CAPA – Manchete principal: *”País tem mais de mil mortos, e o mundo, mais de 100 mil”*
EDITORIAL DA FOLHA - *”São Paulo pode parar”*: O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), excedeu-se na retórica ao ameaçar com prisão pela Polícia Militar cidadãos que violarem as regras de quarentena e resistirem à determinação dos agentes para se recolherem.A retomada recente de atividades por muitos paulistas de fato preocupa. Epidemiologistas projetam que, com menos de 50% de adesão ao isolamento, faltarão leitos para doentes graves no estado de São Paulo. Não se justifica, porém, o recurso extremo. O político tucano parece mais empenhado em cultivar imagem de comando e firmeza do que em liderar e convencer a população que o elegeu. Não será com ameaças a direitos fundamentais que alcançará o objetivo —acertado, reitere-se— de manter o máximo de pessoas em casa. Verdade que a lei admite recurso à coerção, mas em caráter auxiliar. Mesmo que no limite se parta para a prisão, parece certo que as afinal realizadas acabarão relaxadas, dado o baixo potencial ofensivo da desobediência. Força coercitiva não se exerce só com repressão e violência. Antes vêm prevenção, orientação e, sobretudo, convencimento. Fará sentido pôr policiais nas ruas, se e quando o chamado “lockdow” (paralisação completa) se impuser, para verificar se cada pessoa encontrada na rua tem autorização para tanto. A PM poderia até conduzir algum desobediente a uma delegacia para lavrar auto circunstanciado, mas o constrangimento deveria terminar por aí. Antes de baixar a medida draconiana, o governador paulista precisaria explicar com mais transparência quais são os dados que servem de base para adotá-la —em especial os relativos à adesão ao isolamento e à capacidade das UTIs. Na falta deles e de esforço mais amplo de comunicação com os governados, Doria se torna presa fácil do discurso demagógico do presidente Jair Bolsonaro contra o distanciamento social. Bolsonaristas já fazem disso cavalo de batalha para antagonizar o rival paulista do presidente, assim como no caso da cloroquina. Aqui também Doria e sua equipe ficaram a dever na obrigação de informar quando o médico David Uip, na chefia do comando estadual da crise, recusou-se a dizer se tomou o medicamento em sua recuperação da Covid-19. Ao optar pela confidencialidade, uma prerrogativa de paciente que neste caso é suplantada pelo interesse público, repete a atitude de Bolsonaro de omitir os resultados de seus testes de coronavírus. Caberia esclarecer se a prescrição ocorreu e em quais circunstâncias, ou o segredo poderá alimentar a desconfiança de quem começa a se arriscar nas ruas.
PAINEL - *”Osmar Terra comete série de erros em previsão sobre coronavírus e fica desmoralizado segundo ele mesmo”*: Osmar Terra (MDB-RS) está em uma situação de desmoralização, segundo suas próprias palavras. Há alguns dias ele disse em entrevista que o coronavírus ia matar menos gente do que a gripe em seu estado: abaixo de 1.000 pessoas. "Estou te fazendo uma previsão que pode me desmoralizar. Quero ver quem está tomando essas medidas pirotécnicas, assustando a população, quero ver me dar números. Eu dou números do que estou falando", disse Terra. O Brasil superou o número nesta sexta (10). Um dos líderes do movimento que tenta derrubar Luiz Henrique Mandetta da Saúde, Terra errou até mesmo o número de mortes por gripe no Rio Grande do Sul: no ano passado foram 75 pessoas, segundo dados do InfoGripe. O ex-ministro, que é médico e já foi secretário de Saúde do seu estado, está alinhado a Jair Bolsonaro contra as medidas de isolamento social. O deputado federal afirmou ao Painel que na rádio quis se referir aos mortos de gripe no seu estado e no país, mas seguiu dizendo que a cada inverno morrem cerca de mil no RS. Perguntado sobre os números estarem equivocados, não respondeu. Ainda que estivesse fazendo referência aos números oficiais de mortos por gripe do país, Terra também deve ficar para trás em suas previsões, muito em breve. De acordo com o InfoGripe, 1.149 pessoas morreram de gripe no Brasil em 2019. Em 2018, 1.348. Em 2017, 514. Questionado se se considera desmoralizado, o ex-ministro não quis se manifestar.
