sexta-feira, 26 de junho de 2020

Análise de Mídia 26/06


 
DOS JORNAIS DE HOJE: A Folha de S. Paulo revela nova pesquisa do Instituto Datafolha realizada após a prisão de Fabrício Queiroz, mas de acordo com o levantamento, não houve alteração na taxa de aprovação do presidente Jair Bolsonaro. A pesquisa parece não ter conseguido captar se há aumento da desconfiança ou da suspeição sobre Jair Bolsonaro. Ao mesmo tempo, todos os jornais chamam a atenção para o que classificam como uma aparente “moderação” do presidente. As reportagens não se preocupam em diferenciar o discurso momentâneo de Bolsonaro da forma como ele pensa a sociedade, algo que já está posto há décadas. Essa falta de crítica do noticiário é um pouco preocupante. Afinal, Bolsonaro muda o discurso de acordo com a direção do vento e dos seus interesses mais imediatistas.
O Estadão é o veículo que deu mais destaque para a nomeação do novo ministro da Educação. O jornal ressaltou a vitória dos militares sobre a ala olavista do governo. Por outro lado, o jornal não deu tanta atenção para o fato de que o novo chefe da pasta também é ligado ao ministro da Economia, o que reforçaria a possibilidade de um elo entre Guedes e os fardados.
O Valor Econômico apresenta o melhor panorama sobre a situação econômica do país neste período e ainda anuncia que a direita vai avançar sobre os programas sociais do governo federal. Em vídeos antigos, de antes de ser nomeado ministro, Paulo Guedes defendia que faltava a direita brasileira a preocupação com assistência social. Qualquer que seja o plano, deve começar a ser colocado em prática.
É necessário mencionar ainda que as reportagens sobre os temas mais fundamentais para o período deixam de fora as opiniões das esquerdas e de economistas que não sejam ligados ao mercado financeiro ou ao governo. A falta de pluralidade de vozes no jornalismo compromete a democracia porque não permite que a sociedade “veja” o todo que é o país.
 
CAPA – Manchete principal: *”Aprovação de Bolsonaro segue estável após prisão de Queiroz”*
EDITORIAL DA FOLHA – *”Cegueira do STF”*: Só um corporativismo estatal tão poderoso quanto obtuso pode explicar a lerdeza com que se arrasta a regulação, urgente a esta altura, da redução de jornadas de trabalho e salários dos servidores públicos. A possibilidade foi prevista há 20 anos na Lei de Responsabilidade Fiscal, para casos em que as despesas com pessoal superam o teto de 60% da receita. Em 2002, uma decisão provisória do Supremo Tribunal Federal a suspendeu. Somente agora, a corte concluiu o julgamento da norma —e, por 7 votos a 4, considerou-a inconstitucional. A maioria dos magistrados escudou-se numa leitura estrita do princípio da irredutibilidade salarial —não aplicável, observe-se à parte, para os trabalhadores da iniciativa privada, ainda mais em tempos de recessão e pandemia. Os votos vencidos, a começar pelo do relator, Alexandre de Moraes, ampararam-se na tese de que a Constituição já permite até a demissão de servidores quando há excesso de gastos. Logo, por esse raciocínio, a legislação viabilizaria uma solução menos drástica e, portanto, favorável ao funcionalismo. Argumentos do tipo, porém, não sensibilizam corporações que se negam a rediscutir o que consideram seus direitos à luz da realidade das finanças públicas e do país.
De acordo com o levantamento mais recente do Tesouro Nacional, 12 estados fecharam 2018 com folhas de pagamento acima do limite máximo legal. Nos últimos anos, tornaram-se rotineiros, em diversas unidades da Federação, atrasos nos pagamentos de salários. Agora, a crise do coronavírus faz desabar a arrecadação e explodir a dívida governamental —enquanto o Estado brasileiro sustenta bovinamente um dos quadros de pessoal mais caros do mundo. A responsabilidade não é apenas do STF, diga-se. Durante os anos em que a questão esteve empacada, governo e Congresso tiveram tempo de sobra para negociar uma emenda constitucional que desse conta do problema. Nem agora se animam a fazê-lo, entretanto, e tampouco se viu a prometida proposta de reforma administrativa. Mas essa não foi a única demonstração de alheamento da realidade por parte do Supremo. Por 6 votos a 5, o tribunal decidiu que o Executivo não pode limitar repasses ao Legislativo e ao Judiciário caso a receita fique abaixo do esperado. Em outras palavras, só um dos Poderes arca com o prejuízo. Ao se agarrarem de modo intransigente a suas vantagens e garantias insustentáveis, a máquina pública e seus dirigentes vão desperdiçando a oportunidade de promover um ajuste racional e planejado. Alimentam os riscos de colapso de serviços e pagamentos, na ilusão de que poderão transferir a conta, indefinidamente, à sociedade.
PAINEL - *”Em caso inédito, governo Bolsonaro faz cinco gestos de paz no mesmo dia”*: O governo Bolsonaro fez, em um só dia, ao menos cinco gestos de paz, algo inédito neste um ano e meio. Foram três atos do presidente: discurso conciliador ao lado de Dias Toffoli, escolha na Educação fora da ala ideológica e homenagem a vítimas de Covid, ao som de Ave Maria. Fábio Faria (Comunicações) anunciou diálogo com a imprensa e o general Ramos (Secretaria de Governo), sua ida à reserva do Exército, rompendo vínculo que incomodava os demais poderes.
Nesta sexta (26), o ministro da Justiça, André Mendonça, vai apresentar à imprensa resultados de operações e apreensões de bens do tráfico de drogas e, para isso, chamou secretários estaduais, o que está sendo tratado como uma novidade. Sob Sergio Moro, também com o incentivo de Bolsonaro, o governo federal era acusado de usar resultados obtidos nos estados para se gabar de redução de índices de criminalidade. O evento marcará também a primeira aparição pública do novo diretor-geral da Polícia Federal. Com menos de dois meses no cargo, Rolando de Souza está em férias, mas o ministério confirmou sua participação.
PAINEL - *”Sob Bolsonaro, PF bate recorde de autorizações de posse de armas”*: A Polícia Federal concedeu neste ano a maior quantidade da história de autorizações de posse de arma para o período de janeiro a maio. Foram 58.997 novas permissões, quase o triplo do ano anterior (19.162). Do total, 36.076 foram para pessoas físicas. Segundo decreto, o armamento deve permanecer guardado no imóvel do dono. O armamento da população coincide com as medidas de flexibilização e incentivo do governo Bolsonaro. Na reunião ministerial que se tornou pública, o presidente falou que queria armar a população. "Eu quero todo mundo armado. Que povo armado jamais será escravizado."
PAINEL - *”Foro especial para Flávio Bolsonaro contraria decisões do STF”*: A decisão da 3ª Câmara Criminal do TJ-RJ de conceder foro especial para Flávio Bolsonaro contraria determinações do Supremo, avaliam ministros da corte. Casos do ex-presidente Michel Temer foram usados como exemplo para ilustrar a contradição. As investigações do emedebista foram enviadas para a primeira instância --na época dos fatos, ele estava deputado, depois vice, depois presidente, mas agora ele não tem mandato e, por isso, não tem foro. Ministros dizem que a expectativa é que a decisão desta quinta (25) seja revertida, no STJ ou no próprio Supremo.
PAINEL - *”Para adiamento de eleição, líderes querem repasse de R$ 5 bi para prefeituras”*: Líderes de partidos colocaram na mesa de negociação o que querem para votar o adiamento da eleição: R$ 5 bilhões para prefeituras até dezembro, para que os gestores municipais fiquem blindados da crise do coronavírus. Segundo esses políticos, a conta fecha sem que o governo precise colocar dinheiro novo. Há R$ 5,3 bilhões "sobrando" da medida provisória 938, que reservou R$ 16 bi para recompor perdas na pandemia. A queda, porém, foi menor, de R$ 11 bi. O relator da MP, Hildo Rocha (MDB-MA), quer incluir o pagamento do valor não utilizado em cinco parcelas. O texto será apresentado na semana que vem. Líderes dizem que discutem ainda outras questões eleitorais, como tempo de TV, para tentar acertar o adiamento. No sábado, deve ocorrer uma reunião com Rodrigo Maia (DEM-RJ) sobre o tema.
PAINEL - *”Fake news sobre uso de máscaras tem elevado compartilhamento em WhatsApp, diz FGV”*: Três vídeos com alto compartilhamento no WhatsApp dizem que o uso de máscara contra a Covid-19 diminui a imunidade e aumenta a chance de infecção --o que contraria as orientações médicas. As fake news circularam em 114 dos 465 grupos monitorados pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da FGV entre 21 e 24 de junho.
PAINEL - *”Parlamentares esperam para esta sexta (26) sanção de projeto de auxílio para cultura”*
*”Aprovação de Bolsonaro segue estável após prisão de Queiroz, aponta Datafolha”* - A popularidade do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) segue estável na semana seguinte à prisão do ex-assessor de sua família Fabrício Queiroz. Segundo pesquisa do Datafolha, Bolsonaro manteve sua aprovação em 32%, o mesmo índice do fim de maio (33%). A rejeição ao governo é de 44%, ante 43% da rodada anterior, enquanto os que avaliam Bolsonaro como regular estacionaram nos 23% (eram 22%). O Datafolha ouviu 2.016 pessoas por telefone nos dias 23 e 24 de junho. A margem de erro é de dois pontos percentuais. A estabilidade contrasta com a tensão política decorrente da prisão de Queiroz, amigo de Bolsonaro desde 1984 e ex-assessor de seu filho Flávio, hoje senador. Investigado no esquema das “rachadinhas” quando era deputado estadual no Rio, Queiroz é o elo entre o clã presidencial e figuras do submundo miliciano no Rio. O caso, contudo, tem grande potencial destrutivo. A aprovação de Bolsonaro cai para 15% entre aqueles que acham que o presidente sabia onde Queiroz se escondia até ser preso no dia 18. Esse é o índice de popularidade considerado crítico na política para a abertura de processos de impeachment. Bolsonaro segue com o mesmo perfil de aprovação. O rejeitam mais jovens (16 a 24 anos, 54%), detentores de curso superior (53%) e ricos (renda acima de 10 salários mínimos, 52%). Moradores da região Sul, reduto bolsonarista, aprovam mais o presidente: 42% o acham ótimo ou bom. Na mão contrária, pessoas de 35 a 44 anos (37%), empresários (51%) e os que sempre confiam em Bolsonaro (92%) são os mais satisfeitos com a gestão do presidente.
Bolsonaro não inspira muita confiança. São 46% os que dizem nunca confiar, 20% que sempre confiam e 32%, aqueles que o fazem às vezes. Novamente, o Sul desponta como uma fortaleza do titular do Planalto, com a menor taxa de desconfiança (35%) entre as regiões. O Nordeste, que se mantém como o local de maior rejeição a Bolsonaro (52% de ruim ou péssimo), é a região que mais desconfia: 53% dos ouvidos nunca dão crédito a ele. O presidente segue sendo o mais mal avaliado da história em seu primeiro mandato desde a volta das eleições diretas para o Planalto no pós-ditadura, em 1989. Antes dele, o pior índice era de Fernando Collor. Com ano e seis meses de gestão, em setembro de 1991, o hoje senador amargava 41% de rejeição. Acabou impedido em 1992. Fernando Henrique Cardoso (PSDB) era rejeitado por 25% na mesma altura de seu primeiro mandato, enquanto Luiz Inácio Lula da Silva (PT) era por 17% e Dilma Rousseff (PT), por 5%. O desgaste dos reeleitos só poupou Lula. FHC tinha 41% de ruim/péssimo a essa altura do segundo mandato, e Dilma acabaria impedida logo após marcar 63%. Já os vices que assumiram após impeachment não foram melhor. Itamar Franco marcou 37% de rejeição no meio de 1994, e Michel Temer (MDB), 71% logo após a eclosão do caso Joesley Batista.
*”Aprovação ao trabalho de governadores na pandemia da Covid-19 atinge pior patamar, diz Datafolha”* - Pesquisa do Datafolha mostra que a aprovação dos governadores no trato da pandemia da Covid-19 atingiu o pior nível desde março. A maioria está lidando com um grande número de casos da doença nos estados enquanto discute como reabrir as economias locais. Após chegar a 58% de ótimo e bom em abril, eles agora estão com 44%. O ruim/péssimo subiu de 16% para 29%. A notícia é pior para o Sudeste, onde Wilson Witzel (PSC-RJ) está sob cerco policial por supostas irregularidades no combate à pandemia. A região também é liderada pelo maior antípoda do presidente Jair Bolsonaro na crise, o tucano João Doria (PSDB-SP). No Sudeste, 35% aprovam o desempenho dos chefes estaduais. Os mais satisfeitos são os sulistas, com 61%.
A insatisfação não para por aí, e atingiu também o Ministério da Saúde. A pasta está sob a gestão interina do general da ativa Eduardo Pazuello. A pasta iniciara a crise com um índice de ótimo/bom de 55%. Com o protagonismo do então ministro Luiz Henrique Mandetta, o índice saltou a 76% no começo de abril. Contrário às orientações de Jair Bolsonaro, que minimizava a gravidade da pandemia da Covid-19, Mandetta foi demitido. No fim de abril, sob Nelson Teich, o ministério voltou a ser aprovado por 55%. Teich durou um mês, e seu número 2, Pazuello assumiu. Dez dias depois, no fim de maio, a aprovação do ministério era dez pontos menor. Agora, são 33% os que acham o desempenho da pasta bom, o que aproxima a avaliação à de Bolsonaro, estável há dois meses em apenas 27% de ótimo/bom. A reprovação ao ministério também cresceu, de um piso de 5% em abril para 34% agora. O regular está estável em 31%.
Já Bolsonaro segue mal avaliado. Em relação ao fim de maio, a rejeição segue estável (49% ante 50%). Entre quem rejeita o governo, só 3% aprovam sua gestão na saúde, enquanto 71% dos que o acham ótimo ou bom estão satisfeitos no item. Bolsonaro é mais mal avaliado no Sudeste e no Nordeste, onde tem apenas 24% de aprovação e é reprovado por 52% e 55%, respectivamente.
O Datafolha também ouviu a opinião sobre os prefeitos, que também caiu em relação à mesma pergunta feita no começo de abril. Consideram o trabalho dos municípios na crise bom ou ótimo 44%, ante 50% antes. A reprovação subiu de 22% para 34% e os que acham a ação regular, foi de 25% para 21%.
*”Para 64%, Bolsonaro sabia onde Queiroz estava escondido, segundo Datafolha”*
REINALDO AZEVEDO - *”TJ-RJ ignora o Supremo; democracia nele!”*
*”TJ-RJ concede foro especial a Flávio Bolsonaro no caso das 'rachadinhas', mas mantém decisões anteriores”* - A 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio aceitou pedido de habeas corpus do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e concedeu a ele foro especial. Assim, o processo que investiga a prática de "rachadinha" no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio sairá das mãos do juiz Flávio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal, e irá para o Orgão Especial do TJ, colegiado formados por 25 desembargadores. Os desembargadores Paulo Rangel e Monica Tolledo votaram por aceitar o pedido de Flávio. A desembargadora Suimei Cavalieri se posicionou pela manutenção do processo na primeira instância. Foi Itabaiana quem autorizou a quebra do sigilo fiscal e bancário do senador e a prisão de Fabrício Queiroz, detido na última quinta-feira (18). A 3ª Câmara Criminal decidiu, ainda, que as medidas autorizadas pela 27ª Vara continuam a valer com a transferência do processo para o Órgão Especial. O pedido assinado pela advogada Luciana Pires questionou a competência da primeira instância para julgar o caso. A advogada argumentou que Flávio era deputado estadual na época dos fatos e que, portanto, teria foro especial. Em nota, a defesa de Flávio Bolsonaro informou que insistirá junto ao Órgão Especial pela anulação de todas as decisões e provas obtidas desde o início das investigações. "A defesa sempre esteve muito confiante neste resultado por ter convicção de que o processo nunca deveria ter se iniciado em primeira instância e muito menos chegado até onde foi", diz o texto.
Com a transferência do processo para a segunda instância, a investigação também sairá das mãos dos promotores do Gaecc (Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção) e irá para a alçada do procurador-Geral de Justiça, Eduardo Gussem. Embora a 3ª Câmara Criminal tenha mantido as decisões tomadas em primeira instância, o relator a ser designado pelo Órgão Especial poderá anular essas medidas monocraticamente ou submeter ao plenário um eventual recurso da defesa de Flávio. Os advogados do senador também poderão optar por um recurso ao Superior Tribunal de Justiça. Em maio de 2018, o STF (Supremo Tribunal Federal) entendeu que a prerrogativa de foro só se aplica aos crimes cometidos durante o mandato e em decorrência dele. Por ser senador, Flávio Bolsonaro também não teria o direito, que é concedido a deputados estaduais, de ser julgado pelo Órgão Especial do TJ. Com base nesse entendimento, a tendência seria de o STF derrubar a medida, caso o Ministério Público recorra diretamente à corte. No entanto, o TJ diz que a decisão de garantir foro especial a Flávio parte da premissa de que ele nunca deixou de ser parlamentar, ainda que em cargos distintos. Ainda segundo a assessoria do tribunal, a decisão se estende a todos os investigados no processo da "rachadinha", incluindo Fabrício Queiroz e sua mulher, Márcia Oliveira de Aguiar.
Flávio é investigado desde janeiro de 2018 sob a suspeita de recolher parte do salário de seus empregados na Assembleia Legislativa do Rio de 2007 a 2018 —prática chamada de "rachadinha". Os crimes em apuração são peculato, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio e organização criminosa. Segundo o Ministério Público, 11 assessores vinculados a Flávio repassaram pelo menos R$ 2 milhões a Queiroz, sendo a maior parte por meio de depósitos em espécie. A Promotoria acredita que o senador lavou o dinheiro da "rachadinha" por meio de transações de compra e venda de imóveis e da franquia da loja Kopenhagen da qual é sócio. Em fevereiro, Flávio já havia sofrido uma derrota na 3ª Câmara Criminal. Na ocasião, os desembargadores mantiveram a decisão de Itabaiana que quebrou o sigilo bancário do filho do presidente. Atendendo o pedido do senador que questionava a competência da 27ª Vara Criminal, a desembargadora Suimei Cavalieri havia chegado a interromper a investigação em março até que o caso fosse julgado pela Câmara. Ao final do mesmo mês, no entanto, a própria magistrada revogou sua decisão e permitiu a continuidade das apurações do Ministério Público. A desembargadora reviu sua determinação após analisar a manifestação da Promotoria. Cavalieri avaliou que, como as sessões da Câmara estavam suspensas em função da pandemia do coronavírus, a interrupção poderia causar a prescrição do caso.
Em outro processo, o Ministério Público havia se posicionado favoravelmente à concessão de foro especial a Flávio. Em agosto, a procuradora Soraya Taveira Gaya, que atua na 3ª Câmara, afirmou que o senador teria cometido os supostos crimes "escudado pelo mandato que exercia à época". Ela também disse que, sendo ele o filho do presidente Jair Bolsonaro, havia grande "interesse da nação no desfecho da causa e em todos os movimentos contrários à boa gestão pública”. Contudo, o Gaecc (Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção) do MP-RJ, responsável pela investigação, se manifestou contrário ao entendimento. Afirmou à Câmara que o foro especial se encerra com o fim do mandato, entendimento que para o grupo está consolidado há 20 anos. A investigação contra Flávio já havia sido suspensa outras duas vezes, pelos ministros do STF Luiz Fux e Dias Toffoli. Fux paralisou o procedimento em janeiro de 2019, durante o plantão do Judiciário, por também considerar a possibilidade de que Flávio contava com foro especial por ter sido eleito senador. O ministro Marco Aurélio Mello, relator natural do caso, arquivou a reclamação do filho do presidente e autorizou a investigação na primeira instância. Toffoli, por sua vez, concedeu liminar para parar a apuração em julho de 2019 por considerar que o antigo Coaf havia repassado informações sobre movimentações suspeitas do senador com detalhamento excessivo. A tese foi derrubada no plenário do STF em novembro.
Uma das principais dores de cabeça do presidente Jair Bolsonaro desde a sua eleição, as suspeitas contra seu filho Flávio e seu amigo Fabrício Queiroz, ganharam um novo capítulo na semana passada. Queiroz, que é policial militar aposentado e ex-assessor do atual senador, foi preso em um imóvel do advogado Frederick Wassef, responsável pelas defesas de Flávio e do presidente, em Atibaia (interior de São Paulo). A suspeita do Ministério Público é de que ele operava o esquema de "rachadinha" no gabinete de Flávio. Ainda não houve denúncia, e a suspeita é de interferência de Queiroz nas investigações da Promotoria, por isso a prisão preventiva. A mulher dele, Márcia Aguiar, que foi assessora de Flávio na Assembleia, também teve a prisão decretada —ela não foi encontrada em seu endereço e é considerada foragida. A apuração relacionada ao senador Flávio Bolsonaro começou após relatório do antigo Coaf, hoje ligado ao Banco Central, indicar movimentação financeira atípica de Fabrício Queiroz, seu ex-assessor e amigo do presidente Jair Bolsonaro. Além do volume movimentado, de R$ 1,2 milhão em um ano, chamou a atenção a forma com que as operações se davam: depósitos e saques em dinheiro vivo em datas próximas do pagamento de servidores da Assembleia.
Queiroz afirmou que recebia parte dos valores dos salários dos colegas de gabinete. Ele diz que usava esse dinheiro para remunerar assessores informais de Flávio, sem conhecimento do então deputado estadual. A sua defesa, contudo, nunca apontou os beneficiários finais dos valores. Jair Bolsonaro e Queiroz se conhecem desde 1984. Queiroz foi recruta do agora presidente na Brigada de Infantaria Paraquedista, do Exército. Depois, Bolsonaro seguiu a carreira política, e Queiroz entrou para a Polícia Militar do Rio de Janeiro, de onde já se aposentou. Na época em que era deputado federal, Jair Bolsonaro se manifestou contra a existência de foro especial para políticos. Em um vídeo publicado em abril de 2017 no Twitter pelo deputado Eduardo Bolsonaro, ele aparece ao lado de Flávio protestando contra a medida. "Eu não quero essa porcaria de foro privilegiado. Eu sou o único deputado federal prejudicado com esse foro privilegiado", disse. Na ocasião, Bolsonaro era réu no Supremo sob acusação de incitação ao estrupro contra a deputada Maria do Rosário (PT-RS), ex-ministra dos direitos humanos. Por esse motivo, ele afirma que poderia ser obrigado a renunciar ao mandato para disputar as eleições presidenciais de 2018. “Eu renunciando, o meu processo vai para a primeira instância. Aí, não dá tempo de eu ser condenado em primeira e segunda instâncias". Caso fosse condenado em segunda instância, Bolsonaro estaria impedido de disputar as eleições, com base na Lei da Ficha Limpa. As ações foram suspensas após ele tomar posse como presidente.
