quarta-feira, 22 de abril de 2020

Bolsonaro entra no jogo e negocia com Centrão


O presidente Jair Bolsonaro está avançando rápido nas conversas para oferecer espaços no governo ao Centrão. Mesmo tendo garantido que não negocia aos manifestantes, domingo, está negociando. A Valdemar da Costa Neto do Progressistas, prometeu o comando do Banco do nordeste e a Secretaria de Vigilância Sanitária, um dos dois postos chaves do Ministério da Saúde. O PP terá o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Ao PSD, o governo ofereceu a Fundação Nacional de Saúde. Por enquanto, os principais partidos do Centrão estão fora das conversas — são DEM e MDB. Mas o deputado Baleia Rossi, presidente do MDB, conversa hoje com Bolsonaro. E o presidente do DEM, prefeito ACM Neto, tem reunião marcada para amanhã. As conversas não são tranquilas. Os congressistas, de sua parte, temem que o presidente não cumpra com a palavra. Temem, também, que o objetivo de Bolsonaro seja esvaziar o espaço do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Uma das condições do Centrão, portanto, é de que o Planalto declare um cessar-fogo. (Folha)

José Casado: “Bolsonaro quer eleger o sucessor de Maia na Câmara. Sonha com novos sócios no Centrão, para dominar a pauta legislativa na campanha eleitoral em crise econômica, marcada pelo número de vítimas da ‘gripezinha’. Em público diz que não pretende ‘negociar nada’. Mas atravessou os últimos 15 dias em acertos com líderes do Centrão, entre eles Roberto Jefferson (PTB), Valdemar Costa Neto (Progressistas), Gilberto Kassab (PSD) e Marcos Pereira (Republicano/Igreja Universal). Alguns são personagens do mensalão e da corrupção na Petrobras. Todos, como Bolsonaro, tentam garantir a sobrevivência política na crise pós-coronavírus, se possível culpando outros pela imprevidência — o número de mortos já é o dobro da semana passada.” (Globo)



Merval Pereira: “Bolsonaro tentou dar ares de apoio dos militares à sua presença na manifestação antidemocrática domingo, mas soube, antecipadamente, que a área militar se incomodava com a escolha como moldura de uma ação política o Quartel-General do Exército. Ele convidou os ministros general Fernando Azevedo e Silva e general Luiz Eduardo Ramos, que recusaram, por considerarem que a presença deles sugeriria que o Exército avalizava a manifestação. Os generais tiveram uma reunião com ele na noite do mesmo domingo, onde ficou combinado que Bolsonaro falaria no dia seguinte para desfazer o clima político tenso, e à noite o ministério da Defesa deu uma nota oficial garantindo que as Forças Armadas obedecem à Constituição. A frase proferida por Bolsonaro na manhã de segunda — ‘Já estou no poder, por que daria um golpe?’ — foi dita a ele na reunião. A investigação já em curso no Supremo sobre as fake news cruzará inevitavelmente com o novo inquérito aberto sobre as manifestações antidemocráticas, pois tudo indica que os mesmos que orquestram as notícias falsas são os que financiam essas manifestações que pedem a intervenção militar. O inquérito caiu, no sorteio eletrônico, para o ministro Alexandre de Moraes, o mesmo que já preside o sobre as fake news. O Procurador-Geral, Augusto Aras, pediu a abertura de um inquérito para investigar os atos antidemocráticos, mas excluiu o presidente Bolsonaro do rol de suspeitos de os incentivarem, provavelmente para cacifar-se à vaga do Supremo que se abre em novembro. Mas bastará um parlamentar requisitar ao ministro que inclua Bolsonaro no inquérito que o pedido será encaminhado pelo Supremo à PGR, criando um constrangimento que possivelmente impedirá a não aceitação.” (Globo)


O Planalto começa a organizar um projeto de reestruturação da economia brasileira que ganhou o apelido de Plano Marshall. O ministro Paulo Guedes faz parte do grupo de trabalho, mas é contra. Diz que o país não tem recurso para bancar investimento público. Cuidam do plano, então, os ministros da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, e do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, sob comando do chefe da Casa Civil, general Walter Braga Netto. O temor, segundo as jornalistas Thais Herédia e Raquel Landim, é de que, se não forem tomadas medidas de arranque da economia, a reeleição de Bolsonaro corra perigo. (CNN Brasil)

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