sábado, 6 de junho de 2020

Análise de Mídia 06/06

DOS JORNAIS DE HOJE: O Brasil vive sob um governo que pratica uma política de conflitos. Diante de qualquer obstáculo, seja político ou constitucional, Jair Bolsonaro aposta na polarização – quase sempre baseada na distorção da realidade, dos fatos – para, ao menor sinal de apoio, decretar que “o povo” está ao seu lado e implementar qualquer mudança que seja. O mais impressionante é que o presidente e seus comparsa promovem o caos e a repressão, mas costumam utilizar com frequência as palavras “paz” e “liberdade”. O comportamento absurdo e surreal do presidente da República está denunciado nas páginas dos jornais. Os editoriais são todos críticos a ele. As notícias sobre a pandemia, a economia e a política nacional apresentam as posições polêmicas de Bolsonaro como que querendo demonstrar o quanto ele é ridículo e inadequado. A falta de organização e de projeto deste governo são denunciadas nas reportagens sobre o não repasse de verbas para o combate ao coronavírus e sobre a possibilidade de não realização do Enem em 2021 por falta de dinheiro. Apesar da pressão constante, Jair Bolsonaro mantém base de apoio social. A elite está dividida e os veículos de imprensa também. Enquanto jornais impressos, TV Globo, Globonews e CNN são mais críticos, veículos como SBT, Band, Record e outros apoiam fielmente a forma distorcida como Bolsonaro e os seus “parceiros” interpretam a realidade.
A parcela dos veículos de comunicação que é crítica ao Bolsonarismo, por outro lado, mantém o apoio às ideias de Paulo Guedes. Basta ver os cadernos de economia, praticamente não apresentam vozes críticas às mudanças que o ministro da Economia pretende implementar. Aliás, só existe espaço para “especialistas” ligados ao mercado financeiro. Esta característica remete à realidade das grandes empresas de jornalismo do Brasil: elas não têm interesse em mostrar como vive o povo porque não querem que o país seja discutido. O interesse é simplesmente no poder sobre a direção do Brasil. O grande exemplo dessa realidade é a forma como esses veículos de jornalismo ignoram o período em que o país foi governado pelo Partido dos Trabalhadores e as figuras que compuseram essas administrações, assim como quase não dão espaço para as vozes da esquerda.
 
CAPA – Manchete principal: ”Na contramão da quarentena, Brasil vê disparada de mortes”
EDITORIAL DA FOLHA - ”Nau sem rumo”: Uma morte a cada minuto —eis o saldo trágico de brasileiros tombados pela Covid-19 na quinta-feira (4). Completados cem dias desde o primeiro diagnóstico da doença, o país anotou 1.473 vidas perdidas em 24 horas e cruzou a marca das 34 mil, a maior parte delas nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Pará e Pernambuco. Ultrapassou ainda a quantidade de mortes contabilizadas na Itália, figurando hoje somente atrás de Reino Unido (40 mil) e EUA (107 mil) nesse ranking lúgubre. Já os casos confirmados passam de 600 mil, soma inferior apenas à registrada nos Estados Unidos. Tais número, por horripilantes que sejam, revelam apenas parte da realidade. A subnotificação grassa no país, alimentada pela escassez de testes e por estratégias equivocadas de identificação dos enfermos. Ao contrário do que ocorre em outras nações recordistas, no Brasil a curva de contágios ainda se encontra ascendente, alertam especialistas, e não atingimos ainda o pico de casos diários. Enquanto a economia continua se agravando, acentuam-se pressões sobre prefeitos e governadores para o afrouxamento das medidas de quarentena, principal instrumento de controle à mão até que haja vacinas e remédios eficazes.
Tal movimento, como se sabe, tem seu principal vetor no Palácio do Planalto. Desde o início da epidemia, Jair Bolsonaro demonstrou não estar à altura do desafio, minimizando de forma inconsequente a doença, incentivando e promovendo aglomerações, propagando desinformação como cálculo e tratando com indiferença as perdas de milhares de famílias. Sua obsessão irracional por soluções mágicas, sem qualquer respaldo na ciência, e o esforço diuturno em sabotar as políticas do próprio Ministério da Saúde, ceifaram em poucas semanas dois ministros, deixando interinamente no cargo um general sem experiência prévia na área —mas obediente aos ditames presidenciais. Incapaz de controlar a epidemia, o governo agora também atravanca a divulgação do morticínio. Na sexta (5), pelo terceiro dia consecutivo, a pasta só liberou o boletim diário a partir das 22h —coincidência ou não, após o horário de conclusão das primeiras edições dos jornais impressos e da transmissão dos principais noticiários de TV. A demora mal explicada pela checagem de números acentuou-se com a progressão da epidemia e as mudanças no comando do ministério. Veio acompanhada do fim das entrevistas diárias e do sumiço do chefe provisório da pasta. Trata-se, numa interpretação benevolente, de rematada incompetência. Se é estratégia infame, não conseguirá esconder uma condução cada vez mais ruinosa da crise.
PAINEL - ”Doria diz que organizadores de atos são irresponsáveis e protestos no mesmo dia, irracionais”
PAINEL - ”Ibaneis dispensa Força Nacional em protestos no fim de semana”
PAINEL - ”Doria compartilha vídeo de Somos 70% que chama Bolsonaro de ditador”: Na quinta (4), Doria compartilhou com amigos e colegas o vídeo feito pelo movimento Somos 70%. Na peça de divulgação, o criador do grupo, o economista Eduardo Moreira, chama Bolsonaro de ditador. Na última quarta (3), o governador paulista disse à Folha que não assina manifestos por ser autoridade, mas que eles têm sua solidariedade irrestrita.
PAINEL - ”Boletim de ocorrência registra infração de medida sanitária de deputados que invadiram hospital do Anhembi”
PAINEL - ”Estados do Nordeste vão ao STF contra Bolsonaro e pedem volta de recursos do Bolsa Família”: Os estados do Nordeste acionaram o STF (Supremo Tribunal Federal) para que o governo Jair Bolsonaro (sem partido) suspenda o corte de R$ 83,9 milhões do programa Bolsa Família. O governo retirou essa verba do programa para utilizá-la na expansão da publicidade oficial. No pedido ao Supremo, assinado pelos procuradores-gerais dos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte, eles pedem que o governo federal justifique a concentração de cortes no programa na região Nordeste e recomponha o valor retirado para ser usado pela publicidade do governo. A tesourada promovida por portaria de 2 de junho, do Ministério da Cidadania, foi no segmento destinado a atender as famílias carentes da região Nordeste, onde a cobertura foi reduzida e há fila de espera para ingressar no programa. Considerando que os beneficiários recebem, normalmente, pouco menos de R$ 200 reais, o valor de R$ 83,9 milhões, segundo técnicos do governo, seria suficiente para atender cerca de 70 mil famílias. Reportagem publicada pela Folha nesta terça-feira (2) mostrou que a fila de espera no Bolsa Família entre abril e maio superou 430 mil pedidos, e os recursos transferidos poderiam reduzir essa fila. O governo, porém, optou por reduzir gastos sociais e dar mais poder ao secretário de comunicação do Palácio do Planalto, Fabio Wajngarten, cuja atuação tem sido criticada por suspeita de uso político do cargo. O pedido de corte no Bolsa Família partiu da Presidência da República e foi aprovado pela Junta Orçamentária, formada pelo ministro Paulo Guedes (Economia) e Braga Netto (Casa Civil).
PAINEL - ”Após pressão de Bolsonaro, Pazuello exonera funcionários que assinaram nota sobre saúde da mulher”: Após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) distorcer uma nota técnica sobre acesso à saúde sexual e reprodutiva pelas mulheres durante a pandemia emitida pela Secretaria de Atenção Primária à Saúde na segunda-feira (1°), o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, exonerou dois dos servidores que assinaram o material. Danilo Campos da Luz, coordenador de Saúde do Homem, e Flávia Andrade Fialho, coordenadora de Saúde das Mulheres, ambos da Coordenação-geral de Ciclos da Vida da Secretaria de Atenção Primária à Saúde, tiveram suas exonerações publicadas no Diário Oficial nesta sexta-feira (5). A nota técnica foi tirada do Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente, iniciativa do Ministério da Saúde com a Fundação Oswaldo Cruz e o Instituto Fernandes Figueira, onde havia sido publicada. Ela pode ser lida na íntegra ao final desta reportagem. Em suas redes sociais, Bolsonaro escreveu na quarta-feira (3) que estava "buscando a autoria" da portaria "sobre aborto que circulou hoje pela internet". "O MS [Ministério da Saúde] segue fielmente a legislação brasileira, bem como não apoia qualquer proposta que vise a legalização do aborto, caso que está afeto ao Congresso", escreveu o presidente.
Na quinta-feira (4), o Ministério da Saúde publicou em seu site uma nota em que dizia que a minuta não possuía legitimidade e não havia sido discutida no âmbito da pasta. "Informamos que as medidas administrativas foram adotadas para identificar a falha processual e os responsáveis pela elaboração e divulgação não autorizada da referida minuta", dizia o texto. O tema central da nota técnica publicada na segunda (1°) não é especificamente o aborto, mas a manutenção de cuidados com a saúde sexual e reprodutiva para as mulheres no contexto da pandemia. "Emerge a preocupação com a saúde das mulheres, nos seus diferentes estágios do curso da vida. A necessidade de garantir acesso integral à Saúde da Mulher perpassa a Saúde Sexual e Saúde Reproduva (SSSR), bem como a saúde Materno-Infantil, e deve ir ao encontro do contexto e das prioridades regionais, de modo a estruturar uma resposta rápida e eficaz à saúde das mulheres", diz a nota. "Ainda não é possível definir quais serão os reais impactos e consequências da crise causada pela Covid-19 para a saúde das mulheres, em seus vários estágios do curso de vida, no cenário brasileiro. Projeções internacionais estimam que aproximadamente 47 milhões de mulheres em 114 países de baixa e média renda poderão não ter acesso aos contracepvos e, com isso, ser possível ocorrer mais de sete milhões de gravidezes não planejadas entre adolescentes e mulheres", continua. Quando menciona o aborto, trecho que incomodou Bolsonaro e seus apoiadores, apenas reitera a necessidade da continuidade dos serviços de assistência "aos casos de violência sexual e aborto legal". Diz também que o "abortamento seguro para os casos previstos em lei" é um serviço essencial e initerrupto a essa população.
PAINEL - ”Após atrasos, Covas começa a pagar empresários que vendem marmitas na pandemia”
”Com pandemia, Congresso desiste de disputa com Planalto por controle de parte do Orçamento” - Depois dos choques provocados por uma disputa com o Executivo pelo controle do Orçamento, o Congresso abriu mão do comando que teria sobre R$ 25,3 bilhões em emendas parlamentares. Em negociação com a cúpula da Câmara e do Senado após o início da pandemia do coronavírus, o Palácio do Planalto pediu ao Legislativo a retirada de uma proposta que daria poder aos congressistas para determinar quais obras e projetos receberiam esses recursos, com execução obrigatória. A proposta —que agora deve ser descartada— tornaria parte do orçamento de ministérios dependente de autorização dos parlamentares. A verba só poderia ser usada após deputados e senadores indicarem quais municípios seriam beneficiados, o que aumentaria seu capital político em ano eleitoral. Com a derrubada dessa prerrogativa, a destinação efetiva do dinheiro cabe ao ministro de cada área. Esse novo capítulo sobre o Orçamento foi costurado com líderes do centrão, partidos que passaram a ocupar cargos no governo. Com o controle sobre a aplicação das emendas, como previa a proposta inicial, não seria necessária uma relação afinada com o Executivo. Originalmente, esse projeto havia sido encaminhada pelo Planalto para reduzir uma tensão com o Congresso num embate entre os dois Poderes pelo controle das contas do governo.
Na ocasião, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) criticou parlamentares, e o ministro Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) sugeriu a convocação de protestos contra deputados e senadores, a quem acusou de chantagem. No início de março, o Planalto apresentou um projeto que manteria o poder dos congressistas sobre uma fatia de R$ 25,3 bilhões do Orçamento, a partir das emendas parlamentares obrigatórias. O acordo pela aprovação desse texto, no entanto, retrocedeu quando Bolsonaro endossou e participou das manifestações do dia 15 de março a favor do governo e contra o Congresso e o STF (Supremo Tribunal Federal), na mesma semana em que a pandemia do coronavírus foi declarada. Com a crise da Covid-19, Executivo e Legislativo avaliaram que o embate geraria desgaste num momento em que os esforços da classe política deveriam se concentrar na área de saúde. Esse acordo foi facilitado pela aproximação entre Bolsonaro e os partidos do centrão. Essas siglas estreitaram suas negociações políticas com o Planalto a partir da indicação de aliados para ocupar cargos em autarquias e no segundo escalão dos ministérios. Esses partidos agora têm a chave de fundos e órgãos com orçamentos vultosos, e abertura com o governo para facilitar também a liberação de verbas referentes a essas emendas parlamentares.
Nas últimas semanas, um novo acordo foi costurado para garantir que os ministros tenham a palavra final sobre o destino específico do dinheiro. Isso, porém, não impede que essa definição se dê após uma negociação entre as pastas e os congressistas.
Sob essas regras, as emendas podem voltar a ser alvo de negociação política entre os dois Poderes e moeda de troca em votações no Congresso. Inicialmente, o Parlamento pretendia obrigar a aplicação desses recursos, sem precisar tratar com o governo sobre as destinações específicas. O Planalto solicitou no fim de maio a retirada do projeto que daria aos parlamentares o poder de definir a ordem de liberação desse dinheiro. A Secretaria de Governo afirmou que o ato foi feito em acordo com o Congresso. Líderes partidários confirmaram o armistício. As normas de execução das emendas parlamentares determinam o peso político dessa ferramenta nas relações entre o governo e os congressistas. A modificação realizada agora provoca alterações nesse equilíbrio. Quando aprovaram o Orçamento de 2020, deputados e senadores escolheram as áreas em que o dinheiro das emendas seria alocado. São, por exemplo, ações voltadas ao esporte, educação, saneamento —uma destinação relativamente genérica. Eles também queriam, porém, ter a prerrogativa de escolher quais projetos específicos seriam contemplados. Foi essa a mudança que se tornou o centro do embate dos congressistas com Bolsonaro, que vetou essa alteração. O projeto elaborado pelo governo em março concedia uma ampliação de poderes ao Legislativo. Se a proposta fosse aprovada, parte do dinheiro para educação, saúde, agricultura e ciência e tecnologia seria aplicada com base em critérios do relator do Orçamento de 2020, deputado Domingos Neto (PSD-CE).
Foram alocados, por exemplo, R$ 100 milhões para infraestrutura de esporte (ou seja, uma destinação genérica). Pelas negociações que estavam em curso em março, não seria o ministro da área quem decidiria qual cidade receberia uma quadra esportiva, e sim o relator do Orçamento, após articulações com líderes partidários. Neto teria controle sobre uma verba maior que os orçamentos de alguns ministérios, como Justiça, Meio Ambiente e Minas e Energia. Aliados de Bolsonaro questionavam esse poder dado a congressistas e os critérios a serem usados. Para a equipe econômica, isso engessaria ainda mais o Orçamento. Embora o governo tenha conseguido retomar o controle da última etapa de execução das emendas (a assinatura do contrato), o Congresso ainda manteve ampliada sua participação na formulação do Orçamento. As emendas parlamentares que o governo será obrigado a atender neste ano mais que triplicaram em relação ao valor de 2014, primeiro exercício em que o mecanismo de pagamento compulsório desses recursos foi aplicado. O volume de recursos com execução obrigatória era de R$ 12,1 bilhões há seis anos, em valores corrigidos pela inflação, e alcançou R$ 43 bilhões neste ano. Desde o início do Orçamento impositivo, o valor de pagamento obrigatório permaneceu praticamente estável, na faixa média de R$ 14 bilhões, em valores corrigidos pela inflação. Apenas na negociação do Orçamento de 2020 o Congresso propôs o salto nessa verba, o que incomodou o núcleo político e até mesmo a equipe econômica do governo Bolsonaro.
Até 2013, o Congresso apresentava emendas ao Orçamento —em volume até superior àquele em negociação atualmente—, mas não havia a garantia de que os governos dariam início aos projetos nos municípios indicados por parlamentares. A liberação de recursos tinha caráter majoritariamente político: emendas de deputados e senadores aliados do governo ganhavam preferência na execução dos recursos. A partir de 2014, parlamentares passaram a trabalhar pela aprovação de medidas de ampliação da autonomia do Congresso. Bolsonaro pede que PMs 'façam seu devido trabalho' e sugere Força Nacional em atos contra o governo
”Veja episódios em que Bolsonaro imitou atitudes de Donald Trump” -
USO DA GUARDA NACIONAL

Quando os protestos contra o racismo nos Estados Unidos chegavam a seu sétimo dia, na segunda (1º), Trump afirmou que iria mandar "milhares e milhares" de homens do Exército para conter as manifestações. "Meu primeiro dever é defender o país", afirmou o republicano. Os atos tiveram início após George Floyd, um homem negro de 46 anos, ser morto em 25 de maio por um policial. O agente de segurança pressionou o pescoço de Floyd com o joelho por quase nove minutos. Por aqui, Bolsonaro afirmou, nesta sexta, que as polícias militares devem fazer "seu devido trabalho" e sugeriu o uso da Força Nacional em atos contra o governo. A fala aconteceu na inauguração de um hospital de campanha para pacientes do novo coronavírus na cidade de Águas Lindas de Goiás, a 57 km de Brasília. Ele pediu ainda que manifestantes a favor do governo não comparecessem. "O outro lado, que luta por democracia, que quer o governo funcionando, quer um Brasil melhor e preza por sua liberdade, que não compareçam às ruas nestes dias para que as forças de segurança, não só estaduais, bem como a nossa, federal, façam seu devido trabalho porventura estes marginais extrapolem os limites da lei."
