sexta-feira, 3 de abril de 2020

Mídia 03/04

 
CAPA – Manchete principal: *”Bolsonaro critica Mandetta e diz que ministro extrapolou”*
EDITORIAL DA FOLHA - *”Reduzir incertezas”*: Há seis meses, seria tachado de louco quem dissesse que cerca de metade da humanidade estaria hoje sujeita a restrições de ir e vir, trabalhar e divertir-se. Imprevisível, a Covid-19 ameaça a saúde de milhões de pessoas e também corrói a confiança, sem a qual a sociedade não se estabiliza nem prospera. Reclusos em casa —ou sob risco de ser confinados—, os estudantes enfraquecem seus laços duradouros com o aprendizado, e os trabalhadores, com as tarefas profissionais. A renda se torna uma inconstância perturbadora. O horizonte turva a visão dos empreendedores, que deixam de arriscar-se em atividades que elevam o emprego. Enquanto cientistas aprendem a lidar com o novo coronavírus, governantes navegam águas pouco mapeadas da gestão pública. Um de seus objetivos deveria ser justamente o de reduzir, o quanto possível, a catadupa de incertezas que a crise faz jorrar sobre a população. Ditaduras, como a chinesa, trancam dezenas de milhões em seus lares, ou em instalações de isolamento, sem dar satisfação sobre quais parâmetros justificam a ordem de recolher nem sobre quanto tempo durará. Democracias, como a brasileira, não podem agir assim.
Nossas autoridades, decerto porque foram pegas de surpresa, têm decretado o fechamento de atividades escolares e empresariais em praticamente todo o Brasil ainda sem o devido cuidado de expor amplamente os dados e as projeções que embasam as suas decisões. Em São Paulo, por exemplo, o decreto do governador João Doria (PSDB) que fechou atividades não essenciais até o próximo dia 7 estará sujeito a ser estendido ou reformado a depender da evolução de quais indicadores objetivos? Como as restrições à circulação buscam evitar o esgotamento da capacidade hospitalar, seria justo que governos atualizassem e divulgassem diariamente a que distância estamos da saturação. Deveriam ser transparentes também ao informar que tipo de medidas e graus de intervenção serão adotados caso essa distância se aproxime ou se afaste de valores críticos. Outra providência urgente é que as autoridades revelem as suas projeções sobre a evolução da epidemia, os modelos que as produzem e os dados que as alimentam a fim de que a comunidade científica possa exercer escrutínio à luz do sol. O fechamento de escolas públicas sem nenhuma data prevista para a retomada das aulas nem capacidade para que as crianças recebam instrução a distância tornou-se também um grande déficit de informação e prestação de contas que precisa ser resolvido logo. A sociedade brasileira mostra-se solidária e disposta a mobilizar-se para proteger os vulneráveis. Mas o esforço não pode ocorrer às cegas.
PAINEL - *”Apesar de troca de afagos, união de partidos contra Bolsonaro tem chance quase zero”*: Apesar da troca de afagos entre João Doria (PSDB-SP) e Lula (PT) nas redes sociais nesta quinta (2), a chance de uma união de líderes partidários, especialmente de ex-presidentes da República, é quase zero, avaliam políticos. Não por falta de tentativas. Nas últimas semanas, governadores e senadores se movimentaram para articular um encontro, escrever um manifesto ou criar um gabinete paralelo a Jair Bolsonaro por causa da crise do coronavírus. Fracassaram até agora. Em suas últimas declarações, Lula tem reclamado de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). O petista ainda mostra amargura por nunca ter sido defendido na Lava Jato pelo tucano, mesmo sabedor de sua honestidade, segundo suas palavras. Tarefa tão ou mais difícil seria colocar em um mesmo ambiente, ainda que virtual por causa do isolamento social, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB). O emedebista chegou ao maior cargo do país após ter sido um dos líderes do movimento de impeachment da petista, de quem era vice. Lula e Temer se falaram pela última vez, segundo relatos, uma semana antes do processo de afastamento de Dilma, em 2016. Além disso, há uma avaliação de que a união dessas lideranças ajudaria o discurso de polarização de que Jair Bolsonaro se alimenta. Fora a movimentação nas redes sociais, o ex-presidente e Doria não se falaram e não marcaram encontro. Causou estranheza, entre petistas que sabem da resistência com FHC, o aceno de Lula ao governador de São Paulo, que várias vezes o ofendeu, chamando-o de presidiário e pedindo que ficasse muito anos na prisão.
Apesar de a chance ser considerada pequena, governadores continuam tentando. Wellington Dias (PT-PI) lidera o movimento e ainda considera possível uma futura união. Mesmo que não estejam em contato, o petista afirma que todos os ex-presidentes têm demonstrado disposição em ajudar na crise do coronavírus, dando suporte dos mais variados. Dos que já ocuparam o cargo, o ex-presidente José Sarney é o que tem melhor trânsito dos dois lados. Ele mantém conversas com Lula e, durante a crise do coronavírus, tem falado bastante com FHC.
PAINEL - *”Mandetta confidencia a aliados que quer sair do governo, mas não pedirá demissão”*: Acusado por Bolsonaro de ter se extrapolado na pandemia do coronavírus e de não ser humilde, Luiz Henrique Mandetta (Saúde) disse a aliados em conversas recentes que deseja deixar o cargo. O ministro afirmou, porém, segundo relatos, que não pedirá para sair e que vai deixar para o presidente a decisão de lhe tirar em meio a uma crise sanitária.
PAINEL - *”Coronavírus alçou Mandetta a principal nome do debate político nas redes sociais”*
*”Está faltando um pouco mais de humildade ao Mandetta, diz Bolsonaro sobre ministro da Saúde”* - O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira (2) que está "faltando humildade" ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e disse que gostaria de determinar a reabertura da atividade comercial no país, mas que ainda não tem apoio popular suficiente para dar uma "canetada"."O Mandetta quer fazer muito a vontade dele. Pode ser que ele esteja certo. Pode ser. Mas está faltando um pouco mais de humildade para ele, para conduzir o Brasil neste momento difícil que encontramos e que precisamos dele para vencer essa batalha”​, afirmou em entrevista à Jovem Pan. Segundo Bolsonaro, o ministro "extrapolou" no enfrentamento da pandemia do coronavírus e teria, em alguns momentos, que "ouvir mais o presidente da República"​. Procurado pela Folha, o ministro da Saúde afirmou que não iria comentar. "Nunca fiz nenhum comentário sobre as ações dele. Não se comenta o que o presidente da República fala." E completou: "Não comento o que o presidente da República fala. Ele tem mandato popular, e quem tem mandato popular fala, e quem não tem, como eu, trabalha".
Bolsonaro, que havia adotado um discurso mais moderado em pronunciamento na terça-feira (31), voltou a minimizar a pandemia e a defender a retomada de atividades. “Para abrir comércio, eu posso abrir em uma canetada. Enquanto o Supremo e o Legislativo não suspenderem os efeitos do meu decreto, o comércio vai ser aberto. É assim que funciona, na base da lei", disse. "Eu estou esperando o povo pedir mais, porque o que eu tenho de base de apoio são alguns parlamentares. Tudo bem, não é maioria, mas tenho o povo do nosso lado. Eu só posso tomar certas decisões com o povo estando comigo", afirmou. O presidente defendeu que, a partir da próxima segunda-feira (6), estados e municípios determinem uma reabertura gradual da atividade comercial, evitando um aumento no desemprego. Em relação ao ministro da Saúde, que tem manifestado oposição a esse discurso do presidente, Bolsonaro disse: "O Mandetta já sabe que a gente tá se bicando há um tempo". Bolsonaro nega, porém, que pretenda demitir o ministro neste momento em que ele ganhou protagonismo no combate à pandemia do novo coronavírus. "O Mandetta já sabe que ele não está se bicando comigo. Já sabe disso. Eu não pretendo demiti-lo no meio da guerra. Não pretendo. Agora, ele é uma pessoa que, em algum momento, extrapolou”, disse.
O presidente ressaltou, no entanto, que nenhum ministro de sua equipe é "indemissível" e que "todo mundo pode ser demitido". Bolsonaro disse também que montou um ministério de acordo com sua vontade e que, agora, espera que o ministro "dê conta do recado". "A gente espera que ele dê conta do recado agora", afirmou. "Espero que o Mandetta prossiga na sua missão com um pouco mais de humildade." O presidente acrescentou que o Ministério da Saúde já poderia avaliar uma medida que implementasse o chamado isolamento vertical, voltado apenas a grupos de risco da doença. De acordo com ele, tem havido um "clima de pânico" entre parcela da equipe da pasta.
Mandetta e Bolsonaro vem travando um embate desde o começo da crise. O ministro tem defendido políticas de isolamento social frente à pandemia, incluindo o fechamento de estabelecimentos comerciais, como forma de evitar aglomerações e a proliferação da doença. Bolsonaro, no entanto, tem criticado esse discurso e as medidas, defendidas por Mandetta, adotadas pelos governadores de decretar uma quarentena. A relação entre o ministro e Bolsonaro vem numa escalada de tensão e subiu mais um nível no domingo (29), quando o presidente resolveu dar um passeio pela periferia do Distrito Federal, contrariando todas as orientações do Ministério da Saúde. O giro de Bolsonaro ocorreu um dia após Mandetta ter reforçado a importância do distanciamento social à população nesta etapa da pandemia do coronavírus. Mandetta também criticou as manifestações pela reabertura de empresas e de estabelecimentos comerciais, desencadeadas por declarações de Bolsonaro. "Fazer movimento assimétrico de efeito manada agora, nós vamos daqui a duas, três semanas, os mesmos que falam 'vamos fazer carreata" de apoio. Os mesmos que fizerem vão ser os mesmos que vão ficar em casa. Não é hora, agora", declarou no sábado (28).​
Mais cedo nesta quinta-feira, ao falar com apoiadores na saída do Palácio da Alvorada, Bolsonaro voltou a criticar governadores por medidas de restrição à circulação e disse que o governador João Doria (PSDB) "acabou com o comércio em São Paulo". Segundo o presidente, as ações tomadas por Doria, por serem excessivas, se converteram num "veneno". ​A nova rodada de críticas ocorre apenas dois dias depois de Bolsonaro ter feito um apelo por união em rede nacional de rádio e televisão, com o objetivo de coordenar esforços no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus. "Tem uma ponte que foi destruída, que é a roda da economia, o desemprego proporcionado por alguns governadores. Deixar bem claro: alguns governadores. Porque daqui a pouco vai a imprensa falar que eu estou atacando governador. Em especial [o] de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina. Se eu não me engano, Rio Grande do Sul prorrogou [isolamento social] por mais 30 dias", queixou-se o presidente na tarde desta quinta.
Doria e o governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (PSL), foram os principais destinatários dos ataques do presidente nesta quinta. "Esse Carlos Moisés, pelo amor de Deus! Mais um que se elegeu com meu nome", disse Bolsonaro, numa crítica a medidas de fechamento do comércio e de isolamento social. O governador catarinense rebateu dizendo que "não é hora de discurso político". “Estamos falando da preservação de vidas. Estamos falando de retomada de atividades com critérios técnicos e colocando a vida em primeiro lugar, a exemplo do que fizemos ontem [quarta, 1°]", disse. "Liberamos com regras rígidas o segmento da construção civil. É isso que estamos fazendo." Dentro do governo, os ministros Sergio Moro (Justiça) e Paulo Guedes (Economia) uniram-se nos bastidores no apoio a Mandetta e na defesa da manutenção das medidas de distanciamento social e isolamento da população no combate à pandemia. O trio formou uma espécie de bloco antagônico, com o apoio de setores militares, criando um movimento oposto ao comportamento do presidente Bolsonaro, contrário ao confinamento das pessoas, incluindo o fechamento do comércio.
Pressionado, o titular da Saúde deixou claro ao presidente, em reunião no último sábado (28), que não vai se demitir nem mudar de posição. Mandetta foi aconselhado por aliados a se manter firme por ter se tornado “indemissível” num momento de pandemia. Se partir de Bolsonaro uma decisão de retirá-lo de sua equipe, caberá ao presidente assumir o ônus. “Enquanto eu estiver nominado, vou trabalhar com ciência, técnica e planejamento”, disse Mandetta em entrevista na segunda-feira (30). Uma intervenção de Bolsonaro, no entanto, já busca tirar a visibilidade do ministro da Saúde, como ocorreu na apresentação do cenário diário da pandemia —transferida agora para o Planalto e com a participação de outros titulares de pastas do governo, e não só de Mandetta. No campo político, o ministro da Saúde conta com o apoio dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (AP), ambos do DEM, partido de Mandetta. É endossado ainda pelos principais governadores e prefeitos. Segundo o Datafolha, o trabalho da pasta de Mandetta na crise do coronavírus é aprovado por 55% da população. O índice é bem superior aos 35% que aprovam o trabalho de Bolsonaro, e próximo aos 54% que aprovam a gestão dos governadores em relação ao coronavírus.
*”Bolsonaro admite falta de apoio popular para determinar agora a reabertura do comércio”* - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) reconheceu nesta quinta-feira (2) que ainda não tem apoio popular suficiente para determinar uma reabertura da atividade comercial no país. Em entrevista à rádio Jovem Pan, ele disse que pode tomar uma decisão por meio de um projeto, mas que precisa estar amparado por um apoio maior da sociedade. "Eu estou esperando o povo pedir mais, porque o que eu tenho de base de apoio são alguns parlamentares. Tudo bem, não é maioria, mas tenho o povo do nosso lado. Eu só posso posso tomar certas decisões com o povo estando comigo", afirmou. “Para abrir comércio, eu posso abrir em uma canetada. Enquanto o Supremo e o Legislativo não suspenderem os efeitos do meu decreto, o comércio vai ser aberto. É assim que funciona, na base da lei." O presidente defendeu que, a partir da próxima segunda-feira (6), estados e municípios determinem uma reabertura gradual da atividade comercial, evitando um aumento no desemprego. Ele ressaltou que já tem pronto em sua mesa um modelo de proposta para determinar que os estabelecimentos comerciais sejam considerados uma atividade essencial durante a pandemia do coronavírus. “Eu tenho um projeto de decreto pronto na minha frente para ser assinado, se preciso for, considerando atividade essencial toda aquela exercida pelo homem e pela mulher através da qual seja indispensável para levar o pão para a casa todo dia”, disse. O presidente ressaltou, no entanto, que tem sofrido ameaças para não assiná-la, entre elas até mesmo a abertura de um processo de impeachment no Legislativo. Ele não especificou, no entanto, quem o tem ameaçado. “Eu, como chefe de Estado, tenho de decidir. Se tiver que chegar a esse momento, eu vou assinar essa medida provisória. Agora, sei que tem ameça de tudo o que é lugar para cima de mim se eu vier a assinar. Até de sanções tipo buscar um afastamento, sem qualquer amparo legal para isso. Bolsonaro negou que possa escalar as Forças Armadas para abrir de maneira forçada os estabelecimentos comerciais e disse que não cogita renunciar ao mandato. “Da minha parte, a palavra renúncia não existe. Eu fico feliz até por estar na frente [do combate] a um problema grande como esse. Fico pensando como estaria o outro que ficou em segundo lugar [Fernando Hadda (PT)] no meu lugar aqui”, disse. Bolsonaro reconheceu um eventual processo de impeachment por crime de responsabilidade fiscal preocupa pela possibilidade de criar uma instabilidade política em seu mandato.
Ele lembrou das dificuldades administrativas, como a aprovação de uma reforma da Previdência, enfrentadas pelo seu antecessor, Michel Temer (MDB), após a Procuradoria-Geral da República ter apresentado duas denúncias contra o emedebista. “A questão de impedimento tem uma série de regras que, se você ferir, entra na Lei de Responsabilidade Fiscal. Então, essa é uma preocupação muito grande da nossa parte. Porque, se chegar lá, a gente vai ter problemas”, afirmou Bolsonaro. Para o presidente, após a pandemia do coronavírus, a economia brasileira levará um ano para se recuperar. Na entrevista, ele disse ainda que fará um chamado nacional para que a população brasileira faça um dia de jejum religioso para que o país “fique livre desse mal”. Na entrevista, o presidente voltou a fazer críticas a prefeitos e governadores que adotaram medidas restritivas diante da pandemia da doença. O mais atacado foi o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Bolsonaro disse que Doria faz "política o tempo todo" e recorre a "demagogia barata". Segundo o presidente, como porta-voz dos governadores do país, o tucano é "péssimo em todos os aspectos". "​Com todo o respeito aos governadores, vocês estão muito mal de porta-voz. Esse porta-voz que vocês elegeram aqui é péssimo em todos os aspectos”, disse. “Não me venha esse porta-voz fazer discursinho barato e ginasial, falando que o governo federal tem dinheiro."