*”Em meio a polêmicas, Senado adia votação do projeto de lei sobre fake news”* - O Senado adiou nesta quinta-feira (25) a apreciação do texto-base do projeto de lei das fake news. O anúncio foi feito pelo presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), depois que um grupo de parlamentares pediu mais tempo para analisar o relatório elaborado pelo senador Angelo Coronel (PSD-BA). Ao todo, 16 requerimentos foram protocolados pelos parlamentares pedindo o adiamento da votação. Com isso, marcou-se nova tentativa de votação para a terça-feira (30) da semana que vem. "Com a consciência do que é certo, quero recepcionar o apelo de todos os senadores. Saio convencido que estamos no caminho certo", disse Alcolumbre. A votação, que já não era consenso, acabou prejudicada pelo fato de o relator da matéria ter encaminhado seu parecer poucos minutos antes do começo da sessão. Devido ao tema suscitar discussões acaloradas, Alcolumbre permitiu que 10 senadores pudessem se manifestar a favor e outros 10 contrários à matéria. Foram mais de duas horas de debate virtual entre os parlamentares. O líder do Podemos, senador Álvaro Dias (PR), falou em nome dos que defenderam o adiamento. Na mesma linha de defesa estavam o líder da Rede, Randolfe Rodrigues (AP), o líder do PSL, Major Olímpio (SP), e o líder do governo na Casa, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE). “Certamente não há nenhum senador que concorde com crime cibernético. Por isso temos de oferecer a melhor legislação possível. Por isso não me sinto à vontade de votar esse projeto hoje”, disse Dias. Desde a última sexta-feira (19), o relator da proposta encaminhou aos senadores três pareceres sobre o projeto, todos com textos diferentes. A mais recente versão, entregue na tarde desta quinta, retirou um dos temas considerados mais polêmicos, que exigia documentos e número de celular para abertura de contas em redes sociais.
Críticos argumentavam que a medida geraria exclusão digital, pois poderia impedir pessoas que não têm celular de terem contas em redes sociais, além de ser uma violação à privacidade. Pela proposta apresentada, a identificação dos usuários irá ocorrer sob responsabilidade das plataformas, apenas em casos suspeitos. "A ideia é deixarmos a identificação para as plataformas, para que elas façam a identificação das pessoas”, disse o relator. De acordo com o texto, o acesso aos dados de identificação somente poderá ocorrer para fins de constituição de prova em investigação criminal e em instrução processual penal, mediante ordem judicial. A proposta determina que os serviços de mensagem ficam obrigadas a suspender as contas de usuários cujos números forem desabilitados pelas operadoras de telefonia. O projeto não se aplica aos casos em que os usuários tenham solicitado a vinculação da conta para novo número de telefone. O relatório também prevê a aplicação de multa para as plataformas de redes sociais, caso não cumpram as regras de identificação dos responsáveis pela disseminação de fake news. A punição, neste caso, pode chegar a até 10% do faturamento do grupo econômico no Brasil no seu último exercício. Poderá haver ainda suspensão das atividades. De acordo com o parecer, os valores das multas serão destinados ao Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação).
Para viabilizar a votação, Coronel retirou na última versão do seu relatório toda a parte que tratava de eleições. Com isso, ficou de fora a determinação para o pagamento de multa de até R$ 1 milhão a candidatos que se beneficiarem com propaganda com conteúdo manipulado para atacar os adversários durante as eleições. O relatório foi estruturado sobre o projeto de lei do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE). A proposta, caso aprovada pelo Congresso e sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro, institui a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet. O relator também retirou do texto todas as previsões de criminalização, como os artigos que passavam a incluir o financiamento de redes de fake news nas leis de organização criminosa e lavagem de dinheiro. Facebook, Google, Twitter e WhatsApp, em análise enviada a senadores, caracterizaram a legislação como "um projeto de coleta massiva de dados das pessoas resultando no aprofundamento da exclusão digital e pondo em risco a privacidade e segurança de milhares de cidadãos". O texto determina que as plataformas devam identificar todos os conteúdos impulsionados e publicitários cujo pagamento pela distribuição foi realizado ao provedor de redes sociais.
Coronel manteve a exigência de guarda dos registros da cadeia de reencaminhamentos de mensagens no WhatsApp, para que se possa identificar a origem de conteúdos ilícitos. De acordo com o projeto, o armazenamento de registros se dará apenas das mensagens que tenham sido reencaminhadas mais de cinco vezes, o que configuraria viralização. Para entidades da sociedade civil, trata-se de uma ameaça à privacidade, pois será possível saber com quem todo mundo está falando em suas conversas privadas, o que poderá ser usado para perseguição política. O texto determina ainda a criação de uma instituição de autorregulação das plataformas, que seria responsável por elaborar regras e adotar medidas como rotular e colocar advertências em conteúdo caracterizado como desinformação (fake news). O projeto também determina que as contas de redes sociais de alguns funcionários públicos e ocupantes de cargos eletivos sejam consideradas de interesse público, e têm de respeitar os princípios da administração pública, além de listar regras de transparência para publicidade estatal, proibindo a veiculação em determinados sites que promovem a violência, por exemplo. A redação original do projeto foi apresentada em duas frentes: na Câmara, pelos deputados Tabata Amaral (PDT-SP) e Felipe Rigoni (PSB-ES), e no Senado, pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE). Os três parlamentares retiraram suas propostas originais e protocolaram novas versões.
PABLO ORTELLADO - *”Artigo da lei das fake news joga luz sobre desinformação sem comprometer privacidade”*: Entre os temas de debate sobre o "PL das fake news" destaca-se a introdução da rastreabilidade de mensagens virais em aplicativos de mensagens. Trata-se de dispositivo que permitirá determinar a origem e o alcance de mensagens que viralizam no WhatsApp. Defensores da privacidade preocupam-se que o registro que permitirá a rastreabilidade das mensagens virais pode comprometer a privacidade dos usuários porque gerará uma coleta massiva de metadados. Acredito, porém, que a preocupação pertinente foi bem atendida pelo projeto que reduz bastante a coleta e o acesso aos dados sem sacrificar a eficácia da medida. O problema da desinformação no WhatsApp é mais grave do que em mídias sociais como o Facebook e o Twitter porque o WhatsApp permite uma espécie de comunicação de massa oculta. Ao estender para a comunicação de massa um sigilo criado para comunicação interpessoal, o WhatsApp enterrou uma parte do debate público, acobertando campanhas de desinformação.
Nesta comunicação de massa subterrânea, o alvo da campanha de desinformação às vezes não tem ciência de que ela está em curso, porque os grupos nos quais a mensagem trafega são privados. Não é possível também determinar quem produziu a mensagem, já que quando ela é recebida, conhecemos apenas a última pessoa que a encaminhou, mas não o autor da mensagem. Por fim, nesta comunicação não há contraditório, porque quando respondemos a uma mensagem encaminhada em um grupo, a resposta chega apenas a este último grupo, mas não é distribuída para a longa cadeia de outros grupos e pessoas que também receberam a mensagem. Essa situação temerária foi resultado da transformação gradual do WhatsApp que nasceu como um aplicativo de comunicação interpessoal, "um a um", e aos poucos foi incorporando funcionalidades de massa, "um-muitos", como conversas em grupo e listas de transmissão (quando uma mesma mensagem é encaminhada para até 256 destinatários). O WhatsApp foi a empresa que melhor respondeu ao desafio trazido pela espionagem em massa do governo americano revelada por Edward Snowden. O aplicativo implementou em 2014 uma criptografia sólida de ponta a ponta, que logo se tornou o padrão de ouro da indústria e foi adotada por outras plataformas.
Mas as necessárias proteções à comunicação interpessoal, que protegem a privacidade dos usuários, quando são estendidas à comunicação de massa, permitem o acobertamento e a ocultação de campanhas de desinformação que não podem ser notadas, cuja responsabilidade não pode ser determinada e que não podem ser contestadas. Para jogar luz sobre essas campanhas de desinformação, sem colocar em risco a privacidade dos usuários, o projeto de lei preserva a criptografia de ponta a ponta e separa conceitualmente a comunicação de massa, com o formato "um-muitos", da comunicação interpessoal, com formato "um a um". Além disso, o PL separa, na comunicação com formato de massa, aquelas mensagens que efetivamente adquirem grande alcance, com pelo menos 5 reencaminhamentos (critério adotado pelo WhatsApp para determinar mensagens muito encaminhadas) e que tenham chegado a pelo menos mil pessoas. Apenas deste pequeno conjunto de mensagens —que não são interpessoais e que viralizaram— é que se registram metadados que são guardados pela empresa por tempo curto e que só podem ser acessados a partir de uma queixa procedente autorizada por decisão judicial. Com todos esses cuidados, diminui-se ao máximo a guarda dos metadados dos usuários, mas ainda se permite que uma investigação determine a origem e o alcance das campanhas de desinformação, sejam aquelas que estão minando a nossa democracia, sejam aquelas que falsificam fatos sobre a Covid-19, colocando em risco a vida de milhões de brasileiros.
*Pablo Ortellado é professor de Gestão de Políticas Públicas na EACH-USP e coordenador do Monitor do Debate Político no Meio Digital
*”Maia defende adiamento das eleições e critica prefeitos que querem manter a data”* - O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defendeu nesta quinta-feira (25) o adiamento das eleições municipais e criticou o que viu como incoerência de prefeitos que defendem a manutenção da data, mas reivindicam verbas para enfrentar a pandemia do novo coronavírus. Maia tenta costurar um acordo para votar já na semana que vem a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que adia as eleições de outubro para novembro. Para isso, pretende conversar com líderes de partidos que estão rachados sobre o adiamento da data. A divisão nas bancadas é fruto de uma pressão de prefeitos e vereadores que buscam a reeleição. Caso o calendário do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) seja mantido, os adversários teriam menos tempo para fazer campanha junto aos eleitores, o que, em tese, beneficiaria os atuais ocupantes dos cargos. Maia criticou a pressão de prefeitos por recursos para combater os efeitos da pandemia na economia, com queda na arrecadação. “Eu só acho que é incoerente o prefeito estar dizendo que ainda tem crise, que precisa de mais recursos para a saúde, para manter a prefeitura funcionando, e ao mesmo tempo uma boa parte desses prefeitos defendendo a manutenção da data de outubro”, disse. “Tem uma incoerência nisso.” Para o deputado, “a eleição não pode estar à frente de salvar vidas e de proteger as famílias brasileiras”.
Ele defendeu que o adiamento ajudaria o eleitor a conhecer de “forma democrática e transparente” seus candidatos. “Se me perguntar, ‘em outubro a crise do coronavírus vai estar toda resolvida? Do ponto de vista sanitário, econômico e social?’ Não”, disse. “Mas certamente a probabilidade de, em outubro, nossa situação ser muito melhor do que essa situação a partir de 15 de agosto, para mim é um dado da realidade. É por isso que eu defendo o adiamento. Mas depende de 308 deputados e deputadas.” Maia afirmou que está dialogando com os partidos para tentar conseguir um consenso. “Tá avançando, né? Hoje alguns partidos já avançaram e vamos ver se até a próxima semana nós conseguimos pelo menos ter a garantia da votação e cada um votando com sua consciência”, disse. “Não estou aqui para pressionar, para atropelar. O diálogo é o que resolve os problemas na Câmara dos Deputados.” Apesar da articulação do presidente da Câmara por um acordo, há grande resistência dentro de legendas de centro. Bancadas de partidos como MDB, PP, PL, DEM, Republicanos e PSL estão rachadas sobre o adiamento. Somadas, as legendas têm 216 deputados —de um total de 513 da Casa. Para passar na Câmara, a proposta precisa ser aprovada pelo plenário em dois turnos e obter o apoio de pelo menos três quintos dos deputados (308 votos) em cada votação. Depois disso, é promulgada pelo Congresso.
Conforme o texto aprovado pelo Senado na terça-feira (23), o primeiro turno das eleições seria adiado de 4 de outubro para 15 de novembro. O segundo turno do pleito passaria de 25 de outubro para 29 de novembro. Parlamentares criticam a decisão do Senado de começar a tramitação pela Casa. Eles argumentam que, como a resistência é maior na Câmara, que é mais municipalista e onde há mais interesse nesse período eleitoral, o debate deveria ter sido esgotado primeiro entre os deputados. Inicialmente, a intenção do presidente da Câmara é levar a PEC para votação direto em plenário, como ocorreu com a única outra PEC votada virtualmente, a do Orçamento de Guerra. Maia, porém, rejeitou colocar o texto para votar antes de conseguir um consenso com os líderes. “Essa é uma construção coletiva, estamos dialogando. Essa questão de ‘vou votar de qualquer jeito’, ‘não vou votar de jeito nenhum’...eu acho o pleito do TSE é justo, o Senado já votou. O correto é que a Câmara possa avançar na votação”, afirmou.
Um dos principais argumentos usados por congressistas que defendem a manutenção das datas do calendário do TSE é a falta de consenso sobre quando haverá, de fato, uma queda na curva da pandemia. Alguns especialistas falam em agosto e setembro, enquanto outros só veem uma melhora a partir de outubro. Além disso, a pandemia atinge os municípios de maneira diferente, como ressaltou o próprio Maia em entrevista na semana passada. Sem uma clareza sobre quando seria seguro realizar os dois turnos, eles avaliam que adiar para novembro ou dezembro seria inócuo. Por trás do impasse há ainda a tentativa de alguns congressistas do centrão —grupo formado por partidos como PP, PL e Republicanos— de tentarem unificar a eleição municipal com o pleito de 2022. A proposta é rechaçada pelo presidente do TSE, o ministro Luís Roberto Barroso, que descarta qualquer medida que prorrogue mandatos de prefeitos e vereadores. Em maio, o ministro afirmou que unir eleições municipais e nacionais traria um "inferno gerencial" ao TSE. Enquanto não há um cenário claro sobre a votação da PEC na Câmara, alguns deputados alertam para a aproximação de alguns prazos importantes estabelecidos pelo TSE. A partir de 4 de julho, por exemplo, ficaria proibida a transferência voluntária de recursos da União aos estados e municípios e dos estados aos municípios. É a mesma data também para desincompatibilização de servidores públicos.
*”Ônibus pega fogo em frente ao Palácio do Planalto”* - Um ônibus de transporte público de Brasília pegou fogo no fim da tarde desta quinta-feira (25) em frente ao Palácio do Planalto. Segundo a cobradora do veículo, Deusilde Santana, um homem entrou no ônibus na rodoviária do Plano Piloto, 2,7 quilômetros antes da sede do Executivo, pela porta traseira, com uma muleta e uma mochila. Pouco antes de chegar à Praça dos Três Poderes, o veículo começou a pegar fogo, com cerca de dez ocupantes em seu interior. Alguns metros depois, já diante do Planalto, o ônibus parou e todos saíram. De acordo com a cobradora, um homem ateou fogo ao veículo e gritava “fora Bolsonaro”. Uma viatura da Polícia Militar que estava parada na Praça dos Três Poderes foi ao local e prendeu o homem, que não foi identificado e foi levado à 5ª Delegacia de Polícia. Dentro do carro da polícia, ele continuou gritando contra o presidente Jair Bolsonaro, que havia deixado o Planalto cerca de uma hora antes. Três das cinco faixas da avenida diante da sede do governo foram interditadas. Não houve registro de feridos. Agentes do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), responsável pela segurança presidencial, acompanharam tudo de longe, nos limites do palácio. O centro de comunicação da Polícia Militar do Distrito Federal disse no final da tarde que as primeiras informações eram de ocorrência de falha mecânica (superaquecimento de motor). Pouco depois, porém, a PM alterou o relato, afirmando que um homem "teria espalhado gasolina dentro do veículo e depois ateado fogo", descendo do veículo e gritando "fora, Bolsonaro". "No momento, cerca de 10 passageiros ocupavam o veículo e ninguém ficou ferido. Posteriormente, a PM-DF foi acionada e realizou a prisão do suspeito. Ele foi encaminhado à 5ª DP para o registro da ocorrência. O Corpo de Bombeiros do DF foi acionado e o incêndio, controlado", acrescentou a PM.
*”Sem plano de venda da EBC, novo ministro deve contratar consultoria para enxugar estatal”*
*”Senado aprova medida provisória que recria sorteios na TV e beneficia aliadas do governo”*
*”Após incômodo das Forças Armadas, ministro Luiz Eduardo Ramos anuncia que irá para a reserva”*
*”Ex-ministro de Lula é alvo de pedido de prisão da Lava Jato em apuração sobre fraudes na Eletronuclear”* - O ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau foi apontado pelo Ministério Público Federal como integrante do núcleo político de uma organização que fraudou contratos da Eletronuclear, estatal responsável pela operação das usinas nucleares brasileiras. O juiz Marcelo Bretas, responsável pela Lava Jato no Rio de Janeiro, chegou a emitir mandado de prisão contra ele e outros 11 alvos da operação Fiat Lux, deflagrada pela Polícia Federal no início da manhã desta quinta (25), mas a decisão foi revogada em segunda instância no fim da tarde. Rondeau foi indicado pelo PMDB a cargos de comando no setor elétrico brasileiro durante o primeiro mandato do governo Lula (PT). Não foi encontrado pela Polícia Federal durante o dia e era considerado foragido até a revogação da prisão. Além de Rondeau, Bretas determinou a prisão temporária do ex-deputado Aníbal Gomes (DEM-CE) e Ana Cristina da Silva Toniolo, filha do ex-presidente da Eletronuclear Othon Pinheiro. As investigações foram iniciadas com base em colaboração premiada dos lobistas Jorge Luz e Bruno Luz, pai e filho, também condenados pela Lava Jato, que denunciaram um esquema de pagamento de propinas em contas no exterior aos alvos operação. O Ministério Público Federal afirma que os fatos narrados foram corroborados por provas coletadas por meio de quebra de sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático, além de relatórios do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras). A força-tarefa sustenta que Silas Rondeau e Aníbal Gomes compõem o núcleo político da organização, ao conseguir apoio para a nomeação de Othon à Eletronuclear em troca de vantagens indevidas pagas por empresas contratadas pela estatal.
Com apoio do ex-presidente José Sarney, Rondeau presidiu a Eletrobras, controladora da Eletronuclear, entre 2004 e 2005. Assumiu o MME (Ministério de Minas e Energia) em 2005 e ficou no cargo até 2007, quando pediu demissão após suspeitas de recebimento de R$ 100 mil em propina. O núcleo econômico seria formado, segundo os procuradores, por Nelson Aristeu Caminada Sabra e Álvaro Monteiro da Silva Lopes, que seriam responsáveis por negociar os pagamentos com as empresas contratadas. Ex-diretor de planejamento da Eletronuclear, Pérsio José Gomes Jordani seria o responsável pela intermediação dos pagamentos, passando informações às empresas. Ana Cristina, a filha de Othon, é apontada como responsável pela lavagem do dinheiro. Ela já foi alvo de outras investigações da Lava Jato sobre a Eletronuclear. A Procuradoria diz que os investigados receberam propinas de contratos assinados entre a Eletronuclear e cinco empresas, incluindo a francesa Areva, construtora e operadora de usinas nucleares. As operações de busca e apreensão da operação Fiat Lux ocorreram no Rio (capital, Niterói e Petrópolis), São Paulo e no Distrito Federal. A Procuradoria pediu também o sequestro de bens dos envolvidos, no valor de R$ 207.878.147,18. Até o fim da tarde, quando as prisões foram revogadas, a Polícia Federal havia cumprido seis mandados de prisão. Outros seis permaneciam em aberto, incluindo o de Rondeau e o do ex-deputado Aníbal Gomes.
A liminar que revogou a decisão foi obtida pelo advogado Fernando Fernandez, que defende Othon e sua filha Ana Cristina. Na decisão, o desembargador federal Antonio Ivan Athie alegou que "a prisão temporária, nos termos em que decretada, viola o princípio constitucional da não auto incriminação e da presunção de inocência". A Eletronuclear entrou no alvo da Lava Jato em 2015, quando Othon Pinheiro da Silva, então no comando da estatal, foi preso pela operação Radioatividade por suspeitas e fraude nos contratos para a construção da usina de Angra 3. Em 2016, Othon foi condenado por Bretas a 43 anos de prisão pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, embaraço a investigações, evasão de divisas e organização criminosa. Na época, o almirante se dizia perseguido por "interesses internacionais" no setor nuclear brasileiro. No mesmo ano, em operação batizada de Pripyat, Bretas autorizou a prisão temporária de cinco executivos da Eletronuclear acusados de receber propina da construtura Andrade Gutierrez em dinheiro ou por contratos fictícios com outras empresas. Othon, que estava em prisão domiciliar na época, também foi alvo de um pedido de prisão preventiva, sob o argumento de que continuava mantendo influência na estatal. A força-tarefa pediu ainda o afastamento de seu sucessor no cargo, Pedro Figueiredo. Em 2019, a operação Descontaminação levou à cadeia o ex-presidente Michel Temer e o ex- ministro de Minas e Energia Moreira Franco, acusados de desvio de pelo menos R$ 18 milhões pela contratação irregular de empresas responsáveis pela montagem eletromecânica da usina de Angra 3.
Com obras paradas desde 2015, Angra 3 é a terceira usina da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, em Angra dos Reis, no litoral sul do Rio. É fruto de um acordo nuclear assinado com a Alemanha na década de 1970, para a construção de duas usinas nucleares no Brasil. Sua irmã gêmea Angra 2 entrou em operação em 2001. Já a terceira usina, com obras paralisadas desde 2015, está hoje com 67,1% das obras civis completas, segundo a Eletronuclear. O projeto já consumiu mais de R$ 9 bilhões e precisa ainda de ao menos R$ 15 bilhões para ficar pronto. Em 2019, logo após a posse, foi alçada a prioridade pelo governo Jair Bolsonaro, sob o argumento de que o abandono da obra daria um prejuízo de cerca de R$ 12 bilhões. O governo buscava atrair empresas estrangeiras para ajudar na conclusão do projeto. Há duas semanas, porém, o PPI (Programa de Parcerias e Investimentos) disse que a procura por sócios não é mais mandatória.
OUTRO LADO
Procurado, o advogado de Silas Rondeau, Luis Alexandre Rassi, afirmou que entraria com habeas corpus contra a prisão de seu cilente, que acabou sendo beneficiado pela liminar em favor de Ana Cristina. Após a revogação, afirmou "que ainda há juízes no Rio de Janeiro". Responsável pela defesa de Othon e Ana Cristina, o advogado Fernando Fernandes disse os mandados de prisão dela e de busca e apreensão na casa do pai revelam "insistente ofensa da Justiça e cravada falta de humanismo em meio à perda de milhares de brasileiros". "Coloca em risco a vida de policiais e de pessoas que já sofreram inúmeras buscas anteriores e foram soltas por ordem de habeas corpus", disse ele, em nota. A Folha não conseguiu contato dos advogados dos outros citados. A Eletrobras, controladora da Eletronuclear, informou que se pronunciará por meio de fato relevante, o que não ocorreu até a publicação deste texto.
