quarta-feira, 29 de abril de 2020

Análise de Mídia 29/04

CAPA 
– Manchete principal: *”Cai apoio a isolamento; Brasil já tem mais mortos que China”*
EDITORIAL DA FOLHA - *”Aparelho familiar”*: O desenrolar dos acontecimentos vai dando razão à acusação mais grave feita pelo ex-ministro Sergio Moro contra o presidente da República, de que Jair Bolsonaro age motivado pelo objetivo de reduzir a Polícia Federal a um instrumento pessoal do ocupante do Planalto. Os primeiros indícios de confirmação constavam das palavras do próprio chefe do governo na sexta-feira (24). A propósito de defender-se do que pouco antes havia dito o ex-juiz da Lava Jato, o presidente admitiu que fazia pressões sobre o Ministério da Justiça para arrancar informações da Polícia Federal. Na sequência, Moro divulgou mensagens trocadas com Bolsonaro em que o mandatário citava repercussões de um inquérito para apurar fake news e ameaças a magistrados, que corre no Supremo Tribunal Federal, como motivo para substituir o diretor da PF. No sábado (25), esta Folha revelou que a apuração, presidida pelo ministro Alexandre de Moraes, havia identificado o vereador Carlos Bolsonaro como um dos articuladores do esquema criminoso de intimidação. O ciclo se fechava, mas ainda não se completara. O delegado nomeado pelo presidente da República para assumir a Polícia Federal, Alexandre Ramagem, é amigo do filho Carlos.
Um outro conviva da família Bolsonaro, Jorge Oliveira, teria sido indicado para a pasta da Justiça não fosse uma forte pressão palaciana para demover o chefe de Estado. Acabou sendo indicado para o cargo André Mendonça, que era o titular da Advocacia-Geral da União. Escandalosa é pouco para qualificar a promoção de Ramagem à chefia da Polícia Federal nesse contexto. Por mais que cautelas, como a tomada por Alexandre de Moraes ao proibir a troca dos delegados que conduzem o inquérito das fake news, possam evitar danos pontuais, a intenção de aparelhar o órgão policial ficou clara e parte do presidente da República. Não à toa, ações para anular a posse do indicado a diretor-geral da PF começaram a chegar às cortes federais, inclusive ao Supremo. Alegam que Bolsonaro cometeu abuso de poder e desvio de finalidade na nomeação do amigo. Na cartilha do neoautoritarismo em voga em algumas partes do planeta, aparece como item de destaque a lenta cooptação dos órgãos independentes do Estado pelos tentáculos do candidato a caudilho. Jair Bolsonaro segue mestres como Nicolás Maduro, da Venezuela, e Victor Orbán, da Hungria, ao tentar transformar a PF num birô a serviço da família presidencial. Precisa ser contido pelas instituições. A PF hoje exige mais, e não menos, garantias —como um diretor-geral submetido ao escrutínio do Legislativo— para a sua atuação técnica e republicana.
PAINEL - *”Em primeira reunião na PF, Ramagem elogia desafetos de Bolsonaro e delegados próximos a Moro”*: Nomeado por vontade de Jair Bolsonaro, Alexandre Ramagem acenou para alvos do presidente em sua primeira reunião como diretor-geral. O delegado fez nominalmente elogios aos superintendentes do Rio e de Pernambuco. Sergio Moro disse em sua saída que o presidente queria substituí-los sem motivo e sem razão aceitáveis. Ramagem também quis se posicionar em relação ao ex-ministro, fazendo menção positiva a dois delegados sabidamente ligados ao ex-juiz. O diretor pediu tranquilidade. Ramagem disse ainda que a PF possui controles suficientes, o que foi interpretado por presentes de que ele quis dizer que o órgão tem como se proteger de interferências. Apenas os quatro foram citados de forma específica. Além do chefe do Rio, Carlos Henrique de Oliveira Sousa, e da chefe de Pernambuco, Carla Patrícia, os outros dois mencionados foram Fabiano Bordignon, diretor do Depen (Departamento Penintenciário Nacional) e Erika Marena, que comanda o DRCI (Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional). Bordignon era um dos nomes defendidos por Moro para assumir o posto de diretor-geral.
Além dos 27 superintendentes convidados, participaram da reunião os atuais diretores e o ex-diretor-geral Maurício Valeixo. Ele e Ramagem trocaram homenagens. A forma de transmissão do cargo foi elogiada por delegados, considerada civilizada. Ramagem deu indicações de que vai manter no cargo a superintendente de Pernambuco. Ele disse no encontro virtual que vai fazer mudanças na diretoria. Como contou o Painel, alguns dos atuais integrantes da cúpula vão para fora do país. Em seu perfil no Twitter, Rebeca Ramagem, mulher do novo diretor-geral, tem promovido algumas das pautas mais controversas do governo e tem atacado políticos com os quais o presidente tem vivido relação tensa. Rebeca tem pedido com frequência o impeachment do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e diz que ele é pior que o ex-presidente Lula (PT). Ela também critica o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e defende votação popular para o cargo em postagens contra o deputado. Jair Bolsonaro não deu mais informações a seus ministros sobre as acusações feitas por Sergio Moro na última sexta (24). Para auxiliares, o presidente deu sinais, em reunião nesta terça (28), de que estava aliviado e se limitou a dizer que se sentia tranquilo. Disse agora era "bola pra frente".
Rebeca também postou críticas à imprensa. As hashtags mais usadas: em abril pediu #jejumpeloBrasil; em março, #oBrasilnãopodeparar, #Jairnãocainemapau e #Dia15EuVouPeloJair, sobre atos em apoio ao presidente que foram condenados por organizações de saúde para evitar aglomerações.
sigo de volta". O Painel tentou falar com Rebeca Ramagem, mas não conseguiu. O perfil com o nome dela era um dos 18 seguidos pela conta oficial de Ramagem até a noite desta terça (28). Em carta ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), a associação de secretários de finanças das capitais pede que o critério para a divisão da verba que o governo federal repassará a estados e municípios seja o de recomposição de perdas de arrecadação. Isso daria às grandes cidades vantagem sobre as menores —que, por sua vez, têm menos casos de Covid-19. ​
PAINEL - *”Mulher de Ramagem ataca Doria e Rodrigo Maia nas redes, critica imprensa e defende jejum contra o coronavírus”*
PAINEL - *”Discurso de André Mendonça agrada colegas da Justiça, não menciona Moro e fala em diálogo com cortes superiores”*
PAINEL - *”Bolsonaro reitera a ministros que Guedes responde pela economia, mas mantém plano alternativo de Braga Netto”*: O presidente reiterou, em privado, o afago público feito a Paulo Guedes —repetiu aos ministros que ele é o responsável pela economia. O plano pilotado por Braga Netto (Casa Civil) que gerou a crise com o superministro, no entanto, segue em construção. Nova reunião técnica ocorreu nesta terça (28). Coube a Roberto Campos Neto (Banco Central) apresentar aos colegas indicadores financeiros, pontuando que o risco de deterioração fiscal da última semana mexeu com os investidores. Ele aproveitou para tentar limpar a barra do setor bancário, acusado de travar o dinheiro e não repassar a pequenas empresas.
*”Nomeação de amigo do clã Bolsonaro para PF gera resistência no Congresso e ações judiciais”* - Após a saída de Sergio Moro do governo sob a alegação de interferência política na Polícia Federal, a nomeação do novo diretor-geral da corporação pelo presidente Jair Bolsonaro virou alvo de uma série de ações na Justiça e de resistência no Congresso. Bolsonaro oficializou no Diário Oficial da União desta terça-feira (29) os nomes do advogado André de Almeida Mendonça, 47, para substituir Moro no Ministério da Justiça e do delegado Alexandre Ramagem, 48, para a vaga de Maurício Valeixo na Diretoria-Geral da PF. "Terrivelmente evangélico" nas palavras de Bolsonaro, Mendonça já era chefe da AGU (Advocacia Geral da União) e considerado pelo presidente, para atender sua base religiosa, como um possível nome a ser indicado para uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal).
Sua nomeação chegou a ser elogiada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), adversário de Bolsonaro, para quem Mendonça "é um quadro preparado e equilibrado". Já a nomeação de Ramagem, amigo do clã Bolsonaro que era diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), motivou uma ofensiva judicial para barrá-la, tendo em vista os interesses da família e de aliados do presidente em investigações da Polícia Federal. O plano de troca da chefia da PF foi estopim da saída de Moro. O ex-ministro disse que Bolsonaro queria ter uma pessoa do contato pessoal dele no comando da corporação para poder "colher informações" e "relatórios" diretamente. Diante da nomeação de Ramagem, partidos e movimentos políticos entraram com ações judiciais para tentar impedir a posse, marcada para as 15h desta quarta (29). Eles alegam "abuso de poder" e "desvio de finalidade" na escolha. No final da tarde desta terça, havia ao menos seis processos pedindo a suspensão da nomeação de Ramagem, alegando que Bolsonaro praticou "aparelhamento particular" ao indicá-lo para a função. A base dos pedidos é a denúncia de Moro alegando interferência do presidente da República na Polícia Federal.
Diferentemente dos elogios ao nome do novo ministro da Justiça, Maia disse que Ramagem terá "dificuldade na corporação, na forma como ficou polêmica a sua nomeação". "A gente sabe que a Polícia Federal é uma corporação muito unida, que trabalha de forma muito independente. Qualquer tipo de interferência é sempre rechaçado. A gente viu em outros governos que foi assim. Mas eu não conheço [Ramagem]", disse o presidente da Câmara ao apresentador José Luiz Datena, da Band. Ramagem se aproximou da família Bolsonaro durante a campanha de 2018, quando comandou a segurança do então candidato a presidente depois do episódio da facada contra Bolsonaro. O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) é um dos seus principais fiadores e esteve à frente da decisão que levou Ramagem ao comando da Abin. No sábado (25), a Folha mostrou que uma apuração comandada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), com participação de equipes da PF, tem indícios de envolvimento de Carlos em um esquema de disseminação de fake news. Na noite de segunda (27), Bolsonaro disse não haver esquema de notícias falsas. "Meu Deus do céu. Isso é liberdade de expressão. Vocês deveriam ser os primeiros a ser contra a CPI das Fake News. O tempo todo o objetivo da CPI é me desgastar", afirmou Bolsonaro, ao ser questionado sobre possíveis prejuízos que a troca no comando da Polícia Federal traria à investigação sobre as fake news.
Nesta terça (28), após a nomeação de Ramagem, Bolsonaro disse que a investigação da PF sobre a facada que ele recebeu durante a campanha em 2018 foi negligenciada e que ela será reaberta pela corporação. No momento, ainda há uma apuração da PF sobre a facada em andamento. A investigação, que busca mostrar a existência de eventuais mandantes, comparsas ou financiadores do atentado, até agora descartou essa hipótese. No primeiro inquérito sobre esse episódio, a PF concluiu que Adélio Bispo, que esfaqueou Bolsonaro em Juiz de Fora (MG), agiu sozinho e sofre de transtornos mentais. O autor foi declarado inimputável e cumpre medida de segurança na penitenciária federal de Campo Grande (MS). O PDT entrou com um mandado de segurança no STF alegando "abuso de poder por desvio de finalidade" com a nomeação do delegado Ramagem para a PF. O relator será o ministro Alexandre de Moraes. Um outro caso relatado por Moraes está entre os motivos que levaram à demissão do antigo diretor geral Valeixo. Em trocas de mensagens apresentada por Moro, Bolsonaro pede a troca de comando na PF com base em uma informação de que a corporação estaria investigando deputados bolsonaristas. Em resposta, Moro diz que a investigação é conduzida por Moraes. "Este inquérito é conduzido pelo ministro Alexandre no STF, diligências por ele determinadas, quebras por ele determinadas, buscas por ele determinadas. Conversamos em seguida às 9h", disse, em referência ao encontro que teriam na manhã seguinte, quando o presidente confirmou a troca no comando da PF, desencadeando a crise que levou à saída do ex-juiz da Lava Jato.
A Rede Sustentabilidade também entrou no STF contra a nomeação de Ramagem. O partido apresentou ADPF (Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental) afirmando que conversa por aplicativo entre Bolsonaro e Moro "demonstram de forma inequívoca a vontade de interferência em investigações". Para o senador Randolfe Rodrigues (AP), líder da sigla no Senado, apesar de preencher os requisitos estritamente legais, a nomeação é "uma tentativa de Bolsonaro controlar e abafar investigações da instituição que envolvem seus familiares e conhecidos". Randolfe, ao lado do senador Fabiano Contarato (ES), é autor de outra ação no Judiciário. Os parlamentares pediram para que fosse anulada a exoneração de Valeixo e suspensas novas nomeações. A ofensiva, porém, foi rejeitada pelo juiz Ed Leal, da 22ª Vara Federal Cível do DF. Os advogados da Rede avisaram que irão recorrer. O PSOL, através do deputado federal Marcelo Freixo (RJ), entrou com ação, mas preferiu contestar a nomeação à primeira instância da Justiça. "Não permitiremos que o presidente transforme a PF numa polícia política a serviço da família", afirmou. A deputada Tabata Amaral (PDT-SP) ingressou com ação na Justiça Federal em Brasília pedindo para que Ramagem seja proibido de assumir. O coordenador do Movimento Brasil Livre (MBL), Rubinho Nunes, confirmou que o grupo político também entrou com ação contra a posse. Reservadamente à Folha integrantes do STF avaliam que não há impedimento para Ramagem assumir o cargo mesmo tendo ligações com o clã Bolsonaro. Os ministros ouvidos lembram, no entanto, que o histórico recente do Supremo demonstra que o cenário político é levado em consideração em decisões do tipo.
*”Saiba quem é André Mendonça, advogado, pastor e novo ministro da Justiça”*
*”Saiba quem é Alexandre Ramagem, amigo dos filhos de Bolsonaro e novo chefe da Polícia Federal”*
*”Família, adversários e fake news; entenda obsessão de Bolsonaro pela PF no RJ e em PE”*
*”Proposta de delegados da PF a Bolsonaro foi ignorada por Dilma e Temer e defendida por Moro”* - Sob o argumento de reduzir o desgaste do governo, delegados da Polícia Federal reivindicam ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que adote uma bandeira que foi ignorada por seus antecessores e defendida pelo seu mais novo desafeto, o agora ex-ministro Sergio Moro. Em carta aberta ao presidente no último domingo (26), a ADPF (Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal) solicitou ao presidente que envie com urgência ao Congresso uma proposta de legislação prevendo um mandato ao diretor-geral da PF, com escolha por meio de lista tríplice e sabatina. Nesta terça (28), o Diário Oficial da União publicou a nomeação de um amigo dos filhos do presidente, o delegado Alexandre Ramagem, para o cargo. Também foi nomeado o advogado André de Almeida Mendonça para o comando do Ministério da Justiça.