O presidente também acusou o tucano de não estar fazendo um trabalho sério e de estar antecipando o debate eleitoral de 2022. "Ele destrói a economia dele e agora vem com cara de freira e virgem imaculada dizer que o governo federal tem de ajudá-lo. E nós estamos ajudando todo mundo. Eu sou paulista e adoro o povo paulista, mas esse governador não está fazendo um trabalho sério", disse. Bolsonaro classificou ainda como ridícula a troca de afagos nas redes sociais entre o governador e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele disse ter ficado com vergonha da aproximação entre o tucano e o petista. "Já caiu a máscara dele [Doria] há muito tempo e agora ficou ridícula a situação dele se solidarizando com um ex-presidiário." Na entrevista, o presidente criticou a Folh​a. Ele disse que, todo dia, o jornal tem "três ou quatro fake news" e negou que tenha chorado recentemente diante da crise do coronavírus. Ele fez referência à reportagem da Folha sobre o isolamento político sofrido por Bolsonaro durante a pandemia. "Todo dia tem três ou quatro fake news comigo. Eu choro também, mas por esse motivo não. Eu estou cada vez mais forte em manter essa posição. Não estou sendo ameaçado, não tenho medo do perigo e nem da morte, já passei por ela uma vez", afirmou.
O presidente também criticou reportagem do jornal segundo a qual os ministros da Economia, Paulo Guedes, e da Justiça, Sergio Moro, se uniram ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em defesa da política de isolamento social. Segundo o presidente, o texto ressaltaria que os três ministros se articulam para tirá-lo do poder. A reportagem, no entanto, não faz referê​ncia a isso em nenhum momento. "A Folha de S.Paulo publicou esses dias: Moro articula com Guedes e com Mandetta tirar o Bolsonaro. Folha, Globo, IstoÉ. É uma vergonha o que esses caras fazem. É o tempo todo atacando o governo", disse Bolsonaro.​ Mais cedo nesta quinta-feira, ao falar com apoiadores na saída do Palácio da Alvorada, Bolsonaro voltou a criticar governadores por medidas de restrição à circulação e disse que o governador João Doria (PSDB) "acabou com o comércio em São Paulo". Segundo o presidente, as ações tomadas por Doria, por serem excessivas, se converteram num "veneno". "Acabou ICMS, vai ter dificuldade para pagar a folha agora, com toda certeza, nos próximos um ou dois meses. E [Doria] quer agora vir pra cima de mim. Tem que se responsabilizar pelo que fez. Ele tem que ter uma fórmula agora de começar a desfazer o que ele fez de excesso há pouco tempo. Não vai cair no meu colo essa responsabilidade. Desde o começo, eu estou apanhando dele e mais alguns exatamente por falar isso."
A nova rodada de críticas ocorre apenas dois dias depois de Bolsonaro ter feito um apelo por união em rede nacional de rádio e televisão, com o objetivo de coordenar esforços no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus. "Tem uma ponte que foi destruída, que é a roda da economia, o desemprego proporcionado por alguns governadores. Deixar bem claro: alguns governadores. Porque daqui a pouco vai a imprensa falar que eu estou atacando governador. Em especial [o] de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina. Se eu não me engano, Rio Grande do Sul prorrogou [isolamento social] por mais 30 dias", queixou-se o presidente na tarde desta quinta. Doria e o governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (PSL), foram os principais destinatários dos ataques do presidente nesta quinta. "Esse Carlos Moisés, pelo amor de Deus! Mais um que se elegeu com meu nome", disse Bolsonaro, numa crítica a medidas de fechamento do comércio e de isolamento social. O governador catarinense rebateu dizendo que "não é hora de discurso político". “Estamos falando da preservação de vidas. Estamos falando de retomada de atividades com critérios técnicos e colocando a vida em primeiro lugar, a exemplo do que fizemos ontem [quarta, 1°]", disse. "Liberamos com regras rígidas o segmento da construção civil. É isso que estamos fazendo."
Na manhã desta quinta-feira, Bolsonaro já havia divulgado um vídeo em suas redes sociais no qual uma bolsonarista critica os governadores e a imprensa. A mulher, que se apresentou como professora particular, apela para que o mandatário ponha "militares na rua" para encerrar medidas restritivas adotadas por governadores. "Não tem condições de a gente viver nessa situação. Vai faltar coisa para os meus filhos dentro da minha casa. Estou aqui pedindo para o senhor: põe esses militares na rua, põe para esse governador [do Distrito Federal], [que] já decretou de novo mais um mês sem aula, sem nada."
Ela se referiu ao governador Ibaneis Rocha (MDB), que, nesta segunda-feira (1), prorrogou medidas de isolamento social no DF. Em seu depoimento, a mulher também criticou os governadores que adotaram ações restritivas. "Esses governadores querem o quê? Todo mundo tem a casa deles, o dinheiro deles. E eu não tenho nada. A gente tem o senhor. É isso que a gente tem. Acordo cedo, não durmo, preocupada com a minha vida. E milhares de pessoas estão assim". Ela também atacou a imprensa: "Eu sou mãe de família, sou separada, tenho meus filhos. Vim ontem [quarta], estou aqui hoje e venho pedir para o sr. Porque a imprensa não ajuda a gente, a imprensa faz é acabar com a nossa vida. Eles não passam necessidade, estão aí só para falar mentira, para acabar com a vida do povo. Não sabem a necessidade de cada um", declarou. Ao final da declaração da simpatizante, Bolsonaro disse que ela fala "por milhões de pessoas". Nesta semana, o presidente havia sinalizado moderação com um discurso que falava em pacto nacional frente ao "maior desafio da nossa geração". “Agradeço e reafirmo a importância da colaboração e a necessária união de todos num grande pacto pela preservação da vida e dos empregos: Parlamento, Judiciário, governadores, prefeitos e sociedade”, declarou na terça-feira (31). Uma semana antes, o presidente foi alvo de pesadas críticas após um pronunciamento em que menosprezou a gravidade da pandemia, atacou governadores pelas medidas de isolamento social, às quais chamou de "política de terra arrasada", e culpou a imprensa pela crise do coronavírus. A moderação sinalizada no discurso de terça-feira, no entanto, durou pouco. Já na manhã de quarta-feira (1º) Bolsonaro voltou a criticar governadores e medidas de isolamento.
O presidente chegou a compartilhar um vídeo em que um homem aparece na Ceasa (Central de Abastecimento) de Belo Horizonte e relata uma situação de desabastecimento. Isso foi desmentido pela Ceasa, e Bolsonaro teve de pedir desculpas por ter feito a publicação sem checar. "Foi publicado em minhas redes sociais um vídeo que não condiz com a realidade para com o Ceasa/MG. Minhas sinceras desculpas pelo erro", escreveu. Depois que o desmentido começou a circular nas redes sociais, o presidente também apagou a publicação original que havia feito no Twitter, no Instagram e Facebook. Como mostrou a Folha, o histórico de radicalização de Bolsonaro e publicações feitas por ele em suas redes com ataques a governadores fizeram com que líderes políticos nos estados e no Legislativo encarassem com ceticismo o chamado por união feito pelo presidente em seu último pronunciamento. Bolsonaro também foi criticado após fazer um passeio no domingo (29) pelo comércio de Brasília, contrariando orientação da OMS (Organização Mundial da Saúde) e do próprio Ministério da Saúde, que defendem o isolamento social como forma de barrar o avanço da Covid-19. Em Ceilândia (DF), Bolsonaro conversou com vendedores como um assador de churrasco em espetinhos e defendeu sua visão de o comércio ficar aberto. “Eu defendo que você trabalhe, que todo mundo trabalhe. Lógico, quem é de idade fica em casa”, afirmou o presidente. “Às vezes, o remédio demais vira veneno", disse em referência à restrição de circulação e os reflexos para a economia.
+++ Todas as atenções estão voltadas para cada passo que Bolsonaro dá, para cada palavra que ele fala ou publica. Assim, a chance de que ele cometa erros é muito maior.
*”'Quem tem mandato fala, e quem não tem, como eu, trabalha', diz Mandetta após críticas de Bolsonaro”* - O ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde) disse à Folha que não comenta ações do presidente da República e que, por isso, não pretende rebater as declarações de Jair Bolsonaro sobre ele em entrevista à rádio Jovem Pan nesta quinta-feira (2). "Não comento o que o presidente da República fala. Ele tem mandato popular, e quem tem mandato popular fala, e quem não tem, como eu, trabalha", declarou. Bolsonaro afirmou que está faltando "humildade" ao ministro da Saúde. "Tá faltando um pouco mais de humildade pro Mandetta", disse o presidente. "O Mandetta em alguns momentos teria que ouvir um pouco mais o presidente da República." Questionado sobre as declarações do presidente, Mandetta apenas respondeu inicialmente: “ok”. "Nunca fiz nenhum comentário sobre as ações dele. Não se comenta o que o presidente da República fala", reforçou o ministro da Saúde. Em seguida, disse que estava analisando dados sobre o novo coronavírus e preocupado com a situação de algumas regiões. "Eu acho que estamos frente a uma doença nova, e está todo mundo aprendendo com essa doença. Vamos saber o que ela vai fazer com nosso sistema de saúde. Rezo a Deus que nada disso aconteça aqui, que eu esteja absolutamente errado, que toda a ciência esteja absolutamente errada", afirmou o ministro.
*”Bolsonaro diz desconhecer hospitais lotados e afirma que medidas estaduais não cairão em seu colo”* - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a minimizar a pandemia do novo coronavírus nesta quinta-feira (2), quando disse "desconhecer qualquer hospital que esteja lotado" e afirmou que as consequências econômicas das medidas de isolamento social tomadas pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), não vão cair em seu colo. A nova rodada de críticas ocorre apenas dois dias depois de Bolsonaro ter feito um apelo por união em rede nacional de rádio e televisão, com o objetivo de coordenar esforços no enfrentamento da doença. "Eu desconheço qualquer hospital que esteja lotado. Desconheço. Muito pelo contrário. Tem um hospital no Rio de Janeiro, um tal de Gazolla [Hospital Municipal Ronaldo Gazolla​], que se não me engano tem 200 leitos. Só tem 12 ocupados até agora", afirmou o presidente na tarde desta quinta a um grupo de apoiadores que o esperava na entrada do Palácio da Alvorada. "Então não é isso tudo que estão pintando. Até porque no Brasil a temperatura é diferente, tem muita coisa diferente aqui." Questionado sobre a declaração do presidente, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse trabalhar "olhando além da doença do coronavírus, olhando a doença do próprio sistema de saúde". "Mas fico muito feliz de o presidente estar constatando que as medidas estão conseguindo segurar uma espiral de casos. Se é no Rio de Janeiro, fico até mais confortável porque lá temos quase 4 milhões de pessoas em áreas de exclusão social", afirmou Mandetta.
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde do Rio informou que o Hospital Municipal Ronaldo Gazolla tem atualmente 56 pessoas internadas com suspeita de coronavírus, sendo 21 na UTI. A unidade dispõe, segundo a secretaria, de 128 leitos dedicados exclusivamente para internação de pacientes com a doença. Uma ampliação está sendo feita para abrigar um total de 381 leitos. Na conversa com apoiadores, Bolsonaro novamente criticou governadores e disse que problemas ocasionados pela paralisação da economia em São Paulo, como queda na arrecadação estadual, não vão cair em seu colo. "Tem uma ponte que foi destruída, que é a roda da economia, o desemprego proporcionado por alguns governadores. Deixar bem claro: alguns governadores. Porque daqui a pouco vai a imprensa falar que eu estou atacando governador. Em especial [o] de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina. Se eu não me engano, Rio Grande do Sul prorrogou [isolamento social] por mais 30 dias", queixou-se o presidente. Doria e o governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (PSL), foram os principais destinatários dos ataques do presidente nesta quinta."Esse Carlos Moisés, pelo amor de Deus! Mais um que se elegeu com meu nome", disse Bolsonaro, numa crítica a medidas de fechamento do comércio e de isolamento social.
O governador catarinense rebateu dizendo que "não é hora de discurso político". “Estamos falando da preservação de vidas. Estamos falando de retomada de atividades com critérios técnicos e colocando a vida em primeiro lugar, a exemplo do que fizemos ontem [quarta, 1°]", disse. "Liberamos com regras rígidas o segmento da construção civil. É isso que estamos fazendo." Sobre Doria, um dos seus principais antagonistas, Bolsonaro disse que o tucano "acabou com o comércio de São Paulo" e agora quer ajuda federal para resolver o problema da queda de arrecadação. Ele argumentou que as ações tomadas por Doria, por serem excessivas, se converteram num "veneno". "Acabou ICMS, vai ter dificuldade para pagar a folha agora, com toda certeza, nos próximos um ou dois meses. E [Doria] quer agora vir pra cima de mim. Tem que se responsabilizar pelo que fez. Ele tem que ter uma fórmula agora de começar a desfazer o que ele fez de excesso há pouco tempo. Não vai cair no meu colo essa responsabilidade. Desde o começo, eu estou apanhando dele e mais alguns exatamente por falar isso", concluiu. Na manhã desta quinta-feira, Bolsonaro já havia divulgado um vídeo em suas redes sociais no qual uma bolsonarista critica os governadores e a imprensa.
A mulher, que se apresentou como professora particular, apela para que o mandatário ponha "militares na rua" para encerrar medidas restritivas adotadas por governadores. "Não tem condições de a gente viver nessa situação. Vai faltar coisa para os meus filhos dentro da minha casa. Estou aqui pedindo para o senhor: põe esses militares na rua, põe para esse governador [do Distrito Federal], [que] já decretou de novo mais um mês sem aula, sem nada." Ela se referiu ao governador Ibaneis Rocha (MDB), que, nesta segunda-feira (1), prorrogou medidas de isolamento social no DF. Em seu depoimento, a mulher também criticou os governadores que adotaram ações restritivas. "Esses governadores querem o quê? Todo mundo tem a casa deles, o dinheiro deles. E eu não tenho nada. A gente tem o senhor. É isso que a gente tem. Acordo cedo, não durmo, preocupada com a minha vida. E milhares de pessoas estão assim". Ela também atacou a imprensa: "Eu sou mãe de família, sou separada, tenho meus filhos. Vim ontem [quarta], estou aqui hoje e venho pedir para o sr. Porque a imprensa não ajuda a gente, a imprensa faz é acabar com a nossa vida. Eles não passam necessidade, estão aí só para falar mentira, para acabar com a vida do povo. Não sabem a necessidade de cada um", declarou. Ao final da declaração da simpatizante, Bolsonaro disse que ela fala "por milhões de pessoas".
*”Bolsonaro diz que fará chamado nacional para dia de jejum religioso contra coronavírus”* - O presidente Jair Bolsonaro afirmou que fará um chamado nacional de jejum religioso para que o país “fique livre desse mal”, em referência à pandemia do novo coronavírus. “A gente vai junto com pastores e religiosos anunciar para pedir um dia de jejum ao povo brasileiro em nome de que o Brasil fique livre desse mal o mais rápido possível”, disse o presidente na noite desta quinta-feira (2) em entrevista à rádio Jovem Pan. Mais cedo, na entrada do Palácio da Alvorada, o presidente conversou com pastores evangélicos e indicou que o jejum poderia ser convocado neste domingo (5).
OPINIÃO - *”Bolsonaro flerta com Viktor Orbán, mas tática lembra mais Jânio Quadros”*
*”Supremo dá sinais de imposição de limites a Bolsonaro na crise do coronavírus”* - Em meio à crise do novo coronavírus, o STF (Supremo Tribunal Federal) tem dado sinais de tentativas de impor limites às ações do presidente Jair Bolsonaro. A maioria dos ministros, apesar de entender que cabe ao governo federal coordenar o combate à pandemia, está disposta a impedir movimentos do chefe do Executivo para afrouxar medidas contra o alastramento da Covid-19. As recorrentes declarações de Bolsonaro de relativizar a necessidade de isolamento social tem incomodado integrantes da corte, que passaram a conversar nos bastidores sobre como garantir uma atuação técnica do Executivo no enfrentamento à doença. Gestos públicos da insatisfação do STF com o presidente foram dados recentemente, por exemplo, com as decisões de dar andamento a duas ações contra Bolsonaro. Em vez de negar seguimento ou deixar os processos em ritmo lento, os ministros Marco Aurélio e Alexandre de Moraes preferiram levar à frente os questionamentos que tratam especificamente da atuação de Bolsonaro durante a crise. Um deles é uma notícia-crime do deputado Reginaldo Lopes (PT-MG) contra o presidente, por supostamente ter violado a lei que determina pena a quem desrespeitar ordem do poder público para evitar propagação de doença contagiosa. Marco Aurélio pediu manifestação da Procuradoria-Geral da República. Outro é uma ação da Ordem dos Advogados do Brasil para que Bolsonaro se adeque às exigências da OMS (Organização Mundial da Saúde) em relação à doença. Moraes deu 48 horas para o presidente prestar esclarecimentos na ação. Thomaz Pereira, professor da FGV Direito Rio, explica que não há nada de extraordinário nos despachos de Marco Aurélio e Moraes, mas ressalta que as decisões passam uma sinalização importante. “Não diz nada sobre o desfecho que o processo vai ter, mas digamos que é diferente de deixar essa notícia-crime parada ou engavetada”, avalia.
