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Nenhuma notícia é mais importante nesta semana do que o Brasil estar prestes a ultrapassar a histórica marca de 100.000 mortes provocadas pelo novo coronavírus, segundo os dados oficiais, em apenas cinco meses. Quando levamos tantas semanas lendo e ouvindo que o país registra, dia após dia, mais de 1.000 novos óbitos a cada 24 horas, é preciso um esforço ativo para dimensionar o peso humano desta tragédia. "Perdido em devaneios políticos, o Brasil tenta evitar essa dor, que machuca a alma e induz a uma reflexão mais profunda. Das nossas falhas enquanto país, do nosso papel como cidadãos, de perguntar se podíamos ter evitado tantas mortes. Mas a dor já está aqui. A dor de 100.000 histórias interrompidas em 2020 pelo coronavírus é concreta", escreve a diretora do EL PAÍS no Brasil, Carla Jiménez.
Foi para olhar para o luto e o amor que envolve a despedida de cada uma das vidas levadas pela covid-19 que convidamos dez leitores a escrever cartas aos que se foram. "Eu não sabia o que era luto. O luto é não querer produzir, e não porque nós estamos na quarentena. O luto é não querer raciocinar", escreve Luciana Atheniense, que se despede do pai. "Seu amor é o culpado por eu não me contentar com qualquer coisa, por eu sempre querer mais", agradece Maria Cristiane da Silva, em carta à mãe.
Em sua coluna, Eliane Brum reflete sobre a dimensão política e ética desse desastre. "Contar a história e as histórias tornou-se insurgência – para que os mortos possam viver como memória e seus assassinos não escapem da justiça. Resistimos contando os mortos em mais de um sentido ― como estatística confiável, como identidade reconhecida, como história contada. Nos insurgimos fazendo viviários dos que foram mortos, porque diante das ações e das omissões de Bolsonaro e de seu Governo, morrer de covid-19 não é morte morrida, é morte matada", escreve.
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