O presidente Jair Bolsonaro voltou ontem à cadeia nacional de rádio e TV para fazer seu quarto pronunciamento sobre a crise do coronavírus. O tom foi outro, recuou do confronto. “Minha preocupação sempre foi salvar vidas”, afirmou. “Tanto as que perderemos pela pandemia como aquelas que serão atingidas pelo desemprego, violência e fome.” Bolsonaro não fez defesa enfática da política de isolamento vertical, — em que apenas os mais vulneráveis à Covid-19 ficam em casa —, na qual vinha insistindo. Mas também não abraçou a horizontal, prática adotada em boa parte do mundo e defendida tanto pela Organização Mundial de Saúde quanto seu próprio Ministério da Saúde. Insistiu, porém, no apelo que, ele acredita, o permite alcançar as camadas mais pobres da população. “Não me valho dessas palavras para negar a importância das medidas de prevenção e controle da pandemia, mas para mostrar que, da mesma forma, precisamos pensar nos mais vulneráveis. Essa tem sido a minha preocupação desde o princípio. O que será do camelô, do ambulante, do vendedor de churrasquinho, da diarista, do ajudante de pedreiro, do caminhoneiro e dos outros autônomos, com quem venho mantendo contato durante toda minha vida pública?” (G1)
Assista ao pronunciamento do presidente.
O pronunciamento anterior, em que ele partia para o confronto com autoridades de saúde e governadores, havia sido escrito no gabinete do ódio e com apoio a ala ideológica do governo. O resultado foi deixa-lo isolado. Não só o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta manteve a recomendação de quarentena como se afastaram dele até auxiliares importantes, casos de Paulo Guedes, da Economia, e Sérgio Moro, da Justiça. Igualmente se afastaram os generais palacianos e o vice-presidente Hamilton Mourão, embora estes criticassem mais o tom do que a intenção de defender a economia perante o isolamento. Foi a partir de uma conversa com o ex-comandante do Exército, o general Eduardo Villas Bôas, que o presidente começou a decidir pelo recuo. Para esta nova aparição, Bolsonaro ouviu os ministros Walter Braga Netto, da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo — ambos generais —, além de Tarcísio Freitas, da Infraestrutura. (Folha)
Pois é... Mas a visibilidade da rejeição aumenta. Ontem à noite houve o 15º dia seguido de panelaço nas grandes metrópoles brasileiras. E foi o mais intenso. O presidente ainda está ajustando seu discurso. No Palácio, seus assessores cogitam que retorne novamente à TV, hoje, segundo Andréia Sadi. E pretende ignorar os panelaços. (G1)
Pela manhã, à porta do Alvorada, o presidente usou uma fala feita à véspera pelo diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, para defender o isolamento vertical. Ghebreyesus alertou para as dificuldades financeiras que os mais pobres enfrentariam por conta da quarentena. Bolsonaro não citou que havia um contexto no alerta: o diretor-geral defendia que governos deveriam adotar políticas públicas para mitigar estas dificuldades. Não defendia o fim do isolamento. A OMS precisou reiterar sua posição nas redes por conta da distorção. (Veja)
O ataque do presidente, distorcendo a fala do diretor-geral da OMS sobre preocupação social, irritou a muitos no Congresso. Está na mesa de Bolsonaro, para sanção, o auxílio emergencial de R$ 600 que serve justamente para ajudar nisso. E, no entanto, há hesitação em assinar. O Ministério da Cidadania cogita pagar o auxílio a partir de 16 de abril. “Não parece tão emergencial”, se queixou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. “Governo tem toda estrutura para organizar o pagamento antes. É um valor mínimo, não vai resolver os problemas, mas vai dar previsibilidade para os brasileiros superarem os próximos três meses.” (Estadão) |
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