Mesmo que os casos não evoluam e não tenham consequências práticas, enquanto estão abertos podem virar uma arma política para a corte. As sinalizações ainda se juntam a outras que ministros vinham emitindo. Recentemente, a corte preservou a competência dos estados no enfrentamento à pandemia e derrubou os efeitos de norma do Planalto para restringir a Lei de Acesso à Informação durante a crise. Até o presidente do Supremo, Dias Toffoli, que costuma fazer gestos em direção a Bolsonaro em busca de consenso, tem mandado recados ao Planalto. No último dia 16, ele convocou uma reunião entre os chefes de Poderes e de tribunais superiores para discutir o combate à Covid-19 e evitou convidar Bolsonaro. A justificativa foi de que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e o advogado-geral da União, André Mendonça, estavam presentes e detalharam as ações técnicas do governo. Toffoli, porém, não quis convidar Bolsonaro para o encontro. Dias depois, ele pautou uma série de discussões sobre os limites de atribuições de governos federal, estadual e municipal em áreas que têm gerado conflito entre Bolsonaro e governadores e prefeitos. Uma delas questiona a medida provisória que obrigou que todas as decisões sobre transporte intermunicipal passem pelo governo federal; a depender do resultado, o julgamento pode representar menos poder à União.Na contramão do discurso de Bolsonaro, o presidente do STF também defendeu, na segunda (30), a necessidade de respeitar as decisões estaduais de isolamento social. “Tudo que tem ocorrido no mundo leva a crer na necessidade do isolamento. Que é para puxar a disseminação de uma curva [de contágio] e ter atendimento de saúde para população em geral”, disse. Nos bastidores, ministros afirmam que é momento de dar todo suporte técnico necessário para o Executivo enfrentar a doença e que é necessário respeitar a análise de cientistas e estudiosos da área. Nesse sentido, Alexandre de Moraes levou menos de 48 horas para analisar a ação da AGU e dar liberdade para o governo descumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal e manobrar o orçamento no combate ao coronavírus. Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso seguiram o comportamento dos colegas em relação ao chefe do Executivo em meio à crise. Primeiro, Barroso decidiu, mesmo depois de a Secretaria Especial de Comunicação negar a veiculação da propaganda, proibir a campanha “O Brasil não pode parar”, preparada pelo governo. Na decisão, ele aproveitou para refutar o argumento de que o Brasil tem situação econômica diversa e, por isso, tem que adotar medidas diferentes. “Nada recomenda que as medidas de contenção da propagação do vírus sejam flexibilizadas em países em desenvolvimento. Ao contrário, tais medidas, em cenários de baixa renda, são urgentes e devem ser rigorosas”, disse.
Depois, foi a vez de Gilmar criticar o governo. Nas redes sociais, ele comentou a demora no pagamento dos R$ 600 a trabalhadores informais aprovado pelo Congresso e rebateu afirmação do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que seria necessária uma proposta de emenda à Constituição para liberar a verba. “Não adianta tentar colocar a culpa na Constituição: as suas salvaguardas fiscais não são obstáculo, mas ferramenta de superação desta crise. O momento exige grandeza para se buscar soluções de uma Administração Pública integrada e livre do sectarismo. #PagaLogo”. Luiz Fux, um dos ministros da corte mais próximos a Bolsonaro, também tem ido na direção oposta do presidente e defendido o isolamento social. Nas manifestações ao STF, a AGU tem defendido as ações do governo. No pedido para o Supremo flexibilizar a Lei de Responsabilidade Fiscal, por exemplo, o órgão afirmou que estão sendo tomadas “diversas medidas pelo Executivo federal para reduzir os impactos da Covid-19”. A AGU ressaltou que, apesar das “inúmeras ações” do governo, a queda de arrecadação será inevitável e é preciso dar mais liberdade orçamentária para o governo enfrentar a doença. Para Pereira, o Supremo tem agido sempre que o governo foge dos acordos criados entre estados, municípios e órgãos federais, como o próprio STF e o Congresso. “O tribunal tem atuado contra o Executivo quando o Executivo está fora do consenso ou faz coisa que restringe direito fundamental de maneira não ligada ao que seja necessário para lidar com a crise”, diz. “Mas, quando o governo pede mais poderes para lidar com a crise na direção do consenso, o tribunal rapidamente se manifestou.”
*”Juíza supõe que preso descumprirá quarentena do coronavírus e nega pedido de liberdade”*
ANÁLISE - *”Dúbio, Bolsonaro minimiza pandemia enquanto busca mais poder no STF”*
*”Lula e Doria esquecem diferenças e trocam afagos sobre crise do coronavírus”* - Adversários históricos e ferrenhos, o ex-presidente Lula (PT) e o governador João Doria (PSDB) esqueceram as diferenças políticas e trocaram afagos em uma rede social em meio à crise do coronavírus. "Nossa obsessão agora tem que ser vencer o coronavírus. Chegamos ao ponto do Doria ter que mandar a PM invadir fábrica pra pegar máscara. A gente tem que reconhecer que quem tá fazendo o trabalho mais sério nessa crise são os governadores e os prefeitos", escreveu o petista em sua conta no Twitter. No último sábado, o governador recolheu 500 mil máscaras para profissionais de saúde da empresa 3M. Ele usou uma lei federal de fevereiro deste ano que tipifica uma série de medidas em emergências de saúde pública. A declaração de Lula foi uma crítica indireta ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que vem se opondo a governadores sobre as políticas a serem adotadas na crise. Doria respondeu ao ex-presidente: "Temos muitas diferenças. Mas agora não é hora de expor discordâncias. O vírus não escolhe ideologia nem partidos. O momento é de foco, serenidade e trabalho para ajudar a salvar o Brasil e os brasileiros".
Bolsonaro respondeu durante a tarde. "Quando falamos em união, nos referimos aos que querem o melhor para o Brasil e para os brasileiros, não uma aliança com quem quase o destruiu por completo. Discordâncias temos entre meras posições. Superar divergência não é abandonar a própria honra nem a verdade", escreveu no Twitter. Também pela rede social, o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho do presidente, aproveitou para atacar o ex-presidente e o governador de São Paulo, que tem criticado publicamente o seu pai. "Ainda precisa desenhar? Eis as duas bandas que formam a bunda", escreveu. Outro filho do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro escreveu que "o recado de Lula não é de união, é político: neste momento vale a pena PT estar junto do PSDB contra Bolsonaro". "Antigamente PT e PSDB se fingiam de opositores, o que era conhecido como estratégia das tesouras. Hoje eles não tem mais esse pudor." Apesar do aceno ao tucano, Lula ficou de fora de ação da esquerda desta semana. Nesta segunda (30), políticos da oposição —incluindo os ex-candidatos à presidência Fernando Haddad (PT) e Ciro Gomes (PDT)— assinaram carta que pede a renúncia de Bolsonaro. Lula não está entre os signatários.
Trocar farpas era algo comum entre os dois. O tucano venceu as eleições de 2016, para a Prefeitura de São Paulo, na onda do antipetismo, e as de 2018, para governador, com o "Bolsodoria", fazendo referência ao hoje presidente Bolsonaro. Em 2018, quando disputou o segundo turno com Márcio França (PSB), Doria adotou a estratégia de associá-lo à extrema-esquerda. Em entrevista, referiu-se ironicamente a França como "Márcio Cuba", para depois se corrigir, e afirmou que o adversário idolatrava Lula. Em outro episódio, em maio de 2017, Lula chamou Doria de "almofadinha", que retrucou afirmando que o petista era covarde. "Um almofadinha, um coxinha, ganha as eleições de São Paulo se fazendo passar, junto ao povo mais humilde, de João Trabalhador. Se algum dia vocês encontrarem ele, perguntem se ele já teve, na vida, uma carteira profissional assinada, que você vai ver se ele foi ou não trabalhador", afirmou o petista, em um congresso do PT, fazendo referência ao apelido que Doria havia adotado para si mesmo no início do seu mandato como prefeito. Em vídeo, Doria respondeu: "Lula, você além de mentiroso, além de covarde, agora é um desinformado. Você falou da minha carteira de trabalho. Está aqui a minha carteira de trabalho. Eu, com 13 anos de idade, já trabalhava. Fazia o que poucas vezes você fez na sua vida. Eu trabalho, Lula. E trabalho honesto. Eu sou decente, diferente de você, Lula".
Lula foi solto no início de novembro, beneficiado por um novo entendimento do STF (Supremo Tribunal Federal) segundo o qual a prisão de condenados somente deve ocorrer após o fim de todos os recursos. O petista, porém, segue enquadrado na Lei da Ficha Limpa, impedido de disputar eleições. Ele permaneceu preso de 7 abril de 2018 a 08 de novembro de 2019 em uma cela especial da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba. Lula foi condenado em primeira, segunda e terceira instâncias sob a acusação de aceitar reformas e a propriedade de um tríplex, em Guarujá, como propina paga pela empreiteira OAS em troca de contrato com a Petrobras, o que ele sempre negou. A pena do ex-presidente foi definida pelo Superior Tribunal de Justiça em 8 anos, 10 meses e 20 dias, mas o caso ainda tem recursos pendentes nessa instância e, depois, pode ser remetido para o STF. Nessa condenação, Lula já havia atingido em setembro a marca de um sexto de cumprimento da pena imposta pelo STJ. Por isso, mesmo antes da recente decisão do Supremo, ele já reunia condições para deixar o regime fechado de prisão. Ainda neste, o Supremo pode anular todo esse processo do tríplex, sob o argumento de que o juiz responsável pela condenação, o hoje ministro Sergio Moro, não tinha a imparcialidade necessária para julgar o petista. Não há data marcada para que esse pedido da defesa do ex-presidente seja analisado. Além do caso tríplex, Lula foi condenado em segunda instância a 17 anos e 1 mês de prisão por corrupção e lavagem no caso do sítio de Atibaia (SP). O ex-presidente ainda é réu em outros processos na Justiça Federal em São Paulo, Curitiba e Brasília.
*”Afago entre Lula e Doria é sinal para fora da bolha e isola Bolsonaro”* - A troca de afagos entre o ex-presidente Lula (PT) e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), em uma rede social em meio à crise do coronavírus representou um aceno para fora de suas bolhas e evidenciou o isolamento político do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Tucano e petista, adversários históricos e ferrenhos, colocaram as diferenças de lado nesta quinta-feira (2). "Nossa obsessão agora tem que ser vencer o coronavírus. Chegamos ao ponto do Doria ter que mandar a PM invadir fábrica pra pegar máscara. A gente tem que reconhecer que quem tá fazendo o trabalho mais sério nessa crise são os governadores e os prefeitos", escreveu Lula em sua conta no Twitter. No último sábado (28), o governador recolheu 500 mil máscaras para profissionais de saúde da empresa 3M. Ele usou uma lei federal de fevereiro deste ano que tipifica uma série de medidas em emergências de saúde pública. Doria respondeu ao ex-presidente: "Temos muitas diferenças. Mas agora não é hora de expor discordâncias. O vírus não escolhe ideologia nem partidos. O momento é de foco, serenidade e trabalho para ajudar a salvar o Brasil e os brasileiros".​
Ao exaltar governadores e prefeitos, Lula faz uma crítica a Bolsonaro, que vem se opondo ao isolamento pregado determinado gestores locais e recomendado pela Organização Mundial da Saúde. Doria, por sua vez, também tornou-se símbolo de oposição a Bolsonaro após travar embates com o presidente em torno da gestão da crise. A pandemia antecipou os planos do tucano, que pretende ser candidato à Presidência em 2022, de fazer frente a Bolsonaro —em quem pegou carona para eleger-se em 2018. A união dos opostos num momento de gravidade sem precedentes foi lida por ​bolsonaristas como sinal de acerto para a derrubada do presidente. A reação nas redes foi imediata, com as hashtags LulaDoria e DoriaPiorQueLula. O próprio Bolsonaro reagiu. Após pedir um pacto nacional no pronunciamento de terça (31), colocou limites ao entendimento entre Lula e Doria. "Quando falamos em união, nos referimos aos que querem o melhor para o Brasil e para os brasileiros, não uma aliança com quem quase o destruiu por completo. Discordâncias temos entre meras posições. Superar divergência não é abandonar a própria honra nem a verdade", escreveu. Mais tarde, em entrevista à rádio Jovem Pan, Bolsonaro afirmou ainda estar "com vergonha dessa aproximação" entre Lula e Doria e que "caiu a máscara" do tucano. Para petistas e tucanos ouvidos pela reportagem, porém, o gesto foi apenas simbólico e, apesar de sinalizar uma abertura ao diálogo e a fragilidade de Bolsonaro, não significa necessariamente construção política conjunta entre os partidos. A troca de tuítes, na opinião desses políticos, foi feita no calor do momento, numa demonstração de civilidade e trégua humanitária dos dois lados. Lula e Doria, assim como seus respectivos partidos, têm falado em evitar a disputa política aberta e concentrar as energias em soluções de saúde para enfrentamento da pandemia. Num cenário em que a crise política e a sanitária caminham grudadas, porém, os líderes não têm poupado ataques a Bolsonaro.
Em entrevistas nesta semana, Lula cobrou que o governo dê orientação às pessoas, coordene ações de estados e municípios e, sobretudo, que pague o auxílio emergencial para que os mais pobres possam cumprir o isolamento. "A prioridade do Lula e do PT é orientar a população e cobrar o governo. Que Bolsonaro pague as pessoas", diz o ex-deputado Jilmar Tatto, secretário de comunicação do PT. Da mesma forma em que buscou ser propositivo, Lula também reverberou o pensamento da esquerda de que Bolsonaro não tem mais condições de ocupar o cargo de presidente. Falou em renúncia e em impeachment. A jornalistas de veículos de esquerda o petista explicou, porém, que não endossa o "fora, Bolsonaro" por ter dúvidas se há crime de responsabilidade e diz ter pedido ao PT um estudo sobre isso. Lula afirmou que uma nova avaliação pode fazer o partido adotar essa bandeira. Uma ala do PT, diante da avaliação de que o impeachment não conta com maioria no Congresso e nem mobilização popular suficiente, prefere não entrar nessa briga em meio à pandemia. Outra vertente acredita que passou da hora de articular a saída de Bolsonaro. Lula tem mantido o pé no freio —ficou de fora de ação da esquerda nesta semana. Na segunda (30), políticos da oposição, incluindo os ex-candidatos à presidência Fernando Haddad (PT) e Ciro Gomes (PDT), assinaram carta que pede a renúncia de Bolsonaro. O ex-presidente não está entre os signatários.​ Ele disse que considerou não ser necessário assinar por não ter sido candidato em 2018 e nem ser presidente de partido.
O aceno a Doria e a hesitação em embarcar no impeachment de Bolsonaro se encaixam na versão tida como conciliadora e mais ponderada do ex-presidente, que foi eclipsada pelo tom raivoso adotado logo ao sair da prisão, em novembro passado. Depois de 580 dias preso pela Lava Jato, Lula deixou a carceragem da Polícia Federal em Curitiba exaltando a polarização. "Um pouco de radicalismo faz bem a nossa alma. […] Não estou mais radical, estou mais consciente", chegou a dizer. Sempre com críticas à imprensa na ponta da língua, Lula também elogiou o trabalho dos jornalistas ​na pandemia do coronavírus em suas falas nos últimos dias. Afirmou ainda que vem se reunindo com economistas, especialistas e com entidades de esquerda, como o MST e CUT. Sinalizou estar aberto ao diálogo com Ciro Gomes, que se afastou do PT. Ao mesmo tempo, Lula desferiu os ataques costumeiros a veículos da grande mídia e ao ex-juiz Sergio Moro. Ainda recusou aproximação com os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Michel Temer (MDB). "​São pessoas que eu não me vejo conversando", declarou. Lula foi condenado em primeira, segunda e terceira instâncias sob a acusação de aceitar reformas e a propriedade de um tríplex, em Guarujá, como propina paga pela empreiteira OAS em troca de contrato com a Petrobras, o que ele sempre negou. Depois, foi condenado também em primeira e segunda instâncias no caso do sítio de Atibaia (SP).
