sexta-feira, 19 de junho de 2020

Medo de Queiroz, Queda de Weintraub


O ministro da Educação Abraham Weintraub caiu, ontem, e ao cair gravou ao lado do presidente um vídeo no qual Jair Bolsonaro parecia ausente. Não à toa. O dia foi tomado pelo noticiário da prisão de Fabrício Queiroz, o ex-PM amigo da família que, feito assessor, coordenou o esquema de desvio de dinheiro público no gabinete do então deputado estadual Flavio Bolsonaro. Esquema que pode se tornar fatal para o governo. Queiroz estava na casa em Atibaia de Frederick Wassef, o advogado da família, o que reforça o elo. E, por também ter movimentação atípica em suas contas, há um mandado de prisão contra Márcia Oliveira de Aguiar, mulher de Queiroz. Ela é considerada foragida pela polícia e já havia dito que se esconderia caso tivesse prisão decretada. (G1)

A situação que mais preocupa o Planalto é justamente a prisão dos familiares. A primeira coisa que Queiroz fez, quando os policiais entraram na casa, foi perguntar por Márcia, sua mulher, e Nathalia, sua filha. Nathalia já vem ameaçando entregar o esquema caso algo ocorra com ela ou com seu pai. (Antagonista)

Márcia, aliás, está recebendo auxílio emergencial. (Congresso em Foco)

De acordo com os promotores, Queiroz gerenciava os recursos que angariava entre os salários dos funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro. Uma parte ele transferia em depósitos fracionados para as contas do hoje senador, ou então pagava despesas pessoais. Estão sendo analisados 116 boletos distintos de plano de saúde e mensalidades escolares da família do filho Zero Um, quitados em espécie aparentemente por Queiroz. A polícia do Rio tem um vídeo no qual o ex-assessor faz estes pagamentos. Outra linha de investigação avalia o relacionamento entre Queiroz e o capitão Adriano da Nóbrega, miliciano PM cuja mulher e filha foram assessoras de Flávio. Adriano morreu nas mãos da polícia baiana, no ano passado. (Estadão)

O MP do Rio estima que Adriano transferiu mais de R$ 400 mil para as contas de Queiroz. (Antagonista)

Dentre os motivos que levaram o juiz Flávio Itabaiana a requisitar a prisão, está um áudio de WhatsApp enviado por Queiroz, conta Bela Megale. “Avisa pro doutor aí, se quiser algum contato pessoal com a cúpula de cima, faz contato, valeu?” Mas não é só. A mulher de Queiroz teria recebido R$ 174 mil em dinheiro, de origem desconhecida, para tratar no Hospital Albert Einstein do câncer do marido. (Globo)

Só em sua live das noites de quinta-feira é que Bolsonaro se manifestou. “Deixo bem claro, não sou advogado do Queiroz e não estou envolvido nesse processo. Mas Queiroz não estava foragido e não havia nenhum mandado de prisão contra ele. Mas foi feita uma prisão espetaculosa. Ele já deve estar no Rio de Janeiro, assistido pelo seu advogado, que a Justiça siga o seu caminho. Mas parecia que estavam prendendo o maior bandido da face da terra”, afirmou. Assista. (YouTube)




No vídeo em que estava emocionado perante um Bolsonaro frio, o agora ex-ministro da Educação Abraham Weintraub anunciou sua saída. “Sim, dessa vez é verdade”, afirmou, “estou saindo do MEC e eu vou começar a transição agora. Nos próximos dias passo o bastão ao ministro que vai ficar no meu lugar, interino ou definitivo. Neste momento não quero discutir os motivos da minha saída. Não cabe.” O principal objetivo do governo é evitar atritos com o Supremo, num momento delicado. Weintraub foi indicado para um cargo de diretoria no Banco Mundial, em Washington. Assista. (Poder 360)

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, foi questionado sobre a indicação. “No Banco Mundial?”, respondeu com rosto irônico. “É porque não sabem que ele trabalhou no Banco Votorantim, que quebrou em 2009 e ele era um dos economistas do banco.” (Istoé)

Vídeo: Assista à coletiva de Maia.

Talvez seja breve. Segundo o Banco Mundial, o mandato de Weintraub dura até outubro. (Globo)



Merval Pereira: “O ‘physique du rôle’ do advogado Frederick Wassef o faria um ator indicado para filmes de gângster. Bonequinhos do mafioso Tony Montana, do filme Scarface, com roteiro de Oliver Stone, decorarem uma prateleira apoiando um cartaz a favor do AI-5, é só um detalhe a mais. Têm um simbolismo banal, mas muito expressivo. Contra as bravatas do presidente Bolsonaro, fatos. A ligação de Queiroz com o advogado Wassef, que se gaba de ser amigo íntimo do presidente e de seus filhos, só confirma os laços de juramento de sangue, bem ao estilo mafioso, que o une à família Bolsonaro.” (Globo)

Eliane Cantanhêde: “A pergunta não é mais onde está o Queiroz, mas onde está Jair Bolsonaro. Com Fabrício Queiroz preso, Frederick Wassef desmascarado, a pressão de STF, TSE, TCU, Congresso, Justiça do Rio e movimentos pró-democracia, a situação do presidente da República vai se tornando insustentável. Cresce o alívio em setores governistas que se decepcionaram com Bolsonaro e agora trabalham pela ascensão do vice Hamilton Mourão. Neste caso, estão militares da ativa e da reserva. O temor desses setores era de que o torniquete fosse do TSE e estrangulasse a chapa Bolsonaro-Mourão, mas o cerco contra Bolsonaro, filhos, advogado e apoiadores mais radicais se fecha não no TSE, que pode cassar a chapa, mas no Supremo, onde as investigações envolvendo bolsonaristas de todos os tipos levam diretamente ao presidente e não há nada contra o vice.” (Estadão)



Meio em Vídeo: Queiroz preso, Weintraub demitido, STF atrás de quem faz fake news, TCU questionando militares no governo e até o governador do DF proibindo manifestação em frente ao Planalto. Tem muita coisa acontecendo e está difícil seguir todas as linhas? A gente explica como se encaixam. Assista.

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