A possibilidade de mandato já foi elogiada ao menos duas vezes por Moro. Uma vez quando ainda era juiz federal e participou de um encontro da ADPF em Salvador e, outra, após assumir o Ministério da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro –embora tenha dito que a discussão não deveria ser imediata. Moro deixou o governo após a exoneração do diretor-geral Maurício Valeixo e acusou o presidente de tentar interferir nas investigações da PF. A associação pede, na carta a Bolsonaro, que os delegados que integrem uma eventual lista "deverão atender a critérios objetivos mínimos estabelecidos em lei”. “O projeto deve garantir ao diretor-geral escolhido pelo presidente a autonomia para nomear e exonerar todos os cargos internos da PF, mediante a obediência a critérios mínimos objetivos para cada cargo, definidos em lei.” Demanda histórica da categoria, a proposta de dar mais autonomia à Polícia Federal e mandato ao diretor-geral foi constantemente cobrada pelas entidades de classe dos delegados aos governos Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), que não levaram a ideia à frente. Em 2014 e 2016, as entidades de classe de delegados da PF chegaram a formar listas tríplices para a escolha, por Dilma e Temer, do diretor-geral, mas a proposta não vingou.
No governo Temer, a demanda se fortaleceu após a queda do ex-diretor-geral Fernando Segovia em fevereiro de 2018, três meses após assumir o cargo. Ele havia dito em entrevista à Reuters que não havia provas contra o então presidente da República no inquérito que tratava de um decreto para a área portuária. Seu substituto, Rogério Galloro, chegou a articular a apresentação da proposta de mandato à Diretoria-Geral aos candidatos à Presidência da última eleição. No Congresso também houve matérias a respeito do tema. Em 2015, 29 senadores protocolaram uma proposta de emenda à Constituição que propunha mandato ao diretor PF. Mais tarde, alguns deles —como Aécio Neves, José Serra, Aloysio Nunes (todos do PSDB), Jader Barbalho e Garibaldi Alves (do MDB)— acabaram virando alvos da Lava Jato. A proposta foi arquivada em 2018, quando a legislatura chegou ao fim, sem sequer passar pela Comissão de Constituição e Justiça. Na Câmara dos Deputados também há uma proposta de autonomia à Polícia Federal, mais ampla que a do Senado. Mas ela tramita desde 2009, sem conclusão.
O presidente da ADPF, Edvandir Felix de Paiva, afirma que um texto enviado diretamente pelo Executivo ao Congresso daria força para a proposta avançar. “E nesse momento, em que aconteceu essa mudança tão traumática na Polícia Federal, talvez o governo possa passar esse recado”, afirma Paiva. O projeto arquivado no Senado, diz ele, não chegou a andar “um milímetro” em quase quatro anos. O presidente da entidade não considera Moro um apoiador incondicional da autonomia da Polícia Federal, mas alguém que se mostrou favorável “de maneira lateral” à criação de mandatos. “No pacote anticrime, ele não mandou nada desse assunto ao Congresso. Nem mesmo para que [o conteúdo da proposta] fosse extirpado pelo, como outras coisas foram. Não acredito que seja uma pauta dele”, afirma. Paiva, no entanto, acredita que seria preciso intensa articulação com as lideranças do Legislativo para que a proposta seguisse adiante. A ideia inicial da ADPF é que o mandato do diretor-geral seja de três anos, sem possibilidade de recondução, e sem coincidir com períodos de eleição presidencial. Na carta enviada ao presidente, a ADPF dizia que suas propostas ajudariam o novo diretor-geral da PF a não “trabalhar sob o clima de desconfianças internas”. Além de mandato, pediam um compromisso público do presidente de que o novo diretor teria autonomia para formar sua equipe e conduzir a instituição sem obrigação de repassar informações ao governo federal.
Para o lugar de Valeixo, Bolsonaro nomeou Ramagem, amigo de seu filho e vereador do Rio, Carlos Bolsonaro. A Folha revelou que a PF identificou Carlos Bolsonaro como um dos articulares de um esquema criminoso de fake news. “O contexto criado pela exoneração do comando da PF e pelo pedido de demissão do ministro Sergio Moro imporá ao próximo diretor um desafio enorme: demonstrar que não foi nomeado para cumprir missão política dentro do órgão”, diz o texto. “Assim, existe o risco de enfrentar uma instabilidade constante em sua gestão. O último comandante da PF que assumiu o órgão em contexto semelhante teve um período de gestão muito curto”, continua a carta, sem mencionar nominalmente Segovia. Nesta segunda, no Twitter, Bolsonaro afirmou que a Polícia Federal “é parte do Sistema Brasileiro de Inteligência, que alimenta com informações o Presidente da República para tomada de decisões estratégicas”. “Uma coisa é pedir informações sobre inquéritos sigilosos em curso (o que nunca houve) e outra coisa ter acesso a conhecimento de inteligência produzido nos termos da Lei (o que sempre me foi dificultado)”, afirmou o presidente.
ELIO GASPARI - *”Guedes herdou a carta branca de Sergio Moro”*
*”Celso de Mello ignora possíveis crimes de Moro e manda recados só a Bolsonaro em decisão no STF”* - Na decisão em que abriu o inquérito para investigar as acusações de Sergio Moro contra o presidente Jair Bolsonaro, o ministro Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal), centra as atenções no chefe do Executivo e não cita os crimes que poderiam ser imputados ao ex-ministro da Justiça e Segurança Pública. Crítico contumaz de Bolsonaro, o magistrado afirma, no despacho desta segunda-feira (27), que ninguém está acima da lei, nem o presidente da República, e manda recados ao Palácio do Planalto. O ministro faz referências a um jurista que diz que o presidente deve ficar no poder “enquanto a bem servir” e a outro que fala em “neutralizar a ação do chefe do Executivo”. Além disso, diz que o presidente está sujeito “às consequências jurídicas e políticas de seu próprio comportamento” e que ninguém tem legitimidade para “vilipendiar a Constituição”.
Ao solicitar a instauração do inquérito para apurar os relatos de Moro, o procurador-geral da República, Augusto Aras, citou o possível cometimento de oito crimes. O ex-ministro da Justiça, de acordo com interlocutores de Aras, pode ser enquadrado em três deles: denunciação caluniosa, crime contra a honra e prevaricação. Como Celso de Mello atendeu ao pedido integral de Aras, tanto o ex-juiz da Lava Jato quanto Bolsonaro são considerados tecnicamente investigados. Em sua decisão, porém, o ministro do Supremo cita Moro apenas para fazer referência ao que disse em relação ao chefe do Executivo. “O eminente chefe do Ministério Público da União assim fundamentou o seu pedido de instauração de inquérito, para apuração de fatos alegadamente criminosos mencionados pelo senhor Sérgio Fernando Moro no pronunciamento acima referido”, escreveu. O pedido de Aras foi apresentado ao STF na última sexta-feira (24), horas depois de o então ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, anunciar seu pedido de demissão do governo com sérias acusações a Bolsonaro. De acordo com o juiz que conduziu a Lava Jato, o presidente pretendia tirar Maurício Valeixo da diretoria-geral da Polícia Federal para aumentar a influência na corporação e ter acesso a informações sobre investigações em curso, o que a previsão de autonomia da corporação não permite. "O presidente queria alguém que ele pudesse ligar, colher informações, relatório de inteligência. Seja o diretor, seja o superintendente”, afirmou Moro.
No pronunciamento em que se despediu do Executivo, Moro também disse não ter assinado a demissão de Valeixo da PF, como foi publicado inicialmente no Diário Oficial e alardeado pelo chefe do Executivo e outros integrantes do governo. Uma nova versão do ato foi publicada posteriormente, sem a assinatura de Moro. Após as acusações, o diretor-geral da PF indicado por Moro foi substituído por Alexandre Ramagem, então diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e amigo de Carlos Bolsonaro, vereador do Rio de Janeiro e investigado pela PF por disseminação de notícias falsas. Na decisão de 17 páginas em que manda investigar a veracidade das acusações, Celso de Mello ressalta que “absolutamente ninguém tem legitimidade para transgredir e vilipendiar as leis e a Constituição”. “A ideia ínsita ao princípio republicano traz consigo a noção inafastável de responsabilidade, inclusive a de responsabilidade criminal, pois —reitere-se— ninguém está acima da autoridade das leis e da Constituição da República, ainda mais se se considerar um dado institucionalmente relevante cuja razão de ser decorre, essencialmente, do modelo democrático, que faz instaurar e que consagra o império da lei (“rule of law”)”, diz.
O magistrado também argumenta que a forma republicana de governar exige “um regime de responsabilidade a que se deve submeter, de modo pleno, dentre outras autoridades estatais, o próprio chefe do Poder Executivo da União”. Para Celso de Mello, a Constituição permite que o presidente seja investigado e a jurisprudência do Supremo é “inquestionável” nesse sentido. “Nem a imunidade formal prevista no artigo 51, inciso I, da Constituição Federal, tampouco a cláusula de exclusão inscrita no artigo 86, § 4º, dessa mesma Carta Política, inibem a possibilidade de instaurar-se, na espécie, procedimento de investigação penal, para o fim de coligir elementos de prova, em ordem a apurar a materialidade de eventos supostamente delituosos cuja autoria possa vir a ser atribuída ao senhor presidente da República”, afirma. Segundo o decano do STF, o Legislativo tem de ser acionado apenas para autorizar a abertura de ação penal caso a investigação tenha como consequência a apresentação de denúncia da PGR contra Bolsonaro.
Celso de Mello frisa, ainda, que o presidencialismo reserva grandes poderes ao presidente da República, que é, ao mesmo tempo, “chefe de Estado, chefe de governo e chefe da administração pública federal”. Isso, porém, não o livra de responder por seus atos, mesmo que durante o mandato, de acordo com o magistrado. “Não obstante a posição hegemônica que detém na estrutura político-institucional do Poder Executivo, ainda mais acentuada pela expressividade das elevadas funções de Estado que exerce, o presidente da República —que também é súdito das leis, como qualquer outro cidadão deste país— não se exonera da responsabilidade penal emergente dos atos que tenha praticado, pois ninguém, nem mesmo o chefe do Poder Executivo da União, está acima da autoridade da Constituição e das leis da República”, observa. Este não é o primeiro caso com potencial para criar animosidades entre Celso de Mello e Bolsonaro. Em mais de uma oportunidade em que houve algum conflito entre os poderes, o decano do STF foi o responsável por dar a resposta da Corte às investidas do chefe do Executivo. Bolsonaro, por sua vez, que não costuma fazer críticas diretas a integrantes do Supremo, já voltou sua artilharia contra o ministro. Em agosto do ano passado, o presidente criticou a posição do decano do STF no julgamento que equiparou a homofobia ao crime de racismo e acusou Celso de Mello de interferir na autonomia do Legislativo. No voto sobre o caso, o ministro fez uma defesa enfática das minorias e disse que a frase da ministra Damares Alves de que meninos vestem azul e meninas vestem rosa é uma “ofensa à diversidade de ao pluralismo que caracterizam uma sociedade democrática”. No mesmo discurso em que comentou o voto do decano sobre a homofobia, Bolsonaro também reclamou que foi “esculachado” por Celso de Mello na sessão em que a corte derrubou medida provisória que transferia as competências de demarcação de terras indígenas da Funai para o Ministério da Agricultura.
Na ocasião, o ministro disse que o comportamento de Bolsonaro ao editar duas vezes uma MP com o mesmo teor na mesma Legislatura , o que é proibido, “traduz uma clara transgressão da Constituição”. “Parece ainda haver na intimidade do poder hoje um resíduo de indisfarçável autoritarismo", afirmou à época, o que rendeu a queixa do chefe do Executivo. "Não houve má fé por parte da minha assessoria, foi uma bobeada. Fui esculachado por um ministro do STF. Todo direito de dar seu voto contra nossa MP, mas a maneira como fui tratado pessoalmente dói meu coração”, disse Bolsonaro. Celso voltou a criticar o presidente da República dois meses depois, em outubro do ano passado, quando o presidente publicou um vídeo nas redes sociais em que ele seria um leão solitário lutando contra hienas, sendo uma delas representada pelo STF. O decano do Supremo foi o primeiro a criticar a publicação. "A ser verdadeira a postagem feita pelo senhor presidente da República em sua conta pessoal no Twitter, torna-se evidente que o atrevimento presidencial parece não encontrar limites na compostura que um chefe de Estado deve demonstrar no exercício de suas altas funções, pois o vídeo que equipara, ofensivamente, o Supremo Tribunal Federal a uma 'hiena' culmina, de modo absurdo e grosseiro, por falsamente identificar a Suprema Corte como um de seus opositores", apontou o ministro em nota. No último dia 23, Celso de Mello também incluiu formalmente Bolsonaro como parte no processo em que dois advogados pedem para o Supremo obrigar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, a explicar a situação dos pedidos de impeachment contra o chefe do Executivo. Naquela decisão, Celso de Mello não indicou se acolherá as solicitações, mas explicou que, além da Advocacia-Geral da União, que representa o Executivo perante o Judiciário, Bolsonaro também precisa ser incluído como parte na ação.
*”STF discute relatoria de inquérito contra Bolsonaro após aposentadoria de Celso de Mello”* - Os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) já começaram a discutir o futuro do inquérito que investiga as acusações do ex-ministro Sergio Moro contra o presidente Jair Bolsonaro. Integrantes da corte demonstram preocupação com a possibilidade de a investigação não ser concluída até novembro, quando o relator da matéria e decano do tribunal, ministro Celso de Mello, se aposentar. Se isso ocorrer, o STF terá que decidir quem será o novo responsável pelo caso. O mais comum é o novo ministro herdar os processos do magistrado que deixa a corte. A intenção de uma ala de ministros é impedir que o inquérito fique nas mãos do indicado de Bolsonaro, pois isso poderia abrir margem para interferência do chefe do Executivo no caso. O presidente foi acusado por Moro de tentar interferir na autonomia da Polícia Federal para colher informações sobre investigações em curso.