*”Julgamentos da Lava Jato atrasam com coronavírus e suspensão de prazos judiciais”*
*”Bolsonaro é alvo de gritos de apoio e panelaço e, sem cuidado, cumprimenta apoiadores em Brasília”* - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ouviu gritos de apoio e também panelaço em novo passeio por Brasília, nesta Sexta-Feira Santa (10), em meio ao isolamento social em vigência no Distrito Federal devido à pandemia de coronavírus. Em um dos momentos, Bolsonaro foi cercado por moradores e, antes de entrar no carro, ignorou orientações sanitárias e, sem demonstrar nenhuma preocupação com a crise do coronavírus, primeiro coçou o nariz com o dorso da mão direita e, segundos depois, passou a cumprimentar uma idosa e outros apoiadores. Essa não foi a primeira vez que Bolsonaro ignorou a pandemia. No mês passado, por exemplo, em meio a um protesto pró-governo, ele participou dos atos, tocou simpatizantes e manuseou o celular de alguns apoiadores para fazer selfies. "Isso não tem preço", disse, à época, em suas redes sociais. Em outra ocasião, fez um tour por diferentes pontos do comércio de Brasília, o que gerou aglomeração de pessoas no momento em que a OMS (Organização Mundial da Saúde) e o próprio Ministério da Saúde recomendam isolamento social para evitar o contágio do novo coronavírus. Bolsonaro naquele dia falou com funcionários de supermercados e padarias e com vendedores autônomos. Nesta sexta-feira, Bolsonaro deixou o Palácio da Alvorada por volta das 9h15 e, acompanhado pelo ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, foi ao HFA (Hospital das Forças Armadas) para uma visita ao corpo clínico da unidade. Em seguida, o presidente foi a uma farmácia no Sudoeste, bairro de classe média alta de Brasília. Não foi possível identificar o produto comprado por Bolsonaro, que fez fotos com algumas pessoas e acenou para moradores dos apartamentos que ficam em cima do comércio. Questionado pelos jornalistas o que havia ido fazer no HFA, respondeu ironicamente. Primeiro, disse que havia ido "tomar um sorvete". Depois, afirmou que foi ao hospital "fazer um teste de gravidez". Os repórteres também perguntaram se ainda iria a outro lugar. "Eu tenho direito constitucional de ir e vir. Ninguém vai tolher minha liberdade de ir e vir", retrucou. Antes de retornar ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro passou por uma quadra residencial, também no Sudoeste. De acordo com vizinhos, no prédio visitado mora o estudante de direito Jair Renan, filho do presidente. Neste sábado, o rapaz completa 22 anos. Ao saber da presença de Bolsonaro na quadra, vizinhos foram às janelas. Houve gritos de apoio, mas também panelaços. Houve manifestações antagônicas como "fica, Bolsonaro" e "vai para casa, Bolsonaro". Um apoiador do presidente gritava para que uma manifestante contrária fosse para Cuba e Venezuela. Uma mulher com o filho pequeno aproximou-se de Bolsonaro e foi repreendida por um vizinho que, de sua janela, gritava "tira esta criança daí". Bolsonaro não respondeu quando foi indagado sobre as manifestações. Mais tarde, o chefe do Executivo postou um vídeo nas redes sociais em que aparece saindo da farmácia, cercado por jornalistas. "Retornando do Hospital das Forças Armadas parei para comprar medicamento na Drogaria Rosário. Contrariando normas da Saúde os repórteres se aglomeraram", escreveu. Ao longo desta semana, em meio à crise com seu ministro da Saúde, Henrique Mandetta, Bolsonaro fez alguns passeios por Brasília, contrariando as recomendações das autoridades de saúde para que se mantenha o isolamento social como medida de enfrentamento ao novo coronavírus. Na terça-feira (7), saiu para jantar com um pastor. Na quinta (9), logo após o vazamento de uma conversa entre o ministro Onyx Lorenzoni (Cidadania) e o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) na qual criticam Mandetta, Bolsonaro deixou o Palácio do Planalto e foi a uma padaria na Asa Norte, área nobre de Brasília. No domingo retrasado (29), Bolsonaro circulou pelo comércio de Brasília provocando aglomeração.