OPINIÃO - *”Atual 'revolta dos governadores' é evento inusitado por amplitude e força”*
*”Base digital de Bolsonaro vê autoritarismo nas medidas de combate ao coronavírus”* - Expoente da tropa de choque digital de Jair Bolsonaro, o jornalista Allan dos Santos bradou no Twitter, na quarta-feira (1): "O Estado Democrático de Direito morreu de Covid-19". Desde que os governadores adotaram medidas de isolamento social, com fechamento do comércio e a proibição de aglomerações, o discurso de que o Brasil caminha para uma ditadura se espraiou pelo conservadorismo mais alinhado ao presidente. Para alguns ativistas, o fim das liberdades democráticas já está entre nós. O discurso é feito por comunicadores que costumam relativizar o golpe de 1964 e a ditadura militar, e sobre os quais sempre pairou a suspeita de defesa de um endurecimento por parte de Bolsonaro. Agora, decidiram contra-atacar com as mesmas armas, dizendo a seus oponentes ideológicos que autoritários são eles. Por este discurso, a suposta ditadura que se aproxima seria comunista, mais especificamente chinesa, país onde o vírus surgiu. E poderia levar a uma reação. O mesmo Allan dos Santos que apontou o fim do Estado democrático de Direito lançou uma enquete online perguntando: "Você acha que Bolsonaro deveria pedir intervenção militar no Brasil?". "Eu acho que não, mas queria ouvir meus seguidores", ressalvou. Até a tarde desta quinta (2), mais de 44 mil pessoas haviam participado da votação, que se encerra no sábado (4).
Responsável pela área de direitos humanos na Procuradoria-Geral da República, o procurador Ailton Benedito listou uma série de medidas que em seu modo de ver minam a democracia e que estão sendo implementadas sob a justificativa de combater a pandemia. Entre elas, mencionou a proibição do exercício da liberdade de pensamento, locomoção e expressão e o controle estatal sobre a atividade econômica. "Tudo isso sem decretação de medida excepcional do Estado de Sítio. Em que país estamos mesmo?", perguntou. As maiores queixas dos conservadores se referem a restrições de mobilidade, veto ao trabalho de comerciantes, proibição de carreatas e a retirada de posts de redes sociais por espalharem notícias falsas. "Em diversos lugares do país, agentes públicos usam a epidemia de coronavírus para atacar as liberdades individuais e o direito ao trabalho, condenando o povo ao silêncio e à fome", escreveu o jornal online Brasil Sem Medo, ligado ao escritor Olavo de Carvalho, em 28 de março, sob o título "O Vírus da Tirania". Vários exemplos dessa "tirania" vêm sendo explorados pela direita bolsonarista. Em 27 de março, a proibição de uma carreata em Criciúma (SC) que defenderia a reabertura parcial do comércio foi denunciada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). "Não podemos de maneira nenhuma vender nossas liberdades, ainda mais com base num cenário futuro sem certeza científica", disse.
Também causou espécie a prisão de um empresário em Paraty (RJ) por ter tentado distribuir cestas básicas para 200 pessoas, apontada pela deputada Bia Kicis (PSL-DF) como exemplo de autoritarismo. Da mesma forma, a decisão do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), de não permitir uma carreata em Belém no domingo (29) recebeu severas críticas. "Hoje o ditadorzinho Helder Barbalho prendeu 11 pessoas por exercerem seu direito de se manifestar. Veja o aparato policial utilizado contra cidadãos que não aceitam a imposição do governador!", atacou Edson Salomão, presidente do Movimento Conservador, aliado do presidente. Uma referência constante dos apoiadores de Bolsonaro tem sido o livro "1984", do escritor britânico George Orwell, que, ironicamente, era um socialista convicto, embora oponente do totalitarismo soviético. Publicada em 1949, a obra mostra um futuro distópico em que a vida dos cidadãos é totalmente controlada pelo Estado.
Ela vem sendo invocada pela direita pró-Bolsonaro para denunciar a ação de empresas de mídia como Twitter, Facebook e Instagram, que removem textos considerados falsos e disseminadores de desinformação na atual crise. Isso ocorreu com o próprio presidente Bolsonaro, que teve removido conteúdo referente ao seu passeio por cidades-satélites de Brasília no último domingo. A atitude do Twitter rendeu à rede a alcunha de "passarinho vermelho" por conservadores, em referência ao símbolo da empresa. Também houve protestos quando uma postagem do apresentador de TV bolsonarista Sikêra Junior, da RedeTV!, foi excluída pelo Facebook. "A ditadura ataca por todos os lados. 1984 é fichinha perto do que estamos vivendo hoje em dia", reclamou o empresário e ativista conservador Leandro Ruschel. Por esse raciocínio, o Brasil estaria se encaminhando para um regime socialista, em que as liberdades individuais são restritas e os trabalhadores passam a ter de depender do Estado, uma vez que sua fonte de renda secou. É um modelo oposto ao que defendem conservadores e liberais que se uniram para eleger Bolsonaro, o que explica a reação tão virulenta da direita que segue apoiando o presidente. Como resumiu num post o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), espécie de coordenador das redes de apoio a seu pai. "O desenho é claro: partimos para o socialismo. Todos dependentes do Estado até para comer. [...] Conseguem a passos largos fazer o que tentam desde antes de 1964", escreveu na quarta (1). ​
+++ A epidemia do coronavírus já revelou o “terraplanismo sanitário”, essa reportagem mostra que existe o “terraplanismo político”.
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*”MP que autoriza corte de salário de até 100% tem trecho inconstitucional, dizem advogados; entenda o texto”* - O texto da MP (Medida Provisória) 935, que autoriza o corte de salários e jornadas de trabalhadores em até 100%, contém um trecho inconstitucional e outros potencialmente ilegais, segundo advogados ouvidos pela reportagem. O principal problema é a possibilidade, instituída pela MP, de as empresas reduzirem salários e jornadas de trabalho por meio de acordo individual com os trabalhadores. A Constituição proíbe em seu artigo 7º a redução salarial, a menos que ela esteja prevista em acordo ou convenção coletiva. “A via do acordo individual não é permitida, nem em situação de calamidade pública. Precisa ser feito por acordo coletivo e os sindicatos têm se mostrado abertos à negociação neste momento de crise”, diz Antônio de Freitas Jr., professor de direito do trabalho da USP. “A figura do acordo individual é inconstitucional, embora haja decisões recentes do Supremo que possam relativizar isso. De qualquer modo, a minha recomendação a clientes é fazer qualquer redução de jornada e salário mediante acordo com o sindicato da categoria”, diz Cássia Pizzotti, sócia do escritório Demarest. A suspensão do contrato de trabalho prevista na MP também pode ser contestada no Judiciário, segundo Freitas Jr. “O texto entreabre o uso da suspensão do contrato de trabalho como forma mascarada de supressão do salário do trabalhador, o que é ilegal”.
Pelo texto da norma, trabalhadores que tenham o contrato suspenso ou reduções de jornada e salário terão um benefício do governo que pode chegar a 100% do que receberiam de seguro-desemprego em caso de demissão (que hoje varia entre R$ 1.045 e R$ 1.813,03). O valor do pagamento dependerá do faturamento da empresa e da faixa salarial do empregado. Esse benefício será acumulado, na maioria dos casos, com o pagamento de uma ajuda compensatória mensal pelo empregador que não terá natureza salarial, mas sim indenizatória. “Isso prejudica o trabalhador, porque esse valor não contaria para o cálculo de contribuição previdenciária, férias, 13º salário, ou FGTS. A empresa, por outro lado, ainda ganha porque poderá abater esse valor de seu lucro para cálculo de Imposto de Renda ou Contribuição Social sobre Lucro Líquido”, diz Freitas Jr. Pela norma, as empresas poderão negociar com cada empregado, independentemente da faixa salarial, corte salarial de exatamente 25%. Para cortar 50% e 70%, a negociação poderá ser individual apenas com funcionários de duas faixas salariais: até três salários mínimos (R$ 3.117) ou mais de R$ 12.202. “Pelo anúncio do governo, quem tem salários menores poderia negociar diretamente com o patrão, o que não está previsto na Constituição. A lógica é de que a redução não seria tão significativa nesses casos, porque seria complementada pelo benefício pago pelo governo, mas o sindicato pode ser mais necessário justamente para essa faixa”, diz Otavio Pinto e Silva, sócio do Siqueira Castro.
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MÔNICA BERGAMO - *”Clube de elite de SP reduz salário de empregados em 25%”*: O Clube Athletico Paulistano diminuiu em 25% os salários de funcionários, mas manteve o preço da mensalidade de seus sócios —que cobre 94,4% da folha salarial. O Paulistano diz que o Sindiclube, que representa clubes do estado de SP, assinou aditivo que permite a diminuição da jornada de trabalho e salários em 25%.
MÔNICA BERGAMO - *”Covas determina que oficinas digitais de SP fabriquem máscaras reutilizáveis”*
 
CAPA – Manchete principal: *”Casos chegam a 1 milhão no mundo, e aumenta a disputa por equipamentos”*
EDITORIAL DO GLOBO - *”Governo indeciso prejudica os informais”*: O governo tem demonstrado razoável capacidade de formulação de medidas para reduzir os efeitos das ondas de impacto recessivas geradas pela paralisação global decorrente da pandemia do coronavírus. Parece ter havido alguma perplexidade no início, mas o pedigree liberal da equipe econômica não impediu que fosse entendido ser imperioso criarem-se programas para destinar dinheiro público em grande volume à saúde, a pessoas e a empresas, a fim de se cuidar dos doentes e impedir uma crise social em meio a uma depressão econômica. Em entrevistas coletivas, ministros e presidentes de bancos públicos, incluindo o BC, alinharam programas destinados a atacar grandes focos da crise: colocar dinheiro nas mãos de dezenas de milhões de trabalhadores informais cuja fonte de renda secou; e apoiar as empresas, principalmente as menores, para que evitem demitir, seja com a transferência de dinheiro do Tesouro para ou pela oferta de crédito abundante e barato. Mas surgiu uma peculiaridade negativa brasileira: é muito mais fácil o governo anunciar ações do que executálas, devido à atávica burocracia nacional, uma questão que se torna dramática quando se trata de salvar vidas, manter empregos, preservar renda. Nesta crise, o caso emblemático é a especial lentidão com que tramita no circuito entre Palácio do Planalto, Ministério da Economia e outras pastas a mais urgentedasmedidas:adistribuiçãomensal,portrêsmeses,deumchequedeR$ 600 para informais como um todo, uma população que, a depender do critério de contabilização, pode chegar a quase 50 milhões de pessoas. Perto de cinco vezes a população de Portugal.
Entre eles, gente que já está enfrentado problemas para se alimentar, sem exagero e pieguice. Reportagem do GLOBO de ontem mostrou que na região da central de abastecimento da cidade, Ceasa, cercada por 18 favelas, tem aumentado o número de pessoas que vão no fim da tarde em busca de restos de frutas, legumes etc. A “xepa”. Esta ajuda imprescindível, que pode chegar a R$ 98 bilhões, tem enfrentado dificuldades na tramitação difíceis de serem justificadas por motivos plausíveis. O Congresso, trabalhando de forma remota, como muitas empresas, aprovou o projeto, que havia sido anunciado em 18 de março. Bolsonaro afinal sancionou a lei na quarta, 1ºdeabril,masoato,quedeveriatersido logo publicado no Diário Oficial, esperou até ontem no início da noite. Além da burocracia, haveria outra causa da lerdeza: medo do presidente de cometer crime de responsabilidade por contrariar a legislação fiscal, o que levou Dilma Rousseff ao impeachment. Preferia esperar a aprovação da “PEC do orçamento de guerra”, para ter mais segurança. Mas é incompreensível, porque o governo conta com decisão liminar do ministro do Supremo Alexandre de Moraes, que permite ao Executivo desrespeitar esta legislação. O país, afinal, está sob “estado de calamidade” aprovado pelo Congresso. A gravidade da situação não permite essas indecisões.
*”O primeiro milhão – Contaminações pela Covid-19 seguem aceleradas”*
+++ Manchete óbvia, não conta nada que o público já não saiba
*”Batalha global – Brasil é parte de disputa por suprimentos”*: Produtora de mais da metade das máscaras de proteção do mundo, a China está no centro de uma batalha global por equipamentos de combate ao novo coronavírus. Enquanto os EUA fecharam acordo para a compra de luvas, máscaras e roupas transportadas por ao menos 20 voos fretados, países como Brasil, França e Canadá questionam o cancelamento de pedidos fechados com fornecedores chineses.
— Perdemos um pedido para os americanos que nos superaram em uma remessa que tínhamos feito — diz Valérie Pécresse, presidente da região de Île-de-France.
Segundo Pécresse, as máscaras haviam sido encomendadas por autoridades francesas. Ela afirma que a França não recebeu o material porque os EUA teriam oferecido valor três vezes maior por elas. Na quarta-feira, o ministro da Saúde do Brasil, Luiz Henrique Mandetta, fez declaração similar, afirmando que compras brasileiras haviam “caído” depois da confirmação das aquisições americanas. Ontem, Mandetta disse que estuda, junto com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, o envio de aviões da FAB e de companhias aéreas brasileiras para buscar o material. O premier do Canadá, Justin Trudeau, também pediu uma investigação sobre o suposto desvio de máscaras para os EUA. Segundo o New York Times, a negociação entre empresas privadas americanas e chinesas foi feita com mediação do genro do presidente Donald Trump, Jared Kushner. O primeiro avião da ponte aérea, que pousou no domingo em
Nova York vindo de Xangai, trazia 130 mil máscaras N-95, quase 1,8 milhão de máscaras cirúrgicas e roupas e mais de 10,3 milhões de luvas. A compra de produtos se diferencia da doação que tem sido feita como política por Pequim, no que foi chamado de “diplomacia das máscaras”. O Brasil recebeu 500 mil kits para testes rápidos, e, na América Latina, também receberam doações México, Bolívia, Argentina, Equador, Venezuela, Peru, Chile, Uruguai e Panamá. O que está em discussão não são as doações, e sim as compras realizadas por empresas privadas ou governos. Mesmo antes da pandemia, a China já era a principal fornecedora internacional de escudos faciais de proteção, roupas, equipamento para boca e nariz, luvas e óculos. Com o aumento da demanda, o país aumentou sua produção. Segundo dados do governo, estão sendo produzidas 116 milhões de máscaras atualmente, 12 dos materiais de proteção como máscaras, roupas, equipamentos para boca e nariz e luvas são feitos na China dos genéricos no mundo são produzidos pela Índia, que restringiu suas exportações dos insumos usados pela Índia para fabricar seus remédios são produzidos na China vezes mais do que antes. O governo também afirma que aumentou a produção de 20 mil peças de roupas de proteção pordiaparamaisde500mil.A produção de máscaras N-95 também teria aumentado: de 200 mil para 1,6 milhão. Quando o coronavírus atingia principalmente a China, havia receio de que o país não conseguisse manter essas exportações. Porém, segundo o pesquisador do Peterson Institute Chad P. Bown, o volume das vendas caiu apenas 15%.
— Minha preocupação é de que esta narrativa seja a que os políticos querem que acreditemos, para pôr a culpa uns nos outros, em vez de tentar encontrar maneiras para cooperarmos juntos — disse Bown, quando questionado sobre a disputa por suprimentos.
Segundo a agência Bloomberg, no auge do surto, a China, que também produz metade dos respiradores pulmonares no mundo, proibiu a exportação de máscaras e ordenou que todas as fábricas funcionando no país aumentassem a produção. O governo chinês nega e afirma que 70% do que é produzido anualmente é exportado. Um estudo do Global Trade Alert mostra que 54 países, entre eles China, europeus, Índia e Rússia, adotaram medidas de restrição à exportação de produtos médicos desde o início do ano. Cláudia Trevisan, pesquisadora do Instituto de Política Externa da Universidade Johns Hopkins, acredita que a relação entre China e EUA, que havia chegado a seu “pior patamar em décadas”, mudou na sexta-feira, quando Trump e Xi Jinping conversaram por telefone e prometeram cooperar na luta contra a pandemia.
— Apesar de a negociação para a compra de equipamentos ter sido feita com empresas privadas, é difícil imaginar que aviões americanos carregados com toneladas de material médico sairiam da China se não houvesse o sinal verde de Pequim. Com o coronavírus, esses produtos ganharam o status de bens estratégicos — diz Trevisan, ressaltando que a trégua deve ser passageira: — A tensão entre EUA e China voltará a se agravar depois da fase aguda da crise atual.
Frente à dominância da China no mercado de equipamentos médicos, muitos países, como EUA e França, lançaram programas de reconversão industrial. Isso, no entanto, é uma empreitada de médio a longo prazo, já que nem todos os insumos estão disponíveis nacionalmente e o fornecimento de peças, principalmente para aparelhos como respiradores, se dá por meio de cadeias globais. Especialistas lamentam a ausência de regras internacionais que preservem a concorrência e evitem práticas desleais de comércio, o que prejudica sobretudo países pobres e em desenvolvimento.
— Entidades multilaterais podem tentar coordenar as ações, mas a verdade é que iniciativas de cada país, e às vezes até de entidades subnacionais, têm prevalecido de forma descoordenada — disse Welber Barral, consultor internacional e árbitro da Organização Mundial do Comércio.