Ministros ouvidos pela reportagem lembram de situações em que a corte não seguiu o rito natural e repassou o espólio do magistrado que deixou o STF para um integrante antigo do tribunal, e não para o novato na corte. Isso ocorreu, por exemplo, quando o então ministro Joaquim Barbosa anunciou sua aposentadoria precoce e os processos foram para o ministro Luís Roberto Barroso, em vez de Edson Fachin, que havia entrado no seu lugar. Contribuiu para essa troca a demora da então presidente Dilma Rousseff em indicar um sucessor para Barbosa. Integrantes do STF ponderam, contudo, que o precedente demonstra que é possível fazer uma manobra similar neste ano. Não há uma regra clara quanto a isso no regimento interno. Outro desenho, ainda, é que qualquer outro ministro peça para si o acervo do decano. Alterações como essa foram feitas no passado. Após a morte de Teori Zavascki, em janeiro de 2017, o STF decidiu que a relatoria da Lava Jato seria submetida a um sorteio para evitar que o seu substituto tivesse de assumir a vaga já com esse ônus. A morte de Zavascki coincidiu com a finalização da delação da construtora Odebrecht. Nesse caso, houve uma distribuição por sorteio e o caso ficou com Edson Fachin.
Além das situações em que ministros deixam o STF, também é normal haver a substituição de relatores quando há troca na Presidência da corte, o que ocorrerá em setembro deste ano. Uma hipótese aventada entre os ministros é fazer com que o atual presidente, Dias Toffoli, não herde os processos de Luiz Fux, que assumirá o comando da corte. Assim, Toffoli aguardaria dois meses e ficaria, na verdade, com o acervo processual de Celso de Mello. Ao novo ministro, caberia responder pelos casos atualmente na mão de Fux. Nesse caso, também haveria uma dança das cadeiras nas turmas da corte. Esses colegiados são compostos por cinco ministros cada, com exceção do presidente. A ideia seria viabilizar a ida de Toffoli para a Segunda Turma, responsável por julgar a maioria das ações da Lava Jato, em vez de assumir a cadeira de Fux na Primeira Turma. Essa engenharia, no entanto, ainda está em negociação. Nesta terça-feira (28), o ministro Gilmar Mendes afirmou, ao participar de uma videoconferência organizada por investidores, que “em princípio” a responsabilidade da apuração sobre as acusações do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública ficará com o sucessor de Celso de Mello.​ Gilmar também estimou que o inquérito deva ser concluído em um prazo de 90 a 120 dias, o que poderia evitar a discussão sobre o futuro da relatoria do caso.
O único prazo estabelecido até agora é para que Moro preste depoimento à Polícia Federal, o que deverá ser feito em 60 dias. Nos bastidores, entretanto, não há convicção sobre a celeridade da investigação. Celso de Mello é conhecido por tocar os processos em ritmo próprio e ter muito cuidado ao tomar decisões. ​Também é provável que seja necessário realizar outras diligências, além da oitiva de Moro, como perícia em celulares e em eventuais provas que ambos venham a apresentar.
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*”Empregos de 5 milhões de trabalhadores formais são afetados após pandemia”* - Ao menos 5 milhões de trabalhadores com carteira assinada no Brasil já tiveram seus empregos afetados de algum modo desde o início da crise do coronavírus no país, seja por demissão, seja suspensão de contrato, seja corte de jornadas e salários. O número representa quase 15% do estoque de trabalhadores formais no país. O Brasil tinha 33,6 milhões de empregados no regime da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) em fevereiro, segundo o IBGE. De acordo com o Ministério da Economia, ao menos 1 milhão de trabalhadores ficaram aptos a solicitar o seguro-desemprego após o agravamento da pandemia. Em 45 dias, entre 1 março e 15 de abril, 804 mil pessoas conseguiram acessar benefício –no ano passado foram 866 mil. No entanto, segundo o governo, em razão das medidas restritivas nos estados, 200 mil desempregados não conseguiram ir às agências do Sine (Sistema Nacional de Emprego) para solicitar o benefício. Por este cálculo, ao menos 1 milhão de pessoas já foram demitidas no período da crise e passaram a ter direito ao benefício, 138 mil a mais do que no mesmo período do ano passado –uma alta de quase 16%. Em outra frente, desde o início de abril, 4,3 milhões de trabalhadores formais tiveram o contrato suspenso ou jornadas e salários reduzidos por até três meses. A maior parte teve contrato integralmente suspenso, conforme parcial apresentada na última semana. O governo não atualizou esse detalhamento e afirma que ainda planeja divulgações periódicas para o dado. Nesta terça-feira (28), o Ministério da Economia apresentou os dados do seguro-desemprego e ponderou que há represamento nos benefícios. O problema distorceu os dados do governo. "Temos uma pequena fila, que estamos dando conta rapidamente. Essa demanda reprimida não passa de 200 mil em março e abril", disse o secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Bianco.
“Com os postos do Sine sem atendimento, há uma demanda represada de pedidos do seguro-desemprego. A média de concessão no ano passado estava em torno de 92%. Então, seguindo essa média, teria mais 180 mil trabalhadores no aguardo do benefício”, afirma Sérgio Luiz Leite, representantes da Força Sindical no Codefat (Conselho Deliberativo do FAT, responsável pelo pagamento do seguro-desemprego). “Não tenho dúvidas de que o benefício emergencial tem evitado demissões. Por isso, temos defendido sua ampliação, valores e tempo, para que se utilize recurso público prioritariamente para manter emprego. Isso seria um indutor para a retomada da economia”, afirma. Segundo o Ministério da Economia, a contabilização foi prejudicada pelo fechamento das unidades do Sine, administradas pelos estados e municípios, levando a um represamento de requerimentos. A pasta estima que há 200 mil trabalhadores demitidos e aptos ao benefício que não conseguiram fazer o pedido. O governo ressalta que é possível solicitar o auxílio pela internet. Técnicos do governo trataram os dados como positivos. Na avaliação do Ministério da Economia, a alta nos pedidos, considerando o represamento, não é expressiva. Seria, principalmente, um sinal de que o programa de preservação de empregos funciona: cortes de jornadas e salários, propostos pelo governo por meio de MP (medida provisória) estariam preservando postos de trabalho. "Por enquanto, neste primeiro instante de crise, passado mais de um mês, não verificamos nenhuma explosão [nas demissões]", disse o secretário-executivo do Ministério da Economia, Marcelo Guaranys. No programa, o governo entra com uma compensação em dinheiro para esses trabalhadores atingidos. A pasta estima que as pessoas tiveram, em média, uma redução de 15% da remuneração, já considerando a compensação do governo. "Claro que temos, sim, um aumento de desemprego, vamos ter aumento, mas o Brasil está conseguindo preservar muitos empregos", afirmou Bianco. O dado do seguro-desemprego é o primeiro indicador oficial sobre o mercado de trabalho divulgado após o agravamento da crise com o coronavírus. Até então, o país vivia uma espécie de apagão estatístico nessa área. Ainda não há, portanto, um dado preciso sobre a situação do emprego no país. O Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), que apresentava mensalmente o número de trabalhadores com carteira assinada, foi suspenso pelo governo e ainda não há nenhum dado deste ano. A última Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) —pesquisa conduzida pelo IBGE por amostragem para medir informalidade taxa de desemprego do país-- traz dados até fevereiro, antes da crise. A pesquisa ainda terá de mudar por conta da pandemia e passará a ser feita pelo telefone, modelo sujeito a distorções. Em outros países, como nos Estados Unidos, os dados do seguro-desemprego são liberados semanalmente pelo Departamento de Trabalho. Em cinco semanas, por exemplo, 26 milhões de americanos solicitaram o auxílio, indicado que foram fechados no mercado de trabalho local praticamente todos os postos criados nos últimos dez anos.
Até dezembro de 2018, o então Ministério do Trabalho (hoje incorporado à Economia) mantinha ativo o Painel do Seguro-Desemprego. Segundo a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, o painel foi desativado porque a quantidade de acessos não justificava a manutenção do sistema, “que exigia emprego de recursos e servidores.” O seguro-desemprego é uma assistência financeira temporária paga pelo governo a trabalhadores dispensado sem justa causa. O valor do benefício varia de R$ 1.045 a R$ 1.813,03. A secretaria também informou neste mês que o Caged continuará suspenso até que haja a completa atualização das informações por parte das empresas. No início deste ano, o governo já tinha mudado a divulgação dos dados devido à migração do sistema usado pelas empresas para declarar dados como admissões, demissões, férias e reajustes salariais. Enquanto usavam o Caged, os empresários tinham até o dia 7 de cada mês para lançar as informações. Com a mudança para o eSocial (sistema de escrituração que promete simplificar a prestação de informações), a data limite mudou para o dia 15. Segundo o ministério, 17 mil empresas deixaram de lançar corretamente as informações de demissões realizadas em janeiro no sistema. Com a pandemia, o ministério também afirma que as empresas passaram a ter dificuldade de enviar os dados, já que muitas estão fechadas e com dificuldade de fazer contato com escritórios de contabilidade.
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*”Procuradoria apura protesto em que funcionários se ajoelham na PB pela volta do comércio”* - A Procuradoria do Trabalho em Campina Grande (PB) instaurou procedimento na manhã desta terça-feira (28) para apurar denúncias de que funcionários de lojas da cidade teriam sido obrigados pelos patrões a participar de protesto que pedia a reabertura do comércio. Logo após a manifestação, ocorrida nesta segunda-feira (27), no centro de Campina Grande, fotografias de funcionários rezando ajoelhados em frentes às lojas fechadas circularam na internet. O presidente do Sindicato dos Comerciários de Campina Grande, José Nascimento Coelho, declarou que recebeu algumas denúncias de empregados que foram ameaçados de demissão se não estivessem presentes no ato. “Alguns nos informaram que a pressão foi feita de maneira direta. Disseram que seriam demitidos se não fossem ao protesto”, afirmou. Ele não confirmou se os funcionários teriam também sido obrigados a se ajoelhar para rezar. “Não tenho essa informação. Isso precisa ser apurado. Ninguém nos relatou ainda que houve esse tipo de obrigação”, disse. Diante das fotografias que circularam na internet e da veiculação de notícias em órgãos de imprensa local, a procuradora do Trabalho Andressa Lucena instaurou procedimento formal para apurar o caso. Ela informou que ainda não havia provas de que as pessoas teriam sido coagidas a participar do protesto. Declarou também, na tarde desta terça-feira (28), que não havia recebido denúncia formal. “As fotografias circularam na internet e na imprensa. Resolvi instaurar um procedimento investigatório para apurar se houve algum tipo de coação. Até agora, não há provas”, informou.
O decreto municipal que restringia a abertura das lojas em Campina Grande valia até o dia 19 de abril. Depois desta data, a regra não foi prorrogada. No entanto, há um decreto estadual em vigor até o dia 3 de maio que proíbe a abertura do comércio no estado. A Paraíba tem 633 casos confirmados do novo coronavírus e 53 mortes em decorrência da doença. Em Campina Grande, foram contabilizados 42 pacientes com a Covid-19.
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*”Senadores querem liberar estados a fazer dívida na crise com garantia da União”* - Senadores tentam incorporar ao projeto de socorro a estados e municípios a possibilidade de que entes da federação possam ampliar o endividamento com garantias da União. O Senado está prestes a votar a proposta de ajuda financeira a estados e municípios durante a crise do coronavírus. O Ministério da Economia é contra a proposta. Segundo técnicos da pasta, ela poderia estender o efeito da crise nas contas públicas para os próximos anos. O tema estava previsto na primeira versão do plano de socorro finalizado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Porém, foi retirado. O texto chegou ao Senado sem a medida. Agora, os senadores tentam incluir a garantia na proposta. O projeto deverá ser votado no próximo sábado (2). "As regras de financiamento precisam ser flexibilizadas. Vamos propor que isso esteja garantido no projeto que será votado", afirmou o senador Esperidião Amin (PP-SC). Amin foi responsável pela decisão da Mesa Diretora do Senado que anexou o texto da Câmara a um que já estava na Casa. O novo projeto está sendo construído diretamente pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Ele é o relator da proposta. A negociação é feita com a equipe de Paulo Guedes (Economia). No texto, contudo, não há ainda previsão para que o endividamento de governadores e prefeitos possa ser ampliado. Inicialmente, Maia defendeu que estados possam contratar empréstimos e financiamentos. O limite seria 8% da receita corrente líquida do ano passado (cerca de R$ 50 bilhões). O reforço no caixa seria usado para custear medidas de enfrentamento ao novo coronavírus e para estabilizar a arrecadação em 2020. Sob duras críticas da equipe de Guedes, o presidente da Câmara retirou essa medida do pacote de socorro aprovado pelos deputados.
Técnicos dizem acreditar que a ampliação da margem de endividamento não se restringiria ao combate à pandemia. O dinheiro poderia ser usado inclusive nos próximos anos. Quando o Tesouro dá a garantia para a operação financeira, o prejuízo será dos cofres públicos em caso de calote. Medida semelhante estava prevista no plano Mansueto, em referência ao secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida. Só que para ter acesso aos recursos, estados e municípios teriam de adotar medidas de contrapartida. Entre elas, estavam reduzir benefícios tributários e privatizar empresas. A presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça do Senado), Simone Tebet (MDB-MS), defende que, caso a permissão de os estados contraírem o financiamento não esteja no texto, o tema possa ser analisado em outro projeto de lei. A medida seria votada então após o plano de socorro. "Tudo que o Davi puder fazer para ajudar estados e municípios, ele vai fazer. Não adianta colocarmos no projeto e o presidente [Jair Bolsonaro] vetar. Por isso, eu defendo que seja feito um novo projeto de lei, se for preciso”, disse Tebet. O pacote que vem sendo costurado entre Guedes e Alcolumbre prevê uma ajuda direta aos estados e municípios. Governadores e prefeitos pedem ao Palácio do Planalto mais dinheiro para enfrentar a Covid-19. Os recursos, dizem, manterão a máquina pública e pagarão salários.
Essa transferência tem efeito no Orçamento federal. O dinheiro sai do caixa do Tesouro e vai para os governos regionais. Por isso, Guedes quer evitar uma soma vultuosa. O Ministério da Economia avalia a possibilidade de aumentar o total repassado diretamente para estados e municípios durante a pandemia. Por enquanto, o valor pode ficar entre R$ 50 bilhões e R$ 60 bilhões. Há duas semanas, Guedes propôs um valor fixo, de R$ 40 bilhões, divididos em três meses, para repasse direto. Esse valor, porém, é considerado insuficiente por senadores e governadores. "O governo fez uma média das perdas financeiras dos estados e municípios entre os meses de março, abril e maio, e se chegou ao número de 30% de perdas. Segundo a equipe econômica, está se colocando em torno de R$ 50 bilhões, que é exatamente o valor que estados e municípios estão perdendo na pandemia", afirmou Tebet. Mais amplo do que deseja a equipe econômica, o pacote de socorro articulado por Maia prevê que toda a perda de arrecadação de ICMS (imposto estadual) e de ISS (municipal), em relação ao ano passado, seja compensada. Essa conta seria paga pelo governo federal. A equipe de Guedes contesta esse modelo pela falta de previsibilidade da despesa.
