O antropólogo brasileiro Luiz Eduardo Soares é um dos 579 alvos de um dossiê elaborado pelo Ministério da Justiça a partir do monitoramento secreto de um grupo descrito como “militantes antifascistas”. Autor de dezenas de livros, entre eles Elite da Tropa (que deu origem ao filme Tropa de Elite), e secretário nacional de Segurança Pública no início do Governo Lula (PT), Soares diz que já adotou os trâmites judiciais para questionar o Planalto sobre a investigação informal, conduzida pela Seopi, uma das cinco secretarias subordinadas ao ministro André Mendonça. Em entrevista ao EL PAÍS por e-mail, o antropólogo disse que recebeu com "perplexidade e revolta" a notícia de que era monitorado, mas não com surpresa, já que para ele as ameaças à democracia têm sido cometidas pelo Governo Bolsonaro rotineiramente. “A investigação clandestina contra cidadãos contrários ao fascismo é apenas mais um elo na corrente que nos arrasta para o abismo”, afirma Soares, na entrevista que abre esta edição, assinada pelo repórter Afonso Benites.
Também destacamos um especial sobre jovens na pandemia. Nossos repórteres espalhados pela América Latina ouviram as angústias e planos de quem tem até 24 anos e quer traçar um futuro com menos desigualdade e mais respeito ao meio ambiente durante uma crise sem precedentes. Números da Organização Internacional do Trabalho mostram que a faixa etária é mais afetada pelo desemprego, especialmente entre mulheres. A estudante de psicologia Thais da Costa Oliveira, 21 anos, abriu uma papelaria em fevereiro, no Rio, e o negócio nunca teve tempo de decolar. “Estou angustiada porque não sei quando tudo isso vai terminar, quando poderemos respirar de novo”. Outra face da moeda é o descaso de muitos jovens com as medidas de segurança sanitária para se proteger do vírus. De Madri, Isabel Valdés conta a história de Vanessa Martínez, de 28 anos, que ficou 69 dias internada com covid-19. À repórter a jovem narrou o arrependimento por não ter se precavido.
E ainda nesta edição, o historiador econômico britânico Niall Ferguson não há respostas progressistas ou conservadoras para a pandemia, mas "inteligentes ou estúpidas". "Os formadores de opinião que falam da pandemia como se fosse uma guerra e exigem coragem da população cometem um ato de ignorância nível Bolsonaro", disse o autor de Civilização ao correspondente em Londres, Rafa de Miguel. O historiador avalia que a segunda Guerra Fria, entre EUA e China, chegou para ficar "por um bom tempo" e cobrará um preço dos "não alinhados", como a Europa. "A única dúvida é se, em algum momento, escalará até ser uma guerra de verdade."
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segunda-feira, 3 de agosto de 2020
"Recriação da SNI da ditadura virou pesadelo"
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