CLOROQUINA
No Brasil, o remédio foi pivô da queda de dois ministros da Saúde em meio à pandemia, que não aceitaram ampliar o seu uso para pacientes com quadros leves da Covid-19 —Luiz Henrique Mandetta, em abril, e Nelson Teich, em maio. Não há evidências científicas de que a cloroquina seja eficiente no tratamento contra o novo coronavírus. Apesar disso, Trump era outro entusiasta do medicamento. Ele afirmou, em meados de maio, que estava tomando doses para evitar a doença. "Tenho tomado [o medicamento] desde a última semana e meia. Uma pílula por dia", afirmou Trump a repórteres. No fim de maio, os Estados Unidos anunciaram o envio ao Brasil de dois milhões de doses de hidroxicloroquina. O anúncio aconteceu poucos dias depois de a OMS (Organização Mundial de Saúde) suspender os testes da substância para pacientes com coronavírus por causa dos riscos e da falta de segurança sobre a eficácia do remédio.
SAÍDA DA OMS
Nesta sexta, Bolsonaro afirmou, na frente do Palácio da Alvorada, que estuda sair da OMS. “Adianto aqui: os EUA saíram da OMS, a gente estuda no futuro. Ou a OMS trabalha sem o viés ideológico ou a gente está fora também. Não precisamos de gente lá de fora dar palpite na saúde aqui dentro”, disse. “Ou a OMS realmente deixa de ser uma organização política e partidária ou nós estudamos sair de lá.” Como ele mesmo falou, os Estados Unidos começaram a cortar relações com o organização no final de maio. "Como eles não fizeram as reformas solicitadas e muito necessárias, encerraremos nosso relacionamento com a OMS e redirecionaremos esses fundos para outras necessidades de saúde pública mundial urgentes e globais", disse o presidente Donald Trump a jornalistas, em Washington.
ANTIFASCISTAS
No dia 31 de maio, sexto dia de protestos contra o racismo nos Estados Unidos, Trump afirmou pelo Twitter que pretendia classificar antifascistas como uma organização terrorista. Bolsonaro republicou a postagem junto com uma imagem dos protestos na avenida Paulista, em São Paulo, onde uma manifestação a favor da democracia, segundo os participantes, terminou em confronto com a polícia. Desde então, Bolsonaro vem tachando os manifestantes da oposição da mesma forma que o presidente americano. "Começou aqui com os antifas em campo. O motivo, no meu entender, político, diferente [daquele dos protestos nos EUA]. São marginais, no meu entender, terroristas. Têm ameaçado, domingo, fazer movimentos pelo Brasil, em especial, aqui no DF", afirmou. Em transmissão ao vivo nesta quinta-feira (4), voltou a falar das manifestações. "Na verdade, são terroristas. Lamentamos não conseguir tipificar como terrorismo suas ações no passado porque isso veio da época do governo Dilma e botaram uma vírgula dizendo que exceto os grupos sociais", afirmou.
CORONAVÍRUS
Desde o inídio da pandemia, Trump já se referiu ao coronavírus como "vírus chinês" ou “vírus de Wuhan”, a cidade no país que foi o epicentro inicial da epidemia. Em abril, ele afirmou que a China poderia ter contido a propagação e que seu governo estava realizando investigações sobre o caso. No Brasil, Bolsonaro não chegou a tanto, mas seu filho, o deputado federal Eduardo (PSL-SP), criou um mal estar entre os dois países ao comparar a pandemia do coronavírus ao acidente nuclear de Tchernóbil, na Ucrânia, em 1986. As autoridades, à época submetidas a Moscou, ocultaram a dimensão dos danos e adotaram medidas de emergência que custaram milhares de vidas. "A culpa é da China e liberdade seria a solução", escreveu em seu Twitter. Pela mesma rede social, o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, escreveu que a afirmação do deputado era "um insulto maléfico contra a China".
”Tentativa de acordo falha, e avenida Paulista deve ter atos contra e a favor de Bolsonaro neste domingo”
”Movimentos de esquerda, com Boulos, e torcedores ignoram pico da pandemia e mantêm ato anti-Bolsonaro em SP” - A Frente Povo Sem Medo, membros de torcidas organizadas e movimentos negros mantêm suas convocações para manifestação contra o governo Jair Bolsonaro (sem partido) mesmo após o país bater recorde de mortos pelo coronavírus. Nesta quinta-feira (4), o país chegou a 1.473 mortes em 24 horas, o que significa que a doença já mata mais de um brasileiro a cada minuto. O Brasil também cruzou a marca de 34 mil mortes e ultrapassou a Itália, país que simbolizou primeiro a tragédia da pandemia. A aglomeração esperada na manifestação contraria as recomendações de médicos e especialistas para evitar a propagação do vírus. O ato, com bandeiras a favor da democracia e antifascista, está marcado para este domingo (7), às 14h, no Masp. Pela manhã, no mesmo local, movimentos negros se manifestam contra o racismo, ecoando a onda de protestos vista nos Estados Unidos após a morte de George Floyd por um policial branco. Bolsonaristas também devem se manifestar na avenida Paulista, em frente à Fiesp, às 11h do domingo. A Frente Povo Sem Medo, liderada por Guilherme Boulos (PSOL), que foi candidato à Presidência em 2018 e pode concorrer à Prefeitura de São Paulo neste ano, argumenta que a manifestação terá uma série de medidas para evitar a propagação do vírus.
Os organizadores prometem distribuição de 4.000 máscaras feitas por coperativas de costureiras e álcool em gel. Também havera uma brigada que atua na área da saúde para orientar o distanciamento mínimo entre os manifestantes. "Temos preocupação muito grande com isso, não é nosso intuito contribuir com a disseminação do vírus. Sabemos que não é ideal, mas vamos tomar todos os cuidados para que a aglomeração não leve a isso", afirma Guilherme Simões, da Frente Povo Sem Medo e do coletivo negro do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto). "Bolsonaro e seus seguidores estão na rua durante a pandemia sem cuidado, sem máscara, pegando na mão de pessoas", diz Simões, referindo-se ao comportamento do presidente, que costuma participar de manifestações a seu favor e provocar aglomerações em saídas por Brasília. Desde o início da pandemia, bolsonaristas organizam manifestações aos fins de semana em São Paulo e em Brasília. Até agora, o poder público não dissipou ou proibiu os atos sob a justificativa de não haver aglomeração na crise sanitária. “O Ministério Público reconhece o direito de manifestação mesmo em tempo de pandemia, desde que regras sanitárias sejam seguidas”, afirmou o procurador-geral de Justiça de São Paulo, Marcio Sarrubbo à Folha, mencionando o uso de máscaras e o distanciamento. Danilo Pássaro, do Somos Democracia, movimento de corinthianos, também lista ações contra o coronavírus na manifestação. "No caminhão de som, vamos ressaltar o tempo todo a orientação de manter mínima distância. E vai ser uma manifestação rápida, vamos dispersar rapidamente", afirma.
Nesta quinta (4), líderes de partidos de oposição (PSB, PDT, Cidadania, Rede e PSD) ublicaram nota pedindo que as pessoas não compareçam às manifestações devido ao risco de contaminação, embora apoiem as iniciativas a favor da democracia e contra Bolsonaro, como manifestos. Como mostrou o Painel, os movimentos suprapartidários a favor da democracia, que impulsionaram os manifestos surgidos nos últimos dias, também não recomendam ir à manifestação por causa da pandemia. Já o PT, como mostrou a coluna Mônica Bergamo, decidiu apoiar as manifestações de rua, abrindo uma dissidência com os partidos de oposição. "Considerando as condições impostas pela pandemia, recomendamos que os participantes das manifestações observem da melhor maneira possível, as medidas recomendadas pela OMS, como uso de máscaras e o distanciamento social", diz uma nota do partido.
Os organizadores do protesto afirmam respeitar a posição daqueles que são contra sair às ruas neste momento e dizem compartilhar da preocupação sanitária, mas defendem sua convocação. "É grave provocar aglomeração, mas é mais grave permenecer passivo vendo essa escalada autoritária que pode desembocar em quebra da ordem democrática", diz Pássaro. "O ato se justifica na medida em que é visto um recrudescimento das posições autoritárias e antidemocráticas de Bolsonaro e seus seguidores. Apesar do momento sanitário, é fundamental defender a democracia, então estamos conclamando para ir às ruas, mas com prevenção e cuidado", afirma Simões. "Não podemos deixar que o fascismo galopante que estamos vendo tome conta das ruas e da opinião pública. Há uma ânsia grande de uma parcela da sociedade em fazer essa defesa", completa. Simões afirma ainda que "a questão de valorizar a vida negra também tem que estar na ordem do dia". Ele menciona as recentes mortes de crianças negras no país —Miguel Santana da Silva, 5, no Recife, e João Pedro Matos Pinto, 14, no Rio. No domingo passado (31), um ato contra Bolsonaro convocado por torcidas organizadas acabou sendo dispersado por bombas de gás lançadas pela PM paulista. Na avenida Paulista, também havia uma manifestação a favor de Bolsonaro e houve conflito entre as partes. No próximo domingo, o cenário pode se repetir. Contrariando a determinação do governador João Doria (PSDB) de que manifestações opostas não acontecessem no mesmo dia e local, grupos contra e a favor do presidente mantiveram suas convocações para o domingo na avenida Paulista.
Em reunião nesta sexta-feira (5) entre os organizadores de ambos os lados, convocada pela Polícia Militar e pelo Ministério Público, nenhum grupo cedeu aos apelos para remarcar seus atos para outro dia ou local. O ato bolsonarista é convocado por grupos minoritários e que defendem golpe militar. A maior parte dos apoiadores do presidente que costuma participar das manifestações em São Paulo, organizados em grandes grupos já conhecidos, decidiu não comparecer no domingo para evitar confusão. Na reunião, ficou acertado que a PM isolará os dois atos. A PM também informnou aos organizadores que fará revista na saída das estações para apreender armas e objetos que possam ser usados para agressão.
Bolsonaro já havia pedido aos seus apoiadores que não fizessem manifestações neste fim de semana e ficassem em casa para evitar confrontos. Nesta sexta, ele voltou a reforçar isso e cobrou que a Polícia Militar faça "seu devido trabalho" nos atos contra seu governo. O presidente pediu ajuda das PMs no estadose disse que vai usar forças de segurança federais contra manifestantes que, no domingo, extrapolarem os "limites da lei" em atos contra o seu governo. Bolsonaro afirmou que os manifestantes contra seu governo "geralmente são marginais, maconheiros, desocupados que não sabem o que é economia, o que é trabalhar para ganhar seu pão de cada dia". "Querem quebrar o Brasil em nome de uma democracia que nunca souberam o que é e nunca zelaram por ela", disse. Bolsonaro tem trabalhado com aliados uma estratégia para tentar diferenciar esses atos das manifestações semanais de seus apoiadores. Com isso, Bolsonaro tentará insistir na tese de que os que o apoiam têm como hábito organizar movimentos pacíficos, enquanto a oposição adota métodos violentos.
Na terça-feira (2), o presidente classificou atos contra seu governo de “marginais e terroristas”. Na noite desta sexta, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e outras entidades divulgaram uma nota dizendo-se contrárias à realização de atos de rua neste momento, por causa dos riscos relacionados à pandemia. "O desejo cidadão de flexibilizar o isolamento social para sair às ruas em defesa da democracia e da Constituição não pode ser realizado agora, considerando-se os riscos de contaminação", diz o texto das organizações, que formam um grupo chamado Pacto pela Vida e pelo Brasil. Segundo elas, o desejo de se manifestar "é uma atitude legítima diante do discurso autoritário que se alastra pelo país", entretanto "não se deve cair na armadilha de grupos extremados, cujo único objetivo é o de provocar confrontos, gerando instabilidade e comprometendo a cidadania". O posicionamento é endossado pela Comissão Arns de Defesa dos Direitos Humanos, pela ABC (Academia Brasileira de Ciências), pela ABI (Associação Brasileira de Imprensa) e pela SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência).
DEMÉTRIO MAGNOLI - ”Nos EUA, o racismo saiu dos códigos legais, mas não das consciências”
ENTREVISTA: ”’Quem fizer oposição terá construída a imagem de terrorista’, diz delegado” - O Brasil vive a institucionalização de um projeto fascista. Ele envolve não só o avanço no país de milícias e grupos paramilitares mas também a transformação em política de Estado de mecanismos de repressão violenta, racismo, LGBTfobia, misoginia, exploração do trabalho e criminalização de movimentos sociais. É assim que o delegado da Polícia Civil Orlando Zaccone, 56, um dos fundadores do Movimento dos Policiais Antifascismo —organização criada por policiais do Rio e da Bahia em 2017 e depois prolongada para outros estados—, entende a nova arquitetura política que vê sendo construída no Brasil hoje. Segundo ele, sua função é reprimir qualquer tipo de oposição. Exemplos recentes seriam declarações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de que são "marginais" e "terroristas" os manifestantes antifascistas que tomaram as ruas de algumas cidades do país na última semana de maio em atos pró-democracia. E também o projeto de lei apresentado à Câmara por deputados governistas que propõe tipificar esses grupos como terroristas.
"Manifestantes que defenderam o AI-5 e atacaram o Congresso e o Supremo Tribunal Federal não foram considerados como terroristas, mas como livre pensamento", pontua Zaccone, que é doutor em ciência política pela Universidade Federal Fluminense e membro da Leap (Law Enforcement Against Prohibition), organização internacional que reúne policiais, promotores e juízes na busca de alternativas à guerra às drogas. "Fica claro que a jogada é essa: quem estiver nas ruas defendendo a pauta do governo, mesmo armado ou com um taco de beisebol, vai ser tratado com respeito; quem estiver nas ruas fazendo oposição, vai ser construído como terrorista. E a gente chama isso de fascismo não é à toa." Zaccone e outros 500 agentes de segurança pública, entre policiais civis, militares e federais, bombeiros, agentes penitenciários e guardas municipais, subscreveram um manifesto do Movimento dos Policiais Antifascismo lançado nesta sexta (5). O texto denuncia perseguições a policiais antifascistas no Rio Grande do Norte e no Rio Grande do Sul e urge pela criação de uma Frente Única Antifascismo com partidos, artistas e movimentos de classe e da sociedade civil. "Não é a toa que o presidente Jair Bolsonaro quer se apropriar da Polícia Federal. Não é à toa que ele indicou o atual procurador geral da República fora da lista tríplice", avalia. "Ele está dominando toda a estrutura institucional para operar uma perseguição política. E isso talvez seja tão grave e pouco perceptível quanto milícias e grupos paramilitares."
Para Zaccone, que foi o responsável pela investigação do caso da morte do pedreiro Amarildo em 2013 na Rocinha, que apontou para uma ação criminosa de policiais, os policiais estão cada vez mais conscientes de que estão numa posição ruim no atual modelo. Os crescentes índices de suicídio entre membros das corporações seriam apenas o sintoma mais visível. "Os policiais militares, por exemplo, não têm direito a sindicalização, greve, filiação partidária ou livre manifestação do pensamento. São, neste sentido, subcidadãos", afirma. "Como esperar que alguém que teve direitos fundamentais retirados respeite e proteja os direitos de cidadania dos outros?" De acordo com o delegado, uma das banedeiras do Movimento dos Policiais Antifascismo é construir a identidade do policial como trabalhador, "interessado em prestar um serviço à população e não a quem está no comando das polícias".
- Como avalia a fala do presidente de que antifascistas são "terroristas" e o projeto de lei apresentado que pretende enquadrá-los desta maneira?
- O fascismo quer impor seu projeto político sem ter de enfrentar oposição. A desqualificação de oponentes é sua estratégia, e o gabinete do ódio é o maior exemplo disso. Agora que grupos antifas vão para as ruas dizer que não aceitam a imposição de certo modelo econômico e da intolerância às diferenças, o governo fica acuado no seu projeto. A jogada é essa: quem estiver nas ruas defendendo a pauta do governo, mesmo armado ou com um taco de beisebol, vai ser tratado com respeito; quem estiver nas ruas fazendo oposição, vai ser construído como terrorista. E a gente chama isso de fascismo não é à toa.
- Qual é o papel da polícia nesta dinâmica?
- A polícia infelizmente foi cooptada pelo discurso fascista, que diz que os policiais são mal recebidos pela esquerda e pelos movimentos sociais. O discurso é: "eles não gostam da polícia, mas nós gostamos. Policiais são nossos heróis". Com esse discurso, se entrega uma carta branca à polícia. E isso vai se refletir não apenas na forma como policiais vão reprimir o exercício de direitos políticos nas ruas, mas principalmente no avanço daquilo que a polícia tem de pior: as arrecadações ilícitas e o domínio territorial perpetrados pelas milícias. Por isso o crescimento do fascismo no Brasil é concomitante ao crescimento das milícias. E não por menos existe uma relação estreita, em especial no Rio de Janeiro, entre milícias e o poder político que chamamos de fascismo.
- Sempre foi assim?
- Não. Eu me lembro do comício da Candelária [em abril de 1984, no Rio de Janeiro], no contexto das Diretas Já. O governador era o Leonel Brizola, e o policiamento feito no metrô e nas ruas foi impressionante. Os policiais tratavam os manifestantes com tanta cortesia... Naquele momento, eu pensei: o Brasil mudou. É muito difícil que a polícia agrida uma manifestação se houver um governador e um secretário de Segurança colocados como garantidores dos direitos dos manifestantes, como no caso de Brizola na Candelária.
- Como explicar a diferença no comportamento das polícias nas manifestações à direita e à esquerda?
- Existem dois estereótipos de quem é o policial no ambiente social. Um, construído à esquerda, é o da banda podre, corrupta e violenta. Ao ponto de grupos antifascistas usaram o slogan "all cops are bastards" (todos os policiais são bastardos). Esse ódio afasta o reconhecimento do policial como trabalhador para que ele possa se juntar à luta de seus pares. Como essa aliança é rompida, a direita se aproveita e cria uma fantasia mítica, heróica, que consegue cooptar os policiais. Hoje, o poder político federal dialoga de perto com as forças policiais, que ganharam muito espaço no governo Bolsonaro. Isso repercute na instituição ao ponto de seus membros enxergarem quem está contra o governo como inimigo.
- Existe receio de que as manifestações contra o governo marcadas para este domingo (7) sejam alvo da ação de pessoas infiltradas.