ENTREVISTA - *”'A reação já começou com a desobediência civil', diz Ignácio de Loyola Brandão, autor de distopia política”*: De dentro do seu apartamento no bairro de Pinheiros, em São Paulo, o escritor Ignácio de Loyola Brandão, 83, escuta as panelas batendo pontualmente às 20h30 nos últimos dias. “Pego uma frigideira, pego o que for e vou bater”, contou à Folha, em entrevista por telefone. Para Brandão, porém, os panelaços contra o presidente Jair Bolsonaro não são a única forma de protesto adequadas ao momento. “Parece que a reação já começou com a desobediência civil”, diz. Para ele, “governadores, prefeitos e o povo estão na contramão das ordens do presidente”. Antes que Bolsonaro fosse eleito, Brandão escreveu uma distopia que mostra um Brasil governado por um presidente sem cérebro, assolado por epidemias onde caravanas passam transportando os mortos. Na ficção, conselheiros do presidente elaboram campanhas com dizeres como “Não se entregue ao abismo, trabalhe” e “Para frente, Brasil. Siga”. Romance mais recente do imortal da Academia Brasileira de Letras, “Desta Terra Nada Vai Sobrar a Não Ser o Vento que Sopra Sobre Ela” (Global, 2018), foi escrito nos quatro anos anteriores ao seu lançamento. A obra mostra um Brasil sem os ministérios da Saúde e da Educação e completa a trilogia iniciada por “Zero” (1975), censurado pela ditadura militar, e “Não Verás País Nenhum” (1981), em que o aquecimento global já é uma realidade. “Não sou adivinho, não sou nada. Mas sou um homem que faz literatura a partir da ideia de que não existe absurdo nesse mundo, tudo é literatura e tudo é possível”, disse. O autor cumpre o isolamento domiciliar para evitar o contágio e a proliferação do novo coronavírus. “Tem gente que quer abrir comércio imediatamente. Eu não quero sair, não sou suicida. Somos governados pelo gabinete do ódio”, disse. - De certa maneira, o senhor antecipa a realidade por meio da ficção. Isso ocorreu com 'Não Verás País Nenhum' e agora com 'Desta Terra Nada Vai Sobrar...'. Como o senhor faz isso? - Imagino coisas que podem ser absurdas, que podem nunca acontecer. Só que acabam acontecendo. A ideia do livro surgiu quando li no jornal a possibilidade de, no futuro, a ciência produzir um homem sem cérebro, sem emoção, sem sentimentos, sem nada.
- No livro tem o primeiro presidente sem cérebro. Isso foi quase um ano antes da eleição [de 2018]. O que a gente tem hoje no poder? - Um homem sem cérebro, sem sentimento, sem emoção, sem comoção, indiferente a tudo, ao povo que governa, frio. Eu não tenho culpa da minha literatura vir na frente, a vida que vem bem atrás. Quando escrevi 'Não Verás País Nenhum' [1981], o aquecimento global e doenças estranhas eram possibilidades e está aí o coronavírus. Fico surpreso comigo mesmo. Não sou vidente. Sou um escritor que sabe que a literatura é uma coisa que faz você ver a possível vida que vem.
