A nova denúncia contra Bolsonaro — desvio de recursos públicos quando era deputado — provoca alvoroço no meio político, em Brasília, mas isso não se reflete nas manchetes dos jornais nesta terça-feira, 6 de julho. Os temas destacados pelos jornalões são outros, mas as novas denúncias ganham repercussão internacional, com jornais como Washington Post e The Guardian abordando o cerco ao presidente da República do Brasil, por seu envolvimento em corrupção — Leia mais em Brasil na Gringa.
Na Folha, o destaque é para a decisão do governo de estender o auxílio emergencial até outubro. No Estadão, a desigualdade brasileira: Isenção a 'super-ricos' no IR é de 60%; demais contribuintes têm 25%. Já O Globo destaca o novo foco de privatizações de empresas federais: Governo decide vender 100% do capital dos Correios. E a edição brasileira do El País coloca um assunto delicado para as Forças Armadas: Defesa gasta mais de meio bilhão por ano com pensões acumuladas pagas a parentes de militares no Brasil.
Sobre a denúncia da Covaxin, Folha revela que mensagens mostram negociação informal e paralela entre o ex-diretor do Ministério da Saúde e vendedora de vacinas. Conversa entre Roberto Dias e representante da Davati ocorreu antes de a empresa apresentar proposta oficial ao governo Bolsonaro. As conversas não oficiais envolvem Roberto Ferreira Dias, exonerado em 29 de junho do cargo de diretor de Logística do ministério, Cristiano Carvalho, representante da Davati no Brasil, e Marcelo Blanco, coronel da reserva e ex-assessor de Dias no Ministério da Saúde.
Em uma das conversas, Blanco cita Luiz Paulo Dominguetti, intermediário da Davati nessas negociações. Foi ele quem afirmou à CPI ter recebido pedido de propina de US$ 1 por dose de vacina por parte de Dias, em um restaurante num shopping em Brasília, em 25 de fevereiro deste ano. Na manhã de 26 de fevereiro, Herman Cardenas, CEO da Davati nos Estados Unidos, encaminhou por email a Dias uma proposta formal para o fornecimento de 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca — que nega ter dado autorização para a oferta. As conversas ocorreram no início de fevereiro.
O Globo noticia que a CPI da Covid encontrou citação a Bolsonaro em celular de PM que intermediou venda de vacinas. Mensagem obtida pelo Jornal Nacional aponta que, em março, Dominguetti afirmou que tinha informações que presidente tinha conhecimento sobre oferta de vacinas. No domingo, o Fantástico revelou mensagens que o cabo da PM de Minas Gerais negociava comissão por dose de imunizante. Ele receberia 0,25 centavos de dólar pela venda.
Estadão lembra que a CPI da Covid ouve nesta terça-feira a fiscal que teria autorizado importação da vacina Covaxin. O Ministério da Saúde suspendeu temporariamente o contrato para comprar 20 milhões de doses da vacina Covaxin, após as suspeitas de corrupção. A aquisição está sob suspeita no TCU, que cobra explicações do governo sobre preço do imunizante subir de US$ 10 para US$ 15 em negociação.
Valor informa que a cúpula da CPI tenta adiar depoimento de Ricardo Barros à comissão. Apesar de todas as acusações e indícios que pesam contra o líder do governo na Câmara, a CPI tenta postergar, ao máximo, o depoimento à comissão. A demora no agendamento do testemunho tem um motivo: a cúpula da CPI quer ver o parlamentar do Centrão "sangrar" politicamente, o que pode culminar, inclusive, com sua saída do cargo de líder governista. Diante da estratégia, Barros está buscando respaldo do Supremo Tribunal Federal (STF) para poder dar sua versão dos fatos.
Estadão traz o advogado Miguel Reale Júnior apontando que o "conjunto da obra negacionista de Bolsonaro será considerado". Chefe do grupo de juristas da CPI, o ex-ministro da Justiça diz haver vários crimes em análise que teriam sido cometidos por Bolsonaro. A ideia é que a equipe forneça base técnica para o texto final do relator, senador Renan Calheiros (MDB-AL). Para Reale Júnior, não é possível destacar um fato específico como "o mais grave": é o "conjunto da obra negacionista" do presidente que deve ser levado em conta.