- Infiltrados fazem parte da história. Eles vão lá promover desordem para legitimar a ação direta e violenta da polícia. As lideranças dessas manifestações terão de se organizar para tentar impedir o sucesso deste tipo de ação. Mas a violência não decorre apenas de elementos infiltrados, mas também de alguns manifestantes. E precisamos melhorar a leitura deste fenômeno. Diante da revolta causada pela morte de George Floyd nos EUA, um mesmo telejornal brasileiro chama de manifestante quem está colocando fogo nas delegacias americanas enquanto chama de vândalos os brasileiros que entraram em confronto com grupos neofascistas e com a polícia.
- Qual é o limite entre manifestação política e vandalismo?
- Qual é o olhar que o Estado teve para um fotojornalista [Sérgio Silva] que ficou cego ao levar um tiro de bala de borracha da polícia durante uma manifestação em junho de 2013? O Estado disse: quem está na chuva é pra se molhar. E por que isso não vale para a vidraça de um banco? Não estou fazendo um discurso pela violência. Mas a vidraça do banco quebrada gera uma reação do aparato policial capaz de provocar algo muito pior, como a cegueira em quem está trabalhando no protesto. A gente naturaliza os altos índices de letalidade da polícia, a gente naturaliza a morte de policiais, e, de repente, uma vidraça quebrada vira um grande escândalo da violência. Precisamos questionar isso.
- Como avalia a reação dos americanos à morte de George Floyd sendo o Brasil um país em que policiais matam mais e pessoas negras são mais mortas por eles?
- No Brasil, o que se discute ainda na violência policial é se a pessoa que morreu merecia ou não morrer, como se tivéssemos autorização para que criminosos fossem executados. Quando as vítimas são identificadas como criminosos, sua morte não causa comoção. A morte de Floyd causou essa reação porque a cena filmada foi a de um homem indefeso sendo asfixiado por um policial branco enquanto implorava pela vida. Agora, vamos supor que ele tivesse acabado de cometer um assalto a mão armada, registrado por câmeras de segurança. Tenho minhas dúvidas se teria gerado a mesma escala de revolta. No Brasil, isso virou um discurso político porque o fascismo contempla que essas execuções virem política de Estado. E a grande tragédia é que as famílias das vítimas da violência policial ficam o tempo todo querendo provar que os filhos não eram bandidos.
- Por que um manifesto agora?
- Para denunciar que nós já somos alvos de um poder fascista institucionalizado. Que o fascismo não é formado só por grupos paramilitares e milícias, mas está sendo operado dentro das instituições. Não é a toa que o Bolsonaro quer se apropriar da Polícia Federal, não é à toa que ele indicou o atual procurador geral da República fora da lista tríplice. Eles estão dominando toda a estrutura institucional para operar uma perseguição política. E isso talvez seja tão grave e pouco perceptível quanto milícias e grupos paramilitares. Os próprios policiais antifascismo vem sendo atacados.
- Como?
- No Rio Grande do Norte, um integrante do movimento postou um vídeo dizendo que iria monitorar as chamadas carreatas da morte, em apoio ao governo, para identificar os cidadãos que estivessem desobedecendo o decreto da governadora que determinava o isolamento social. Ele se tornou alvo de uma investigação do Ministério Público, cujo procedimento preparatório tem 600 páginas, nos acusa de ser um grupo paramilitar e traz foto, endereço e telefones de dezenas de policiais antifascismo. Isso lembra os piores momentos dos anos de chumbo e de sua polícia política. No Rio Grande do Sul, um deputado do PSL representou contra um policial antifascismo porque ele fez postagens de apoio aos movimentos antifascistas locais.
- Como surgiu o Movimento dos Policiais Antifascismo?
- Eu era membro da Leap [Law Enforcement Against Prohibition, organização internacional anti-proibicionista] e volta e meia era convidado para participar de debates com estudantes. E fui, pela primeira vez, convidado por um grupo de policiais da Bahia. Lá, descobri um tesouro: um coletivo sindical de policiais formado por pessoas com história no movimento negro e no movimento estudantil. Quis levar eles pra Leap, mas nosso diálogo se tornou muito mais amplo, que envolvia problemas com as estruturas arcaicas dos operadores da segurança. Temos duas instituições, as polícia civil e militar, uma trabalhando com um modelo de investigação cartorial, outra que para gente na rua com arma na cara. Pensamos em um movimento de policiais progressistas, mas não queríamos usar democracia porque todos os problemas que a gente enxergava tinham sido mantidos com a redemocratização. Então ser a favor da democracia não nos dizia nada. Escolhemos policiais antifascismo. E é curioso o impacto que nossa presença gera em atos e encontros. As pessoas fazem fila para tirar fotos conosco. Eu brinco que me sinto como as princesas da Disney (risos). Mas é porque existe um anseio de que os policiais consigam se libertar das amarras de reprodução de um modelo que não interessa a ninguém, apenas ao poder político corrompido.
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”Produção de veículos cai 90,8% em maio e montadoras reveem projeções” - A alta de 9,4% prevista no início do ano para a venda de veículos virou queda de 40%. Após quase três meses sem produzir e com emplacamentos pífios, a Anfavea (associação das montadoras) revisou suas projeções para 2020. O mês de maio termina com 43.080 veículos produzidos, um crescimento ilusório de 2.232% em relação a abril, o pior mês da história moderna da indústria automotiva nacional. A comparação com maio de 2019, dado que reflete a realidade do mercado, indica uma queda de 90,8% na fabricação de carros de passeio, veículos comerciais leves, ônibus e caminhões. Os números foram divulgados nesta sexta (5) pela Anfavea. Algumas fábricas voltaram a produzir em diferentes datas de maio, enquanto outras retornam ao longo de junho. O ritmo está mais lento, em um turno, e as empresas se adequam aos novos protocolos de segurança sanitária. As vendas começam a reagir. A primeira semana de junho registra média de 4.000 unidades comercializadas por dia útil. É quase o dobro do alcançado nos últimos dois meses. Entretanto, com 62 mil veículos emplacados, o setor viveu o pior maio desde 1992, com queda de 74,7% em relação ao mesmo período de 2019. Nem todos os Detrans estão funcionando plenamente, o que deve ocorrer ao longo de junho. Por isso se espera uma alta expressiva neste mês, embora ainda muito distante do registrado em janeiro e fevereiro. No acumulado do ano, há queda de 37,7% nos emplacamentos. São 400 mil unidades a menos que o registrado nos primeiros cinco meses de 2019. Os estoques ainda são suficientes para 97 dias de vendas. Há 200 mil carros parados nos pátios das montadoras e nas concessionárias.
O impacto da paralisação das fábricas é mais sentido pelos fornecedores. Antonio Azevedo, fundador da LogiGo Mobility, afirma que a demanda por produtos cessou. A empresa fornece equipamentos tecnológicos como centrais multimídia com inteligência artificial. “São três meses sem faturamento, outros fornecedores passam pela mesma situação, e as montadoras estão usando seu poder econômico para postergar pagamentos”, diz Azevedo. Segundo o empresário, faturas que antes eram pagas em cinco dias agora têm prazos de até dois meses. Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, afirma que a preocupação com os fornecedores foi manifestada pela entidade desde o início da pandemia e que as fabricantes de veículos também passam por um momento difícil. “As montadoras estão com uma redução de 80% a 90% por mês nas suas receitas.” Segundo Moraes, é preciso urgência para implementar o Programa Emergencial de Acesso a Crédito, criado por meio da Medida Provisória 975. A iniciativa prevê um fundo garantidor de R$ 20 bilhões para empréstimos tomados por pequenas e médias empresas nacionais de diferentes ramos. A saúde financeira dos fornecedores será fundamental para a reordenação do setor automotivo. As empresas precisarão voltar a investir na produção nacional de componentes, mudando o mapa globalizado de fluxo de peças que até então era a tônica dos investimentos no século 21.
Segundo Marcus Ayres, sócio-diretor da consultoria Roland Berger, a tendência que se desenha com o choque de realidade da pandemia é a ‘glocalização’, que mescla a produção local com a importação de alguns componentes. A estratégia busca reduzir os problemas causados pela interrupção do fornecimento de peças seja por questões políticas, econômicas ou de saúde. “É menos uma estratégia de proteção do mercado e mais uma estratégia de controle de riscos”, diz Ayres. O consultor lembra que a cadeia de fornecedores é bastante fragmentada, com 3/4 das empresas sendo de pequeno e médio porte. “Um agravante disso é que elas têm, em média, dois meses de robustez financeira para suportar uma crise.” Além dos problemas internos, as montadoras instaladas no Brasil veem a crise travar as exportações. Apenas 3.900 veículos foram enviados ao exterior em maio, uma queda de 91% em relação ao mesmo período de 2019. É o pior resultado para o mês desde 1972 e o pior acumulado dos últimos 18 anos. O nível de empregos se mantém estável, com 125 mil funcionários empregados nas montadoras. Cerca de dois terços dos funcionários seguem afastados dos postos de trabalho, seja em férias coletivas ou abrangidos por programas de proteção ao emprego.
PAINEL S.A. - ”Caoa Chery inicia exportação ao Paraguai na pandemia”
PAINEL S.A. - ”Em almoço com Bolsonaro, empresários levam preocupação com país pós-pandemia”: Cada vez mais próximo de Bolsonaro, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf levou um pequeno grupo de empresários para almoçar com o presidente em Brasília nesta sexta-feira (5). No encontro, nomes como Rubens Ometto (Cosan) e Flávio Rocha (Riachuelo), levaram ao presidente a preocupação do setor privado com o ambiente que ficará no país após a pandemia. A questão dos protestos e a polarização passou longe da pauta dos empresários. O pedido foi para resgatar a agenda de reformas. Também participaram do encontro Luiz Carlos Trabuco (Bradesco), Rubens Menin (MRV), Cândido Pinheiro (Hapvida), Fernando Queiroz (Minerva Foods) e Jean Jereissati (Ambev), que fazem parte do Diálogo Pelo Brasil, o grupo de 50 empresários que Skaf reuniu para organizar as conversas com o governo. O ministro Paulo Guedes também foi.
PAINEL S.A. - ”Ford reduz prestação pela metade para estimular compra de carro na pandemia”
PAINEL S.A. - ”Gusttavo Lima paga à vista iate que comprou de Roberto Carlos”
PAINEL S.A. - ”Empresa de logística VLI faz nova rodada de doações na pandemia”
CIFRAS & LETRAS - ”Obras explicam dimensão econômica que levou às mortes de Floyd e Miguel”
”Pesca artesanal de tainha em SC troca coletivo pela distância”
”Morre o economista Carlos Lessa, ex-presidente do BNDES, de Covid-19”
MARCOS MENDES - ”Auxílio aos pobres, fazendo contas”
”Entidades empresariais divulgam manifesto e pedem fim de polarização para enfrentar crise” - Foi divulgado nesta sexta-feira (5) manifesto de várias entidades empresariais organizado pelo Instituto Ethos, Instituto Capitalismo Consciente Brasil, Ideia Sustentável e Sistema B. O documento, que foi liberado para receber assinaturas de representantes do mundo corporativo, pede que lideranças empresariais se ergam acima das divergências e polarizações em busca de união para enfrentamento da crise de tripla dimensão que afeta o país: sanitária, econômica e política. Diz também que o governo federal, os governos estaduais e municipais devem abandonar disputas estéreis e implementar, urgentemente, ações conjuntas, seguindo orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde) e da ciência que têm orientado todos os países no enfrentamento da pandemia. “Conclamamos, portanto, que as lideranças empresariais deste país se ergam acima das divergências que nos separam e ajudem de forma integral e presente na construção de um projeto para um Brasil justo, sustentável, próspero, democrático, altivo e generoso”, diz o documento. “Nosso compromisso é com uma democracia, uma sociedade, uma livre economia e um projeto de país que reduza as desigualdades, erradique a pobreza e preserve o meio ambiente; um país em que possamos nos reconhecer e nos unir como nação.” “Não queremos mais perder tempo em debates improdutivos, em polarizações destruidoras, tampouco aceitamos qualquer ataque à democracia, à Constituição Federal e ao Estado Democrático de Direito”, diz o manifesto.
”Brasil vai na contramão da quarentena e vê explosão de mortes por Covid-19”
”'Acabou matéria no Jornal Nacional', diz Bolsonaro sobre atraso em divulgação de boletim da Covid-19” - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) defendeu nesta sexta-feira (5) o atraso da divulgação dos boletins do Ministério da Saúde sobre o avanço do coronavírus no Brasil e disse que, com a mudança de horário das 19h para as 22h, “acabou matéria no Jornal Nacional”. Ele também se referiu à Rede Globo, que veicula o Jornal Nacional, como “TV funerária”. As declarações ocorreram na porta do Palácio da Alvorada e foram transmitidas pela CNN Brasil. Na época do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, demitido em 16 de abril, o Ministério da Saúde costumava publicar os boletins da Covid-19, com informações como número de infectados, óbitos e casos em acompanhamento, às 17h. Na gestão de Nelson Teich, a divulgação passou a ser às 19h. Na quarta-feira (3) e na quinta-feira (4), o Ministério da Saúde só divulgou o boletim às 22h, alegando problemas técnicos. Nesses dois dias, o Brasil bateu recordes no número de óbitos computados em um dia: 1.349 na quarta e 1.473 na quinta. O Jornal Nacional, que começa às 20h30, informou que passaria, então, a usar o balanço das secretarias estaduais de Saúde. Questionado sobre o tema na noite desta sexta, Bolsonaro não confirmou ter dado a ordem para que a divulgação dos números ocorresse depois da exibição do Jornal Nacional e disse que, com o novo horário, os dados saem “mais consolidados”.
“É para pegar o dado mais consolidado. E tem que divulgar os mortos no dia. Por exemplo, parece que dois terços dos mortos eram de dias anteriores, o mais variado possível. Tem que divulgar os do dia. O resto consolida pra trás”, defendeu o mandatário. Bolsonaro se referiu à metodologia da informação de óbitos em 24 horas. O dado traz o número de registros compilados nas últimas 24 horas, e há casos de pessoas que morreram em dias anteriores mas cujos testes só ficaram prontos e foram computados na data da divulgação. O presidente, porém, citou o telejornal e disse que o governo “não tem que correr para atender a Globo”. “Tem que saber quem perdeu a vida por causa da Covid ou com Covid. Às vezes a pessoa tem dez comorbidades, 94 anos, e pegou o vírus. Potencializa. A Globo, o Jornal Nacional, gosta de dizer que o Brasil é recordista em mortes. Falta, inclusive, seriedade. Bota mortes por milhão de habitante. É como querer comprar morte do Brasil, que tem 200 milhões de habitantes, com país que tem 10 milhões de habitantes." Questionado sobre se a ordem de atrasar a publicação saiu do Palácio do Planalto, Bolsonaro respondeu: “Não interessa de quem partiu, é justo sair às 22h, é o dado completamente consolidado. Muito pelo contrário, não tem que correr para atender a Globo”. “[É] o horário adequado. Se ficar pronto às 21h, tudo bem. Mas não vai correr às 18h para atender a Globo, a TV funerária. Consolida com clareza, precisão, data certinho”, concluiu.
Nesta sexta (5), o Ministério da Saúde informou pelo terceiro dia consecutivo que o boletim só seria divulgado às 22h. A pasta afirmou que compila informações fornecidas pelas secretarias estaduais e municipais de saúde. “Assim, a pasta analisa e consolida os dados, sendo que em alguns casos há necessidade de checagem junto aos gestores locais. Desta forma, o Ministério da Saúde tem buscado ajustar a divulgação dos dados, que são publicados diariamente na plataforma covid.saude.gov.br”, afirmou o ministério. A Globo divulgou uma nota sobre as declarações de Bolsonaro, lida na edição do Jornal Nacional desta sexta. "O público saberá julgar se o governo agia certo antes ou se age certo agora. Saberá se age por motivação técnica, como alega, ou se age movido por propósitos que não pode confessar mais claramente. Os espectadores da Globo podem ter certeza de uma coisa: serão informados sobre os números tão logo sejam anunciados. Porque o jornalismo da Globo corre sempre para atender o seu público.” Após a divulgação dos dados pelo ministério, já após o fim do Jornal Nacional, o Plantão da Globo, com o apresentador William Bonner, entrou no ar durante a novela das 21h. "Plantão Globo" se tornou o assunto mais comentados no Twitter logo após a transmissão das informações. O nome do jornalista William Bonner, âncora e editor-chefe do telejornal, também é um dos termos mais compartilhado na rede.
Ao Jornal Nacional, o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que, se os atrasos persistirem, o Legislativo pretende criar um sistema próprio com as secretarias locais de saúde para garantir a publicidade dos números. "A Câmara dos Deputados com certeza vai trabalhar com os estados e a sociedade civil. Nós temos que organizar de algum jeito as informações para a sociedade. O ideal é que o governo restabeleça isso o mais rápido possível. Espero que nos próximos dias o Ministério da Saúde compreenda que informar é fundamental para a sociedade brasileiro. Principalmente num mundo tecnológico, a gente omitir informação parece que é um erro muito grande", afirmou Maia. À noite, pelas redes sociais, o ministro Bruno Dantas, do TCU (Tribunal de Contas da União) sugeriu que o tribunal e também os órgãos estaduais correlatos passem a consolidar as informações por causa das "novas dificuldades para divulgar dados nacionais de infectados, curados e óbitos da Covid-19"; "As instituições devem ajudar", escreveu ele. "Cogito propor ao @TCUoficial e aos tribunais de contas estaduais que requisitemos e consolidemos dados estaduais para divulgação diária até 18h".
