sexta-feira, 10 de abril de 2020

Análise de Mídia 10/04

DOS JORNAIS DE HOJE: Aos poucos brotam nas reportagens palavras cobrando mais investimento em pesquisa, inovação e na saúde pública. No entanto, há um contrassenso porque os jornais embora críticos à falta de ação do governo, continuam defendendo os interesses e a perspectiva do mercado financeiro e de empresários. Em meio ao caos político-institucional com o qual o país vai se deparando, as esquerdas e o campo progressista no geral continuam sendo ignorados pelos jornais. Para a imprensa, os atores políticos são Jair Bolsonaro e seus filhos, os ministros do governo, Rodrigo Maia, Davi Alcolumbre, João Doria e Wilson Witzel. A falta de pluralidade é terrível para o Brasil. Duas reportagens citaram o Partido dos Trabalhadores e/ou o ex-presidente Lula. A primeira, da Folha, afirma que o PT decidiu não aderir ao ”Fora, Bolsonaro”. O texto chega a mencionar movimentos sociais e a carta que pediu a renúncia de Bolsonaro, mas é superficial. A segunda, do Estadão, trata do projeto de socorro aos estados e compara o plano atual com o que foi praticado durante o governo Dilma que, segundo o jornal, ficou conhecido como “farra das garantias”. Ninguém do PT foi procurado para comentar. Além disso, os jornais não mencionam perspectivas e iniciativas de outras forças do campo progressista.
Sobre o noticiário político, a Folha é o jornal que mais deu peso ao diálogo entre Osmar Terra e Onyx Lorenzoni sobre a possível demissão de Mandetta. O áudio foi exposto pela CNN. O jornal lembra que um mês após ter dito que a eleição de 2018 havia sido fraudada, Bolsonaro continua sem apresentar as provas que alegou ter. A Folha aborda ainda a reação do presidente à decisão do STF que o impede de decretar o fim do isolamento social. Já o Estadão informa que os generais que compõem o governo declaram união e lealdade à Bolsonaro em ruas redes sociais.
O noticiário econômico gira ao redor de medidas que estão sendo adotadas ou que possam vir a ser tomadas pelo governo federal ou pelo Congresso Nacional. A Folha publica informações sobre o aumento dos preços dos alimentos.
Já o noticiário sobre a pandemia causada pelo coronavírus segue caminhos variados em cada um dos jornais. A Folha trata da onda de confisco de equipamentos hospitalares dentro do país. O Jornal informa também que o governo tem cronograma para entregar menos da metade dos testes que havia programado. Além disso, a coluna Mônica Bergamo publica trechos do editorial de uma revista médica britânica que critica o uso da hidroxicloroquina.
O jornal O Globo parece querer informar o seu público mais conservador e, pra isso, informa que o coronavírus já causou mais mortes do que dengue, sarampo e H1N1 somadas. O Globo também aborda a falta de testes que deveriam ser fornecidos pelo governo federal e indica que o Brasil é o país que menos testa entre os mais afetados pela epidemia. O jornal é o único que publica reportagem sobre a situação dos moradores de favelas. Já o Estadão publica reportagem sobre como a demanda dos países ricos por equipamentos está fazendo com que estes mesmos insumos não cheguem aos mais pobres. De acordo com o Estadão, São Paulo tem 30 mil exames de coronavírus à espera de resultado.
 
 
 
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CAPA – Manchete principal: *”Onda de confisco põe em risco segurança hospitalar”*
EDITORIAL DA FOLHA - *”Tolhido pelo STF”* : Obsessões com a potência masculina tornaram-se lugar-comum na psicanálise. A do presidente Jair Bolsonaro se fixa no objeto caneta, a pequena haste capaz, segundo seus manifestos recorrentes, de num rabisco materializar os desejos do chefe de Estado. É uma lástima para ele —e ótima notícia para o Brasil— que a tinta de sua esferográfica esteja ficando escassa na crise. Ameaçou usá-la para demitir o ministro da Saúde, Luiz Mandetta, mas foi impedido por uma sensata reação palaciana. Cogitou deslanchar uma campanha publicitária para incentivar a circulação de pessoas em meio à epidemia, mas foi bloqueado pelo Supremo Tribunal Federal. Decretou a inclusão de igrejas em listas de estabelecimentos cuja operação não pode ser restringida em nome do combate à Covid-19, mas seu ato tem sido questionado em circunscrições locais. Sonhou em voz alta com comandos que pudessem atropelar ordenanças estaduais e municipais de combate à emergência sanitária, mas foi advertido, também à luz do dia, por autoridades legislativas e judiciárias de que os sortilégios terão vida curta.
Na quarta-feira (8), o que era uma advertência se tornou decisão cautelar da corte constitucional. A Ordem dos Advogados do Brasil obteve do ministro Alexandre de Moraes o reconhecimento liminar de que o Executivo federal não pode desfazer unilateralmente as determinações municipais e estaduais de limitar atividades. Com essa torrente de vetos impostos ao seu poder, o presidente da República veio sendo reduzido a uma espécie de crítico teimoso e falastrão do que todas as outras autoridades, inclusive no seu governo, estão fazendo. Quanto mais ataca e ameaça, menos pode. A situação, surreal, escapa à lógica política que prevalece em quase todos os países democráticos, onde governantes ganham popularidade ao alinhar-se aos protocolos que vão sendo cristalizados pela comunidade científica e sanitária. Foi essa a maneira, no entanto, que a institucionalidade brasileira encontrou de atenuar a capacidade destrutiva do presidente Jair Bolsonaro em meio a uma crise em que estão em jogo a vida e a renda de milhões de cidadãos. A fala em cadeia nacional no dia 8 mostra que a ignorância presidencial não ficou inofensiva. Bolsonaro, fantasiado de curandeiro, direciona a máquina do governo federal para apostar em um dos vários fármacos em fase de testes contra a doença —numa politização descabida do uso da cloroquina. Trata-se de imitação tosca do que faz nos Estados Unidos seu congênere e modelo Donald Trump, que ao menos já assumiu atitude mais colaborativa contra a pandemia.
PAINEL - *”Áudio sobre Mandetta mostra que Onyx considera Bolsonaro fraco e sem pulso, avaliam políticos”*: O áudio relevado pela CNN nesta quinta (9) foi entendido por políticos como uma amostra de que Onyx Lorenzoni (Cidadania) vê Jair Bolsonaro fraco e sem pulso. Na conversa, o ministro se imagina na cadeira do presidente e diz que, se fosse ele, teria cortado a cabeça de Luiz Henrique Mandetta (Saúde) no início semana, no auge da tensão entre ambos. Além disso, avaliam parlamentares, o diálogo deixa implícito que havia um plano em execução, que fracassou. A avaliação de políticos é que, no momento da conversa, Onyx prestava contas de uma suposta promessa que havia feito a Osmar Terra (MDB-RS), de que Mandetta seria trocado e só não foi porque Bolsonaro não teve coragem de agir. Alguns parlamentares ainda estranharam o tom de Terra no diálogo, mais polido do que nos últimos dias nos bastidores. Além da saia-justa com o presidente, Onyx ficou mal na conta de Mandetta e do DEM. Está sendo chamado de judas e de traidor. Quando estava sendo fritado na Casa Civil no início do ano, segundo relatos, teve ajuda de seu grupo da legenda, formado também pelo governador Ronaldo Caiado (DEM-GO).
Auxiliares do governo avaliam ainda que o áudio também pode respingar na relação com os ministros Braga Netto (Casa Civil) e general Ramos (Secretaria de Governo). O entendimento é que Onyx estava tentando cumprir um papel de articulador político, que não é função da Cidadania, mas sim dos dois colegas militares. O ministro da Saúde estava a caminho do Planalto para a entrevista diária quando soube da divulgação do diálogo. A coletiva foi então cancelada por decisão do Palácio. Enquanto o assunto ainda fervia nos corredores, o presidente foi a uma padaria, comer um sonho. De acordo com auxiliares, pouco tempo depois de a CNN revelar a conversa, Onyx ligou a Mandetta para se explicar. Não mudou o climão criado pelo áudio no governo.
Em suas medidas restritivas para o controle da pandemia do novo coronavírus, segundo recomendações da Organização Mundial de Saúde, o Distrito Federal determinou que é proibida a venda de refeições de qualquer tipo para consumo no local por padarias. Ao Painel o governador Ibaneis Rocha (DF) disse que está se resguardando nesta quinta (9) e que não comentaria o passeio do presidente.
*”Pandemia flexibiliza licitações, acende alerta de órgãos anticorrupção e leva gestões à Justiça”* - A flexibilização nas contratações públicas durante a pandemia do novo coronavírus acendeu o alerta de órgãos de controles e entidades de combate à corrupção e tem levado estados e municípios a serem cobrados por mais transparência. Alguns casos já chegaram à Justiça. Em crises como essa, apontam esses órgãos e entidades, os riscos de desvios de dinheiro, favorecimento de empresas e mudanças legislativas que afrouxem o controle sobre a destinação do dinheiro público aumentam exponencialmente. O TCU (Tribunal de Contas da União), por exemplo, já colocou em operação desde o mês passado um plano de acompanhamento das ações de combate à pandemia em âmbito federal. Um dos primeiros governos a pararem na Justiça foi o de Ibaneis Rocha (MDB), no Distrito Federal, após uma ação do Ministério Público que pedia a divulgação na internet, em tempo real e numa página específica, de todas as contratações emergenciais para combater a Covid-19. O governo federal já tem feito isso, em conformidade com uma lei de fevereiro que estabeleceu medidas contra a pandemia. "Temos o direito de saber de forma imediata e clara de que forma os recursos públicos estão sendo aplicados", diz o procurador distrital José Eduardo Sabo, que lidera força-tarefa local de combate à pandemia.
No mês passado, a Justiça determinou que o Governo do Distrito Federal cumprisse o pedido da Promotoria. A gestão Ibaneis cumpriu a decisão, sem recorrer, e criou um portal com as informações sobre os gastos com a pandemia. No Tocantins, o Ministério Público do estado ingressou com ações civis públicas tanto contra o governo Mauro Carlesse (DEM) quanto contra a Prefeitura de Palmas, também cobrando transparência nas contratações. “Cumpre observar que a transparência ativa e passiva se revela como uma das mais eficazes formas de prevenção à corrupção e aos ilícitos administrativos”, diz ação civil pública assinada pelos promotores Edson Azambuja e Thais Massilon Bezerra. No último dia 1º, o Governo do Tocantins passou a publicar todos os gastos emergenciais em seu Portal da Transparência. A reportagem não conseguiu contatar a Prefeitura de Palmas. Em Ribeirão Preto, no interior paulista, a Promotoria instaurou processo administrativo e pediu cópias de contratações sem licitação por causa da pandemia, com a justificativa para cada escolha de fornecedor e a justificativa de preço.
A prefeitura informou que todas as suas licitações seguem a legislação vigente e que as dispensas de concorrências estão sendo publicadas no Portal da Transparência da cidade. “Portanto, não há descumprimento da legislação, de qualquer natureza”, diz a prefeitura, em nota. “Eventualmente, em razão do quadro reduzido de servidores públicos pelo alto grau de afastamentos decorrentes do coronavírus, pode haver um atraso na disponibilização dos respectivos processos no sistema, o que já está sendo regularizado através do sistema de revezamento entre os servidores.” Além dessas medidas, o Ministério Público Eleitoral em diversos estados emitiu recomendações às prefeituras com o objetivo de prevenir eventuais processos. O órgão pede a prefeitos e secretários que evitem usar os recursos emergenciais em benefício de candidatos ou partidos políticos. A recomendação foi expedida ao menos nos estados de São Paulo, Piauí, Bahia, Amazonas, Acre e Amapá. “Não distribuam nem permitam a distribuição, a pessoas físicas ou jurídicas, de bens, valores e benefícios durante o ano de 2020”, diz documento do Ministério Público. “Como [por exemplo] doação de gêneros alimentícios, materiais de construção, passagens rodoviárias, quitação de contas de fornecimento de água e energia elétrica, doação ou concessão de direito real de uso de imóveis para instalação de empresas e a isenção total ou parcial de tributos.” A preocupação com o bom uso de recursos públicos durante a pandemia também chamou a atenção de entidades não governamentais. Uma delas, a Transparência Internacional, lançou um guia elaborado por membros de 13 países da América Latina para “reduzir riscos de corrupção e uso indevido de recursos extraordinários”. O guia sugere que a solução para que não se perca o controle das despesas no período emergencial é um aumento da transparência e do rastreamento de dados.
Além das contratações emergenciais, a organização vê risco de corrupção nos pacotes de estímulo econômico e, também, na modificação de leis que combatem irregularidades e dão mais transparência às decisões governamentais. Segundo Bruno Brandão, diretor-executivo da entidade no Brasil, essas modificações já começaram a ocorrer. Ele cita como exemplo a tentativa do governo Bolsonaro de mudança das regras da Lei de Acesso à Informação durante a crise –barrada pelo Supremo Tribunal Federal— e a lei que tirou poder da Controladoria-Geral do Município de São Paulo. A mudança, inserida em um pacote da Câmara Municipal de medidas contra o novo coronavírus, foi sancionada pelo prefeito Bruno Covas (PSDB). “Criaram uma segunda instância política para aplicação da lei anticorrupção na cidade de São Paulo, que era a capital que mais aplicava a lei anticorrupção”, afirma Brandão. Após essa mudança, o controlador-geral do Município, Gustavo Ungaro, pediu demissão do cargo. Procurados, o prefeito Covas e a prefeitura não se manifestaram. Outra organização, a Transparência Brasil (que não tem ligação com a Transparência Internacional), tem apontado que a maioria da comissão do Congresso que acompanha os gastos federais com o novo coronavírus já foram condenados ou respondem a processos de improbidade administrativa. A entidade defende que representantes da sociedade civil também participem da comissão.
+++ A Folha tem o mau hábito de apresentar qualquer entidade que se autodeclare anticorrupção como sendo merecedora de confiança, mas não explica qual é a formação da entidade, seus objetivos, quem a dirige e a quais interesse é ligada.
*”Um mês após acusação, Bolsonaro não apresenta nenhuma prova de fraude nas eleições”* - Um mês depois de afirmar que teria provas de que a eleição de 2018 foi fraudada, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não as apresentou até agora. Em 9 de março, Bolsonaro disse que deveria ter sido eleito no primeiro turno. Afirmou ainda creditar ter feito mais votos no segundo turno do que foi contabilizado, quando venceu Fernando Haddad (PT). Bolsonaro teve 57,8 milhões de votos (55%), ante 47 milhões de Haddad (45%). O presidente afirmou no mês passado que iria apresentar as provas brevemente, mas ainda não o fez. Quando questionado sobre o assunto, tem desconversado. Já o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e a Vice-Procuradoria-Geral eleitoral afirmam que nunca houve fraude em urna eletrônica. A acusação foi feita em Miami (EUA) para cerca de 300 brasileiros que moram na cidade americana. "Eu acredito, pelas provas que eu tenho nas minhas mãos, que vou mostrar brevemente, eu fui eleito em primeiro turno. Mas, no meu entender, houve fraude", afirmou Bolsonaro.
"Nós temos não apenas uma palavra, nós temos comprovado. Nós temos de aprovar no Brasil um sistema seguro de apuração de votos", disse. À época, a declaração causou reações duras no TSE, responsável por coordenar as eleições, e no mundo político. A presidente da Corte, ministra Rosa Weber, emitiu uma nota para reafirmar a "absoluta confiabilidade e segurança do sistema eletrônico de votação". Ela ressaltou que, se houver elementos que indiquem alguma irregularidade, o TSE agirá com "presteza e transparência". Porém destacou que o sistema brasileiro é reconhecido mundialmente e que "nunca foi abalado por nenhuma impugnação consistente". O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foi na mesma linha e disse que era momento de tratar "do que é sério", ironizando o discurso do chefe do Executivo. Esta foi a primeira vez que Bolsonaro falou em fraude eleitoral após assumir a Presidência. Mas o questionamento do presidente às urnas eletrônicas não é novidade e, inclusive, foi uma de suas bandeiras de campanha. Quando deputado, Bolsonaro foi o autor da proposta que determinava que as urnas emitissem um recibo com as escolhas de cada eleitor. A iniciativa ficou conhecida como voto impresso. A matéria foi aprovada pelo Congresso em 2015. Em junho de 2018, o STF (Supremo Tribunal Federal) anulou a emenda constitucional que obrigava a impressão do voto. A maioria dos ministros entendeu que o modelo poderia violar o sigilo e a liberdade de voto dos eleitores previstas na Constituição. Como presidente, Bolsonaro tentou ressuscitar a ideia. Em novembro do ano passado, ele revelou que havia negociado com Maia a votação na Câmara da proposta que prevê o voto impresso. O presidente defendeu que o modelo deveria ser adotado em ao menos 10% das urnas nas eleições municipais deste ano. Mas, com a crise do novo coronavírus e o estremecimento das relações entre os dois, é improvável que a medida saia do papel.