CORRIDA POR REMÉDIOS
Além da disputa por máscaras e respiradores, a corrida por medicamentos também aumenta. No Brasil, a indústria farmacêutica tem enfrentado dificuldades para importar ao menos 31 toneladas de 23 tipos diferentes de insumos para medicamentos, que vão do paracetamol ao sulfato de hidroxicloroquina e à azitromicina, ambos sendo testados para o coronavírus. O principal gargalo hoje envolve a Índia, que restringiu a exportaçãodepelomenos26insumos e também reduziu sua produção industrial. Nesta semana, o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, anunciou que a Índia autorizou a remessa de seis toneladas de hidroxicloroquina para o Brasil. O Ministério da Economia enviou um ofício para o governo da Índia pedindo o destravamento do envio dos demais insumos. Devido à pandemia, o governo federal reduziu a zero as tarifas de importação de mais de cem itens de saúde. A Índia é hoje a maior exportadora de genéricos do mundo. Só no ano passado, Délhi exportou US$ 19 bilhões em drogas desse tipo, cerca de 20% de todo o volume mundial, para mais de 200 nações. O país, sozinho, é responsável por suprir 24% da demanda por genéricos nos EUA. No Reino Unido, medicamentos indianos correspondem a 25% do total. O país importa 70% de seus ingredientes farmacêuticos da China, onde o custo de produção dos materiais é mais baixo. E as medidas de isolamento adotadas na pandemia atrapalharam a produção dos insumos essenciais para a fabricação de remédios como antibióticos, antitérmicos, hormônios e vitaminas. Mesmo com a retomada gradual das atividades, o cenário não se normalizou.
*”Ministério tem estoque zerado – Com todos os insumos distribuídos, falta pode ocorrer no pico dos casos”*: O Ministério da Saúde está com estoque zerado de equipamentos de proteção individual para profissionais de saúde. A pasta distribuiu 40 milhões de itens a estados e municípios e tenta comprar cerca de 720 milhões de produtos, sendo 200 milhões de máscaras. Fornecedores chineses de parte da encomenda alegaram não poder entregar conforme combinado devido à alta demanda. Uma compra robusta dos EUA, segundo o ministro Luiz Henrique Mandetta, fez com que alguns contratos brasileiros “caíssem”. A pasta confirmou ao GLOBO que não tem mais estoque de equipamentos de proteção, essenciais para a segurança dos profissionais de saúde. Diante do problema, o Ministério da Saúde recorreu a outras empresas e espera receber. Mandetta destacou, porém, que por enquanto as secretarias locais de Saúde estão abastecidas. No entanto, o pico da epidemia é previsto para este e os próximos dois meses. O ministro fez um apelo a gestores estaduais e municipais para que também comprem equipamentos de proteção individual. Ele voltou a falar que será preciso normatizar o uso de máscaras N-95, consideradas mais modernas para filtrar o ar. O equipamento terá o nome de cada profissional de saúde e será esterilizado para ser usado diversas vezes:
—A gente espera que os países que exercem seu poder muito forte de compra já tenham saciado suas necessidades para que o Brasil possa proteger nosso povo.
O Conselho Federal de Enfermagem expressou sua preocupação. Para o presidente Manoel Neri, a solução pode estar no redirecionamento da produção brasileira. “Cada dia de atraso representa um risco adicional. É preciso redirecionar a produção de setores da indústria nacional para atender a demanda. O governo não pode se eximir de seu papel como controlador da produção de insumos estratégicos”, diz, em nota. Em São Paulo, reclamações sobre a falta de equipamentos de proteção individual lideram a lista de denúncias recebidas nos últimos 15 dias pelo Simesp (sindicato dos médicos local). Elas representam 59% das queixas feitas por profissionais das redes pública e privada contabilizadas até 1º de abril e chegam a 66% quando somadas a relatos de falta de materiais de higiene. A Associação Nacional de Hospitais Privados divulgou ontem que os estoques estão se reduzindo de forma acelerada no país. Segundo a entidade, 61 dos 122 associados relatam que as reservas que durariam em média 47 dias alcançarão menos de 30. Além disso, denuncia que 20% das instituições associadas nem sequer têm estoques. No desafio de garantir o básico na luta contra o novo coronavírus, também chamam atenção do Simesp relatos anônimos de fluxo inadequado de atendimento nos hospitais e negativa de realocação de médicos do grupo de risco.
PRISIONEIROS MOBILIZADOS
Hospitais têm apelado a alternativas e soluções criativas para driblar a falta de insumos. O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP lançou ontem uma plataforma própria para captação de doações que contribuam para o enfrentamento da epidemia, e residentes se mobilizaram nas redes e lançaram o movimento #vempraguerra, buscando doações para serem usadas nos próximos meses. Já o governador João Doria anunciou um incremento na confecção de máscaras por presos nas cadeias de São Paulo. O plano é que sejam confeccionadas mais de 50 mil unidades por dia. A Secretaria de Saúde de São Paulo não admite escassez de equipamentos e afirma que foram adquiridos mais de 42milhõesdeunidades.OAlbert Einstein afirma que não falta nenhum dos materiais necessários. Na mesma linha, o Sírio-Libanês e a Rede D’Or dizem que “têm insumos suficientes”. No Rio, a escassez é motivo de preocupação para o governador Wilson Witzel:
— A doença está avançando, e nós não vemos, a nível do governo federal, a mesma velocidade que se esperava para fazer frente às necessidades dasaúde—disse, em entrevista coletiva ontem.
*”Problemas vão de material à capacidade de produção”*
*”Uma vítima em janeiro – Vírus chegou mais cedo do que se sabia”*
*”Especialistas se preocupam com chegada de testes rápidos”* - Os testes rápidos para a Covid-19 prometidos pelo Ministério da Saúde começam a chegar aos poucos ao país, mas especialistas alertam para o cuidado na aplicação e na interpretação dos resultados devido ao elevado percentual de falsos negativos. Como eles só oferecem 30% de sensibilidade para os casos negativos, é grande a possibilidade de uma pessoa com esse resultado ter contraído o coronavírus e o transmitir sem saber, um problema ainda mais sério quando se trata de profissionais de saúde. Além disso, os falsos negativos levam a um achatamento falso da curva de crescimento da doença. A estratégia de testagem do Brasil ainda não está clara e não se sabe quando chegarão os 22,9 milhões de testes previstos pelo governo federal e de que tipo serão. Neste momento há nada menos do que 214 testes comerciais ou em desenvolvimento no mundo para o diagnóstico do coronavírus, a imensa maioria produzida na China, seguida por EUA e Índia. Mas a escala de produção não é suficiente para atender à demanda global. Por isso, devido à escassez, num primeiro momento, os grupos de testagem são os doentes graves e os profissionais de saúde e de atividades essenciais, como os do transporte e limpeza públicos. Não haverá testes para a população em geral.
O objetivo principal do Ministério da Saúde, ao combinar os testes moleculares e rápidos, é identificar os profissionais de saúde que estão negativos e podem trabalhar. E também identificar os positivos, afastá-los e depois testá-los de novo para saber se já podem retornar. Ou ainda se têm apenas anticorpos IgG, que marcam a exposição passada ao vírus e, em tese, teriam adquirido imunidade. Os testes rápidos que chegaram agora buscam por anticorpos e só podem ser usados após o sétimo dia de aparecimento dos sintomas. Isso significa que os infectados assintomáticos e os casos recentes permanecerão invisíveis.
—O problema do falso negativo é para o recém-infectado. Mesmo que ele esteja com sintomas, vai dar negativo. O teste pode dar uma falsa e perigosa sensação de segurança — diz Wilson Shcolnik, do Grupo Fleury e presidente do conselho de administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed).
Cientistas e laboratórios também se preocupam com a validação dos testes. Os distribuídos pelo ministério passam por validação no INCQS/Fiocruz, o que é considerado fundamental porque existe um histórico de desempenho de testes variável no Brasil. Além disso, muitos kits de diagnósticos automatizados foram liberados muito de pressa pelos países de origem das empresas que os desenvolveram.
— As agências reguladoras acreditaram nas informações dos fabricantes, mas não realizaram análises detalhadas. Isso gera apreensão sobre a segurança e a necessidade de validação desses testes aqui. E há uma enxurrada deles a caminho —acrescenta ele.
A validação exige que entre dezenas e centenas de cópias de um teste tenham o resultado avaliado para amostras cujo resultado já é conhecido, levando em conta a fase da doença. É um processo de várias etapas e por isso não leva menos do que alguns dias. Gustavo Campana, diretor médico do laboratório da Dasa, diz que ainda não se conhece a performance dos kits comprados pelo governo. A Dasa e o Ministério da Saúde planejam criar um laboratório especializado para o diagnóstico e ampliar a capacidade de coleta no Brasil:
—Prevemos uma corrida para a realização de testes rápidos. Chegam muitos e a situação está confusa porque o mercado está inundado de empresas de biotecnologia que oferecem testes para os quais não temos garantia de qualidade.
*”Barreira contra o vírus – Especialistas e governo defendem máscaras caseiras”*
*”’Ninguém é indemissível’ – Bolsonaro critica Mandetta, que reage: ‘Vamos trabalhar’”*
*”Presidente exige volta ao trabalho presencial, e assessor se demite”* - A determinação do presidente Jair Bolsonaro para que todos os servidores do Palácio do Planalto voltassem a trabalhar normalmente no prédio público, depois de terem sido liberados pelos responsáveis das várias áreas para realizar suas tarefas de casa devido à pandemia do novo coronavírus, terminou em demissões no governo. De acordo com interlocutores do Planalto, a decisão do presidente resultou na saída do número dois da Subchefia para Assuntos Jurídicos (SAJ), Felipe Cascaes, subordinado ao secretário-geral da Presidência, Jorge Oliveira. A exoneração de Cascaes ocorreu na semana passada. Bolsonaro manifestou a aliados incômodo com a medida adotada pelo assessor de liberar todos os funcionários da SAJ para fazer suas tarefas de casa.
CASOS NO PALÁCIO
Cascaes tomou a iniciativa a fim de resguardar os servidores sob sua chefia, já que havia casos positivos no palácio —como no caso do secretário especial de Comunicação, Fábio Wajngarten, e do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno. Ainda de acordo com interlocutores, o presidente entendeu que a decisão do subchefe de Assuntos Jurídicos era contrária ao seu posicionamento de pedir que as pessoas voltassem ao trabalho. Antes do pronunciamento da última terça-feira, em que mudou de tom, Bolsonaro havia chamado a doença de “gripezinha” e apelava às pessoas para ignorar o isolamento social e voltar às atividades.
Cascaes não concordou com a decisão de Bolsonaro e pediu demissão ao ministro Jorge Oliveira, a quem era subordinado. Em nota, o ex-secretário diz não comentar os motivos que o levaram a pedir exoneração, alegando se tratar de questões de “cunho pessoal”. Com exceção de funcionários acima dos 60 anos, os servidores dos quatro ministérios que ficam no Palácio do Planalto (Casa Civil, Secretaria-Geral, Secretaria de Governo e Gabinete de Segurança Institucional) estão fazendo expediente normalmente no prédio. Contudo, algumas restrições forma impostas na rotina do prédio, desde o restaurante até o atendimento à imprensa. Desde o dia 16 de março, o restaurante, que fica em um anexo, reduziu o número de mesas, para que elas ficasse mais afastadas entre si. Depois, uma nova alteração foi implantada: não é mais possível comer no local, mas somente pegar uma marmita para viagem. Já a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência desde o dia 17 passou a fazer atendimentos apenas de forma remota —por e-mail, telefone ou WhatsApp —e limitou o horário de funcionamento do comitê de imprensa, com o objetivo de reduzir a circulação de pessoas no local.
*”Governadores aumentam pressão – Sul e Sudeste cobram recursos federais”* - Governadores dos sete estados do Sul e do Sudeste se uniram para reivindicar “aportes emergenciais” da União, como forma de compensar a queda de arrecadação provocada pelo avanço do coronavírus. Em uma carta para o governo federal, divulgada no início da tarde de ontem, eles dizem que a pandemia afetou a atividade econômica de forma “dramática” e que, já este mês, a redução no recolhimento do ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) impactará gravemente as regiões. Algumas horas depois, o ministro da Casa Civil, Braga Netto, anunciou que o presidente Jair Bolsonaro assinou uma medida provisória que libera R$ 16 bilhões a estados e municípios de todo o país. “A medida visa ao enfrentamento da situação de emergência decorrente do coronavírus, e possibilitará que estados, Distrito Federal e municípios que recebem parcelas do Fundo de Participação dos Estados e do Fundo de Participação dos Municípios não sejam prejudicados por eventuais perdas de arrecadação do governo federal, garantindo, nos meses de março a junho do exercício de 2020, o mesmo patamar nominal de recursos disponibilizados em igual período do ano anterior”, afirma o ministro da Economia, Paulo Guedes, na justificativa da medida provisória. Mas, entre outras reivindicações, os governadores dos estados do Sul e do Sudeste querem a recomposição de receitas além dos fundos de participação estaduais e municipais; “notadamente ICMS, royalties e participações especiais da atividade de óleo e gás e queda da safra, entre outros fatores”. Na carta, pedem ainda prorrogação de prazo para quitação de precatórios e que o governo federal assuma compromissos de pagamentos junto a organismos internacionais.
— Estes sete estados são os que mais estão sofrendo com a Covid-19. É onde teremos o crescimento de infectados e de pessoas que poderão vir a óbito — afirmou o governador de São Paulo, João Doria. — É muito importante que o governo federal compreenda a necessidade de um olhar proporcional e correto ao Sul e ao Sudeste e também para
Wilson Witzel, todas as regiões do país indistintamente. Mas é aqui, no Sul e no Sudeste, onde temos os maiores problemas e as maiores necessidades. O documento contém oito reivindicações de natureza fiscal e econômica e foi elaborado durante uma teleconferência, ontem, que contou com a participação dos governadores Wilson Witzel (RJ), Romeu Zema (MG), Renato Casagrande (ES), Ratinho Júnior (PR), Carlos Moisés (SC) e Eduardo Leite (RS), além de João Doria.
PEDIDO DE R$ 50 BILHÕES
A União vai transferir R$ 8,1 bilhões para os municípios e R$ 7,8 bilhões para os estados. Os valores, diz o governo federal, garantem a manutenção dos recursos disponibilizados no ano passado, mesmo com a queda na arrecadação. No entanto, durante uma entrevista coletiva realizada ontem no Palácio Guanabara, o governador Wilson Witzel disse que somente os estados do Sul e do Sudeste precisam de R$ 50 bilhões. Ele também afirmou que recorrerá ao Supremo Tribunal Federal caso o socorro financeiro da União ao Rio não chegue até a próxima semana.
— É preciso que a União consiga consolidar as propostas encaminhadas pelo Sul e Sudeste, responsáveis por 70% do PIB do país. O colapso da economia nessas regiões vai impactar os demais estados da federação — frisou o governador, que, no início desta semana, já havia cobrado agilidade para a ajuda financeira —Aí, cabe ao Supremo mediar esse conflito, porque as medidas anunciadas até agora não nos atendem.
Witzel também foi duro ao falar sobre o envio, por parte do governo federal, de Equipamentos de Proteção Individual(EPIs), respiradores e outros materiais necessários para o combate ao coronavírus:
— Há uma preocupação de todos os governadores com a lentidão que nós estamos observando na chegada desses equipamentos. A doença avança e não estamos vendo, a nível de governo federal, a mesma velocidade que se esperava para fazer frente às necessidades da saúde.
MAIS TROCA DE FARPAS
O presidente Jair Bolsonaro, por sua vez, voltou a criticar governadores pelas medidas tomadas contra a pandemia do coronavírus, dizendo que precisa convencê-los “a não continuarem sendo radicais”. Ele também afirmou que “alguns” vêm causando desemprego:
—Daqui a pouco, a imprensa vai falar que eu estou atacando governadores. Em especial os de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina. Se eu não me engano, Rio Grande do Sul prorrogou por mais 30 dias
Faço um apelo a eles. Witzel, ainda na coletiva no Palácio Guanabara, reforçou a importância do isolamento social e, ao ser questionado sobre a insistência de Bolsonaro em criticar as medidas adotadas no Rio e em outros estados, subiu novamente o tom.
— A irresponsabilidade no que se fala pode ser muito grave quando se trata de um presidente da República — declarou o governador, para completar:—Se o presidente está tão convencido do que está fazendo, pare de falar e coloque no papel, por meio de medida provisória ou decreto. Aí, os estados poderão contestá-lo judicialmente.