*”Supremo segue tradição e elege Luiz Fux para presidir a corte a partir de setembro”*
*”Ao lado de Toffoli, Bolsonaro fala em cooperação e harmonia entre Poderes”* - Numa cerimônia ao lado do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) defendeu a cooperação e a harmonia entre os Poderes, numa nova sinalização de distensionamento da relação do Planalto com as demais instituições. As declarações ocorreram em cerimônia de assinatura de um acordo para integração de sites informativos sobre leis e outras normas legais entre os sistemas da presidência da República, do STF e do STJ (Superior Tribunal de Justiça) , entre outros órgãos. "Esse entendimento, essa cooperação, bem revela o momento que vivemos aqui no Brasil. Eu costumo sempre dizer quando estou com o presidente Toffoli, com o [Davi] Alcolumbre [presidente do Senado] e o [Rodrigo] Maia [presidente da Câmara], que somos pessoas privilegiadas. O nosso entendimento, no primeiro momento, é que pode sinalizar que teremos dias melhores para o nosso país", disse Bolsonaro. "Somente dessa forma, com paz e tranquilidade, e sabendo da nossa responsabilidade, que nós podemos colocar o Brasil naquele local que todo mundo sabe que ele chegará. E se Deus quiser o nosso governo dará um grande passo nesse sentido. Obrigado a todos pelo entendimento, pela cooperação e pela harmonia", completou o presidente.
Bolsonaro baixou o tom nos últimos dias e tem buscado uma aproximação com o Judiciário e o Legislativo. Isso ocorre após semanas de atritos com o Congreso Nacional e o Supremo —onde corre a investigação que apura se o presidente tentou interferir na Polícia Federal e o inquérito das fake news, que mira em aliados do mandatário. O principal gesto no sentido de distensionar a relação com o Supremo foi a demissão, na semana passada, do ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub. O ex-titular do MEC foi gravado numa reunião ministerial dizendo que, se dependesse dele, "botava esses vagabundos na cadeia, começando no STF". Um dia depois do anúncio da saída de Weintraub, os ministros Jorge de Oliveira (Secretaria-Geral), André Mendonça (Justiça) e José Levi do Amaral (Advocacia Geral da União) viajaram a São Paulo para um encontro com o ministro Alexandre de Moraes, do STF. Moraes é relator do inquérito das fake news e conduz o caso das investigações do atos antidemocráticos contra a corte. Segundo relato à Folha, os integrantes do governo disseram que Bolsonaro está disposto a iniciar um nova fase na relação com o Judiciário.
Antes de estender a bandeira branca a Moraes, Bolsonaro havia disparo diversas críticas contra o ministro do STF. A Corte, no entanto, reagiu e se mostrou unida diante dos ataques a um de seus integrantes, um dos pontos levados em conta pelo Planalto para buscar uma estratégia pacificadora. Além de operações contra apoiadores e da quebra de sigilo de deputados bolsonaristas, a prisão na semana passada de Fabrício Queiroz, amigo de Bolsonaro e ex-assessor de seu filho Flávio, escalou as preocupações entre os principais assessores do presidente. Jair Bolsonaro também tem buscado uma nova linha de ação na relação do Executivo com o Congresso Nacional. Além de evitar trocas de farpas com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o mandatário tem distribuído cargos para os partidos que integram o Centrão. A cerimônia desta quinta no Palácio do Planalto também foi marcada por elogios de Toffoli a Bolsonaro e ao ministro Jorge de Oliveira, além de nova defesa pela harmonia das instituições. "A integração das três bases [informativas] é, assim, a representação prática da afirmação, que venho reverberando, de que o Estado é único, com Poderes harmônicos e independentes entre si, estando apenas dividido em três funções", disse o presidente do STF.
+++ Essa suposta trégua é mais assustadora e preocupante do que a relação conflituosa entre Bolsonaro e o Judiciário. Ainda mais nesse momento em que o STF se movimentou para dialogar com o Exército e, em paralelo, os militares “avançaram mais uma casa” dentro do governo em função do anúncio do novo ministro da Educação (Decotelli é oficial da reserva da Marinha).
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*”Aceitação da homossexualidade no Brasil cresceu de 61% em 2013 para 67% em 2019”* - Uma pesquisa do Instituto Pew indica que 67% dos brasileiros defendem que a homossexualidade seja aceita pela sociedade, um aumento de seis pontos percentuais desde a realização da última edição do levantamento, em 2013. Entre os 34 países analisados, o Brasil aparece no 16º lugar, atrás dos outros dois Estados latino-americanos incluídos na pesquisa: México (14º) e Argentina (10º). Ambos já apareciam à frente do Brasil no levantamento anterior e tiveram altas mais expressivas: 15 pontos percentuais entre os mexicanos e 10 entre os argentinos. O país vizinho foi o primeiro entre os três a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, em 2010, durante o governo de Cristina Kirchner. No México, esse direito varia de uma região a outra. Na Cidade do México, o casamento gay foi legalizado em 2009, mas as uniões chanceladas na capital só passaram a ter validade em todo o território após uma decisão da Suprema Corte, em 2010.
Desde 2011, o casamento entre pessoas do mesmo gênero também foi legalizado nos estados de Coahuila e Chihuahua, ao norte, e Quintana Roo, ao sul. Nos pólos extremos do ranking estão a Suécia, onde 94% se disseram a favor da aceitação da homossexualidade, e a Nigéria, na qual apenas 7% dos entrevistados responderam o mesmo. A pesquisa, realizada em 2019 e divulgada nesta quinta-feira (25), mostra que, embora mais da metade dos entrevistados em 16 dos 34 países pesquisados diga que a homossexualidade deve ser aceita pela sociedade, discrepâncias expressivas entre os índices nacionais persistem. Segundo o instituto, um dos fatores que influenciou as respostas é o alinhamento político dos entrevistados: pessoas mais à direita apoiam menos o tema do que quem está à esquerda no espectro político. Nos Estados Unidos, 53% dos direitistas são a favor da aceitação —33 pontos percentuais atrás dos esquerdistas, que registraram 86%. No país, pautas progressistas como a legalização do aborto e do casamento gay, além da proibição de discriminação de pessoas transexuais no ambiente de trabalho, ganharam terreno graças a decisões da Suprema Corte. Os legisladores federais não conseguiram formar maioria para adotar leis sobre esses temas —nem a favor nem contra. Essas demandas seguem sendo altamente sensíveis entre o eleitorado americano —a proibição do aborto, por exemplo, é uma das principais plataformas do Partido Republicano.
A preferência política também é acentuada nos países europeus com governos populistas de direita ou nos quais há participação expressiva de partidos com esse perfil na política nacional. Na Hungria do premiê Viktor Orbán, por exemplo, 40% daqueles que se identificam com a direita responderam a favor, contra 61% daqueles que se alinham à esquerda. Outro fator determinante para a percepção da homossexualidade, segundo o Instituto Pew, é a idade. Em 2 de cada 3 países analisados, os jovens se mostraram significativamente mais propensos a serem favoráveis na questão. A diferença entre as respostas do grupo de 18 a 29 anos daquelas dos entrevistados de mais de 50 chegou a 56 pontos percentuais na Coreia do Sul, o país que mostrou a maior diferença geracional. O Japão fica em segundo lugar nesse índice: a proporção de jovens favoráveis à aceitação é 36 pontos percentuais mais alta. A capital coreana, Seul, também teve a maior diferença no recorte de gênero: 51% das mulheres se dizem a favor, enquanto 37% dos homens concordam com o posicionamento.
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*”Bolsonaro diz que auxílio emergencial deve ter mais três parcelas, de R$ 500, R$ 400 e R$ 300”* - O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira (25) que haverá prorrogação do auxílio emergencial de R$ 600 por mais três meses. O benefício, segundo ele, será reduzido gradualmente, e deve ter parcelas de R$ 500, R$ 400 e R$ 300. Depois, o pagamento da assistência a trabalhadores informais seria encerrado. O auxílio foi aprovado pelo Congresso com duração de três meses. O objetivo era trazer alívio financeiro às parcelas mais vulneráveis da população. Com a proximidade do fim dos repasses para os primeiros beneficiados pelo programa, cresceu a pressão para que seja feita a prorrogação. A medida tem sido discutida internamente no governo, mas Guedes vinha trabalhando por valores inferiores aos divulgados por Bolsonaro. O motivo da resistência é o elevado custo da medida. A prorrogação no formato apresentado pelo presidente pode gerar um impacto negativo de até R$ 100 bilhões aos cofres federais. Até o momento, o governo já liberou R$ 152 bilhões para o pagamento das três primeiras parcelas.
Na manhã desta quinta, o ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) já havia afirmado que a extensão do auxílio teria parcela de R$ 500, R$ 400 e R$ 300. A informação foi publicada pelo ministro em uma rede social, mas ela foi apagada pouco depois. A pasta comandada por ele disse que a publicação estava incorreta e que o assunto ainda estava em discussão no governo. "O governo vai pagar três parcelas adicionais (de R$ 500, R$ 400 e R$ 300) do auxílio emergencial. A proposta faria o benefício chegar neste ano a pelo menos R$ 229,5 bilhões. Isso é 53% de toda a transferência de renda já feita no programa Bolsa Família desde o seu início, em 2004", escreveu Ramos. Ao confirmar essa previsão de valores, Bolsonaro disse que sua equipe de governo ainda trabalha nos cálculos para oficializar a prorrogação. O tema deve foi debatido nesta quinta em reunião do presidente com os ministros Braga Netto (Casa Civil), Paulo Guedes (Economia) e Onyx Lorenzoni (Cidadania), além dos presidentes do Banco Central, Roberto Campos Neto e da Caixa, Pedro Guimarães. Inicialmente, o governo planejava pagar mais duas parcelas do auxílio emergencial, no valor de R$ 300 cada uma.
O próprio presidente Bolsonaro chegou a defender o valor e disse que vetaria qualquer ação do Legislativo para aumentá-los. "Na Câmara por exemplo, vamos supor que chegue uma proposta de duas [parcelas extras] de R$ 300. Se a Câmara quiser passar para R$ 400, R$ 500, ou voltar para R$ 600, qual vai ser a decisão minha? Para que o Brasil não quebre? Se pagar mais duas de R$ 600, vamos ter uma dívida cada vez mais impagável. É o veto", afirmou Bolsonaro em uma live no dia 11 de junho. Paulo Guedes participou da transmissão pela internet desta quinta com Bolsonaro. Segundo ele, a terceira parcela de R$ 600 do auxílio emergencial deve começar a ser paga neste sábado (27). Sem detalhar o calendário, o ministro afirmou que os repasses aos mais de 60 milhões de beneficiários serão feitos até o sábado seguinte. Nesta quinta, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reconheceu que, se o governo insistir em enviar uma proposta de redução escalonada do benefício, corre risco de ver o valor ser elevado pelo Congresso, a exemplo do que ocorreu na aprovação do valor do auxílio emergencial. Questionado sobre se o Congresso poderia elevar o valor do auxílio prorrogado, Maia respondeu: "Acho que sim. 500 + 400 +300 dão 2 [parcelas] de 600. Não estou entendendo onde está o problema", disse. "Eu continuo defendendo duas parcelas de R$ 600 e uma discussão rápida nesses 60 dias do governo com o Congresso Nacional de uma renda mínima permanente", afirmou. "O estado precisa assumir essa responsabilidade. (...) E é justo que seja assim. Nós aprovamos a PEC da guerra para isso."
+++ Como sempre, não há pluralidade de discursos dentro da reportagem. Apenas o governo tem espaço para argumentar sobre a continuidade do auxílio emergencial. O jornal não retorna ao que foi a proposta inicial de Bolsonaro – R$ 300,00 -, não menciona como o valor chegou a R$ 600 e não insere no debate as forças que defendem a manutenção do valor. Por fim, a reportagem não dá espaço para que os próprios trabalhadores falem sobre a situação. O tema é tratado de forma burocrática, distante da realidade social.
*”Pedidos de seguro desemprego chegam a 3,6 milhões e desaceleram no início de junho”* - O número de pedidos de seguro-desemprego registrou alta de 35% na primeira quinzena de junho, se comparado com o mesmo período de 2019. Foram 351 mil requerimentos nas duas primeiras semanas deste mês, informou nesta quinta-feira (25) o Ministério da Economia. Apesar da forte alta em relação ao ano passado, os dados apontam que os pedidos perderam força quando observado o período imediatamente anterior. O volume de solicitações apresentou um recuo de 23% na comparação com a segunda quinzena de maio deste ano, quando foram liberados 455 mil benefícios. Dados da pasta mostram que os requerimentos começaram a subir no fim de março, quando se intensificaram as medidas restritivas nos estados por conta do novo coronavírus, com fechamento de lojas, comércios e outras empresas nas cidades. Os pedidos aceleraram ao longo do mês de abril, atingindo o pico em maio. Em seguida, começaram a descer. No acumulado do ano, cerca de 3,6 milhões de pessoas já fizeram solicitação. O saldo é 14,2% maior do que o observado no mesmo período de 2019. O seguro-desemprego é uma assistência financeira temporária paga pelo governo a trabalhadores dispensados sem justa causa. O valor do benefício varia de R$ 1.045 a R$ 1.813,03.
A pessoa demitida tem quatro meses de prazo para requerer o auxílio no Sine, no portal “gov.br” ou no aplicativo de celular “Carteira de Trabalho Digital”. O Ministério da Economia afirma que, uma vez feita a solicitação pelo trabalhador, não há fila de espera para concessão do benefício. Membros do governo afirmam que a medida colocada em vigor em abril que permite corte de jornadas e salários está surtindo efeito. Sem ela, dizem, o número de demissões durante a crise seria muito maior. O programa autoriza empresas a fazerem acordos com seus funcionários para suspender integralmente contratos por até dois meses ou para reduzir jornadas e salários por até três meses. Nesses casos, o governo entra com uma compensação em dinheiro para os trabalhadores atingidos. Mais de 10 milhões de trabalhadores formais tiveram contratos suspensos ou salários e jornadas reduzidos até o momento.
*”Beneficiário do novo Bolsa Família terá prioridade em programa de emprego desonerado”* - A reformulação do Bolsa Família, que passará a se chamar Renda Brasil, vai prever uma porta de saída do programa assistencial. O novo benefício formulado pelo governo será acoplado ao programa de emprego desonerado em elaboração no Ministério da Economia. Pela proposta, haverá uma “rampa de acesso” do Renda Brasil até o mercado formal de trabalho. Beneficiários da assistência estarão automaticamente habilitados a entrar no programa de emprego, informaram à Folha fontes que participam das discussões no governo. No plano da equipe econômica, o Renda Brasil será mais robusto do que o Bolsa Família. A ampliação do número de beneficiários ou do valor do benefício, no entanto, vai depender da disposição do Legislativo em revisar ou extinguir programas sociais existentes hoje e considerados ineficientes. Entre os alvos do ministro Paulo Guedes (Economia), estão abono salarial, seguro-defeso (pago a pescadores), programa farmácia popular e desonerações da cesta básica. Segundo participantes da elaboração, quanto maior a economia com a revisão dessas ações, maior será o Renda Brasil. A revisão dos programas sociais e a criação do novo sistema de emprego vão depender de análise e aprovação do Congresso.
Sob a avaliação de que o Bolsa Família não estimula um fluxo de saída dos beneficiários para o mercado de trabalho, o governo quer associar o Renda Brasil ao programa que será anunciado para estimular a retomada das contratações após a pandemia do novo coronavírus. Para incentivar a admissão de pessoas de baixa renda e com pouca qualificação, o custo do trabalhador será mais baixo, com encargos reduzidos. Segundo fontes que acompanham a formulação, o beneficiário que conseguir uma vaga de emprego desse tipo poderá continuar vinculado ao Renda Brasil, mesmo que seja com benefício em valor menor. A percepção de ministros é que hoje as pessoas têm receio de sair do Bolsa Família para um emprego formal e depois não conseguir voltar à assistência em caso de demissão. O programa ainda deve prever um sistema progressivo, com etapas entre o benefício social e o ingresso definitivo no mercado formal. O custo ao empregador subirá gradualmente a cada nova fase, de acordo com o aprendizado e a evolução do trabalhador. Em reuniões internas, o modelo é comparado à entrada de estudantes de graduação no mercado de trabalho. Nesses casos, a pessoa é contratada para um estágio. Para o empregador, há estímulo à contratação, já que o custo é baixo. Para o estudante, é uma oportunidade de aprendizado. Depois, ele pode seguir para um posto de trainee e, por fim, chegar a uma vaga de emprego.
A ideia do governo é replicar essa lógica para o novo programa. A pessoa pode deixar a informalidade e ingressar no mercado formal em uma vaga com salário mais baixo e encargos reduzidos. Após ganhar experiência, ela pode avançar para patamares mais elevados e remuneração mais alta, em outro nível desse regime. A proposta final ainda não está fechada. Ainda passam por calibragem no governo as faixas de remuneração para o programa e a intensidade da redução do custo do trabalhador. Também está em discussão o público a ser atendido, que pode ser mais amplo do que o de beneficiários do Renda Brasil. Membros do Ministério da Economia argumentam que o impacto fiscal da desoneração concedida nesses casos é relativo. Como os beneficiários de programas assistenciais atualmente não são fonte sólida de arrecadação de tributos, a redução de encargos trabalhistas para essas pessoas não é vista como uma perda, mas como um mecanismo que gera potencial de ganhos futuros ao governo. O programa de emprego também deve prever contrapartidas por parte das companhias. Empregadores que contratarem esses funcionários “mais baratos” não poderão fazer substituição de mão de obra. O objetivo é evitar a demissão dos atuais funcionários para a contratação de outros a custo menor.
Esse mecanismo estava previsto na MP (medida provisória) do Trabalho Verde e Amarelo, que reduzia o custo de contratação de jovens em primeiro emprego. Sem apoio do Congresso, o texto não foi votado e perdeu a validade. A ideia do Ministério da Economia é apresentar as novas propostas já no mês de julho. O objetivo é tentar aprovar as medidas no curto prazo para que seja feita uma transição entre o término no auxílio emergencial de R$ 600 pago a informais e o novo programa social. Em outra frente de estudo para tentar reduzir o custo do trabalho no país, Guedes ainda avalia fazer uma nova tentativa de instituir um sistema previdenciário de capitalização, no qual cada trabalhador tem a própria poupança para a aposentadoria. O modelo em análise não deve ter efeito para as classes mais baixas, pois a capitalização valeria a partir de uma linha de corte de remuneração. O sistema seria complementar. Ou seja, o atual regime de repartição continuaria a existir, garantindo subsídios às aposentadorias da população de menor renda.
+++ Mais uma vez, apenas o governo (defensor do próprio projeto) tem espaço para abordar as mudanças que estão sendo propostas. O jornalismo econômico é superficial.
*”Câmara libera demissão em programa de crédito para empresas”* - A Câmara dos Deputados aprovou nesta quinta-feira (25) o texto-base da medida provisória que permite que pequenas e médias empresas tomem crédito para financiar sua folha de pagamento, desde que mantenham proporcionalmente o mesmo número de funcionários do percentual contratado. O texto foi aprovado em votação simbólica. Os deputados começaram a analisar sugestões de mudanças à proposta, mas ainda precisarão concluir a análise das alterações na próxima semana. A seguir, a MP segue para o Senado. A medida provisória perde validade em 31 de julho. A medida representa uma flexibilização em relação ao texto inicialmente enviado pelo governo, que exigia que as empresas contratassem 100% da folha de pagamento por dois meses, limitado a dois salários-mínimos por funcionário (R$ 2.090). Quem aderisse ao programa não poderia demitir por dois meses após o recebimento da última parcela da linha de crédito. O texto aprovado, relatado pelo deputado Zé Vitor (PL-MG), prevê que as empresas possam contratar até 100% da folha de pagamento. O parlamentar dobrou o tempo para contratação do crédito, que passou de dois para quatro meses, mas manteve o limite de duas vezes o salário-mínimo por empregado.
Na prática, isso significa que uma empresa que quiser contratar empréstimo para pagar 30% da folha de pagamento terá que manter 30% dos funcionários. A proibição de demissão foi mantida em dois meses após o recebimento da última parcela da linha de crédito. A proibição de demitir os funcionários era apontada como um dos motivos para o fracasso da linha de crédito. Desde que foi lançada, em 27 de março, a linha teve uma adesão bem aquém da esperada pelo governo. Segundo dados do Banco Central atualizados até a última segunda (22), 107.461 empresas haviam contratado o empréstimo para financiamento de folha de pagamento, o equivalente a R$ 4,085 bilhões. Ao todo, 1.828.322 empregados foram beneficiados. A estimativa inicial para o programa de R$ 40 bilhões era de que alcançasse 12 milhões de pessoas e contemplasse 1,4 milhão de empresas. O relator incluiu a possibilidade de os recursos contratados serem usados para quitar verbas trabalhistas devidas pelas empresas, como dívidas de condenações transitadas em julgado na Justiça do Trabalho. As linhas de crédito poderão ser usadas para acordos homologados com valor de até R$ 15 mil. Para isso, a instituição financeira participante depositará o valor do financiamento contratado em conta judicial à disposição do juízo. No entanto, estabeleceu que não poderão ser pagas verbas trabalhistas que tenham como fato gerador o trabalho escravo ou o infantil.
Se o dinheiro for usado para pagar verba rescisória de demissão sem justa causa no limite de até R$ 15 mil por contrato de trabalho, o recurso só será liberado caso seja comprovada a recontratação do mesmo funcionário. O relator fez outras alterações para tentar destravar a linha de crédito. Ele aumentou de R$ 10 milhões para R$ 50 milhões a receita bruta anual máxima para que a empresa possa tomar crédito pelo programa. Também incluiu a possibilidade de que produtores rurais possam contratar o crédito. No entanto, manteve um ponto que era contestado por alguns parlamentares, que queriam 100% do aval da União para os empréstimos. Zé Vitor deixou o risco compartilhado proporcionalmente ao percentual de recursos que serão aportados. Pela MP, o governo entra com 85% dos recursos (R$ 34 bilhões) e os bancos, com 15% (R$ 6 bilhões). O relator também prorrogou o prazo para que as instituições financeiras participem do programa. A adesão passou de 30 de junho para 31 de outubro. ​Na linha, a taxa de juros é de 3,75% ao ano, com carência de seis meses para pagar e em 36 parcelas.
*”Meta de inflação de 2023 será de 3,25%, a menor em 20 anos”*
*”Queda nas passagens aéreas faz prévia da inflação ter menor taxa para junho em 14 anos”*
PAINEL S.A. - *”Tem de parar com a brincadeira de que o governo está ajudando as aéreas, diz presidente da Azul”*: O acordo de compartilhamento de voos anunciado neste mês pelas concorrentes Latam e Azul, que chegou a ser comparado por analistas do setor a um clinch, movimento em que um boxeador abraça o adversário enquanto ganha fôlego, é só uma estratégia para salvar a indústria, e não encerra a rivalidade da dupla. A avaliação é de John Rodgerson, presidente da Azul, que há um ano acusava a Latam de ter se unido à Gol para matar a Avianca. Na época, elas disputavam espaço em Congonhas. Agora, atingidas juntas pela pandemia, lutam para sobreviver. "Foi uma grande briga nossa com a Latam. Mas foi em um aeroporto só. Isso não quer dizer que você não pode fazer outros negócios em outros lugares. Vamos pensar em resgatar a nossa indústria. A gente não concorre enquanto todas as aeronaves estão no chão. A gente sabe concorrer quando elas estão voando", diz Rodgerson, que descarta a chance de o code share evoluir para uma fusão no futuro. Segundo o executivo, no curto prazo, a vocação da Azul como companhia doméstica ganha foco novamente e o recente movimento de internacionalização dos voos da empresa será "mais humilde". Rodgerson rejeita as previsões de que a proliferação das reuniões virtuais vai reduzir as viagens corporativas no pós-pandemia. "Você acha que o cara em Cuiabá vai fazer alguma coisa no Zoom? O cara do agro vai passar a fechar negócio no Zoom?", afirma. O setor aguarda a finalização do acordo de socorro com o BNDES, um mês após a divulgação do vídeo da reunião ministerial em que Paulo Guedes (Economia) falou que não daria "molezinha"para as aéreas. Rodgerson diz que está "bravo" com a ideia de que o governo está dando recursos ao setor, algo que ele considera uma "brincadeira". "Eles estão dando dinheiro com um grande retorno, com juros, e estão salvando imposto para o futuro", diz.