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”Prefeito que empregava mãe de menino Miguel como doméstica a mantinha como funcionária municipal” - O nome da mãe do garoto Miguel Otávio Santana da Silva, 5, que morreu depois de cair do 9º andar de um prédio no centro do Recife, nesta terça-feira (2), figura no quadro de servidores da Prefeitura de Tamandaré, no litoral sul de Pernambuco, desde 2017. Mirtes Renata de Souza trabalhava havia quatro anos como empregada doméstica na casa do prefeito do município, Sérgio Hacker (PSB), e da primeira-dama, Sari Côrte Real, localizada no Recife. Na terça-feira (2), a Polícia Civil de Pernambuco prendeu Sari em flagrante por homicídio culposo após ela deixar o filho de Mirtes sozinho no elevador, de onde ele se deslocou até um andar mais alto, escalou um buraco de ar condicionado, caiu e morreu. Sara foi liberada no mesmo dia depois pagar fiança no valor de R$ 20 mil. Nesta sexta (5), a Promotoria de Justiça de Tamandaré instaurou um inquérito civil com a finalidade de apurar possível prática de improbidade administrativa do prefeito Sérgio Hacker. O Ministério Público constatou, por meio de busca no portal da transparência municipal, que Mirtes figura na folha de pagamento do município desde fevereiro de 2017. Ela recebe um salário mínimo e está lotada no setor de manutenção de atividades de administração. A Promotoria de Justiça de Tamandaré expediu ofício requisitando à chefia de gabinete da prefeitura para que informe, no prazo de três dias úteis, dados funcionais sobre a servidora, como cargo, função, método de controle de ponto, local de lotação, dentre outros.
Em entrevista ao UOL, nesta sexta (5), Mirtes disse que recebia o salário das mãos dos patrões e não sabia que seu nome constava na folha de pagamento da Prefeitura de Tamandaré. "Estou surpresa com essa informação. Eu trabalhava na casa deles. A minha mãe também ia quando a família ia para Tamandaré. A gente se revezava em cuidar da casa e das crianças", declarou. A Prefeitura de Tamandaré declarou que só vai falar sobre o assunto na próxima semana. Em nota, afirmou que o prefeito Sérgio Hacker se encontra profundamente abalado e que, no momento próprio e de forma oficial, prestará informações aos órgãos competentes. Mirtes trabalhava na casa da suspeita e levou o filho, Miguel, ao local de trabalho por não tinha com quem deixá-lo. Escolas e creches estão fechadas devido à pandemia do novo coronavírus, e a mulher continuava trabalhando para o casal apesar da alta incidência da doença em Recife. O próprio Hacker anunciou em abril que estava infectado pelo novo coronavírus. De acordo com as investigações da polícia, Mirtes havia descido para levar a cadela da família para passear e deixado o filho sob os cuidados da patroa. Depois disso, a criança saiu do apartamento e tomou o elevador desacompanhada. Os policiais analisaram imagens do circuito interno do condomínio e verificaram que a proprietária do apartamento permitiu que a criança de cinco anos entrasse sozinha no elevador.
O delegado Ramon Teixeira, que preside o inquérito, afirmou que o menino primeiro tentou sair do apartamento, e a mulher o repreendeu. Em nova tentativa, relatou o delegado, a criança retornou ao elevador e nada foi feito para impedir. Os investigadores afirmam que as imagens de circuito interno mostram a mulher observando o menino entrar no elevador no 5º andar e registram o momento em que ela apertou o botão para a cobertura. Ainda segundo o vídeo, na presença de Côrte Real, Miguel acionou os botões do 7º e do 9º andar. A porta do elevador então se fecha e ele sobe desacompanhado, primeiro até o 7º andar, sem desembarcar, e depois até o 9º andar. Após deixar o elevador, Miguel subiu em uma caixa em que havia condensadores de aparelhos de ar-condicionado. Em seguida, de maneira acidental, segundo as investigações, ocorreu a queda, porque o local não estava devidamente protegido. O garoto caiu de uma altura de 35 metros. Os investigadores afirmam que, naquele momento, o menino gritava pela mãe, que passeava com o cadela na avenida em frente ao edifício Píer Duarte Coelho, mais conhecido no Recife como Torres Gêmeas. Ao retornar ao prédio, alertada pelo porteiro, Mirtes encontrou o filho estirado no chão, gravemente ferido. “A responsabilidade legal naquela circunstância era da moradora. A criança permaneceu e estava sob a sua responsabilidade", disse o delegado. "Ela tinha o poder e o dever de cuidar da criança e impedir, em última análise, o trágico resultado que adveio de uma tragédia."
”Patroa da mãe de Miguel pede perdão em carta aberta” - Sarí Gaspar Côrte Real, patroa da mãe do garoto Miguel Otávio Santana da Silva, 5, que morreu nesta terça-feira (2) após cair do 9º andar de um prédio no Recife, pediu perdão em carta aberta. O menino estava aos cuidados da patroa, enquanto sua mãe, Mirtes Renata de Souza, saíra para passear com a cadela da família. “Te peço perdão. Não tenho o direito de falar em dor, mas esse pesar, ainda que de forma incomparável, me acompanhará também pelo resto da vida”, escreve Sarí para a mãe do menino. Ela diz que está sendo condenada pela opinião pública. “As redes sociais potencializam o ódio das pessoas. Tenho certeza que a Justiça esclarecerá a verdade.” Em outro trecho, afirma que reza muito para que Deus possa amenizar o sofrimento de Mirtes e confortar o seu coração. “Na nossa casa, sempre sobrou carinho e amor por você, Miguel e Martinha. E assim permanecerá eternamente.” Sarí escreve que não há palavras para descrever o sofrimento da perda irreparável. “Como mãe, sou absolutamente solidária ao seus sofrimento. Miguel é e sempre será um anjo na sua vida e na sua família. A criança morreu nesta terça-feira (2) após cair do nono andar do edifício residencial Píer Duarte Coelho, mais conhecido como Torres Gêmeas, no bairro de São José. Sarí Côrte Real permitiu que ele entrasse no elevador sozinho.
A Polícia Civil de Pernambuco prendeu Sarí em flagrante por homicídio culposo após ela deixar que o menino se deslocasse até o andar mais alto, onde escalou um buraco de ar condicionado, caiu e morreu. Após pagamento de fiança no valor de R$ 20 mil, Sarí foi liberada. Investigadores afirmam que as imagens de circuito interno mostram a mulher observando o menino entrar no elevador no 5º andar e registram o momento em que ela apertou o botão para a cobertura. O menino, segundo o vídeo, acionou os botões do 7º e do 9º andar, onde desembarcou. No início da tarde desta terça-feira, uma pergunta reverberou nas ruas do Recife durante ato de protesto contra a morte do garoto: “E se fosse ao contrário?”. Os manifestantes se concentraram em frente ao Tribunal de Justiça de Pernambuco, no centro do Recife. Com cartazes que pediam justiça, seguiram em marcha até o prédio, também na área central da cidade. Algumas pessoas se deitaram no chão e repetiram que “não foi um acidente”. Em frente ao edifício, gritaram a palavra “assassina”. Alguns vestiam uma camisa com uma imagem do garoto. Em entrevista à Rede Globo, a mãe do garoto disse que confiou o filho à patroa e que esta não teria tido a paciência para retirá-lo do elevador. “Se fosse ao contrário, eu não teria direito à fiança. É uma vida que se foi por falta de paciência. Não se deixa uma criança sozinha dentro de um elevador”, disse. O nome de Mirtes Renata Souza, mãe de Miguel, consta no quadro de servidores da Prefeitura de Tamandaré, no litoral sul de Pernambuco, desde 2017. Ela trabalhava havia quatro anos como empregada doméstica na casa do prefeito do município, Sérgio Hacker (PSB), e da primeira-dama, localizada no Recife.
Em entrevista ao UOL, nesta sexta (5), Mirtes disse que recebia o salário das mãos dos patrões e se disse surpresa com a informação. A Promotoria de Justiça de Tamandaré instaurou um inquérito civil com a finalidade de apurar possível prática de improbidade administrativa do prefeito Sérgio Hacker no caso da nomeação de Mirtes. A Prefeitura de Tamandaré declarou que só vai falar sobre o assunto na próxima semana. Em nota, afirmou que o prefeito se encontra profundamente abalado e que, no momento próprio e de forma oficial, prestará informações aos órgãos competentes. No fim da tarde, o PSB comunicou em nota que o partido dfende a apuração do caso pelos órgãos de controle e que qualquer ato ilícito seja punido. Mirtes trabalhava na casa da suspeita e levou o filho, Miguel, ao local de trabalho por não tinha com quem deixá-lo. Escolas e creches estão fechadas devido à pandemia do novo coronavírus, e a mulher continuava trabalhando para o casal apesar da alta incidência da doença em Recife. O próprio Hacker anunciou em abril que estava infectado pelo novo coronavírus. “A responsabilidade legal naquela circunstância era da moradora. A criança permaneceu e estava sob a sua responsabilidade", disse o delegado responsável pelo caso. "Ela tinha o poder e o dever de cuidar da criança e impedir, em última análise, o trágico resultado que adveio de uma tragédia."
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MÔNICA BERGAMO - ”Ministério da Saúde só desembolsou 10% do total para ações contra a Covid-19”: Ministério da Saúde só conseguiu desembolsar até agora cerca de 10% do total de que tem disponível para ações como compra de respiradores, equipamentos de proteção e insumos para o enfrentamento da Covid-19. De R$ 10,3 bilhões no caixa, só R$ 1 bi foi pago. Outros R$ 1,8 bilhão já foram contratados, mas ainda não pagos. O dinheiro faz parte de uma verba de R$ 34,5 bilhões destinada ao Ministério da Saúde exclusivamente para o combate à epidemia. Além dos R$ 10,3 bi de execução direta, há R$ 24 bi que a pasta deve transferir para estados e municípios. Destes, só R$ 7,8 bi foram pagos. Os dados são da Cofin, a comissão do Conselho Nacional de Saúde, vinculado ao ministério, que acompanha a execução do orçamento. “O que chama escandalosamente a atenção é que, no meio de uma crise inédita, não haja planejamento adequado para realizar gastos urgentes. As contratações já deveriam estar sendo executadas e os equipamentos, entregues ou em vias de chegar ao destino”, diz o economista Francisco Funcia, da Cofin.
MÔNICA BERGAMO - ”Projeções de Mandetta mostram que Brasil passará de 100 mil mortos por Covid-19 até agosto”
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MÔNICA BERGAMO - ”Livro de escritora turca é adquirido pela Harper Collins e será lançado no Brasil”
MÔNICA BERGAMO - ”Centrão no Senado já busca nomes para o lugar de Weintraub no MEC”
MÔNICA BERGAMO - ”Deputada que invadiu hospital de campanha mostrou desconforto com doar salário para Covid-19”
 
CAPA – Manchete principal: ”Ministério vai recontar mortos pela Covid-19”
EDITORIAL DO GLOBO - ”Supremo deve firmar seu peso constitucional”: Não se deve tirar a importância de acenos de trégua de Bolsonaro para o Supremo. Um motivo para o presidente abaixar o tom é que tramitam no Judiciário assuntos de seu interesse. Um deles, o inquérito das fake news, aberto no STF, é conduzido por Alexandre de Moraes, e terá seu destino julgado na quarta-feira, em um processo instaurado a pedido do partido Rede, que questiona a forma como as investigações foram abertas: por decisão do próprio presidente da Corte, sem ouvir o Ministério Público, tendo designado Alexandre de Moraes, sem sorteio, para presidi-las. Toffoli se valeu do regimento interno do Supremo para tomar essas decisões, a fim de averiguar ataques à Corte e ameaças aos ministros em redes sociais, meio em que o bolsonarismo radical trafega. A situação esdrúxula de uma Corte investigar, denunciar e julgar levou o Rede a recorrer contra o inquérito por “vícios” na sua abertura, também contestada pelo MP. Mas a crise institucional cresceu, e no avanço de Bolsonaro contra a Constituição foi ficando claro que a usina de fakenews e a provável adesão de empresários a este projeto de “ruptura”, como diz o deputado Eduardo, o “03”, poderiam sinalizar a existência de uma organização criminosa: blogueiros, disparadores de notícias falsas contra pessoas e instituições, manifestações periódicas pela volta da ditadura, todo um complexo financiado por gente que tem dinheiro. Seja como for, os primeiros mandados de busca e apreensão expedidos por Moraes irritaram o Planalto. Visaram a blogueiros e deputados bolsonaristas, e a empresários próximos ao presidente (Luciano Hang, um deles). E o novo aliado do presidente, Roberto Jefferson (PTB), ex-mensaleiro e ex-presidiário. O inquérito se transformou na ação mais efetiva até agora de defesa do estado democrático de direito. Augusto Aras, procurador-geral da República, que inicialmente dissera que o inquérito era legal, pediu, depois daquelas diligências despachadas por Moraes, que o julgamento da ação do Rede fosse marcado, e que as investigações fossem suspensas até lá. Recuou, mas na quarta-feira deverá propor regramentos ao inquérito e a entrada do MP no processo. O procurador-geral pediria ainda que eventuais denunciados com foro privilegiado — parlamentares, por exemplo —, sejam separados dos demais, que seriam processados na primeira instância. A manobra repetiria a de Márcio Thomaz Bastos, ex-ministro da Justiça do PT, advogado no mensalão, que tentou desmembrá-lo, para dificultar a configuração de todo o esquema como “organização criminosa”. Este julgamento, em que se espera a sacramentação do inquérito, vai ser uma oportunidade para o plenário do STF dar uma demonstração de unidade, não apenas em desagravo a Moraes, mas para firmar a determinação constitucional de que a Corte é a instância máxima para decidir sobre qualquer conflito, mesmo que envolva pessoas poderosas, políticos, altos funcionários públicos e até parentes do presidente, que teriam sido identificados em algumas das investigações.
”O tamanho da barganha – O governo já entregou mais de 300 cargos a indicações políticas” - Omovimento do governo de entregar ao centrão cargos de postos-chave do Executivo expôs a gestão de Jair Bolsonaro a duplo desgaste. Além da fragilidade no discurso pela composição com o grupo político atacado no passado pelo presidente e seus aliados mais próximos, o Planalto agora tem de se submeter a avaliar indicações de políticos envolvidos na Lava-Jato e no mensalão — um dos principais articuladores dessa aproximação, o deputado Arthur Lira (PP-AL) foi denunciado ontem à Justiça por corrupção passiva. Dados obtidos pelo GLOBO junto a aliados do governo dão a dimensão da disposição em abrir a administração federal a indicações políticas. Desde julho do ano passado, parlamentares já pediram a nomeação para mais de 700 cargos federais — em 325 deles, ou 45% dos casos, o pleito foi atendido. Cerca de 200 foram rejeitados pelo governo, e o restante ainda aguarda aprovação. As nomeações no ano passado costumavam ocorrer para cargos menores. Mais recentemente, o governo ampliou a aproximação com o centrão, permitindo que entrassem nas negociações postos que cuidam de orçamentos mais robustos. No recorte dos últimos dois meses, o governo recebeu 88 pedidos de nomeações de parlamentares, dos quais só 11 deles foram atendidos após análise do Palácio do Planalto.
Algumas delas são emblemáticas. O Banco do Nordeste (BNB), com um presidente que durou um dia nesta semana, é um símbolo dessa relação conflituosa. O PL tentou emplacar três nomes no banco desde o início do governo. Um deles era o analista do Banco Central Flávio Cals Dolabella, acusado por um delator da Odebrecht de receber propina para vazar documentos sigilosos. O governo acabou nomeando Alexandre Borges Cabral, indicado do PTB. Houve reclamação do ex-deputado Valdemar Costa Neto, condenado no mensalão, que controla o PL. O “Estado de S. Paulo” revelou em seguida que o Tribunal de Contas da União (TCU) investiga suspeitas de irregularidades em contratações quando Cabral presidiu a Casa da Moeda. O governo, então, decidiu pela exoneração um dia após a nomeação. Segundo aliados, o governo estabeleceu um método para aprovar indicações. A primeira fase da análise prévia é do currículo do apadrinhado e de checagem da existência de vagas nos órgãos. Nesta etapa, que tem como base dados abertos, a equipe do governo responsável pelo filtro já encontrou incongruências, como pessoas com mais de um CPF válido. Após este passo feito pela Secretaria de Governo (Segov), os nomes são levados aos ministérios para que sejam inseridos no sistema de checagem. Cada pasta é responsável por inserir os dados. Muitas vezes, nessa etapa, há um atraso de vários dias. Depois, os nomes passam por uma triagem da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
CONSÓRCIO PARA NOMEAR
Os novos termos na relação com o centrão foram definidos após apresentação feita pela equipe da Segov a Bolsonaro, no Palácio da Alvorada, em fevereiro desse ano. O presidente ouviu que os cargos já eram ocupados com indicações do grupo na gestão de Onyx Lorenzoni na Casa Civil, mas sem controle direto por parte do governo dos índices de votação no Congresso, por exemplo. Segundo envolvidos nas negociações, havia cargos que ainda estavam com o PT, mesmo o partido tendo deixado o poder em 2016. Um requisito imposto pelo governo, porém, é que o centrão não poderá ter acesso às secretarias financeiras e jurídicas das estatais, que serão comandadas por nomes do presidente. A indicação para comandos de ministérios, por enquanto, estão fora de jogo, mas o centrão criou uma espécie de “consórcio” entre PL, PP, PSD e Republicanos. O grupo define entre si as Foi exonerado após um dia como presidente do Banco do Nordeste. Investigação no TCU apura desvio de R$ 2,2 bilhões quando chefiava a Casa da Moeda indicações para cargos — que podem ser acatadas ou não, como aconteceu no Banco do Nordeste. O grupo já conseguiu controle sobre órgãos importantes. O PP de Arthur Lira emplacou no comando do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que tem orçamento de R$ 54 bilhões, Marcelo Lopes da Ponte, chefe de gabinete do senador Ciro Nogueira (PPPI), outro réu na Lava-Jato. O partido também emplacou Fernando Leão na diretoriageral do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs), posto cobiçado historicamente por políticos do Nordeste. Há nomeações do grupo também para a secretaria de Mobilidade do Ministério do Desenvolvimento Regional, a Fundação Nacional de Saúde e a secretaria de Vigilância do Ministério da Saúde, sendo este último um posto da linha de frente no combate à Covid-19.
