sexta-feira, 5 de junho de 2020

Morte de Miguel encarna tragédia do racismo no Brasil

O Brasil se mira em seu espelho mais cruel nesta semana com a comoção provocada pela morte de Miguel Otávio, de 5 anos, que caiu do nono andar de um edifício de luxo no Recife onde sua mãe, a empregada doméstica Mirtes Renata, trabalhava. Na terça-feira, a criança estava sob os cuidados da patroa de Mirtes, que deixou o menino andar sozinho de elevador, como mostram as imagens do circuito interno do prédio. Miguel decidiu descer em um dos andares e a tragédia aconteceu. "Houve comportamento negligente", afirmou o delegado Ramón Teixeira, responsável pelo caso. A morte da criança negra por negligência da patroa branca —que não havia liberado a empregada doméstica durante a quarentena— encarna a tragédia do racismo e do classismo, frisam ativistas em pleno debate mundial da opressão dos negros. Uma manifestação em homenagem a Miguel está prevista para esta sexta-feira, enquanto cresce o clamor pela punição da patroa, que responderá pelo crime em liberdade após pagamento de fiança. "Temos que tomar muito cuidado porque, quando for a babá negra cuidando da criança, vão legitimar os discursos para homicídio doloso”, argumenta a advogada criminalista Priscila Pamela dos Santos, integrante do IDDD (Instituto de Defesa do Direito de Defesa).
No front da pandemia, o país também amargou uma quinta-feira difícil: tornou-se o terceiro país no mundo com mais mortes pelo novo coronavírus, ultrapassando a barreira dos 34.000 óbitos e superando a perda de vidas na Itália. Reportagem de Beatriz Jucá mostra que apenas em três Estados —Ceará, Pernambuco e Espírito Santo— há os primeiros sinais de estabilização dos contágios, que seguem em nível elevado no restante do território.
Em meio ao avanço do doença no planeta, coletivos contrários à imunização da população tentam aproveitar a crise para promover esse tipo de resistência, que já era vista como uma ameaça global pela OMS. Os antivacinas não estão calados, e sim mobilizadíssimos, como aconteceu em todas as crises sanitárias anteriores. O zika, a gripe A e agora o coronavírus são episódios que contêm os fatores que confirmam suas crenças e os ajudam impulsioná-las, por mais paradoxal que pareça. A reportagem de Javier Salas explica por que a pandemia atual é a tempestade perfeita onde se juntam todos os elementos de uma batalha para a qual passaram décadas se preparando.
“Enquanto as redes falavam ‘blacklivesmatter’, perdemos outra criança negra para o racismo”

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