terça-feira, 18 de agosto de 2020

Nos bancos, medo de que Bolsonaro vire Dilma


Os ouvidos foram três banqueiros, dois economistas dos principais bancos de investimento e dirigentes de dois grandes fundos de private equity. Falam em off — comprar briga com governo não interessa a ninguém. Mas em entrevista ao repórter Julio Wiziack, os sete manifestaram o mesmo temor: de que o presidente Jair Bolsonaro passe a gastar mal e em excesso, seguindo o caminho já trilhado pela ex-presidente Dilma. Para os presidentes de dois dos bancos, há espaço para, mesmo com mais gastos durante a pandemia, o país refinanciar sua dívida sem colapsar a economia. 

Mas eles acreditam que Bolsonaro já fez sua escolha e que o objetivo será implementar gastos para alavancar popularidade e garantir sua reeleição. Durante o governo Dilma, as brigas da presidente com seu ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e uma política de gastos públicos para aquecer a economia que não gerou efeito, agravaram a crise econômica, levaram à impopularidade, e ao impeachment. (Folha)

Há diferenças — no caso do governo Bolsonaro, onde corta no orçamento também importa. Ainda em plena pandemia, o Ministério da Saúde, por exemplo, vai contar com R$ 127,75 bilhões, em 2021, se depender do Planalto. É menos do que foi previsto para 2020, R$ 174,84 bi. Não só. De acordo com os planos do governo, a Defesa receberá R$ 5,8 bilhões mais do que a Educação, no ano que vem. (Estadão)

Então... A situação econômica é grave. O número de beneficiários do Bolsa Família é maior do que o de pessoas com carteira assinada em dez estados do Norte e Nordeste. Até março, eram oito. (Poder 360)

Míriam Leitão: “Há dinheiro sobrando no Orçamento. Essa é a ironia desta crise. Até junho, o dinheiro não executado chegou a R$ 31 bilhões. Outro risco: em 2021, não há meta fiscal porque foi impossível estabelecer uma previsão quando foi feita a LDO. O ambiente parece perfeito para os gastadores. Só que existem dificuldades técnicas e uma trava para os gastos: o teto. Não é a primeira vez que o ministro Paulo Guedes entra em zona de turbulência, mas esta é a pior crise. No governo, dizem que ele não sai, mas a tensão está aumentando. A solução, segundo eu soube no governo, será conseguir algum dinheiro este ano para atender aos ministros Rogério Marinho e Tarcísio de Freitas. E essa foi toda a discussão das últimas horas. Para entender o ambiente de ontem, de boatos sobre a queda do ministro Paulo Guedes, é preciso saber três coisas. Há uma rede de intrigas, há complexas questões fiscais envolvidas e existe o desgaste. 
Um observador da cena interna do governo lembra que já houve outras crises e a atual começou em abril, com o anúncio do Plano Pró-Brasil, quando se falou abertamente em abandonar o teto de gastos. A equipe econômica, na época, fez uma reunião e disse que estava com Guedes. Se o teto caísse, sairiam todos. De lá para cá, vários já saíram. Nas outras duas grandes crises, ele teve defensores dentro do governo. Agora, eles estão rareando. Não é simples realocar o dinheiro que está sobrando, muito menos usá-lo no ano que vem porque o teto de gastos voltará a valer. O que ouvi no governo e entre economistas do mercado: Paulo Guedes não sai agora, e é difícil substituí-lo. Roberto Campos Neto tem dito a quem o procura que concorda em quase tudo com Guedes. Um aviso de que não aceitaria ser o substituto.” (Globo)



Enquanto isso... O ministro Celso de Mello ordenou ao Conselho Nacional do Ministério Público que retire de pauta dois processos contra o procurador Deltan Dallagnol, que poderiam tirá-lo do comando da força-tarefa da Lava Jato, em Curitiba. As ações foram movidas, respectivamente, pelos senadores Renan Calheiros e Kátia Abreu. (Poder 360)



Fernando Gabeira: “Conheço esse filme desde as últimas décadas do século passado. Collor, o caçador de marajás, fracassou; Lula, prometendo introduzir a ética na política, acabou se desvencilhando dela. Não eximo ninguém de sua responsabilidade pessoal. Mas essa armadilha histórica da qual não conseguimos escapar merecia uma reflexão. Nossas elites são intrinsecamente desonestas ou também há algo errado com nosso sistema político? A sucessão de salvadores da pátria não é um fenômeno qualquer. Com Bolsonaro, ela nos jogou nos perigosos limites da democracia.” (Globo)



Começou ontem a Convenção Nacional do Partido Democrata, nos EUA. Do ex-governador de Ohio republicano John Kasich ao candidato derrotado nas primárias Bernie Sanders, o tom geral foi de que direita e esquerda precisam se unir para tirar Donald Trump da presidência. O discurso mais marcante da noite foi o da ex-primeira-dama Michelle Obama. “Se você acha que não pode piorar, acredite: pode”, ela afirmou. “Donald Trump teve tempo o suficiente para provar que pode fazer o trabalho, mas deixa claro que é demais para si. Ele não alcança o tamanho do cargo. Ele simplesmente não é capaz de entregar o que precisamos. Ele é o que é.” (Vox)

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