*”Retenção de vagas – Para especialistas, redução de salário vai preservar empregos. Corte pode chegar a 57%”* - A medida provisória (MP) 936, que autoriza empregadores a reduzirem salários e jornada de trabalho durante a pandemia do coronavírus, deve atingir, segundo especialistas, seu principal objetivo: preservar empregos em meio à pandemia. Mas, para que as empresas respirem mais aliviadas, outras ações precisam acompanhar a ação. Para o trabalhador, não será fácil: simulações mostram que, mesmo com a compensação do governo, para quem ganha acima de R$ 10 mil a queda pode chegar a 57,31%. Ainda assim, economistas, empresários e entidades setoriais ouvidos pelo GLOBO ressaltam que, ao garantir parte da renda dos trabalhadores, a MP 936 ajudará a evitar uma paralisação ainda maior da economia.
—A MP demorou um pouco, mas veio com magnitude e grande alcance. Era isso o que o governo precisava mostrar: que está disposto a sustentar a empresa e o trabalhador — diz o professor sênior da Faculdade de Economia da USP, Hélio Zylberstein, especialista em mercado de trabalho.
Thiago Xavier, economista da consultoria Tendências, defende que o governo coloque em funcionamento, rapidamente, ações como crédito às empresas e adiamento do pagamento de impostos, medidas também defendidas pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. A possibilidade de reduzir os salários em até 70% terá impacto relevante sobre a renda do trabalhador. Como a compensação será calculada de acordo com o seguro-desemprego—que é limitado a R$ 1.813,03 — quem recebe R$ 10 mil por mês, por exemplo, poderá ver esse valor ser diminuído em 57,31% se a empresa em que trabalha negociar a redução temporária pelo teto fixado na MP, 70%. Para quem ganha R$ 2 mil, a redução máxima chega a 18,20%. Pela medida, se o corte for de 25%, o trabalhador receberá 25% do valor do seu seguro-desemprego. Se for de 50%, receberá meta dedo seguro. E se for de 70%, terá direito a 70% do seguro. Atualmente, o seguro-desemprego tem três faixas. Se a média dos três últimos salários for até R $1.599,61, o trabalhador receberá 80% dessa média.
‘FERRO E FOGO’
Felipe Salto, do Instituto Fiscal Independente (IFI) do Senado, considera positivo o fato de a medida não ter feito diferenciação pelo porte das companhias:
—Ela está fazendo o corte pelos salários.
O empresário Marco Stefanini, presidente da multinacional que leva seu sobrenome, só deve aderir às regras da MP se a crise ultrapassar os próximos dois meses. A Stefanini atua em tecnologia e tem 25 mil funcionários em 41 países. Rodrigo Vilaça, presidente da Itapemirim, conta com a MP para evitar a demissão de motoristas e outros funcionários. Mais de 60% dos 1.098 trabalhadores da empresa terão redução de jornada. Outros 30% devem entrar em férias. A Itapemirim, que está em recuperação judicial, viu as receitas caírem a zero quando o Estado do Rio fechou as fronteiras.
— Vamos fazer uso de todas as ferramentas disponíveis para evitar as demissões —diz Vilaça.
Paulo Solmucci, presidente da Abrasel, associação que reúne bares e restaurantes de todo o país, acredita que a MP evitará demissões em massa em um setor que emprega 6 milhões de pessoas. Ainda assim, cerca de 350 mil devem perder seus empregos:
—Sem a medida, a estimativa seria de 1 milhão de demissões só em abril.
Advogados especialistas em mercado de trabalho também consideraram a MP acertada. Caroline Marchi, sócia da área trabalhista do escritório Machado Meyer, ressalta que a negociação individual permite mais rapidez. Para Fernando Abdala, sócio do Abdala Advogados, por vincular a mudança salarial à diminuição da jornada, a MP não fere o artigo da Constituição que proíbe a redução salarial:
— Já há um entendimento, entre juízes trabalhistas, de que o texto da Constituição não tem como ser levado a ferro e fogo em meio a uma crise dessa gravidade.
Já Mônica de Bolle, da Universidade Johns Hopkins, nos EUA, pondera que quem tiver redução salarial pode acabar buscando um trabalho extra e se expondo ao risco de contaminação.
CUT, Força Sindical, UGT, CTB, Nova Central e CSB defendem a inclusão dos sindicatos em todas as negociações e pedem que os trabalhadores não aceitem acordos individuais. A base de cálculo para o FGTS será a do salário reduzido, sem o acréscimo do seguro-desemprego. O trabalhador não poderá sacar o Fundo.
André Pessoa, sócio do escritório Pessoa & Pessoa Advogados, avalia que o período especial contará como tempo de serviço, seja para fins de FGTS, férias, 13º ou contribuição previdenciária.
USO DE APLICATIVO
As empresas que já reduziram jornada e salário de seus funcionários poderão se beneficiar da MP. Segundo o secretário especial de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, esses empregadores têm dez dias, a contar da publicação da MP, para adequar e enviar os acordos para o governo. Os termos dos acordos já realizados e novos poderão ser encaminhados pelo site e aplicativo Empregador Web. Será preciso informar o número das contas para que o valor seja pago diretamente ao trabalhador.
*”Governo leva quase 24h para oficializar ajuda de R$ 600”*
 
 
 
CAPA – Manchete principal: *”Empresas alegam ‘força maior’ e pedem revisão de contratos”*
EDITORIAL DO ESTADÃO - *”A política como vacina”*: O momento que o País atravessa é crítico para a manutenção da democracia. “A se manter o cenário atual, não vejo como se possa evitar um desastre econômico, social e humanitário. É um caminho que pode levar à ruptura política”, disse o historiador José Murilo de Carvalho, em reportagem do Estado sobre os impactos da epidemia de covid-19 na vida política do País. O risco não é desprezível. A rede bolsonarista, com o próprio presidente Jair Bolsonaro à frente, dedica-se diariamente a atacar as autoridades que assumiram a responsabilidade de enfrentar a epidemia com medidas duras de restrição econômica e isolamento social. A intenção é disseminar o medo do caos, de modo a criar uma atmosfera favorável a soluções liberticidas. Decerto embala os sonhos bolsonaristas o exemplo da Hungria, que acaba de conceder poderes ilimitados ao premiê ultradireitista Viktor Orbán, com a desculpa de que isso é necessário para conter a disseminação do novo coronavírus.
Ao mesmo tempo, a gravidade da situação, somada à atuação irresponsável e belicosa do presidente Bolsonaro, está provocando uma raríssima articulação política no País. Políticos de diversas tendências têm deixado momentaneamente suas divergências de lado para somar esforços em nome da imperiosa necessidade de salvar vidas e dar condições para que a população atravesse essa provação sem grandes privações. Um exemplo recente disso foi a reação do governador de São Paulo, João Doria, a um elogio maroto feito pelo ex-presidente Lula da Silva, um de seus maiores rivais, a respeito de sua atitude firme na crise. É evidente que Lula só estava interessado em usar Doria como escada para atingir Bolsonaro, mas mesmo assim o governador paulista não deixou passar a oportunidade para enfatizar a necessidade de união de forças distintas: “Temos (Doria e Lula) muitas diferenças, mas agora não é hora de expor discordâncias. O vírus não escolhe ideologia nem partidos”, escreveu o governador no Twitter. Para o cientista Marco Aurélio Nogueira, o comportamento hostil de Bolsonaro isola o presidente e reforça o protagonismo do Congresso, que já se verificava antes mesmo da epidemia, além de estimular as forças democráticas – liberais, social-democratas e da esquerda moderada – a “encontrarem um eixo programático de articulação”. É o que acontece em democracias maduras diante de crises profundas como a que atravessamos. “Essa possibilidade de articulação será o principal antídoto contra o acirramento das relações institucionais e sociais”, disse o professor Marco Aurélio Nogueira.
Assim, está na política a vacina contra a epidemia de autoritarismo e impostura que o presidente Bolsonaro deflagrou no País desde sua eleição – considerada pelo historiador José Murilo de Carvalho uma calamidade anterior à do coronavírus. Do mesmo modo, está na política a elaboração de saídas não apenas para os problemas imediatos decorrentes da epidemia, mas também para a profunda crise que o País terá que administrar quando passar a fase mais aguda da doença. “É hora da política séria, objetiva, com letra maiúscula”, opinou o fundador do movimento RenovaBR, Eduardo Mufarrej. “A sociedade precisa cobrar que as lideranças do País deixem as disputas por espaço de lado e se concentrem em construir soluções em conjunto. Vírus não respeita fronteiras, não distingue raças, não se importa com ideologias.” É esse o grande esforço que o País deve empreender hoje: superar a polarização que tanto tem marcado o ambiente político desde a campanha presidencial de 2018 e reavivar a política civilizada, reaprendendo a ouvir vozes divergentes e a aceitar o que a maioria decidir, dentro das regras democráticas e com respeito às instituições. Isolar Bolsonaro não basta; é preciso desmoralizar a ideologia deletéria que o sustenta. Para isso, a política deve ser resgatada do limbo em que foi atirada em 2018 pelo bolsonarismo e valorizada como único meio de impedir que o País complete a obra de autodestruição que petistas e bolsonaristas, há tempos, estimulam com tanto ardor.
COLUNA DO ESTADÃO – *”Guinada de Bolsonaro surpreende médicos”*: Médicos e pesquisadores que estiveram anteontem com Jair Bolsonaro se surpreenderam com o vídeo postado por ele contra o isolamento social e a quarentena na manhã seguinte ao encontro. A um presidente atento e “atencioso”, o grupo defendeu as medidas restritivas de convívio como única resposta possível à covid-19 neste momento. Os especialistas em cloroquina alertaram diretamente Bolsonaro: os estudos brasileiros sobre o medicamento ainda devem demorar mais dois meses, no mínimo. O presidente tomou notas e falou pouco. A conversa foi técnica e rápida. Bolsonaro quis saber como é cuidar de pacientes com a covid-19. As respostas foram diretas: casos graves em UTI são muito difíceis de tratar. As unidades de São Paulo, disse o grupo ao presidente, já estão cheias. No dia seguinte, Bolsonaro disse desconhecer “qualquer hospital que esteja lotado” e repetiu posição contrária ao confinamento e de ataque aos governadores. Presente ao encontro, Osmar Terra (MDB-RS) fez um ou outro comentário na contramão dos médicos e dos pesquisadores de que no Brasil o vírus poderia ter outro comportamento. Eles retrucaram: não há indícios científicos nesse sentido. PS: Henrique Mandetta não participou da reunião.
Depois do vai e vem sobre quem presidirá o comitê a ser criado pela PEC do Orçamento de Guerra, se Bolsonaro ou Henrique Mandetta, ficou acertado, ao menos por enquanto, que será o presidente. O ministro da Saúde pode até ficar fora do colegiado. Isso porque, a pedido do governo, saiu do texto a determinação sobre a necessidade de uma nomeação específica. A redação vai citar apenas “ministros de Estado” indicados pelo presidente. O motivo: ter flexibilidade nas nomeações, de acordo com a demanda do momento.
ENTREVISTA: EDUARDO VILLAS BOAS, ex-comandante do Exército - *”’Ninguém tutela o presidente’, diz general”*: Na manhã da última segunda-feira, um comboio de carros blindados estacionava em frente a uma casa no Setor Militar Urbano, em Brasília. O presidente Jair Bolsonaro chegava para uma visita inesperada ao general da reserva Eduardo Villas Bôas. O encontro durou poucos minutos, mas foi o suficiente para Bolsonaro receber o apoio público de uma figura que tem forte influência nas Forças Armadas. Em entrevista ontem ao Estado, Villas Bôas avaliou que Bolsonaro acha que “todo mundo” está contra ele. O ex-comandante do Exército afirmou que o panelaço e a economia preocupam, mas disse acreditar que, ao final, o presidente sairá por cima, e o Brasil vai se recuperar.
• O presidente agiu errado em falar que o coronavírus é uma gripezinha?
- Ele disse isso, naquele momento, para tentar tranquilizar o País. Mas não é uma gripezinha.
• Na manhã de segunda-feira, o presidente esteve na casa do senhor. À tarde, o senhor publicou no Twitter um post de apoio a ele. Ele pediu seu apoio?
- Eu já estava pensando em me manifestar. Ele pediu o meu apoio e eu achei oportuno me posicionar e dizer às pessoas qual é a lógica da sua atuação. Pode-se discordar do presidente, mas sua postura revela coragem e perseverança nas suas próprias convicções. Mas ele não pediu isso explicitamente.
• O presidente está precisando de apoio neste momento?
- Eu acho que o problema para ele é que está todo mundo contra ele. A mídia, principalmente. Nacional e internacional.
• Ele perdeu apoio da área militar?
- Não.
• Mas o presidente mudou o discurso na última terça-feira.
- Não foi por minha causa. Mudou por ele. Por ele, eu acho.
• Mudar o tom do discurso e falar de forma mais conciliatória foi positivo?
- Esta é a linha ideal.
• Panelaços mostram que ele perdeu apoio?
- Particularmente me preocupo com os panelaços. Pode significar perda de apoio. Isso psicologicamente é negativo.
• A atuação dele na pandemia compromete uma reeleição?
- Está muito cedo para falar de reeleição. Mas panelaços podem demonstrar uma perda de apoio, embora estejam concentrados nos grandes centros.
• O presidente está isolado politicamente? Ele se sente isolado?
- Não sei. Isso muda muito conforme as circunstâncias.
• A decisão do presidente de não endossar o discurso do Ministério da Saúde pró quarentena vai custar caro a ele?
- Acho que essa percepção é temporária. Eu acho que ao final, ele vai sair por cima.
• O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), que apoiava o presidente, disse que o gabinete do ódio, formado inclusive pelos filhos de Bolsonaro, atrapalha o governo. O grupo e os filhos atrapalham o presidente?
- Não comento.
• Os filhos do presidente têm uma desconfiança muito grande em relação aos militares, particularmente em relação ao vice Hamilton Mourão. Isso mudou?
- Não tem motivo para ter qualquer desconfiança do Mourão. Mourão tem sido um ponto de equilíbrio. Ele é leal ao presidente.
• As pessoas criticam o que chamam de radicalismo do presidente. A democracia em algum momento foi ameaçada?
- O presidente tem uma maneira de ser que pode colocar as pessoas na defensiva. Mas, em nenhum momento, ele feriu a Constituição. Ele é um democrata. Um aspecto importante é que as pessoas não estavam acostumadas a ver, com tanta contundência, alguém se contrapor ao pensamento que predominava.
• Há uma tutela branca no presidente Bolsonaro pelos ministros mais próximos agora, como Braga Netto, da Casa Civil, e Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo?
- Ninguém tutela o presidente.
• Como avalia a guerra entre governadores e o presidente?
- Cada um tem de fazer a sua parte e não tem de ficar polemizando. A virtude sempre está no meio. Mas tem havido muito oportunismo político. Não quero nominar. Estou falando em geral.
• Depois da pandemia, qual a postura que o presidente tem de adotar em relação aos outros Poderes?
- Conciliação. Precisamos buscar harmonia.
• Como o País vai sair dessa crise? Como se reconstrói um país depois de uma pandemia, com tanta morte e tanto problema econômico?
- Eu creio que, talvez não em aspectos concretos como a economia em geral, mas psicologicamente, vamos sair fortalecidos. Certamente teremos problemas na economia, mas sairemos fortalecidos psicologicamente. Assim como nas guerras, vamos sair com disciplina social, espírito de solidariedade, sentimento pelo País e respeito às instituições.
*”Bolsonaro afirma que Mandetta não tem ‘humildade’”*
*”Governadores alertam União para risco de colapso econômico”* - Governadores do Sul e Sudeste devem encaminhar uma carta ao governo federal solicitando “ações urgentes” para “evitar o colapso econômico dos Estados”, e se preparam para acionar o Supremo Tribunal Federal (STF), via ação judicial, caso a União demore a adotar medidas efetivas para socorrê-los durante a crise do novo coronavírus. O entendimento foi alcançado após reunião virtual do Consórcio de Integração Sul e Sudeste (Cosud), com os sete governadores das duas regiões. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), lembrou ontem que estes Estados representam 71% da economia brasileira e “são os que mais estão sofrendo com a covid-19”. Também será encaminhada uma carta aos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Para o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), a esperança é de que o ministro da Economia, Paulo Guedes, apresente propostas até semana que vem. “É preciso que o governo entenda que precisamos descentralizar recursos para os Estados, que nesse momento precisam de liquidez.” Ele voltou a pedir R$ 50 bilhões para os Estados, medida que defende desde o início da pandemia. Witzel levou à reunião uma proposta de judicialização dos pedidos caso Guedes demore a acatá-los. “Caberá ao Supremo mediar esse conflito e adotar as medidas impositivas que somente o Judiciário pode tomar, como sequestrar fundos”, disse. Ele ainda criticou a demora do governo federal em enviar materiais como respiradores e testes rápidos. Criticou ainda a ideia do presidente Jair Bolsonaro de se encontrar, hoje, com o prefeito Marcelo Crivella no hospital de campanha da Prefeitura. “Neste momento, o exemplo que devemos dar é não fazer política em cima de uma situação dramática como a que estamos vivendo. E muito menos causar aglomeração”, disse.