Alguns estados registram uma queda de 30% na receita de ICMS --taxa usada pela Câmara para estimar o custo do pacote dos deputados aos cofres públicos neste ano (R$ 89,6 bilhões). O governo calcula que, a cada 10% de desfalque nas contas regionais, a União terá de pagar R$ 28 bilhões aos entes. O custo total da proposta ficaria em R$ 149 bilhões em caso de perdas de 50% na arrecadação. Se o patamar for de 70%, o impacto seria de R$ 205 bilhões. Ainda nesta terça-feira (28), o presidente do Senado anunciou aos senadores que conseguiu a garantia do governo de incorporar à medida a garantia de que estados e municípios possam suspender, também pelo mesmo período, o pagamento das dívidas com organismos internacionais. Segundo Alcolumbre, essa medida também irá aliviar os cofres locais. "O projeto não terá apenas a suspensão de dívidas com instituições públicas brasileiras. A gente conseguiu estender a todos os organismos internacionais e isso vai se espraiar para vários estados e municípios. Apresentamos como uma alternativa ao texto do governo e o governo sinalizou que vai aceitar como uma gestão. Só isso vai aliviar o caixa de muitos estados com os organismos internacionais que terão o aval da União."
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*”'E daí? Lamento, quer que eu faça o quê?', diz Bolsonaro sobre recorde de mortos por coronavírus”* - O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta terça-feira (28) que lamenta, mas não tem o que fazer em relação ao novo recorde de mortes registradas em 24 horas, com 474 óbitos, ultrapassando a China no número total de óbitos pelo novo coronavírus. "E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre​", afirmou ao ser questionado sobre os números. Em entrevista na porta do Palácio da Alvorada, Bolsonaro disse que cabe ao ministro da Saúde, Nelson Teich, explicar os números. "Eu tenho que falar com o ministro, ele que fala de número. Eu não falo sobre a questão da saúde. Talvez eu leve na quinta-feira para fazer uma live aqui", disse.
O recorde diário anterior do Brasil era de 23 de abril, com 407 novas vítimas. O país é agora o 9º país com mais mortes no mundo. Segundo o boletim mais recente do Ministério da Saúde, ao todo 5.017 pessoas morreram por Covid-19. A China, por sua vez, registra 4.637 mortos, segundo a Universidade Johns Hopkins, nos EUA, que monitora a pandemia, A primeira morte por coronavírus na China (e no mundo) foi confirmada em 11 de janeiro. No Brasil, a confirmação do primeiro óbito ocorreu em 17 de março.Em número de pessoas infectadas, o país tem 71.886 casos confirmados e está em 11º lugar, ainda atrás da China, que tem 83.938 casos.​ "As mortes de hoje, a princípio, essas pessoas foram infectadas há duas semanas. É o que eu digo para vocês: o vírus vai atingir 70% da população, infelizmente é a realidade. Mortes vão haver. Ninguém nunca negou que haveria mortes", continuou o presidente. Depois de questionar e ser informado de que sua entrevista estava sendo transmitida ao vivo em redes de televisão, Bolsonaro buscou dar uma uma declaração mais amena sobre o assunto. "Lamento a situação que nós atravessamos com o vírus. Nos solidarizamos com as famílias que perderam seus entes queridos, que a grande parte eram pessoas idosas, mas é a vida. Amanhã vou eu. Logicamente que a gente quer, se um dia morrer, ter uma morte digna, né? E deixar uma boa história para trás", disse o presidente.
Apesar de não ter falado sobre nenhuma proposta para conter a transmissão do coronavírus, Bolsonaro voltou a dizer que está preocupado com a situação econômica e o aumento do desemprego no país. Ele disse que conversou nesta terça com um grupo de 200 empresários do Rio de Janeiro e conversou com eles sobre a reabertura das atividades econômicas. “O próprio pessoal da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) de hoje disse que tem que ser retomado.” O presidente disse que o assunto já havia sido discutido com a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e afirmou ainda que pediu ao Ministério da Saúde que elabore um parecer sobre a retomada de campeonatos de futebol em estádios sem torcidas e com portão fechado. "Ele (o ministro da Saúde) vai estudar, se for o caso, dar um parecer favorável neste sentido", complementou o presidente. Embora tenha feito o pedido, Bolsonaro disse que não vai "obrigar" Teich a determinar a reabertura de atividades pelo país. "Não vou dar parecer [sobre relaxamento do isolamento social]. Não vou obrigar o ministro da Saúde a fazer nada. Eu sugiro para todos os ministros. Hoje tive reunião de ministros e fiz várias sugestões", afirmou. O presidente ainda foi questionado sobre decisão judicial que garantiu ao jornal "O Estado de S.Paulo" acesso ao resultado de seus exames para Covid-19. Ele afirmou que a lei garante o anonimato dos exames e repetiu que não teve coronavírus. “Vocês não me viram rastejando aqui, com coriza, eu não tive [covid]”, disse. "Quero mostrar que eu tenho o direito de não mostrar (os exames)", continuou Bolsonaro.
+++ A bestialidade do presidente é impressionante, mas precisa ser apontada tal qual o que é como entendimento político do mundo: essa crueldade é a forma neoliberal de enxergar a vida. É preciso pontuar o que é o neoliberalismo e quais são seus efeitos. Com os efeitos falamos de necropolítica, do cada um por si e que sobreviva o “mais forte”.
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CAPA – Manchete principal: *”Com mais de 5 mil mortes, país passa China, e Bolsonaro diz: ‘E daí?’”*
EDITORIAL DO GLOBO - *”Bolsonaro insiste em ter acesso especial à PF”*: O presidente Bolsonaro passou o fim de semana pronto para cometer mais um grave erro com a nomeação do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, para a vaga deixada por Sergio Moro na Justiça e Segurança Pública, bem como a do delegado Alexandre Ramagem na direção-geral da Polícia Federal. Depois de ouvir insistentes conselhos, consta que dos militares do Planalto, Bolsonaro recuou e cometeu metade do erro: nomeou Ramagem. Depois do depoimento prestado pelo ex-juiz Sergio Moro sobre as razões que o levaram a sair do governo, as nomeações desejadas pelo presidente começavam a fundamentar o teor da denúncia do ex-ministro: Bolsonaro deseja usar a Polícia Federal para lhe abastecerdeinformaçõessobreinquéritose,ficouevidente,prestar-lhefavores. O chefe do Executivo tem de ser informado pelos organismos de Estado devidos. A PF é uma polícia judiciária, para investigar infrações penais; nem é possível, num estado de direito, o presidente se informar desta maneira. Há protocolos a serem seguidos. Intervir em inquéritos, impensável. É a Agência Brasileira de Informações (Abin), da esfera do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), do ministro Augusto Heleno, um dos generais do Planalto, que tem esta função. Lá estava Alexandre Ramagem, com quem Bolsonaro, ao responder às acusações de Moro, disse que “interagia”. Deve querer continuar a interagir com ele na PF, e aqui está o possível embrião de mais uma crise.
De acordo com o ex-ministro Moro, Bolsonaro está preocupado com investigações da PF feitas no âmbito de inquérito aberto pelo presidente do Supremo, Dias Toffoli, e conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, para chegar às origens de fake news sobre a Corte e de ameaças digitais a ministros. Os agentes estariam próximos do vereador Carlos Bolsonaro e do “gabinete do ódio” que funcionaria no Planalto para alvejar biografias de supostos inimigos, sob a gerência do filho vereador carioca. A abertura de outro inquérito sobre a organização e o financiamento das manifestações antidemocráticas das últimas semanas, também com o mesmo ministro, aumenta os problemas para Ramagem na sua interação com Bolsonaro. Considerado um policial competente, e que caiu nas graças do presidente ao chefiar sua segurança na campanha, Ramagem faria uma carreira sem reparos na PF, onde é respeitado. Agora terá de se equilibrar entre a volúpia antiinstitucional do presidente e uma corporação que tem fortes anticorpos. O recuo na intenção de promover Jorge Oliveira, advogado, ex-major da PM de Brasília, da Secretaria-Geral da Presidência para a Justiça, livrou o presidente de enfrentar duras contestações da Justiça e no Congresso. Ramagem é amigo recente dos Bolsonaro, mas Oliveira é visto como quase-filho e quase-irmão. Seria demais. A ida do advogado-geral da União, André Mendonça, para a Justiça e Segurança Pública apaziguou esta área. Diante de problemas, Bolsonaro costuma se voltar para o clã. Pode ser um movimento psicologicamente compreensível. Mas o Brasil não é a República Dominicana de Trujillo nem o Haiti de Duvalier. Isso fica demonstrado pela abertura de inquérito, pelo ministro Celso de Mello, para avaliar as denúncias do ex-ministro. O Estado não tem donos.
*”Mortos no país passam de 5 mil – Ministro reconhece agravamento da epidemia; Bolsonaro pergunta: ‘E daí?’”* - Com o maior número de registros de óbitos por Covid-19 em um único dia — 474 —, o Brasil chegou ontem à marca de 5 mil mortos pela doença, ultrapassando o total de vítimas fatais da China, onde a pandemia começou, e está na nona posição entre os países mais afetados. Segundo o último balanço do Ministério da Saúde, o Brasil já teve 5.017 mortes, contra 4.637 na nação asiática. Aqui, o número de óbitos cresceu 10,4% entre segunda e ontem, e a quantidade de pessoas diagnosticadas com o novo coronavírus subiu para 71.886, ou 8,1% a mais do que no dia anterior (66.501). O ministro da Saúde, Nelson Teich, reconheceu, em entrevista coletiva, que há um “agravamento” da doença no país:
— É um número que vem crescendo, alguns dias atrás eu coloquei que isso poderia ser um acúmulo de acaso de dias anteriores que foi resgatado, mas, como a gente tem a manutenção de números elevados e crescentes, a gente tem que abordar isso como uma curva que vem crescendo, um agravamento da situação.
Já o presidente Jair Bolsonaro, ao ser informado por um repórter, na portaria do Palácio da Alvorada, que o Brasil havia passado a China em número de mortos, perguntou o que o jornalista queria que ele fizesse a respeito:
— E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre —afirmou, referindo-se ao seu sobrenome.
Momentos depois, o presidente disse se solidarizar com as famílias das vítimas:
—Mas é a vida. Amanhã vou eu. Logicamente, a gente quer ter uma morte digna e deixar uma boa história para trás.
As nações que registram maior número de óbitos são Estados Unidos, Itália, Espanha, França, Reino Unido, Bélgica, Alemanha e Irã. O Brasil é o seguinte no ranking, mas especialistas acreditam que o país pode chegar a dez mil óbitos já na segunda quinzena de maio, deixando pelo menos três nações para trás.
— A epidemia está caminhando. Foi da Ásia para a Europa e, agora, chegou às Américas. Sabemos que o país ultrapassará, em poucas semanas, o número de óbitos de países como Bélgica, Alemanha e Irã, onde há cada vez menos casos —explica o epidemiologista Roberto Medronho, coordenador do grupo de trabalho sobre Coronavírus da UFRJ. — O Brasil soube se preparar melhor do que Itália e Espanha, que registraram explosão de ocorrências por demorarem a implementar políticas de isolamento social. Mas nossos governantes estão cada vez mais pressionados para relaxar essas medidas, justamente no período em que o avanço da epidemia será mais veloz. O Brasil demorou 35 dias para ultrapassar a marca de 5 mil óbitos por coronavírus. No período equivalente em seus territórios, a Espanha já contava com 18,9 mil vítimas fatais, e a Itália, com 15,9 mil. Os EUA, por sua vez, já haviam registrado 37 mil mortes.
PICO EM MAIO
Para Medronho, ainda é arriscado calcular quando a epidemia do coronavírus chegará ao pico no país. Muitos cenários estatísticos apontam para a segunda quinzena de maio. No entanto, alerta o epidemiologista, é preciso levar em conta os cenários locais. Estados do Norte, como o Amazonas, já atingiram o colapso do seu sistema de saúde, e no Sudeste outros estão apertando o cerco à doença —caso do Rio, que inaugurou recentemente hospitais de campanha. Já a Região Sul ainda não constatou taxas elevadas de infecções. O epidemiologista adverte que a subnotificação de casos no Brasil é consideravelmente mais alta do que em outros países que registraram muitos casos de Covid-19. A doença, nos primeiros meses do ano, pode ter sido confundida no atendimento médico por casos de insuficiência respiratória. Pesquisador do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica da Unicamp, Benilton de Sá Carvalho avalia que o Brasil alcançará o teto de ocorrências entre o final de maio e início de junho. Ainda assim, dali até o fim da pandemia, há uma longa e desastrosa trajetória.
— Provavelmente chegaremos ao final do maio com mais de dez mil óbitos, mas isso é só metade da história. Segundo o padrão que vimos em outros países, a curva de redução dos casos tende a ser simétrica à do aumento. Ou seja, o coronavírus pode provocar mais de 20 mil mortes no Brasil.
Eliseu Alves Waldman, epidemiologista e especialista em saúde coletiva da USP, estima que o aumento médio da taxa de letalidade da Covid-19 no país seja de 6,5%. Esse índice tende acrescer para 8% a 10% na periferia das grandes cidades e em regiões onde o sistema de saúde já não consegue atendera todos os pacientes, como Manaus e Fortaleza.
— O número de pessoas circulando por bairros da elite e da classe média diminuiu radicalmente devido às campanhas de isolamento social. Mas o mesmo resultado não foi obtido entre os mais pobres, cujo modo de subsistência depende mais dos serviços —explica.
A diferente reação das classes sociais e de regiões do país à pandemia explicaria por que o Brasil está tendo mais dificuldades em conter o número de óbitos do que a China.
— Wuhan, o epicentro da epidemia, sofreu medidas mais restritivas, como o “lockdown”. Havia drones vigiando as ruas para denunciar quem violava a quarentena. Aqui, realizamos apenas medidas de isolamento social — compara Wadman. —Países como China, Alemanha e Portugal conseguiram limitar o avanço do coronavírus com um discurso homogêneo do poder público. Não vemos isso aqui ou nos Estados Unidos, onde cada estado investe em uma ação.