- 'A vida normalizara-se naquela anormalidade'. O senhor abre o livro com essa frase de Euclides da Cunha, em 'Os Sertões'. Por quê? - No momento em que a normalidade é o normal, com os índices de feminicídios, as milícias que comandam o Rio de Janeiro e as facções, isso não é o normal. Isso é uma anormalidade dentro do cotidiano. A gente vive uma situação de medo, de sobressalto.
- Sob Bolsonaro, a vida 'normalizou-se na anormalidade'? - Mais do que nunca. Nós estamos sendo conduzidos como na fábula do flautista que toca e conduz os ratos que vêm atrás para o precipício. Este homem está nos jogando do precipício. Eu não estou atrás, mas muita gente está. O que ele pretende? Tenho 83 anos, nunca vi um presidente assim, tosco, sem cultura, analfabeto, autoritário, um soldadinho de chumbo que está lá. Tudo isso é anormal. Isso não é a normalidade, a normalidade seria respeito à lei, ternura com o povo, esse povo que precisa salvar. Porque estamos condenados à morte. Tem gente que quer abrir comércio imediatamente. Eu não quero sair, não sou suicida. Somos governados pelo gabinete do ódio.
- 'A caravana leva os mortos por dengue, zika, H1N1, chikungunya, varíola, obesidade mórbida, malária, febre amarela'. Em outro trecho, o senhor escreveu: 'A cada minuto, pessoas morrem nas ruas, ninguém toca nelas, é o medo. Ninguém sabe há quanto tempo não existe mais o Ministério da Saúde'. É o que está acontecendo com o coronavírus? - Está acontecendo. Esse presidente constrange o ministro dele, da Saúde, o único que estava fazendo alguma coisa, mas teve que alinhar ao lado dos absurdos dele. Faltam leitos, exames e se estourar, vai ser um sufoco. A caravana que descrevi está acontecendo na Itália. Basta ver as filas de caminhões levando os mortos para serem enterrados, queimados. O livro é muito mais que o Brasil hoje. Fiquei assustado [quando a repórter da Folha leu os trechos]. Tem muita coisa que às vezes se escreve até em transe. Depois que a gente lê, fala: 'Meu Deus!'. Não sou adivinho, não sou nada. Mas sou um homem que faz literatura a partir da ideia de que não existe absurdo nesse mundo, tudo é literatura e tudo é possível.
- 'Um daqueles presidentes obrigou todos a obedecerem aos preceitos elaborados pelos Comunicadores Aconselhantes, em remotas eram conhecidos como marqueteiros, raça inextinguível'. Entre os preceitos estavam 'Não se entregue ao abismo, trabalhe. Não atrapalhe, colabore. Não pense em depressão, acredite no mercado. Para frente, Brasil. Siga'. Lembra a campanha que Bolsonaro divulgou de que o 'Brasil não pode parar' em meio à pandemia, não? - Exato. Fiquei arrepiado, não lembrava disso. O título do livro é um poema do Bertolt Brecht, quando ele fala sobre Alemanha e vem o nazismo. É muito simbólico do momento. A história vai se repetindo e a literatura retrata tudo isso. Como é possível seguir um homem que prega tortura, fazer mal para o outro, fazer dor, fazer sofrer? Como pode ser um líder? Aliás, o mundo está carente de líderes com Trump nos Estados Unidos, Boris Johnson no Reino Unido, Orbán na Hungria, a coisa está feia. Nem o exemplo da Itália, cujas mortes aumentam justamente porque não se isolaram, amedronta este homem [Bolsonaro].
- No seu livro, idosos estão autorizados a optarem por uma 'autoeutanásia', para que não sobrecarreguem as famílias. Com o coronavírus, os idosos são um grupo de risco. - No livro, largam eles para que morram, se jogam de uma montanha. Nós, idosos, estamos sendo jogados do alto das montanhas. Não poderiam sair, mas estão autorizando a sair na rua, que se trabalhe. Está autorizada a eutanásia no país. Meu livro não é o futuro, é o agora. Fico feliz e infeliz de constatar isso. Fiquei muito triste.