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*”Foz teme processos por ter minimizado pandemia”* - O canal Fox News teme ser processado por telespectadores em razão da sua cobertura sobre o novo coronavírus, segundo o jornalista Gabe Sherman, da revista Vanity Fair e da emissora MSNBC. Analistas, porém, acham que ações judiciais são pouco prováveis no caso, por causa da Primeira Emenda da Constituição, que garante a liberdade de imprensa. Segundo Sherman, diretores do canal estariam receosos pela forma como a Fox fez a cobertura no início da pandemia e como isso pode expor o veículo a processos de telespectadores que tenham se sentido enganados e até tiveram parentes mortos em razão do vírus. A Fox News é um canal conservador e tem sido a mais importante fonte de informação dos eleitores republicanos.
Pesquisas mostram que a opinião dos republicanos sobre o coronavírus é “completamente diferente” da de “cidadãos que se informam por fontes variadas”. “A Fox News tentou seguir sua cartilha original, tratando o caso como uma farsa e dizendo que não passava de mais uma tentativa dos democratas de prejudicar Donald Trump. Mas eles não puderam impedir a realidade”, disse Sherman. A reportagem afirma que a família Murdoch, dona da Fox News, já toma medidas para se proteger. Vários âncoras da emissora, como Trish Regan e Sean Hannity, afirmaram que o coronavírus era uma “farsa”. Os apresentadores tentaram minimizar a ameaça, comparando o vírus à violência armada em Chicago e argumentando que a pandemia era menos mortífera que uma gripe comum. O canal mudou seu discurso depois que Trump declarou emergência nacional nos EUA e começou a determinar o isolamento social. “A Fox News errou, mas é difícil imaginar uma teoria jurídica plausível sob a qual ela possa ser processada”, disse Susan Hennessey, analista jurídica da CNN.
ENTREVISTA: JOSÉ GRAZIANO, ex-diretor da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) - *”Pandemia não pode se tornar uma crise de abastecimento”*: A pandemia do novo coronavírus no Brasil não deve causar uma crise de abastecimento no País, que é um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo. No entanto, o aumento de preços dos alimentos vai afetar a população mais pobre, alerta o ex-diretor da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), José Graziano. “O Brasil não pode permitir que a crise de saúde causada pela pandemia d se alastre e se torne também uma crise de abastecimento.” O professor aposentado da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) disse que, para evitar esse cenário, é preciso coordenação entre todos os níveis de governo. Além disso, afirma Graziano, é preciso dar condições para que os caminhoneiros possam trabalhar e valorizar os pequenos produtores rurais. A seguir, trechos da entrevista de Graziano ao Estado.
• O que mais preocupa no caso brasileiro em relação a uma possível crise de abastecimento?
- Já havia um desmonte da política de segurança alimentar que tirou o país do Mapa da Fome (em 2014). Esse desmonte vem de muito tempo e foi aprofundado no governo Bolsonaro. A primeira medida foi extinguir o Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar), um lugar que juntava trabalhador, empresário, sociedade civil, para assessorar a Presidência da República. Era uma interlocução importante, ainda que tivesse todos os seus problemas. Perdeu-se a ideia de que temos de ter estoques. Se houver um trancamento de fronteiras, como São Paulo já ameaçou fazer, pode ser disruptivo na cadeia de abastecimento. Então, é fundamental manter o sistema da segurança alimentar vivo e ter um grande monitoramento de preços e estoques. Hoje, os estoques são todos privados, não se sabe onde estão, quanto há, quanto duram.
• Qual medidas o sr. recomendaria para evitar um desabastecimento?
- Estamos nos preparando para uma colheita. É preciso financiar os estoques, financiar a agricultura familiar, o comércio de proximidade, o pequeno produtor. Tudo isso é fundamental. Não apenas para garantir o abastecimento local, mas para evitar uma reação de pânico. O que pode ocorrer de pior nessa hora é a falta de coordenação e o pânico, de as pessoas quererem comprar tudo nas prateleiras. Isso acaba exacerbando os problemas. Manter o acesso a produtos frescos é um grande desafio no momento. E isso precisa ser feito através do comércio de proximidade, feiras livres com disciplinamento de fluxo, venda direta do produtor, com regramento, com mais higiene.
• Quais são os riscos de desabastecimento no Brasil?
- A insegurança alimentar afeta a população mais pobre. No Brasil, não temos um problema de abastecimento como tem a África e os países árabes, que dependem de importação de produtos. Pela infraestrutura precária de saúde, de abastecimento, certamente o pior impacto em segurança alimentar será na África. Não acho que seja o caso do Brasil. Aqui, temos um sistema interno que, bem ou mal, dá conta. Essas medidas já deveriam estar em vigor, uma vez que a reclusão e o confinamento estão decretados. Os informais já perderam trabalho sem nenhuma compensação ou indenização. O Bolsa Família é o melhor exemplo, (o dinheiro) usado basicamente para comprar comida, principalmente nessas horas.
• Como evitar que haja abusos de preços neste momento?
- Temos um elemento novo: o crescimento do comércio virtual. E não temos regulações disso. Elas são feitas pelas próprias empresas. Precisamos do Estado presente nisso, com um programa de defesa do consumidor.
• Os caminhoneiros, que transportam grande parte de nossa produção, estão enfrentando dificuldades para encontrar lugares abertos para comer e dormir. Como resolver isso?
- É falta de governo. Dá para fazer um escalonamento, daria para informar nos pedágios, por exemplo, com um folheto mostrando quais lugares estarão abertos para comer. Pode fechar o restaurante, mas manter a marmita, a quentinha. Até mesmo um drive-thru dá para adaptar facilmente, com coordenação. Nós dependemos fundamentalmente do abastecimento rodoviário e já vimos esse filme antes várias vezes. Não podemos correr o risco de uma paralisação dos caminhoneiros.
• Como o sr. vê o impacto da crise nas políticas de líderes nacionalistas?
- O pior que pode acontecer depois dessa crise seria voltarmos aos momentos do passado, quando Estados nacionais adotavam políticas umas diferentes das outras, sem nenhuma coordenação. Infelizmente, o modelo que a gente está vendo na Europa mostrou isso. Na região mais adiantada em termos de coordenação política, vimos um desastre, sem coordenação na área da saúde. Temos de encontrar mecanismos aqui na América do Sul de revitalizar essa coordenação. Não vai ser possível fechar fronteiras, isso é só em um curto período de tempo. Precisamos trabalhar para manter o comércio aberto de commodities agrícolas e não contingenciar exportações.
• Qual será o impacto da pandemia nas eleições deste ano?
- Tenho visto falta de coordenação de governo. Estão mais preocupados em brigar uns com os outros do que em estabelecer um pacto federativo. A eleição é um complicador, mas espero que tenhamos maturidade para não transformar essa situação em uma disputa política.
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*”Empresas alegam ‘força maior’ e já pedem revisão de contrato na Justiça”* - A Raízen, empresa de combustíveis da Cosan e da Shell, declarou na última terça-feira força maior em relação aos contratos assinados com seus fornecedores, por conta da epidemia do novo coronavírus. Com isso, poderia rever os volumes de compra de etanol, originalmente programados porque, com a maioria da população em casa, a venda de combustível caiu em até 80% em algumas cidades do País. Já o Grupo Autostar, rede de 16 concessionárias de carros importados, como BMW, Land Rover, Volvo, Jeep e Harley-Davidson, ganhou na Justiça o direito de suspensão do pagamento de aluguéis por quatro meses. Os valores só serão pagos nos 12 meses seguintes, sem mora. Em seu despacho, a juíza Flávia Poyares Miranda, do Tribunal de Justiça de São Paulo, afirmou que “a pandemia mundial acarretou a paralisação de diversas atividades, causando profundo impacto na vida das pessoas” e classificou a situação como um caso de “força maior”, o que, no seu parecer, justifica a intervenção do Judiciário. Os episódios podem ser os primeiros a virar uma tendência. Com a alegação de “força maior” ou “evento fortuito” – por conta do coronavírus –, o meio jurídico teme que os contratos sejam suspensos em um efeito dominó, com distorções em toda economia. Entrariam aí pagamento de aluguel de imóveis, distratos de compra e venda de ativos, fornecimento de insumos e serviços, entrega de obras, entre outros.
Reação. O efeito em cadeia, evidentemente, gerou reação imediata dos envolvidos. A União da Indústria de Cana-deAçúcar (Unica), por exemplo rebateu “veementemente” o rompimento de contratos pela Raízen. “Do ponto de vista jurídico, as notificações ignoram os pressupostos legais para a alegação de força maior e pretendem criar uma verdadeira licença para não pagar”, escreveu a Unica. “Sob o ponto de vista econômico, empresas altamente capitalizadas, com farto acesso ao crédito nacional e internacional, pretendem transferir a elos mais frágeis as responsabilidades que competem a elas e para as quais se prepararam nos últimos anos.” A entidade disse ainda que, se as usinas não receberem o previsto, milhares de fornecedores e colaboradores também não receberiam. A briga foi parar na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), por meio da Associação de Produtores de Açúcar, Etanol e Bioenergia (Novabio). Os efeitos podem mudar toda a estrutura do setor e reforça, segundo o presidente da entidade, Renato Cunha, a necessidade de os produtores poderem comercializar diretamente com os postos de combustível, sem passar necessariamente pelas distribuidoras. “Nunca pedimos para excluir as distribuidoras do processo, mas gostaríamos de pensar na opção de venda direta como um mecanismo complementar alternativo”, disse. O evento fortuito é aquele acontecimento promovido por ato humano, mas de forma imprevisível e inevitável. Já a força maior decorre de forças naturais, fora do alcance do homem, mas também imprevisíveis e inevitáveis. Advogados dizem que não há jurisprudência consolidada definindo em qual das categorias a covid-19 se enquadra, mas admitem que o impacto da crise é severo e abre margem para discussão sobre as obrigações contratuais.
Análise. “A rotulação sobre ‘evento fortuito’ ou ‘de força maior’ exige uma análise rigorosa e caso a caso. Mas o que existe, sim, é um efeito da pandemia sobre todos os contratos. É necessário um primeiro reconhecimento disso, na nossa visão”, diz o advogado Pablo Queiroz, sócio na área de negócios imobiliários de TozziniFreire. Segundo ele, as renegociações de contratos serão inevitáveis, e essa demanda já está ocorrendo em segmentos que envolvem locadores e locatários de imóveis. “A sociedade terá de compartilhar os riscos e prejuízos. É uma situação inédita.” Segundo a advogada Maria Helena Bragaglia, especialista em contenciosos e sócia do escritório Demarest, as decisões dependerão da análise de casos concretos e exigirá boa-fé das partes afetadas. A primeira recomendação de interlocutores do meio jurídico é respeitar o que está previsto nos contratos e, em caso de dificuldade, negociar. A potencial caracterização da crise de saúde pública como “evento fortuito” ou de “força maior” não é automática, nem generalizada. Supermercados e farmácias, por exemplo, aumentaram as vendas, enquanto redes de moda e cinemas foram à lona. Ou seja, a crise afeta cada empresa de um modo diferente, assim como sua capacidade de cumprir obrigações. Diante das incertezas, os escritórios já têm recomendado às empresas a elaboração de dossiês e registros dos fatos a fim de se resguardar de eventuais discussões. “É provável que a jurisprudência venha a definir a ocorrência (da pandemia) como situação imprevisível e excludente de responsabilidade, mas as cautelas jurídicas são necessárias para minimizar riscos”, recomenda o escritório Zavagna e Gralha em boletim aos seus clientes.
*”Senado exclui aluguel residencial em projeto que suspende prazos”* - O Senado vai votar hoje proposta que suspende prazos contratuais até 30 de outubro deste ano por causa da pandemia de covid-19. Pontos polêmicos, no entanto, serão retirados do texto, conforme adiantou ao Estadão/Broadcast a relatora do projeto, Simone Tebet (MDB-MS).
A proposta foi idealizada pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, e protocolada pelo vice-presidente do Senado, Antonio Anastasia (PSD-MG). O texto é uma articulação entre o Congresso e o Judiciário em meio a um vácuo na articulação do governo do presidente Jair Bolsonaro. A relatora vai retirar do projeto a possibilidade de pessoas suspenderem o pagamento de aluguéis residenciais até outubro, como proposto inicialmente. O dispositivo recebeu críticas pelo risco de uma “moratória geral” no País e por amarrar a livre negociação do pagamento de aluguéis nesse período. Tebet vai manter a possibilidade de congelamento de liminar para desocupação de imóvel urbano nas ações de despejo, mas só até o dia 30 de outubro, e não mais até 31 de dezembro deste ano, como proposto no texto original. Outro ponto polêmico da proposta é a suspensão da regra que permite ao consumidor desistir de uma compra feita com entrega domiciliar (delivery) no prazo de 7 dias. Na prática, ele poderia devolver um produto comprado pela internet só depois de outubro. A relatora também vai retirar esse ponto da proposta, deixando a suspensão do prazo apenas para medicamentos e alimentos perecíveis.
Lei de Dados. Outra alteração feita por Simone Tebet é no adiamento da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). O projeto propõe que a nova regulação que estabelece regras de privacidade e segurança seja postergada em 18 meses, entrando em vigor apenas em fevereiro de 2022, por conta da pandemia da covid-19. No parecer da senadora, o marco do início da lei será fixado em janeiro de 2021. “Do jeito que vai ficar, o projeto vai ser fundamental para garantir segurança jurídica em um momento de maior instabilidade social e econômica. Do contrário, o Judiciário iria entrar em colapso”, disse a senadora. Os efeitos da pandemia serão expressamente classificados em lei como caso fortuito ou de força maior. “Isso permite a flexibilização de regras para este momento”, disse a parlamentar.
Os efeitos da pandemia serão expressamente classificados em lei como caso fortuito ou de força maior. “Isso permite a flexibilização de regras para este momento”, disse Simone Tebet (MDB-MS), relatora do projeto no Senado cambial, por outro lado, não serão considerados fatos imprevisíveis para os contratos.
Cade. No mesmo projeto, há proposta que suspende, até outubro, a exigência de aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para alguns negócios entre empresas. O órgão vê riscos de, com a proposta, empresas se associarem para dominar mercados. Pelo texto, as companhias não terão que notificar o Cade quando firmarem contrato associativo, joint venture (união de duas ou mais companhias) ou consórcio. Esse tipo de negociação, atualmente, precisa ser autorizada pelo órgão se durar por um período superior a dois anos. Fusões e aquisições continuariam seguindo as regras atuais, pelas quais o conselho tem que dar o aval antes de o negócio ser fechado. Tebet adiantou que vai ajustar o ponto sobre o Cade para permitir a aprovação do texto.
 
CAPA – Manchete principal: *”Países travam disputa por material da China”*
*”Em meio à pandemia, governos já ajustam calendário de concessões”*
*”Ministério autoriza renovação da Malha Paulista”*
*”Investimento público cresce no 1º tri com reação à pandemia”*
*”20% do reforço da verba para a Saúde já foi gasto”*
*”Estados investiram valor mais baixo desde 1947 no pré-crise”*
*”Arrecadação de fevereiro mostrava queda mesmo antes dos efeitos da crise”*
*”Comprar da China agora requer agilidade”* 
- Disputa por material de saúde com outros países exige pagamento à vista e transporte por avião
*”FAB vai ajudar a trazer equipamentos da China”*
*”Déficit vai a 5,55% do PIB, prevê governo”*
*”Corte salarial de até 25% por acordo não será compensado”*
*”Pacote de emprego alivia empresas, mas há dúvidas sobre implementação das medidas”*
*”Descentralização do SUS e falta de testes contribuem para elevada subnotificação”* - O enfrentamento de um agente patógeno desconhecido e a falta de kits para testar todos os que apresentam sintomas correlatos à covid-19 tornaram mais evidente falha que já ocorria no monitoramento de outras enfermidades - a subnotificação de casos. A diferença é que agora provoca preocupação maior pela velocidade de transmissão. Embora sustentem que o sistema de vigilância epidemiológica do país é dos mais eficazes do mundo, especialistas reconhecem que há sub-registro não só aqui, apontando também razões como descentralização na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), no caso do Brasil, falha profissional ou até má fé. Nesse caso, porém, é detectável e costuma se tornar pública rapidamente, dizem. “Existe de fato o sub-registro, porque o sistema é descentralizado e o processamento depende das instituições na ponta. A disparidade na capacidade de realizar testes, diagnosticar e reportar os resultados se reflete na qualidade do registro”, observa Rudi Rocha, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e coordenador de pesquisas do do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS). Segundo ele, com o novo coronavírus essa adversidade ficou mais evidente e se complica porque o teste ainda não está disponível em larga escala. “Nosso sistema de vigilância é muito desenvolvido, mas estamos num país de dimensões gigantescas, muito heterogêneo. É desafio complexo.”