TERCEIRO ESCALÃO
Logo antes da exoneração de Cabral, o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, disse em entrevista à rádio Bandeirantes que a média de aprovação de nomes sugeridos por políticos é de 50%. Ele disse, porém, que no serviço público processos são comuns, mesmo quando a pessoa “pode não ter culpa de nada”. Apesar de a participação direta de Bolsonaro na aproximação com o centrão ser recente, Ramos negocia cargos com o grupo desde o segundo semestre do ano passado, quando entregou dezenas de nomeações de terceiro escalão. Os postos, no entanto, eram menos relevantes do que os tratados agora. Procurado, o ministro afirmou que a Secretaria de Governo aperfeiçoou critérios para averiguar o currículo do indicado político, o que geraria insatisfação entre os parlamentares.
—Esse é um dos principais pontos de tensão na relação com deputados e senadores, que as pessoas não entendem. Agora existe um processo criterioso, previsto em lei, que se diferencia de governos anteriores —diz.
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”Apoio a manifestações de rua amplia as divisões na esquerda” - O apoio do PT e de membros do PSOL às próximas manifestações em defesa da democracia e contra o presidente Jair Bolsonaro aprofundou a divisão nos partidos de esquerda. Legendas como PSB, PDT, Rede, PCdoB e Cidadania aconselharam as pessoas a não irem para as ruas por causa da pandemia. Inicialmente, havia consenso entre líderes dos partidos de esquerda sobre os riscos da Covid-19 e também de que a eventual violência dos atos poderia ajudar a fortalecer o discurso de Bolsonaro sobre o uso inclusive das Forças Armadas na repressão a atos futuros. O senador Jaques Wagner (PT-BA), vice líder no Senado, chegou a assinar uma nota conjunta com outras siglas que não recomendavam a participação nos atos. O PT, no entanto, divulgou uma nota posterior apoiando as manifestações. O partido disse que Wagner não tinha conhecimento da posição. Parlamentares afirmam que a legenda acabou cedendo à pressão de movimentos sociais. O PT diz que não irá convocar pessoas e nem participar formalmente, mas defende a legalidade dos atos e apenas recomenda cuidados como a utilização de máscaras. O presidente do PSB nacional, Carlos Siqueira, criticou a postura do PT:
— É uma posição que me parece equivocada. Nesse momento temos que ter responsabilidade com a vida das pessoas —afirmou.
Na tarde de ontem, o PSB divulgou nota com o alerta de que “não é hora de tomar as ruas” em razão da disseminação da Covid-19. O presidente do PDT, Carlos Lupi, foi no mesmo tom.
—O PT tem suas posições. Mas a gente fica incoerente se incentiva as manifestações ao mesmo tempo que cobra do Bolsonaro o respeito ao isolamento social.
Uma das vozes mais contundentes na oposição a Bolsonaro, o governador Flávio Dino (PCdoB-MA) também se disse contrário à presença em atos de rua.
— A nossa posição é de resistência democrática em relação ao governo, mas sabemos que agora não é o momento adequado de ir para a rua —disse Dino.
No PSOL, o ex-candidato à presidência Guilherme Boulos, que lidera o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), anunciou Protesto do domingo passado reuniu membros de torcidas organizadas na Avenida Paulista, em São Paulo participação nos próximos atos na cidade de São Paulo. Boulos esteve inclusive na reunião convocada ontem pela Polícia Militar com o objetivo de separar as manifestações contra e a favor do presidente, inicialmente marcadas para o mesmo dia. Durante a semana, o governador João Doria havia proibido a realização de atos de espectros ideológicos diferentes em local e horário idênticos, a fim de evitar confrontos. Até a noite, não havia uma definição para o impasse. À parte da política institucional, uma série de manifestos surgiu na internet nos últimos dias em defesa da democracia. Pelo menos três deles —o Basta!, formado por juristas, o Estamos Juntos e o Somos 70% — também se opuseram à participação nos atos. — Respeitamos aqueles que vão às ruas, mas somos a favor do isolamento social e obedecemos a ciência — diz Sergio Renault, um dos representantes do Basta!. Há ainda um outro movimento formado por intelectuais, alguns deles da USP, que tem divulgado um texto com um aviso para uma manifestação na semana que vem. O grupo não tem lideranças, prefere o anonimato e diz que foi criado para ajudar na organização de atos em defesa da democracia.
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”Caso Miguel pode ser tipificado como homicídio doloso” - A morte de Miguel Otávio Santana da Silva, de 5 anos, que caiu do 9º andar de um prédio de luxo no Centro de Recife, pode ser tipificada como homicídio doloso. O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil em Pernambuco (OAB-PE), Bruno Baptista, que criou uma comissão para acompanhar o caso, defendeu ontem que o dolo eventual, quando a pessoa assume o risco de produzir um resultado, deve ser ser avaliado como linha de apuração, assim como abandono de incapaz
— Uma das linhas de investigação deve levar em conta o fato de a patroa da mãe da criança ter apertado o botão do elevador e deixado a criança sozinha e assumido o risco de algum problema mais grave acontecer —disse.
Sarí Gaspar Côrte Real, patroa da doméstica Mirtes Renata Santana de Souza, mãe da criança, chegou a ser presa em flagrante por homicídio culposo, quando não há intenção e matar, mas foi solta após pagar fiança no valor de R$ 20 mil. No caso de homicídio doloso, a pena é maior e a pessoa é levada ao tribunal do júri. Sarí divulgou ontem uma carta em que pede perdão a Mirtes. Manifestantes realizaram ontem um ato público no Centro de Recife para pedir justiça para a morte do menino. O ato teve início no Tribunal de Justiça de Pernambuco.
CONTRATAÇÃO
O Ministério Público de Tamandaré, em Pernambuco (MP-PE), também instaurou inquérito ontem para investigar irregularidades na contratação de Mirtes como servidora pública do município. O ex-patrão da empregada doméstica, marido de Sarí, Sérgio Hacker Corte Real (PSB), é justamente o prefeito do município. O Tribunal de Contas do Estado (TCE-PE) também iniciou investigações para apurar possível improbidade administrativa. No portal da transparência municipal, Mirtes figura na folha de pagamento desde fevereiro de 2017. O MP requisitou que a prefeitura informe, no prazo de três dias úteis, dados funcionais sobre a servidora. Procurada, a prefeitura de Tamandaré não se manifestou.
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”Pandemia se expande na Amazônia” - Depois de quase três meses de combate à pandemia da Covid-19 no continente, algumas regiões mantêm estado elevado de alerta, entre elas a Amazônia, que se espalha por nove países, incluindo Brasil, Colômbia, Peru, Equador e Bolívia. Nesse enorme território onde vivem centenas de comunidades indígenas, o aumento expressivo de casos é uma realidade, e a preocupação pela vulnerabilidade das populações é cada vez maior entre ONGs locais ouvidas pelo GLOBO. Um dos focos mais delicados é a tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, onde o número de infectados vem crescendo e, nos países vizinhos, sobe a tensão por estar ao lado de um dos epicentros mundiais da pandemia.
PRECARIEDADE SANITÁRIA
Fatores que chamam a atenção nas províncias amazônicas, em relação ao resto de cada país, são ou a alta letalidade local da doença ou o desproporcional número de contágios. No Brasil, o estado do Amazonas já tem mais de 40 mil casos e superou os 2.100 óbitos, com seu sistema de saúde no limite. Entre as 20 cidades com maior taxa de incidência de casos no país, 13 são do Amazonas. Na Colômbia, autoridades e dirigentes políticos garantem que os primeiros casos na cidade de Leticia, separada apenas por uma rua da brasileira Tabatinga, foram importados de Manaus. Em vista disso, no Congresso colombiano, senadores como o liberal Maurício Gómez Amín chamaram a atenção para os riscos que enfrenta a Amazônia local. Em meados de maio, o governo do presidente Iván Duque reforçou a militarização na fronteira.
— Era evidente o enorme risco que existia nessa parte da Colômbia pela proximidade de Leticia com Tabatinga —afirmou o senador. Ele destacou que o novo coronavírus ameaça a existência das comunidades indígenas colombianas, que representam 70% da população do departamento (estado) do Amazonas. Em Leticia, de um total de 48.144 habitantes, dados oficiais indicam que 1.898 pessoas foram infectadas e 65 faleceram. Já em Bogotá, onde vivem 7,4 milhões de colombianos, o número de contagiados foi de 11.250, dos quais 272 foram a óbito.
—A precariedade do lugar é enorme e, por mais que a fronteira esteja militarizada, as pessoas continuam passando —comentou Diego Cardona, coordenador geral da ONG Censat Agua Viva-Amigos da Terra Colômbia. Estas comunidades—como ocorre na vizinha Bolívia—sofrem pela pandemia e, também, por um recorde de queimadas, combinação que acaba elevando o número de pessoas com doenças respiratórias. Tudo isso, num contexto de profunda precariedade sanitária. Quando a crise do coronavírus começou, em Leticia não havia sequer um leito de CTI. Hoje, com a ajuda do governo nacional, cinco pessoas estão internadas em unidades de terapia intensiva. No Peru, dois dos departamentos mais afetados são Loreto e Ucayali, com um número de mortos contabilizados por ONGs e hospitais locais bem superior ao do governo. Enquanto o Ministério da Saúde registra 300 mortos emLoretoe113emUcayali— ambos na fronteira com o Brasil — a ONG CooperAccion indica, respectivamente, 794 e 494.
— Se o país parece estar chegando a um patamar de estabilidade, a região amazônica ainda está longe disso. Lá é muito difícil controlar o vírus —comentou o geógrafo Dionel Martínez, que comanda uma das equipes de investigação na região.
SUBNOTIFICAÇÃO GRANDE
Ele explicou que na Amazônia local, “muitos dos casos de contágio ocorreram pela chegada de pessoas levando ajuda aos indígenas”. Segundo ele, há mais de mil comunidades nativas em distritos amazônicos e em todas há, pelo menos, um caso de Covid-19. Em Loreto, onde vivem 880 mil pessoas (2,7% da população do país), foram registradas 6,5% das mortes por Covid-19 em todo o Peru (4.894). Como em todo o continente, a certeza de que existe uma subnotificação é grande, e especialistas estimam que os números reais poderiam ser até dez vezes superiores aos oficiais. Além disso, a taxa de letalidade local é o dobro da média nacional peruana, atualmente em 2,75%.
—Em Loreto, a taxa de letalidade da Covid é de 5,79%. O fluxo de pessoas na região de fronteira com Colômbia e Brasil é grande. Em nossos mapas, vemos claramente como crescem os contágios à medida que nos aproximamos da tríplice fronteira —relata o geógrafo.
Na Bolívia governada pela presidente interina Jeanine Áñez, os departamentos amazônicos de Beni e Santa Cruz são dois dos mais afetados pela pandemia e pelas queimadas desta época do ano. Beni, que tem menos de 0,5% da população do país (11,5 milhões de habitantes), concentra cerca de 20% das mortes (415) e decretou estado de desastre sanitário.
‘ISOLAMENTO INSUFICIENTE’
Em Santa Cruz, afirmou Marco Garandillas, pesquisador ambiental, já foram confirmados mais de sete mil casos de contágio, de um total de 12.245 em todo o país, sendo que o departamento concentra cerca de 30% da população boliviana. — Foram adotadas medidas de isolamento, mas são insuficientes — informou Garandillas. — A pandemia está se expandido às zonas rurais, que estavam começando a se recuperar de uma epidemia de dengue (mais de 60 mil casos). E tudo isso com um sistema de saúde profundamente limitado.
No Equador, que já tem mais de 40 mil casos de contágio 3 3.486 óbitos confirmados, são escassos os dados oficiais sobre a situação na região amazônica, que representa 48% do território nacional, distribuídos em seis províncias. A taxa de letalidade chegaria a 8,5%, bem maior que a apontada pelo governo, que estaria em cerca de 3,5%. — São regiões onde a pobreza afeta de 80% a 100% da população. São cidades e comunidades isoladas, sem acesso ao sistema de saúde — afirmou Sofia Jarrim, da ONG Amazon Watch. Numa área onde há muitas comunidades nativas, ela acrescenta que “diante da falta de uma política estatal de controle e ajuda, as associações indígenas estão atuando por decisão própria”.
”Trump cita problemas do Brasil no combate à doença”
 
 
CAPA – Manchete principal: ”Ala da Igreja Católica oferece a Bolsonaro apoio em troca de verba”
EDITORIAL DO ESTADÃO - ”O engodo e o embuste na vida pública”: Na vida política, as mentiras costumam ser mais plausíveis do que a realidade, uma vez que o mentiroso tem a vantagem de saber de antemão o que a plateia deseja. Ele prepara sua história para consumo público, de modo a tornála crível. Com isso, a verdade tende a desaparecer da vida pública, corroendo a estabilidade democrática. Esta é a conclusão de um dos ensaios mais discutidos no final da década de 1960, sobre o uso da mentira na política. De autoria da filósofa alemã Hannah Arendt e incluído no seu livro Crises da República, o ensaio discute o embuste e a falsidade deliberada como meios que determinados políticos utilizam para alcançar fins imorais e torpes. Também analisa as estratégias de vazamento de informações e a construção de narrativas que permitam interpretação deturpada dos fatos antes mesmo de eles acontecerem. “A veracidade nunca esteve entre as virtudes políticas. A capacidade de mentir e a capacidade de agir devem sua existência à mesma fonte: imaginação”, diz Arendt.
Escritas há cinco décadas, essas palavras são de uma atualidade preocupante quando relidas à luz do que disse o presidente Jair Bolsonaro na quinta e na sexta-feira passadas, sobre os atos convocados por diferentes órgãos da sociedade civil para protestar contra as manifestações semanais de bolsonaristas em favor de uma ditadura militar por ele chefiada. Nas lives de que participou e nos discursos que fez nesses dois dias, Bolsonaro comportou-se como se o ensaio de Hannah Arendt tivesse sido escrito com base em suas falas. Procurando associar à violência os atos de protesto contra seu governo, o presidente deixou claro que os atos de domingo não serão travados entre adversários políticos, mas entre inimigos – entre “o pessoal de verde e amarelo, que é patriota”, e “idiotas, marginais, viciados e terroristas”. Segundo Bolsonaro, “este pessoal tem costumes que não condizem com a maioria da sociedade brasileira”. Além de desqualificar opositores no plano moral, que é uma conhecida prática fascista, Bolsonaro os acusou de serem inimigos da liberdade. “Mais importante que a sua vida é a sua liberdade. Esse pessoal não tem nada para oferecer para você. Se você pegar cem desse aí (sic), a maioria é estudante. Se você pegar e aplicar a prova do Enem neles, ninguém tira nota 5. São idiotas que não servem para nada”, afirmou.
Como se não bastasse, o presidente ainda pediu aos pais que impeçam os filhos de participar dos atos contrários ao seu governo. “Quem for possível exercer o controle em cima dos filhos (sic), exerça para não deixar o filho participar. Alguns vão dizer que eu estou cerceando a liberdade. Isso não é liberdade de expressão, o cara vai para o quebra-quebra. E vai ter muito garoto desse usado como massa de manobra, idiota útil”, disse Bolsonaro, procurando desde logo responsabilizar seus opositores por qualquer ato violento. Horas depois, anunciou que em breve concederá autorização para importação, sem imposto, de armas de uso individual. Na ocasião, afirmou que “a boa medida (sic) vai ajudar todo o pessoal do artigo 142 da nossa Constituição”, referindo-se talvez aos membros das Forças Armadas. Além de definir as atividades militares, esse artigo se limita a classificar as Forças Armadas como “instituições que, sob a autoridade suprema do presidente da República, destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa destes, da lei e da ordem”. Mas, numa interpretação tortuosa e absurda desse texto, Bolsonaro acredita que este lhe confere a prerrogativa de convocá-las quando bem entender e para o que bem quiser. Mesmo advertido para o erro que comete, insiste em repeti-lo. Em seu ensaio sobre a mentira na política, Hannah Arendt lembra que o engodo e o embuste costumam ser eficientes apenas quando o mentiroso tem ideia clara da verdade do que tenta esconder. Bolsonaro sabe o que quer. Mas em momento algum consegue esconder seus anseios ignominiosos.
”Por verbas, TVs católicas oferecem apoio ao governo” - A queda de popularidade do presidente Jair Bolsonaro tem atraído propostas de alianças em troca de recursos públicos. Uma das mais tentadoras partiu de padres e leigos conservadores que controlam boa parte do sistema de emissoras católicas de rádio e TV. Ligados à ala que diverge politicamente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) dentro da Igreja, eles prometeram “mídia positiva” para ações do governo na pandemia do novo coronavírus. Pediram em contrapartida, porém, anúncios estatais e outorgas para expandir sua rede de comunicação. A proposta foi feita no último dia 21, em videoconferência com a participação de Bolsonaro, sacerdotes, parlamentares e representantes de alguns dos maiores grupos católicos de comunicação, no Palácio do Planalto. A reunião foi pública e transmitida por redes sociais do Planalto e pela TV Brasil. Na “romaria virtual”, o grupo solicitou acesso ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e, principalmente, à Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom). Dona do quinto maior orçamento do Executivo, a Secom tem R$ 127,3 milhões em contratos com agências de publicidade. Bolsonaro prometeu tratar pessoalmente do assunto. Um dos pedidos mais explícitos foi feito pelo padre Welinton Silva, da TV Pai Eterno, ligada ao Santuário Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade (GO).
Silva afirmou que a emissora, há um ano no ar, passa por dificuldades e espera uma aproximação com a Secom para oferecer uma “pauta positiva das ações do governo” na pandemia da covid-19. “A nossa realidade é muito difícil e desafiante, porque trabalhamos com pequenas doações, com baixa comercialização. Dentro dessa dificuldade, estamos precisando mesmo de um apoio maior por parte do governo para que possamos continuar comunicando a boa notícia, levando ao conhecimento da população católica, ampla maioria desse país, aquilo de bom que o governo pode estar realizando e fazendo pelo nosso povo”, disse o padre. “Precisamos ter mais atenção para que esses microfones não sejam desligados, para que essas câmeras não se fechem.” O padre e cantor Reginaldo Manzotti, da Associação Evangelizar é Preciso, com rádios e TV próprias, cobrou agilidade e ampliação das outorgas e destacou o contraponto que os católicos podem fazer para frear o atual desgaste na imagem de Bolsonaro e do governo. “Nós somos uma potência, queremos estar nos lares e ajudar a construir esse Brasil. E, mais do que nunca, o senhor sabe o peso que isso tem, quando se tem uma mídia negativa. E nós queremos estar juntos”, observou Manzotti, dirigindo-se ao presidente. O empresário João Monteiro de Barros Neto, da Rede Vida, afirmou que “Bolsonaro é uma grande esperança”. Argumentou, ainda, que veículos católicos precisam ser “verdadeiramente prestigiados”. Barros Neto pediu não apenas mais entrevistas, como também a participação do presidente em eventos promovidos por católicos. “A Rede Vida é a quarta maior rede de TV digital do País, mas, para que possamos crescer, precisamos ter mais investimentos”, resumiu ele.