+++ A forma como foi formatado o texto do Globo faz com que a notícia seja bem crítica a Jair Bolsonaro e a sua postura contra o isolamento social.
*”Teich não revela plano para conter avanço da doença”* - No dia em que o país teve novo recorde no registro de mortes e ultrapassou a marca de 5 mil vítimas fatais de Covid-19, o ministro Nelson Teich e sua equipe chamaram uma coletiva de imprensa em cima da hora, já no início da noite, com restrição de perguntas dos jornalistas. A maioria ficou sem resposta. Não chegou a haver recusa expressa em responder às quatro questões permitidas, mas faltaram detalhes sobre como o governo pretende driblar as dificuldades já conhecidas: escassez de respiradores e de insumos para exames, incertezas sobre a eficácia dos testes rápidos e necessidade de recursos humanos com os devidos equipamentos de proteção individual.
Por um lado, Teich reconheceu um “agravamento da situação” diante da curva crescente de casos e mortes que não abre espaço para interpretações. Por outro, transpareceu uma certa passividade que não combina com o senso de urgência da pandemia, ao relatar, por exemplo, que está se “aproximando” dos governadores para tratar do enfrentamento à Covid-19. O formato de comunicação adotado por seu antecessor, Luiz Henrique Mandetta, também tinha problemas, com excesso de frases de efeito e um tanto de retórica. No entanto, era possível conhecer os planos, e também a falta deles, além da possibilidade de problematizá-los a partir das explanações dos técnicos. Agora, nem Wanderson Oliveira, remanescente da gestão Mandetta, e que trocou o colete do SUS pelo terno e gravata, consegue transmitir informação com algum detalhe sobre os próximos passos. Explicações aprofundadas de outrora deram lugar a uma fala visivelmente mais calculada. Sobre regras de contenção social, Teich também pouco falou. Disse o óbvio: que o Brasil é grande, que modelos devem ser customizados para cada realidade, mas não apresentou o que propõe. Poderia até alegar que ele está há apenas 12 dias no cargo, mas, com as centenas de mortes diárias pelo novo coronavírus, o tempo não é um aliado do ministro.
*”Mortes ocultas – Dados de cartórios mostram que outras doenças podem esconder casos de covid-19”* - As estatísticas oficiais podem não estar revelando o impacto real da Covid-19 no país. Dados do portal da transparência dos cartórios de Registro Civil mostram que, durante a pandemia, as mortes provocadas por síndrome respiratória aguda grave (SRAG) aumentaram 1.035% em relação ao mesmo período do ano passado. De 16 de março até ontem, foram atestados 1.692 casos, enquanto em 2019 houve apenas 149. Para especialistas, esses números podem ser o reflexo da subnotificação das infecções por coronavírus, que estariam sendo registradas como outras doenças.
NÚMEROS ALARMANTES
Em vários estados, verifica-se uma alta surpreendente do número de mortes por SRAG na comparação dos dois períodos. No Rio, subiu de nove para 225, um aumento de 2.400%. A escalada também foi grande em São Paulo, estado com mais casos de Covid-19 no país: saltou de 42 para 396, uma diferença de 842%. No Amazonas, onde o sistema de saúde entrou em colapso, esse percentual chegou a 4.475% porque foram 183 mortes por SRAG durante a pandemia, contra quatro no ano passado. Pernambuco tem um crescimento ainda maior (7.200%), pulando de sete para 511 ocorrências.
—Nos casos que atendo de problemas respiratórios, praticamente todos os exames dão positivo para Covid-19. O que está ocorrendo é que há muita subnotificação. Devido à falta de testes, muitos óbitos acabam sendo registrados com causas correlatas. Pneumonia, por exemplo, pode ser viral (como a Covid-19), bacteriana, provocada por fungos ou de natureza química. A tendência de complicações pela gripe comum tem sido de redução neste período, até porque aumentou a cobertura vacinal para a gripe — explicou o infectologista Edimilson Migowisky, da UFRJ.
Na cidade de São Paulo, as mortes provocadas por Covid-19 estão 168% acima do número divulgado pelas autoridades, segundo análise do epidemiologista Paulo Lotufo, da Universidade de São Paulo (USP). A informação foi publicada no blog do jornalista Helio Gurovitz, no portal G1. O especialista se baseou em dados fornecidos ao G1 pelo Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade, da Secretaria municipal de Saúde.
MAIS ÓBITOS EM SP
A coluna mostra que, em março, houve 743 mortes naturais em São Paulo a mais, ou 12,5% acima da média registrada no mesmo mês entre 2015 e 2019. Dessas, apenas 277 foram atribuídas oficialmente ao novo coronavírus. A hipótese é que as demais “tenham ficado escamoteadas pela falta de testes” para detectar a Covid-19. No Estado do Rio, as mortes por problemas respiratórios que aparecem no portal dos cartórios (Covid-19, pneumonia, SRAG e insuficiência respiratória) já representam 35,93% do total de óbitos por causas naturais. No mesmo período do ano passado, esse percentual era de 26,12%. Em todo o país, subiu de 28% para 32%. Chamam a atenção ainda na estatística do Rio os casos de Covid-19. Os cartórios registraram 1.431 mortes por coronavírus no período, enquanto os números oficiais de óbitos confirmados e em investigação no estado não chegam a 1.100. Há no portal ainda um outro dado que também pode esconder casos de Covid-19. No Rio, as mortes por causas indeterminadas chegaram a 263 neste período de pandemia. No ano passado, foram apenas três.
PONTA DO ICEBERG
Segundo Edmilson Migowisky, na maioria das mortes ocorridas em casa, o que tem ocorrido com mais frequência, os atestados são assinados sem a causa especificada. No protocolo atual de atendimentos na rede pública, só os pacientes em estado grave são internados e submetidos a teste para diagnosticar a doença. Em números absolutos, o total de mortes naturais no Estado do Rio passou de 15.142 para 15.416 no período analisado. Em todo o Brasil, houve menos atestados de óbito registrados: foram 109.656 este ano, contra 129.541 no ano passado. No entanto, os dados de 2020 estão sujeitos à revisão, pois os cartórios têm até oito dias para enviar os dados para o portal. Edimilson Migowisky observa ainda que, com o confinamento, caiu o número de mortes por acidentes de trânsito e de trabalho. Especialista em Saúde Pública, a professora da UFRJ Lígia Bahia afirmou que, na dúvida, o recomendável seria registrar esses óbitos como suspeitos de coronavírus e, se for o caso, revisar o dado depois:
— O que está aparecendo nas estatísticas é apenas a pontado iceberg de um problema maior que essa pandemia representa no Rio e no país. A disseminação do vírus é extremamente rápida.
+++ Some um povo que foi mal informado pela imprensa durante décadas com um presidente que é incentivador de fake news e da distorção da realidade e com a subnotificação de uma epidemia no país. O resultado é a falta de consciência sobre a gravidade da situação.
*”O início da agonia – Nas UPAs salas de emergências estão lotadas”* - ‘São 15 pacientes aqui, alguns em estado grave, e não há médicos. Também não há lugar para pôr os corpos, que se acumulam em salas e corredores”. O drama, relatado por um funcionário da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Complexo do Maré, na Zona Norte do Rio, revela que, assim como os hospitais, as portas de entrada para o sistema público de saúde da cidade beiram o colapso. A dificuldade para transferir pacientes com a Covid-19 para hospitais sobrecarregados vem provocando um efeito cascata. Por volta das 14h de ontem, 25 das 30 UPAs estaduais e municipais do Rio — 83% — estavam com suas salas vermelhas lotadas. São os espaços destinados a doentes em situação mais grave, que precisam ser levados a centros médicos de grande porte. A rigor, UPAs não devem servir como locais de internação de longa permanência, mas é justamente isso que se vê no Rio. Em 16 unidades (53%), o limite de atendimento foi atingido ou extrapolado. Há 465 pacientes no sistema, muitos deles aguardando transferências em leitos, macas ou mesmo cadeiras.
—O principal gargalo é que não há mais vagas disponíveis nos hospitais, o que causa esse colapso — disse Alexandre Telles, presidente do Sindicato dos Médicos do Rio (SinMed-RJ).
No fim da madrugada de ontem, na UP Ada Tijuca, o motorista Pedro Bezerra Costa, de 63 anos, viveu um drama dentro do drama. Ele morreu sentado em uma cadeira, depois de três dias à espera de uma vaga em uma UTI. Não teve tempo de ser transferido.
— Meu pai tinha todos os sintomas do coronavírus. Ele estava desde sábado numa sala de isolamento improvisada — contou Flávia Bezerra, filha do motorista.
A Secretaria estadual de Saúde, que administra a UPA da Tijuca, informou que ele foi atendido por uma equipe multidisciplinar e que, apesar dos esforços da unidade, não conseguiu vaga para que fosse transferido. Para se ter uma ideia da situação, a UPA de Manguinhos conta com 17 leitos, mas, ontem, tinha 31 pessoas internadas. Na unidade da Maré, funcionários denunciaram que pacientes com coronavírus dividiam espaço com portadores de outras doenças, formando um cenário caótico. Falta espaço físico nas UPAs para isolar pacientes. A unidade da Maré tinha, anteontem, cinco corpos em salas e corredores da unidade. Não havia onde guardá-los.
—Corpos ficam na UPA por até 36 horas. As funerárias alegam que estão sobrecarregadas —disse uma funcionária.
Um outro problema grave na rede é a falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Na UPA da Vila Kennedy, há relatos de que funcionários precisam usar um único capote, descartável, ao longo de um dia inteiro, o que não é recomendável. Ali, nove profissionais foram afastados do serviço porque contraíram o coronavírus. Diretora do Sindicato dos Enfermeiros do Estado do Rio, Líbia Berllusci chorou ontem a perda de uma colega que trabalhava na UPA de Austin, em Nova Iguaçu:
— As UPAs da Baixada e do município do Rio não têm mais respiradores nem camas.
WITZEL ADMITE COLAPSO
Ontem, em entrevista ao site “O Antagonsita’’ , o governador Wilson Witzel reconheceu o caos que já se instala na rede pública do Rio:
—Hoje, do jeito que está, estamos em colapso.
A Secretaria municipal de Saúde reconheceu que suas UPAs vêm tendo uma grande procura de pessoas com quadro suspeito de Covid-19. O órgão fez um apelo para que as pessoas com sintomas leves fiquem em casa e afirmou que, apesar da demanda, a rede da prefeitura está conseguindo colocar em prática mecanismos de resposta para situações de gravidade e garantindo EPIs aos funcionários (460 mil capotes foram distribuídos e 1,1 milhão de máscaras N-95, adquiridas).
*”Especialistas sugerem utilização de leitos privados”*
*”O risco do falso negativo – Confiabilidade do teste rápido é baixa, diz estudo”*
*”Anvisa libera exames para Covid-19 em farmácias”*
*”EUA já tem um milhão de casos – Trump diz que Brasil enfrenta ‘surto’ de Covid-19 e que cogita restrições”*
*”Novos titulares – AGU substitui Moro; Oposição vai à Justiça contra indicado à PF”*
*”Exército: governo pressionou por revogação de portarias”* - O Comando Logístico do Exército admitiu ao Ministério Público Federal (MPF) que revogou portarias sobre rastreamento de armas e munições por pressão do governo federal e das redes sociais. O caso gerou uma nova frente de suspeitas contra o presidente Jair Bolsonaro, que é alvo de uma investigação preliminar na Procuradoria da República do Distrito Federal para saber se houve interferência indevida no Exército para a revogação das portarias, o que na prática afrouxou o controle da venda de armas e munições no país. A resposta do Exército foi enviada ontem à Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, órgão do MPF, que havia pedido esclarecimentos. Em ofício, a procuradora federal dos direitos do cidadão Deborah Duprat considerou insuficientes as explicações do Exército e encaminhou os documentos para a investigação preliminar aberta na primeira instância. Deborah, que é subprocuradora-geral da República, considerou inadequado o fato de a revogação não ter sido formalmente registrada em um processo administrativo.
O próprio Bolsonaro havia anunciado em suas redes sociais que determinou ao Exército a revogação das portarias, que estavam sendo criticadas pelos usuários de armas. “Tão logo publicadas oficialmente as referidas portarias, surgiram inúmeros questionamentos e contrapontos levantados por diversos setores da sociedade, especialmente nas mídias sociais, e da administração pública em razão da tecnicidade do tema. Nesse viés, foram verificadas algumas oportunidades de melhoria em pontos de difícil compreensão, pelo público alcançado pelas normas em comento, visando atingir total transparência na motivação das medidas de fiscalização editadas”, escreveu o comandante logístico do Exército Laerte de Souza. O Exército admitiu que, pela “urgência”, não chegou a formalizar um processo administrativo para a revogação, como costuma ocorrer na administração pública. “Em atenção ao Princípio da Oportunidade, pela urgência, não houve processo documental para a revogação, já que as portarias surtiriam seus efeitos a partir de 4 de maio. Desta forma, repiso, evitou-se prejuízo a setores da sociedade”, diz Souza. Sem citar a ordem do presidente, o comandante logístico afirma que a decisão de rever o ato ocorreu “ao se deparar com questões supervenientes que considerou importantes do ponto de vista técnico e legal”. Em seu ofício, o comandante logístico afirmou ainda que o Exército está realizando novos estudos para reeditar portarias estabelecendo o controle de armas e munições”. Essas portarias revogadas, diz Deborah Duprat, “são consideradas imprescindíveis para a fiscalização do uso de armas de fogo e para a investigação de ilícitos praticados com o seu emprego, além de reclamadas por especialistas em segurança pública e também por órgãos do MPF”.
CARTA DE DESPEDIDA
O general responsável pela implementação de regras que facilitavam rastreamento de armas e munições, depois revogadas a mando do presidente Jair Bolsonaro, foi exonerado do cargo uma semana após a publicação da primeira portaria contestada publicamente pelo presidente. Em carta de despedida, o general de brigada Eugênio Pacelli Vieira Mota afirmou que as medidas representavam um “importante e definitivo passo” na área da segurança pública. O militar ocupou, até o fim de março, o posto de diretor de Fiscalização de Produtos Controlados, área que tem como atribuição supervisionar a produção e comercialização de armas e munições. No dia 18 daquele mês, foi publicada a primeira portaria que incomodou o presidente e parte de sua base aliada. No dia 25, a exoneração de Pacelli foi publicada no Diário Oficial — a portaria foi revogada pelo Exército em meados de abril, um dia depois de Bolsonaro ter anunciado a decisão no Twitter. Também foram suspensas outras duas portarias que tratavam do assunto, mas que haviam sido oficializadas já com Pacelli fora do cargo. Na carta, cujo teor foi revelado pelo jornal “O Estado de S. Paulo” e confirmado pelo GLOBO, o general fez menção ao conjunto de normas publicado pela sua área em função de diversos decretos presidenciais que tratavam de armas de fogo e munições. Em outro trecho, afirmou que o foco de sua gestão foi a “tranquilidade da segurança social”.