PAINEL S.A. - *”Feirão do emprego que faz fila quilométrica no Anhangabaú deve ocorrer em agosto”*
PAINEL S.A. - *”Feira de emprego e estágio da Estácio deve ter mais de 4.000 vagas neste ano”*
*”Nova lei de saneamento anima fundos globais de investimento”*
OPINIÃO - *”Sem boa gestão, novo marco do saneamento poderá ter benefícios frustrados”*
*”BC mudou regra para suspender serviço de Mastercard e Visa em pagamentos pelo WhatsApp”*
*”Não faz sentido Itaú ter participação se não acredita no modelo de negócio, dizem sócios da XP”*
*”Apesar do STF, Guedes insiste em cortar salário de servidor”*
NELSON BARBOSA - *”38ºC no verão ártico!”*
ENTREVISTA - *”Google anuncia que vai pagar por notícias”*
*”Bolsonaro anuncia Carlos Decotelli, ex-presidente do FNDE, para Educação”* - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciou o ex-presidente do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) Carlos Decotelli, 67, para ser ministro da Educação. Decotelli, oficial da reserva da Marinha, vai suceder Abraham Weintraub, que foi demitido da pasta na semana passada após uma série de desgastes com o STF (Supremo Tribunal Federal). É o primeiro ministro negro do governo Bolsonaro e o terceiro ministro da Educação. Ao anunciar sua escolha, Bolsonaro disse que o novo ministro é "bacharel em Ciências Econômicas pela UERJ, mestre pela FGV, doutor pela Universidade de Rosário, Argentina e pós-doutor pela Universidade de Wuppertal, na Alemanha". "Eu estava dando aula ontem, tive aula, e fiz hoje a reunião. Fui pego de surpresa", disse Decotelli em entrevista à CNN Brasil, após a confirmação de seu nome. "O que ele [Bolsonaro] pontuou foi, primeiro: fazer uma gestão voltada para a educação da sociedade brasileira, conforme o marco regulatório da educação. Em segundo lugar, fazer o melhor diálogo com as entidades representativas da educação —as universidades federais, os centros técnicos. Melhor diálogo também com entidades de classe. Todos aqueles que querem fazer o melhor pela educação brasileira", completou. O nome de Decotelli foi indicado pela cúpula militar, em uma sugestão dos almirantes do governo. Ele também contou com o apoio do ministro da Economia, Paulo Guedes, com quem atuou no passado no IBMEC (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais). O almirante Flavio Rocha (Secretário de Assuntos Estrategicos) teve papel essencial na aproximação do novo ministro com o presidente. Bolsonaro conversou nesta quinta com Decotelli e o convidou para o ministério.​ ​Foi escolhido em um contraponto à defesa do grupo ideológico por um nome olavista para a função que tivesse afinidade com Weintraub. A expectativa do Planalto é de que ele distensione as relações do MEC com o Congresso e o Judiciário. Entre suas missões estão a realização do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e a aprovação da proposta sobre o Fundeb permanente. Outra tarefa será conduzir o papel do MEC na reabertura das escolas fechadas com a pandemia do coronavírus. O tema tem sido uma prioridade de Bolsonaro. O novo auxiliar atuou na equipe do presidente durante a transição de governo. Com a nomeação, ele será o 11º ministro militar do atual governo.
Decotelli é considerado de perfil conciliador e moderado por pessoas próximas. Ele comandou o FNDE de fevereiro de 2019 até agosto do ano passado. A nomeação, nas palavras de auxiliares presidenciais, foi um aceno do presidente a um discurso de pacificação com os demais Poderes. Desde a semana passada, após perder apoio nas redes sociais, Bolsonaro moderou o tom e começou a fazer gestos de aproximação ao Legislativo e ao Judiciário.​ A pouca experiência política do novo ministro, contudo, é vista com ressalvas por deputados bolsonaristas. Segundo eles, Decotteli tem pouca interlocução, por exemplo, com a frente parlamentar da educação. No meio educacional, é relativamente bem visto por não ser olavista, mas também criticado por não ter jogo de cintura no universo político, o que pode trazer dificuldades para além da burocracia do ministério.​ Mais cedo, Bolsonaro comunicou Renato Feder, secretário de Educação do Paraná, de que ele estava fora do páreo nesta quinta-feira (25). O secretário se reuniu ao menos duas vezes com o presidente. Um dos motivos que levaram o secretário a desidratar na bolsa de apostas foi o fato de ele ter sido um dos doadores da campanha de João Doria (PSDB-SP) ao governo de São Paulo em 2018. Além de Feder, outros nomes foram cogitados por Bolsonaro, que, no fim, optou por seguir a sugestão da ala militar.
Em sua live semanal, Bolsonaro afirmou que recebeu o nome de quatro "voluntários" para ocupar o cargo, mas que, entre Feder e Decotelli, optou pelo segundo por uma questão de idade e currículo. "A opção acabou sendo pelo Carlos Alberto Decotelli, pela idade, tem um currículo mais extenso, mas também tantas virtudes quanto tem também, por outro lado, o garoto, o Renato, entre outros dois que se apresentaram também como candidatos a ser ministro da Educação. Foi uma escolha muito difícil porque todos os quatro tinham um currículo excepcional", disse Bolsonaro.
*”Anúncio de novo ministro da Educação é visto com ceticismo e esperança de moderação”* - As reações ao anúncio de Carlos Decotelli, 67, como novo ministro da Educaçao do governo Jair Bolsonaro são um misto de cetismo sobre o futuro da pasta e crença de que seu perfil mais moderado possa aliviar as tensões e os problemas de falta de gestão no ministério. Nesta quinta-feira (25), Decotelli, ex-presidente do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), foi anunciado como sucessor de Abraham Weintraub, demitido na semana passada após uma série de desgastes com o STF (Supremo Tribunal Federal). Decotelli é oficial da reserva da Marinha e será o primeiro ministro negro do governo Bolsonaro. É a terceira pessoa em um ano e meio a ocupar a pasta da Educação.
Para o coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, o anúncio de Decotelli foi uma surpresa. No entanto, ele diz que o nome não desagrada a nenhuma das alas do governo. "Foi surpreendente, mas essa tem sido a regra do governo Bolsonaro. Ele não desagrada ao olavismo [ala ligada ao escritor Olavo de Carvalho, espécie de guru de Bolsonaro], tem vínculos fortes com a política econômica de Paulo Guedes [ministro da Economia] e não desagrada ao 'centrão'", diz Cara. "Ele tem dito que vai fazer uma gestão técnica. Mas gestão técnica no MEC é uma gestão pedagógica, e ele não entende nada dessa área", afirma. Segundo Cara, Decotelli deve se alinhar a um projeto de privatização da educação, como pretendido por Guedes. "Concretamente vai representar um desmonte da educação, mas com menos estardalhaço que o Weintraub", diz. "Mais preparado que o anterior para a gestão pública qualquer cidadão é." Para a colunista da Folha Cláudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais, da FGV e ex-diretora de educação do Banco Mundial, o fato de Decotelli ser considerado mais moderado que seu antecessor já é um bom sinal. "Tivemos um minstro militante, e o MEC não é lugar para isso", diz. "Por um ano e meio precisamos da ação coordenadora do ministério e nao tivemos." Costin lembra que o momento é ainda mais delicado devido à pandemia do novo coronavírus. "Estamos com as crianças longe das escolas há três meses. Teve toda uma ação dos secretários dos estados para que elas continuassem tendo aulas, mas isso seria mais fácil se tivesse havido ajuda do MEC", afirma. Ainda assim, ela se diz otimista. "É bom que prevaleça o lado da gestão", diz.
Desafeto declarado do ex-ministro Weintraub, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que o novo titular do MEC tem um bom currículo, e defendeu que o ministério cuide das crianças, e não do “Olavo da Virgínia (EUA)”. Maia se referia ao escritor Olavo de Carvalho, responsável pela indicação de Weintraub e por outros nomes da chamada ala ideológica do governo. As declarações foram dadas no início da noite desta quinta-feira (25). Maia disse que esteve com Decotelli quando ele estava no FNDE. “Ele veio só uma vez aqui no gabinete, mas não tenho nenhuma informação e conhecimento sobre o trabalho dele”, afirma. O deputado disse que o novo ministro “tem um bom currículo” e “certamente vai ser melhor que o ex-ministro”. “Tem que ter uma pessoa equilibrada, com a cabeça no lugar”, afirmou. “Acho que o Ministério da Educação tem que cuidar das nossas crianças, do futuro das nossas crianças, e não cuidar do que pensa o Olavo de Carvalho nos Estados Unidos”, criticou. Questionado sobre se o nome seria uma sinalização de que o presidente estaria procurando uma aproximação com o Congresso e com o STF, constantes alvos de ofensas do ex-ministro, ele afirmou que “quem foi ofendido pelo Weintraub foi o Brasil”.
Entre os deputados mais ligados ao tema da educação, o nome de Decotelli foi bem recebido. Relatora da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que renova o Fundeb, a deputada Dorinha Rezende (DEM-TO) afirmou à Folha que a escolha foi positiva. “Tive contato com ele quando era presidente do FNDE. Era uma pessoa acessível, bem preparada e logicamente tive mais aproximação pelo Fundeb. Logo ele montou uma equipe e uma coodenação para estudar o tema. Ele também colocou técnicos à disposição. Acho que foi uma boa escolha”, avaliou a deputada. Para ela, o Fundeb já não tem mais problemas com o MEC, mas dificuldades com a situação econômica do país, e para que a área econômica entenda que o fundo é estruturante para a educação no país. Segundo Dorinha, a chegada de Decotelli vai facilitar as converdas sobre o tema. “Eu acho que nosso diálogo pode ampliar bastante porque ele é uma pessoa que tem essa disposição para o diálogo”. Tabata Amaral (PDT-SP) e Felipe Rigoni (PSB-ES), integrantes da comissão de Educação da Câmara, foram cautelosos na avaliação do novo ministro do MEC. Rigoni disse que a pasta passou um ano fazendo uma “cruzada ideológica” que não fez bem ao Brasil. “O Ministério da Educação perdeu um ano em uma cruzada ideológica que só atrapalhou o país. Desejo sucesso ao novo ministro Carlos Alberto Decotelli. Que reabra as portas do MEC para o diálogo e consiga fazer nossa educação mais eficiente”, disse Rigoni. A deputada paulista também reforçou a crítica aos ex-ministros Vélez e Weintraub. “Decotelli chega com o desafio de reestruturar um MEC paralisado por dois ministros que nunca tiveram a educação como prioridade. Desejo que ele reconheça que o MEC precisa mudar de rota e esteja disposto ao diálogo para superarmos a crise.” A deputada não respondeu à provocação da colega Carla Zambelli (PSL-SP), feita nas redes sociais. A deputada bolsonarista citou Tabata em uma publicação, questionando-a se a pedetista teria coragem de criticar Decotelli. Zambelli destacou nas redes o currículo do novo ministro, incluindo os títulos de mestre e doutor, as entidades de ensino por onde Decotelli já passou e as obras em que é autor ou coautor. ​
+++ Chamemos atenção para a estrutura da reportagem. A Folha abre espaço para integrantes da sociedade que são da área da Educação, para o presidente da Câmara, para uma deputada do DEM que é o mesmo partido de Rodrigo Maia e para Tabata Amaral e Felipe Rigoni que são da comissão da Educação, mas que tem apenas 1 ano e meio de mandato. No Parlamento existem outras forças que são muito mais representativas e que tem entre os seus integrantes ex-ministros da Educação, por exemplo. A seleção das fontes é um ato político do jornal. Sempre.
*”Menino de 11 anos baleado na cabeça é a 5ª criança morta no Rio em 2020”* - Um menino de 11 anos foi baleado na cabeça e morreu na madrugada desta quinta-feira (25) no complexo de favelas da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro. Ele é ao menos a quinta criança morta por disparo de arma de fogo no estado fluminense neste ano, segundo a ONG Rio de Paz. Kauã Vitor da Silva foi atendido na UPA (unidade de pronto atendimento) da região e depois foi levado ao Hospital Municipal Souza Aguiar, no centro da cidade, onde deu entrada às 3h42, mas não resisistiu aos ferimentos, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. Os policiais que foram verificar a ocorrência no hospital "foram informados de que o menino teria sido atingido em frente à sua residência no Complexo da Maré, e que o disparo teria sido realizado acidentalmente por outro menor de idade, que manuseava a arma", afirmou a Polícia Militar. A morte está sendo apurada pela Delegacia de Homicídios da capital, que não deu detalhes do que ocorreu. A Polícia Civil disse apenas que equipes foram ao hospital para buscar informações, que outras diligências estão sendo realizadas e que a ocorrência está em andamento.
Mais cedo, a corporação havia divulgado uma nota dizendo que o caso "inicialmente aponta para a participação de narcotraficantes que atuam no Complexo da Maré, os quais são os maiores violadores dos direitos humanos da população local, cooptando menores para trabalharem armados no tráfico, e impondo o terror e a opressão aos moradores". O comunicado segue afirmando que "todos os participantes desse crime serão identificados e terão suas prisões requeridas à Justiça, inclusive as lideranças locais. A Secretaria de Polícia Civil do Estado reafirma seu compromisso com a garantia da liberdade e direitos dos cidadãos de bem que vivem oprimidos por organizações criminosas atuantes em comunidades". O delegado responsável pela divisão, Daniel Rosa, declarou ao jornal O Globo que vai indiciar pelo crime Thiago da Silva Folly, o TH, chefe do tráfico de drogas da Vila do Pinheiro, área dentro da Maré onde ocorreu o crime. "O criminoso chefe daquela comunidade responde por todos os crimes ocorridos na região", disse. A Folha tentou contato com o delegado, mas não conseguiu. TH, 31, é acusado de ter praticado diversos homicídios e tentativas de homicídio, ocultação de cadáver, corrupção de menores, tráfico de drogas, associação criminosa e roubo. Ele já teve 14 mandados de prisão expedidos, segundo o Disque Denúncia, que oferece R$ 1.000 por informações sobre sua localização. De acordo com O Globo, os investigadores apuram se o adolescente que teria disparado a arma acidentalmente foi morto por traficantes após o incidente. O delegado Antônio Ricardo, diretor do Departamento Geral de Homicídios, afirmou que deve ser realizada uma reprodução simulada do caso. Para isso, a polícia terá que justificar a ação por escrito ao Ministério Público, já que o ministro do STF Edson Fachin decidiu no último dia 5 que as polícias do Rio de Janeiro só podem realizar operações em favelas durante a pandemia do novo coronavírus “em hipóteses absolutamente excepcionais”.
OUTRAS CRIANÇAS MORTAS
Kauã Vitor da Silva é ao menos a quinta criança de até 14 anos vítima da violência no estado do Rio em 2020, segundo a ONG Rio de Paz. O número já se aproxima da quantidade do ano passado inteiro, quando foram contadas seis crianças mortas. Neste ano, a primeira foi Anna Carolina de Souza Neves, 8, atingida por uma bala perdida na cabeça no sofá de casa em Belford Roxo, na região metropolitana​, em 9 de janeiro. Vinte dias depois, foi a vez de João Vitor Moreira dos Santos, 14, também baleado na cabeça quando voltava de uma festa com a família no bairro Vila Kosmos, zona norte do Rio. Em 6 de fevereiro, Luiz Antônio de Souza Ferreira da Silva, 14, foi atingido na perna assim que saiu de uma consulta no psicólogo com a mãe adotiva em São João de Meriti, também na região metropolitana, e morreu no dia seguinte. O caso mais recente havia sido o do menino João Pedro Mattos, 14, que causou grande comoção. Ele foi baleado nas costas dentro da casa de seus tios durante uma operação. Os três policiais que fizeram a incursão dizem que houve troca de tiros com bandidos que fugiram pelo muro, mas os primos de João afirmam que não havia bandidos e que os agentes chegaram atirando.
ENTREVISTA - *”Reabertura das escolas poderá ter exceções se estado todo não progredir, diz Rossieli Soares”*
*”SP chega a 248.587 casos de Covid-19 e ultrapassa a Itália em números absolutos”*
*”Mesmo sem data prevista, salões e academias se preparam para reabertura em São Paulo”*
*”Bares e restaurantes sugerem vetar cliente em pé para abrir na capital paulista”*
*”Desaba internação em hospitais de campanha em SP, e prefeitura vai fechar Pacaembu”*
*”Iluminado e frio, Hospital do Anhembi tem história de amor em meio a pandemia”*
*”Pesquisa aponta falta de termômetros e proteção para tratar Covid-19 no SUS”*
*”Decisão de retirar dados foi inútil e enfraqueceu Ministério da Saúde, diz Teich”*
*”Terras Indígenas e UCs federais concentram 72% do desmatamento para garimpos na Amazônia em 2020”* - De janeiro a abril deste ano, 72% do desmatamento provocado por garimpos ilegais em atividade na Amazônia estavam concentrados em áreas protegidas, como Unidades de Conservação (UCs) e Terras Indígenas (TIs), segundo apontam alertas de desmatamento do Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O desmatamento provocado pelos garimpos ilegais nas UCs da Amazônia aumentou 80,6% nos quatro primeiros meses de 2020, em comparação com o mesmo período do ano passado. Ao todo, a atividade garimpeira desmatou 487 hectares de floresta de janeiro a abril de 2019 e, neste ano, a área desmatada foi de 879 hectares. Já a área de desmatamento para garimpos ilegais dentro de TIs da Amazônia aumentou 13,4% no período de janeiro a abril de 2020, em comparação com os mesmos quatro primeiros meses de 2019. Os dados do Deter são o pano de fundo de um relatório que o Greenpeace divulgaria nesta quinta-feira (25). O documento aponta que garimpos estão expandindo áreas de desmatamento ilegal dentro de UCs e TIs da Amazônia em plena pandemia de Covid-19 e reúne registros fotográficos da devastação ligada ao garimpo ilegal em pelo menos quatro áreas protegidas federais, feitos durante um sobrevoo na área, realizado em maio. Se, no ano passado, o garimpo foi responsável por desmatar 383 hectares nas TIs amazônicas, nos quatro primeiros meses deste ano a área desmatada nesses territórios foi de 434 hectares. De forma geral, o desmatamento nas terras indígenas aumentou 64% nos primeiros quatro meses de 2020, em comparação com o mesmo período de 2019.
O cenário motivou o Ministério Público Federal (MPF) a entrar com ação exigindo medidas do governo federal contra a mineração ilegal em TIs na Amazônia, entre elas a TI Munduruku e a TI Sai Cinza, no Pará. As quatro áreas preservadas mais desmatadas pelo garimpo na Amazônia nos primeiros quatro meses de 2020 são de gestão federal, segundo o Greenpeace: Parque Nacional (Parna) do Jamanxim, Floresta Nacional (Flona) de Altamira e as TIs Munduruku e Sai Cinza. São imensas clareiras abertas no meio da floresta, com uma movimentação intensa de pessoas, maquinário pesado, veículos e uma ampla infraestrutura de estradas e até pistas de pouso improvisadas. Todas ficam no Pará, estado que lidera o desmatamento na Amazônia e que registrou aumento de 170% nas áreas de alerta de desmatamento do Deter de agosto de 2019 a abril de 2020, em comparação com o mesmo período dos anos anteriores. No Parna do Jamanxim, unidade de conservação de proteção integral onde a exploração mineral é proibida, foram detectados mais de 23 hectares de desmatamento provocados pela atividade garimpeira de janeiro a abril. A Flona de Altamira é outra UC que se destaca negativamente no desmatamento ligado aos garimpos ilegais na Amazônia, apontou o Greenpeace. Lá, segundo alertas do Deter, foram desmatados mais de 13 hectares de floresta só nos primeiros quatro meses deste ano.
TIS MUNDURUKU E SAI CINZA CONCENTRAM 60% DO DESMATAMENTO EM 2020
Entre as terras indígenas mais desmatadas em decorrência da atividade garimpeira na Amazônia em 2020, a TI Munduruku e a TI Sai Cinza, ambas habitadas pelo povo mundurucu, são as que mais preocupam. Juntas, as duas concentram 60% dos alertas de desmatamento para garimpo em TIs da Amazônia identificados pelo Inpe entre janeiro e abril deste ano, aponta o Greenpeace. Na TI Sai Cinza o desmatamento para garimpo começou neste ano, com pouco mais de 21 hectares desmatados de janeiro a abril. As imagens do sobrevoo realizado pelo Greenpeace dias 12 e 13 de maio, que flagraram a presença de tratores, retroescavadeiras hidráulicas e estradas abertas há pouco tempo, sugerem que o garimpo ali é recente. Equipamentos e maquinário também foram fotografados na TI Munduruku, onde a situação é ainda mais alarmante: lá foram desmatados 241 hectares de floresta nos primeiros quatro meses de 2020, 58% mais que no mesmo período do ano passado, segundo dados do Deter. A disputa entre garimpeiros e índios mundurucus existe há mais de quatro décadas. A primeira incursão de garimpeiros em busca de ouro começou em 1980, mas os indígenas conseguiram expulsar os invasores. No entanto, em meados de 2010 os garimpeiros retornaram, invadindo terras ocupadas por dezenas de aldeias indígenas e cooptando índios para trabalharem nos garimpos ilegais. Na TI Munduruku os indígenas já perderam controle de parte do território. Agora, a preocupação tem mais um motivo: os aumentos dos casos de Covid-19. Liderança mundurucu, Alessandra Korap defende a demarcação de todos os territórios indígenas como medida fundamental para a defesa dos direitos dos índios, mas reconhece que esse demorado processo não é suficiente para garantir isso. “Por isso é que não somos a favor da legalização da mineração em terras indígenas. Nem conseguiram concluir o reconhecimento de um território e já querem explorar”, disse Korap.
Para ela, o momento não é de discutir a mineração em terras indígenas, mas sim de discutir a homologação das TIs ainda não homologadas e a proteção das homologadas, de forma a proteger a população indígena, também, do coronavírus, que chegou a muitos povos indígenas levado por uma invasão de garimpeiros. “Estamos fazendo uma campanha para montar um hospital de campanha dentro da aldeia, arrecadando material hospitalar, e vamos pedir ao Governo do Pará que contrate profissionais de saúde para atender na aldeia, porque os índios não querem vir para a cidade. Eles estão com medo”, contou. Outra área protegida afetada que sofre com o aumento da pressão do garimpo ilegal é a TI Yanomami, nos estados de Roraima e Amazonas. Temendo que a expansão da atividade garimpeira em meio à pandemia colabore para a disseminação de casos de Covid-19 entre indígenas, lideranças ianomâmi e ye’kwana lançaram a campanha #ForaGarimpoForaCovid, que cobra a retirada dos mais de 20 mil garimpeiros que estão na terra indígena. A TI Yanomami está no ranking das TIs mais vulneráveis para a Covid-19, segundo levantamento feito pelo Instituto Socioambiental (ISA) em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que calculou que, no pior cenário, 5.600 dos 13.800 ianomâmis (40% do total) podem se infectar, e o número de mortes pode chegar a 896 indígenas.