- 'Depois de sucessivos impeachments, a classe Astuta [políticos] e parte da população tomaram gosto e passaram a apoiar um impeachment atrás do outro. Para os parlamentares, foi um alto negócio. A cada pedido de impeachment, o presidente acuado passava a comprar os votos, disfarçados em emendas necessárias ao desenvolvimento da nação.' Assim como no livro, o senhor acha que teremos mais um impeachment? - Não tem muita condição. Tem os motivos, mas não tem um Congresso preparado. Tem um grupo, que vem diminuindo, que apoia [Bolsonaro]. Se um impeachment é posto em votação e não se realiza, aí teremos a instalação de uma ditadura fascista. Ele vai aproveitar e dá o golpe. Não é o momento de tentar impeachment, mas por meios legais [contê-lo]. Há uma história de provar a insanidade mental [do presidente], outros dizem que a insanidade é toda planejada. Mas também se disse que o Hitler era insano e não era, era tudo realidade.
- 'O governo desistiu de manter o Sistema Educacional, alegando que, para haver liberdade e poder formar a cidadania que leva à verdadeira democracia, cada um deve estudar como quiser, onde quiser, o que quiser, como puder, se puder' e foi 'erguido o Monumento Comemorativo ao Fim do Ensino.' - [Risos]. O que o Weintraub [ministro da Educação] está fazendo, senão isso? Um ano e quatro meses de governo e o que aconteceu? Nada. Os professores não sabem o que fazer, os planos são ideológicos. Esse ministro não existe. Um homem que diz para uma pessoa que 'está perto da égua sarnenta e desdentada da sua mãe'. O que é isso, meu Deus? Um ministro da Educação sem educação, grosso, horrendo, nojento. Esses pais [que defendem educação domiciliar] foram educados? Não são pedagogos. Vão desensinar. A gente está em cima de um esgoto.
- O que pode ser feito para impedir retrocessos? - Parece que a reação já começou com a desobediência civil, pregada pelo filósofo autor de “Walden”. Obedecer a Henry Thoreau e não a Olavo de Carvalho. Governadores, prefeitos e o povo estão na contramão das ordens do presidente. Esta é a resposta. Deixá-lo cada vez mais isolado, não atender seus apelos, seus comandos. Ocorreu uma carreta pró-Bolsonaro na Consolação. Mas por que os seguidores dele não vão caminhando? Estão isolados dentro dos carros. Assim é fácil.
- O senhor bate panela? - Bato panela. Quando não bato, minha mulher vai na janela bater. Pego uma frigideira, pego o que for e vou bater. Antes de ficar em isolamento no interior com sua família, meu filho veio aqui e bateu panela também. Bateu tão forte que amassou a panela inteira.