*”Robôs em alta pró-Bolsonaro – Plataforma aponta atuação intensa”* - Em meio ao embate do governo com o Congresso, uma plataforma americana de monitoramento de contas falsas no Twitter, o Bot Sentinel, tem notado uma movimentação incomum em relação às menções políticas de perfis brasileiros na rede social. Na última segunda-feira, houve um súbito aumento de atividades envolvendo hashtags brasileiras, e foi a primeira vez que uma menção não-americana chegou ao topo da lista de atividade de contas falsas, segundo Christopher Bouzy, criador da ferramenta. “Estamos testando nosso novo algoritmo de rastreamento para monitorar hashtags e frases tuitadas por contas não autênticas, e há uma atividade significativa no Brasil. É a primeira vez que uma hashtag de fora dos Estados Unidos chega ao topo da lista”, disse Bouzy, ontem, em sua conta no Twitter. Na lista de assuntos mais comentados por contas falsas estavam as hashtags #MaiaTemQueCair, #MaiaVaiCair, #DerreteMBL, #FechadoComBolsonaro, entre outras. Se na última semana o alvo principal tem sido o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ontem foi a vez da deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), rompida com o presidente Bolsonaro. Ela voltou a ficar na mira dos bolsonaristas depois de ter um áudio vazado em que pede para militantes criarem perfis para lhe ajudar a se defender de ataques virtuais. Joice confirmou a veracidade do áudio.
Parlamentares, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (RepublicanosRJ) então convocaram uma campanha contra a deputada e emplacaram a hashtag #GabineteDaPeppa, em alusão ao apelido ofensivo usado por bolsonaristas. A hashtag foi logo identificada pelo Bot Sentinel, sugerindo um alto engajamento de robôs e contas falsas na campanha contra Joice, assim como havia acontecido no dia anterior contra Rodrigo Maia. Bouzy comentou a presença brasileira em seu monitoramento e se adiantou a críticas de que sua ferramenta teria uso político. “Por meses, teóricos da conspiração da direita acusaram o Bot Sentinel de atacar os conservadores, e eu digo repetidamente que não treinamos o modelo para classificar filiação ou ideologia política. Agora o Bot Sentinel está sendo usado de forma eficaz pelo povo brasileiro. Nós não treinamos o Bot Sentinel com contas brasileiras e não projetamos o algoritmo de rastreamento para monitorar a política brasileira. O Bot Sentinel ‘perseguiu’ os dados e ganhou vida própria”, escreveu Bouzy em seu perfil no Twitter.
*”Centrão cobra o preço do apoio – Negociação com governo impacta sucessão na Câmara”* - Líderes de partidos do centrão já começaram a manifestar insatisfação com a demora do governo em nomear os indicados para uma série de cargos oferecidos nas últimas semanas nas negociações por apoio parlamentar. Os nomes sugeridos ao governo aguardam, por enquanto, uma análise de currículo. As negociações envolvem quatro partidos: PP, PL, Republicanos e PSD. Entre elas, as siglas definiram quem iria pedir o quê. O PP ficou com as presidências do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs). O PL teria direito a indicar o presidente do Banco do Nordeste, e o Republicanos, uma secretaria no Ministério do Desenvolvimento Regional. Já o PSD negocia superintendências da Funasa nos estados. Os nomes foram enviados ainda no início da semana passada. Líderes do centrão esperavam, assim, que as nomeações saíssem na última sextafeira. Mesmo considerando o dia conturbado com o pedido de demissão de Sergio Moro, os deputados relatam insatisfação com a ausência das indicações no Diário Oficial até o início dessa semana. Pela primeira vez desde o início do governo Bolsonaro, a negociação entre os partidos e o Planalto se deu sem envolver Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados. Pelas críticas que fez a como Bolsonaro conduziu a crise do coronavírus, Maia foi excluído pelo governo das conversas com o centrão.
MINISTÉRIOS NEGADOS
Para PP, PL e Republicanos, tirar Maia da distribuição dos cargos serviu para os partidos mostrarem força na Câmara, já mirando a eleição à presidência da Casa em 2021. Mesmo se não conseguirem os cargos que pediram, eles conseguiram demonstrar que têm capital político e interlocução direta com Bolsonaro. Arthur Lira (AL), líder do PP na Câmara, é um potencial candidato à sucessão de Maia, assim como Marcos Pereira (SP), vice-presidente da Câmara e presidente do Republicanos. Por ora, o favorito de Maia para sucedê-lo é Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). Lira e Marcos Pereira, porém, não perderam a esperança de ter o apoio do presidente da Câmara. A intenção de desgastar Maia tem também essa motivação — fazer com que ele faça concessões para se reaproximar desses partidos. O centrão não abandonou Maia, e por outro lado não se compromete a uma adesão irrestrita a Bolsonaro. Na sexta-feira, lideranças do PP, PL e Republicanos protegeram Jair Bolsonaro na repercussão das acusações do ex-ministro Sergio Moro. O ex-juiz da Lava Jato disse que o presidente tentou interferir na Polícia Federal.
O primeiro teste da base do governo após a nova rodada de negociações, porém, é visto com cautela no Congresso. Os partidos que saíram em defesa do governo após a acusação de interferência na PF são os mesmos que atuavam em pautas contrárias a Moro, como a desidratação do pacote anticrime e a retirada do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) das mãos do ministro. Por isso, lideranças ouvidas pelo GLOBO avaliam que esses partidos não teriam agido de outra forma mesmo sem oferta de cargos, e que é cedo para dizer se a reaproximação de Bolsonaro com os líderes terá efeito em votações. Por ora, ainda há críticas ao governo. Arthur Lira, por exemplo, tem criticado a política econômica. Entre os demais líderes, ataques ao ministro Paulo Guedes são sinal de que, se o PP não conseguir o que pediu, continuará a bater no governo. Nas tratativas do centrão com o governo, dirigentes sinalizaram que não iriam se contentar com cargos de segundo escalão e voltaram a pressionar por ministérios. Vislumbrando um enfraquecimento da ministra da Agricultura Teresa Cristina na base bolsonarista nas redes sociais, o PP demonstrou interesse no espaço. Já o PL sinalizou que queria voltar a controlar o Ministério da Infraestrutura. Em ambos os casos, a sinalização do Planalto foi negativa. Não foi a única tratativa que deu errado. O presidente do Solidariedade, Paulinho da Força (SP), tem dito aos colegas que recusou a proposta do governo de indicar um nome para o Porto de Santos.
*”Mercado de trabalho – País tem 200 mil trabalhadores com direito ao seguro-desemprego e que ainda nem pediram”*
*”Medo de perder emprego é destaque nas redes sociais”*
 
 
 
CAPA – Manchete principal: *”País passa de 5 mil mortes pelo coronavírus e supera a China”*
EDITORIAL DO ESTADÃO - *”Ninguém acima da lei”*: Oministro do Supremo Tribunal Federal Celso de Mello autorizou a abertura de inquérito, pedido pela Procuradoria-Geral da República, para investigar as denúncias feitas pelo ex-ministro da Justiça Sérgio Moro contra o presidente Jair Bolsonaro. Há muito o que investigar. De acordo com Sérgio Moro, Bolsonaro o pressionou para colocar na direção da Polícia Federal (PF) um delegado que fosse “do contato pessoal dele, que ele pudesse ligar, que ele pudesse colher informações, que ele pudesse colher relatórios de inteligência”. Em seu pedido de investigação, o procuradorgeral da República, Augusto Aras, relacionou uma série de crimes supostamente cometidos por Bolsonaro nesse caso, entre os quais advocacia administrativa e prevaricação. O presidente garante que não queria nenhuma informação além daquelas necessárias para o exercício de sua função, “para bem decidir o futuro da Nação”, como disse recentemente. Mas essas Bolsonaro já deve receber regularmente pelo Sistema Nacional de Informações; a julgar pelo que disse o ex-ministro Moro, no entanto, o presidente queria acesso a informações sigilosas sobre investigações em curso. Considerando-se que o clã Bolsonaro é o centro de algumas dessas diligências, compreendese a aflição do presidente – que, sem que Sérgio Moro tivesse dito nada a esse respeito em seu pronunciamento, garantiu “nunca” ter pedido que a PF “blindasse” sua família, isso é, que poupasse os filhos ou a si mesmo de investigações.
E o que não faltam são investigações que envolvam os Bolsonaros – não só na Polícia Federal, mas também no Supremo e na Câmara dos Deputados. A nova investigação autorizada pelo Supremo, no entanto, será certamente mais rumorosa, pois não é trivial que um presidente seja acusado de querer manipular a PF para fins inconfessáveis. Nada disso, contudo, parece constranger Bolsonaro. Depois de ter demitido Maurício Valeixo da direção da PF porque este não lhe franqueou acesso a informações sigilosas sabe-se lá sobre o quê, o presidente confirmou que o substituto de Valeixo será o delegado Alexandre Ramagem, que se destaca não por seu currículo, mas por ser amigo íntimo da família Bolsonaro. E teme-se que um bom amigo não negue um favor ou outro ao presidente. Com isso, mais uma vez, Bolsonaro coloca os assuntos pessoais acima dos interesses nacionais, razão pela qual mesmo a nomeação do qualificado André Mendonça, ex-advogado-geral da União, para o Ministério da Justiça, acabará sendo vista como uma manobra do presidente para ter controle completo do aparato policial federal – coisa típica de regimes autoritários, em que governante e Estado são uma coisa só.
Por esse motivo, fez bem o ministro Celso de Mello em lembrar, em sua autorização para que as denúncias contra Bolsonaro sejam investigadas, que, “não obstante a posição hegemônica que detém na estrutura político-institucional do Poder Executivo, ainda mais acentuada pela expressividade das elevadas funções de Estado que exerce, o presidente da República – que também é súdito das leis como qualquer outro cidadão deste País – não se exonera da responsabilidade penal emergente dos atos que tenha praticado, pois ninguém, nem mesmo o Chefe do Poder Executivo da União, está acima da autoridade da Constituição e das leis da República”. O presidente, como qualquer cidadão da República, tem deveres antes de direitos. E, como presidente, diferentemente dos cidadãos comuns, tem ademais o dever da transparência e da prestação de contas. Nada que envolve a Presidência da República pode ficar ao abrigo da luz, seja o simples resultado dos exames de covid-19 ao qual o presidente Bolsonaro se submeteu – que, conforme diz liminar concedida pela Justiça a pedido deste jornal, deveria ser público para que todos saibam qual é o real o estado de saúde do presidente –, sejam os verdadeiros motivos que o levaram a trocar a cúpula do aparelho policial do Estado e ali aboletar seus amigos. Felizmente, a democracia brasileira, malgrado suas inúmeras fragilidades, parece preservar o sistema de freios e contrapesos – ao qual mesmo presidentes com ares de Messias devem se submeter.
*”STF pode evitar inquérito com indicado de Bolsonaro”* - Depois da abertura de uma investigação contra o presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF) avaliam haver espaço para uma “manobra” interna, com o objetivo de impedir que o caso seja herdado pelo sucessor do ministro Celso de Mello, decano da Corte. Relator do inquérito sobre as acusações de interferência política de Bolsonaro na Polícia Federal, Celso deixa o Supremo em novembro, abrindo a primeira vaga para indicação do presidente da República. Tanto Bolsonaro quanto Moro são investigados no caso. Em uma decisão de 17 páginas – mesmo número usado por Bolsonaro na eleição de 2018 –, o decano observou que o presidente “também é súdito das leis” e apontou a possibilidade de “responsabilizá-lo, penal e politicamente, pelos atos ilícitos que eventualmente tenha praticado no desempenho de suas magnas funções”. Uma das vozes mais contundentes do STF em defesa da Constituição e contra os excessos cometidos pelo Palácio do Planalto, Celso completa 75 anos em 1º de novembro, quando se aposenta compulsoriamente. Bolsonaro já manifestou a vontade de indicar um nome “terrivelmente evangélico” para a vaga de Celso, que se tornou alvo de pedido de impeachment e foi bombardeado por setores conservadores pelo voto de 155 páginas no qual defendeu a criminalização da homofobia. Um dos favoritos para a vaga do decano é André Mendonça, que acaba de assumir o Ministério da Justiça. Após Celso autorizar a abertura de inquérito para investigar as acusações de Moro, a Polícia Federal terá um prazo de até 60 dias para ouvir o ex-juiz federal da Lava Jato. Na prática, o caso terá seis meses para ser conduzido sob a batuta do magistrado, antes que ele deixe o tribunal. Se o inquérito não for concluído até lá, porém, o sucessor de Celso pode herdar a apuração e os demais processos do gabinete. Dessa forma, um ministro escolhido por Bolsonaro deve acabar assumindo um inquérito que investiga justamente o atual ocupante do Planalto.
Mudança. Segundo o Estado apurou, ao menos três ministros do STF avaliam que, para impedir uma situação dessas, há margem para redistribuição do inquérito, ou seja, eventual mudança de relatoria, antes que o indicado de Bolsonaro assuma uma vaga na Corte. Para um integrante do Supremo, “logo, de início, tem-se campo para a redistribuição” do caso para um novo relator. Outro ministro viu semelhança com a situação enfrentada pelo Supremo em 2017, quando o então presidente Michel Temer escolheu Alexandre de Moraes para ocupar a cadeira de Teori Zavascki, morto em acidente aéreo. Na época, os processos da Lava Jato, que estavam com Teori, não foram herdados por Moraes, mas, sim, encaminhados para o gabinete de Edson Fachin após sorteio eletrônico. Essa manobra foi feita internamente pelo STF como sinalização de que as investigações do bilionário esquema de corrupção na Petrobrás ficariam preservadas e blindadas de qualquer interferência política. Só depois que Fachin foi definido como novo relator da Lava Jato é que Temer oficializou a indicação de Moraes para a vaga de Teori. Na avaliação de um integrante da cúpula da Procuradoria-Geral da República (PGR), o Supremo poderia repetir as movimentações agora, “com elegância”.