‘Ciúmes’. Emissoras de TV ligadas a grupos religiosos receberam, no ano passado, R$ 4,6 milhões em pagamentos da Secom por veiculação de comerciais institucionais e de utilidade pública. Os veículos católicos ficaram com R$ 2,1 milhões e os protestantes, com R$ 2,2 milhões. Em 2020, emissoras de TV católicas receberam, até agora, R$ 160 mil, enquanto as evangélicas, R$ 179 mil, de acordo com planilhas da Secom. O encontro virtual foi intermediado pelo líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), com a Frente Parlamentar Católica. O deputado frequentava grupos de oração da Renovação Carismática Católica. Enciumado com o acesso da Frente Parlamentar Evangélica ao Planalto, o presidente da bancada católica, deputado Francisco Jr. (PSD-GO), pediu que Bolsonaro promova, mensalmente, um café da manhã de conversa e oração com eles. “Estamos um pouco enciumados. Nós somos a maioria e a maioria é que ganha eleição sempre”, alegou Francisco Jr., para quem as pautas da bancada “têm a cara de Jair Bolsonaro.” O deputado Diego Garcia (Podemos-PR) afirmou, por sua vez, que a bancada quer fortalecer o governo. “O senhor pode contar 100% nas matérias pertinentes em apoio ao governo”, disse Garcia a Bolsonaro. Já o deputado Eros Biondini (Pros-MG) afirmou que há “empresários católicos alinhados com o governo” interessados em investir no Brasil e defendeu a liberação de verbas para entidades filantrópicas do setor que mantêm unidades de saúde.
Audiência. A Rede Católica de Rádio possui oito geradoras que distribuem conteúdo para mais de mil emissoras e transmitem em cadeia para cerca de 430. O sistema de TV também é expressivo. No Brasil, há nove emissoras católicas de TV, geradoras de conteúdo: Aparecida, Nazaré, Imaculada, Horizonte, Pai Eterno, Rede Vida, Canção Nova, Século 21 e Evangelizar – as três últimas ligadas a movimentos da Renovação Carismática Católica. As primeiras não participaram da videoconferência. Já a Rede Vida, a maior delas, tem na grade programas de ícones do movimento, como O Terço Bizantino, do padre Marcelo Rossi, e o Rede Vida Sertaneja, do padre Periquito. Na videoconferência com Bolsonaro, o padre João Henrique, da Aliança de Misericórdia, descreveu o presidente como alguém que enfrenta uma “batalha espiritual” que exige “armas espirituais”. “A gente se identifica muito com as batalhas que o senhor está travando, somos muitos na Igreja Católica que oramos pelo senhor. Sentimos saudade do senhor. A Igreja Católica quer abraçar o seu filho e desejaria tê-lo mais próximo e mais atuante dentro da Igreja”, insistiu. O flerte entre Bolsonaro e veículos de comunicação católicos simpáticos ao governo representa uma investida do Planalto na divisão latente na Igreja. De um lado, conservadores alinhados ao governo, principalmente aqueles ligados à Renovação Carismática Católica e, de outro, progressistas e críticos do bolsonarismo vinculados à CNBB. Alguns episódios recentes marcaram uma escalada no tensionamento.
A presença constante do presidente em manifestações antidemocráticas e a posição dele contrária às recomendações sanitárias no combate à pandemia da covid-19 fizeram a CNBB elevar o tom contra o governo e dizer que Bolsonaro “ameaça a saúde” e perdeu “credibilidade” social. Entidades ligadas ao episcopado chegaram a defender o impeachment do presidente. Padres identificados com movimentos de leigos (católicos praticantes não ordenados) conservadores e carismáticos, por outro lado, se aproximaram do Planalto.
”’Emissora nunca foi reconhecida’, diz empresário’” - O empresário João Monteiro de Barros Neto, da Rede Vida, disse que não teve mais contatos com o governo depois da videoconferência do dia 21. Afirmou ainda que houve queda de veiculação de publicidade estatal da ordem de 85% no governo Bolsonaro e que, mesmo em gestões anteriores, a emissora “nunca chegou a ser reconhecida pela sua cobertura e programação”. “A expectativa que a Rede Vida tem é que as veiculações publicitárias governamentais possam ser consentâneas com sua abrangência e importância.” O deputado Francisco Jr., presidente da Frente Católica, disse ao Estadão que o pedido de ajuda em forma de anúncios “destoou” do tom da reunião. “A Igreja Católica não é unânime. Tem gente de direita, de esquerda e de centro”, observou. O Planalto não quis comentar e a CNBB alegou não ter participado do encontro.
”Bolsonaro cogita Força Nacional em ato” - Com o temor de que atos previstos para amanhã se transformem em grandes movimentos de rua contra seu governo, o presidente Jair Bolsonaro intensificou ontem as críticas aos manifestantes e discute até mesmo convocar a Força Nacional de Segurança Pública para atuar nos protestos. Ao inaugurar um hospital de campanha em Águas Lindas de Goiás, cidade próxima a Brasília, Bolsonaro chamou novamente de “marginais” integrantes de grupos contrários ao seu governo. O presidente também voltou a pedir que seus apoiadores não participem desses atos. “Que o outro lado que luta pela democracia, que quer o governo funcionando e quer um Brasil melhor e preza por sua liberdade, que não compareça às ruas nesses dias para que (...) a Força de Segurança, nossas forças estaduais, bem como a nossa (Polícia) Federal possam fazer seu devido trabalho, (se) porventura esses marginais extrapolarem os limites da lei”, afirmou Bolsonaro. Como mostrou o Estadão, o Palácio do Planalto tem receio de que manifestações em defesa da democracia e contra o governo cresçam, aumentando a pressão pelo impeachment do presidente. O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), disse que não vai solicitar a Força Nacional para acompanhar os atos de amanhã. “O principal objetivo do governo do Distrito Federal, em relação às manifestações públicas programadas para o próximo domingo, dia 7, na Esplanada dos Ministérios, é garantir a segurança das pessoas e a integridade do patrimônio público”, afirmou o governo, em nota. “As forças de segurança do Distrito Federal, assim como outros órgãos do GDF, estarão nos locais dos eventos com o efetivo necessário para garantir a livre manifestação e a ordem.”
Ao criticar os protestos, Bolsonaro também tenta criminalizar os movimentos. Nos últimos dias, ele tem classificado os manifestantes contra o governo não apenas de “marginais”, mas também de “terroristas” e “viciados”. Se a presença da Força Nacional for autorizada, não será a primeira vez que esse contingente vai atuar sob a gestão Bolsonaro. Em maio do ano passado, por exemplo, os agentes acompanharam atos na Esplanada. A função da Força neste tipo de missão é a de proteção do patrimônio público, para evitar que haja depredações de prédios de ministérios. Bolsonaro recebeu ontem um grupo de líderes evangélicos que oraram, no Planalto, contra a “baderna” e o “quebra-quebra” e pregaram a harmonia entre os Poderes. Sem citar os pedidos de impeachment para afastar Bolsonaro, os religiosos se manifestaram contra a “convulsão social e institucional” e disseram que é Deus quem escolhe e retira as autoridades públicas. “O povo brasileiro é um povo pacífico, não é povo de quebra-quebra, nem de baderna. A marca do povo brasileiro é o povo do verde e amarelo”, disse o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, um antigo aliado e apoiador do presidente. “Esse País não vai ser Venezuela, não vai ser destruído por ninguém. Esse País não vai falir.”
+++ O maniqueísmo é um dos principais “recursos” do discurso bolsonarista. Outros são a mentira e a distorção da realidade. Toda crítica ao governo e ao presidente podem ter mais eficiência se forem denunciados tais “recursos”.
”Tropeço e queda em chão de terra” - O presidente Jair Bolsonaro tropeçou e caiu de joelhos no chão de terra ao chegar em Águas Lindas de Goiás, onde participou de inauguração de hospital de campanha. Ele levantou com ajuda de assessor e voltou a caminhar normalmente.
”OAB-SP lança manifesto com apoio de Doria” - A seção de São Paulo da Ordem dos Advogados do Brasil (OABSP) lançou ontem o “Movimento Democracia Sempre”. O anúncio, feito virtualmente pelo presidente da OAB-SP, Caio Augusto Silva dos Santos, recebeu apoio do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), do presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Eduardo Tuma (PSDB), e de representantes do Ministério Público Estadual e do Tribunal de Contas Estadual, entre outros. “Estaremos ao lado da OAB, ao lado de todas as instituições e brasileiros que, aqui de São Paulo, dirão um não a qualquer movimento autoritário ou qualquer movimento que busque um regime ditatorial no País”, afirmou Doria. Ele também criticou a atuação de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro em manifestações recentes.
Eduardo Tuma, que representou o prefeito Bruno Covas (PSDB), também endossou a iniciativa. “A Câmara Municipal se sente honrada de participar na defesa da democracia”, afirmou o vereador, que também se manifestou contra a prorrogação de mandatos e o adiamento das eleições municipais de 2020. Em texto lido durante a transmissão, a OAB-SP afirmou que “o Movimento Democracia Sempre será um observatório, um escudo aos retrocessos civilizatórios e um núcleo de defesa contra todas as ameaças antidemocráticas, por meio do qual serão reiteradamente reafirmados o dever e a responsabilidade de defesa das mensagens #DemocraciaSempre e #AutoritarismoNão”. A OAB-SP elabora um documento para formalizar o movimento. O lançamento acontece no momento em que uma onda de manifestos assinados por personalidades brasileiras de diferentes setores da sociedade em defesa da democracia e em oposição ao presidente Jair Bolsonaro ganha volume.
”Sem acordo, Av. Paulista deve ter três manifestações no domingo” - A Avenida Paulista deve receber três manifestações de rua em um espaço de quatro horas amanhã. Após duas reuniões, não houve, ontem, acordo entre Polícia Militar (PM), Ministério Público Estadual (MP), manifestantes que defendem o governo do presidente Jair Bolsonaro, movimentos antirracistas e opositores do mandatário, como representantes de torcidas de futebol e integrantes da Frente Povo Sem Medo. Apesar de não haver acordo, grupos antirracistas e contra Bolsonaro negociavam, até a conclusão desta edição, unificar seus atos e tomar medidas para evitar que se encontrem com os defensores do presidente, segundo líderes desses grupos. Uma das propostas da Frente Povo Sem Medo, segundo o professor Guilherme Simões, é fazer uma caminhada do Masp até a Praça Roosevelt, passando pela Rua da Consolação. Com isso, eles evitariam contato com o grupo que defende o governo federal. No domingo passado, a PM usou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar protesto de grupos de torcedores que se declaram antifascistas na Avenida Paulista. Os torcedores disseram que a confusão começou porque um bolsonarista se infiltrou na mobilização.
Os apoiadores de Bolsonaro pretendem se reunir em frente à Fiesp às 11h. Inicialmente, o movimento negro pretendia começar o ato às 10h no Masp. O grupo pode se juntar à manifestação das 14h, no mesmo lugar, que reuniria torcedores de futebol e movimentos sociais. “Não teve consenso”, disse Simões. “Nosso intuito é fazer um protesto de forma pacífica”. Simões afirmou ao Estadão que, além da caminhada, o ato terá profissionais da Saúde, cujo trabalho será garantir que as pessoas mantenham uma distância de um metro e meio entre si, e distribuição de máscaras e de álcool em gel. Na segunda-feira, o governador João Doria (PSDB) havia determinado que atos de grupos opostos não poderiam ocorrer na mesma data, horário e local para “assegurar o direito às manifestações e preservar a segurança dos participantes”. De acordo com pessoas que estiveram na reunião, o acordo não foi possível porque nenhum dos grupos aceitou as propostas do governo paulista. O objetivo das reuniões, segundo o secretário da Segurança Pública, João Campos, era chegar a um acordo para que um dos grupos fizesse seu ato no sábado ou em outro lugar da cidade. Oficialmente, a PM diz que vai tentar negociar até o último minuto para evitar que grupos antagônicos se reúnam no mesmo lugar no fim de semana. Mas a corporação já prepara um reforço no policiamento na avenida Paulista. “Nessas manifestações, usaremos as informações que temos nos nosso planejamento para identificar e agir contra pessoas ou grupos que tentem impedir o uso deste direito constitucional (de manifestação)”, disse o secretário, ontem, durante coletiva de imprensa ao lado de Doria. Ele afirmou que a PM deverá fazer revistas em pessoas que querem participar do ato. “(Faremos) revistas criteriosas para evitar que as pessoas possam levar objetos que possam causar dano em outras pessoas.”
Manifestos. Grupos que divulgaram manifestos pró-democracia ao longo da semana não recomendam a presença de apoiadores nos atos marcados para domingo. Há o temor por parte desses grupos, criados por entidades da sociedade civil e personalidades, que a manifestação termine em briga generalizada, como ocorreu domingo passado, o que daria uma narrativa para o governo Jair Bolsonaro condenar seus adversários – o presidente já classificou os manifestantes contrários a seu governo de “idiotas, marginais e viciados”. Além disso, os grupos citam o risco de contaminação em meio à pandemia do novo coronavírus. Para o sociólogo Marcelo Issa, coordenador do Transparência Partidária, uma das 130 organizações que fazem parte do Pacto pela Democracia, o ponto principal é a questão sanitária e a violência por parte dos bolsonaristas nas ruas. “O que me preocupa é a atuação de civis armados e a reação dos que apoiam Bolsonaro”, afirmou. Ele defende que durante a pandemia as manifestações contra o governo ocorram em formatos alternativos, como panelaços e panos pretos nas janelas das casas. “Mas não condeno quem sai às ruas.” Criador do Somos 70%, o engenheiro Eduardo Moreira disse que “respeita e compreende” quem for para a Paulista no domingo. “Não recomendo que se juntem ao ato pelo risco sanitário, mas respeito e recomendo as pessoas que cruzaram essa linha”, afirmou.
ENTREVISTA: FERNANDO GABEIRA, jornalista – ”Generais viram que proposta é a guerra civil”: Um ano atrás, o jornalista Fernando Gabeira tinha críticas ao presidente Jair Bolsonaro, mas avaliava que as instituições eram suficientes para contê-lo, como expressou em junho de 2019 em entrevista ao Estadão, onde é colunista. Não pensa mais assim. A pregação em favor de armar a população, seus movimentos para atrair as Forças Armadas e sua aproximação das polícias militares foram decisivos para o jornalista mudar de ideia. Para ele, a ação do presidente sugere o espectro de uma guerra civil ou um golpe de Estado, sem, necessariamente, participação direta das Forças. “Muito possivelmente ele pode estar articulando um golpe usando polícias militares e neutralizando as Forças Armadas”, disse Gabeira, em nova conversa com o Estadão, anteontem.
• Há quase um ano, o senhor fez críticas ao governo Bolsonaro, mas se mostrou confiante nas instituições. Recentemente, o senhor passou a defender que os brasileiros se mobilizem para barrar um possível golpe do presidente. O que aconteceu?
- O primeiro aspecto da minha confiança eram os contrapesos democráticos, que estavam baseados no Congresso e no Supremo. Esses contrapesos continuam tentando fazer frente a esse processo. Mas há sobre eles, hoje, uma carga muito intensa, a partir do bolsonarismo. As manifestações foram claramente dirigidas ao fechamento do Congresso e do Supremo. Então, o que alterou é que Bolsonaro não está aceitando muito bem a presença desses contrapesos, pelo contrário, está tentando neutralizar alguns deles. Esse é um fato. Outro é a relação com as Forças Armadas, que sempre (desde a redemocratização) tiveram, aparentemente, um papel democrático, e funcionaram. E as Forças Armadas foram muito envolvidas pelo Bolsonaro. Não só pelo trabalho orçamentário, mas pela visão da reforma da Previdência dos militares, pela entrada de 3 mil militares no governo, entende? E sobretudo agora pela aliança que fizeram na Saúde. Praticamente, (as Forças) estão atraindo, participando ou partilhando uma política que pode trazer para elas uma repercussão nefasta. Então, isso tudo alterou muito o quadro.
• Recentemente, algum fato acelerou a mudança de opinião?
- Aquela reunião (de 22 de abril) apresentou fatos alarmantes. O mais importante foi a defesa pelo Bolsonaro do uso de armas. Se você lembrar a campanha, Bolsonaro tinha como proposta de armamento da população a necessidade de se defender da violência urbana. Mas naquela reunião ficou evidente que ele tem uma visão de armas para a expressão da sua visão política. A pessoa armada teria condições de se expressar politicamente através das armas. Inclusive, sugeriu que isso fosse feito contra a quarentena. Quatro generais do Exército estavam presentes e não moveram uma palha, nem houve expressão de surpresa. Isso é absolutamente novo: os generais ouvindo a ideia de armar a população para a sua expressão política, sem terem algum tipo de reação.
• Na campanha de 2018, muita gente dizia “Bolsonaro só fala essas coisas horríveis para ganhar voto”. Ou: “Ele já pensou assim, não pensa mais...”
- Bolsonaro, na Câmara dos Deputados, tinha um tática de popularização. Ele utilizava vários temas, como direitos humanos, como a questão das mulheres, da homossexualidade... Ele usava isso para se popularizar. A tática era pegar algumas pessoas conhecidas, por exemplo Maria do Rosário, Jean Wyllys, e fazer diante das câmeras alguns debates que sustentariam o seu público. Mas ele não tinha muito ideia de uma proposta para o Brasil. Tinha um saudosismo do governo militar, mas que não tinha correspondência naquele momento com a própria situação das Forças Armadas. Ao chegar ao governo, ele faz uma política de sedução das Forças Armadas. Ele está usando as Forças Armadas, de forma bem clara, como um elemento de intimidação. E as Forças Armadas, pura e simplesmente, estão se deixando usar. E isso não é o único perigo dele. Ele tem uma boa penetração nas polícias militares. Então, muito possivelmente, ele pode estar articulando um golpe usando polícias militares e neutralizando as Forças Armadas. Ele pode estar até em um ponto em que não precise usar as Forças Armadas. Basta que elas fiquem neutras e deixem a Polícia Militar atuar.
