quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Guedes fica; custo: R$ 5 bi


O governo enviará, ao Congresso Nacional, projeto de lei para abertura de crédito extraordinário de R$ 5 bilhões que financiarão obras em andamento. A verba servirá ao Ministério do Desenvolvimento Regional, tocado por Rogério Marinho, e o da Infraestrutura, de Tarcísio de Freitas. Embora o Legislativo não tenha recebido ainda a papelada, já há acordo para a votação — será na quarta-feira que vem e deve ser aprovado. (Poder 360)

O Congresso já se movimenta para que, após a parcela de R$ 600 do auxílio emergencial paga em setembro, ele seja prorrogado por ainda um mês mais, ainda que num patamar menor, até que seja substituído pelo programa que substituirá o Bolsa Família — o Renda Brasil. Mas o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, cobra do Planalto que decida onde fará cortes para financiar seu projeto. “O governo quer acabar com o seguro-defeso, o abono salarial, cortar os recursos do sistema S?”, perguntou Maia. “Tem base para fazer isso no Congresso?” O deputado é contra a recriação da CPMF, proposta pelo ministro Paulo Guedes. Na avaliação de Maia, seria impor à classe média e aos mais pobres o custo do programa. (Valor)

Em 1980, quando Leonel Brizola havia recém-voltado do exílio, o dramaturgo Plínio Marcos o provocou. “O senhor está falando numa linguagem de político em que o povo não acredita mais”, disse. O velho caudilho trabalhista tinha um complicado projeto de chegada ao poder. “A gente sabe que o povo precisa comer, precisa morar, precisa trabalhar, precisa de um mínimo para viver com dignidade. Mas se vem um carismático de direita e joga essas pequenas coisas, que são o mínimo que o ser humano quer, não leva essa massa?” O diálogo foi redescoberto na edição de hoje do Valor, pela editora de Política, Andrea Jubé. (Valor)

Bruno Boghossian: “Ainda na eleição, Jair Bolsonaro tentou abafar os primeiros rumores de que Paulo Guedes deixaria sua equipe. Apesar do aval público, o presidente manteve o conselheiro sob risco permanente. Bolsonaro precisou defender o auxiliar outras seis vezes. Negou sua demissão e simulou apoio a sua agenda. Em quase todos os casos, porém, forçou o ministro a recuar e preservou os ruídos da relação. Sob pressão para abrir o cofre, Guedes ganhou sua sétima vida na segunda. Desta vez, Bolsonaro disse que a saída do auxiliar ‘nunca foi cogitada’. Com tantas garantias de permanência, ele se tornou o ministro mais frágil da Esplanada.” (Folha)
Vera Magalhães: “Em tempos de uma ‘briga danada’ pelo Orçamento, a escolha de prioridades diz tudo sobre o governo de turno, mais preocupado em recompor o que considera ‘injustiças’ com os militares cometidas desde a redemocratização, que na verdade são apenas um tremendo reforço a privilégios seculares. Enquanto isso, num país em que uma menina de 10 anos tem de ser submetida a um aborto legal porque engravidou do tio que a estuprava seguidamente desde os 6, educar crianças e jovens não é uma urgência. Essa receita descompensada de dilmismo fiscal, populismo nacionalista à la Médici e delírios chavistas de militarização não tem como resultar em boa coisa na plena vigência de alguns estatutos legais. São eles a Constituição, a Lei de Responsabilidade Fiscal e a já condenada lei do teto de gastos, pelos quais os demais Poderes precisam zelar. Paulo Guedes parece disposto a bater continência e abrir as burras da Viúva para um projeto de hipertrofia da Defesa que não esconde a velha crença de Bolsonaro de que se, lá na frente, precisar fechar o STF e o Congresso, vai precisar do cabo e o soldado satisfeitos e engajados no seu projeto.” (Estadão)



O Supremo começa a julgar, hoje, ação contra o dossiê produzido dentro do Ministério da Justiça a respeito de 600 servidores públicos que seriam ligados a movimentos antifascistas. No processo movido pela Rede, é pedido abertura de inquérito contra o ministro André Mendonça além de remessa do que tiver sido levantado ao STF. O ministério não repassou o material. A relatora, ministra Cármen Lúcia, deve ser rígida. “A gravidade do quadro descrito se comprovar, escancara comportamento incompatível com os mais basilares princípios democráticos do Estado de Direito e que põem em risco a rigorosa e intransponível observância dos preceitos fundamentais da Constituição da República”, ela redigiu. (G1)

Enquanto isso... A Polícia Federal vai investigar a conta de Twitter Sleeping Giants Brasil. O usuário anônimo informa a grandes empresas que sua publicidade está em sites extremistas que promovem notícias falsas ou conteúdo de ódio. Segundo o delegado Ricardo Filippi Pecoraro, diz Mônica Bergamo, Sleeping Giants atenta contra a liberdade de expressão e promove denúncias caluniosas. (Folha)

Meio em vídeo: A jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S. Paulo, foi a primeira a desvendar por dentro como era alimentada a rede de boatos, mentiras e manipulações políticas no WhatsApp. Desde então, fez uma extensa cobertura das redes de desinformação e ataques. Foi, também, vítima delas — uma das principais vítimas na imprensa brasileira. E é sobre isto, assim como seu recém-lançado livro A máquina do ódio, que ela fala na entrevista da semana. Assista.



O presidente malês, Ibrahim Boucabar Keïta, assim como o premiê, Boubou Cissé, chegaram a ser detidos no início da noite de ontem, num levante que a União Europeia descreveu como “tentativa de golpe militar”. Pode ter havido, também, uma quartelada entre militares de baixa patente por aumentos de salário. Soldados circulam armados pelas ruas da capital, Bamako, e Keïta optou por renunciar ao mandato que ainda tinha três anos — “não quero derramar sangue para me manter no poder”, ele afirmou em rede de TV. O Mali é um país africano grande em território mas com apenas 19 milhões de habitantes, imediatamente ao sul da Argélia, não longe do Atlântico. O governo de Keïta é acusado de corrupção e parte do território está sob o controle de uma milícia jihadista. Ainda não está claro quem está no comando do país. (Guardian)

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