A estratégia talvez não seja necessária, caso as investigações terminem antes da saída de Celso. Para o ministro Gilmar Mendes, a apuração pode ser concluída em três ou quatro meses, ou seja, ainda sob a relatoria do decano. “São depoimentos que podem ser colhidos rapidamente. Não me parece algo que exija perícias, extremamente complicado, de modo que pode ser que em 90, 120 dias isso já esteja concluído”, disse o ministro, ao participar de transmissão ao vivo. “É preciso esperar essa investigação para qualquer juízo e oxalá que ultrapassemos essa crise sem maiores consequências", afirmou Gilmar. Integrantes do STF ouvidos pelo Estado apontam que as acusações fragilizam o presidente da República, mas minimizam as chances de a investigação levar à abertura de uma ação penal, por não identificarem até agora elementos robustos contra Bolsonaro. Aalém de troca de mensagens, o ex-ministro da Justiça possui áudios que devem ser entregues aos investigadores. Caso as acusações de Moro contra o presidente sejam confirmadas, e a Procuradoria-Geral da República (PGR) denuncie o presidente da República, o Supremo dependerá de um aval da Câmara dos Deputados para dar prosseguimento ao caso. Durante o mandato de Temer, os deputados federais barraram, por duas vezes, denúncias apresentadas contra o emedebista pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
*”Aras questiona fim do ‘voto de qualidade’ no Carf”*
*”Presidente confirma amigo da família na PF”*
*”’Tenho direito de não mostrar (os exames)’, diz Bolsonaro”* - O presidente Jair Bolsonaro disse ontem que pretende defender na Justiça o direito de não mostrar o resultado dos exames para a covid-19 que realizou. Anteontem, O Estado de S. Paulo garantiu na Justiça Federal o direito de obter dentro de um prazo de 48 horas “os laudos de todos os exames” de novo coronavírus feitos pelo presidente da República. Bolsonaro se recusa a divulgar os papéis. “Da minha parte, não tem problema mostrar (o resultado), mas eu quero mostrar que eu tenho o direito de não mostrar. Pra que isso? Daqui a pouco quer saber se eu sou virgem ou não, vou ter de apresentar exame de virgindade para você. Dá positivo ou negativo, o que vocês acham aí?”, disse o presidente na porta do Palácio da Alvorada ao falar com a imprensa. “Vocês nunca me viram aqui rastejando, com coriza... Eu não tive, pô (novo coronavírus). E não minto. E não minto. Eu, infelizmente, não tenho aqui o número da lei nem o artigo. Desculpa aqui, mas se nós dois estivermos com aids, por exemplo, a lei nos garante o anonimato. Tá certo? Por que pra mim tem de ser diferente?”, questionou Bolsonaro. O infectologista Julival Ribeiro, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia, rechaçou a comparação feita pelo presidente entre exames de HIV e do coronavírus. “O novo coronavírus é uma pandemia, uma doença com alto potencial de transmissão. Eu, num shopping, se não estou usando máscara e estou infectado, posso transmitir para três pessoas. A Aids não tem nada a ver. Não vou transmitir Aids andando no shopping, na rua.” Ao ser indagado sobre o uso de um codinome para fazer os exames, o presidente afirmou que se trata de uma prática corriqueira. “Eu sempre falei com o médico: ‘Bote o nome de fantasia porque pode ir pra lá, Jair Bolsonaro’ já era manjado, principalmente em 2010, quando comecei a aparecer muito, né. Alguém pode fazer alguma coisa esquisita. Em todo exame que eu faço tem um código. Por decisão da juíza Ana Lúcia Petri Betto, a União terá 48 horas para apresentar os resultados dos exames. A AdvocaciaGeral da União (AGU) informou que vai recorrer.
Interesse. O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Britto considerou “juridicamente correta” a decisão da Justiça. Na avaliação do ex-magistrado, o Brasil tem o direito de saber da saúde do presidente. “O País tem o direito de saber da saúde do seu presidente, até porque se trata de doença transmissível e, ao que se sabe, o presidente não se submeteu a nenhum isolamento físico”, afirmou Ayres Britto. “No momento em que vivemos planetariamente, a matéria não se inscreve no âmbito da intimidade, nem mesmo da vida privada do presidente. O próprio presidente antecipou o interesse coletivo no resultado do exame a que se submeteu ao tornar pública a realização desse mesmo exame”, completou. Para o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, é “injustificável” Bolsonaro ainda não ter divulgado os exames. “Em especial em uma situação de epidemia, torna-se relevante que o presidente seja transparente e divulgue o resultado oficial do seu exame, a exemplo do que fizeram vários líderes de países democráticos.”
*”Planalto busca base anti-impeachment”* - A estratégia de Jair Bolsonaro de se aproximar do Centrão pode dar ao presidente o apoio de um grupo decisivo para seu futuro no cargo. Se tiver de barrar eventual processo de impeachment na Câmara, Bolsonaro precisará de 172 votos. Hoje, ele não tem uma base no Congresso, mas, com a distribuição de cargos, pode reunir 173 parlamentares – um voto a mais do que o número necessário para impedir a abertura de processo. Dirigentes de partidos que estiveram com Bolsonaro, recentemente, observaram que, com a mudança de tratamento e oferta de cadeiras nos segundo e terceiro escalões, ele conquistou siglas de bancadas médias do Centrão. Com isso, rachou o bloco que dava sustentação ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a quem passou a atacar como principal adversário no Congresso. Com o movimento para sobreviver, Bolsonaro está de olho nos votos do Progressistas (40 deputados), partido que abrigou dois de seus filhos, PL (39), PSD (37), Republicanos (31), Solidariedade (14) e PTB (12). A soma dá 173, sem levar em conta eventuais defecções. Além disso, o presidente teria pelo menos metade dos votos da bancada do PSL, formada por 53 deputados, com a dissidência de seu antigo partido, que poderá migrar para o Aliança pelo Brasil.
Bolsonaro tem, ainda, parcela de apoio no MDB (34), na bancada da bíblia, nas frentes evangélica e católica, e adesões individuais em partidos como Podemos, Patriota, PSC e outras siglas nanicas. Como mostrou o Estado,o presidente, em 16 meses de mandato, é alvo de 31 pedidos de impeachment na Câmara. O número é superior ao de seus antecessores e cresceu após o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro acusá-lo de interferência política na Polícia Federal. Em outra frente, parlamentares também tentam tirar do papel uma CPI para apurar as denúncias. Maia disse ontem que o momento é de cautela. “Temos uma CPI das Fake News que vai avançar, um inquérito do ministro Celso de Mello (do Supremo Tribunal Federal) que vai avançar e nós vamos focar nas pautas de combate ao coronavírus”, afirmou ele.
Herança. Na prática, o Centrão comanda a Mesa Diretora da Câmara desde 2015, ano em que o então deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ) foi eleito para a presidência da Casa. Cunha acabou preso e condenado por Moro em processo da Lava Jato. Embora a saída do “superministro” tenha desgastado Bolsonaro na relação com seu eleitorado, líderes do Centrão – bloco do qual o próprio presidente fez parte no passado, quando era deputado – comemoraram a queda. Moro e Maurício Valeixo, seu braço direito na Polícia Federal, simbolizavam a herança da Lava Jato, uma operação que atingiu dezenas de parlamentares e partidos do Centrão. Bolsonaro se elegeu rechaçando a “velha política” e, com isso, Maia seguia como interlocutor oficial do grupo no Planalto. Não será mais assim. Diante das crises política e econômica e com o agravamento da pandemia do coronavírus, Bolsonaro decidiu mudar o modelo de negociação com o Congresso e procura cada vez mais isolar Maia. Há dúvidas sobre qual será o comportamento dos partidos de esquerda, principalmente do PT (53), em relação às denúncias de Moro. A oposição quer remover Bolsonaro do Planalto, mas sem beneficiar o ex-juiz da Lava Jato. Moro é algoz do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem prendeu e condenou por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Não bastassem essas variáveis – os votos pró-Bolsonaro no Centrão e a má vontade da oposição com Moro –, ainda há as dificuldades impostas pela covid-19. Com o isolamento social, o impedimento do presidente dependeria de uma convocação para reunião presencial por parte de Maia e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).
*”Câmara deve analisar revogação de portarias”*
*”MP eleitoral acusa Skaf por caixa 2 de R$ 5,1 mi”*
*”Para ex-chanceleres, política externa do governo isola o País”* - Ex-chanceleres afirmaram ontem que a política externa do governo de Jair Bolsonaro não contribui para os interesses do Brasil no exterior e não traduz as necessidades do País em oportunidades de investimentos. Para os diplomatas, a atual política externa prejudica a projeção do Brasil no mundo e promove o autoisolamento do País, defendendo a restauração da racionalidade. “O que acontece agora é a incapacidade de afirmar construtivamente a presença do Brasil no mundo de acordo com suas necessidades e seus interesses, até em matéria de coisas óbvias como é nosso relacionamento com a China”, disse Celso Lafer, que atuou como ministro nos governos de Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso. As declarações foram dadas no painel sobre diplomacia da Brazil Conference at Harvard & MIT, evento anual da comunidade de estudantes brasileiros em Boston e que, neste ano, acontece por videoconferência por causa do coronavírus. O debate foi mediado pela colunista do Estado e editoria do site BR Político, Vera Magalhães. O ex-chanceler Aloysio Nunes Ferreira (governo Michel Temer) afirmou que uma boa política externa precisa ter noção de que o mundo não começou com ela. “Se inscreve em linhas de continuidade, que definem um perfil diplomático do país e lhe confere credibilidade e previsibilidade nas relações que se travam com os países.”
O ex-chanceler Celso Amorim, que atuou nos governos FHC, Lula e Dilma, disse que em “meio século” nunca viu nada igual e que a reputação do Brasil no exterior é muito ruim. “Sempre houve uma linha de continuidade. Me envergonho de tudo da política externa hoje. O Brasil teria todas as condições de ser o sócio privilegiado da China, e agora somos o último da fila”, afirmou. Amorim afirmou ainda que é preciso restabelecer a racionalidade e promover a restauração da atuação na política externa. O diplomata Rubens Ricupero afirmou que o governo tem feito alianças erradas ao se aproximar do ex-presidente argentino Mauricio Macri e ao criticar o francês Emmanuel Macron e a alemã Angela Merkel, enquanto privilegia os líderes de países como Estados Unidos, Hungria e Polônia. “O governo tem uma percepção de um universo de ficção, é uma política destrutiva que nada traz em favor dos interesses brasileiros”, afirmou Ricupero. Pesquisador da Universidade Harvard, o cientista político Hussein Kalout criticou a subserviência do governo brasileiro ao do presidente Donald Trump, como nunca aconteceu em 200 anos de política externa. Ele destacou também a necessidade de diferenciar a relação entre pessoas e entre Estados. “Nas relações internacionais não há amizade, há interesses”, disse. “É de extremo amadorismo acreditar que Trump e Bolsonaro são a mesma coisa e que interesses são convergentes em tudo.” Hussein afirmou que o País tem feito concessões reais em troca de migalhas. “Essa antidiplomacia vai impingir ao Brasil graves danos.”
*”Trump vê Brasil pior do que vizinhos no controle de vírus e pede fim de voos”* - O presidente dos EUA, Donald Trump, disse ontem que o Brasil passa por um grave surto de coronavírus e afirmou que o avanço da pandemia tem sido diferente, no caso brasileiro, do registrado em outros países da América Latina. Em um encontro com o governador da Flórida, Ron DeSantis, na Casa Branca, o presidente sugeriu a suspensão dos voos do País para ajudar na contenção da doença. Trump disse ainda que planeja exigir que pessoas que chegam aos EUA, especialmente vindas do Brasil e de países da América Latina, sejam testadas para coronavírus antes de embarcar. “Estamos elaborando um sistema pelo qual testaríamos (os passageiros) e estamos trabalhando com as companhias aéreas sobre isso”, afirmou o presidente. Atualmente, há nove voos semanais partindo do Brasil para os EUA, em três rotas ainda em operação, segundo informações do governo americano. Duas para a Flórida e uma para o Texas. Até agora, a Casa Branca não restringiu a chegada de brasileiros, mas recomendaram que viagens não essenciais ao País sejam evitadas e os que voltarem do Brasil fiquem em casa por 14 dias.
A Embaixada dos EUA em Brasília vem alertando que os americanos no Brasil retornem imediatamente ou se preparem para ficar por tempo indefinido onde estão. O encontro com DeSantis, um republicano, foi para discutir a retomada das atividades econômicas na Flórida, após um mês de quarentena na maior parte do Estado. “O Brasil tem um surto sério, como vocês sabem. Eles também foram em outra direção da tomada por outros países da América do Sul. Se você olhar os dados, vai ver o que aconteceu, infelizmente, com o Brasil”, afirmou Trump. “Então, estamos olhando muito de perto e em coordenação com outros governadores, especialmente com o Ron (DeSantis).” DeSantis garantiu que está preocupado com a questão em razão da “evolução dos contágios no Brasil” e em outros lugares que têm muita interação com Miami. O governador, porém, foi um pouco comedido, principalmente quando Trump lhe perguntou se pensa em “cortar voos” do Brasil. “Não necessariamente”, respondeu o governador da Flórida. “Se você precisar, nos avise”, disse Trump, sugerindo que pode interromper os voos, se for o caso. Os EUA são atualmente o epicentro mundial da pandemia de coronavírus. O país ultrapassou ontem a marca de 1 milhão de infectados, com quase 60 mil mortos. As autoridades americanas, no entanto, têm comemorado alguns resultados que sugerem que o pico da disseminação já passou, especialmente em Nova York.
Essa não é a primeira vez que Trump fala em proibir voos do Brasil. No final de março, o presidente americano disse que estava observando o crescimento dos casos de coronavírus no País e afirmou que considerava impor algumas restrições de viagens. O presidente americano tem evitado comentar a posição de seu colega brasileiro, Jair Bolsonaro, que tem minimizado a gravidade da disseminação do coronavírus, apesar de já ter sido questionado duas vezes sobre o tema na última semana. “Estamos realmente analisando alguma restrição”, disse Trump, há um mês, sobre a limitação da entrada de brasileiros. Também em março, um funcionário do alto escalão do Departamento de Segurança Interna dos EUA disse que a força-tarefa da Casa Branca vinha reavaliando diariamente a necessidade de novas restrições. Ao falar sobre a América Latina, mencionou especificamente o Brasil como o país que mais preocupa o governo. No fim de janeiro, os americanos restringiram os voos da China. Depois, impuseram limitações a voos de Irã, União Europeia, Reino Unido e Irlanda. As medidas restringem a entrada de estrangeiros. Apenas americanos ou moradores com status de residentes permanentes são admitidos. Consultado pelo Estado, o governo brasileiro disse ontem que não vai se manifestar sobre as declarações do presidente americano. O objetivo de Brasília, no momento, é evitar atritos diplomáticos com Trump.