Entre os colunistas, Merval Pereira escreve no Globo que Bolsonaro está destruindo as instituições brasileiras. "Está conseguindo fazer que as Forças Armadas, especialmente o Exército, se desmoralizem no contato com seu governo. A participação de generais, da ativa e da reserva, em funções civis faz que os desacertos do governo reverberem na imagem dos militares. Agora, surgem nomes de diversos militares, na estrutura militarizada do Ministério da Saúde montada pelo general de divisão da ativa Eduardo Pazuello, nos escândalos da compra e venda de vacinas contra a Covid-19", observa.
No Estadão, Eliane Cantanhêde bate na mesma tecla: Bolsonaro jogou os militares num barco que parece fazer água por todos os lados. "Não é trivial um general da ativa e tantos coronéis e tenentes-coronéis citados de forma nada dignificante, inclusive em encontros com gente de péssima reputação, representando empresas suspeitas e oferecendo vacinas a preços exorbitantes", pondera.
E Míriam Leitão acusa o governo de negar a crise hídrica o que pode agravar a situação: "Sair da negação e falar a verdade. Esse é o primeiro passo para o país enfrentar a crise hídrica. Há 20 anos foi assim e deu certo. O governo Bolsonaro permanece negando a gravidade da falta de água. Fez uma MP para criar um comitê de gestão, que pode tudo menos decidir pelo racionamento. Ontem foi anunciado aumento dos combustíveis, isso também afetará a tarifa de energia. A inflação sobe, a popularidade despenca, a CPI revela desmandos e corrupção e o governo tem medo de dizer a verdade sobre a crise hídrica".
DESIGUALDADE
Estadão informa que um único brasileiro declarou no ano passado ter recebido a quantia de R$ 1,3 bilhão em lucros e dividendos livre de impostos, de acordo com dados públicos divulgados pela Receita Federal. Esse contribuinte faz parte de um grupo de 3 mil milionários que, segundo as próprias declarações, possuem uma renda de R$ 150 bilhões anuais, dos quais R$ 93 bilhões são isentos de tributação na pessoa física. O dado é assombroso.
Na pirâmide social-tributária do Brasil, de acordo com os dados da Receita, quanto mais rica for a pessoa, maior será a parcela da renda que permanece isenta. Enquanto 99% dos contribuintes têm isenção média de 25%, no topo dessa pirâmide 60% da renda não é tributada, apontam simulações feitas pelo economista Sergio Gobetti, a pedido do Estadão, sobre o impacto da volta da tributação de lucros e dividendos prevista na proposta de reforma do Imposto de Renda enviada ao Congresso. No caso específico do exemplo que começa esta reportagem, a isenção chegou a 95% da renda.
CORREIOS
O Globo noticia que o Ministério da Economia fechou o modelo de privatização dos Correios. O governo pretende se desfazer de 100% do capital da empresa, anunciou o secretário especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia, Diogo Mac Cord. O que se pretende fazer é vender o controle da companhia integralmente, no formato de um leilão tradicional, ou como resume Mac Cord, "com abertura de envelopes". O comprador levará os ativos e passivos dos Correios.
PESQUISA
Outra má notícia para o governo — e o presidente — é a pesquisa CNT/MDA: a reprovação subiu para 48,2%. Aprovação foi de 32,9% para 27,7% em período marcado por início da CPI da Covid e recrudescimento da pandemia. A pesquisa realizou 2.002 entrevistas nos dias 1º e 3 de julho, em 137 municípios de 25 unidades da federação. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais.
Sobre os protestos, Painel da Folha
SERVIÇO PÚBLICO
El País informa que o Ministério da Defesa gasta mais de meio bilhão por ano com pensões acumuladas pagas a parentes de militares. Dados inéditos referentes a 2020 mostram que familiares de militares mortos receberam R$ 19,3 bilhões líquidos. Muitos recebem mais de um benefício, ainda com base na regra de pagamentos vitalícios. Militares da reserva ou reformados receberam outros 22,1 bilhões.
O Globo destaca o projeto de lei que regulamenta os supersalários no poder público pode gerar uma economia nas contas públicas de R$ 2,6 bilhões a R$ 3 bilhões por ano, de acordo com projeções usadas pela equipe do relator do texto, o deputado Rubens Bueno (Cidadania-PR). O deputado está revisando o próprio relatório, pronto desde 2018, e vai propor estabelecer uma trava para penduricalhos, como o auxílio alimentação, vinculada ao salário do servidor.