Em relação às provas de fraude, até pessoas próximas de Bolsonaro afirmam que ainda não as viram. A tese que ele tem apresentado a correligionários não envolve nenhum elemento material e faz referência à apuração do primeiro turno. Segundo o presidente, a primeira parcial divulgada pelo TSE apontou que ele estava com 49% dos votos válidos. Àquela altura, apenas 20% das urnas do Sudeste tinham sido apuradas, enquanto no Nordeste, reduto petista, 80% das urnas já tinham sido abertas —as outras três regiões estariam com 60% da apuração concluída. Com este cálculo, Bolsonaro tem apontado a aliados que deveria ter ganhado já no primeiro turno, uma vez que o Sudeste votou em peso nele e ainda faltava contabilizar a maioria dos votos daquela região. As supostas provas, contudo, ainda não foram apresentadas nem ao TSE nem à PGR (Procuradoria-Geral da República). Questionados pela Folha, os órgãos afirmaram que, até o momento, não receberam nenhuma informação do presidente a respeito. Segundo a PGR, "não consta do sistema procedimento instaurado em relação aos fatos mencionados". A posição da PGR segue a mesma da época, quando o MPE (Ministério Público Eleitoral) afirmou que "confia na urna eletrônica" e que se trata de um sistema auditável. "Durante todo o tempo de utilização do modelo —mais de três décadas— não foram apresentadas provas ou indícios consistentes de que possa ser fraudado. Se chegarem documentos ou materiais com indícios de fraude, será devidamente apurado", disse o MPE. O TSE, por sua vez, lembrou de uma decisão do ministro Luiz Edson Fachin sobre uma representação que pedia providências sobre as declarações de Bolsonaro. Ele determinou que o processo fosse encaminhado à PGR para adoção de medidas que entendesse necessárias.
+++ A reportagem chama atenção para um fato importante que estava “perdido no tempo”. Apesar de não trazer nenhuma declaração nova nem de adversários políticos do presidente, de especialistas ou juristas, o texto faz o questionamento: cadê as provas?
*”Bolsonaro diz respeitar decisão do STF e indica governadores para queixa sobre quarentena”* - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse nesta quinta-feira (9) que, por decisão do Supremo Tribunal Federal, não pode impedir a restrição de circulação e o consequente fechamento do comércio pelo país. Em sua live semanal, ele orientou que as pessoas reclamassem com governadores e prefeitos. "Está na tela aqui na frente uma decisão de um ministro do Supremo Tribunal Federal", afirmou Bolsonaro na transmissão ao vivo. "A gente vai recorrer, mas tem um lado positivo até. Dizendo que claramente que quem é o responsável por ações como imposição de distanciamento e isolamento social, quarentena, suspensão de atividades —você que está sem trabalhar— bem como aulas, restrição de comércio, atividades culturais e circulação de pessoas, quem decide isso é o respectivo governador ou prefeito. Afastou o governo federal de tomar decisões neste sentido." A declaração ocorre um dia após o ministro do STF Alexandre de Moraes decidir que governos estaduais e municipais têm autonomia para determinar o isolamento social. Na live, Bolsonaro disse respeita a decisão, mas que o governo irá recorrer. "Não vou entrar em polêmica aqui, a decisão do Supremo então. Quem decide são os governadores, são os prefeitos, e o presidente da República, no caso o chefe do Executivo federal, não posso entrar nessa área aí, tudo bem."
Segundo Moraes, o governo federal não pode “afastar unilateralmente” as decisões de executivos locais sobre as medidas de restrição de circulação que vêm sendo adotadas durante a pandemia do novo coronavírus. E esclarece que a decisão vale “independentemente” de posterior ato do presidente em sentido contrário. "Então, a responsabilidade, se você tem algum problema no teu estado, acha que a quarentena, as medidas tomadas pelo seu estado estão te prejudicando, o foro adequado para você reclamar é o respectivo governador, o respectivo prefeito", afirmou nesta quinta-feira o presidente, que desde o início do enfrentamento ao coronavírus destoa da orientação de seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que recomenda o distanciamento social. Bolsonaro disse que o governo está gastando cerca de R$ 600 bilhões em ações de enfrentamento ao coronavírus e seus efeitos econômicos, mas que os recursos têm limite. E insistiu no que chama de isolamento vertical, no qual apenas os grupos de risco ficam afastados do convívio pessoal. "Acredito que três meses ou quatro meses, fica complicado. A gente espera que as atividades voltem antes disso até. Por mim, quem tem menos de 40 anos já estaria trabalhando sem problema nenhum." Antes de fazer a sua live semanal no Palácio da Alvorada, Bolsonaro foi até uma padaria em Brasília. Em imagens divulgadas pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), seu filho, o presidente aparece abraçando pessoas que se aglomeraram ao seu redor. Moraes decidiu na ação em que a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) pede para o Supremo obrigar Bolsonaro a seguir as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Segundo Moraes, a eficácia do isolamento social, da suspensão de atividades de ensino e a restrição a comércios, atividades sociais e à circulação de pessoas estão comprovadas por vários estudos científicos e seguem as recomendações da OMS. No processo, a Advocacia-Geral da União afirmou que o Poder Executivo tem seguido todas as orientações da OMS. Bolsonaro, no entanto, tem criticado o isolamento social e defendido o que chama de isolamento vertical —apenas para pessoas em situação de risco. A decisão é mais uma sinalização de que o Supremo está disposto a derrubar eventual decreto de Bolsonaro para flexibilizar a quarentena. Moraes afirma que a sobreposição de decisões a respeito podem criar riscos sociais e à saúde pública que justificam a concessão da liminar. A decisão tem efeito até o plenário do STF analisar a matéria. Na live, Bolsonaro voltou a defender o uso da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19 e, novamente, fez propaganda de uma marca do remédio, exibindo a caixa para a câmera e citando o nome do laboratório. "Você pergunta para qualquer um... o cara pode dar uma de galo até agora e falar que não. Se tua mãe, teu pai ou você, numa certa idade, tiver alguma comorbidade, uma doença outra, e você for infectado, você tomaria ou não tomaria [hidroxicloroquina]? Você tomaria? Eu também tomaria", disse Bolsonaro.
E seguiu parodiando Mandetta, que afirmou que um médico não abandona o paciente ao comentar se pediria pediria demissão do cargo em meio ao processo de fritura a que vinha sendo submetido. "Minha mãe está com 93 anos de idade. Está na cara que ela vai tomar [hidroxicloroquina]. Democraticamente, ela vai tomar. Sem problema nenhum. Lógico, vai consultar o médico, né, e se o médico... com toda certeza o médico vai ser favorável, tenho certeza disso. Que o médico não abandona o paciente, mas o paciente troca de médico", afirmou Bolsonaro. O presidente voltou a citar o cardiologista Roberto Kalil Filho, do Hospital Sírio-Libanês, parabenizando-o por ter declarado que foi medicado com a hidroxicloroquina. Na menção, aproveitou para criticar o coordenador do comitê de controle do coronavírus em São Paulo, o médico David Uip, alvo de críticas de bolsonaristas por não responder se usou a cloroquina em seu tratamento contra o coronavírus. "Eu havia conversado com doutor Kalil, ele estava em situação crítica, confessou, falou que usou a cloroquina, diferentemente daquele outro cara, daquele outro colega lá que é ligado ao governador [de São Paulo, João Doria (PSDB)], e obviamente deu força a isso daí", declarou o presidente. "E doutor Kalil mesmo, numa das entrevistas, que eu achei muito bacana porque ele falou que usou [cloroquina] e que também ministrou a pacientes. Ele falou o seguinte: 'não dá para esperar. Se eu for esperar que os estudos científicos estejam comprovados, vai levar um ou dois anos. Quem está aqui acometido da doença, não pode esperar. Vai morrer, a grande maioria vai morrer", disse Bolsonaro.
+++ Preocupada em apenas descrever as posições polêmicas de Bolsonaro, inclusive com relação ao seu ministro da Saúde, a Folha deixa escapar que o presidente parece estar confortável com a decisão do STF. Agora, ele pode pregar contra o “isolamento horizontal” porque não tem responsabilidade sobre a questão. Pelo menos, é isso o que ele dá a entender.
*”Diálogo mostra Osmar Terra oferecendo ajuda a Onyx para trocar Mandetta”* - Defensor da flexibilização do isolamento social, o ex-ministro e deputado Osmar Terra (MDB-RS) ofereceu ajuda ao ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, para trocar o titular da Saúde, Henrique Mandetta, de quem diverge sobre as medidas de combate ao novo coronavírus. "Eu ajudo, Onyx. E não precisa ser eu o ministro, tem mais gente que pode ser", afirmou Terra em conversa ouvida e divulgada pela CNN Brasil nesta quinta-feira (9). O vazamento ocorre em um momento de desgaste de Mandetta com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Eles divergem sobre o protocolo de isolamento para evitar aumento da dispersão do vírus e sobre o uso de medicamentos no tratamento da Covid-19. O novo impasse fez com que uma entrevista coletiva marcada para a tarde desta quinta-feira fosse cancelada. Houve um entendimento de que a divulgação da conversa entre Onyx e Terra poderia dominar a entrevista, ofuscando os anúncios que seriam feitos pelos ministros.
Além de Mandetta, estava prevista a participação dos ministros Walter Braga Netto (Casa Civil), Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura) e Bento Albuquerque (Minas e Energia). À coluna Painel, o ministro da Saúde evitou comentar a conversa. "Eu só trabalho, trabalho, trabalho", afirmou, dizendo não ter visto a notícia sobre a conversa e perguntando do que se tratava. Em seguida, ao ser informado de que o diálogo era de críticas a ele, apenas disse: "Deixa eles". Embora tenha sido um dos responsáveis pela indicação de Mandetta para o governo, já que ambos são do DEM, Onyx disse nesta quinta que "cortaria a cabeça" do ministro se estivesse na cadeira presencial. No diálogo, o titular da Cidadania faz uma menção à reunião ministerial ocorrida na segunda (6), quando a demissão de Mandetta foi cogitada pelo presidente. "Se eu estivesse na cadeira [do Bolsonaro]... O que aconteceu na reunião eu não teria segurado, eu teria cortado a cabeça dele", diz um trecho da conversa publicada pela emissora. No diálogo, Terra, que está de olho na cadeira de Mandetta, defende mudança da política de distanciamento social defendida pelo ministro da Saúde. Em outro trecho da conversa, Terra diz que Mandetta deveria se adequar ao discurso de Bolsonaro. Em seguida, afirma que, em caso de troca, não precisa ser ele o ministro.
Após o cancelamento da coletiva, o presidente recebeu o ministro da Saúde em seu gabinete. O compromisso não estava previsto inicialmente e foi acrescentado na agenda no início da noite. O assunto do encontro não foi divulgado. Logo depois, Bolsonaro mencionou brevemente o vazamento do diálogo no início de sua live semanal pelas redes sociais, afirmando que não comentaria o caso. "Quem está esperando eu falar do Mandetta, Osmar Terra e Onyx pode passar para outra live. Não vai ter este assunto hoje aqui", disse. Procurada, a assessoria de Terra informou que o deputado não comentaria por tratar-se de uma conversa privada.​ Na tarde desta quinta-feira, em meio à crise ministerial, o presidente foi a uma padaria em Brasília. Acompanhado de Tarcísio e de um de seus filhos, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o presidente comeu um sonho e cumprimentou clientes do local. O entendimento de auxiliares de Bolsonaro é de que o vazamento foi arquitetado por Terra para manter a fritura de Mandetta. Eles dizem acreditar, porém, que Onyx não sabia que a conversa estava sendo acompanhada por um jornalista.
Apesar da insistência da ala ideológica em manter a tensão, as áreas militar e técnica afirmam que a situação se acalmou e o incêndio hoje está resumido a brasas. Técnicos do Ministério da Saúde comentaram, em tom de brincadeira, que, quando o sol parecia aparecer, outra nuvem carregada se aproximou. Um ministro reagiu dizendo que era possível soprar esta nuvem para longe. O vazamento do áudio gerou revolta na bancada de deputados do DEM, que se mobilizaram nos últimos dias para defender a permanência de Mandetta no cargo. Na avaliação de parlamentares, o ato de Onyx foi uma traição. Houve entre os deputados quem defendesse que o partido adotasse algum tipo de sanção contra o ministro da Cidadania. O líder da bancada do partido na Câmara, Efraim Filho (PB), disse que o episódio gera um "ruído péssimo", mas, numa sinalização contra eventuais punições, disse que os deputados do DEM vão "olhar para frente". "É um episódio que impacta na bancada, gera um ruído péssimo, já que todos tínhamos nos mobilizado para dar suporte ao Mandetta na crise da pandemia. E assim continuaremos. Se trata um diálogo pessoal que não nos cabe avaliar a conduta de cada um. A bancada vai olhar pra frente e focar no trabalho para salvar vidas e empregos", disse.​
*”Na TV, Bolsonaro manda recado a Mandetta e cita médico de petistas; leia íntegra comentada”*
OPINIÃO - *”Bolsonaro e igrejas evocam liberdade religiosa sem considerar bem-estar no coronavírus”*
*”Justiça proíbe agência Yacows de fazer disparo em massa pelo WhatsApp”* - Em decisão liminar, a Justiça de São Paulo proibiu que a empresa Yacows, agência que realizou disparos em massa durante as eleições de 2018, utilize o WhatsApp para esse tipo de operação. Ao atender pedido da própria plataforma, o juiz Eduardo Palma Pellegrinelli também vetou o uso de marca e símbolo do WhatsApp pela agência de comunicação. O WhatsApp decidiu processar a Yacows sob a alegação de violação de propriedade intelectual e de suas políticas de uso. O esquema de envio ilegal de mensagens para favorecimento político, um dos objetos da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) das Fake News no Congresso, foi alvo de uma série de reportagens da Folha desde outubro de 2018. Esta é a segunda vez que o WhatsApp processa uma empresa relacionada ao disparo em massa no Brasil. A SallApp, também acusada desse tipo de atividade, foi a primeira nesse contexto. Na última segunda-feira (6), em decisão de primeira instância, o juiz acatou a denúncia de que a Yacows infringiu a lei de propriedade intelectual ao usar o símbolo do WhatsApp, que pertence ao grupo Facebook, para divulgar seus serviços de marketing no site da empresa e em anúncios publicitários na internet. A decisão judicial cita indícios de que todas as rés —as empresas ligadas à marca da Yacows, como Kiplix, Deep Marketing e Maut— estariam também violando a limitação técnica do software do WhatsApp, o que viola a lei do software, além de infringir as políticas de uso da plataforma.
A empresa tem um prazo de 15 dias para a defesa. Procurada, a ré ainda não se manifestou. De acordo com a decisão judicial, a defesa do WhatsApp conseguiu demonstrar que a Yacows usou em seu serviço “marketing no Whatsapp” e na plataforma Bulk Services, que dispara mensagens, a reprodução de marcas do aplicativo. Baseado na lei de propriedade intelectual, o juiz considerou que há crime contra o registro de marca aquele que “reproduz, sem autorização do titular, no todo ou em parte, marca registrada, ou imita-a de modo que possa induzir confusão”. Os advogados WhatsApp pediram tutela de urgência no caso porque a empresa “permanece anunciando de forma ostensiva o serviço de envio de mensagens de forma massificada”. “Em recente depoimento à CPMI de Fake News, o Sr. Lindolfo [Alves Neto [um dos donos da agência], que está à frente dos negócios das rés, confessou que desenvolveu ferramenta que permite o envio de mensagens de WhatsApp em massa e que prestou esses serviços, sem qualquer indicação de arrependimento ou de que esses serviços não estariam e nem seriam mais prestados”, alega a defesa. O WhatsApp argumenta que essa associação da Yacows com o mensageiro gera danos que extrapolam o pecuniário.