FLEXIBILIZAÇÃO ENFRAQUECE PROTEÇÃO AMBIENTAL
Para a coordenadora da campanha Amazônia do Greenpeace, Carol Marçal, o cenário alarmante é reflexo de medidas adotadas pelo governo federal que flexibilizam a legislação ambiental e as normas infralegais, enfraquecendo a proteção ambiental e violando direitos indígenas em plena pandemia. Entre essas medidas estão os Projetos de Lei (PL) 191/2020, que pretende permitir a exploração mineral e hídrica em terras indígenas, e o PL 2633/2020, que, segundo o Greenpeace, vai permitir a legalização de grilagens feitas em terras públicas até dezembro de 2018. Há ainda a instrução normativa (IN) 09/2020, da Fundação Nacional do Índio (Funai), que está sendo contestada por lideranças indígenas de todo o país por, segundo elas, estimular a ocupação de territórios indígenas em processo de demarcação por pessoas não indígenas. “Todas essas medidas têm um reflexo imediato, que é a intensificação dessas atividades ilegais", afirmou Carol Marçal. Ela lembra ainda que os invasores são possíveis vetores de doenças para os indígenas, "o que, em um contexto de epidemia, é ainda mais alarmante". "Dada a velocidade da disseminação da Covid-19 e seu avanço nas terras indígenas da região, é urgente que o Estado brasileiro responda aos alertas emitidos pelas lideranças indígenas e pelo Inpe, sob pena de testemunharmos um novo genocídio indígena." A Folha entrou em contato com o Ibama e a Funai, mas nenhum dos órgãos respondeu às perguntas até a conclusão deste texto.
*”Amazônia tem maior número de queimadas nas primeiras semanas de junho desde 2007”* - Entrando em seu período mais seco, a Amazônia já tem as três primeiras semanas de junho com maior números de focos de incêndio desde 2007. Do início do ano até agora, os registros de queimadas também cresceram na maior parte dos estados do bioma, em comparação com 2019, ano marcado pelas queimadas que chamuscaram a imagem ambiental internacional do Brasil. Entre o primeiro dia de junho e o dia 21, O Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), por meio do Programa Queimadas, detectou 1.469 focos de incêndio na Amazônia. O valor é 30,5% maior do que o documentado no mesmo espaço de tempo em 2019 (1.125 focos). Os incêndios estão concentrados principalmente em Mato Grosso e Pará, os dois estados que lideraram o ranking de desmatamento em 2018/2019. No último ano, a destruição da floresta bateu o recorde da década e superou a marca simbólica de 10 mil km² de mata devastada. De acordo com análise feita pela ONG WWF-Brasil, o número de focos de incêndio no bioma nas primeiras semanas de junho está cerca de 50% acima da média dos dez anos anteriores (2010 a 2019).
“Esse mês já começa a refletir como vai ser a estação que está por vir”, afirma Edegar de Oliveira, diretor de conservação e restauração da WWF-Brasil. Além do aumento geral até aqui em junho, a maior parte dos estados que fazem parte da Amazônia legal teve crescimento no número de focos em relação ao ano anterior, inclusive os líderes de queimadas Mato Grosso e Pará. Os maiores aumentos percentuais, contudo, ocorreram no Amazonas (52%), Acre (50%) e Amapá (75%, de 4 para 7 focos). Como um todo, os estados de Maranhão e Tocantins (que possuem porções da floresta em seu território), apresentaram reduções de focos de incêndio de cerca de 34% e 20%, respectivamente. A redução mais acentuada, sempre levando em conta somente o tempo transcorrido de 2020 até o momento, ocorreu em Roraima, com quase 3.000 focos de fogo a menos (diminuição de 64%). Ane Alencar, diretora de ciência do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), diz que ao olhar o bioma como um todo, há uma redução nos focos puxada por Roraima. Mas “Mato Grosso está maior, Pará está maior, Rondônia maior, Amazonas maior. Esses quatro estados representam grande parte do desmatamento na Amazônia".
Pesquisadores vinham alertando que as queimadas em 2020 poderiam ser ainda mais graves, considerando os níveis de desmatamento registrados em 2019 e os recordes mensais recentes de devastação da floresta documentados pelo Deter (programa do Inpe que indica desmatamento praticamente em tempo real para auxiliar operações de fiscalização e que pode ser usado para identificar tendências de aumento ou redução na destruição da floresta). As queimadas e o desmate da Amazônia estão intimamente ligados. O fogo é usado para limpar as áreas anteriormente derrubadas. Segundo nota técnica do Ipam, considerando a vegetação derrubada entre janeiro de 2019 e abril de 2020, ainda há 4.509 km² de mata derrubada para ser queimada —o que equivale a cerca de 45% do que foi desmatado no período (boa parte ainda em 2019).
A nota aponta alguns pontos críticos que podem sofrer com as queimadas por terem vegetação derrubada ainda não incendiada. No Pará, eles são: arco que liga a região de Altamira e São Félix do Xingu, principalmente as terras indígenas Itauna-Itatá, Apiterewa e Trincheira-Bacajá, além da Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu; rodovia Transamazônica no trecho entre Altamira e Rurópolis, destacando-se a Terra Indígena Cachoeira Seca; região de Novo Progresso e Castelo dos Sonhos, principalmente a Floresta Nacional (Flona) do Jamanxim; e região do Baixo Amazonas. Em Mato Grosso, os pontos críticos estão em Colniza, Cotriguaçu, Aripuanã, Apiacás; e nas regiões a oeste do Parque Indígena do Xingu, além da região de Marcelândia e União do Sul. A preocupação dos especialistas não está somente nas queimadas, mas no efeito delas na saúde da população amazônica. “O que também nos preocupa é o casamento da Covid com as queimadas. Quando você tem muita queimada, isso gera um impacto na saúde pública da região. Aliado à Covid, é tenebroso para a população”, diz Oliveira. Um informe técnico da Fiocruz, através do Observatório de Clima e Saúde, do ano passado constatou aumento de internações de crianças por causa de problemas respiratórios nas regiões com maiores concentrações de queimadas.
A fumaça das queimadas, segundo os autores do informe, pode agravar quadros de cardiopatia, inflamação das vias aéreas, inflamação sistêmica, coagulação, alteração no sistema nervoso, entre outros. “A área do Arco do Desmatamento concentra a maior parte dos focos de queimadas e também as maiores taxas de internação por doenças respiratórias da região amazônica. Somente em maio e junho de 2019 foram registradas nesta área cerca de 5.000 internações de crianças por mês, o dobro do valor esperado”, afirma a nota da Fiocruz. Com isso, a ocorrência das queimadas junto à pandemia de Covid-19 na região amazônica poderia provocar uma “tempestade perfeita” e causar ainda mais mortes, segundo nota técnica do Ipam. O governo Jair Bolsonaro (sem partido) vem sendo cobrado no cenário internacional por sua política ambiental. Recentemente, membros do Parlamento Europeu que representam os quatro maiores grupos políticos da instituição e que fazem parte dos comitês que tratam de agricultura e comércio exterior, nos quais têm sido discutidas novas regras para acordos comerciais como o negociado com o Mercosul, enviaram uma carta para os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). O documento pede ação do Congresso para “manter a estrutura legal necessária para proteger as florestas brasileiras e os direitos indígenas”.
“Ficamos preocupados ao ouvir os comentários recentes feitos pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, estimulando o governo a pressionar pela desregulamentação da política ambiental, como testemunhado em um vídeo divulgado pela Suprema Corte”, diz a carta. A política ambiental de Bolsonaro e Salles e os recordes de destruição da Amazônia desagradam a instituições que fazem negócios com o Brasil, o que pode trazer prejuízo econômico ao país. Na segunda (22), fundos de investimento e de pensão que juntos administram certa US$ 4,1 trilhões (R$ 21,6 trilhões) enviaram uma carta aberta a sete embaixadas brasileiras na Europa, no Japão e nos Estados Unidos pedindo uma reunião para discutir o desmatamento na Amazônia. A reportagem procurou o Ministério do Meio Ambiente, mas até o momento não obteve resposta. Em sua live semanal, Bolsonaro reclamou nesta quinta-feira (25) que tudo o que acontece no Brasil é "potencializado de forma negativa" no exterior. "Ninguém preserva tanto o meio ambiente como nós. Mais de 60% do território é preservado, de uma forma ou de outra. Lá fora, você não encontra um palmo de mata ciliar junto aos rios. Agora, nós pagamos um preço muito alto no tocante a isso daí. No ano passado, nós tivemos uma média de focos de incêndio inferior a dos últimos anos, e assim mesmo foi potencializado, como se eu estivesse botando fogo na região amazônica como um todo", disse o presidente.
*”Pó do Saara encobre Porto Rico e Cuba e afeta ar no sul da Flórida”*
MÔNICA BERGAMO - *”Foro especial a Flávio Bolsonaro causa espécie entre ministros do STF”*: A decisão do Tribunal de Justiça do Rio de conceder foro especial a Flávio Bolsonaro mesmo depois de ele já ter deixado o cargo de deputado estadual causou espécie entre ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). É que, depois que votou pela restrição do privilégio, a corte enviou centenas de inquéritos de políticos já fora dos cargos à primeira instância —ao contrário do que fez agora o tribunal do Rio. O caso mais notório é o de Michel Temer. O ex-presidente respondia a quatro inquéritos no STF —e todos foram para a primeira instância depois que ele deixou o cargo. Um outro exemplo é o de José Serra. Ele foi investigado por supostas fraudes na construção do Rodoanel quando governou São Paulo, de 2007 a 2010. Em 2018, o inquérito sobre o assunto estava no STF —que decidiu enviá-lo à primeira instância. Serra, embora com mandato de senador, não mantinha mais o foro especial para investigações do tempo em que era governador. A discussão sobre o foro de Flávio Bolsonaro pode chegar ao STF, caso o Ministério Público do Rio questione a decisão do TJ do Rio.
MÔNICA BERGAMO - *”Doria pede inquérito para descobrir dono de perfil bolsonarista no Instagram”*
MÔNICA BERGAMO - *”Lula e Alberto Fernández debatem América Latina pós-pandemia em evento virtual”*: O ex-presidente Lula vai debater nesta sexta (26) “A América Latina depois da Pandemia da Covid-19” com o presidente da Argentina, Alberto Fernández, em um evento virtual. Ele é patrocinado pela Universidade de Buenos Aires —a mesma que, no mês passado, cancelou uma palestra do ex-ministro Sergio Moro depois de uma enxurrada de críticas ao divulgá-la. Vão participar também do evento, com comentários, o arquiteto argentino e Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel, a jurista brasileira Carol Proner e o ministro da Educação da Argentina, Nicolás Trotta. O debate começa às 15h.
MÔNICA BERGAMO - *”Governo freta três aviões para repatriar 400 brasileiros vindos do Canadá”*
MÔNICA BERGAMO - *”Cerca de 300 taxistas farão testes de Covid-19 no aeroporto de Congonhas”*
MÔNICA BERGAMO – *”Arquiteto brasileiro vence competição de design para tempos de coronavírus”*
MÔNICA BERGAMO - *”Ministros do STJ e presidente da FGV debatem imagem do Judiciário”*
 
CAPA – Manchete principal: *”Bolsonaro atende ala militar e escolhe moderado para o MEC”*
EDITORIAL DO ESTADÃO - *”O STF contra a arte de governar”*: Ao proibir Estados e municípios de cortar salários de servidores, mesmo em caso de grave crise financeira, o Supremo Tribunal Federal (STF) restringiu o uso das quatro operações na administração pública. A aritmética surgiu muito antes do direito constitucional, vigora no dia a dia de todas as pessoas, sem distinção de raça, renda ou religião, regula a vida empresarial e é geralmente seguida até pelo poder público, mas também nisso o Brasil é diferente. Governantes fariam bom uso dos números, especialmente em tempos de aperto, se pudessem ajustar a folha de pessoal à receita disponível e aos objetivos da administração. Mas diminuir salários e jornadas é inconstitucional, decidiram por 7 a 4 os juízes da Corte mais alta. Trabalhadores e empresas do setor privado aceitaram soluções de emergência, recentemente, para limitar os danos da crise. Cerca de 11,5 milhões de assalariados entraram em acordos de redução de ganhos e de horas de trabalho ou de suspensão de contratos. Preservar empregos e firmas empregadoras foi o objetivo do governo ao propor essas medidas. O balanço final da recessão ainda mostrará grandes estragos, mas o quadro seria certamente bem pior sem os arranjos especiais. Ao proibir o corte de salários e jornadas no setor público, o STF barrou também uma solução equilibrada: a redução de custos combinada com a manutenção de empregos, como lembrou o ministro Alexandre de Moraes, um dos quatro favoráveis à tese derrotada. Sem condição de ajustar a folha de pessoal aos limites orçamentários, o Executivo pode promover demissões e extinguir cargos. Para isso deve usar a saída aberta pelo artigo 169 da Constituição. Mas esse remédio, avaliado à luz das técnicas administrativas, é desnecessariamente radical.
A saída mais equilibrada e mais eficiente seria aquela indicada na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), aprovada no ano 2000, ainda na gestão de Fernando Henrique Cardoso. Essa lei foi o toque final de um bem concebido esforço de renovação e racionalização das finanças públicas. Sua aplicação disciplinou de modo muito saudável, durante vários anos, a gestão do orçamento público e o endividamento de Estados e municípios. Além disso, impôs novas normas ao uso de verbas em anos de eleição, dificultando as despesas destinadas à caça de votos. Agora, esse esforço de racionalização foi freado pelo STF. Ao fixar limites para a relação entre gastos com pessoal e receita líquida, a LRF permitiu a diminuição de jornadas e salários como forma de ajuste. Esse dispositivo seria crucialmente importante para a arrumação das contas de Estados e municípios em péssimas condições fiscais. O bom uso dos números, normalmente acessível no setor privado, daria flexibilidade à gestão pública, beneficiando todos. Mas a racionalidade e o bom uso da contabilidade foram vetados.
Críticos da decisão do Supremo falaram em corporativismo do setor público. Alguns apontaram o contraste entre os acordos aceitos por trabalhadores privados e a posição especial dos funcionários públicos, com seus salários intocáveis. Mas um ponto essencial foi geralmente esquecido: a função específica dos órgãos governamentais. A existência de tais órgãos só é justificada pela prestação de certos serviços à comunidade – segurança, justiça, defesa externa, regulação de atividades, definição e proteção de direitos, educação, saúde, saneamento e assim por diante. Emprego e custos salariais só têm sentido, em qualquer dos Poderes, em vista do cumprimento daquelas funções. É preciso, naturalmente, regular relações trabalhistas no setor governo, assim como nas atividades de mercado. Mas sobrepor salários e emprego aos objetivos da função pública, a ponto de quase inviabilizar a sua execução, é mergulhar num universo de ideias e palavras sem sentido. Com sua decisão, o STF pôs em xeque um fator essencial de racionalização e eficiência do setor público, a LRF. Por falar em eficiência: o Supremo começou a julgar essa lei pouco depois de sua promulgação. Isso foi há 20 anos.
COLUNA DO ESTADÃO - *”Disputa velada entre Ciro e o PT permeia ato”*: As negociações para colocar em pé o ato virtual de parte da oposição a Jair Bolsonaro hoje à noite envolvem antigos ressentimentos, disputa por protagonismo e muitas desconfianças. Em alas importantes do PT, é dado como certo que o “Direitos Já” está a serviço da pré-candidatura de Ciro Gomes (PDT) a presidente, com apoio velado do PCdoB, o que explicaria a decisão de Lula de não participar, ainda que Fernando Haddad esteja confirmado. Entre os tucanos, o prefeito Bruno Covas era dúvida até as 21h de ontem. João Doria não foi convidado.
» Sem... O sociólogo Fernando Guimarães, egresso do PSDB, nega que o ato, marcado para as 19h na página do Facebook do Direitos Já, esteja a serviço de Ciro ou de qualquer outro nome.
» ...dono? “É um movimento horizontal. Todos terão o mesmo tempo para discursar”, diz Guimarães. Ele defende que o ato não foi “esvaziado”, apesar da desistência de Michel Temer, José Sarney e Dias Toffoli de participar.
» Lista. Segundo Guimarães, outros nomes se somaram ao grupo: Geraldo Alckmin, Tarso Genro, Wellington Dias e Eduardo Leite.
» Opa. FHC balançou, mas, por enquanto, manteve sua participação no ato de hoje.
*”Inquérito da ‘rachadinha’ vai para 2ª instância”* - O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) conseguiu ontem uma vitória no inquérito que investiga um suposto esquema de “rachadinha” em seu antigo gabinete na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). A prática consiste na devolução de parte dos salários dos servidores para determinado político. A 3.ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio retirou, por 2 votos a 1, o caso das mãos do juiz Flávio Itabaiana Nicolau, da 27ª Vara Criminal, responsável por decisões desfavoráveis ao filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro e pelo mandado de prisão do ex-assessor Fabrício Queiroz. O caso foi encaminhado para o Órgão Especial do TJ-RJ. Os desembargadores acolheram habeas corpus apresentado pela defesa, que argumentou que Flávio tinha direito a foro privilegiado no Órgão Especial, a segunda instância da Justiça fluminense, por ser deputado estadual à época dos fatos investigados. Até então, a investigação corria em primeira instância, em acordo com o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) de que o foro privilegiado se restringe a fatos ocorridos no mandato e em função dele. No habeas corpus, os advogados de Flávio pediram ainda a anulação de todas as provas obtidas a partir de decisões de Itabaiana, o que não foi concedido pela da 3.ª Câmara. Os magistrados entenderam que caberá ao relator do caso no Órgão Especial decidir pela anulação ou não das provas. No inquérito, aberto em 2018, Itabaiana autorizou quebras de sigilo bancário, fiscal e eletrônico, além de mandados de busca e apreensão. Foi ele quem concedeu a prisão de Queiroz, apontado pelos investigadores como suposto operador financeiro do esquema de Flávio na Alerj. Agora, o sistema do TJ sorteará um relator para o caso entre os desembargadores. A decisão chega num momento em que o Ministério Público estava prestes a apresentar a primeira denúncia sobre o caso. A decisão também altera a condução das investigações no MP. O inquérito era tocado pelo Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (Gaecc). Agora, passa para o Grupo de Atribuição Originária Criminal da Procuradoria-Geral de Justiça, comandado pelo chefe da Promotoria, Eduardo Gussem, que tem atuação no Órgão Especial do TJ. Com as decisões de Itabaiana e seus desdobramentos colocados em xeque, as provas obtidas até agora podem ser questionadas. O MP deve recorrer – formalmente afirmou que aguarda a publicação do acórdão da sessão para estudar o que será feito. A Promotoria tem direito a entrar com recursos no Superior Tribunal de Justiça (STJ) ou no Supremo Tribunal Federal (STF), caso entenda que os desembargadores feriram um entendimento da Corte.
Com a mudança, a defesa de Flávio volta a ganhar tempo. Desde o início, a estratégia dos diferentes advogados escolhidos pelo senador foi de tentar paralisar de diversas formas a investigação. No ano passado, uma decisão monocrática do presidente do STF, Dias Toffoli, suspendeu as investigações por quatro meses – o plenário Corte derrubou a decisão em novembro passado. Todos os investigados no inquérito acabaram se beneficiando da decisão de ontem. No Órgão Especial, porém, cada caso será avaliado individualmente. Por isso, o habeas corpus apresentado por Alexandre Santini, sócio de Flávio na loja da Kopenhagen – por meio da qual eles teriam lavado dinheiro desviado da Alerj, segundo o MP – foi retirado da pauta de ontem. Até investigados em outros inquéritos esperam mudanças em seus casos. A defesa do exgovernador do Rio, Sérgio Cabral, já pensa em reivindicar o mesmo direito. Preso desde novembro de 2016, Cabral foi condenado 13 vezes por um juiz federal de primeira instância, Marcelo Bretas. Se o TJ aplicaro mesmo entendimento a ele, deveria responder também na segunda instância.
Defesa. Em nota, a defesa de Flávio comemorou a decisão. “Como o Tribunal de Justiça reconheceu a incompetência absoluta do juízo de primeira instância, a defesa agora buscará a nulidade de todas as decisões e provas relativas ao caso desde as primeiras investigações”, afirmam os advogados Luciana Veiga e Rodrigo Roca. Recém contratado, Roca compunha a defesa quando o pedido de habeas corpus foi apresentado por Luciana, mas foi o responsável por fazer a sustentação oral na sessão de ontem.
*”Fux quer diálogo com militares no STF”* - O ministro Luiz Fux foi eleito ontem presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) para os próximos dois anos. Em um sinal de que pretende construir pontes com as Forças Armadas e o Palácio do Planalto num momento de crise entre os Poderes, Fux já está em contato com generais e ministros do governo. A posse foi marcada para o dia 10 de setembro. “Prometo aos meus colegas que vou lutar intensamente para manter o Supremo Tribunal Federal no mais alto patamar das instituições brasileiras. Vou sempre me empenhar pelos valores morais, pelos valores republicanos, me empenhar pela luta da democracia e respeitar a independência entre os Poderes, dentro dos limites da Constituição e da lei. Que Deus me proteja”, disse o magistrado. Fux vai suceder o atual presidente do STF, Dias Toffoli, que buscou assumir um papel de conciliação entre os Poderes durante sua gestão, mas viu a Corte ser repetidamente atacada pelo presidente Jair Bolsonaro e seus aliados após impor uma série de reveses ao Palácio do Planalto. “Ele é um homem do diálogo, vai administrar bem essa aparente crise institucional. Que ele continue cumprindo o dever e administre o Judiciário como um grande todo, no conjunto”, disse o ministro Marco Aurélio Mello ao Estadão. O futuro presidente do Supremo é o relator de duas ações penais nas quais Bolsonaro é acusado de injúria e incitação ao crime de estupro por dirigir ofensas à deputada Maria do Rosário (PT-RS). Os casos foram suspensos depois que Bolsonaro assumiu o Planalto, já que a Constituição proíbe que o presidente seja responsabilizado por atos anteriores ao mandato. Fux chegou a se encontrar com Bolsonaro quando ele era presidente eleito, em meio às articulações nos bastidores para acabar com o auxílio-moradia na reta final do governo Temer.