FIESP
Jornais relatam que o empresário Josué Gomes da Silva foi eleito para a presidência da Fiesp, após 17 anos da gestão de Paulo Skaf. Ele concorria em chapa única e venceu com 104 votos de 113 eleitores aptos. O anúncio ocorreu no prédio da entidade na avenida Paulista, na região central de São Paulo. Presidente da Coteminas, Josué é filho de José Alencar, que foi vice-presidente nas duas gestões de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de 2003 a 2010, e que morreu devido a um câncer em 2011. A candidatura foi apoiada por Skaf.
GLEISI
Monica Bergamo informa na Folha que a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, escreveu texto para o livro "Princesas de Maquiavel: Por Mais Mulheres na Política". A obra é organizada pela cientista política Juliana Fratini e tem como objetivo promover a participação de mulheres na política. Além de Gleisi, participam as presidentas do Podemos, Renata Abreu, e do PC do B, Luciana Santos, deputadas como Joice Hasselmann (PSL-SP) e Fernanda Melchionna (PSOL-RS) e empresárias como Luiza Helena Trajano.
BRASIL NA GRINGA
Washington Post traz reportagem sobre os novos escândalos envolvendo o presidente do Brasil. Escândalo de corrupção de vacinas ameaça Bolsonaro do Brasil — é o título da reportagem na página 13. "Durante meses, a investigação do Congresso sobre a frouxa resposta do coronavírus no Brasil foi vista como política. Dentro de uma sala de audiência, os legisladores haviam se retirado para suas posições políticas padrão para discutir, gritar e se gabar de suas bases. Muitos aqui o chamaram de teatro político — até mesmo ruído de fundo. Agora não", escreve Terrence McCoy.
"Após um conjunto explosivo de alegações, a investigação nos últimos dias passou de uma exploração meditativa do fracasso do Brasil em deter o coronavírus para uma ameaça crescente à presidência de Jair Bolsonaro. Os protestos estão crescendo nas ruas. Bolsonaro está enfrentando uma investigação criminal. Alguns questionam não apenas se ele pode vencer a eleição presidencial do próximo ano — mas se ainda será presidente quando ela chegar". E destaca: "No centro do drama político está um clássico escândalo de corrupção. Há alegações de propinas, irregularidades financeiras e uma questão abrangente: o que o presidente sabia e o que ele fez a respeito?"
O inglês The Guardian volta a tratar da crise política brasileira. Alegações de corrupção aumentam pressão sobre Bolsonaro — diz o título da reportagem, que abre a editoria de Mundo. Denúncias afirmam que o presidente brasileiro, já acusado de ignorar a Covid, estava envolvido em esquema de peculato. Diz a reportagem do correspondente Tom Phillips: "O presidente brasileiro ficou sob mais pressão depois de ser pessoalmente implicado em um suposto esquema de corrupção envolvendo a suposta apropriação indébita de salários de sua força de trabalho". O texto é direto: "Jair Bolsonaro, um populista de extrema direita que admira Donald Trump, assumiu o cargo em janeiro de 2019 prometendo 'libertar para sempre a pátria do jugo da corrupção'".
O argentino Clarín fala das novas suspeitas de corrupção do presidente brasileiro. Outro golpe para Jair Bolsonaro: acusam-no de desviar dinheiro público quando era deputado — aponta o jornal na manchete de página. "É por conta da contratação de parentes como empregados fantasmas ou assessores que eles tiveram que devolver parte de seus salários, segundo investigação feita a partir de áudios do WhatsApp de uma ex-cunhada do chefe de Estado divulgada pela mídia brasileira", resume.
Página 12 também traz a denúncia: A ex-cunhada de Jair Bolsonaro acusa-o de guardar o salário de seus assessores quando era deputado. "Cada vez mais afetado pela Vacinagate e os 123 pedidos de impeachment contra ele, o presidente de extrema direita tenta turvar o campo ao vincular juízes da Suprema Corte a um suposto caso de pedofilia sem provas", aponta o jornal.
INTERNACIONAL
Os britânicos Financial Times, The Guardian e The Times destacam em manchetes de primeira página que o primeiro-ministro Boris Johnson ignora os alertas para pôr fim às restrições impostas pela pandemia da Covid. Ele tomou uma nota pessimista ao admitir que os casos poderiam quase dobrar para 50.000 por dia na data de reabertura, 19 de julho, com as mortes provavelmente continuando aumentando. O jornal Financial Times diz que ele admitiu que as restrições podem ter de ser reimpostas no inverno e chama a remoção da exigência legal de usar uma máscara um "movimento totêmico para deputados conservadores céticos ao bloqueio".