“Ao conceder a liminar, o juiz considerou o dano indireto que a empresa está sofrendo, que pode ser reputacional, moral, por ter a marca associada a uma atividade da Yacows que ficou no centro da polêmica eleitoral do uso de redes sociais em 2018”, avalia o advogado Francisco Brito Cruz, diretor do InternetLab que acompanha a CPMI. O serviço chamado Bulk Services é uma plataforma desenvolvida pela Yacows que usava o WhatsApp como interface para a distribuição em massa de mensagens automatizadas. Como mostrou reportagem da Folha, o esquema, usado por uma rede de empresas, utilizou dezenas de chips não autorizados, vinculados de maneira ilegal a CPF de idosos, para disparar mensagens de cunho político por meio do WhatsApp. Esses conteúdos chegavam à população de números desconhecidos. A prática é ilegal do ponto de vista eleitoral. A Yacows prestou serviços a vários políticos, como foi posteriormente demonstrado na CPMI das Fake News, e foi subcontratada pela AM4, produtora que trabalhou para a campanha do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL). Em depoimento à CPMI em fevereiro, o ex-funcionário da Yacows Hans River do Rio Nascimento apresentou imagens que indicam que a empresa realizava disparos ilegais pelo WhatsApp. As imagens mostram caixas com chips de celulares em cima de mesas da empresa, aparelhos conectados a um computador e com o WhatsApp Web aberto, como uma espécie de bateria de disparo, além de fotos de monitores com registros de sistemas internos da companhia.
Já Lindolfo Alves Neto negou que usasse CPFs de terceiros para registrar chips ou que usasse bancos de dados de terceiros. A CMPI das Fake News foi prorrogada na semana passada por mais 180 dias. Depois de um rearranjo de integrantes da comissão, existe a possibilidade de aprovação de uma série de requerimentos, que incluem a quebra de sigilo de Lindolfo. O processo também demonstra uma mudança de postura do WhatsApp na comparação ao contexto de 2018, quando a empresa concentrava sua defesa na ênfase de que havia banido 400 mil contas automatizadas durante as eleições e que não comentava casos individuais. Em novembro de 2019, após audiência pública do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), uma regulamentação determinou que é expressamente proibido fazer disparos em massa de acordo com a legislação eleitoral. Em entrevista à Folha nesta quinta-feira (9), Pablo Bello, diretor de Políticas Públicas do Facebook Brasil para Aplicativos de Mensagens na América Latina, afirmou que os termos de serviço do WhatsApp "proíbem expressamente o envio massivo e automatizado de mensagens". "WhatsApp não é uma plataforma para fazer campanha política e nenhum tipo de campanha de marketing passivo", disse. O aplicativo detecta, por meio de um sistema de inteligência artificial, mensagens automatizadas. Sobre os disparos durante as eleições, Bello afirmou que, por mais que as contas fossem derrubadas de cinco a 20 minutos, novas eram criadas para divulgar conteúdo em massa.
*”PT decide não aderir ao 'fora, Bolsonaro' em meio à pandemia do coronavírus”* - Após reunião de sua cúpula nesta quinta-feira (9), o PT definiu que não é o momento de aderir ao "fora, Bolsonaro". O foco do partido continua na pandemia do coronavírus, com defesa do isolamento social e cobranças para que o governo federal aja na proteção aos mais vulneráveis. O grito de "fora, Bolsonaro" já é adotado por parte da esquerda —nesta quarta (8), as frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular passaram a defender a saída do presidente. "Derrotar Bolsonaro é fundamental para enfrentar o coronavírus", escreveram em nota. Já o Partido dos Trabalhadores vê esse movimento como legítimo, mas não endossa o coro. "O PT tem o sentimento de apoiar manifestações do campo popular, se solidariza, entende por que as pessoas fazem panelaço", afirma o ex-deputado Jilmar Tatto, secretário de comunicação da sigla. Segundo Tatto, os petistas também querem Bolsonaro fora, mas a questão da pandemia se impõe atualmente. "Bolsonaro não serve para o país, não tem mais condições de governar, está isolado. Mas agora o povo não está na rua, porque não pode. O Congresso não está se reunindo." Dirigentes do partido entendem que as condicionantes para um impeachment não estão presentes neste momento: um crime de responsabilidade caracterizado por juristas, vontade e mobilização popular, além de maioria no Congresso. Pesquisa Datafolha revelou que 59% dos brasileiros dizem ser contra a renúncia de Bolsonaro. E que 17% dos seus eleitores estão arrependidos do voto.
Em relação ao crime de responsabilidade, embora petistas vejam atitudes de Bolsonaro que se enquadrem nessa categoria, a avaliação é a de que falta materialidade jurídica, ou seja, que entidades do mundo jurídico caracterizem precisamente esses crimes. A posição majoritária da cúpula do PT em relação ao impeachment é endossada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que participou da reunião. Uma minoria presente foi a favor de que o partido adotasse a defesa do "fora, Bolsonaro". Também há a avaliação, já expressada por Lula em entrevistas, de que o PT não deve buscar agora construir politicamente a viabilidade do impeachment e que as energias devem estar a serviço de conter a pandemia. "Temos que cobrar que o governo implemente as propostas do Congresso. Que dê crédito às pequenas e médias empresas. Salvar vidas é a maior preocupação. E que as pessoas tenham o mínimo para comer", diz Tatto. Ele afirmou ainda que o PT vai intensificar uma rede de solidariedade, junto com as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, para ajudar os vulneráveis durante a crise. Os partidos de esquerda e centro-esquerda PT, PSOL, PDT, PSB, PC do B e Rede já assinaram um manifesto em que afirmam que Bolsonaro não tem condições de seguir governando e deveria renunciar. A tese do impeachment foi abraçada por parlamentares do PSOL, que apresentaram um pedido à Câmara.
Nesta quinta pela manhã, durante parte da reunião transmitida pela internet, Lula evitou falar sobre saídas ao governo Bolsonaro, como renúncia ou impeachment. O ex-presidente afirmou que iria esperar as discussões internas sobre isso, feitas à tarde e sem transmissão, para dar sua posição. Na semana passada, em entrevista à veículos de esquerda, Lula também evitou defender o impeachment, afirmando que é preciso ter um crime de responsabilidade. Ao mesmo tempo, porém, o petista afirmou que Bolsonaro não tem condição de continuar. "Ou esse cidadão renuncia ou se faz o impeachment dele com base nos crimes de responsabilidade que ele já cometeu", afirmou no dia 1º. Na ocasião, Lula também exaltou o manifesto pela renúncia e deu a entender que isso seria o começo. "Da renúncia para o impeachment, é um pouco. Da renúncia para o 'fora, Bolosnaro', é um pouco. Na hora que tiver manifestação de rua, o 'fora, Bolsonaro' ganha força." Lula vem fazendo reiteradas críticas a Bolsonaro. Nesta quinta, afirmou que o pronunciamento do presidente na véspera não teve "nenhum critério de responsabilidade" e voltou a defender o isolamento social. "Bolsonaro tem duas táticas. Ele precisa passar para sociedade a ideia de que ele tem o remédio, que se der certo, ele será beatificado. E ele tem que passar a ideia de que ele é único cara que está preocupado com o Brasil, que quer fazer o Brasil voltar a trabalhar", disse o petista.
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*”Preço dos alimentos acelera após coronavírus, diz IBGE”* - O preço dos alimentos disparou em março, fechando o mês em alta de 1,13%, contra 0,11% registrados em fevereiro, informou nesta quinta (9) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Os aumentos ocorrem em um momento de dificuldades para famílias afetadas pela crise do coronavírus. Segundo o IBGE, os maiores aumentos se deram em produtos relacionados à alimentação em domicílio, que acelerou de 0,22% para 1,40% em março. As maiores altas foram registradas em produtos como cenoura (20,39%), cebola (20,31%), tomate (15,74%), batata-inglesa (8,16%) e ovo (4,67%). Foram responsáveis por manter a inflação no terreno positivo, apesar da queda dos preços dos combustíveis e das passagens aéreas. Em março, o IPCA, índice oficial de inflação do país, ficou em 0,07%, contra 0,25% do mês anterior. Foi o menor resultado para março desde o Plano Real. O grupo Alimentos e bebidas teve impacto de 0,22 ponto percentual na inflação de março. "Houve uma aceleração disseminada no preço dos alimentos", disse o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov. "Os números sugerem que as pessoas estão comprando mais para comer em casa." O custo da alimentação em domicílio teve a maior alta desde dezembro de 2019, quando o preço da carne bovina disparou. Kislanov disse que alguns produtos, como cenoura e tomate, já vinham registrando alta. Mas outros, como a cebola a batata, caíam e passaram a subir em março. Após os primeiros aumentos, supermercados jogaram a responsabilidade nos fornecedores. A Abras (Associação Brasileira dos Supermercados) falou em "elevações injustificadas de preços" e diz hoje trabalhar com a Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor) para evitar aumentos abusivos.
No Rio, sindicatos ligados aos comerciantes chegaram a divulgar "carta de esclarecimento" responsabilizando fornecedores por retirar descontos nos preços quando os estoques começaram a cair após aumento na procura no início das medidas de isolamento social. Economistas afirmam que a elevada procura teve impacto nos primeiros momentos da crise, mas esperam que os preços se ajustem com a normalização da demanda após a corrida aos supermercados no fim de março. Naquele momento, segundo levantamento feito na semana passada pelo economista da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Andre Braz, houve alta em diversos itens da cesta básica, como tomate (13,34%), ovo (9,04%) batata-inglesa (5,20%) e batata inglesa (5,20%). "Além do aumento da demanda, pois todas as refeições estão sendo feitas em residência, houve aumento da estocagem, por receio de que o vírus se propague mais e expanda o período de confinamento social", analisou o economista André Braz, da FGV. "Continuando a quarentena, devemos continuar tendo alta dos alimentos. Mas tem um limite", avalia Kislanov. "Temos uma crise e, a partir do momento em que as pessoas têm menos dinheiro para consumir, os mercados não poderão subir tanto os preços." Especialista em preços no atacado, o consultor Carlos Cogo, da Cogo Inteligência em Agronegócios, acha, porém, que a pressão ainda não acabou e os preços devem subir mais antes de voltar à normalidade. "O varejo assumiu parte da alta até agora, colocando estoques em um valor mais baixo", diz. "Quando a reposição vier, ainda veremos novos aumentos. Vai piorar antes de melhorar", completa. Segundo dados compilados por ele, o preço do feijão no atacado acumula alta de 71,1% em 30 dias, o trigo subiu 13,6% e o arroz, 7,6%. O café tem aumento acumulado de 6,9% no período.
Responsável por garantir a regularidade do abastecimento e apoiar os produtores, a Conab​ (Companhia Nacional de Abastecimento) diz que alguns aumentos são provocados por questões climáticas, como as chuvas na principal região produtora de cenouras no país. No caso do feijão, diz o presidente da estatal, Guilherme Bastos, o produto sofre com a alta demanda em um momento de quebra de safra. Já o arroz tem produção muito próxima do consumo, o que ajudou a elevar os preços com o aumento da procura. Outros produtos, como frutas e hortaliças, vêm em tendência de baixa, com menor demanda de restaurantes e restrições a feiras livres após o início das medidas de isolamento social. O presidente da Conab não vê riscos de abastecimento. "De maneira geral, as centrais não têm nos reportado nenhuma ruptura no fornecimento", disse. Ele também espera menos pressão sobre os preços nos próximos meses. Dados da estatal apontam, por exemplo, que a proximidade com a segunda safra do feijão já reverteu a curva de alta dos preços em algumas praças na última semana. Ainda assim, considerando a variação acumulada do ano, o produto já subiu até 60%, no caso do Paraná. Em São Paulo, o aumento acumulado é de 52%.​ Procurada, a Abia (Associação Brasileira da Indústria do Alimento) disse em nota apenas que não discute preços, "uma vez que as negociações entre as empresas do setor e as cadeias de varejo contextualizam-se em um cenário de livre mercado". Na ponta negativa da inflação de março, todos os combustíveis apresentaram retração: etanol (-2,82%), óleo diesel (-2,55%), gasolina (-1,75%) e gás veicular (-0,78%). As passagens aéreas também mantiveram queda, de 16,75%. Assim, o grupo Transportes caiu 0,90%. No acumulado do ano, o IPCA soma 0,53%. Em 12 meses, 3,30%, abaixo do centro da meta estabelecida pelo governo, de 4%. Na semana passada, economistas ouvidos pelo relatório Focus, do Banco Central, reduziram para 2,72% a projeção do IPCA para o ano, diante da expectativa de fortes impactos econômicos da crise gerada pela pandemia do coronavírus. A estimativa anterior era de 2,94%.
*”Preço do ovo atinge recorde com maior demanda após isolamento”*
*”Corte na produção de petróleo frustra e Bolsa brasileira cai 1,19%”*
PAINEL S.A. - *”Brasileiros em quarentena pedem delivery até três vezes por semana, diz pesquisa”*: Dos brasileiros que pediram delivery durante o isolamento pelo coronavírus, 53% chamaram comida de duas a três vezes na última semana, de acordo com levantamento da consultoria Kantar. Por que não? As motivações de quem não pediu comida em casa foram: 33% não têm o costume de usar o delivery, 27% tiveram tempo para cozinhar e 16% querem poupar dinheiro durante a crise. Segundo a Kantar, 80% dos brasileiros aderiram ao confinamento completo, sem sair para trabalhar, durante a pandemia.
*”Supermercados adotam uso de máscara, mas aglomeração é desafio”*
*”Estados começam a calcular perdas de arrecadação com coronavírus”*
*”Em socorro a estados, Maia aceita reduzir margem de crédito se compensação de ICMS for maior”* - Em embate com o Ministério da Economia sobre o projeto de socorro aos estados na pandemia do novo coronavírus, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), aceita negociar mudanças na proposta para que as despesas do governo fiquem mais limitadas a 2020. Sem consenso entre partidos, a votação do texto foi adiada para a próxima semana. Maia indicou que poderá fazer ajustes no pacote de medidas aos governadores e prefeitos para reduzir as críticas. Para ele, o governo poderia ampliar o prazo para compensar estados e municípios das perdas de arrecadação e, em troca, o limite para novas contratações de créditos seria reduzido em relação à proposta apresentada nesta quinta-feira (9), quando votação também teve que ser postergada. O pacote em discussão prevê que a União destine R$ 35 bilhões para neutralizar a queda de arrecadação de ICMS (imposto estadual) por três meses, além de R$ 5 bilhões para o ISS (municipal). O texto permite que estados possam contratar empréstimos e financiamentos, limitados a 8% da receita corrente líquida do ano passado, para bancar medidas de enfrentamento ao novo coronavírus e para estabilizar a arrecadação em 2020. A estimativa é que estados possam contratar R$ 50 bilhões. Usar esses recursos para estabilizar a arrecadação em 2020 é um dos pontos mais polêmicos na avaliação do time do ministro da Economia, Paulo Guedes. Técnicos acreditam que o crédito, portanto, não será restrito ao combate à pandemia e poderá ser usado inclusive nos próximos anos. Para Maia, se Guedes avaliar que o melhor é reduzir a fatia (de 8% da receita corrente líquida) e vincular o acesso a esses recursos a obras e investimentos, daqui três ou quatro meses, para estimular a recuperação econômica, o texto poderá ser adequado. Ele também sinalizou aceitar essa redução na medida de crédito se o governo compensar a queda de ICMS e ISS por mais tempo (além dos três meses já previstos). Isso reduziria o impacto do pacote nos próximos anos.