• Quando começou o governo, havia expectativa de que os militares seriam um fator moderador dos impulsos do Bolsonaro.
- Olha, aconteceu o seguinte: ao invés de os militares se tornarem moderadores do Bolsonaro, ele se tornou um fator de radicalização dos militares. O general Augusto Heleno tem se tornado um radical, cada vez maior, dentro do governo. É claro que, no caso dele, pesou aquela prisão, na Espanha, de um oficial (na verdade, o sargento Manoel Silva Rodrigues) da Aeronáutica com cocaína. E ele, como o homem do GSI, foi considerado responsável pelo furo de segurança pelo Carlos Bolsonaro. Depois disso ele ficou assustado e começou a se unir a este grupo ideológico. Outros generais, por exemplo, o Braga Netto (chefe da Casa Civil) tem até uma capacidade de organização boa, mas não tem condições de segurar o Bolsonaro. Da mesma maneira, o (vice-presidente Hamilton) Mourão não tem esse papel. O Mourão sempre foi considerado pelos próximos ao Bolsonaro como um adversário em potencial. Então, ele se recolheu. O general (Luiz Eduardo) Ramos (chefe da Secretaria de Governo), que deu entrevista dizendo que são todos democratas e que é uma ofensa às Forças Armadas pensar que elas podem estar sendo cúmplices de um golpe, ele também é o cara que está fazendo a política do Bolsonaro. Então, esses generais viram que a proposta do Bolsonaro é a guerra civil. Eles sabem muito bem que Bolsonaro é um homem que ganha as eleições e denuncia as eleições como fraudadas. Então, com as armas na mão, o que vai querer fazer? Vai querer se rebelar. Eles sabem disso.
• O que explica a reação de Bolsonaro à pandemia?
- O Bolsonaro pensa muito curto. Ele pensou: ‘O que isso pode fazer comigo? O que isso pode representar para o meu governo? Então, uma crise econômica, o desemprego, vão atrapalhar minha gestão. Então, vou negar essa epidemia’. Ele negou a epidemia porque achava que era contrária a ele.
• Como o senhor avalia a participação de Bolsonaro nas manifestações que pedem o fechamento do Supremo e do Congresso?
- Qualquer democrata, diante de uma manifestação desse tipo, passa longe. Ele (Bolsonaro) vai lá saudar os manifestantes. Meio que demonstra, com isso, que tem uma simpatia pela causa deles. Ele tem alguma simpatia pela causa do fechamento do Congresso e do fechamento do Supremo.
• Bolsonaro pode ser levado a respeitar as leis?
- Acho que é evidente agora que Bolsonaro está querendo armar o povo para uma expressão política, para que o povo tome uma posição política que eles querem. Está querendo criar milícias armadas. E um homem que quer armar parte da população está preparando uma guerra civil. Naquele momento, ficou bastante claro para mim qual é o desígnio dele, qual é a posição. Então, acho que tem que trabalhar para, ou neutralizá-lo visando ir até 2022, ou afastá-lo antes disso.
”Justiça intima Bolsonaro para explicar portaria sobre munições” - A Justiça Federal intimou o presidente Jair Bolsonaro, por meio da Advocacia-Geral da União (AGU), a dar explicações sobre a publicação de uma portaria que aumentou em três vezes a quantidade de munições que pode ser comprada por cada pessoa. A ação foi aberta após o Estadão revelar que a norma foi fundamentada em parecer do general de brigada Eugênio Pacelli Vieira Mota, que já havia sido exonerado e não tinha mais função no governo. A portaria elevou de 200 para 600 o número de projéteis permitidos anualmente por registro de arma de pessoa física. O despacho da 25.ª Vara Cível Federal de São Paulo atende a um pedido do deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP). Na ação, o parlamentar também cobra a revogação da portaria. Ao citar reportagens do Estadão, a ação afirma que “os documentos oficiais do Exército demonstraram que a elaboração do parecer de Pacelli ocorreu em menos de 24 horas – às 22h do dia 15 de abril – e consistiu em um email pessoal de três linhas”. O documento foi baseado, ainda, em outro parecer , subscrito por Fernanda Regina Vilares, chefe da Assessoria Especial de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça. Essa segunda peça limita-se a um “OK” em mensagem de WhatsApp.
A Justiça Federal deu prazo de 72 horas para a AGU dar explicações, a contar do dia 4 de junho. Em nota, o órgão afirmou que está reunindo informações com ministérios responsáveis pela portaria, para poder se manifestar. A pressão de Bolsonaro para armar a população e aprovar a portaria foi evidenciada com a divulgação da tensa reunião ministerial do dia 22 de abril. O vídeo foi tornado público no mês passado por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) e mostra Bolsonaro determinando, nominalmente, que o seu então ministro da Justiça Sérgio Moro, e da Defesa, Fernando Azevedo, providenciem a portaria que ampliava o acesso a munições. A norma foi publicada no dia seguinte. Especialistas em direito administrativo ouvidos pelo Estadão consideraram “grave” e possível “fraude” a decisão do Ministério da Defesa de utilizar parecer de um general exonerado e sem função numa portaria para aumentar o limite de compra de munições. No País, 379.471 armas estão nas mãos da população, segundo a Polícia Federal. Dessa forma, o novo decreto pode possibilitar a compra de 227.682.600 balas (600 munições por arma). Após a divulgação da reportagem, o Ministério da Defesa afirmou em nota que “o militar estava em pleno exercício legal do seu cargo ao assinar os documentos”. No entendimento da Defesa, uma regra expressa do art. 22 da Lei 6.880/80 permite que o militar possa assinar atos mesmo exonerado e com um substituto em seu lugar.
”Presidente pede a TSE que rejeite provas de inquérito” - A defesa do presidente Jair Bolsonaro pediu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que rejeite o compartilhamento de conteúdo do inquérito das fake news com os processos eleitorais que buscam a cassação da chapa presidencial eleita em 2018. A pedido do PT, o TSE ainda vai analisar se inclui ou não as provas do inquérito do STF, conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes – que nesta semana tomou posse como ministro do TSE. Há também pedidos para inclusão dos conteúdos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI Mista) das Fake News. A advogada Karina Kufa, que representa a chapa Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão, afirmou que os pedidos devem ser rejeitados porque não teriam, segundo ela, relação com o objeto original da ação de investigação judicial eleitoral. “São diametralmente opostos ao que se discute na presente ação”, disse. O pedido é fundamental para a defesa de Bolsonaro porque, no cenário atual, a inclusão de novas provas do controverso inquérito do STF é vista como algo que pode pavimentar o caminho da cassação do presidente e do vice no TSE. As ações mais delicadas são as que tratam do disparo de mensagens em massa pelo WhatsApp. A avaliação entre ministros do tribunal é a de que o compartilhamento, caso seja autorizado, deve dar um novo fôlego às investigações que apuram o disparo de mensagens em massa na campanha presidencial de 2018.
”Líder do Centrão é acusado de receber propina” - A Procuradoria-Geral da República denunciou no Supremo Tribunal Federal o deputado federal Arthur Lira (PP-AL), um dos principais líderes da sigla e do Centrão, por corrupção passiva. Ele já responde a duas ações na Lava Jato. Segundo a denúncia, Lira atuou como arrecadador de propina para o PP. Ele é acusado de movimentar R$ 1,6 milhão da Queiroz Galvão em troca de defender interesses da empresa no governo federal. A defesa de Lira afirmou, em nota, que a denúncia não se sustenta. O advogado Pierpaolo Bottini criticou o uso da delação de Alberto Youssef, que teria “inverdades”, e disse que, no processo, há depoimento que desmente a acusação.
”Decreto inclui avião para Exército; brigadeiros criticam” - A decisão do presidente Jair Bolsonaro de permitir ao Exército voltar a ter aviões provocou reação de integrantes da Força Aérea Brasileira (FAB). Brigadeiros ouvidos pelo Estadão criticam “a oportunidade da medida”, um período de crise econômica, em que as verbas para a Defesa são escassas. Também alegam que a medida pode afetar a operação conjunta das duas Forças. Foi por meio do decreto 10.386, publicado no dia 2, que Bolsonaro e o ministro da defesa, o general Fernando Azevedo e Silva, concederam ao Exército, após 79 anos, o direito de voltar a ter aeronaves de asa fixa. Até então, decreto de 1986 permitia ao Exército operar apenas helicópteros. “O problema não é o Exército ter sua aviação, mas o momento da decisão, que não é oportuno”, afirmou o tenente-brigadeiro-do-ar Sérgio Xavier Ferolla, ex-presidente do Superior Tribunal Militar (STM). Os custos de manutenção de uma aviação são considerados altos. Os brigadeiros ouvidos pelo Estadão citam o exemplo da Marinha, que depois de décadas de disputas com a FAB obteve o direito de operar aviões em seu porta-aviões São Paulo. Depois que o navio aeródromo foi aposentado pela Força, a aviação de caça naval, com duas dezenas de A-4 Skyhawk, ficou sediada em terra, na base de São Pedro da Aldeia, no Rio.
Das três Forças, os integrantes da FAB são os que têm se mostrado mais distantes das polêmicas do governo. Em um ministério repleto de generais e almirantes, nenhum brigadeiro ocupa cargo na Esplanada. Apenas um coronel da Aeronáutica – o astronauta Marcos Pontes – é ministro (Ciência e Tecnologia). E vê seu cargo em risco diante das negociações de Bolsonaro com partidos do Centrão. Dos presidentes de clubes militares, só o da Aeronáutica, o brigadeiro Marco Carballo Perez, não se manifestou em apoio ao presidente contra recentes ações de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Um coronel da FAB, que pediu anonimato, reclamou dos termos abrangentes do decreto presidencial, que permitiram no futuro o Exército e ter qualquer tipo de aeronave, não só as de transporte de tropa. Ferolla afirmou que não se opor à ideia de o Exército ter aviação de asa fixa. O brigadeiro, hoje na reserva, esteve entre os oficiais responsáveis por ajudar o Exército a montar sua base de helicópteros, na sede da Aviação do Exército, em Taubaté (SP). O episódio encerrou então uma disputa de quase vinte anos, desde que o Exército buscara em 1969 pela primeira vez comprar helicópteros Bell H-1H.
Prazo. Com a decisão de criar a tropa aeromóvel, o Exército foi autorizado em 1986 por decreto a ter helicóptero – decreto que Bolsonaro alterou. “Hoje, o Exército é o maior operador do País de aeronaves de asas rotativa”, disse o deputado federal, general Roberto Peternelli (PSLSP), que comandou a Aviação do Exército. Segundo ele, a intenção da Força – que contaria com a concordância dos comandos da Marinha e da Aeronáutica – é usar aeronaves em apoio logístico na Amazônia. “Muitas vezes a FAB tem prioridade distintas. E pode ser necessário o Exército fazer evacuação aeromédica.” Não é a curto prazo que a aviação do Exército vai operar aeronaves de asa fixa, seus próprios cargueiros leves, para cumprir missões na linha de fronteira, da Amazônia principalmente. A primeira reunião do grupo técnico que cuida do programa está prevista para a segunda metade de julho. Só depois começará o processo de definições. Segundo um general ouvido pelo Estadão, todas as especificações devem ser revistas. O decreto que permite à Força Terrestre empregar aviões determina também que a Aeronáutica e a Marinha cooperem com a reestruturação. Recentemente, o tema passou pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, quando o general Alberto Santos Cruz era assessor especial da pasta. O plano foi exposto em uma reunião no Comando da Aeronáutica. A demanda do Exército era por maior autonomia e pronta resposta nas tarefas que exigem transporte aéreo. “A FAB argumentou que bastava que fosse feito um aporte de dinheiro na sua infraestrutura logística para aumentar a disponibilidade dos meios”, lembra um brigadeiro, ex-integrante do Alto Comando. Em 2018, foi anunciada a intenção de compra de oito aviões Sherpa Short C23, bimotores modernizados. Podem transportar 3,5 toneladas de carga ou 30 passageiros. Desmobilizados do Exército americano, seriam financiados por meio de operação de crédito do governo dos EUA de valor não revelado. O Exército não confirma o cronograma de entregas. O Estadão procurou o Ministério da Defesa, mas a pasta não se manifestou.
”Camargo é alvo de pedido de inquérito”
”Após crítica de Trump, Bolsonaro exalta amizade e cogita deixar OMS” - O presidente Jair Bolsonaro evitou ontem confrontar as declarações de Donald Trump, que citou o Brasil como mau exemplo na luta contra a covid-19. Diante do Palácio da Alvorada, o brasileiro exaltou a amizade com o americano e sugeriu que também pode retirar o País da Organização Mundial da Saúde (OMS), repetindo o que fez Trump com os EUA, em maio. “Ou a OMS deixa de ser uma organização política ou nós estudamos sair de lá”, afirmou Bolsonaro, que evitou criticar as declarações do presidente americano. “Trump é meu amigo, é meu irmão. Falei com ele esta semana, foi uma conversa maravilhosa. Um abraço Trump. O Brasil quer cada vez mais aprofundar nosso relacionamento”, disse Bolsonaro. Mais cedo, Trump fez um discurso nos jardins da Casa Branca e comparou Brasil e Suécia, que não impuseram quarentenas rígidas. “Se você olhar para o Brasil, eles estão passando por grandes dificuldades. Eles vivem citando o exemplo da Suécia, que está passando por um momento terrível. Se tivéssemos feito isso, teríamos perdido um milhão, talvez até 2 milhões ou mais de vidas”, disse o presidente americano. A Suécia, com 10 milhões de habitantes, registrou 4,6 mil mortes de covid-19, oito vezes mais que a Dinamarca e quase 20 vezes mais que a Noruega – ambos vizinhos têm metade da população sueca e adotaram isolamento rígido. Nesta semana, o governo sueco admitiu que deveria ter adotado medidas mais duras de afastamento social para conter a pandemia.
No Brasil, o distanciamento foi determinado por Estados e municípios, não pelo governo federal. Apesar de ser considerado um aliado de Bolsonaro, Trump vem adotando um discurso crítico em relação ao País. No final de abril, o americano já havia alertado sobre o avanço da pandemia no Brasil. Em maio, ele suspendeu os voos do País, citando a gravidade do caso brasileiro. A entrevista coletiva de ontem foi convocada para Trump poder se vangloriar dos 2,5 milhões de empregos criados em maio – o desempenho econômico é considerado crucial para sua reeleição em novembro. Mas o presidente abandonou o teleprompter e disparou insultos de improviso. A declaração mais questionada foi quando ele se referiu a George Floyd, negro morto por policiais brancos em Minneapolis, na semana passada – o que deu origem à onda de protestos que completou ontem 11 dias. “Espero que George esteja olhando para baixo agora e dizendo que isto que está acontecendo é algo grandioso para nosso país. É um grande dia para ele. É um grande dia para todos”, disse o presidente, aparentemente se referindo ao aumento no número de empregos. Em seguida, a repórter Yamiche Alcindor, da PBS, que é negra, questionou se o presidente não faria algum pronunciamento para tratar do racismo nos EUA. Trump levantou a cabeça e colocou o dedo indicador no nariz, fazendo o gesto de silêncio. Depois, disse que o melhor remédio contra o racismo é a recuperação econômica.
As últimas semanas foram desastrosas para o presidente. Apesar de criticar a situação do Brasil, os EUA ainda são o país mais afetado do mundo pela covid19, com quase 2 milhões de casos e 110 mil mortos. As medidas de isolamento afetaram a economia e o número de desempregados passou de 40 milhões em abril. Além das crises econômica e de saúde pública, a morte de Floyd causou uma tensão social, com protestos contra a violência policial e o racismo. Em vez de colocar panos quentes, Trump optou por uma resposta dura e ameaçou enviar tropas para reprimir as manifestações nos Estados. Em Washington, ele militarizou a repressão e foi criticado por importantes ex-generais e militares do alto comando das Forças Armadas. Por isso, os números de ontem, que indicaram uma recuperação do emprego em maio, contribuíram para o tom otimista do discurso do presidente. “Tínhamos a maior economia da história do mundo. E essa força nos permitiu vencer esta horrível pandemia, que já foi praticamente superada. Estamos indo muito bem”, disse. “Tomamos todas as decisões corretas.” Trump falou por cerca de uma hora. Assim que terminou, começaram as críticas – principalmente à referência feita a Floyd. O democrata Joe Biden, seu adversário em novembro, classificou o discurso de “desprezível”. Brandon Gassaway, porta-voz do Partido Democrata, disse que a mensagem do presidente “era um tapa na cara”. Alguns republicanos também criticaram Trump, entre eles Michael Steele, que é negro e foi presidente do Comitê Nacional Republicano. “O discurso não apenas soa mal, mas beira a blasfêmia diante do que aconteceu com Floyd”, disse Steele.
”UE reabrirá fronteiras externas em julho”
”Enem pode ser suspenso no ano que vem por falta de recursos, alerta MEC” - Um corte de R$ 4,2 bilhões no Orçamento do Ministério da Educação (MEC) previsto para 2021 pode levar à suspensão do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no ano que vem. O alerta foi feito pelo ministério em ofício enviado ao Ministério da Economia e obtido pelo Estadão/Broadcast. A prova é usada por milhões de estudantes brasileiros como acesso à universidade. Para evitar esse desfecho, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, pediu complementação de R$ 6,9 bilhões ao limite previsto para 2021, conforme revelou ontem o estadao.com.br. O pedido ainda será analisado pela área econômica, que trabalha na elaboração da proposta orçamentária do ano que vem. O projeto precisa ser enviado ao Congresso Nacional até 31 de agosto de 2020. A estimativa inicial é de que o MEC tenha R$ 18,78 bilhões para despesas discricionárias (as que não são obrigatórias), que incluem o custeio de políticas educacionais, uma queda de 18,2% em relação aos R$ 22,97 bilhões programados para este ano. “Ressalta-se que, dentre os programas que correm risco de não serem continuados, encontra-se o consagrado Enem, e soma-se a esse prejuízo o fechamento de cursos, câmpus e possivelmente instituições inteiras, comprometendo a educação superior e a educação profissional e tecnológica”, diz o ofício assinado por Weintraub em 4 de junho.