O jornal também destaca que o petróleo atinge maior alta em três anos depois que a Opep + abandonou reunião. Arábia Saudita e Rússia não conseguem convencer os Emirados Árabes Unidos a recuar nas metas de produção. "Os preços do petróleo saltaram para o nível mais alto em três anos depois que a Opep e seus aliados abandonaram a decisão de aumentar a produção de petróleo enquanto a Arábia Saudita, a Rússia e os Emirados Árabes Unidos lutavam para chegar a um acordo", diz a reportagem. "Os ministros do petróleo da Opep + deveriam se reunir na segunda-feira após não conseguirem chegar a um acordo no final da semana passada, com os Emirados Árabes Unidos se irritando com uma meta de abastecimento que acredita ser muito baixa e subestima sua capacidade de produção. Mas com as negociações bilaterais de alto nível incapazes de quebrar o impasse e encontrar a unanimidade necessária antes do início planejado da reunião formal, a reunião virtual foi cancelada".
AS MANCHETES DO DIA
Folha: Governo estende auxílio emergencial até outubro
Estadão: Isenção a 'super-ricos' no IR é de 60%; demais contribuintes têm 25%
O Globo: Governo decide vender 100% do capital dos Correios
Valor: Reforma do IR desestimula uso de holding familiares
El País (Brasil): Defesa gasta mais de meio bilhão por ano com pensões acumuladas pagas a parentes de militares no Brasil
BBC Brasil: Voto impresso é tentativa de Bolsonaro de contestar eleição antecipadamente, diz cientista político
UOL: Mensagens mostram negociação de ex-diretor com vendedora de vacina
G1: CPI ouve hoje servidora da Saúde responsável por autorizar contrato da Covaxin
R7: Mais 2,2 milhões de beneficiários nascidos em abril têm saque liberado do auxílio emergencial
Luis Nassif: O que falta apurar na máfia das vacinas
Tijolaço: A inflação é pior que CPI para Bolsonaro
Brasil 247: Acusado de roubo de salários e corrupção nas vacinas, Bolsonaro entrega 100% dos Correios
DCM: Weber mantém direito ao silêncio de diretor da Precisa na CPI
Rede Brasil Atual: Tortura Nunca Mais quer impeachment e Bolsonaro no Tribunal Penal Internacional
Brasil de Fato: Haddad quer viabilizar governo progressista em SP, mas diz que é cedo pra candidatura
Ópera Mundi: Militares brasileiros têm projeto de poder, diz João Roberto Martins Filho
Fórum: Comissão do voto impresso inicia com embates entre governo e oposição
Poder 360: PSD é o que mais ganha deputados em trocas na Câmara
New York Times: Acidentes da Tesla trazem profundas preocupações sobre piloto automático
Washington Post: Nos Republicanos, esperançosos com foco em 2020
WSJ: Pequim propõe atrasar IPO da Didi por segurança
Financial Times: Johnson ignora avisos sobre o levantamento das restrições da Covid
The Guardian: Johnson faz aposta elimina as restrições de bloqueio da Covid-19
The Times: Agora é a hora certa de acabar com as regras ambiciosas, declara Johnson
Le Monde: Previdência: relançamento da reforma divide maioria
Libération: Vacinas. Eu faço curativo para me picar?
El País: A lei sobre liberdade sexual criminaliza o assédio nas ruas pela primeira vez
El Mundo: Tribunal de Contas avisa que Aragonès cometerá "fraude da lei" se apoiar os dirigentes embargados
Clarín: Polêmica decisão da Justiça: quebra do Correio de Macri
Página 12: Quebrado
Diário de Notícias: Nova tem 1 milhão para ajudar estudantes e vai criar campus sul com Évora e Algarve
Público: Pandemia leva a quebra de 40% no IVA cobrado a restaurantes e alojamento
Frankfurter Allgemeine Zeitung: Batalha de lama, agora em cores
The Moscow Times: Destroços encontrados em acidente de avião no Extremo Oriente Russo
Diário do Povo: Xi participará da Cúpula do CPC e dos Partidos Políticos
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