Sanitarista, mestre em políticas públicas e doutor em Epidemiologia pela Fiocruz, Daniel Soranz afirma que Estados e municípios devem seguir rigorosamente protocolos da Secretaria Nacional de Vigilância em Saúde, e que desvios nesse sentido podem aumentar distorções no desenho da curva epidemiológica, o que já ocorre porque há poucos testes. “A regra é clara e deve ser seguida por todos. Caso contrário a notificação acaba tendo função meramente burocrática e sem qualquer eficiência para orientar o combate à pandemia”, diz Soranz, que foi secretário de saúde do Rio na gestão do prefeito Eduardo Paes, quando a cidade teve que se preparar para a olimpíada e em meio ao surto de zika vírus. Ele explica que há duas formas de se fazer notificação, uma com confirmação laboratorial e outra a partir de aspectos clínicos e epidemiológicos. Nesse caso, identifica-se sintomas entre pessoas que estavam no local de prevalência da doença. Se o paciente tem sintoma, mas circula por lugar de não incidência, não há notificação. “A estratégia do Ministério da Saúde hoje é aumentar o número de exames [para coronavírus], mas ainda não há kits suficientes. Então apenas pacientes graves vêm sendo testados, o que pode estar gerando subnotificação importante. Tem ainda as que morreram por covid-19, e que só foram colhidas amostras depois”, observa.
Esse aspecto compromete a percepção sobre a curva da pandemia, mas não é tão importante na primeira fase, diz o sanitarista. “Ao longo da próxima semana, vai ser muito importante [é quando se espera subida mais acentuada do número de ocorrências]. E talvez seja o caso de se criar um canal para a autonotificação por parte das pessoas que sentirem sintomas”. Essa medida, que seria inédita no Brasil, já é empregada em países como Reino Unido, onde os cidadãos ligam para o sistema de saúde, são atendidos e respondem a um longo questionário sobre seu estado clínico ou daqueles de quem estão cuidando. “A Inglaterra faz isso desde 2008, quando houve o surto H1N1. É um instrumento importante que melhora a qualidade das informações em vigilância”, diz Soranz. O sanitarista aponta problema adicional que influi na leitura real da curva epidemiológica, com isso na detecção precisa sobre quando a pandemia atinge o pico. “Alguns locais estão usando a data de resultado do exame para entrar com a notificação, quando o que deveria constar no Sinan [Sistema de Informação de Agravos de Notificação] é a data em que o paciente começou a perceber os primeiros sintomas. Você pode achar que a curva está se achatando, e não é isso.” Mas Soranz pondera que há falhas de gestão que podem não ser bem falhas, mas proceder intencional. “Acontece, em relação a algumas doenças, de uma localidade atrasar a notificação para que não apareça como um grande foco. Isso foi razão de denúncias na China, onde foram levantadas suspeitas de o governo ter atrasado a notificação. Fato é que temos que evitar que aconteça aqui.”
*”Bolsonaro ataca Mandetta e governadores”*
*”Mauro Mendes reclama de ‘discurso inapropriado’”* 
- Mauro Mendes opõe-se ao ‘lockdown’, sobretudo em municípios que não tenham casos confirmados
*”Witzel volta a criticar posição do presidente”*
*”Doria e Lula fazem gesto de concórdia em redes sociais”* - Governador e ex-presidente ressaltaram que momento é de combate ao coronavírus
*”Maia e presidente do BB trocam ataques por conta da quarentena”*
*”Planalto centraliza comunicação”*
 - Até assessorias de imprensa de ministérios importantes, como Economia e Saúde, ficam subordinadas à Secom
*”55% de publicações pró-Bolsonaro são feitas por robôs”* - Estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FespSP), obtido em primeira mão pelo Valor, mostra que robôs foram responsáveis por mais da metade das publicações favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro no Twitter. Por meio de ferramentas de ciência de dados, as professoras Rose Marie Santini, da UFRJ, e Isabela Kalil, da Fesp, demonstram que robôs responderam por 55% dos 1,2 milhão de posts que usaram a expressão #BolsonaroDay para homenagear o presidente em 15 de março, dia de atos de rua pró-governo. A pesquisa identificou a ação de 23,5 mil usuários não humanos a favor do presidente em um universo total de 66 mil usuários que publicaram a “hashtag” naquele dia. É um exército de “bots” e ciborgues criados, cultivados e programados para fazer bombar o assunto que for conveniente para quem os comanda, no exato momento escolhido para o ataque. A essa tropa somam-se 1,7 mil contas que publicaram sobre #BolsonaroDay e, horas depois, foram apagadas do Twitter. O comportamento, segundo as pesquisadoras, é típico de bots. Antes de sumir, o grupo foi responsável por 22 mil tuítes a favor de Bolsonaro.
As informações foram processadas no software com inteligência artificial “Gotcha”. O classificador de bots foi desenvolvido nos últimos dois anos pelo Laboratório de Microssociologia e Estudo de Redes (NetLab) da UFRJ, com apoio da startup Twist System. A parceria com o Núcleo de Etnografia Urbana (NEU) da Fesp consistiu em treinar, ao longo de um ano, o algoritmo para funcionar com base em um banco de dados de temas relacionados à política brasileira. Os grupos são coordenados por Marie, no Rio, e Isabela, em São Paulo, e reúnem 12 pesquisadores. O “Gotcha”, referência ao termo em inglês para “te peguei”, tem funções semelhantes ao americano “Botometer”. A ferramenta da Universidade de Indiana é usada para identificar a participação de robôs em redes sociais para conteúdos em língua inglesa. Foi com o processamento do “Botometer” que um estudo da Universidade de Oxford apontou que, em 2016, 18% do conteúdo das eleições americanas e 32% dos posts sobre Brexit vieram de bots. Esses momentos são referências internacionais da manipulação das redes por robôs - superados agora de longe pelos 55% de tuítes pró-Bolsonaro. “Um uso massivo de robôs não quer dizer necessariamente que aquela campanha nas redes sociais está fraca e precisou ser inflada”, explica a doutora em Antropologia Social e autora do estudo Isabela Kalil. “O bot não vota nem adoece de covid-19, por exemplo, mas influencia a forma como os humanos votam e se previnem ou não diante de uma pandemia.”
Os atos de 15 de março aconteceram nos primeiros dias da eclosão do coronavírus no Brasil. Na época, a recomendação das autoridades de Saúde já era para que se evitasse aglomerações. Depois de convocar as manifestações via WhatsApp, Bolsonaro tinha desestimulado as pessoas a irem às ruas em live no Facebook. No domingo, os atos aconteceram com público pequeno. A surpresa foi a aparição do presidente no meio da concentração de gente em Brasília. Ele apertou a mãos de apoiadores e tirou selfies. Bolsonaro tinha voltado dos Estados Unidos dias antes, em uma comitiva em que vinte pessoas vieram contaminadas com coronavírus. O presidente diz que seu teste para a doença deu negativo. Se, nas ruas, a movimentação foi reduzida nesse dia, nas redes ela explodiu. #BolsonaroDay entrou nos Trending Topics mundiais do Twitter, ou seja, foi um dos dez assuntos mais falados no globo. “Como as redes sociais foram criadas para a interação entre pessoas, há um subtexto de que o que está no Twitter é a voz do povo”, analisa Marie Santini, pós-doutora em Ciência da Informação e autora da pesquisa. “Mas as redes sociais são passíveis de muita manipulação.” Marie explica que, além de inflar temas de interesse de quem os comanda, os robôs são usados na política brasileira para orientar os argumentos da militância, chamar a atenção de usuários e até mesmo pautar a imprensa. “É o fenômeno que chamamos de sequestro de atenção”, diz a pesquisadora da UFRJ.
*”LDO fixa meta fiscal para Estados e municípios”* - Alteração aprovada pelo Congresso projeta déficit primário do setor público em R$ 158,7 bilhões
*”Senado votará aumento de CSLL para bancos”*
*”Para Mourão, país deve manter quarentena durante o mês de abril”*
*”Marta filia-se ao Solidariedade para disputa em SP”*
*”Lula não descarta adiamento das eleições”* - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse ontem que a depender da duração da pandemia de coronavírus as eleições municipais deste ano deveriam ser adiadas. A ideia começou a ser discutida no Congresso Nacional depois que o ministro da Saúde, Henrique Mandetta, sugeriu há alguns dias a mudança do calendário eleitoral. Um dos defensores da tese é o deputado federal Aécio Neves (PSDB). “A questão eleitoral de 2020 não é uma questão de princípio”, disse Lula em entrevista à Rádio Super de Belo Horizonte, ao ser questionado sobre uma eventual fusão da eleição deste ano com as eleições gerais de 2022. “Ora, se nós chegarmos num momento importante de decidir e percebermos que a crise está avançada, que a crise está se agravando, ou seja, não há porque você manter eleições. Você pode suspender as eleições. Não será a primeira vez nem será a última vez”, disse o petista. “Não é uma questão de princípio.” Lula afirmou, no entanto, que avalia que ainda não é o momento de discutir o assunto. Mas sim de dedicar todos os esforços para minimizar os efeitos do coronavírus na população. “A questão da eleição, quando chegar o momento certo, a gente decide”, insistiu. “Se for para não ter eleição, que não tenha eleição. O Brasil não vai acabar por causa disso, não. A gente pode fazer eleição para frente.” Apesar da pressão externa para que as eleições municipais de 2020 sejam adiadas em razão da pandemia, a ministra Rosa Weber, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, tem defendido que ainda não há motivo para alterações.
Em manifestação assinada no início da semana, ela afirmou que, como as etapas iniciais do calendário são no âmbito do próprio TSE, “ainda há plenas condições materiais de cumprimento do calendário eleitoral, apesar da crise sem precedentes no sistema de saúde do país”. Rosa ponderou, entretanto, que, a depender da evolução do cenário nacional em relação à doença nós próximos meses, poderá reavaliar a data da votação. Para Lula, a pandemia de coronavírus está colocando em xeque a tese de que o poder do Estado tem de ser reduzido e de que políticas liberais são mais eficientes. “Está ficando provado que quanto mais forte for o Estado mais chance de resolver o problema tem o Estado”, disse ele na entrevista. “Aquela história de fragilizar o Estado, de privatizar o Estado, de colocar empresários para tomar conta do Estado tecnicamente em tudo quanto é lado está provado que não tem resultado. quem vai resolver essa crise é o Estado”, defendeu Lula. “O que é preciso é um Estado forte para tomar uma decisão e um Estado democrático para executar.” Os comentários foram uma resposta a uma pergunta sobre como ele tem avaliado as medidas econômicas que o governo do presidente Jair Bolsonaro tem adotado para lidar com a crise. Sem mencionar o bilionário pacote de medidas anunciadas na quinta-feira, Lula disse que neste momento em que a produção nacional parou é preciso “produzir dinheiro novo” para ajudar as empresas a pagarem seus funcionários. “É preciso parar de olhar o déficit público e olhar a dívida social que nós estamos tendo com o povo”, disse Lula.
Ao falar da atuação de Bolsonaro na crise, o petista disse que falta a ele capacidade de coordenar ações com os governadores. “O Brasil tem muita gente necessitada, tem gente pobre que vai ser vitimada, tem muita gente vivendo em espaço muito pequeno e o Estado tem que garantir como é que a gente vai ajudar essa pessoa”, disse Lula. O ex-presidente ponderou que não se deve colocar a culpa de todos os problemas na conta do atual governo, mas cobrou união. “Eu nem estou culpando o governo. Eu estou achando que o governo precisa ter capacidade de coordenação. Capacidade de coordenação. O governo já deveria ter juntado os 27 governadores de Estado decidido que políticas vai fazer junto com os governadores, dependendo de quanto o recurso vai precisar cada Estado”, disse Lula. No fim da entrevista, ao ser questionado sobre como definiria Bolsonaro e sobre um eventual processo de impeachment, Lula afirmou: “O Jair Bolsonaro, sinceramente, não poderia ser presidente do Brasil”. E ao falar de um processo de afastamento, defendido por alas da oposição, disse apenas: “Eu acho que, se cometer crime de responsabilidade, tem que sofrer impeachment.”
*”EUA terão recessão profunda e longa”* - Projeções para a economia americana estão piorando rapidamente, à medida que a covid-19 avança. Maioria dos bancos já espera a pior recessão trimestral desde 1947
*”Já são mais de 52 mil mortos no mundo”*
*”UE opta por frear economia para conter o coronavírus”* 
- Com pacote de € 100 bilhões, União Europeia ajudará empresa da região a pagar o salário de trabalhadores parados
*”’Polarização vai perder muita energia’”* - Ação de Bolsonaro na crise do vírus causou perda de popularidade, diz Moura, presidente do Ideia Big Data
*”Avaliação do governo cai com pandemia”* - A avaliação popular do governo do presidente Jair Bolsonaro entrou em uma trajetória de declínio contínuo desde o início de março, com a eclosão da pandemia do coronavírus. Segundo pesquisa semanal com 1.581 entrevistas do instituto de pesquisa Ideia Big Data, com margem de erro de quatro pontos percentuais, Bolsonaro tinha 39% de avaliação boa ou ou ótima para o seu governo no levantamento dos dias 4 e 5 de março. Desde então, houve um recuo de sete pontos percentuais nessa soma, até chegar ao nível de 32% registrados na pesquisa encerrada em 1º de abril. A curva de ruim e péssimo seguiu a trajetória oposta: partiu de 26% no início do mês passado para chegar a 37%. Houve, portanto, um cruzamento das linhas, e agora o sentimento majoritário da população em relação ao governo é desfavorável. O mesmo movimento é registrado em relação à aprovação ou desaprovação do administração federal, ainda que neste item não tenha ocorrido um cruzamento de linhas: desde muitos meses a desaprovação ao governo é maior que a aprovação. Mas a diferença, que havia se estreitado a 4 pontos em dezembro, agora é de 16 pontos percentuais: 42% de desaprovação e 26% de aprovação. O responsável pela pesquisa, o economista Maurício Moura, presidente do Ideia Big Data, avalia que, mesmo com essa trajetória recente, Bolsonaro ainda mantém uma base sólida de aprovação. O recuo das últimas semanas é diferente do ocorrido no primeiros meses de 2019 - o percentual de ótimo e bom caiu de 51% no começo de fevereiro para 28% no início de abril do ano passado.
Desde então oscilou bastante, com uma tendência de recuperação que culminou entre dezembro e janeiro, marcado por iniciativas como a concessão da 13ª parcela para o Bolsa Família, saques autorizados no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), uma ligeira melhora na economia e uma certa calmaria no temperamento irascível do presidente. “No primeiro trimestre de 2019 ele perdeu muito, cerca 20 pontos de aprovação em um período curto. Depois houve muita oscilação. Agora, se vê uma tendência de queda que não se via desde aquela época, mas não há a mesma intensidade de corrosão dessa base de apoio muito forte que ele tem”, diz Moura, também pesquisador da Universidade George Washington, sediada na capital americana. Para ele, a razão é que Bolsonaro já perdeu a capa de eleitores que migraram para a sua candidatura por questões utilitárias, entendendo-o como um escudo contra o petismo, que segue sendo mais rejeitado que o bolsonarismo no eleitorado. “Esse era um grupo de aprovação mais frágil, porque era basicamente em oposição ao anterior. Agora a gente entra numa perda de aprovação num território menos frágil dele, justamente por causa disso a perda de aprovação não deve ser numa velocidade tão grande”. Segundo Moura, Bolsonaro perdeu mais no segmento da classe C, na faixa etária entre 30 e 40 anos, entre mulheres. Ele segue sólido entre homens, nas faixas etárias e de renda mais alta, e nos grandes centros urbanos.
A pandemia encontra Bolsonaro em um momento em que o presidente vai contra a corrente da maioria da opinião pública. Ainda que tenha diminuído em uma semana, o isolamento social da maneira como está sendo praticado hoje - ao qual o presidente se opõe - tem o apoio de 76% dos pesquisados. A defesa do isolamento vertical, preferido por Bolsonaro e por um grupo de empresários e investidores, não tem grande adesão no eleitorado. A pesquisa mediu também o índice de confiança no governo. A administração Bolsonaro recebe muita ou alguma confiança de 42% dos entrevistados. Já 52% declararam ter pouca ou nenhuma confiança na administração. O melhor desempenho do presidente vem dos evangélicos (54%) e da Região Norte (58%). Os piores índices, com maior desconfiança, estão no Nordeste (58%), nas mulheres (60%) e nas pessoas com ensino superior completo (61%). Esse é um raro indicador em que Bolsonaro melhorou na pesquisa. Em março, na última vez que esta pergunta constou do questionário, Bolsonaro havia obtido apenas 39% de confiança, ante 54% de desconfiança, o pior resultado dele na série histórica. Segundo Moura, porém, a variação é estável estatisticamente. A pesquisa foi feita por meio de aplicativo de celular, com amostragem randomizada e respostas checadas para verificação de inconsistências
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