segunda-feira, 17 de agosto de 2020

O médico e os monstros no estupro de uma menina de 10 anos

Brasil

Uma menina capixaba, de 10 anos, viajou por primeira vez de avião com destino a Recife. Ao lado da avó e levando consigo um sapo de pano a tiracolo, ela seguia para cumprir seu desejo, apoiado pela mulher que a cria, e pelo Código Penal brasileiro. Estuprada pelo tio desde os 6 anos, ela engravidou sem saber o que isso significava. Seu caso seria apenas mais um num país em que quatro meninas de até 13 anos são estupradas a cada hora. Mas virou alvo de joguete político, com holofotes da ministra da Secretaria da Mulher, Damares Alves. A clínica em que iniciou o procedimento foi cercada por conservadores histéricos, que ficaram cegos para a monstruosidade que ela viveu. Apoiada pelo doutor Olímpio Moraes Filho, a vítima —uma criança negra e de uma família pobre—, foi acolhida por uma equipe que se emocionou com sua disposição de encarar seu drama e em proteger sua vida, uma vez que a gravidez em tão tenra idade é de risco.
Outros médicos deram o que falar neste final de semana. O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta fez um alerta forte sobre o Sistema Único de Saúde que, segundo ele, foi minado pelo Governo, como contou aos repórteres Afonso Benites e Beatriz Jucá. “O que vem pela frente é mais complicado do que o que já ficou para trás”, disse ele, a respeito das ações preventivas de saúde que deixaram de ser tocadas e que podem causar uma explosão de outras doenças no futuro. “Quando voltarmos a fazer as mamografias, vamos encontrar muito câncer de mama já com metástase, no estágio quatro.” Nesta edição você lê também o perfil do ministro interino na Saúde, Eduardo Pazuello, escrito por Naiara Galarraga Cortázar. Esse militar, que ao chegar ao Ministério admitiu não saber nada de saúde, costuma insistir que não é nem médico nem político. Seu negócio é a gestão, a logística, a intendência. Mas suas qualidades não são celebradas por quase 90% dos brasileiros que sequer sabem seu nome, segundo o Datafolha.
No exterior, um mar de gente na Bielorrússia exige novas eleições, depois da vitória de Aleksandr Lukashenko, que governa o país desde 1994. Há suspeitas de fraudes no pleito, e os bielorrussos exigem a sua renúncia, nas maiores mobilizações da história da Bielorrússia.
E nesta segunda o EL PAÍS entrevista ao vivo a deputada Lídice da Mata (PSB-BA), relatora da CPMI das fake news no Congresso. A parlamentar será entrevistada pelo colunista do EL PAÍS Xico Sá e pelo correspondente em Brasília Afonso Benites. A conversa será transmitida ao vivo, às 16h, no site, redes sociais e canal do YouTube do jornal. Acompanhe.

Menina de 10 anos violentada fará aborto legal, sob alarde de conservadores à porta do hospital
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Vítima, estuprada por um tio, foi atendida no Recife após negativa de atendimento na cidade capixaba onde vive, mesmo com aval da Justiça. Ativistas radicais gritavam “Assassino” na porta da clínica neste domingo
Debora Diniz | ‘Uma criança aborta e é nosso dever nos unir à dor dela’
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O dia seguinte deve ser o dia em que tocaremos mais uma vez à porta do STF para lembrar que a peregrinação desta menina poderia ter sido evitada se os ministros tivessem a coragem de descriminalizar o aborto

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