Uma das principais dúvidas sobre a gestão do magistrado é quanto à implantação do juiz de garantias, medida barrada por decisão do próprio Fux. O ministro marcou audiências públicas para discutir o assunto, mas cancelou a programação por causa do avanço da pandemia. Um grupo de trabalho do Conselho Nacional de Justiça (STJ) preparou uma proposta para regulamentar a divisão entre dois juízes de investigações criminais, mas, para entrar em vigor, o texto ainda depende de uma decisão do STF e da disposição de Fux de levar o tema ao plenário. Antecipação. A eleição de Fux, prevista para ocorrer apenas no segundo semestre, foi antecipada para ontem, “em função da pandemia e para facilitar o processo de transição na Corte”, de acordo com a assessoria do STF. Toffoli e Cármen Lúcia, por exemplo, foram eleitos apenas um mês antes de assumirem o comando da Corte. O Supremo tradicionalmente segue o princípio da antiguidade, elegendo para a presidência o magistrado com mais tempo de atuação ali e que ainda não tenha chefiado o tribunal. A votação secreta foi feita à distância, por videoconferência, na sessão plenária de ontem. A ministra Rosa Weber será vice-presidente do STF durante a gestão Fux.
Formado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e doutor em Direito Processual Civil pela mesma instituição, Fux foi indicado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, em 2001, para uma vaga no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Dez anos depois, assumiu uma cadeira no STF após ser escolhido pela então presidente Dilma Rousseff, com o apoio do ex-governador do Rio Sérgio Cabral. O ministro também presidiu uma comissão de juristas responsável pelo anteprojeto do novo Código de Processo Civil. Em um dos episódios de maior atrito com o Congresso, Fux mandou devolver para a Câmara um projeto com 10 medidas de combate à corrupção porque o projeto, de iniciativa popular, foi desconfigurado pelos parlamentares.
*”Aras abre apuração sobre nota de Heleno”* - O procurador-geral da República, Augusto Aras, enviou manifestação ao ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, comunicando a instauração de notícia de fato para “averiguação preliminar” sobre a “nota à nação” em que o ministro Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) afirmou que um eventual pedido de apreensão do celular do presidente Jair Bolsonaro poderia “ter consequências imprevisíveis” para a estabilidade do País. A indicação foi feita para fundamentar manifestação do PGR pedindo a extinção de petição do PDT para investigação sobre o caso, por “ter esgotado seu objeto”. “Caso surjam indícios mais robustos de possível prática de ilícitos pelo representado, será requerida a instauração de inquérito criminal no STF, para adoção das medidas cabíveis”, informou Aras. A manifestação se dá em resposta ao pedido de Celso para que o PGR se pronunciasse sobre três solicitações de investigação contra Heleno, apresentados pelo PDT e pelas deputadas federais do PT Margarida Salomão (PT) e Natália Bonavides (RN). O PDT quer que Heleno seja investigado por crime contra a lei de segurança nacional. As deputadas apontam crime de responsabilidade e infração político-administrativa contra o livre exercício do Judiciário. A nota assinada por Heleno foi autorizada por Bolsonaro e chancelada pelos ministros militares. “Eu olhei e falei: ‘O senhor fique à vontade’”, relatou o presidente no dia em que o comunicado do general foi divulgado.
*”Em evento com Toffoli, Bolsonaro cita ‘entendimento’”*
*”Desembargador revoga pedido de prisão de ex-ministro e ex-deputado”*
*”Ação contra desvio na Saúde prende 5 no Rio”*
*”A rotina digital na quarentena de FCH”* - Acostumado a participar de eventos acadêmicos e palestras, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de 89 anos, virou um habitué das lives (transmissões de vídeo ao vivo pela internet). O tucano pode ser visto, em junho, em até três vídeos diferentes na mesma semana, fora as entrevistas para veículos do Brasil e do exterior. O ritmo intenso o levou a pedir a seus assessores que diminuam a carga de lives em julho. Desde o início da pandemia do novo coronavírus, as transmissões ao vivo cumprem a função de manter FHC ativo politicamente e compor a renda que ele costumava receber com palestras pagas. Em geral, cabe à sua mulher, Patrícia Kundrát, de 42 anos, deixar o computador pronto, com microfone e vídeos funcionando. Mas, como ela nem sempre está em casa, alguns contratempos podem acontecer. Em 15 de junho, um problema técnico levou FHC a atrasar uns dez minutos sua participação no Forum Brazil UK 2020, iniciativa de estudantes brasileiros no Reino Unido, que tem transmissão do Estadão. Quem acompanhava a transmissão, pode ver o ex-presidente se levantar e andar pelo cômodo, com a estante de livros ao fundo. A participação nas lives costuma cansar Fernando Henrique.
Sem a mediação de assessores, os debates e a participação de outros palestrantes costumam se alongar mais do que o ex-presidente gostaria. Os anfitriões das transmissões ao vivo são variados. No último mês, em meio a participações em manifestos a favor da democracia e contra o presidente Jair Bolsonaro, FHC respondeu às perguntas do comediante Fábio Porchat e da jornalista Joyce Pascowitch, que focou a entrevista na vida pessoal do ex-presidente, discutiu os rumos da política externa com diplomatas e discursou para o mercado financeiro. Ontem, o tucano conversou de forma virtual com investidores da operadora financeira Necton e, mais tarde, com empresários do Lide de Ribeirão Preto. Em ambos os casos foi remunerado, embora os valores não tenham sido revelados pelas empresas. Ao falar sobre o convite a FHC, o economista chefe da Necton, André Perfeito, disse que o ex-presidente foi quem conduziu o Brasil no período de mais longo de estabilidade, mas pontuou que o tucano não é um consenso no mercado financeiro. Isso ficou claro nos comentários da live, onde o convidado foi chamado até de “comunista”. “O mercado financeiro tem predileção pelas bandeiras do Paulo Guedes”, disse Perfeito.
Oposição. Hoje, FHC participará de um ato virtual contra Bolsonaro. Nas lives políticas, o tucano tem pregado a coesão da oposição, sem defender o impeachment do presidente, um processo considerado por ele “traumático”. Nas declarações mais recentes, FHC disse que Bolsonaro está “cavando seu próprio buraco” e é “menor que a cadeira de presidente”. Mas o ponto central de suas intervenções é sempre o diálogo pluripartidário e amplo, uma posição que destoa dos discursos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do PT. Além das lives, FHC tem usado muito o Twitter. Segundo pessoas próximas, o tucano “acha graça” na ferramenta, que considera um “desafio”. Autor de mais 25 livros, além de artigos e ensaios acadêmicos, FHC encontra, às vezes, dificuldade para reduzir seus comentários a 280 toques. Recorre a abreviações de palavras (PR, em vez de presidente da República, por exemplo) e à divisão dos tuítes em mais de uma publicação. Dentro das inovações tecnológicas impostas pela quarentena, o tucano também aderiu aos serviços de streaming. Para, principalmente, assistir a filmes com sua mulher. O tucano não é fã de assistir maratonas de séries, segundo dizem amigos.
*”’Direitos já’ reúne Huck, Marina, Ciro e Haddad”* - Um ato virtual contra o presidente Jair Bolsonaro convocado pelo movimento Direitos Já deve reunir ao menos 100 políticos, sendo 13 presidentes de partidos, da esquerda à direita, ex-presidenciáveis e coordenadores de outros grupos de defesa da democracia. No entanto, os principais nomes do PT ficarão de fora, embora tenham sido convidados. Os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff decidiram não participar do ato, que terá Fernando Haddad, candidato presidencial da sigla em 2018. Outros nomes que concorreram à Presidência – Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e Guilherme Boulos (PSOL) – também participam. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) confirmou. Outro que se comprometeu foi o apresentador Luciano Huck, cotado como possível candidato em 2022. Segundo o coordenador do grupo, Fernando Guimarães, não existe no grupo consenso sobre o impeachment.
*”Sem acordo, Senado adia votação de projeto sobre fake news”*
*”Autoridades sanitárias dizem que 23 milhões foram infectados nos EUA”*
*”Pesquisa coloca Biden à frente em Estado-chave”* - O presidente Donald Trump está atrás do democrata Joe Biden em seis Estados-chave, de acordo com novas pesquisas New York Times/Siena College, divulgadas ontem. Os números mostram Biden à frente na Flórida (6 pontos porcentuais), em Wisconsin e Michigan (11 pontos porcentuais), na Pensilvânia (10), na Carolina do Norte (9) e no Arizona (7). Na quarta-feira, a mesma pesquisa New York Times/Siena College colocou Biden 14 pontos porcentuais à frente de Trump (50% a 36%), em sondagem feita com eleitores de todo o país. As seis pesquisas de ontem, porém, são expressivas por duas razões: refletem em nível local o crescimento nacional de Biden e mostram a temperatura da campanha em cada Estado. O presidente dos EUA é escolhido de maneira indireta. Por isso, em novembro, os americanos realizam 50 eleições diferentes, mas apenas uma dúzia delas interessa de fato. Na maioria dos Estados não existe disputa, porque os partidos – Democrata e Republicano – dominam completamente o mapa eleitoral. O próximo presidente será eleito por um colégio eleitoral de 538 votos, que são alocados de acordo com a população de cada Estado. Conforme os dados divulgados ontem, Biden seria eleito com pelo 333 votos, bem mais do que os 270 necessários. Os números mostram que Biden está à frente de Trump em quase todos os segmentos, incluindo mulheres (22 pontos porcentuais a mais) e eleitores brancos com nível superior (28 pontos porcentuais de vantagem), um nicho que até bem pouco tempo era dominado pelos republicanos.
*”Nuvem de poeira do Saara chega às Américas”*
*”OMS alerta para novo aumento de casos na Europa”*
*”Novo ministro é derrota para olavistas e vitória para militares”* - O novo ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, significa a derrota da ala olavista e vitória do grupo moderado militar. O economista especializado em gestão foi anunciado ontem pelo presidente Jair Bolsonaro como substituto de Abraham Weintraub, demitido na semana passada. Decotelli, ex-presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), é visto como um profissional pragmático e distante do pensamento que dominou o MEC desde o início do governo. “Não tenho competência para fazer adequação ideológica”, afirmou após o anúncio. Ele é o primeiro ministro negro do governo Bolsonaro e foi tirado do MEC justamente por Weintraub. Mas já havia travado embates com os integrantes ligados a Olavo de Carvalho durante a curta e conturbada gestão de Ricardo Vélez. O primeiro ministro da Educação de Bolsonaro saiu do cargo depois de um conflito entre olavistas, militares e técnicos do órgão. A indicação foi adiantada pelo Estadão. “Eu respeito a opinião de todos, mas eu tenho uma urgência tão grande de resolver questões que a covid desorganizou e precisamos resolver isso. Mas a ideia, claro, é fazer uma gestão que seja compatível com a realidade de cada um poder opinar”, afirmou Decotelli, quando questionado sobre pautas ideológicas, como escola sem partido e ideologia de gênero. Ex-professor da Fundação Getúlio Vargas e da Fundação Dom Cabral, o oficial da reserva da Marinha participou do grupo de militares que discutiu a transição para o governo Bolsonaro. Entre eles estão o general Villas Bôas e o vice-presidente Hamilton Mourão. Foi assim que ganhou o cargo no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) no começo de 2019. Decotelli, de 67 anos, ficou nove meses no órgão que cuida do dinheiro do MEC. Weintraub o tirou do cargo para acomodar um indicado do DEM, Rodrigo Sérgio Dias.
Conservador e de bom trato, especialistas em educação acreditam que ele pode retomar a interlocução com Estados e municípios, perdida desde o início do governo Jair Bolsonaro. Seu currículo informa que ele é bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), mestre em Administração pela FGV e doutor em Administração Financeira pela Universidade de Rosário (Argentina) e pós-doutor pela Universidade de Wuppertal (Alemanha). Enquanto esteve no FNDE, tentou modernizar o órgão em processos de prestação de contas e trabalhou muito com as prefeituras. Sua visão de educação, segundo quem já trabalhou com ele, é a de que falta boa gestão para que os sistemas funcionem de maneira adequada. A ideia é compartilhada por alguns economistas, mas não é consenso entre educadores, que querem focar na aprendizagem.
Ideologia. No entanto, vai embora definitivamente do cargo mais alto do MEC a ideia da educação que precisa combater comunistas. A preocupação de especialistas é como devem se comportar os integrantes da área ideológica que continuam por lá, como Carlos Nadalim, secretário de Alfabetização e ligado a Olavo de Carvalho. A disputa pelo comando do MEC mobilizou as alas ideológica, militar e civil do Planalto. Decotelli acabou sendo o escolhido como uma alternativa apaziguadora e técnica para a função. O objetivo é reparar o desgaste da imagem do ministério que foi comandado até a semana passada por Weintraub. O primeiro teste para Decotelli como ministro, aliás, será a lista de novas indicações para o Conselho Nacional da Educação (CNE). O Estadão apurou que, antes de deixar o cargo, Abraham Weintraub escolheu 12 nomes para compor o órgão, que tem representantes da sociedade civil e é responsável por formular e avaliar a política nacional de educação. Na lista há ligados a Olavo de Carvalho, sem expressão no meio educacional, e ao mercado do ensino superior privado, já atrelado ao governo Bolsonaro. Um deles é Tiago Tondinelli, ex-chefe de gabinete de Ricardo Vélez, e integrante da ala olavista do ministério. Ele iria para a Câmara de Educação Básica do CNE. Outro nome é Gabriel Giannattasio, professor em Londrina, que já defendeu Olavo em artigos. Antônio Veronezi, um dos proprietários da Unisa e próximo de Weintraub e de Onyx Lorenzoni, é outro que aparece na lista. Segundo fontes, ele circula livremente pelo MEC, defendendo interesses das faculdades privadas. Ele seria nomeado na Câmara de Educação Superior, com Wilson de Matos Silva, dono da Unicesumar, em Londrina.
A lista de pessoas indicadas por vários órgãos para compor o CNE tinha mais dezenas de nomes preteridos por Weintraub, como o educador Simon Schwartzman e Malvina Tuttman, ex-reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Weintraub teria entregue suas escolhas à Casa Civil. “Nossa expectativa é de que se consiga reverter essa lista, porque se for mantida teremos dificuldades”, diz Mozart Neves, que é conselheiro atual do CNE. Ele afirma que para o novo ministro conseguir “cicatrizar as inúmeras feridas deixadas por Weintraub” terá de montar a própria equipe, com o mesmo pensamento técnico que Decotelli demonstra. O atual presidente do CNE, Luiz Curi, elogiou a escolha. “Acho a indicação muito positiva, com trajetória bastante adequada ao cargo e ótimas referências.” Nos bastidores do Palácio do Planalto, a informação é de que pesou a favor de Decotelli o apoio do secretário especial de Assuntos Estratégicos, almirante Flávio Rocha, hoje um dos auxiliares mais próximos de Bolsonaro. Ele também teve o apoio do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, que trabalhou pela demissão de Weintraub. “É um claro sinal de espaço limitado do presidente, que já está reciclando autoridades que ele mesmo demitiu porque não tem capacidade de atrair quadros para o seu governo”, diz o Diretor de Estratégia Política do Todos pela Educação, João Marcelo Borges. O Conselho Nacional de Secretários da Educação divulgou nota, informando que enquanto Decotelli esteve no FNDE manteve “bom canal de diálogo” e acredita na possibilidade de “contínua interação com o MEC”.
+++ Novamente, falta pluralidade de vozes na reportagem sobre o novo ministro da Educação – assim como observamos na cobertura feita pela Folha. Entretanto, o Estadão vai mais “ao ponto”, a vitória da ala militar que talvez esteja mais incomodada do que o próprio Jair Bolsonaro com todos os constrangimentos causados pelo presidente e por seus filhos e amigos. O que o Estadão não observa é que não se trata apenas dos militares, o novo ministro é um militar ligado a Paulo Guedes, o que permite imaginar que exista uma aliança entre os setores.
*”SP tem aceleração nas mortes após reabrir”*
*”Interior já tem mais mortes e adota até toque de recolher”
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+++ A moderação repentina de Jair Bolsonaro pode suavizar a responsabilização dele pelo número de mortes causadas pela epidemia no Brasil?
*”Roubos caem, mas homicídios tem alta pelo 3º mês”*
*”Bolsonaro diz que governo estuda mais três parcelas para auxílio emergencial”*
*”Governo quer marca própria para o social”* - Preocupado em criar uma marca própria de apelo social e, ao mesmo tempo, suplantar programas de governos anteriores, o Palácio do Planalto trabalha para dobrar o orçamento atual do Bolsa Família – de R$ 32 bilhões – e, a partir daí, tirar do papel sua própria versão do programa de transferência de renda – o chamado “Renda Brasil”. Não haverá, porém, a injeção de dinheiro novo: o governo vai buscar recursos que estão “carimbados” em outros programas. A equipe econômica já mapeou cerca de R$ 20 bilhões em benefícios que poderiam ser revisados para abrir espaço no orçamento do Renda Brasil, que sucederá o Bolsa Família. Essa lista inclui, por exemplo, R$ 17 bilhões do abono salarial (espécie de 14.º salário pago a trabalhadores formais que ganham até dois salários mínimos) e R$ 2 bilhões que podem ser obtidos com a reformulação do seguro-defeso, pago a pescadores artesanais no período em que a atividade é proibida (e que hoje custa ao todo R$ 4 bilhões). O programa Farmácia Popular também deve ser revisto; ele concede benefícios na aquisição de medicamentos, independentemente da renda do beneficiário. O governo também está fazendo um “pente-fino” em gastos diversos e, segundo uma fonte, com “pequenas alterações” seria possível garantir em cada uma delas de R$ 1 bilhão a R$ 1,5 bilhão em recursos.
Avaliação. Com essas mudanças, o Renda Brasil já teria pelo menos R$ 52 bilhões. Outros R$ 13 bilhões em gastos estão na mira dos técnicos, mas ainda sob avaliação de viabilidade política para sua alteração, e incluem benefícios pagos a servidores públicos. Entre os alvos, estão auxílios alimentação pagos em valores elevados. Mesmo sem uma decisão política sobre esse último grupo de despesas, técnicos envolvidos na elaboração do Renda Brasil avaliam que a etapa inicial de R$ 20 bilhões já será suficiente para acabar com as dificuldades enfrentadas em situações de descontinuidade do Bolsa Família para beneficiários e garantir uma saída mais suave àquele que conseguir incrementar sua renda a partir do trabalho. Na prática, a ideia é construir “rampas” para que a redução da ajuda seja gradual. Hoje, o beneficiário corre o risco de ser excluído do programa caso consiga um emprego com carteira assinada e sua renda ultrapasse meio salário mínimo por pessoa. Além disso, quem sobrevive com até R$ 89 por pessoa recebe uma parcela adicional – chamada de benefício para superação da extrema pobreza –, o que é imediatamente cortado caso a renda familiar per capita ultrapasse esse limite, mesmo que por centavos. As “rampas” permitiriam que, a cada ganho de renda do trabalho, o beneficiário perdesse apenas uma parcela da ajuda que vinha recebendo, até o momento em que se torna “independente” da renda social.
*”Revisão de benefícios tem de passar pelo Congresso Nacional”*
*”Novas regras dificultam realização de concursos”*
*”Pandemia afeta plano de concessões”* - A pandemia do novo coronavírus já afeta diretamente o planejamento do governo na área de infraestrutura, com adiamento de concessões e risco de redução de investimentos em uma série de projetos que serão transferidos à iniciativa privada. O número de leilões de rodovias federais previsto para este ano caiu em mais da metade, de sete para três concessões. No planejamento dos aeroportos, a previsão de investimentos em obras de novas concessões deve ser reduzida. Os estudos iniciais da 6.ª rodada de concessões de aeroportos, que vai transferir a operação de 22 terminais da Infraero à iniciativa privada, estimavam investimentos totais de R$ 6,7 bilhões ao longo das concessões. Agora, no entanto, esses projetos passam por uma revisão em razão da crise, e a tendência é de que o desembolso por parte dos novos operadores seja menor. Esse número, por sua vez, ainda está sendo fechado. O leilão está programado para março de 2021. A previsão inicial era de o certame ocorrer ainda neste ano. Apesar de as concessões contarem com investimentos fixos, uma fatia relevante dos recursos que precisarão ser aplicados está atrelada à adequação dos aeroportos a curva da demanda, ou seja, ao número de passageiros que passarão a utilizar os terminais ao longo dos anos. São investimentos para ampliação de terminais, de processamento de bagagem e estacionamento, por exemplo.
Além de a crise ter afetado o fluxo atual dos aeroportos – que encolheu mais de 90% –, a pandemia também mexeu com essa curva de demanda. Quando foram inicialmente projetadas, os estudos tinham como base um crescimento da economia brasileira de 2,7% neste ano e de 2,6% para 2021. O número mais recente do Ministério da Economia mostra uma inversão brusca, com uma queda de 4,7% do PIB neste ano. Já o último boletim Focus prevê um recuo de 6,5%. Como a aviação é muito afetada pela situação econômica de um país, tudo indica que menos pessoas vão optar pelo transporte aéreo pelos próximos anos. “Os investimentos que sofrem com a mudança na demanda, de fato, têm alteração, porque você trabalha com uma nova curva”, disse o secretário nacional de Aviação Civil, Ronei Glanzmann.
Diante do cenário difícil para a aviação, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, tem respondido que a atratividade dos leilões de aeroportos está garantida. Freitas atribui essa segurança justamente ao gatilho que vincula os investimentos à demanda. Na prática, isso faz com que a concessionária não invista na operação quando não há retorno de receita garantido, o que auxilia no equilíbrio do caixa. No caso das estradas, o cronograma dos leilões não foi afetado somente pela crise, mas também por alterações nos projetos de concessão. Duas ofertas seguem de pé, da BR-153/080/414, entre Goiás e Tocantins; e a BR163/230, entre Mato Grosso e Pará. Outros quatro certames inicialmente programados para 2020, porém, foram adiados, incluindo o da Dutra, que liga Rio e São Paulo. Internamente, o ministério não se mostra preocupado com a redução no número de leilões para este ano. A avaliação de integrantes da pasta ouvidos pela reportagem é de que o importante é analisar o melhor para a concessão, mesmo que isso leve a uma etapa de estudos mais longa. Para o presidente da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR), César Borges, o adiamento de leilões em razão da crise do novo coronavírus é “prudente”.
Caso a caso. No planejamento dos aeroportos, as concessões estão divididas em três blocos: Sul, Central e Norte. A maior fatia de investimentos, segundo os estudos atuais, está concentrada no bloco Sul, com R$ 2,9 bilhões. Com nove ativos, o grupo conta com o aeroporto internacional de Curitiba (PR), um dos mais valiosos dessa rodada. Apenas esse terminal tinha previsão de receber R$ 310 milhões de capex (investimento) durante a concessão. Em 2018, o aeroporto registrou 64 mil operações. A forma como os investimentos serão afetados em Curitiba e em cada um dos outros 21 aeroportos não será linear, aponta o secretário nacional de Aviação Civil. O número depende do perfil desses terminais, se o predomínio é de passageiros domésticos, internacionais ou de carga, por exemplo. “Cada segmento sofre de uma maneira. O mercado de Manaus, por exemplo, tem muita carga em razão da Zona Franca. E o mercado de cargas está sofrendo bem menos”, disse Glanzmann sobre o aeroporto internacional de Manaus, para onde os estudos iniciais preveem um investimento de R$ 239 milhões.
