia também aprofundou ainda mais a situação precária vivida por milhões de brasileiros. O desemprego aumentou, os preços subiram e a fome explodiu. São mais de 19 milhões de brasileiros passando fome —eram 10,3 milhões há três anos. Em Cuiabá, a capital de Mato Grosso e do milionário agronegócio brasileiro, dezenas de pessoas formavam uma fila na semana passada para a distribuição do que restou da desossa do boi, numa cena que rodou o Brasil. São, de fato, ossos com resquícios da carne vendida e que servem de uma improvisada fonte de proteína da população mais humilde. “É a maior felicidade a gente conseguir um ossinho aqui, porque está feia a crise!”, desabafa Joacil Romão da Silva, de 57 anos, na reportagem de Renan Marcel e Felipe Betim sobre o novo e empobrecido prato do brasileiro.

O final de semana, porém, reservou um pouco de alegria ao Brasil com os Jogos Olímpicos que trouxeram as primeiras medalhas para o país. No skate, Kelvin Hoefler, 27 anos, e Rayssa Leal, 13 anos, garantiram as medalhas de prata, confirmando o favoritismo do país na modalidade estreante. A Fadinha do skate entra para a história também como a mais jovem atleta brasileira a subir a um pódio olímpico. Boas notícias ainda no judô, com o bronze de Daniel Cargnin, e o desempenho notável no surfe, com Gabriel Medina, Ítalo Ferreira e Silvana Lima, que avançam na competição. O vôlei também trouxe vitórias  dos times masculino e feminino na quadra e na praia. Acompanhe a cobertura do EL PAÍS na Olimpíada de Tóquio.


‘Lives’ e discursos de Bolsonaro mostram escalada de autoritarismo
‘Lives’ e discursos de Bolsonaro mostram escalada de autoritarismo
Análise do vocabulário do presidente feita pela Lagom Data para o EL PAÍS expõe aumento de falas contra o sistema eleitoral, e informações erradas sobre vacinas. YouTube retirou do ar vídeos do presidente

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