sábado, 29 de agosto de 2020

16 mulheres acusam produtor de abuso sexual



 

"Eu não sou do mundo do cinema. Nós nos encontramos uma única vez em um bar. Foi entre 2005 e 2006. Ele estudava cinema com uma amiga minha e estávamos numa roda de amigos. Era um happy hour depois do trabalho numa segunda-feira. Bebi apenas duas cervejas: uma long neck que eu comprei e outra que o Gustavo me ofereceu. A gente deve ter trocado alguma ideia, mas tenho certeza que não flertamos. Depois que eu bebi aquela segunda cerveja eu comecei a passar muito mal, minha pressão caiu e eu corri para o banheiro. Ele me seguiu. Tentou me agarrar e mordeu minhas costas. Eu mandei ele parar. Mas ele abriu a calça dele. Eu o empurrei, abri a porta do banheiro e consegui sair muito assustada. Nada pior aconteceu. Peguei um táxi e fui embora. Passei mal a noite inteira. Foi muito estranho, surreal."

"Em 2016, eu estava numa festa de um filme que ele estava produzindo, em Berlim, e ele me chamou, disse que queria me mostrar algo. Quando eu fui, ele me ofereceu droga, mas eu não aceitei. Foi então que ele me empurrou contra a parede e começou a me beijar. Foi um beijo inesperado e violento, parecia que ia me mastigar, doeu. Minha sorte é que ele estava acompanhado nessa festa e a moça chamou por ele. Foi aí que eu consegui me desvencilhar."

"Eu o conheci em um evento de cinema de um cineclube no Rio em 2011. Rolou um flerte e a gente ficou. Quando terminou o evento ele me convidou para ir a outro lugar e eu aceitei. Era uma noite de sexo casual, apenas. Quando a gente tava fazendo sexo, ele sinalizou que queria sexo anal e eu disse que não. Ele insistiu mais duas vezes e eu dizendo que não. Na terceira, ele não perguntou. Foi muito rápido, eu consegui me desvencilhar e saí correndo e chorando para pegar minha roupa."
Os relatos acima são de três mulheres que afirmam ter sido vítimas do produtor e curador Gustavo Beck. Elas foram entrevistadas pelo Intercept ao longo de uma investigação intensa que durou meses para a reportagem especial que publicamos hoje com acusações, feitas por essas e outras mulheres, contra Beck.

O produtor tem uma bem-sucedida carreira internacional como curador e é amplamente conhecido em festivais de cinema por todo o mundo. Atualmente, ele mora em Portugal e até o ano passado trabalhava como programador convidado do Festival Internacional de Cinema de Rotterdam, na Holanda, e como curador nos festivais de Viennale, na Áustria, e Bafici, na Argentina. Assim como no caso do produtor americano Harvey Weinstein que impulsionou o movimento Me Too, elas contam que foi a influência de Beck no mundo do cinema que fez com que evitassem denunciá-lo. Gustavo Beck nega as acusações.

As repórteres Nayara Felizardo e Schirlei Alves conversaram com 16 mulheres de seis países que contam ter sido assediadas ou ter sofrido algum tipo de violência sexual, física e psicológica por parte de Beck. Os relatos são contundentes e agora vêm a público por conta da coragem dessas mulheres. Elas romperam o silêncio.

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