*”Rio corre contra o relógio para vender Cedae”*
*”BC prevê queda de 6,4% para o PIB neste ano”*
 
CAPA – Manchete principal: *”MP facilita concessão de PLR e livra empresas de multas”*
*”Crédito começa a chegar às microempresas”* - A avaliação do governo é de que ele, finalmente, começou a entregar os créditos prometidos no início da pandemia, para sustentar milhões de micro e pequenas empresas durante a crise da covid-19. E isso se deve, sobretudo, ao efetivo início do Pronampe (Programa Nacional de Apoio as Microempresas e as Empresas de Pequeno Porte), linha de financiamento equivalente a 30% do faturamento da empresa no ano passado, para capital de giro, ao custo de Selic mais 1,25% ao ano. O universo é o de empresas com faturamento de até R$, 4,8 milhões por ano. Na verdade, porém, apenas a Caixa já está operando com essa linha de crédito. “O Banco do Brasil é mais lento e o Itaú, Bradesco e Santander estão em fase final de arrumação para operacionalizar os procedimentos com esse público que não é o deles”, segundo disse um assessor do Ministério da Economia que está acompanhando o dia a dia dessas operações para se certificar de que o crédito está chegando ao tomador final. “Nas nossas previsões, até o dia 15 de julho estarão todos os interessados operando com o Pronampe”, acredita essa mesma fonte, que monitora com lupa a atuação principalmente dos cinco maiores bancos do país. Há, de fato, uma fase de adaptação até à elaboração dos novos modelos de contratos onde as garantias deixam de ser dadas pelo cliente e passam a ser assumidas integralmente pelo Tesouro Nacional, mediante o FGO - o Fundo Garantidor das Operações.
O fundo foi capitalizado pela União nesta semana em cerca de R$ 15,9 bilhões. E a taxa de juros que passa a ser de cerca de 0,3% ao mês e deixa de ser os 2% a 3% ao mês das linhas próprias das instituições financeiras para as micro e pequenas companhias. O Pronampe somado à linha de crédito para empresas “âncoras”, do BNDES, e ao Programa Emergencial de Acesso ao Crédito com garantia integral do FGI - Fundo Garantidor de crédito de Investimentos, também do BNDES, devem representar quase R$ 300 bilhões em oferta de crédito para as micro, pequenas e médias empresas. Foi exatamente esse universo das micro e pequenas empresas que a Caixa havia definido como estratégico para suas operações desde o ano passado e, em poucos dias, conseguiu “botar no ar” a linha de crédito do Pronampe. Segundo o vice presidente de Negócios de Varejo da Caixa, Celso Leonardo Barbosa, do dia 17 até ontem, a instituição havia fechado 6.500 contratos no valor de R$ 308 milhões que já foram depositados nas contas das empresas. Além disso, tem 5.700 contratos no valor de R$ 310 milhões, em fase final de negociação sejam os empreendedores clientes da Caixa ou não. A previsão inicial da Caixa é de atender a demanda de até R$ 3 bilhões mas, se for necessário, ela aportará mais recursos para esse fim. Criado pela lei 13.999 de 19 de maio, o Pronampe já nasceu com a necessidade de adiar por mais 90 dias o prazo de contratação que se encerraria no fim de julho. Portanto, a linha de crédito estará em vigor até outubro.
O quadro atual de interesses do sistema financeiro em contratar crédito com as micro e pequenas empresas, até quarta feira, era o seguinte: 21 instituições manifestaram intenção de aderir ao programa. Dessas, no entanto, apenas oito iniciaram o pedido de adesão, três instituições concluíram testes para operacionalização (Caixa, Itaú e Bancoob) e 2 formalizaram adesão ao programa (Caixa e Itaú). Até ontem porém, só a Caixa havia contratado operações com garantia do FGO. Esse é um mundo novo para os bancos tradicionais que gostam mesmo é de ter na sua clientela grandes empresas que podem despejar garantias em eventuais contratos de financiamentos. Para colocar o Pronampe em pé, o governo teve que capitalizar os fundos garantidores (FGO e FGI) e dar um jeito de assumir integralmente o risco de crédito para micro, pequenas e médias empresas. Feito isso, o sistema financeiro está tendo que reavaliar suas premissas de análise de risco e ampliar as hipóteses de tamanho das empresas em seus portfólios. E não é raro um ou outro banco pedir ajuda da Caixa para lidar com essa nova clientela. Isso leva o mais liberal dos liberais a defender a existência de um banco estatal com funções sociais para os momentos de crise aguda. E reforça, ao mesmo tempo, a postura do ministro da Economia, Paulo Guedes, que na famosa reunião ministerial do dia 22 de abril, entre uns e outros desatinos cometidos pelos participantes, defendeu a privatização do Banco do Brasil que, afinal, é um bicho híbrido e, como tal, não justifica sua porção estatal. Quando o Comitê Gestor do Simples Nacional prorrogou o prazo para o pagamento dos impostos federais, o fez por até 180 dias. Os Estados e municípios, no entanto, prorrogaram por somente 90 dias o pagamento do ICMS e do ISS, de forma que dia 20 de julho serão cobradas as parcelas relativas à abril.
O assessor especial do Ministério da Fazenda, Guilherme Afif Domingos, telefonou para o secretário de Fazenda do Estado de São Paulo, Henrique Meirelles, que é o porta voz dos governos estaduais nessa questão, para saber porque eles não pensam em ampliar a prorrogação dos impostos por mais 90 dias, Meirelles tergiversou, dizendo que essa não era a proposta dos demais governadores etc. e tal. Afif interpretou tal posicionamento como uma maneira de os Estados da federação tentarem obter mais alguma vantagem da União em troca de uma nova prorrogação. “Eles pararam a atividade econômica nos seu Estados e agora querem cobrar impostos dos microempresários! Querem o quê? Incentivar a inadimplência?”, indagou Afif, que pautou sua vida pública em defesa dos micro, pequenos e médios empresários. “Isso aí é moeda de chantagem. Eles querem usar os microempresários para ver se tiram uma vantagem a mais da União”, disse ele.
*Claudia Safatle* - é diretora adjunta de Redação e escreve às sextas-feiras
*”Empresas reduzem salários, atrasam impostos e sofrem com financiamento”* - Parte significativa das empresas aderiu as medidas do governo para cortar salários, suspender contratos e adiar o pagamento de impostos, mas o uso das linhas de crédito de emergência não atingiu seu potencial. É o que mostra levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) com empresários que participam das sondagens de confiança da entidade. Na quarta rodada do quesito especial sobre o impacto da covid-19 nos negócios, o Ibre/FGV ouviu 3,3 mil companhias em junho. Desta vez, o questionário abordou o acesso aos programas governamentais para conter os efeitos econômicos da pandemia e com que finalidade as medidas foram adotadas. Os resultados foram adotadas. Os resultados foram antecipados ao Valor. A redução temporária de salários e jornada de trabalho permitida pela Medida Provisória 936 foi a modalidade mais importante para o varejo ampliado, mencionada como a principal por 37,5% das empresas do setor, e também pelos serviços (34,9%). Na indústria de transformação, 27,9% fizeram uso da MP para cortar a remuneração dos funcionários, mas o programa de maior adesão nesse segmento foi a postergação do pagamento de impostos (36%). O contingente de empresas que atrasou o pagamento de tributos também é expressivo nos outros ramos: ficou em 29,9% na construção civil, 27,2% no varejo e 24,9% nos serviços. Também bastante acionada, a suspensão temporária de contratos foi usada por mais de 20% das firmas em todos os setores, com maior amplitude no comércio (25,9%).
Na outra ponta, o percentual das empresas que aponta as linhas de crédito como medida mais relevante do governo foi mais baixo em todos os segmentos. Os únicos ramos em que as empresas com essa avaliação superam 10% do total foram a construção e os serviços. “Todos os setores aderiram bastante a suspensão de contratos e redução de salários, e a postergação de impostos também ajudou que as empresas sustentassem empregos, mas o acesso ao crédito ficou abaixo das expectativas”, afirma Viviane Seda, coordenadora das sondagens de confiança do Ibre/FGV. Para Manoel Pires, pesquisador da entidade e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, os três instrumentos mais citados no levantamento são horizontais e “ajudaram bastante” as empresas a atravessar o pior momento da crise, que parece já ter ficado para trás. Se um número maior delas tivesse conseguido empréstimos, porém, a fatia de companhias que fez uso das outras três medidas teria sido menor. “O crédito funcionou de forma imperfeita, e muitas empresas que não conseguiram acessá-lo apelaram para a redução de jornada”, diz ele. A maioria das empresas não obteve crédito. O único segmento em que há equilíbrio maior entre o percentual de empresas que acessou as linhas e não fez uso delas é a indústria de transformação, em que esses percentuais ficaram em 44,1% e 55,9%, respectivamente. Já no comércio, 80,1% das firmas não obtiveram crédito, ante 76,1% nos serviços e 75,8% na construção. Entre as empresas desse último setor que não contrataram empréstimos, quase um terço (29,2%) das empresas tentou, mas não conseguiu. Depois da construção, o segmento em que essa restrição mais ocorreu foi nos serviços (22,1%).
Entre as empresas que obtiveram crédito, conseguir capital de giro foi o principal objetivo, mencionado por 73,4% dos industriais e cerca de metade dos empresários do setor de serviços (50,7%) e da construção (48,7%). Segundo Pires, isso pode explicar por que o programa voltado a financiar a folha de pagamento de pequenas e médias empresas teve pouca demanda. “Muitas procuraram crédito mais para manter o capital de giro do que o quadro de funcionários.” A maior barreira para as empresas que relataram dificuldade para obter crédito foi a burocracia e outras exigências bancárias, segundo 41,8% das empresas de construção, 36,1% das indústrias e 33,9% das firmas de serviços. O segundo principal impedimento é o custo dos financiamentos: para 35,8% dos empresários industriais, as taxas de juros dos programas são elevadas. Viviane destaca que as empresas de menor porte foram as que mais tiveram problemas para acessar as linhas de financiamento, principalmente no comércio. Nesse setor, entre aquelas que tentaram obter crédito, mas não conseguiram, 64,4% são pequenas, e 30,5%, médias. Essas duas fatias também são elevadas nos serviços, de 53,5% e 22,8%, pela ordem. “Com as novas modalidades, talvez o crédito chegue mais a empresas pequenas e médias, mas num primeiro momento, se concentrou mais nas grandes.” “O governo ainda está buscando um modelo que funcione”, diz Pires. A dúvida é se as novas linhas, por terem chegado tarde, ainda vão servir como mecanismo de enfrentamento da crise. “Ninguém tem uma resposta clara para isso”, afirmou. “Mas há a possibilidade de que o crédito funcione mais como um impulso para a retomada do que como um seguro durante a crise”.
*”Crise deixa legado de endividamento e inadimplência”* - A crise deve deixar um legado de aumento do endividamento e da inadimplência. Um terço (33,3%) das famílias brasileiras tem alguém de sua residência com dívidas em atraso, segundo quesito especial da Sondagem do Consumidor de junho do Ibre/FGV. O percentual é ainda maior entre os mais pobres. Para aqueles com rendimentos até R$ 2,1 mil, essa fatia chega a 44,5%. Foram consultadas 1.810 pessoas. Na média de todas as faixas de renda, 72,1% dos consumidores que estão ou têm algum familiar inadimplente dizem que começaram a postergar pagamentos ou que a situação se agravou durante a pandemia. Em quase metade (49,7%) das famílias inadimplentes, o tempo de atraso em empréstimos e outras parcelas vai de um a três meses. Para Viviane Seda, coordenadora das sondagens de confiança do Ibre/FGV, os resultados mostram que, mesmo com as políticas do governo para amenizar a perda de renda das famílias, há dificuldades para quitar as despesas correntes. “Vai haver um aumento de inadimplência no curto prazo, o que dificulta o retorno das famílias ao consumo. Essa recuperação vai ser muito mais lenta”, disse. Em um primeiro momento, o governo foi pouco ágil na implementação do programa de renda emergencial, o que pode ter contribuído para elevar a inadimplência, afirma. “O auxílio emergencial está ajudando as famílias, mas elas não vão conseguir se manter sem dificuldades financeiras por um bom período.”
A perda de emprego de um membro da família é o principal motivo que provocou o atraso no pagamento de dívidas, apontado por 33,1% dos inadimplentes. Em segundo lugar, aparece o impedimento de trabalho (24%). Não só as demissões pioraram a situação financeira, mas também as medidas de isolamento social, que prejudicaram as atividades de muitos trabalhadores informais, observa Viviane. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Covid-19, divulgada na quarta pelo IBGE, dos brasileiros em idade ativa, menos da metade (49,7%) estava empregado em maio, recorde negativo do nível de ocupação, que o instituto atribui em boa parte à pandemia. A taxa de desemprego no mês passado ficou em 10,7%. Outro fator que explica o atraso recente no pagamento de dívidas é a perda de renda devido à Medida Provisória 936, que permite que empresas reduzam jornada e salários de trabalhadores formais em até 70%, e também que suspendam contratos de trabalho, ambos temporariamente. A redução salarial é citada como principal razão para a inadimplência por 17,3% das famílias que têm dívidas em atraso. Acompanhamento do Ministério da Economia mostra que, até ontem, cerca de 11,6 milhões de pessoas tiveram redução de jornada e salário ou suspensão do contrato de trabalho. Mesmo entre aqueles que conseguirem manter seu nível de renda em meio à crise, a maior cautela deve diminuir o consumo, afirma a economista do Ibre. “Entre as famílias de renda mais alta, que possuem reservas financeiras, a intenção de consumo não está melhorando. Isso é sinal de que provavelmente estão fazendo poupança precaucional.”
*”CMN fixa em 3,25% meta de inflação de 2023”*
*”IPCA-15 tem alta de 0,02% em junho”* 
- Indicador mostrou algumas surpresas, com altas mais expressivas em alimentos, itens para casa e comunicação, mas não alterou o cenário de uma inflação baixa
*”BC projeta queda do PIB de 6,4% para 2020”*
*”País supera 55 mil mortes, diz consórcio”*
*”Instituição amplia leque de indicadores monitorados”* 
- Banco Central passou a analisar um conjunto maior de informações econômicas, incluindo indicadores de alta frequência
*”Bolsonaro confirma redução escalonada do auxílio”*
*”País fecha acordo de veículos pesados com México”* 
- Livre-comércio começa com redução tarifária de 20%; liberalização total será em julho de 2023
*”País enfrenta 1ª onda prolongada de covid”* - O Brasil não se desvencilhou ainda nem da primeira onda de infecções provocadas pelo novo coronavírus, o que torna virtualmente impossível prever quando e como ocorreria uma segunda onda, alertam especialistas em saúde. Num país de dimensões continentais, a doença se espalhou de forma heterogênea e, depois de castigar capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Manaus, agora dá sinais de interiorização. “Temos epidemias distintas no país”, afirma o sanitarista José Gomes Temporão, ex-ministro da Saúde. “Se você olha para o Norte, é uma coisa. No Nordeste, é outra. E, no Sudeste, outra diferente”. Na avaliação dele, Minas Gerais, parte do Centro-Oeste e o Sul passam agora por uma nova fase, com aumento de número de casos potencializado pela queda nas temperaturas. Temporão destaca ainda o avanço da doença em direção a cidades do interior. Ontem, o Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo informou que o interior do Estado superou a capital em número total de mortes provocadas pela covid-19 desde o início da pandemia. “É pura especulação falar numa segunda onda da doença agora”, afirma ele, para depois argumentar que não existe certeza hoje nem sobre o grau de imunidade das pessoas já expostas ao vírus.
“Não há segunda onda ainda em lugar algum [do mundo]”, diz a pneumologista Margareth Dalcomo, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). “O que ocorreu foram pequenas marolas. Não podemos falar em segunda onda”, acrescenta. Isso não significa que essa possibilidade esteja descartada, ressalta ela. Margareth lembra que a pandemia de gripe espanhola no início do século XX teve uma segunda onda “extremamente mais mortífera que a primeira.” Como exemplo da interiorização da covid-19 no Brasil, Margareth cita Manaus. “Na capital, a situação se encontra razoavelmente controlada mas o interior do Estado do Amazonas está complicado”, compara. Diferentemente de países como China e Coreia do Sul, onde já se fala dos impactos da segunda onda epidêmica de covid-19, o que especialistas brasileiros discutem é o quão prolongada será a primeira fase no Brasil, como consequência de falhas na resposta à pandemia e de medidas insuficientes para promover a redução sustentada dos números de casos. Para se dizer que a epidemia do novo coronavírus foi controlada, é preciso que a taxa de transmissibilidade “R” caia a níveis considerados seguros - ou seja, com transmissão por alguém que foi infectado para menos de uma pessoa, em média.
“A primeira condição é baixar o ‘R’, e a segunda é ter uma redução no número de casos de infectados de maneira sustentada”, observa Adriano Massuda, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e pesquisador visitante no Departamento de Saúde Global e Populações da Escola de Saúde Pública de Harvard. Segundo ele, esse panorama é disperso no Brasil, aspecto que dificulta definir quando, nacionalmente, o país terá superado a primeira onda da pandemia. Na visão de Massuda o que é possível dizer nesse momento é que o país vive uma primeira onda prolongada, até se decolando das primeiras nações atingidas pela pandemia. “É esperado que se tenha uma segunda onda, isso devido às características históricas das epidemias. Se não surgir uma vacina ou um tratamento eficaz, por mais prolongada que seja a primeira fase e que se consiga algum controle da transmissão, é bastante provável haver uma segunda onda. Mas isso não está no nosso horizonte, pois ainda estamos na primeira”, pondera. O médico sanitarista ressalta ainda que sua maior preocupação desde o início em relação à resposta do Brasil à pandemia já é algo presente. “Falo desse cenário em que não se adota ações de forma adequada para controlar a epidemia, mas ao mesmo tempo as medidas paliativas produzem impacto na atividade econômica. Então você não resolve nem uma coisa, nem outra, produzindo um impacto negativo prolongado tanto econômico quanto na saúde.”
Professor da Universidade Federal do ABC, o físico Renato Mendes Coutinho, colaborador no Observatório Covid-19 BR, considera que as medidas de distanciamento social adotadas por algumas cidades brasileiras foram eficazes apenas para conter o crescimento exponencial da contaminação, mas insuficientes para reduzir a níveis seguros. “Foram suficientes para evitar uma tragédia maior, mas ainda assim é uma tragédia. Veja, são mais de mil mortes por dia. Imaginemos algo da ordem de cinco aviões caindo diariamente. É muito grave”. Professora titular de Demografia e chefe do Departamento de Saúde Global e População na Harvard T.H. Chan School of Public Health, Marcia Castro diz que a maior preocupação dos especialistas que se debruçam sobre dados e tentam fazer uma avaliação crítica dos planos de reabertura é que o país não tenha apenas uma segunda onda epidêmica, mas novas ondas da pandemia de covid-19. “A resposta à pandemia no Brasil deve ser adaptada às desigualdades. Não se expor e trabalhar de casa não é para todo mundo. A ideia do distanciamento tem que ser adaptada às necessidades locais”, argumenta Marcia.
*”Bolsonaro nomeia Decotelli para Educação com apoio dos militares”* - O presidente Jair Bolsonaro decidiu ouvir a ala militar e nomeou o economista Carlos Alberto Decotelli para comandar o Ministério da Educação. A escolha surpreendeu o próprio indicado, que recebeu o convite em uma reunião de última hora, além de auxiliares mais próximos do presidente, que percebiam movimentações da ala associada ao ideólogo Olavo de Carvalho e de integrantes do Centrão para emplacar seus favoritos. Decotelli já havia presidido o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) no início do governo. Agora, promete gestão técnica e baseada no diálogo, sem priorizar questões ideológicas. Desde que Abraham Weintraub deixou o comando do MEC, na semana passada, Bolsonaro consultou diferentes núcleos do governo para definir o substituto. Dos ministros palacianos, ouviu que o melhor seria priorizar resultados práticos e afastar a pasta de polêmicas. Oficial de reserva da Marinha, Decotelli foi elogiado por seus pares pela formulação de políticas de educação ainda durante a transição de governo, em 2018, e pela condução do FNDE, embora tenha ficado apenas seis meses à frente do cargo. Ele foi substituído pelo advogado Rodrigo Sergio Dias, indicado à época pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A segunda nomeação também durou poucos meses.
A passagem de Decotelli pelo FNDE foi marcada por ao menos uma polêmica. O novo ministro da Educação era o presidente do órgão quando foi publicado um edital de R$ 3 bilhões para a compra de computadores, notebooks, projetores e lousas digitais para alunos das redes públicas estaduais e municipais. O pregão, no entanto, foi suspenso pela Controladoria-Geral da União (CGU) por suspeitas de fraudes. A auditoria da CGU apontou que a licitação estimou a compra de um número maior do que o necessário de computadores para atender a rede pública. Uma escola com 255 alunos em Itabirito (MG), por exemplo, receberia 30.030 laptops educacionais, em gasto estimado em R$ 54,7 milhões. Decotelli deixou o FNDE uma semana depois da publicação do edital. Após deixar o FNDE, Decotelli voltou às atividades acadêmicas, meio ao qual se dedicou na maior parte de sua carreira. Com 67 anos, o novo ministro é financista, autor de livros, possui currículo com pós-doutorado na Bergische Universitãt Wuppertal, na Alemanha; doutorado em administração financeira pela Universidade Nacional de Rosário, na Argentina; e mestrado em administração pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), além de outras formações na área. Logo após a nomeação, Decotelli falou a emissoras de TV em frente ao MEC. O novo ministro afirmou que Bolsonaro pediu foco em gestão e ampliação do diálogo na Pasta, e não tocou em questões ideológicas, característica que marcou os últimos titulares do MEC. “Não houve nenhuma demanda ou fala sobre questão ideológica, até porque não tenho nenhuma competência ideológica, a minha formação é área de gestão e finanças, meus livros são de gestão financeira, eu sou um gestor de finanças e administração”, disse Decotelli. “Não tenho competência para fazer adequação ideológica”. O novo ministro afirmou que Bolsonaro o recomendou a aplicar ciência e integração “para entregar a melhor política pública para a educação do Brasil”.
Ao citar sua experiência acadêmica, Decotelli afirmou que sua intenção é “que o MEC seja uma grande sala de aula”, com foco também em gestão e correção de projetos. Prometeu ampliar o diálogo com o Congresso, instituições de ensino e entidades de classe. Decotelli é oficial da reserva da Marinha e coordenou atividades na Escola de Guerra Naval, onde fez contatos que são cultivados até hoje. Além dos ministros militares, oficiais mais veteranos que estão no governo apoiaram a escolha. Ao mesmo tempo em que atendeu seus principais conselheiros no Planalto, Bolsonaro desagradou à ala ideológica, responsável pela defesa ferrenha do governo no Congresso, em manifestações de rua e redes sociais, além do filho Carlos, um dos defensores da linha pregada por Olavo de Carvalho. Bolsonaro afirmou que a escolha do professor para o MEC foi “muito difícil”. Segundo o presidente, quatro nomes foram apresentados para comandar a Pasta e eram escolhas “sensacionais”. Bolsonaro, no entanto, disse que Decotelli foi escolhido “pela idade e pelo currículo mais extenso”, e elogiou outro cotado, o secretário de Educação do Paraná, Renato Feder. Segundo interlocutores do presidente, Feder foi descartado por ter apoiado o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). O secretário doou recursos ao tucano em 2016, na campanha pela Prefeitura de São Paulo. No comando do MEC, Decotelli terá de lidar com os interesses do Centrão nos recursos milionários do FNDE. Integrantes do grupo político indicaram Marcelo Lopes, ex-chefe de gabinete do senador Ciro Nogueira (PP-PI), para comandar o órgão. O Centrão estuda retomar a licitação de R$ 3 bilhões, que foi suspensa pela CGU.