“Estamos abertos a uma proposta. O governo prefere, em vez de três meses, quatro meses e reduzir o espaço de endividamento para que a gente não comprometa o futuro com esses empréstimos, como eles dizem? É uma alternativa”, indicou Maia. O relator do texto, deputado Pedro Paulo (DEM-RJ), também adotou a mesma postura. "Entendemos que a recomposição [da receita com impostos] é mais lógico e objetivo do que o carregamento desses recursos por financiamento". Os dois, Maia e o relator, dizem que o governo está fazendo jogo político em torno do projeto para evitar conceder ajuda a estados do Sul e Sudeste, onde estão os governadores João Dória (São Paulo) e Wilson Witzel (Rio de Janeiro), que se opõem à condução do presidente Jair Bolsonaro na crise do coronavírus. A equipe econômica considera a proposta, da forma que foi apresentada nesta quarta, uma bomba fiscal, de R$ 160 bilhões a R$ 180 bilhões. O presidente da Câmara contesta esse cálculo. Maia afirma que, além dos R$ 40 bilhões de compensação a ICMS e ISS, estão previstos R$ 9 bilhões de renegociação de dívidas com bancos públicos, mais os R$ 50 bilhões para que a União dê aval às operações de crédito. “Estamos tratando nem de R$ 100 bilhões”, declarou. “Aceitar números e valores que não existem, eu acho que neste momento não faz nenhum sentido, o que o ministro da Economia está fazendo”, afirmou Maia. “Ele [Guedes] vende as coisas do jeito que ele quer, da forma que ele quer”. O Ministério da Economia está preocupado com o projeto emergencial aos estados por não prever contrapartidas -- medidas estruturantes, como redução de despesas com servidores e venda de estatais deficitárias. Até esta segunda (6), a ideia de Guedes e Maia era destravar o Plano Mansueto, conjunto de ações de médio e longo prazo para ajudar na recuperação do equilíbrio financeiro de estados e municípios que adotassem medidas de ajuste fiscal.
Essa proposta, apresentada em junho do ano passado, exigia que, para ter acesso ao financiamento com garantia da União, era necessário adotar três de oito medidas, como privatizar empresas dos setores financeiro, energia, de saneamento, ou de gás; e reduzir em 10% os incentivos ou benefícios tributários. Governadores, no entanto, avaliaram que as exigências são muito duras, o que contribuiu para o entrave do plano. Na crise do coronavírus, os estados afirmam que, com a negociação sobre o plano emergencial, o governo quer impor mudanças estruturais num momento em que a discussão é o socorro
+++ A reportagem limita a discussão sobre a ajuda aos Estados. Faz parecer que Rodrigo Maia negocia com o governo e controla o relator, ficam de fora todos os partidos políticos que se debruçam sobre a questão a apresentam propostas.
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*”Caixa amplia incentivos em financiamento imobiliário por conta do coronavírus”* - A Caixa Econômica Federal anunciou nesta quinta-feira (9) uma nova rodada de medidas de estímulo à construção civil. Pessoas físicas e empresas poderão adiar parcelas de financiamentos por três meses e antecipar o recebimento de recursos. O conjunto de ações, segundo o banco, vai injetar aproximadamente R$ 43 bilhões na economia. O objetivo é minimizar os impactos econômicos provocados pela pandemia do novo coronavírus e evitar demissões no setor. Em março, a Caixa já havia reduzido taxas de juros e autorizado a suspensão de parcelas por dois meses. Agora, esse prazo foi ampliado por mais um mês para os financiamentos imobiliários. Outra medida já anunciada, mas que agora é oficial e passa a valer, dá seis meses de carência para o início dos pagamentos de novos contratos de financiamento de imóveis. As novas regras entram em vigor na segunda-feira (13). ​Os pedidos de suspensão dos pagamentos poderão ser feito pelo aplicativo de celular da Caixa. O objetivo é evitar que as pessoas se desloquem às agências durante a pandemia do novo coronavírus. A pausa nos pagamentos poderá ser feita por clientes com financiamentos em dia ou que tenham, no máximo, duas parcelas em atraso. A regra também se aplica a empresas que fazem financiamento à produção. Pessoas que não quiserem suspender integralmente os pagamentos terão a possibilidade de optar por um pagamento parcial das parcelas no período de três meses.
Os clientes que usam financiamento da Caixa para construção de imóvel poderão antecipar o recebimento de recurso em até dois meses, sem necessidade de vistoria. Haverá ainda autorização para que empresas, especialmente construtoras, antecipem até 20% dos recursos a receber em financiamentos à produção para obras ainda não iniciadas. Empreendimentos que já começaram poderão contar com antecipação de três meses dos recursos, limitado a 10% do valor do financiamento. Contratos com atraso entre dois e seis meses também poderão ser renegociados, com autorização para pausa ou pagamento parcial das prestações. Caso a construtora seja impactada pela crise provocada pela pandemia e precise reformular o cronograma de obras, o banco vai permitir o ajuste no contrato de financiamento. De acordo com o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, as ações, somadas às novas linhas de crédito apresentadas nas últimas semanas após o agravamento da pandemia, somam R$ 154 bilhões. Segundo ele, o banco segue avaliando o cenário e novas medidas emergenciais podem ser adotadas. "Se houve maior problema, se a crise ficar mais forte, vamos estudar e poderemos, sim, ampliar essas linhas", disse. Ele acredita que as medidas vão evitar a demissão de 1,2 milhão de trabalhadores.
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*”Clientes da Caixa reclamam de que auxílio de R$ 600 está sendo debitado de conta”* - Clientes da Caixa Econômica Federal relataram falhas nesta quinta-feira (9), após o início do pagamento do auxílio emergencial de R$ 600. Segundo as queixas, dívidas estão sendo descontadas de débitos já existentes em contas do banco quando a grana é paga. Além disso, houve quem reclamasse do não pagamento dos valores. Segundo a Caixa, não haverá débitos de tarifas ou parcelas de dívidas sobre o dinheiro do auxílio, conforme acordo firmado entre bancos de todo o país na terça-feira (7). A grana começou a ser paga para 2,5 milhões de pessoas que têm poupança na Caixa, são correntistas do Banco do Brasil, estão no CadÚnico e não recebem Bolsa Família. O pintor Paulo Roberto Dias Viana, 39 anos, diz que tem financiamento habitacional pela Caixa e que solicitou a suspensão das parcelas, o que foi confirmado pelo banco no final de março.
No entanto, ao checar o crédito de R$ 600 na sua conta, viu que o valor da prestação que havia sido suspensa foi descontado do auxílio emergencial, conforme extrato enviado à reportagem. Ele diz que tem conta-poupança e que a prestação era quitada por débito em conta. "Primeiro fiquei com saldo negativo por causa dessa cobrança, e com o crédito, estou com apenas R$ 12 na conta. Não atendem a minha reclamação em nenhum canal. Fui até a agência e falaram que eu precisaria resolver na Ouvidoria, mas não me atendem", queixa-se. No Twitter, as reclamações seguem na mesma linha. Clientes da Caixa que receberam o crédito de R$ 600 do auxílio emergencial apontam que outras cobranças em aberto estão sendo debitadas do valor. "Não havia um decreto que os bancos não podiam descontar do auxílio emergencial? A Caixa descontou do meu auxílio o empréstimo que pago", diz André Benvindo, referindo-se ao acordo entre os bancos. Procurada, a Caixa diz que não foram verificadas, em seus sistemas, reclamações referentes a descontos do auxílio emergencial de R$ 600 e que eventuais problemas devem ser enviados por meio do SAC, pelo número 0800 726 0101. "Não incidirão sobre o crédito do auxílio emergencial débito de tarifas ou parcelas de dívidas financeiras, amortização de saldo em aberto ou qualquer outro débito, permitindo que o beneficiário tenha a disponibilidade integral dos valores recebidos. Lançamentos provisionados de prestações pendentes não serão debitados do auxílio emergencial", diz nota do banco.
Bancos não devem descontar
De acordo com o anúncio do governo, o auxílio, que será pago em três parcelas de R$ 600 —ou de R$ 1.200 para mães responsáveis pelo sustento do lar—, deverá ser integral até mesmo nos casos em que a conta estiver com saldo negativo devido ao uso do limite do cheque especial ou do cartão de crédito, por exemplo. “Não vai haver débito desse dinheiro de quem for usar o auxílio emergencial”, disse o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni . “Esse recurso, quando for transferido do banco oficial para qualquer banco do sistema privado brasileiro, se existirem débitos anteriores, esse valor ficará protegido, ele não paga contas antigas”, detalhou. A Febraban confirmou o acordo para preservar o valor integral do auxílio e explicou que as instituições financeiras colocarão esses valores em uma conta separada da conta principal do beneficiário, mas vinculada a ela. Com essa medida, a federação afirma que os recursos poderão ser movimentados usando os mesmos cartão e senha da conta principal, sem que haja risco de que sejam realizados débitos indevidos sobre o valor do auxílio emergencial. A transferência das parcelas do auxílio para contas de bancos privados também não será cobrada. Quem não quiser receber o benefício em sua conta poderá optar pela abertura de uma conta digital social da Caixa Econômica, que também não terá a cobrança de tarifas
Problemas no aplicativo do banco
A revisora autônoma Luciana Mendonça, 41 anos, diz que fez o cadastro para receber o auxílio emergencial na última terça (7), mas que o sistema segue apontando que o pedido está em análise. "O aplicativo não está funcionando, então o único jeito seria ir até o banco para ver o saldo, mas estou em isolamento. O cadastro foi concluído, consegui enviar meus dados, só que estes dados vão para análise. Desde então, estou sem resposta se receberei ou não o benefício." A mecânica automotiva Andreia Oliveira, de 24 anos, tem conta na Caixa e também reclama da falha no aplicativo. "Passei o dia todo tentando verificar o saldo, mas nem logar com meus dados consigo. Fiquei sem nenhuma informação se o dinheiro caiu na conta, já que no site e no aplicativo do auxílio costa apenas que meu pedido está em análise. Não posso sair do isolamento para ver o meu saldo em uma agência, o próprio banco disse para gente não fazer isso por conta das aglomerações. Vou ter que esperar até o aplicativo finalmente funcionar", reclamou ela. Questionado pela reportagem sobre as reclamações das falhas, a Caixa disse que, nos dois últimos dias, houve um volume de acessos recorde, muito superior ao regular, ultrapassando mais de 27 milhões de transações. Segundo o banco, o cenário atípico concentrou o número de acessos e criou inconstâncias pontuas na plataforma. A Caixa disse que está buscando soluções na infraestrutura para continuar garantindo o atendimento dos clientes.
NELSON BARBOSA - *”Esqueçam o Plano Mansueto”*
*”França manda Google negociar taxa com mídia”*
*”Google proíbe software Zoom em laptops de funcionários”*
*”Onda de confisco de equipamentos põe em risco segurança hospitalar”* - Medidas judiciais e administrativas em vários estados vêm comprometendo o planejamento de hospitais, laboratórios e da indústria farmacêutica na distribuição de equipamentos de proteção individual (EPIs) a seus profissionais de saúde e funcionários. Em alguns casos, até decisões da Justiça do Trabalho, com base em ações coletivas, chegaram a determinar o fornecimento de materiais de proteção a outros profissionais fora da área da saúde, como funcionários de edifícios, porteiros e seguranças em prazos de 24 horas ou 48 horas, sob pena de multas. A falta de critérios definidos que autorizem esses e outros tipos de confisco —na maior parte amparados por decretos estaduais ou municipais— levou 11 entidades da área médica a pedirem intervenção do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça. De acordo com a reclamação encaminhada ao STF e ao CNJ, o número de profissionais de saúde afetados pela Covid-19 em procedimentos hospitalares tem aumentado rapidamente, assim como a escassez de equipamentos de proteção. As entidades encaminharam também uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) ao Supremo Tribunal Federal para que haja normatização que delimite as circunstâncias em que esse tipo de confisco possa vir a ocorrer.
Elas pedem que as requisições administrativas sejam precedidas pelo esgotamento de outros meios e que os atingidos sejam ouvidos antecipadamente. Solicitam ainda que sejam feitas de forma coordenada pelo Ministério da Saúde e proporcionais às necessidades identificadas nas regiões onde ocorrem; e que a Justiça do Trabalho evite destinar equipamentos a profissionais que não lidem diretamente com a pandemia. “O que acusam o governo [de Donald] Trump de ter feito em relação a equipamentos que teriam sido desviados de outros países para os Estados Unidos não é muito diferente, guardadas as proporções, de alguns casos que temos registrado”, diz Marco Aurélio Ferreira, diretor-executivo da Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados), que reúne 122 hospitais e entidades filantrópicas. Os casos mais ruidosos até agora foram o confisco da produção, por seis meses, de ventiladores respiratórios da empresa paulista Magnamed, pelo Ministério da Saúde, e de 500 mil máscaras da 3M, pelo governo de São Paulo. Mas há uma série de outros episódios que vem desorganizando o planejamento dos envolvidos no combate à Covid-19 no Brasil e em outras frentes médicas.
Segundo Fernando Silveira Filho, presidente da Abimed (Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde), a aleatoriedade nessas requisições por estados e municípios pode potencializar o cenário de falta de equipamentos, à medida que gera “assimetrias no abastecimento”. Silveira Filho afirma que cerca de 60 países em todo o mundo estabeleceram restrições às exportações de equipamentos de segurança hospitalar ou de matérias-primas para sua confecção, em uma cadeia ampla e complexa —o que passou a exigir das empresas mais previsibilidade na produção e distribuição. Outra preocupação, de acordo com ele, é como os itens com tecnologia mais sofisticada vêm sendo manipulados e transportados após os confiscos, que também acabam afetando os laboratórios. “Além de nossos estoques estarem minguando, agora entrou essa variável, que causa muita apreensão”, afirma Priscilla Franklin Martins, presidente da Abramed (Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica). Na indústria farmacêutica, grande consumidora de equipamentos de segurança, além da preocupação com o abastecimento, tem havido aumento de preços de matérias-primas devido ao cancelamento, em todo o mundo, de milhares de voos de passageiros —que geralmente são usados pelo setor para subsidiar custos. Isso, mais o congelamento por 60 dias de um aumento de preços de 4%, deve afetar tanto a rentabilidade das indústrias quanto as verbas para novas pesquisas, afirma Nelson Mussolini, presidente do Sindusfarma (Sindicato da Indústria Farmacêutica do Estado de São Paulo).
*”Estados evitam dizer quanto dura estoque de máscara e luvas contra coronavírus”*
*”Governo planeja 40 voos com status de Estado para buscar máscaras na China”*
*”Governo só tem cronograma de entrega de menos da metade dos testes previstos”* - O Ministério da Saúde só tem, até agora, o cronograma de entrega de 9,2 milhões dos 22,9 milhões de testes previstos para diagnóstico do novo coronavírus. Esse montante chegaria à pasta em etapas, atingindo o total até julho. O cronograma consta de boletim epidemiológico da pasta divulgado nesta quinta-feira (9). A previsão que vem sendo divulgada em boletins do ministério é que a epidemia atinja seu pico até junho deste ano. Já em algumas regiões onde já há maior incidência, o auge é previsto para o fim de abril e início de maio. Dos 9,2 milhões, já foram entregues pelos fornecedores e empresas doadoras ao menos 904.872, o equivalente a 9,9% do total, segundo a pasta. Destes, 104 mil são de testes fornecidos pela Fiocruz, e que usam a técnica de RT-PCR, que visa identificar a presença de material genético do vírus em amostras. Outros 300 mil testes, do mesmo modelo, foram de doação da Petrobras. Também já foram entregues 500 mil testes rápidos doados pela mineradora Vale. Diferente do teste pela técnica de PCR, esse modelo funciona pela detecção de anticorpos para o novo coronavírus.