Em nota técnica, o subsecretário de Planejamento e Orçamento do MEC, Adalton de Rocha Matos, também cita o risco de suspensão na concessão de bolsas de pesquisa por meio da Capes e interrupção nos programas do Prouni, que concede bolsas integrais e parciais para estudantes ingressarem em universidades privadas. No ano que vem, a restrição nos gastos do governo volta a se impor porque todas as regras fiscais terão a vigência retomada. Em 2021, a âncora da política fiscal será o teto de gastos, mecanismo que limita o avanço das despesas à inflação. O teto é considerado pela equipe econômica instrumento fundamental para manter a credibilidade dos investidores no processo de ajuste das contas públicas. Apesar de o limite ser corrigido pela inflação, algumas despesas acabam crescendo num ritmo superior, como são os casos de benefícios previdenciários e assistenciais, de pagamento obrigatório. Quando isso acontece, as despesas não obrigatórias, que incluem o custeio das políticas e os investimentos, acabam ficando com um espaço menor no Orçamento – daí o corte na previsão de gastos para o MEC em 2021. Outras pastas também devem ser atingidas.
O alerta do Ministério da Educação é uma primeira mostra da pressão por recursos que a equipe econômica deve começar a sofrer no processo de elaboração do Orçamento. A situação do ano que vem é diferente do cenário de 2020, em que o estado de calamidade pública decretado pela pandemia do novo coronavírus livrou a equipe econômica de cumprir regras fiscais e autorizou a expansão de gastos emergenciais para combater a crise. O rombo nas contas deve chegar a R$ 675,7 bilhões este ano, mais de cinco vezes o déficit de R$ 124,1 bilhões autorizado inicialmente. A situação ficou mais crítica porque a proposta de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2021, que lança os parâmetros para a elaboração do Orçamento, foi feita com base numa expectativa de correção do teto em 3,23%, mas a inflação deve ficar bem abaixo disso. Como mostrou o Estadão/Broadcast, o aumento dos preços num ritmo menor deve tirar R$ 16,7 bilhões do espaço reservado para gastos no ano que vem. Os pré-limites já foram repassados aos ministérios com uma previsão de correção de 2,08% no teto. No ano passado, Weintraub teve uma atuação bem-sucedida nas reuniões da Junta de Execução Orçamentária (JEO) que bateram o martelo sobre o Orçamento de 2020. Mesmo sem ser integrante permanente do colegiado, ele garantiu lugar privilegiado nos momentos decisivos da divisão do bolo de recursos e, após uma pressão corpo a corpo por mais dinheiro, conseguiu aumentar a dotação do MEC em cerca de R$ 5 bilhões. À época, outros ministérios tiveram perdas maiores, como Infraestrutura, Desenvolvimento Regional (que administra o Minha Casa Minha Vida), Mulheres e Meio Ambiente.
Depois disso, Weintraub sofreu desgastes por episódios como a ofensa aos chineses e à China e a fala na reunião ministerial de 22 de abril em que defendeu a prisão de ministros do STF. Apesar disso, ele ainda tem o apoio do presidente Jair Bolsonaro, de seus filhos e da ala ideológica do governo. O Ministério da Economia informou em nota que os limites preliminares para gastos informados aos ministérios “foram definidos com base em projeções globais das despesas e receitas da União” e estão sujeitos a alterações. A pasta ressaltou que cabe ao ministério setorial distribuir internamente os valores, de acordo com as prioridades. O MEC não respondeu.
”País registra mais de mil mortos em 24 horas”
”Abin fez alerta sobre caos em cemitérios” - A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) alertou o Palácio do Planalto e ministros sobre situações de caos em cemitérios do País e a falta de espaços para sepultamentos, causados pelo aumento de óbitos pela covid19. Mesmo assim, o presidente Jair Bolsonaro tem acusado gestores de fazer “terrorismo” ao buscar novos espaços para enterros e xingou o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), por ter aberto covas coletivas. Em informes sobre a pandemia que somam cerca de 950 páginas, com datas de 27 de abril a 13 de maio, obtidos pelo Estadão com exclusividade, a Abin mostra o desespero de famílias que não encontram parentes mortos em enterros precários em Manaus. “Famílias relatam desaparecimento temporário dos corpos de familiares que morreram na rede pública de saúde. No cemitério público Nossa Senhora Aparecida, a prefeitura informou que os corpos serão enterrados em valas comuns, empilhados três a três”, apontou a agência em documento de 29 de abril. No mesmo informe, a Abin afirma que cresce em Manaus a opção de cremar corpos “por não haver mais espaço suficiente nos cemitérios públicos” para vítimas da doença. Ainda segundo a agência, caixões na capital do Amazonas foram abertos por pessoas que buscavam parentes. “A ação ocorre após trocas e desaparecimento de cadáveres.”
Apesar de alertas de autoridades de saúde e da Abin, Bolsonaro reclama da mobilização de gestores de Estados e municípios para dar conta de enterrar mortos pela covid. No início de abril, chamou de “terrorismo” a abertura de covas no cemitério da Vila Formosa, em São Paulo. Em reunião ministerial de 22 de abril, Bolsonaro xingou o prefeito de Manaus por abrir covas coletivas. “Aproveitaram o vírus, está um bosta de um prefeito lá de Manaus, agora, abrindo covas coletivas. Um bosta.” O presidente disse que Virgílio estava “aproveitando” a pandemia para levar um “clima desse, para levar o terror ao Brasil”. Dias após a reunião com ministros, em 4 de maio, a Abin informou sobre chegada de reforço de 300 urnas funerárias a Manaus, cidade já com a capacidade de enterros esgotada. Os informes da Abin abastecem o Centro de Coordenação de Operação do Comitê de Crise para Supervisão e Monitoramento dos Impactos da Covid19 (CCOP). Coordenado pela Casa Civil, o órgão foi criado em março, quando Bolsonaro atuava para retirar o protagonismo do Ministério da Saúde na crise. A Abin faz, desde março, diagnóstico da situação da pandemia no País e um mapeamento no exterior. Como revelou o Estadão no domingo, adota, nos documentos endereçados ao Planalto e a ministérios, discurso oposto ao do presidente sobre o tema. Procurados, a Presidência da República e o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) não se manifestaram.
”Desmatamento na Amazônia cresce 22% neste ano” - Nos cinco primeiros meses deste ano, o desmatamento na Amazônia foi 22% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado, segundo o sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A perda foi de 1.844 km², ante 1.512 km² de janeiro a maio do ano passado. O total desmatado neste ano é o maior para o período de 5 meses desde 2015. Em apenas dez meses, os alertas de desmate da Amazônia já respondem por 92% do observado nos 12 meses anteriores. Entre agosto do ano passado até 28 de maio deste ano, o Deter divulgou alertas para a derrubada de 6.309 km². Nos 12 meses anteriores (agosto de 2018 a julho de 2019), foram 6.844 km² . O dado mantém um cenário de alta que se instalou na Amazônia há um ano. Com agravante de que junho e julho são tradicionalmente meses que trazem as maiores taxas de desmatamento, o que indica que o período atual de 12 meses deve ter devastação ainda mais elevada do que a do ano passado.
O Deter é um sistema de monitoramento por satélite em tempo real, voltado para alertar a fiscalização a combater crimes ambientais em campo. Não serve como taxa oficial de desmate, mas é um bom termômetro da situação. Por ser muito dinâmico, acaba sujeito a uma baixa visibilidade quando há muitas nuvens, e nem sempre consegue ver tudo, mas a tendência apontada por ele normalmente é confirmada depois pelo Prodes, sistema que traz os dados anuais oficiais de desmatamento. O Prodes mede o que foi perdido na floresta entre agosto de um ano e julho do ano anterior. Enquanto o Deter alertou, no passado, os 6.844 km², o Prodes depois bateu o martelo: foram devastados 9.762 km², a taxa mais alta desde 2008. Se em maio, segundo o Deter, 2020 já quase alcançou 2019, é de se imaginar que o Prodes também virá com uma taxa ainda mais alta que a do ano anterior. O aumento já havia motivado a Justiça do Amazonas a determinar que órgãos ligados ao governo federal, como Ibama, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Funai adotem, imediatamente, ações de comando e controle para conter ações de desmatamento na Amazônia.
Pandemia. Estados amazônicos são alguns dos mais afetados pela pandemia, mas isso não impediu o avanço de criminosos. Tribos indígenas estão sendo contaminadas, em parte, por garimpeiros ilegais. Estudo do Instituto Socioambiental (ISA) em parceria com a Universidade Federal de Minas (UFMG), com revisão da Fiocruz, estima que quase 40% dos ianomâmis que vivem perto de áreas de garimpo ilegal na Terra Indígena Ianomâmi podem ser contaminados pela covid-19. A terra indígena têm hoje cerca de 20 mil garimpeiros ilegais em sua área. Conforme o ISA, três ianomâmis morreram da doença e há 55 infectados entre os ianomâmis e os ye’kwana. “Estamos chegando ao período mais seco na Amazônia, em que as queimadas costumam ser recorrentes na região, conforme vimos ano passado. Isso significa que mais pessoas precisarão de atendimento médico por causa dos problemas respiratórios causados pela fumaça e pelas cinzas da floresta queimando”, diz Rômulo Batista, da campanha de Amazônia do Greenpeace, em nota à imprensa. Procurado, o Ministério do Meio Ambiente não se manifestou sobre o tema.
”Participação do Brasil na carteira de investidores estrangeiros cai a 0,3%”
”Para analistas, melhora do mercado no País é ‘disfuncional’” - Apesar de o Brasil ser motivo de preocupação quanto ao avanço de novos casos da covid-19, os resultados positivos da Bolsa brasileira têm elevado as expectativas de que o fim do confinamento na China e em países europeus pode ser um sinal de alento para a economia brasileira. Para alguns analistas ouvidos pelo Estadão, no entanto, pode não ser bem assim. Os resultados recentes do Ibovespa, principal índice da B3, mostram esse “otimismo”. No fim do primeiro trimestre, com a propagação do novo coronavírus pelo País e a adoção das medidas de isolamento social para conter o contágio, houve uma queda de 47% em relação ao início do ano. Estava em quase 120 mil pontos e chegou aos 63 mil em março. Mas, nas últimas semanas, com as notícias de reabertura na China e em países europeus, a Bolsa subiu mais de 40% desde o ponto mais baixo. Ontem, voltou para perto dos 100 mil pontos, fechando em alta de 0,86% aos 94.637,06 pontos. O dólar também teve trajetória semelhante. Estava cotado na casa dos R$ 4 em janeiro, chegou a R$ 5,97 no mês passado, mas depois disso engatou uma sequência de quedas e ontem terminou o dia a R$ 4,99, queda de 2,73%. Para o economista Nathan Blanche, sócio da Tendências Consultoria, porém, é uma melhora artificial. “O câmbio e o preço dos ativos do Brasil não têm hoje influência de melhora ou piora dos preços ou dos ativos. Há uma disfuncionalidade no mercado. Ela é provocada pelo excesso de liquidez no mundo. E vai piorar, porque vai aumentar a liquidez no mercado internacional”, diz. “Hoje, a maior parte dos países ricos já está com juros negativos. O próprio Brasil pode passar a ter juros negativos em breve.”
Para Blanche, o Brasil enfrentará daqui para a frente um desafio para colocar a situação fiscal em ordem. “Teremos dois caminhos: ou o País retoma as reformas e reequilibra a situação fiscal ou corremos o risco da volta da inflação.” Também para a economista Monica De Bolle, do Peterson Institute, o mercado brasileiro não tem razão alguma para ficar otimista. No Brasil, nada vai melhorar, as coisas estão em franca trajetória de piora, diz. “O excesso de otimismo é uma marca do mercado brasileiro, que só sabe apostar para cima.” Os dados de comércio exterior, por exemplo, dão pouca margem para otimismo. “A Bolsa tem decisões que não têm sentido prático. É um indicador, mas não é um fato por si mesmo. A pandemia jogou as exportações de manufaturados para 23% do total, o País voltou ao patamar em que estava em 1974”, diz José Augusto de Castro, da Associação Brasileira de Comércio Exterior. Ele avalia que o mercado pode achar que a crise não é tão feia, mas isso não quer dizer que não seja. “Basta olhar para o que está acontecendo nos EUA e na falta de gestão federal da crise aqui no Brasil para saber que não está tudo bem. Enquanto não houver uma vacina testada e eficaz, não haverá motivo para ficar otimista com o cenário internacional.”
Pessimismo. Mesmo os países que já começaram a reabrir suas economias após a quarentena ainda estão pessimistas quanto ao futuro, segundo dados mais recentes do Índice de Confiança nos Negócios, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Nesse indicador, em que números abaixo de 100 mostram pessimismo com o rumo dos negócios, o Brasil estava na lanterna entre as 20 maiores economias, com 95,8 pontos em abril. Mas em nações que já passaram pelo pior da pandemia há mais pessimismo também, como China (98,8), Itália (99,3) e Espanha (98,1). Há pessimismo quanto ao futuro mesmo na Alemanha, país europeu considerado um caso de sucesso na contenção da doença e que começou a relaxar as medidas de isolamento. “Estamos caminhando sobre gelo fino”, disse a chanceler Angela Merkel em abril. “É preciso cuidado para dimensionar os primeiros sinais de retomada pós-covid”, avalia Castro, da AEB. “Na China, as informações disponíveis nunca são completas e algumas medidas tomadas pelo governo sugerem que o comércio internacional ainda esteja longe da normalidade.”
”Votação de marco de saneamento deve ser retomada”
”Empresas preveem mais demissões” - Apesar do número já recorde de demissões no mercado de trabalho em abril, o empresariado brasileiro prevê que os próximos três meses sejam de mais dispensas de funcionários, segundo um estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) feito a pedido do Estadão/Broadcast. Na indústria de vestuário e acessórios, mais de 80% dos empresários pretendem reduzir o quadro de funcionários nos próximos três meses. Na indústria têxtil, mais de 60% dos empresários declararam em maio que farão ajustes entre seus empregados no curto prazo, segundo dados coletados pela Sondagem Empresarial do Ibre/FGV em maio. Embora os subsetores em pior posição sejam do ramo industrial, a situação também é preocupante em segmentos de serviços, construção e comércio de automóveis e autopeças. Segundo a FGV, não há expectativa de que a situação se reverta no curto prazo, ou seja, que passe a haver mais empresários planejando contratar do que planejando demitir. “Algumas dessas empresas são grandes e de alguma forma até conseguem reduzir o quadro de pessoal sem precisar demitir, fazendo plano de demissão voluntária, não substituindo algum aposentado. A gente sabe que neste momento vai ter muita demissão. Mas a gente não pode confundir com a magnitude da demissão. Pode ter 90% das empresas dizendo que vão demitir, mas elas não estão dizendo quanto será essa redução do quadro de pessoal. A gente assume que existe uma relação histórica com esse saldo. Geralmente, quando há mais gente querendo demitir, há mais demissões”, lembrou Aloisio Campelo Júnior, superintendente de Estatísticas Públicas do Ibre/FGV.
Sondagem. Considerando toda a amostra da Sondagem Empresarial, um terço dos empresários pretende reduzir o número de funcionários nos próximos meses, 33,1% do total. Uma melhora na intenção de contratações ainda depende de a pandemia evoluir favoravelmente e as medidas de socorro do governo surtam efeito, explicou Capelo Júnior. “Mesmo que a economia volte, a gente vai ver o nível de atividade retomando, mas ainda abaixo de uma situação de normalidade, então as empresas vão ficar um tempo na balança, ainda vendo quanto dá para se sustentar, porque já gastaram as reservas que tinham”, ressaltou Campelo Júnior, defendendo a importância de injeção de capital via crédito ou pelo programa de sustentação do emprego “para fazer essa ponte entre a situação pior da crise e uma situação mais próxima da normalidade”.
Segundo ele, algumas ainda precisarão demitir para ajustar as contas, e o emprego se recuperará de forma mais lenta do que a atividade econômica. “Pode haver certa heterogeneidade entre os segmentos, alguns vão demorar um pouco mais para reagir, vão ter outros com uma adaptação um pouco mais rápida à medida que houver afrouxamento (do isolamento social)”, acrescentou Rodolpho Tobler, economista do Ibre/FGV, também responsável pelo estudo. Ele espera melhora, na melhor das hipóteses, apenas no fim do ano. “No curto prazo a gente não tem uma expectativa de que esse número salte para o patamar positivo (mais empresas prevendo contratar do que demitir), como a gente vinha operando no fim do ano passado”, completou Tobler. O economista Fabio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), lembra que quase 800 mil postos de trabalho com carteira assinada já foram extintos de janeiro a abril deste ano, segundo os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Ele estima que o emprego formal perca 2,5 milhões de vagas em 2020, caso a expectativa de queda de 6% no Produto Interno Bruto brasileiro se confirme. “Pelo menos mais 1,7 milhão de vagas com carteira assinada serão extintas de maio a dezembro, guardadas as relações fortíssimas entre o PIB e a geração de vagas pelo Caged. Para Bentes, é possível que haja alguma criação de empregos formais temporários em novembro, dependendo da evolução da pandemia da covid-19.
Exceções. No levantamento da FGV, os dois únicos subsetores que previram em maio aumentar o quadro de funcionários num horizonte de três meses foram a indústria farmacêutica, com 8,7% do empresariado prevendo contratações, e hipermercados e supermercados, com 1,9% dos empresários planejando aumentar o número de empregos. O levantamento do Ibre/FGV ajustou sazonalmente a série de respostas dos que planejam contratar e dos que planejam demitir, antes de fazer o saldo de demissões, neutralizando assim os movimentos característicos de contratações e dispensas que marcam o mercado de trabalho a depender da época do ano.

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