*”Crise deixa governador de Ohio mais popular”*
*”Presidente americano diz que investiga a China”*
*”Após flexibilização, Alemanha registra aumento de casos”* - Pouco mais de uma semana após adotar regras de flexibilização para o isolamento social, a Alemanha começa a registrar os primeiros sinais de agravamento da pandemia de coronavírus. Ontem, pelo segundo dia seguido, o instituto Robert Koch, que acompanha a evolução do vírus, relatou um aumento dos índices de infecção e de letalidade da doença. De acordo com o instituto, o índice de infecção voltou ao patamar de 1,0. Isto significa que cada pessoa doente de covid19 contamina outra pessoa. Esta é a primeira vez que o índice atinge 1,0 desde que a Alemanha registrou 0,7, o ponto mais baixo, em abril. Ontem, Lothar Wiele, diretor do Roberto Koch, voltou a pedir que os alemães respeitem as regras rigorosas de isolamento social. “No contexto da flexibilização (de restrições), temos de garantir que a gente possa continuar a defender o sucesso que alcançamos juntos”, disse Wiele. “Não queremos que o número de casos suba novamente”, afirmou. O governo autorizou a reabertura de lojas com até 800 metros quadrados, juntamente com revendedores de carros e livrarias, embora estabelecimentos e clientes devam manter as regras de distanciamento social. Ontem, os varejistas voltaram a pressionar as autoridades para permitir a reabertura de todas as lojas a partir do dia 4. O governo alemão, no entanto, tem sido extremamente cauteloso, especialmente a chanceler, Angela Merkel, que há pelo menos duas semanas vem alertado para o risco de retomar as atividades econômicas cedo demais. “Ninguém gosta de ouvir isso, mas é a verdade é que ainda não estamos na fase final da pandemia. Estamos apenas no começo”, disse Merkel, na semana passada, em discurso no Parlamento.
Relaxamento. Enquanto a Alemanha se preocupa com uma segunda onda da pandemia, outros países da Europa divulgaram um cronograma para acabar com a quarentena. Com números de mortes e contaminados apresentando pequenas quedas a cada dia, Espanha e França anunciaram ontem a flexibilização das regras de confinamento. Ao Parlamento, o primeiroministro francês, Édouard Philippe, disse que a quarentena salvou “dezenas de milhares de vidas”, mas que é hora de flexibilizar as restrições para evitar o colapso econômico. O número de mortos na França ultrapassou 23 mil, na segunda-feira, o quarto mais alto do mundo, atrás de EUA, Itália e Espanha. O governo francês tenta aproveitar que as taxas de infecção estão caindo para resgatar a economia, embora Philippe tenha dito que a população terá de se adaptar a uma nova maneira de viver. “Vamos ter de aprender a conviver com o vírus”, afirmou. O desafio em Paris é encontrar um equilíbrio entre retomar as atividades sem que haja o risco de uma segunda onda de infecções. De acordo com o premiê, a França começará a deixar o isolamento em 11 de maio, a menos que não seja seguro. “Se os indicadores não estiverem adequados, não vamos flexibilizar o isolamento ou o faremos com mais rigor”, afirmou. Até lá, segundo ele, a França terá capacidade para realizar 700 mil testes por semana, todos pagos pelo governo.
Quem também decidiu flexibilizar o confinamento ontem foi o governo da Espanha, que optou por uma retomada gradual da economia, em um processo que deve terminar no final de junho. “Na melhor das hipóteses, a fase de desaceleração em direção a esse novo normal terá uma duração mínima de seis semanas e queremos que a duração máxima seja oito semanas para todo o território”, disse o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez. “Será a recompensa pelo gigantesco esforço coletivo que realizamos nas últimas semanas. Conseguimos achatar a curva de disseminação da epidemia.” O confinamento espanhol, o mais rigoroso da Europa, já teve um leve relaxamento no domingo, quando crianças tiveram autorização para caminhar ou brincar na rua durante uma hora por dia. No próximo fim de semana, o país dará mais um passo, permitindo que os adultos saiam para fazer exercícios ou passear. Após uma fase de preparação, provavelmente em 11 de maio, restaurantes, lojas, hotéis e locais de entretenimento começarão a abrir gradualmente, embora com capacidade reduzida, observando “rigorosamente” as medidas de segurança e higiene, segundo Sánchez. As escolas permanecerão fechadas até setembro. Até o fim do processo, o movimento de pessoas entre as regiões não será permitido, enquanto o uso de máscaras “será recomendado”, especialmente para o transporte público.
*”Brasil tem recorde de mortes e supera a China; ‘E daí?’, indaga Bolsonaro”* - O Brasil chegou ontem ao recorde de 474 registros por dia de covid-19. Com isso, o total oficial de vítimas da covid-19 chegou a 5.017, superando os números da China, marco zero da doença, que teve 4.633. Estado com maior número de casos, e também com recorde de registros, São Paulo relatou 224 óbitos, um aumento de 12% em relação ao número divulgado segunda. O ministro da Saúde, Nelson Teich, admitiu ontem o agravamento da crise. Mas silenciou sobre a campanha permanente de Jair Bolsonaro para acabar com medidas de isolamento social – ontem o presidente repetiu a apoiadores, na frente do Palácio da Alvorada, que deseja o fim das quarentenas. Durante uma entrevista no local, uma jornalista disse ao presidente: “A gente ultrapassou o número de mortos da China por covid19...” Foi quando Bolsonaro respondeu: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”, disse, em referência a seu segundo nome. “Há alguns dias eu coloquei que (o número de mortos e contaminações) poderia ser um acúmulo de casos de dias anteriores que foi simplesmente resgatado, mas como temos manutenção desses números elevados e crescentes, temos de abordar isso como um problema, como uma curva que vem crescendo, como um agravamento da situação”, disse Teich. Ele foi cobrado ontem por governadores do Norte sobre atrasos para entrega de produtos contra a covid-19 e disse que o momento “é difícil”. Com a atualização de ontem, o Brasil bateu novamente seu recorde de número de mortes por covid-19 registrados em um único dia, e alcançou o terceiro lugar entre os países que mais registraram mortes pela covid19, atrás apenas dos Estados Unidos e do Reino Unido. Na segunda-feira, o Brasil estava em 6.º entre os países com mais mortes registradas em 24 horas, mas já superou Itália, França e Espanha no balanço mais recente. Os países da Europa apresentam queda no número de mortes, enquanto autoridades de saúde observam aceleração da transmissão no quadro brasileiro. Os dados estão reunidos no site da organização Worldometers, que reúne dados internacionais. O número oficial de confirmados do coronavírus no Brasil subiu de 66.501 para 71.886, sendo 5.385 novos.
Cenário paulista. Somente São Paulo já relata 2.049 mortes. “Como não temos uma fila de testes, isso significa que esses novos casos foram confirmados e são desses dias, por agora”, afirmou o secretário estadual da Saúde, José Henrique Germann. Chefe do Centro de Contingência da Covid-19 no Estado, o infectologista Davi Uip afirmou que “o balanço de óbitos nas últimas 24 horas é o mais importante até agora”. Questionado se o aumento das mortes teria relação com uma queda no isolamento social, Uip disse que “não tem a menor dúvida disso”. “Se você tem uma taxa de isolamento social de 50% a mais, há impacto positivo na curva de infectados, de doentes e de óbitos.” A taxa de isolamento social oscilou e apresentou queda nos últimos dias, ficando em 48% novamente nesta segunda-feira. “Cidades que estão mantendo o índice entre 60% e 70% (meta do governo) serão cidades com mais oportunidades de flexibilização do que aquelas que não estão tendo o mesmo desempenho”, declarou o governador João Doria (PSDB). O Estado tem 24.041 casos confirmados da doença, com 2.300 novos, um aumento de 11% em 24 horas. Das 645 cidades paulistas, 305 tiveram pelo menos um caso da doença. Pelo balanço oficial, 81% dos leitos de UTI na Grande São Paulo estão ocupados. No Estado, o índice é de 61,6%. De acordo com Germann, 1.437 pessoas estão internadas em UTI. Em enfermaria, há 1.800 pacientes internados. A taxa de ocupação nesses leitos é de 44,5% no Estado e 70% na região metropolitana. “Estamos chegando em um limite perigoso”, afirmou Geraldo Reple Sobrinho, presidente do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo (Cosems/SP).
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ENTREVISTA: MARCOS LISBOA, presidente do Insper: *”Há um caminhão de propostas oportunistas”* - Presidente do Insper, o economista Marcos Lisboa alerta que, enquanto se debate no Brasil sobre a necessidade de ampliar a participação do Estado como resposta à crise provocada pela covid-19, um “caminhão de propostas oportunistas” se aproveita “num vale-tudo” para aumentar despesas obrigatórias e permanentes. “Vamos de novo dar subsídio para empresários, investimentos? Vamos desperdiçar dinheiro público e acordar no dia seguinte com projetos fracassados?”, questiona. A seguir, os principais trechos da entrevista.
• Em meio à pandemia, o debate sobre gastos públicos se acirrou em torno de maior ou menor participação do Estado. Qual a sua visão?
- Há o debate enfatizando a necessidade de maior gasto público e outro da necessidade de cuidado com a dinâmica da dívida e da sustentabilidade de longo prazo. Fica uma aparência de que são posições contraditórias. Não são. O que é pior: ficamos nesse debate superficial, mais Estado, mais mercado, sem mergulhar nos detalhes, quando há um caminhão de propostas oportunistas se aproveitando para falar que é mais Estado. Carregam mais despesas obrigatórias que nada têm a ver com despesa social, preservação do emprego e os grupos organizados se aproveitam, já que estão defendendo mais Estado, vale tudo. Vai muito dinheiro onde não deveria ir.
• As despesas obrigatórias estão ganhando espaço na pandemia?
- Isso que está preocupando. Está se gastando muito dinheiro e energia em temas que não têm relação com a pandemia ou com a crise de curto prazo da economia. Assistimos ampliação do acesso ao BPC (benefício assistencial pago a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda), tornar o programa de crédito subsidiado para pequenas e médias empresas permanente. Agora, está se discutindo a Embratur virar uma agência independente com receita separada. Isso é hora de discutir agência de turismo? O mundo está parado. Gastar energia com isso. Ao mesmo tempo se aprova auxílio para os Estados e alguns governos, no caso o Rio de Janeiro, autoriza reajustes salariais. Como assim? Setores pedindo empréstimo por cinco anos e cinco de carência. E Isso é preocupante.
• Foi aberta uma janela de oportunidade?
- Essa é tradição brasileira. Cada grupo se acha detentor de um direito e não quer fazer parte do regime democrático de discutir o Orçamento público. Vai se aproveitando dos momentos para criar novas despesas obrigatórias. É um filme que a gente assiste desde 1990. A consequência disso é um Estado cada vez mais caro, mas, que, infelizmente não consegue traduzir esse crescimento do seu peso em serviço para a população. Talvez o resultado mais dramático tenha sido nessa crise. Olha a dificuldade do Estado de encontrar os grupos vulneráveis. Detalhe: eles pagam imposto, eles ajudam a pagar a conta do Estado brasileiro. No entanto, o Estado os desconhece. Só o conhece na hora de pagar imposto.
• Como o plano Pró-Brasil se insere nesse debate?
- Tem sempre essa discussão de obras públicas que estão paradas há muito tempo. O governo brasileiro é muito bom de formular cartas de intenção, de chegar com projetos. E muito ruim de executar. Quantas vezes na nossa história o setor público tentou coordenar os processos de investimento. O governo Geisel tentou fazer um plano desse, o II PND, foi um fracasso, custou caro ao País. Mais recentemente na reação à crise de 2008 também. Tinha a discussão, veja bem, o mundo inteiro tem mais Estado. Fica nesse debate superficial. Você defende mais Estado ou mais mercado? Não é nenhum nem outro. O mercado não existe sem o Estado. E não tem mercado sem regulação, sem o Estado. A questão não é ter Estado ou não ter, mas como, quando, onde, qual a maneira de ter.
• O Pró-Brasil é um símbolo dos críticos à política fiscalista do ministro Paulo Guedes?
- Esse debate se perde. Que ajuste fiscal? Qual foi o ajuste fiscal de fato feito no País nos últimos anos? Tivemos umas medidas importantes para tentar deixar transparente, pelo menos, o tamanho do problema, que é o teto de gasto (mecanismo que impede que as despesas cresçam em ritmo superior à inflação). Vamos ficar criando mais despesa obrigatória agora? Nesse Orçamento engessado em que cada grupo de interesse terá sua república independente? Em 2008, foi igual. Tinha esse debate sobre mais Estado com o argumento de que o mundo inteiro está fazendo igual. Enquanto os outros países cuidavam de preservar a economia para sair da recessão, o Brasil fez uma série de investimentos de longo prazo, uma intervenção na economia muito diferente do que o mundo fez. Qual foi o resultado dessa agenda? Uma série de investimentos fracassados.
• Tem o risco de esse modelo se repetir agora?
- A preocupação é de que nesse debate de novo sobre mercado e Estado vamos deixar de fazer o que tem de ser feito e não vamos cuidar da boa gestão dos recursos públicos. Vamos de novo dar subsídio para empresários, investimentos? Vamos desperdiçar dinheiro público assim e acordar no dia seguinte com projetos fracassados?
• Qual a saída?
- Primeiro, neste momento, vamos cuidar da crise. Não é momento de discutir política de longo prazo. Tem uma crise imensa batendo no País. Temos de discutir os gastos com saúde. Quantos respiradores o País tem? Qual a estratégia do País para importá-los? Eles estão chegando? Como está a construção dos leitos da saúde? Tem uma gestão da saúde que os médicos têm de liderar. Tem de ter gestão. Não é simplesmente aprovar verba no Orçamento e não executar. Tem de ter políticas para os vulneráveis, as empresas e fazer a transição. Depois se discute medidas de longo prazo para acertar a economia. Vemos vários pedidos de empresas que estão inadimplentes há anos e querem que agora a sociedade resolva o seu problema. Nós estamos afastando investimento do Brasil.

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