A ideia do ministério é usar os testes PCR para identificação do vírus em pacientes internados com quadro grave e em amostras de unidades sentinelas. Já os testes rápidos devem ser direcionados a profissionais de saúde e da área de segurança, como policiais, em caso de sintomas. O objetivo é verificar, após um período de isolamento, se eles podem voltar ou trabalho ou devem continuar em casa. Segundo o documento, uma nova quantidade de testes, doada pela mineradora e Petrobrás, deverá ser entregue a partir da próxima semana até julho. Ao todo, são 3,6 milhões de testes da Fiocruz, 600 mil da Petrobrás e 5 milhões da Vale, atingindo a soma de 9,2 milhões. Apesar de fixar o prazo até julho, o próprio ministério vê a possibilidade de impasses no cumprimento de etapas de entrega. O documento cita que, no caso dos testes entregues pela Fiocruz, "o cronograma é dependente de acesso ao insumos no mercado internacional". O boletim também não informa o que ocorreu com os outros 13,7 milhões de testes anunciados inicialmente pela pasta para chegar à conta de 22,9 milhões. Questionados, membros da pasta afirmam que o volume restante ainda está em negociação com empresas. O problema ocorre pela dificuldade de acesso a insumos e alta demanda no mercado. "A capacidade de produção no Brasil é limitada diante da demanda que estamos vivendo", disse nesta quinta o secretário de vigilância em saúde, Wanderson Oliveira. Segundo ele, a pasta ainda busca adquirir mais testes para chegar ao montante de 22,9 milhões. Do volume de testes já adquiridos, a pasta deve distribuir 320 mil na próxima semana. O secretário fez um apelo para que haja uso desse volume apenas em casos graves.
Atualmente, há cerca de 120 mil casos de síndrome respiratória aguda grave em etapa de testes para diferentes vírus respiratórios, informa. De acordo com Oliveira, o volume é esperado para o período do ano. Inicialmente, os casos são testados para gripe e outros vírus mais comuns. Caso deem negativo, são testados para o Sars-CoV-2. "Com os 320 mil, temos uma folga importante, mas é importante esse recurso que seja bem administrado. Não é para testar casos que não sejam internados ou por vigilância sentinela. Se acabar testes, não temos como suprir imediatamente", disse. "É fundamental que estados que estão testando fora dessas estratégias evitem fazer dessa maneira", completou. Atualmente, a ausência de testes é apontada como um dos principais impasses para o controle da epidemia do novo coronavírus. Diante da dificuldade de ampliar os exames, o ministério tem recomendado que os testes sejam aplicados apenas para casos graves, de pacientes internados. A pasta, porém, também vem citando a possibilidade de instalar postos volantes para testagem em cidades acima de 500 mil habitantes —o prazo para que isso ocorra, porém, ainda não divulgado. O secretário-executivo do ministério, João Gabbardo dos Reis, rebateu em coletiva de imprensa críticas sobre a baixa testagem. "Tento nos comparar com os melhores. Quem teve melhor política de testagem: a Coreia do Sul, que testou 450 mil pessoas. Vamos fazer muito mais do que a Coreia do Sul fez", disse, citando o fato de que 904 mil testes já foram entregues pelos fornecedores e o restante está previsto até julho. No documento divulgado nesta quinta, o ministério volta a afirma que “a capacidade laboratorial do Brasil ainda é insuficiente para dar resposta a essa fase da epidemia”. Em seguida, reforça a importância do distanciamento social no enfrentamento ao coronavírus.
O texto aponta que essas políticas contribuem para evitar o colapso do sistema de saúde e oferecem tempo aos gestores para melhorarem a estrutura de seus serviços médicos. O documento diz ainda que estados e municípios que adotaram o distanciamento social ampliado só devem fazer a transição para uma forma mais branda caso disponham de equipamentos e profissionais de saúde em número suficiente. A medida ocorre após o ministério divulgar uma proposta de distanciamento social seletivo, focado em idosos e pessoas com doenças crônicas. Segundo a pasta, a medida vale apenas para locais onde os casos confirmados não tenham impactado mais de 50% da capacidade instalada.
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MÔNICA BERGAMO - *”Cloroquina pode ser prejudicial para pacientes com Covid-19, afirmam professores de Oxford e Birmingham”*: Um editorial publicado pelo The British Medical Journal, referência mundial em publicações científicas, afirma que o uso de cloroquina e hidroxicloroquina pode ser prematuro e potencialmente prejudicial para pacientes diagnosticados com Covid-19. "O amplo uso da hidroxicloroquina expõe alguns pacientes a danos raros, mas potencialmente fatais, incluindo reações adversas cutâneas graves, insuficiência hepática fulminante e arritmias ventriculares (principalmente quando prescritas com azitromicina)", afirma o artigo assinado pelo professor Robin Ferner, do Instituto de Ciências Clínicas da Universidade de Birmingham, e Jeffrey Aronson, do departamento de Ciências da Saúde da Universidade de Oxford, no Reino Unido. A publicação afirma que, apesar de protagonistas políticos como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, defenderem que não há riscos na administração das substâncias, nenhuma droga medicamentosa pode ser tida como segura. O texto ainda destaca que casos de overdose pela cloroquina podem ser de difícil tratamento. "Mesmo medicamentos inicialmente apoiados por evidências de eficácia podem, mais tarde, se provar mais prejudiciais do que benéficos", afirmam os acadêmicos. "Precisamos de melhores ensaios clínicos controlados, randomizados e com alimentação adequada de cloroquina ou hidroxicloroquina." Segundo o artigo, atualmente há, pelo menos, 80 estudos sobre a administração da cloroquina, da hidroxicloroquina ou de ambos em andamento em todo o mundo, às vezes em combinação com outros medicamentos. O uso da hidroxicloroquina virou um mantra de Jair Bolsonaro (sem partido). Sem citar dados de pesquisas, o presidente brasileiro defende o tratamento precoce com a droga. Em pronunciamento na quarta-feira (8), Bolsonaro disse que "após ouvir médicos, pesquisadores e chefes de estado de outros países, passei a divulgar, nos últimos quarenta dias a possibilidade do tratamento da doença desde a sua fase inicial". "Há pouco conversei com o doutor Roberto Kalil. Cumprimentei-o pela honestidade e compromisso com o Juramento de Hipócrates, ao assumir que não só usou a hidroxicloroquina, bem como a ministrou para dezenas de pacientes. Todos estão salvos", afirmou o presidente.
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*”Secretário de Educação Básica do MEC pede demissão”* - O secretário de Educação Básica do MEC (Ministério da Educação), Janio Macedo, pediu demissão do cargo por causa de desgastes na pasta comandada por Abraham Weintraub. Macedo passou a avisar interlocutores na manhã desta quinta-feira (9) sobre sua saída do governo, antes mesmo da confirmação oficial. A subpasta é responsável pelas políticas federais que vão da creche ao ensino médio. Questionado, o MEC anunciou nesta tarde que a consultora em educação Ilona Becskeházy assumirá o cargo. Ilona já estava próxima do governo e integra um grupo de especialistas envolvidos na nova política de alfabetização do ministério. Ilona é doutora em educação pela USP com estudo sobre as políticas de educação de Sobral (CE), município com resultados educacionais de destaque e para o qual Ilona prestou consultoria na elaboração de currículo. Assim como o ministro, a consultora tem presença constante nas redes sociais e nos últimos meses era, entre especialistas da área, uma das poucas vozes de apoio à gestão Jair Bolsonaro na educação. Dessa forma, ela passou a ser seguida e elogiada por entusiastas do escritor Olavo de Carvalho, guru ideológico do bolsonarismo. Sua indicação para compor o MEC era dada como certa por especialistas, integrantes do MEC e secretários de Educação. A educação básica é apontada como prioridade pelo governo Jair Bolsonaro. Secretários de Educação e especialistas viam Janio Macedo como uma fonte de diálogo dentro do MEC, em contraponto ao beligerante Weintraub.
Sua relação com o chefe, porém, desgastou-se sobretudo nos últimos dois meses, segundo relatos obtidos pela Folha. A falta de autonomia diante de um insistente crivo ideológico de Weintraub em praticamente todas as decisões foi fundamental para sua saída. Macedo apostava na construção de iniciativas em consenso com secretários de Educação, que concentram as matrículas. Uma das políticas em que insistia era o apoio à implementação da Base Nacional Comum Curricular junto às redes, tema desprezado pelo ministro por causa de questões ideológicas. Weintraub, por sua vez, criou atrito com os secretários ao insinuar que havia acordado com eles a opção de distribuir nas escolas alimentos da merenda para alunos pobres durante a pandemia de coronavírus, o que diverge da proposta dos dirigentes estaduais. A nova secretária de Educação Básica já criticou as entidades que representam os secretários de Educação. No dia 12 de março, por exemplo, Ilona escreveu que elas têm agendas políticas e as ONGs, alvo de ataques do governo Bolsonaro, trabalham para cooptá-las.
"Dirigentes de entidades como Consed e Undime [que agregam dirigentes de Educação] tb [sic] têm agendas próprias, alguns são deputados, ou ligados a chefes do executivo de partidos que fazem oposição ao Governo Federal. Além disso, ONGs vêm usando a cooptação sistemática deles, desde que o MEC abdicou das políticas de indução. É uma cooptação limpinha, institucional: viagens, destaques em mesas e eventos, passeios em geral, possibilidade de virarem consultores, etc. Não quer dizer absolutamente nada que haja oposição institucional verbalizada por esses líderes", escreveu ela, numa série de mensagens que partiu de um editorial jornalístico crítico à gestão do MEC. Funcionário aposentado do Banco do Brasil, onde trabalhou por 34 anos, Macedo já ocupou cargos na área de economia. Antes de chegar ao MEC, era secretário-adjunto de gestão e desempenho de pessoal, área ligada à Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital. Assumiu a Secretaria de Educação Básica com a chegada de Weintraub ao MEC. Essa é a segunda baixa no alto escalão do ministério neste ano. Arnaldo Lima, que também havia entrado no MEC com Weintraub, pediu demissão da secretaria de Educação Superior no fim de janeiro após desentendimentos com o ministro. Weintraub completou um ano à frente do MEC na quarta-feira (8). Sob sua gestão, houve trocas em praticamente todos os órgãos importantes ligados à pasta. Além dessas duas secretarias, alterações ocorreram no comando do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas), FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) e Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). A Folha procurou Janio Macedo, mas até a publicação deste texto não obteve resposta.
MÔNICA BERGAMO - *”Ventilador da Poli será testado em animais e pessoas e pode ser lançado em uma semana”*
 
CAPA – Manchete principal: *”Circulação de pessoas cresce, e autoridades planejam novas medidas”*
EDITORIAL DO GLOBO - *”Demissões que poderiam ser evitadas”*: Acrise do coronavírus está expondo não apenas a dificuldade que o cipoal de leis e o excesso de normas causam para a administração pública em momentos críticos, mas também os malefícios da cultura arraigadaem instituições que entendem ser o poder intervencionista do Estado o único instrumento de defesa dos mais fracos. Nos dois casos, a prejudicada é a população menos favorecida, supostamente aquela protegida por bem intencionados legisladores e agentes públicos diligentes e sempre atentos na defesa do povo. Agrande operação conduzida pela Caixa Econômica para que milhões de trabalhadores informais, parte deles inexistente nos arquivos governamentais, se inscrevam na CEF por meio de celular, computador ou telefone, para receber três parcelas de R$ 600, tem mostrado oque acontece quando o Estado brasileiro desce do pedestal evai às ruas para ajudar o pobre. As dificuldades são gigantescas, porque soluções mais simples para essas pessoas receberem o dinheiro não podem ser aplicadas, por contrariarem algum dispositivo de umadas milhares de leis existentes, incluindo uma Constituição detalhista.
Leis são feitas, por suposto, com boas intenções. Um exemplo desta cultura acaba de ser dado pelo ministro do Supremo Ricardo Lewandowski, ao conceder liminar apedido do partido Rede contra a Medida Provisória 936, baixada no conjunto de ações para conter os efeitos devastadores da crise do coronavírus na economia. Em um momento de grande emergência, tanto que o Executivo pediu e o Congresso aprovou a decretação de estado de calamidade, aMP, de1º de abril, estabeleceu que empregados e empregadores podem fazer acordos diretos para a manutenção do emprego mediante o corte do salário e da redução proporcional da jornada de trabalho. Este espaço aberto para a manutenção de empregos foi fechado pela decisão monocrática de Lewandowski, que condiciona o entendimento entre as partes à consulta ao sindicato do funcionário. Perde-se muito tempo no início de uma crise de dimensões históricas, que deverá ampliar bastante o contingente de 12,3 milhões de desempregados, conforme pesquisa do IBGE referente ao trimestre de dezembro a fevereiro. Sem a liminar, com a MP em vigor pleno, já haveria riscos de uma elevação preocupante do desemprego. Agora, criada esta insegurança jurídica, empresas já devem ter começado a cortar os quadros, pois a redução do ritmo de funcionamento da economia começou há vários dias. Confirmado o julgamento pelo plenário na quinta-feira da semana que vem, 16 — poderia ter sido antecipado —, terá passado meio mês da edição da MP, período em que se consolidaram estimativas de recessão no mundo que lembram os desastres econômicos ocorridos na Grande Depressão de 1929/30. Este é o pano de fundo dos dias atuais para todos, sem exceção de legisladores e juízes.
*”Menos isolados – Voltas às ruas preocupa, e medidas serão mais duras”*
*”Metrópoles têm aumento na circulação de carros”*
*”Mais atividades essenciais – Governo aumentará lista de serviços”* - Ogoverno prepara uma medida para aumentar alista de atividades classificadas como essenciais, ou seja, que não podem ser interrompidas por ações contra o novo coronavírus. A ampliação deve ser feita por meio de uma resolução do comitê de crise que monitora as ações contra a Covid-19. O GLOBO obteve a minuta da proposta. A resolução está pronta, mas ainda não foi publicada pelo governo. O decreto do presidente Jair Bolsonaro que estabeleceu a primeira relação de serviços essenciais, de 20 de março, transfere ao comitê de crise a competência para decidir sobre o tema. Ao todo, a proposta da resolução, que ainda precisa ser assinada pelo chefe do comitê, o ministro da Casa Civil, Braga Netto, cita 16 atividades como essenciais. O texto recebeu parecer favorável da Subchefia de Assunto Jurídicos (SAJ), vinculada à Secretaria-Geral. Diversos ministérios pediram a inclusão de atividades na lista de atividades essenciais. A resolução em análise enumera, por exemplo, serviços cartoriais e de tabelionato. Cita ainda atividades de comércio de bens e serviços destinadas a assegurar o transporte e as atividades logísticas de carga, com o objetivo de atender caminhoneiros.
Também seria essencial, pela proposta, serviços de transporte, armazenamento, entrega e logística de cargas em geral. Assim como locação de veículos e a produção, distribuição, comercialização, manutenção, reposição, assistência técnica, monitoramento e inspeção de equipamentos de infraestrutura, instalações, máquinas e equipamentos em geral. Outra atividade essencial seria o serviço de comercialização, reparo e manutenção de peças. Também entra nessa lista atividades do seguro-desemprego e relacionadas a produtos de limpeza. Serviços de substâncias tóxicas, químicas, biocombustíveis e mineração estão citadas. Há ainda comércio eletrônico; atividades cujo processo produtivo não possa ser interrompido (como produção do alumínio); produtos para enfrentamento da Covid-19; e serviços de radiodifusão de sons e imagens. O governo chegou a cogitar a inclusão do transporte municipal na lista de atividades essenciais. Mas o parecer da SAJ tirou essa medida da resolução: “Não se nega a essencialidade do transporte coletivo municipal(...) Por outro lado, é de se reconhecer que não cabe à União, por meio do Comitê de Crise para a Supervisão e Monitoramento dos Impactos da Covid-19, dispor sobre (...) o transporte cuja competência constitucional foi atribuída aos municípios”.
*”Covid-19 supera outras doenças – Vírus mata mais que dengue, sarampo e H1N1 somadas em 2020”* - A Covid-19 fez mais vítimas fatais no Brasil em 44 dias do que dengue, H1N1, sarampo, chicungunha e zika somadas ao longo deste ano. Segundo o último boletim do Ministério de Saúde, divulgado ontem ,941 pessoas morreram desde 26 de fevereiro em decorrência da doença causada pelo novo coronavírus, que já foi comparada a uma “gripezinha” pelo presidente Jair Bolsonaro. Em 2020, até 28 de março, adengue, endêmica no Brasil, provocou 148 mortes. Em período semelhante, o H1N1, vírus que causa um dos tipos de gripe, vitimou 13 pessoas; o sarampo, 4; a chicungunha, 3; a zika, nenhuma (ver quadro ao lado). Para Guilherme Werneck, epidemiologista e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), “a situação vai piorar muito, antes de melhorar”, devido à simultaneidade de surtos.