*”Presidente reforça guinada para moderação”* - O presidente Jair Bolsonaro fez ontem um novo aceno aos outros Poderes, em mais uma tentativa de reduzir as tensões entre as instituições. Em evento ao lado de autoridades do Judiciário, citou também parlamentares dizendo que o entendimento de todos pode sinalizar melhores momentos para o Brasil. O governo também buscou reduzir o descontentamento de militares com a presença de oficiais da ativa em cargos estratégicos do Executivo. Por meio de nota, o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, informou que entrará com requerimento no próximo dia 1º de julho para ser transferido à reserva. Bolsonaro deixou de lado o estilo de confronto e adotou uma postura mais moderada desde que ficou pressionado por fatos recentes que acirraram a crise política, como a prisão do ex-assessor Fabrício Queiroz. O mais recente gesto ocorreu durante uma cerimônia para assinatura de um acordo de integração de bases de informações do Executivo, do Judiciário e do Legislativo, com a participação do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli. Mas Bolsonaro também mencionou em seu breve discurso os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). “Esse entendimento, essa cooperação, bem revela o momento que vivemos aqui no Brasil. Eu costumo sempre dizer quando estou com o Toffoli, com o Alcolumbre, Maia, que somos pessoas privilegiadas. O nosso entendimento, sim, no primeiro momento, é que pode sinalizar que teremos dias melhores para o nosso país. Obviamente, entra mais gente nesse entendimento, deputados, senadores, os demais ministros do Supremo, nossos colegas do STF servidores”, afirmou na solenidade, que foi transmitida pela internet.
Minutos antes, Dias Toffoli elogiou as escolhas de Bolsonaro para a área jurídica do governo e o desempenho do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, que é cotado por Bolsonaro para ser indicado ao STF. “Vossa excelência deu dignidade de ministério para uma das funções mais importantes no Estado brasileiro, que é aquela que trata dos atos normativos e da transparência normativa da presidência da República. Isso não foi só pela visão de sua excelência, mas também pelos méritos do Jorge [responsável pela SAJ], que soube conduzir e levar este mérito”, afirmou Toffoli, se dirigindo a Bolsonaro. Uma das vozes do governo escolhidas para tentar pacificar a relação com o STF, o ministro Jorge Oliveira também discursou. Ao se dirigir a servidores da Subchefia de Assuntos Jurídicos (SAJ), ele destacou o trabalho feito anteriormente no órgão por Toffoli e pelo ministro do STF Gilmar Mendes. “Esses colegas de hoje dão continuidade ao trabalho já desenvolvido na presidência há algum tempo, desde o período em que o nosso presidente do Supremo, Dias Toffoli, passou pela SAJ, antes o ministro Gilmar Mendes também plantou algumas sementes que nós colhemos aqui os frutos e damos continuidade com isso”, disse. A pauta institucional, no entanto, ainda não foi totalmente pacificada. Em manifestação enviada ao Supremo, o procurador-geral da República, Augusto Aras, afirmou que abriu uma “averiguação preliminar” para apurar se o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, cometeu algum ato ilícito ao editar a chamada “nota à Nação brasileira”. No texto, do dia 22 de maio, o ministro afirmava que uma eventual apreensão do celular de Bolsonaro seria “inconcebível” e traria “consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional”. Segundo fontes da PGR, a instauração de uma notícia de fato trata-se de um procedimento normal. Todo pedido de investigação que chega ao órgão é autuado com um número para tramitação. No fim do dia, um homem foi preso após atear fogo a um ônibus próximo à Praça dos Três Poderes. Após perceber o incêndio, o motorista parou em frente ao Palácio do Planalto. O homem, cuja identidade não foi revelada pela Polícia Militar do Distrito Federal, desceu gritando “fora, Bolsonaro”. Ninguém ficou ferido.
*”Faria estuda plano para melhorar imagem no exterior”*
*”Maia diz que estudará mudança no teto de gastos”* 
- Segundo o presidente da Câmara, “a realidade mudou” com a pandemia
*”Sob pressão governista, Senado adia decisão sobre ‘fake news’”*
*”Câmara altera linha de crédito para salários”*
*”Justiça concede foro privilegiado para investigação sobre Flávio”* - Câmara Criminal do TJ-RJ determina transferência para a 2ª instância do processo sobre ‘rachadinha’ envolvendo o senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente da República
*”Abuso de poder religioso gerará cassação”* - O ministro Edson Fachin defendeu ontem que, a partir das eleições deste ano, a prática de abuso de poder religioso em campanhas eleitorais possa levar à cassação de mandato. A manifestação aconteceu durante um julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O debate, no entanto, foi interrompido por um pedido de vista do ministro Tarcisio Vieira. “Em face desses argumentos, venho propor ao tribunal que, a partir das eleições deste ano de 2020, seja assentada a viabilidade do exame jurídico do abuso de poder de autoridade religiosa no âmbito das Ações de Investigação Judicial Eleitoral [Aije]”, disse Fachin. Segundo o ministro, devido ao “caráter inovador da compreensão”, ele recomenda “a sua não aplicação a feitos pretéritos, em homenagem ao princípio da proteção da confiança”. Hoje, as ações que podem levar à cassação da chapa - como as Aijes e as Ações de Impugnação de Mandato Eletivo (Aimes) - falam apenas de outras modalidades, como abuso de poder econômico e político. Em um longo voto, Fachin afirmou que o debate sobre o uso da religião para conseguir votos ainda carecia de um “enfrentamento mais detalhado por parte deste Tribunal Superior”. O ministro defendeu a liberdade religiosa, mas lembrou que o Estado é laico. Ele também afirmou “que as manifestações do exercício religioso não podem incidir, negativamente, sobre a esfera das liberdades pessoais”. “Por essa razão, entendo que a intervenção das associações religiosas nos processos eleitorais deve ser observada com a devida atenção, tendo em consideração as igrejas e seus dirigentes ostentam um poder com aptidão para amainar a liberdade para o exercício de sufrágio e debilitar o equilíbrio entre as chances das forças em disputa”, disse.
De acordo com o ministro, quando se trata de eleições, “o respeito ao princípio da liberdade de escolha e à preservação da igualdade de oportunidades entre os candidatos deve incidir sobre qualquer pessoa ou entidade que se encontre em situação de exercer influência sobre o eleitorado, circunstância em que se enquadram os ministros religiosos e suas respectivas organizações”. Ao proferir seu voto, o ministro Alexandre de Moraes divergiu de Fachin e disse ter dúvida sobre a necessidade de especificar a previsão de cassação devido ao abuso do poder religioso. “Qualquer atitude abusiva que acabe comprometendo ou gerando abuso de poder político e econômico deve ser sancionado pela legislação eleitoral nem mais nem menos”, afirmou. No caso concreto analisado, porém, os dois ministros concordaram que não há elementos para cassar o mandato da vereadora Valdirene Tavares dos Santos, eleita em 2016 no município de Luziânia (GO). Segundo Fachin, a única prova no processo é um vídeo de menos de três minutos que mostra um discurso da então candidata dentro de uma igreja. As testemunhas afirmaram que houve a circulação de listas para que os pastores indicassem nomes que pudessem apoiar a candidatura de Valdirene, mas essa acusação foi descartada por falta de provas.
*”Eleito, Fux promete lutar por independência dos Poderes”*
*”Trump ignora disparada da epidemia nos EUA”* 
- Apesar do apelo de autoridades de saúde, governo Trump minimiza a importância do ressurgimento de novos casos de coronavírus e pressiona governadores a reabrir economia
*”PIB cai 5% nos EUA; perda de empregos se estabiliza”* - No mercado de trabalho, dados do Departamento de Trabalho mostram que o número de americanos que solicitaram seguro desemprego pela primeira vez caiu para 1,48 milhão na semana que terminou em 20 de junho
*”Espanha prorroga licença remunerada”*
*”Berlim começa a barrar a venda de empresas alemãs a estrangeiros”* 
- Alemanha amplia setores que restringem investimento estrangeiro, em guinada que levanta preocupações sobre protecionismo e retaliação de outros países
*”Alemanha já prepara retaliação contra os EUA”* - Estratégia da Alemanha reforça a possibilidade de nova escalada das tensões entre os aliados transatlânticos
*”Bolsa Família avança, mas auxílio é baixo, mostra Ipea”* - A distribuição de renda promovida pelo Bolsa Família se aperfeiçoou continuamente entre 2012 e 2019, inclusive no primeiro ano do governo Jair Bolsonaro. Análise do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que, entre 2012 e 2018, o percentual de beneficiários que fazem parte dos 10% mais pobres da população avançou 6,3 pontos percentuais (p.p.), alcançando 38,9% dos contemplados. Em 2019, essa participação dos mais pobres no programa subiu para 40,0%, segundo atualização do dado feita pelos pesquisadores ao Valor. Eles utilizaram os dados completos de rendimento fornecidos pelo IBGE. Entretanto, os valores médios recebidos pelas famílias, de R$ 117 a R$ 200 ao mês, são considerados módicos ante as necessidades brasileiras. Segundo especialistas, o impacto do auxílio emergencial sobre as estatísticas da pobreza no país “escancarou” a modéstia dos valores do Bolsa Família. Em maio, na média, o auxílio emergencial pagou R$ 846,50 por domicílio contemplado, informou o IBGE. Quanto ao desempenho do Bolsa Família em 2019, sob Bolsonaro, o economista do Ipea Luis Henrique Paiva afirma que cerca de 408 mil brasileiros do decil mais pobre da população passaram a receber o benefício. Mas, segundo a análise, o avanço não se deve a esforço do atual governo e sim a melhorias promovidas por prefeituras e aprimoramento das ferramentas de checagem do programa - aperfeiçoadas desde 2005, quando começou o cruzamento dos dados declarados com as bases do governo e, depois, foi firmado contrato com a Dataprev, que desenvolveu inteligência própria.
O fato negativo em 2019, diz Paiva, foi o retorno da fila de pedidos pelo benefício, eliminada no governo Michel Temer. “Fechamos o ano com o menor número de famílias beneficiadas em muito tempo, cerca de 13,3 milhões. Mas, logo no início da pandemia, o governo admitiu 1 milhão delas e o número se estabilizou.” Os pesquisadores do Ipea destacam que, como contemplados de menor renda tem benefício maior, a participação do decil mais pobre da população é ainda mais expressiva quando considerado o montante de recursos aplicado no programa. Esse grupo ficava com 36,1% dos recursos em 2012 e passou a tocar 45% do dinheiro aplicado no Bolsa Família, R$ 30 bilhões em 2019. “O avanço [de 8,9 pontos percentuais] é alto para um programa que já era dos mais progressivos da América Latina em 2011", diz Paiva. Hoje, o Bolsa Família é o terceiro com melhor focalização na região, só atrás de programas de Panamá e Peru. Estes, embora tenham performance melhor, atendem público e território bem menores que o brasileiro. Os beneficiários do Bolsa Família dos dois decis de renda mais baixa subiram de 58% em 2012 para 65,7% do total em 2019. Essa faixa percebeu 70,1% do valor no ano passado, ante 61,5% em 2012. O avanço fez a participação de faixas com maior renda cair: pessoas entre os 10% mais ricos do país eram 6,3% dos beneficiários há oito anos e foram 4,2% no ano passado. Medidor mais acurado de progressividade por considerar a renda domiciliar per capita já com o benefício, o coeficiente de concentração dos recursos do Bolsa Família também melhorou, caindo 6,0 p.p., para -0,64 2018. O indicador varia de -1 a +1, situação em que todo o dinheiro vai para o mais rico.
Ponto negativo é a taxa de exclusão do programa: 18,9% dos brasileiros entre os 10% mais pobres não estão no programa. Se o Brasil quer avançar ainda mais contra a pobreza, diz ele, deve incluí-los e aumentar os valores individuais dos benefícios. Depois, afirma o economista, o segundo passo é ampliar a focalização nas crianças. "Metade das crianças que não recebem nenhuma transferência de renda estão no terço mais pobre da população", diz ao criticar, or exemplo, as deduções de imposto à pessoa física para dependentes, que privilegia os filhos das camadas ricas. Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), Daniel Duque concorda. “O Bolsa Família corresponde a 0,4% do PIB e há consenso de que é pouco. Além disso, pouco se fala que ele hoje tem valor real menor do que tinha em 2014, porque no ano seguinte houve inflação de 10,67% sem reajuste para o programa”, diz. Para Duque, aumentar o valor do benefício do Bolsa Família é sim boa ideia após ajuste das contas públicas via reformas. Mas, para além disso, seria importante aumentar sua eligibilidade. “Existe grande número de famílias que transita na pobreza, muitos informais, que não conseguem entrar no programa porque tem renda acima da elegível em boa parte do ano mas a perdem em algum momento. Isso seria resolvido se a inclusão se desse de forma automática ou se o teto de renda elegível fosse ampliado”, sugere.
Ambos afirmam que o auxílio emergencial, com repasses até dez vezes maiores que os do Bolsa Família, jogou luz sobre as suas limitações. A partir dos microdados da Pnad Contínua Covid-19, do IBGE, Duque afirma que o auxílio emergencial fez o percentual da população abaixo da linha da pobreza cair de 24,8% para 22,2% somente entre a primeira e a última semana de maio. A pobreza extrema, diz ele, caiu de 5% para 3,5% no mesmo intervalo de tempo. No cenário em que a cobertura dos repasses (38,7% dos domicílios) ainda aumenta, seus efeitos tendem a crescer, diz o especialista. Paiva lembra que o auxílio praticamente cobriu três folhas do Bolsa Família, uma vez que 19 a cada 20 famílias que o recebem migraram temporariamente de programa. Como o excedente é de difícil remanejamento por exigir aprovação do Congresso, o governo poderia usar os recursos para turbinar mensalidades ou admitir mais contemplados nó pós-crise. “São R$ 7 bilhões que vão sobrar no programa”, diz, considerando remota a possibilidade de mais um aumento em 2021 devido ao teto de gastos.
*”Economistas sugerem programa de renda com foco na geração de emprego”* - Os economistas Sérgio Firpo, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), e Pedro Olinto, do Banco Mundial, desenvolveram uma proposta própria de novo programa social, que mira não só o arcabouço social, mas o estímulo à geração de empregos formais. A dupla propõe renda mínima universal que, a exemplo de outras propostas e da própria ideia da equipe econômica, seria viabilizada pelo remanejamento de gastos com programas já existentes e deduções tributárias à pessoa física. O projeto prevê auxílio de valor variável, capaz de inteirar a renda familiar até um mínimo fixado. “Temos uma população marcada pela informalidade e que sofre muito com oscilação de renda, mesmo fora da pandemia. Por isso, esse programa funcionaria como uma espécie de seguro, para encerrar o flerte dessas pessoas com a extrema pobreza, ao mesmo tempo que estimula o emprego formal”, diz Firpo. No caso dos empregados formais de baixa renda, o programa funcionária como subsídio ao empregador para desonerar a folha de pagamentos e estimular o emprego. A segunda linha da proposta vai em linha com o desejo de Guedes em reduzir custos ao empregador. “A ideia é que as empresas passem a cogitar a contratação de mão obra pouco especializada que lhes parece muito cara hoje”, afirma o economista do Insper. Para o novo programa, Firpo e Olinto sugerem redirecionar os montantes dispensados com salário família, abono salarial, seguro defeso e descontos ligados a saúde e educação no Imposto de Renda. Além desses orçamentos, ainda seria necessária aplicação de dinheiro novo. Na conta dos especialistas, o gasto adicional ficaria em torno de 1% do PIB, ou cerca de R$ 73 bilhões, para um piso do benefício em R$ 100 reais per capita.
O montante sugerido é pouco menor que o vislumbrado pelo economista Naercio Menezes, também do Insper, que custaria mais R$ 80 bilhões por ano, e maior que os R$ 52 bilhões calculados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em sua proposta. O documento do Ipea só trabalha com remanejamento de verbas mediante o encerramento de programas existentes. O Valor apurou que os pesquisadores do Ipea fizeram simulações mais ambiciosas, mas recuaram para algo próximo do consenso da equipe econômica, avessa ao aumento de gastos. Proposta bem mais cara aos cofres públicos vem do economista Daniel Duque, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV). Ele também propõe renda universal, que unifique benefícios mas na ordem de 4,0% do PIB. O projeto permitiria repasse per capita de R$ 220 aos mais pobres, enquanto este valor hoje, via Bolsa Família, é de apenas R$ 70. As propostas do Ipea, Naercio e Duque focam a infância, enquanto a de Firpo e Olinto olham para o trabalhador adulto. Para tocar os valores, diz o especialista, mesmo os beneficiários que trabalham na informalidade teriam, obrigatoriamente, de estar bancarizados e contribuir com o mínimo para a Previdência Social. Firpo elogia o esforço do governo em promover o auxílio emergencial de R$ 600 pago a trabalhadores informais e os repasses que aliviam a folha de pagamento das empresas no caso de contratos reduzidos ou suspensos. Mas lembra que é consenso, dentro e fora do governo, que esse nível de gasto não se sustenta. Em seus cálculos, o governo gasta entre R$ 700 e R$ 800 percapita para um público potencial de 80 milhões de pessoas (70 milhões de informais e 10 milhões de empregados formais). “Prorrogado indefinidamente, isso passa 10% do PIB ao ano. Precisa ser reduzido e o que propomos é um programa de repercussão mais ampla, que estimule a formalização e, tão logo, a arrecadação”, diz Firpo.
*”Unir benefícios é positivo, dizem especialistas”* - A ideia do ministro da Economia, Paulo Guedes, de criar um novo programa de transferência de renda a partir da unificação de benefícios é boa oportunidade para diminuir as incoerências do sistema de proteção social brasileiro e melhorar o gasto social, dizem especialistas ouvidos pelo Valor. Eles questionam, porém, se a real intenção do governo não seria cortar gastos e dar rótulo próprio aos programas com foco em eleições. Batizado de Renda Brasil, o programa de renda mínima uniria Bolsa Família, Benefício de Prestação Continuada (BPC), abono salarial e outros programas federais de distribuição de renda, como o seguro-defeso, pago a pescadores, e o farmácia popular. A ideia é que o programa venha na sequência do auxílio emergencial de R$ 600, o “coronavoucher”, cuja extensão por até três meses é discutida em Brasília. Os pesquisadores Vinicius Botelho, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), e Rafael Osório, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), dizem que os programas existentes se sobrepõem ou nem sempre miram os mais necessitados. Criados décadas atrás, alguns teriam deixado de fazer sentido. Um deles é o abono salarial, surgido na ditadura e que paga até um salário mínimo por ano para trabalhadores que recebem até dois salários mínimos. “O Brasil criou benefícios para empregados formais porque era o melhor instrumento que se tinha para atingir os trabalhadores de baixa renda. Hoje temos o Cadastro Único e o Bolsa Família, mais eficazes”, diz Botelho. Com informações fragmentadas sobre o Renda Brasil, ele diz ser difícil avaliar a proposta. A discussão, opina, aponta para o fortalecimento do Bolsa Família. “Nessa proposta informal que circulou, a ideia era o Bolsa Família incorporar outros programas e se fortalecer.”
Para o economista e sociólogo Marcelo Medeiros, professor visitante na Universidade de Princeton (EUA), a discussão do Renda Brasil passa por desmontar benefícios existentes para criar outros. “No limite, é uma discussão sobre tirar [benefícios] dos trabalhadores formais de baixa renda e dar aos mais pobres. É, antes de tudo, uma decisão política”. Para Medeiros, a proposta levantada por Guedes em reunião com líderes de partidos no início do mês, seria “cortina de fumaça” para esconder o mau desempenho em Saúde e Educação. “Ao governo faltam projeto e liderança. A reforma da previdência, quem liderou foi o presidente da Câmara, o Rodrigo Maia. A tributária, Guedes prometeu para ‘semana que vem’ meses atrás e não cumpriu”, diz Medeiros. Nesse cenário, acrescenta, o Congresso parece mais disposto a sair na frente com propostas concretas de complementação ao Bolsa Família. Pesquisador do Centro de Estudos da Metrópole da Universidade de São Paulo (CEM/USP), Rogério Barbosa também vê o Renda Brasil como “blefe” do governo. Ele acredita que a iniciativa mira as próximas eleições, mas tem como alvo o compromisso do governo Bolsonaro com o ajuste fiscal e não com a proteção social. Um dos alvos contumazes do governo é o BPC, que paga salário mínimo a idosos e deficientes em situação de pobreza, e cujo valor e alcance o Congresso vem tentando ampliar, apesar dos vetos presidenciais e reveses no Supremo Tribunal Federal (STF).
O governo tem na gaveta proposta do Ipea, de setembro de 2019, que unifica quatro benefícios (Bolsa Família, Abono Salarial, Salário Família e o desconto por dependente no IR) orientando recursos para um benefício universal infantil. Osório, que assina o trabalho, diz que sua maior contribuição não é o modelo, mas a demonstração de que é possível unificar e racionalizar o que já existe. “É olhar para o conjunto e, o que for menos distributivo, remanejar primeiro.” Em sua opinião, os primeiros alvos do governo teriam de ser os descontos de IR por dependente e o abono salarial. “Meu filho recebe mais do que uma criança do Bolsa Família e isso é um absurdo”, afirma. Outra vantagem de um programa único, segundo o especialista, é proteger o sistema de impulsos políticos que beneficiem grupos mais afinados com o determinado governo.
Saneamento: *”Privatizações virão em ritmo mais lento que o esperado, dizem analistas”* - Entre as companhias com ações na bolsa, a Sabesp é a que tem um cenário de privatização mais provável
*”Demanda fraca derruba preço, e cenário para o algodão piora”* - Dólar compensa parte da queda, mas também eleva os custos
*”Embrapa traça cenário de longo prazo positivo para pecuária, mas prevê forte concentração na atividade”* - Tendências para a cadeia de carne bovina do país vão exigir melhor gestão do negócio, digitalização e intensificação produtiva
*”BC sonda mercado sobre adiantar pré-estreia do Pix para setembro”*
*”Autoridade ainda vê espaço para política monetária”*
 - Autoridade monetária avisou que, se necessário, lançará mão de instrumentos não convencionais para cumprir os objetivos
*”BC eleva projeção de alta do crédito para PJ de 0,6% para 10%”* - Movimento reflete a maior demanda por financiamento das pessoas jurídicas e a percepção de que os recursos ainda são insuficientes
*”Mercados e economia real vivem desconexão, diz FMI”* - Otimismo de investidores contrasta com dados de atividade
*”MP 936 pode livrar empresas de autuações bilionárias sobre PLR”* - Medida Provisória tem efeito retroativo e dificulta tributação de programas
*”STF discute se TCU pode bloquear bens de sócios”*

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