segunda-feira, 3 de agosto de 2020

"Recriação da SNI da ditadura virou pesadelo"

Brasil

O antropólogo brasileiro Luiz Eduardo Soares é um dos 579 alvos de um dossiê elaborado pelo Ministério da Justiça a partir do monitoramento secreto de um grupo descrito como “militantes antifascistas”. Autor de dezenas de livros, entre eles Elite da Tropa (que deu origem ao filme Tropa de Elite), e secretário nacional de Segurança Pública no início do Governo Lula (PT), Soares diz que já adotou os trâmites judiciais para questionar o Planalto sobre a investigação informal, conduzida pela Seopi, uma das cinco secretarias subordinadas ao ministro André Mendonça. Em entrevista ao EL PAÍS por e-mail, o antropólogo disse que recebeu com "perplexidade e revolta" a notícia de que era monitorado, mas não com surpresa, já que para ele as ameaças à democracia têm sido cometidas pelo Governo Bolsonaro rotineiramente. “A investigação clandestina contra cidadãos contrários ao fascismo é apenas mais um elo na corrente que nos arrasta para o abismo”, afirma Soares, na entrevista que abre esta edição, assinada pelo repórter Afonso Benites.
Também destacamos um especial sobre jovens na pandemia. Nossos repórteres espalhados pela América Latina ouviram as angústias e planos de quem tem até 24 anos e quer traçar um futuro com menos desigualdade e mais respeito ao meio ambiente durante uma crise sem precedentes. Números da Organização Internacional do Trabalho mostram que a faixa etária é mais afetada pelo desemprego, especialmente entre mulheres. A estudante de psicologia Thais da Costa Oliveira, 21 anos, abriu uma papelaria em fevereiro, no Rio, e o negócio nunca teve tempo de decolar. “Estou angustiada porque não sei quando tudo isso vai terminar, quando poderemos respirar de novo”. Outra face da moeda é o descaso de muitos jovens com as medidas de segurança sanitária para se proteger do vírus. De Madri, Isabel Valdés conta a história de Vanessa Martínez, de 28 anos, que ficou 69 dias internada com covid-19. À repórter a jovem narrou o arrependimento por não ter se precavido.
E ainda nesta edição, o historiador econômico britânico Niall Ferguson não há respostas progressistas ou conservadoras para a pandemia, mas "inteligentes ou estúpidas". "Os formadores de opinião que falam da pandemia como se fosse uma guerra e exigem coragem da população cometem um ato de ignorância nível Bolsonaro", disse o autor de Civilização ao correspondente em Londres, Rafa de Miguel. O historiador avalia que a segunda Guerra Fria, entre EUA e China, chegou para ficar "por um bom tempo" e cobrará um preço dos "não alinhados", como a Europa. "A única dúvida é se, em algum momento, escalará até ser uma guerra de verdade."

“Recriar o SNI da ditadura deixou de ser o sonho de Bolsonaro para se tornar um pesadelo da sociedade”
“Recriar o SNI da ditadura deixou de ser o sonho de Bolsonaro para se tornar um pesadelo da sociedade”
Antropólogo Luiz Eduardo Soares, um dos 579 alvos de um dossiê feito pelo Ministério da Justiça, diz ao EL PAÍS que monitoramento "é apenas mais um elo na corrente que nos arrasta para o abismo"

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