— O pico dos casos de Covid-19 vai ocorrer quando tivermos o aumento dos casos de H1N1, doença para a qual temos vacina. A imunização, no entanto, não é 100% eficaz. Para agravar, temos o casos de dengue. Ela não é uma doença que exige UTI, mas há chance de que um grande número de pessoas desenvolva a forma grave da doença—diz Werneck, apontando o isolamento social daqueles que podem ficarem casa como única forma de amenizara sobrecarga do sistema de saúde. — O mais importante agora é que todos não adoeçam ao mesmo tempo. Precisamos equipa remontaras estruturas para atendera todos os casos graves.
SURTO DE DENGUE
De acordo com o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, neste ano, o total de casos de dengue no país até agora é de 484.249, número 15% superior ao mesmo intervalo de 2019. O aumento, ainda que relativamente baixo, é preocupante quando se leva em conta que a curva de crescimento do vírus vem aumentando: em 2019, foram 1.544.987 casos de dengue no país, 488% a mais que em 2018. Os dados acenderam o alerta em pesquisadores e autoridades sanitárias, que já enfrentam a luta contra a Covid-19. Um estudo assinado por especialistas da Universidade Harvard, nos EUA, e pelo secretário nacional de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson Oliveira, projeta falta de leitos e equipamentos no país já em abril. Em 2019, o pico de hospitalizações por dengue e a gripe ocorreu justamente entre março e maio. Diante desse cenário, o infectologista Edimilson Migowski, professor da UFRJ, reforça a importância da vacinação contra a gripe e o combate aos focos do mosquito Aedes aegypti (transmissor da dengue). Ele ressalta que não há relatos de casos de coinfecção (contrair dengue e Covid-19 ao mesmo tempo) e explica ainda que a necessidade para dengue é bem diferente da nova epidemia:
—Para dengue, não é preciso isolamento, e nem os profissionais precisam de equipamentos de proteção individual (EPI). Além disso, não causa doença respiratória, principal agravante da Covid-19, o que exige equipamentos eleitos de UTI.
O aumento do número de casos de dengue em 2020 pode ser explicado porque, no fim de 2018, o sorotipo 2 do vírus voltou a circular após dez ano sevem encontrando populações suscetíveis à doença. Desde o dia 14 de fevereiro, o Paraná está em estado de alerta por causa da dengue. São 87,9 mil casos, além de 69 mortes confirmadas. Segundo a Secretaria de Saúde, em 2019, na quarta semana do mês de março, eram 2.023 casos confirmados da doença — no comparativo, uma explosão de 4.245%. São 177 cidades paranaenses em situação de epidemia, o que representa quase metade dos municípios do estado. Por isso, o secretário de Saúde do Paraná, Beto Preto, diz que “estamos atentos ao coronavírus, mas não podemos esquecer da dengue” .
RJ: AUMENTO DO SARAMPO
A Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro preparou, no fim do ano passado, um plano de contingência para uma epidemia de dengue tipo 2. As medidas previam aumento da estrutura de atendimento, compra de veículos, equipamentos e insumos para vigilância nos municípios, campanha de conscientização sobre os riscos da doença, além de capacitação de profissionais de saúde. O plano, claro, está sendo adaptado depois da Covid-19. No estado, o aumento do número de casos de sarampo também é motivo de alerta. De janeiro a março deste ano, foram registrados 501 casos, enquanto, no ano passado, foram apenas dois. O sarampo é uma doença para a qual há imunização. No entanto, apesar das campanhas, o Estado do Rio não conseguiu vacinar todo o público-alvo. Segundo a Secretaria de Saúde, cerca de 1,4 milhão de pessoas foram imunizadas. A meta é de 3 milhões.
*”Sabotagem viral – Covid engana imunidade como dengue, diz estudo”*
*”Mais de 30 petroleiros têm o vírus em plataforma”*
*”Menos de 1 milhão – Governo recebeu apenas 4% dos testes que comprou”* - O Ministério da Saúde informou ontem que só foram entregues 904.872 para Covid-19 até quarta-feira — 4% do total da meta anunciada pela pasta, que é de chegar a 22,9 milhões de exames. A demora no recebimento não é o único problema: pouco menos de 63 mil exames para coronavírus foram aplicados até agora, ou seja, 7% do total que o país tem disponível. As perspectivas futuras não são muito melhores: segundo o boletim do ministério, apenas em julho, o volume acumulado recebido chegará a 9,1 milhões, ou cerca de 40% do montante previsto. A pasta ainda alerta que isso dependerá da “disponibilidade de insumos no mercado internacional”. Não há indicação de quando chegaria o restante. Dos 904.872 testes recebidos, 500 mil são do tipo rápido, menos precisos na detecção da Covid-19 porque identificam o anticorpo criado após dias de infecção. Eles foram doados pela empresa Vale e são prioritários para profissionais de saúde e de segurança. A outra parte é de testes RTPCR, considerados mais precisos porque identificam a presença do vírus no organismo. São 104.872 vindos da Fundação Oswaldo Cruz e Biomanguinhos, de um total de 3,5 milhões encomendados, segundo a pasta. E outros 300 mil de uma doação da Petrobras, de um total de 600 mil. Os testes RT-P CR são usados na estratégia brasileira para diagnosticar casos graves de internados e casos leves em unidades sentinela do SUS, que monitoram a circulação de vírus respiratórios, coletando amostras até de pacientes com sintomas leves. O balanço mostra, portanto, que a pasta está longe da promessa de ter 5,6 milhões de testes até 30 de março. O anúncio foi feito em meados de março, quando o governo disse que incrementaria os testes até 22,9 milhões de unidades. Em coletiva de imprensa ontem, Wanderson Oliveira, secretário de Vigilância em Saúde do ministério, afirmou que os esforços continuam.
— Estamos buscando adquirir mais testes para complementar aqueles 22,9 milhões com que nos comprometemos lá no início. Todo esse trabalho está sendo feito com parceiros públicos e privados —disse.
PASSIVO DE INVESTIGAÇÃO
Oliveira informou também que há um passivo de 127 mil notificações para fazer investigação de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) no país. A SRAG engloba vários vírus, além do novo corona. Segundo ele, uma remessa de 320 mil testes está sendo entregue ao Ministério da Saúde e repassada aos estados, o que será suficiente para as próximas duas semanas. Por isso, o secretário pediu que os gestores usem apenas para os casos prioritários.
— Não é para testar casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave que não estejam internados ou que não sejam por meio de vigilância sentinela. Isso porque, se acabar o teste, nós não temos com suprir imediatamente —destacou.
Ele também afirmou que no Brasil já foram feitos neste ano, até terça-feira, 153.961 testes para investigar síndromes respiratórias graves, sendo 26.413 (17%) para influenza, 64.563 (42%) para outros vírus e 62.985 (41%) para SarsCoV-2. Ao menos 13.717 deram positivo para Covid-19. A diferença entre o número de testes já feitos (153,9 mil) e o total que a Saúde diz já ter comprado (cerca de 900 mil) tem algumas causas. Há, por exemplo, entraves nos registros de exames realizados, que acarretam atraso na contabilização por parte do ministério. Por outro lado, parte dos testes ainda não foi distribuída ou, se já chegou ao destino, não entrou em uso. É o caso dos 500 mil testes rápidos que o ministério mandou aos estados, mas pediu que aguardassem a validação do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS), que só saiu na última terça.
‘MUITO MAIS QUE A COREIA’
O secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo, disse que a pasta tem conseguido avançar muito, em detrimento de críticas. Ele fez uma comparação com a Coreia do Sul, apontada como exemplo de testagem em massa, que havia examinado 477 mil pessoas até ontem — para cada milhão de habitantes, 9.310 foram testados. Ele relativizou a diferença populacional entre os países:
— Sim, é um quarto da nossa população. Mas vamos fazer muito mais de quatro vezes o que a Coreia do Sul fez. A questão do teste é extremamente complexa. O que o ministério tem conseguido, em comparação aos demais países, é motivo de satisfação.
*”Brasil é o país que menos testa entre mais atingidos pela covid-19”* - A dependência extrema de insumos importados explica a precária situação do Brasil na testagem para o novo coronavírus. Mesmo só examinando doentes graves, mortos, profissionais de saúde —e com reconhecida subnotificação —, o país já é o 14º do mundo em casos e o que menos testa entre os 15 países mais atingidos. O déficit de testes do Brasil em comparação a outros países é abissal. O país faz 296 testes por milhão de habitantes. O Irã, o segundo que menos testa entre os mais afetados, faz 2.755 por milhão. Os EUA, 7.101 por milhão. A Alemanha, um dos países com menor taxa de mortalidade, testou 1.317.887 pessoas —15.730 por milhão. Os testes e os insumos são produzidos na China, Índia, EUA e países europeus. Acossados pela pandemia, todos usam o que produzem e, no caso da China, a maior produtora, exporta a quem paga mais e mais depressa.
— Todos os países do mundo querem a mesma coisa ao mesmo tempo —, disse ao “New York Times” Doris-Ann Williams, CEO da In Vitro Diagnostics Association, que representa grandes fabricantes e distribuidores de testes.
O professor de virologia da UFRJ Amilcar Tanuri, coordenador do Laboratório de Virologia Molecular da universidade, diz que o Brasil está sob a tempestade perfeita: sofre com falta de infraestrutura para produzir testes, é refém da importação em um mercado sob demanda extrema e pena com a falta de ação do governo federal para resolver o problema.
— O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, fez tudo o que podia. Mas falta apoio e uma ação mais incisiva do governo — diz.
Pesquisadores veem uma ameaça à nossa soberania:
— Esse é o preço que pagamos por jamais termos investido em pesquisa e na indústria de biotecnologia. Agora, temos uma extrema dependência do exterior, uma ameaça gravíssima à nossa soberania —afirma Roger Chammas, da Rede USP para Diagnóstico da Covid-19 (Rudic).
Chammas, cujas pesquisas são apoiadas pela Fapesp, diz que a previsão é que a Rudic faça 1.500 testes moleculares diários. Hoje, faz 200 por dia. Não é por falta de capacidade técnica: é falta de insumos. A Rudic integra a plataforma de testes do governo do estado de São Paulo, coordenada pelo Instituto Butantã, que prevê realizar 8.000 testes por dia, mas está à espera da chegada de reagentes.
TODOS À ESPERA
No Rio, a situação não é diferente. O estado aguarda os testes rápidos que não foram entregues. E os laboratórios que fazem o exame molecular, como o da UFRJ, estão aquém da produção devido à falta de insumos. Os testes rápidos de anticorpos chegam em número menor do que o esperado e ainda não têm validação. Dezessete testes moleculares e de anticorpos já receberam autorização da Anvisa, mas não há ainda a garantia de qualidade. A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica, a Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial, a Sociedade Brasileira de Análises Clínicas e a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial criaram uma força-tarefa para validar esses testes e esperam publicar os resultados até o fim do mês.
— Há testes de baixa qualidade, e mesmo os bons podem oferecer resultados negativos falsos, o que gera insegurança. Por isso, não podem ser aplicados por qualquer pessoa. Só os testes validados devem ser usados —, afirma Priscila Franklin Martins, diretora da Abramed.
*”Isolados na laje – Drama da covid-19 une Paraisópolis e Rocinha”* - De um lado, a Rocinha, no Rio, com cerca de 230 mil moradores (no cálculo da associação local) que se espremem em vielas de alta taxa de doenças infecciosas, como a tuberculose. Do outro, Paraisópolis, em São Paulo, com aproximadamente cem mil pessoas, considerada a maior comunidade do estado em área ocupada. Em comum, o mesmo problema: o coronavírus. Enquanto na favela da Zona Sul carioca, localizada entre São Conrado e o Leblon, a prefeitura começa afaze ruma lavagem de ruas para desinfecção, no gigantesco loteamento paulistano a população cria suas próprias dinâmicas para li darcom situações como ade uma família de 20 pessoas, das quais duas, com sintomas da Covid-19, foram alojadas numa laje para reduzir os riscos de contaminação. Com desconforto no peito e dificuldade para respirar, o cuidador de idosos Marcus dos Santos, de 22 anos, morador de Paraisópolis, procurou uma unidade de saúde em março. Asmático, ele está no grupo de risco. Não havia teste disponível, mas o médico o tratou como caso suspeito de coronavírus: receitou medicação, pediu seu afastamento do trabalho e determinou uma quarentena. Marcus divide a casa com 19 parentes.
— Foi um desespero grande. Pensei: como conseguir ficar isolado numa casa com tanta gente? Temos visto como esse vírus é avassalador. Imagine levá-lo para o ambiente onde vive meu pai, de 93 anos, e minha mãe, de 64 — conta Marcus.
A família adotou regras militares. Marcuse um primo, que também apresentava sintomas, foram isolados num quartinho improvisado na laje da casa, com vista para a comunidade. Um irmão mais novo, que não é parte do grupo de risco, ficou escala dopar afazer as compras. Na ausência dele, dois primos eramos suplentes. As duas primas responsáveis por cozinhar elevar a comida aos mais velhos da família foram proibidas deter contato com o exterior e não podiam sequer cruzar, dentro da residência, com quem esteve na rua. Outros ficaram encarregados de distrair os idosos com bate-papo, música e dominó.
—Aos poucos, fomos nos estruturando da maneira que dava —diz Marcus.
O sobrado onde vive a família de Marcus é de alvenaria, subdividido em quatro pequenas unidades residenciais, com um total de 17 cômodos. A família é de imigrantes nordestinos que chegaram a São Paulo aos poucos, saídos do Maranhão e de Pernambuco. Quando um conseguiu comprar um terreno, todos foram se juntando para construir suas unidades. A entrada principal e todos os cômodos da residência ganharam álcool em gel. No grupo de WhatsApp da família, eles discutiam o que funcionava e o que precisava melhorar. Para se comunicar com os parentes, Marcus precisou, durante 16 dias, gritar ou mandar mensagens de celular. A comida era entregue no acesso à laje. Pratos, talheres, copos e xícaras usados por ele foram separados.
VOLUNTÁRIOS AJUDAM
Numa manhã, ainda durante a quarentena, ele quebrou as regras e desceu para comprar pão no mercadinho vizinho, com máscara e cuidado para não tocarem nada. Mesmo assim, não foi poupado da comunidade: uma foto dele foi parar no Facebook e repassada por mensagens de celular com a legenda “ele é um dos cinco contaminados (àquela altura, o número de possíveis infectados em Paraisópolis). Ele, que trancou a faculdade de enfermagem e sonha ser médico, só resolveu a crise ao postar um vídeo se explicando nas redes sociais. O período de isolamento acabou, e ninguém da família adoeceu. Lideranças das maiores comunidades do Brasil decidiram não esperar por medidas do poder público e se organizaram com o apoio do G10 das Favelas, bloco que reúne ativistas, moradores e empreendedores. Eles planejam ações de conscientização sobre a Covid-19 e se mobilizam para garantir atendimento médico aos moradores. Foram criados comitês, que nomeiam voluntários, chamados de “presidentes de rua”. Morador de Paraisópolis e coordenador nacional do G10, Gilson Rodrigues diz que a localidade nomeou 420 voluntários, cada um responsável por 50 casas. Eles vão entregar doações e mantimentos para as famílias mais vulneráveis. A ideia é alcançar 21 mil domicílios. Há duas semanas, com a ajuda dos moradores, conseguiram uma equipe fixa em Paraisópolis com dois médicos, dois enfermeiros e três socorristas.
— Estamos montando aqui uma estrutura de guerra, porque entendemos que estamos sendo abandonados à própria sorte —diz Gilson.
Integrante do G10, a Rocinha está na mesma sintonia, buscando driblar as dificuldades com mobilização e militância. Diante das críticas da associação comunitária União Pró-Melhoramentos sobre a qualidade dos serviços públicos para conter a pandemia na favela, a Comlurb passou a usar, ontem, detergente para lavar ruas da favela. A desinfecção começou pela Estrada da Gávea e pelo Largo do Boiadeiro. Praças e pontos de ônibus serão limpos. Segundo a Comlurb, outras 18 comunidades já foram higienizadas com água, detergente e desinfetante. Em todo o município, 400 garis, com 20 caminhões-pipas, nove vans adaptadas e mais de cem pulverizadores, participam desse trabalho.
 
 
 
CAPA – Manchete principal: *”SP tem 30 mil testes do novo coronavírus à espera de resultado”*
EDITORIAL DO ESTADÃO - *”Voluntarismos fora da lei”*: Sob a justificativa de colaborar para o enfrentamento da pandemia do novo coronavírus, juízes vêm alterando o uso de recursos públicos, o que foge completamente de sua alçada. A contribuição do Poder Judiciário neste momento tão delicado do País consiste em aplicar a lei. Determinar a destinação de dinheiro público é competência do Legislativo e do Executivo. Além de adentrar no campo do arbítrio, voluntarismos fora da lei produzem desorganização e ineficiência no Estado. Não é assim que o País vencerá o enorme desafio da covid-19. Na terça-feira passada, o juiz da 4.ª Vara Federal Cível de Brasília Itagiba Catta Preta Neto determinou o bloqueio dos recursos do Fundo Eleitoral e do Fundo Partidário, colocando-os à disposição do governo federal para uso “em favor de campanhas para o combate à pandemia ou amenizar suas consequências econômicas”. Os recursos somam quase R$ 3 bilhões.
Não deveria existir o Fundo Partidário e tampouco o Fundo Eleitoral. Sendo entidades privadas, os partidos devem ser sustentados com recursos privados, oriundos de seus apoiadores. Mas o fato é que a lei criou tal deformidade – destinando dinheiro público a partidos políticos – e um juiz não pode dispor sobre a utilização desses recursos, o que já foi feito pelo Congresso, alegando que dos “sacrifícios que se exigem de toda a Nação não podem ser poupados apenas alguns, justamente os mais poderosos, que controlam, inclusive, o orçamento da União”. Em recurso interposto pela Advocacia-Geral da União (AGU) contra a decisão da 4.ª Vara Federal Cível de Brasília, o presidente do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1.ª Região, Carlos Moreira Alves, suspendeu no dia seguinte a liminar, por entender, entre outras razões, que o bloqueio pela Justiça dos fundos “interfere em atos de gestão e de execução do orçamento público, da mesma forma como interfere no exercício de competências constitucionalmente outorgadas a autoridades dos Poderes Executivo e Legislativo”. Outra frequente interferência do Poder Judiciário em seara que não lhe compete referese a recursos devolvidos aos cofres públicos por meio de acordos judiciais com empresas e delatores. Segundo o Estado apurou, a Justiça já destinou à área da saúde cerca de R$ 2,5 bilhões relacionados a ilícitos. Além de não ser atribuição do Judiciário realizar a gestão desses valores, muitos desses casos não envolvem recursos públicos, e sim dinheiro privado que, mesmo depois da descoberta da manobra ilícita, não é restituído ao verdadeiro dono.
No mês passado, por exemplo, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou que parte dos recursos oriundos do acordo da Petrobrás com autoridades dos EUA, cerca de R$ 1,6 bilhão, fosse aplicada no combate à covid-19. Trata-se do terceiro destino dado a tais valores. Originalmente, os recursos seriam usados para constituir um fundo anticorrupção, a ser gerido pelo Ministério Público. Diante do escândalo da medida, o Supremo destinou os valores para a educação e a proteção da Amazônia. Agora, parte do montante vai para o combate da covid-19. É preciso advertir que esses “recursos recuperados pela Lava Jato”, aos quais a Justiça dá a cada momento um determinado destino, não são dinheiro público. No caso, são valores subtraídos da Petrobrás, uma sociedade de economia mista. Seus recursos são, portanto, de seus acionistas. A União é a maior acionista, mas há outros milhares de acionistas privados, cerca de 400 mil, que detêm grande parcela do capital acionário. Há também decisões em que o Judiciário atua como se fosse o Executivo. Na Paraíba, a Justiça decidiu que R$ 3,8 milhões recuperados na Operação Calvário fossem usados para comprar 15 respiradores pulmonares. Em Mato Grosso, decisão judicial destinou R$ 566 mil recuperados na Operação Ararath ao Hospital Universitário Júlio Muller. Por mais nobre que seja a finalidade, não há bom uso do dinheiro público fora da lei. O estado de calamidade pública não amplia nenhuma competência da Justiça. Determinar o destino de recurso público continua sendo atribuição do agente político eleito, como dispõe o regime democrático.
*”Governo libera só 1,5% das emendas para covid-19”* - O governo do presidente Jair Bolsonaro ainda não conseguiu cumprir a promessa de liberar emendas parlamentares para o combate à pandemia do novo coronavírus. Dos R$ 8 bilhões anunciados pelo presidente há 20 dias, apenas R$ 1,47 bilhão (18%) tem alguma destinação prevista e só R$ 119 milhões (1,5%) saíram efetivamente dos cofres públicos até agora. Na ocasião, a Secretaria de Governo da Presidência da República, órgão responsável por organizar estes pagamentos, informou que toda a quantia estaria disponível até o fim de março. Agora, a justificativa apontada pelo Palácio do Planalto é a burocracia. Enquanto isso, prefeitos aguardam o dinheiro para comprar equipamentos e insumos médicos. As emendas parlamentares são indicações feitas por deputados e senadores de como o governo deve gastar parte dos recursos previstos no Orçamento. Incluem desde dinheiro para obras de infraestrutura, como a construção de uma ponte, até valores destinados a programas de saúde e educação. Os parlamentares costumam privilegiar seus redutos eleitorais. O cronograma destes pagamentos, no entanto, depende do governo federal. Com a crise da covid-19, Bolsonaro fez um acordo com o Congresso para priorizar as transferências vinculadas ao Ministério da Saúde e direcionar o montante diretamente para o combate à doença. O acordo foi anunciado pelo presidente no dia 20 de março, durante videoconferência com empresários.
Além disso, o Planalto abriu a possibilidade de os parlamentares mudarem suas indicações – feitas no ano passado, antes da crise – e destinar mais recursos para o enfrentamento do coronavírus. Neste ano, cada deputado ou senador apresentou R$ 15,9 milhões em emendas, sendo necessariamente 50% para a saúde. Em nota no mesmo dia em que Bolsonaro fez o anúncio, a Secretaria de Governo disse que anteciparia a utilização dos recursos. “Até o fim do mês de março estarão disponíveis cerca de R$ 8 bilhões para o setor da saúde. Estes recursos são oriundos de emendas parlamentares impositivas, tanto individuais quanto de bancada”, disse a secretaria na ocasião. Sete dias depois, ao Estadão/Broadcast, a pasta afirmou que todos os esforços estavam sendo feitos para que as emendas fossem executadas até o dia 31. Segundo informações disponíveis no Siga Brasil, sistema do Senado para acompanhar a execução do Orçamento, dos R$ 7,42 bilhões em emendas previstos para a saúde, o governo conseguiu empenhar R$ 1,47 bilhão até a terça-feira passada – dado mais atualizado. O empenho é o primeiro estágio para o pagamento, uma espécie de reserva do valor no orçamento. Questionada pelo Estado sobre o fato de a maior parte do valor não ter sido sequer empenhada até agora, a Secretaria de Governo informou que trabalha com os ministérios da Saúde e da Economia “com o objetivo de concretizar as alterações das emendas, visando o remanejamento de recursos para o enfrentamento à covid-19”.
Nos bastidores do Congresso, porém, houve resistência entre parlamentares para alterar suas emendas indicadas para outras áreas e que poderiam aumentar o “corona money”, como classificou o ministro da Economia, Paulo Guedes. Os congressistas não querem abrir mão de recursos garantidos no Orçamento para obras nos Estados e municípios em ano eleitoral – um ativo importante para candidatos a prefeitos neste ano. O que os parlamentares querem é “dinheiro novo” na crise.
Dos R$ 119 milhões em emendas pagas até agora, a maior quantia foi para o Maranhão, que recebeu R$ 20 milhões. A cidade de Estreito (MA), com cerca de 40 mil habitantes, teve R$ 2 milhões destinados pelo deputado Júnior Marreca (Patriota-MA) liberados para pagar despesas correntes das unidades de saúde. O prefeito de Alta Araguaia (MT), Gustavo Melo (PSB), recebeu R$ 1 milhão de uma emenda do deputado Juarez Costa (MDB-MT) para gastos com procedimentos de alta e média complexidade na cidade. Ele afirmou, no entanto, que ainda aguarda a liberação de outra emenda, de R$ 400 mil, para compra de um novo equipamento de raio-X para o Hospital Municipal Deputado Cacildo Hugueney. O atual possui mais de 40 anos. O aparelho é usado para realizar exames para identificar complicações respiratórias causadas pelo coronavírus.
*”’Não tem nada enrolado’, diz líder”* - Em nota, o Ministério da Saúde informou que para o ano de 2020 estão previstos R$ 8,4 bilhões em recursos de emendas parlamentares (incluindo as de relator). A pasta afirmou que os recursos são liberados mediante apresentação de propostas pelos municípios. Até o momento, foram aprovados R$ 4,6 bilhões para custeio de unidades de saúde, aquisição de equipamentos e obras de investimentos em serviços de saúde. De acordo com o órgão, outros R$ 2 bilhões estão previstos para serem liberados na próxima semana. O líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), observou que outras transferências atendem os municípios, não necessariamente ligadas a emendas parlamentares. “Não tem nada enrolado. O governo já liberou dinheiro para os municípios”.
*”Bolsonaro afirma que vai recorrer de decisão de Moraes”* - O presidente Jair Bolsonaro disse ontem que o governo vai recorrer da decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes que confirmou que Estados e municípios têm autonomia para adotar medidas de isolamento social. No fim da tarde, Bolsonaro esteve em uma padaria em Brasília. A presença do presidente gerou aglomeração e críticas.
*”Generais citam ‘união’ após ataques nas redes”* - Os generais influentes do Palácio do Planalto reagiram às especulações de que pretendem formar uma Junta Militar para limitar o presidente Jair Bolsonaro ao papel de “Rainha da Inglaterra” – no dicionário da política, uma figura sem poder de fato. No Palácio, o que mais se ouviu nesta semana foi o mantra de que “a tropa está unida” e “trabalhando pelo governo”. Em mensagens no Twitter na quarta-feira, o vice-presidente Hamilton Mourão e o ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, elevaram o tom. “Aos aventureiros de muitos costados que nesta hora de dificuldades pretendem inviabilizar o @govbr lembro que sou o Vice do Presidente @jairbolsonaro e que os paraquedistas andam sempre no mesmo passo”, publicou Mourão na quarta-feira passada. Horas depois, foi a vez do general Ramos. “Só lembrando também que existem mais paraquedistas ao lado do nosso Pres. Bolsonaro”, escreveu no Twitter. Ele citou os ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Fernando Azevedo e Silva (Defesa) e o presidente dos Correios, Floriano Peixoto. “Paraquedistas são como águias, aves da mesma plumagem que voam juntas e enfrentam qualquer desafio! Vamos vencer o Covid-19.”
As insinuações sobre a formação de uma Junta Militar foram feitas no final da semana passada, nas redes sociais, pela ala ideológica do governo, que tem como maior expoente o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente. Os ataques aos generais, recorrentes desde o início do governo, reiniciaram no dia 2 de abril. O primeiro alvo foi Mourão, que, presidente do Conselho da Amazônia, se reuniu com governadores da região. No dia seguinte, foi bombardeado pela militância após o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), dizer que, se Bolsonaro entregar o governo para ele, o Brasil chegará em 2022 em melhores condições. Foi o suficiente para Carlos perguntar no Twitter o que levava o vice a se reunir “com o maior opositor socialista do governo”. Mourão ficou calado. Em seguida, Braga Netto passou a ser chamado de “interventor” nas redes, depois que Bolsonaro recuou da decisão de demitir o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, aceitando conselhos justamente dos militares. A decisão realimentou a fúria da militância bolsonarista contra a “Junta Militar”. Neste momento, no entanto, os generais avaliam que não é hora de aumentar as turbulências no Palácio e no País.
*”STJ afasta desembargador Siro Darlan por 180 dias”*
*”Demanda de ricos deixa países pobres sem máscaras e equipamentos médicos”* - Caixas de máscaras arrancadas de aviões de carga no aeroporto. Países que pagam o triplo do preço de mercado para vencer o leilão de respiradores. Acusações de “pirataria moderna” contra governos que tentam garantir suprimentos. Enquanto EUA e Europa competem entre si para adquirir material escasso para combater o coronavírus, países pobres ficam de mãos abanando na guerra por equipamentos médicos. Governos da África e da América Latina já foram informados pelos fabricantes de que os pedidos de kits de testes para covid-19 não poderão ser entregues nos próximos meses, pois quase tudo está indo para EUA e Europa. O mundo inteiro reclama do aumento de preços dos equipamentos de proteção. A enorme demanda global por máscaras e novas distorções no mercado forçaram alguns países em desenvolvimento a procurar ajuda da Unicef. Etleva Kadilli, que supervisiona os suprimentos na agência da ONU, disse que estava tentando comprar 240 milhões de máscaras para 100 países, mas até agora conseguiu só 28 milhões. “Há uma guerra nos bastidores e estamos preocupados com os países pobres”, disse a Catharina Boehme, diretora da Fundação para Novos Diagnósticos Inovadores, que colabora com a Organização Mundial da Saúde para ajudar os mais pobres a ter acesso a exames médicos.
Na África, América Latina e partes da Ásia, muitos países já estão em desvantagem, com sistemas de saúde sucateados e carentes de equipamentos. Um estudo recente apontou que alguns países periféricos têm apenas uma cama de UTI por 1 milhão de habitantes. Até agora, o mundo em desenvolvimento registrou menos casos e mortes por covid-19, mas especialistas temem que a pandemia possa ser devastadora para os mais pobres. O teste é a primeira defesa contra o vírus e uma ferramenta importante para impedir que muitos pacientes sejam internados. A maioria dos fabricantes quer ajudar, mas o setor que produz testes e reagentes está lidando com uma enorme demanda. “Nunca houve falta de reagentes até agora”, disse Doris-Ann Williams, executiva da Associação Britânica de Diagnóstico In Vitro, que representa produtores e distribuidores dos testes de laboratório para detectar a covid-19. “Se fosse apenas um país com epidemia, tudo bem, mas todos querem a mesma coisa ao mesmo tempo.” Segundo Boehme, os governos estão chamando pessoalmente os executivos das empresas para exigir acesso a suprimentos vitais. Alguns países até se oferecem para enviar jatos particulares.
No Brasil, Amilcar Tanuri não conta com jatinhos particulares. Ele dirige os laboratórios da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que funciona com metade da capacidade porque os reagentes estão sendo desviados para países ricos. “Se você não tem testes confiáveis, fica cego”, disse. “Este é o começo da curva da epidemia. Por isso, estou preocupado com o fato de o sistema de saúde pública entrar em colapso rapidamente.” Tanuri entrou em contato com empresas em três continentes, tentando obter reagentes para as 200 amostras de teste que seus laboratórios recebem todo dia. Foi quando descobriu que os EUA e a Europa já haviam comprado meses de produção. “Se comprarmos para chegar em 60 dias, é tarde demais. O vírus se espalha mais rápido do que podemos esperar.” A mesma coisa acontece na África do Sul, onde autoridades montaram uma “sala de guerra” com 20 pessoas que passam o dia telefonando para fornecedores. “Os fabricantes dizem que a produção não dá conta da demanda”, disse Kamy Chetty, diretora do Laboratório Nacional de Saúde da África do Sul.
+++ Um grande exemplo de injustiça e desigualdade, de como o sistema é selvagem.
*”Em vez de ‘conter’, Nova Zelândia tenta ‘eliminar’ surto”* - Há menos de duas semanas, a Nova Zelândia impôs um confinamento rigoroso em razão da pandemia de coronavírus. As pessoas são obrigadas a se alinhar a um metro e meio de distância de cada uma em filas de supermercados, as escolas estão fechadas e as crianças têm aulas em casa. Levou apenas dez dias para surgirem os sinais de que a abordagem do país – “eliminação” do contágio, em vez do objetivo de “contenção” dos EUA e de outros países ocidentais – está funcionando. O número de novos casos caiu por dois dias consecutivos, enquanto o número de testes se multiplicou. Houve 54 casos confirmados na terça-feira. Isso significa que o número de pessoas que se recuperaram, 65, excede o número de infecções diárias. Hoje, o país tem 1.239 casos confirmados. A grande maioria dos casos pode ser vinculada a viagens internacionais, tornando o rastreamento de contatos relativamente fácil, e muitos são mantidos em locais identificáveis. Por haver poucas evidências de transmissão comunitária, a Nova Zelândia não possui um grande número de pacientes sobrecarregando hospitais. Apenas uma idosa com problemas de saúde preexistentes morreu – a única morte por covid-19 até agora no país.
A primeira-ministra, Jacinda Ardern, está convencida de que a Nova Zelândia completará quatro semanas de bloqueio – dois ciclos completos de incubação de 14 dias – antes de relaxar o confinamento. Mas como o país controlou o surto tão rapidamente? Quando cheguei na Nova Zelândia, há um mês, viajando do epicentro da pandemia na China, atravessando a Coreia do sul, foi chocante saber que as autoridades não mediram minha temperatura no aeroporto. Disseram-me simplesmente para que eu me isolasse por 14 dias – o que eu fiz. Com o coronavírus varrendo a Itália e se espalhando pelos EUA, a Nova Zelândia, um país dependente do turismo, fez o impensável: fechou suas fronteiras para estrangeiros em 19 de março. Dois dias depois, Ardern fez um discurso na TV anunciando um plano de resposta à pandemia envolvendo quatro estágios. Imediatamente, meu telefone disparou um alerta de texto: “Aja como se você tivesse a covid-19. Isso salvará vidas. Vamos fazer a nossa parte e nos unirmos contra o vírus”, dizia. O início da desaceleração refletiu “um triunfo da ciência e da liderança”, disse Michael Baker, professor da Universidade de Otago e um dos principais epidemiologistas do país. “A premiê abordou isso de forma decisiva e enfrentou a ameaça”, disse o professor, que defendia uma abordagem de “eliminação” desde a leitura de um relatório da OMS sobre a China, em fevereiro. Enquanto outros países tentaram retardar a doença e “achatar a curva”, a Nova Zelândia tentou acabar com ela completamente.
*”Estado de São Paulo tem 30 mil exames de coronavírus à espera de resultado”* - Uma semana após o governador João Doria (PSDB) anunciar uma força-tarefa para acelerar os testes de coronavírus que ainda aguardam resultado no Estado, o Instituto Adolfo Lutz – laboratório público estadual responsável pelas análises – acumula cerca de 30 mil exames na fila para investigação, mais do que o dobro da demanda reprimida registrada quando a ação foi anunciada pelo governo. As informações estão em boletim epidemiológico da Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo divulgado ontem com dados atualizados até 8 de abril. No documento, a pasta informa que das 42.895 amostras recebidas até agora para análise, 6.374 estão em triagem, 1.976, em fase de encaminhamento e outras 21.661 encontram-se em análise, totalizando 30.011 testes ainda sem resultado. No volume de testes ainda não finalizados, há amostras que foram enviadas ao instituto em meados de fevereiro, apontando que o prazo para a liberação dos resultados pode ultrapassar os 50 dias. O número atual de exames na fila é 150% superior ao registrado no dia 30 de março, três dias antes de o governador anunciar a força-tarefa. Na ocasião, eram 12 mil testes à espera de avaliação, de acordo com o governo. Além das amostras que aguardam resultado, há ainda 392 testes cancelados e 1.969 não realizados (o motivo não foi informado). Do total de exames recebidos para covid-19 desde fevereiro, só 10.523 tiveram resultados liberados, o que equivale a apenas 24,5% do total.
Demora. O boletim mostra que 18 exames que ainda aguardam processamento foram encaminhados ao instituto nas semanas epidemiológicas 8 e 9, que compreendem o período de 16 a 29 de fevereiro, ou seja, há mais de 50 dias. A semana com mais testes represados é a 12, referente aos dias 15 a 21 de março. Somando os testes nas fases de triagem, encaminhamento e análise, são 8.881 exames daquele período ainda sem conclusão. O cenário de falta de testes e demora na análise das amostras colhidas atrapalha o controle do surto porque impede que os números reais da circulação do vírus sejam conhecidos, destaca a médica sanitarista Ana Freitas Ribeiro, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas. “Essa demora dificulta o monitoramento da epidemia e o acompanhamento do impacto das medidas de controle. Fica difícil saber se estamos conseguindo desacelerar a transmissão. Precisaria de modelos para estimar, mas eles podem ser frágeis, dependendo da metodologia e da informação empregada”, diz a especialista. O epidemiologista Eliseu Waldman, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), destaca a importância do diagnóstico rápido também para o manejo correto dos pacientes. “Principalmente entre os que estão internados, o ideal é que você os mantenha separados de outros doentes para evitar a contaminação. Isso protege também o profissional de saúde. Sem os testes, podem ficar misturados pacientes com problemas respiratórios causados por uma influenza e aqueles com covid-19”, destaca. Segundo balanço de ontem, o Estado de São Paulo acumula 7.480 casos confirmados e 496 mortes por coronavírus, número que pode aumentar de forma expressiva após a análise das amostras represadas. Ao anunciar, no dia 2 de abril, ações para acelerar a realização dos testes, o governo de São Paulo prometeu formar uma rede de laboratórios que faria um mutirão para zerar a fila. De acordo com o governo, seriam priorizados na análise os exames de pacientes hospitalizados ou os de vítimas fatais da doença. No dia 2, foi finalizada a análise de testes de 201 pacientes que morreram, dos quais 20 tiveram o resultado positivo para o coronavírus.
Rede. Procurada para comentar o aumento da fila de testes sem resultado, a Secretaria Estadual da Saúde afirmou que o Instituto Butantã passou a ser o responsável por articular a rede de laboratórios que farão o mutirão de análise dos exames. O instituto, por sua vez, informou que o governo estadual conseguiu mobilizar uma rede de 45 laboratórios, entre públicos e privados, para agilizar o processamento dos testes e que, quando estiver em plena capacidade, a rede fará 8 mil exames diários – 2,5 mil no laboratório do Butantã, 1,8 mil na sede do Instituto Adolfo Lutz, outros 1,8 mil nas suas regionais e 2,9 mil nos demais laboratórios da rede, incluindo os privados. Atualmente, 34 das instituições da rede já estão habilitadas e 11, em fase de credenciamento. Para o processamento dos exames, diz o Butantã, o Estado está abastecido com 99 mil kits de diagnóstico. Outros 725 mil, importados pelo instituto, deverão chegar no próximo domingo de uma compra que totaliza 1,2 milhão de kits. O Butantã não informou quando a rede de laboratórios deve estar operando em sua capacidade máxima nem a estimativa de prazo para zerar a fila de amostras represada no Instituto Adolfo Lutz. Mas afirmou que, com o novo modelo, a estimativa é a de que os laudos passem a ser liberados 48 horas após a coleta.
*”Mais da metade dos 22,9 mi de testes não têm data para chegar”*
*”Ministério volta a pedir reforço do isolamento”*
*”Projeto da Câmara de socorro aos Estados dá R$ 55 bi em novas garantias”* - O projeto de socorro aos Estados, que tramita na Câmara, abre caminho para R$ 55 bilhões em garantias da União a novos empréstimos a serem contratados pelos governos regionais, medida que tem sido vista como uma reedição da “farra das garantias” promovida entre 2012 e 2014, no governo Dilma Rousseff (PT), e que foi seguida de uma quebradeira dos Estados logo à frente. A conta do calote foi paga pela União. Com o apoio do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), deputados discutem uma proposta para socorrer governadores e prefeitos no enfrentamento da pandemia da covid-19. Além da ampliação do endividamento, o texto também prevê compensação da perda na arrecadação nos caixas regionais durante a crise. Classificado como bomba fiscal pela equipe econômica, que estima impacto de R$ 159,7 bilhões, e criticado por economistas por elevar gastos para além de 2020, o projeto teve a votação adiada para a semana que vem. Em 2013, o governo da ex-presidente Dilma Rousseff avalizou cerca de R$ 60 bilhões em empréstimos contratados pelos Estados. Menos de três anos depois, no início de 2016, o Rio de Janeiro foi o primeiro a atrasar pagamentos, seguido nos anos seguintes por outros Estados como Goiás e Minas Gerais.
Na gestão petista, Estados já com contas deterioradas e baixa capacidade de pagamento foram priorizados nas concessões de garantias da União. Na época, não era uma lei, mas sim uma portaria do Ministério da Fazenda que permitia uma concessão excepcional do aval. O Tribunal de Contas da União (TCU) abriu uma investigação e responsabilizou o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega e o ex-ministro do Tesouro Nacional Arno Augustin pelos prejuízos arcados pela União com essas operações. Eles foram multados pela irresponsabilidade na concessão das garantias. Se um Estado não paga um empréstimo que tenha a garantia federal, o Tesouro precisa quitar a parcela junto à instituição financeira ou ao organismo multilateral, mas nem sempre consegue recuperar os valores porque decisões judiciais “blindam” os cofres dos Estados.
Roupagem legal. Desta vez, na avaliação de técnicos ouvidos pela reportagem sob a condição de anonimato, não haverá base para qualquer responsabilização caso o filme se repita. A União não estará livre de prejuízos, mas o texto dá “roupagem legal” a essas operações. Na defesa do projeto, Maia tem dito que o “espaço fiscal” para novas operações é menor que o máximo histórico visto na época da farra das garantias. No entanto, os técnicos alertam que o espaço para novas garantias vem acompanhando de uma suspensão de R$ 47,6 bilhões em dívidas dos governos regionais – o que na prática significa um espaço de R$ 102,6 bilhões, sem incentivos à boa gestão fiscal. Pelo projeto, Estados com classificação “D”, a pior de todas em termos de capacidade de pagamento, poderão contratar novos empréstimos. As regras atuais vedam a concessão de novos financiamentos com aval da União a esses governos, a não ser que eles ingressem em algum programa de socorro do governo federal e se comprometam com medidas de ajuste nas contas, como cortes em gastos com pessoal e venda de estatais. O maior problema de liberar uma montanha de dinheiro novo é que alguns deles hoje já não conseguem pagar salários de servidores ou contratos com fornecedores. Embora as novas dívidas não precisarem seguir o trâmite regular de um pedido de aval à União e tenham carência no pagamento das prestações até 2022, a conta das primeiras parcelas chegaria para o próximo governo.
Alívio. Elas se somariam à retomada do pagamento de parcelas das dívidas que já existem hoje e que o projeto também quer suspender. Seria um alívio de R$ 47,6 bilhões com essa medida. A avaliação entre técnicos que acompanham as contas dos Estados é que a concessão de garantia sem análise da capacidade de pagamento pode gerar outra crise nos Estados, assim como ocorreu entre o final de 2015 e o início de 2016. Foi quando a última renegociação de dívidas com a União foi deflagrada, e os primeiros Estados começaram a parcelar salários de servidores - alguns não conseguiram regularizar a situação. Um aumento da dívida sem uma avaliação criteriosa dos motivos pode arranhar a imagem e a credibilidade da sustentabilidade fiscal do País perante o mercado financeiro, que é quem compra títulos da dívida pública brasileira e financia o governo. Esse custo de financiamento, que nos últimos anos caiu bastante, poderia subir. A proposta ainda prevê outros R$ 41,1 bilhões em compensações aos Estados por perdas em receitas próprias, dinheiro sem carimbo que poderia ser gasto com despesas não prioritárias num momento de crise.
*”Empresas querem anular liminar que dá poder a sindicato”*- Em busca de maior agilidade nos acordos com trabalhadores, entidades empresariais estudam pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) a suspensão da liminar que instituiu necessidade de aval prévio de sindicatos em negociações individuais de redução de jornada e salário ou suspensão de contrato. Os sindicatos, por sua vez, tentam sair na frente e costuram acordos “guarda-chuva”, uma espécie de aval antecipado a negociações diretas entre empresas e empregados, com garantias mínimas que vão além das previstas na medida do governo. As próprias entidades que representam os trabalhadores veem risco de a decisão judicial ser derrubada a pedido dos empresários ou do governo. Por isso, a tentativa é estabelecer salvaguardas mínimas para os empregados e, ao mesmo tempo, dar agilidade às negociações. A equipe econômica criou um programa que permite a negociação individual entre empresas e trabalhadores, sem mediação das entidades de classe, para redução de jornada e salário em até 70% por até três meses ou suspensão do contrato por até dois meses. Em compensação, o governo paga um benefício equivalente a até 100% do seguro-desemprego a que o trabalhador teria direito em caso de demissão. Os sindicatos precisam ser avisados em até 10 dias para coibir eventuais abusos, mas até lá a empresa e o trabalhador já podem pôr o acordo em prática. Uma ação da Rede Sustentabilidade questionou a validade do programa. O ministro do STF Ricardo Lewandowski decidiu, de forma monocrática, que os acordos individuais só terão validade após manifestação dos sindicatos. Sem o ingresso de receitas para abastecer o caixa e pagar salários, o empresariado foi ao desespero com a decisão e alertou o governo do risco de demissões em massa. Como mostrou o Estadão/Broadcast, a Advocacia-Geral da União (AGU) cogita ingressar com um pedido de suspensão de liminar, um tipo de processo que vai direto ao presidente da Corte, ministro Dias Toffoli. Na prática, ele teria o poder de, numa canetada, anular a decisão de Lewandowski.
O julgamento está previsto para 16 de abril, mas o pedido de suspensão de liminar poderia ser analisado antes. Caso a AGU não adote essa estratégia, a Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) avalia ingressar com a ação. O presidente da CNDL, José César da Costa, diz que a medida do governo trouxe “fôlego e tranquilidade” a um setor que perde R$ 7 bilhões ao dia com o fechamento de 60% dos estabelecimentos devido à quarentena. “A liminar nos deixa numa situação difícil. Não é só uma crise. É uma guerra, e numa guerra nós precisamos de exceções”, argumenta. O empresário Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan e apoiador do governo Jair Bolsonaro, afirma que negociou a suspensão do contrato de quase 10 mil funcionários (praticamente metade do quadro), em função do fechamento de lojas. Ele argumenta que a medida é positiva ao preservar o emprego e, ao mesmo tempo, ajudar no isolamento social. “Eu espero que ela (liminar) seja revogada. Se permanecer o entendimento, vai ser um caos”, diz. “Quando o empregador não vê a luz no fim do túnel, a decisão é a demissão”, afirma Hang. Segundo ele, a reversão da decisão de Lewandowski é a luz no fim do túnel neste caso. Se a liminar persistir por mais uma semana, no entanto, “a demissão em massa vai ser instantânea”, prevê o empresário.
‘Guarda-chuva’. O presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, diz que a central tem articulado acordos “guarda-chuva” entre sindicatos patronais e de empregados para fixar parâmetros gerais de negociação. A ideia é prever em convenções coletivas quais instrumentos poderão ser usados: redução de jornada e salário (em quais porcentuais) e/ou suspensão do contrato. Por outro lado, os sindicatos dos trabalhadores acordam nessa “validação prévia” algumas vantagens, como continuidade do pagamento do vale refeição e necessidade de homologação pelo sindicato das demissões durante a crise.
+++ O enviesamento e a distorção do noticiário a favor do empresariado e do mercado financeiro ficam expressos no início da reportagem, no trecho em que se afirma que as “entidades empresariais” buscam “mais agilidade nos acordos com os trabalhadores” ao querem suspender a liminar que obriga que haja anuência dos sindicatos nos acordos trabalhistas. A palavra “agilidade” simplifica muito a questão. Além disso, o representante da UGT que é entrevistado não foi convidado a comentar a intenção do empresariado, apenas qual está sendo a estratégia dos sindicatos.
*”Montadoras ampliam negociações para suspender contratos”*
*”Quarentena do comercio afeta Zona Franca”*

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