*”Parlamentares e dirigentes partidários estimam adiar 1º turno das eleições para 15 de novembro”*
*”Evangélicos têm tendência pró-Bolsonaro e relativizam mais coronavírus, indica Datafolha”* - Os evangélicos tendem a avaliar de forma mais positiva o presidente Jair Bolsonaro e a relativizar mais a pandemia do coronavírus, de acordo com a mais recente pesquisa do Datafolha. Segundo levantamento feito de 1º a 3 de abril, os indivíduos que se declaram dessa corrente religiosa estão entre os que mais aprovam a atuação do presidente diante da pandemia. De acordo com o instituto, o índice de ótimo ou bom atribuído à condução da crise pelo presidente passa de 33%, na população em geral, para 41% considerando apenas os evangélicos. Essa elevada taxa se compara, por exemplo, à obtida pelo presidente entre moradores do Centro-Oeste (também 41%) e supera numericamente a aprovação entre entrevistados do sexo masculino (38%), dois estratos também mais alinhados a ele. Os entrevistados desse ramo cristão também são menos favoráveis à hipótese de renúncia do presidente —o índice cai, de 37% na população em geral, para 30% nesse recorte. O Datafolha ouviu 1.511 pessoas por telefone, e a margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos. A mostra da pesquisa Datafolha considera que os evangélicos formam 31% da população com 16 anos ou mais, incluindo os do ramo pentecostal, que somam 15%. Os católicos são 51%. Bolsonaro em seu governo costuma fazer gestos ao segmento evangélico, como comparecer a eventos, e já falou em nomear para o Supremo Tribunal Federal um ministro "terrivelmente evangélico". A indicação de um novo integrante do STF poderá ocorrer a partir de novembro deste ano, com a aposentadoria do ministro Celso de Mello. No dia a dia, é comum Bolsonaro receber o apoio de fiéis de diferentes denominações na portaria do Palácio da Alvorada. Na semana passada, convocou um jejum religioso para que o país se livrasse "desse mal", em referência ao coronavírus. O presidente se declara católico, mas sua mulher, Michelle, é evangélica. A proximidade com líderes religiosos vem desde a época da campanha eleitoral. Além da avaliação de governantes, a pesquisa Datafolha incluiu perguntas sobre a percepção da população diante da crise e sobre o comportamento dos entrevistados. Embora o apoio a medidas de contenção à pandemia continue majoritário no segmento evangélico, a tendência é de mais divergência em relação a como reagir à pandemia. Enquanto na população em geral 37% consideram que a população deve sair para trabalhar, em vez de permanecer em isolamento, entre evangélicos esse número sobe para 44%. Líderes religiosos como Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, e Silas Malafaia já deram declarações alinhadas ao presidente em relação ao coronavírus. Desde antes da fase aguda da crise, o presidente tem subestimado os efeitos da doença e defendido a volta às atividades regulares do comércio e das escolas. As igrejas obtiveram em decreto presidencial, contestado na Justiça, o status de atividade essencial na pandemia, o que permite que continuem recebendo público. O apoio ao isolamento social entre a população, diz o Datafolha, é de 76%, número que vai a 71%, dentro da margem de erro, considerando apenas entrevistados evangélicos. Quando o questionamento opõe os posicionamentos do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), aos de Jair Bolsonaro, os entrevistados desse segmento cristão também se alinham mais ao presidente. Na população em geral, 57% entendem que Doria está certo e que os brasileiros não devem seguir as orientações de Bolsonaro a respeito da doença. Considerando os evangélicos, o número cai para 47%. A percepção entre evangélicos sugere um pouco mais de otimismo também sobre os efeitos do coronavírus na economia. Enquanto na população em geral 36% dizem que a Covid-19 vai prejudicar a economia por pouco tempo, entre evangélicos o número vai a 41%.
DEMÉTRIO MAGNOLI - *”Fanáticos tolos enxergam a cloroquina como pote de ouro no fim do arco-íris”* *”Sessões virtuais no Congresso enfrentam resistência e devem cair em desuso após a pandemia”*
*”Trump projeta retomada para meados de maio e preocupa especialistas”* *”Coronavírus leva Nova York a abrir valas comuns para enterrar mortos”*
*”Em nova compra, Bahia paga mais por respirador chinês e tenta evitar rota pelos EUA”* - Com o superaquecimento do mercado de produtos para o tratamento da Covid-19 (doença causada pelo novo coronavírus), o governo da Bahia precisou pagar preços exorbitantes por uma carga de respiradores compradas de fornecedores chineses. Segundo a Folha apurou, foram encomendados nesta semana 300 aparelhos desse tipo, a um custo total de R$ 48 milhões, ou R$ 160 mil a unidade. O governo da Bahia não confirma o dado oficialmente. Na semana passada, um carregamento de 600 respiradores que seriam destinados à Bahia ficou retido no aeroporto de Miami (EUA). O valor daquele contrato era de R$ 42 milhões, ou R$ 70 mil a unidade. O custo por respirador do novo contrato é 2,28 vezes o do antigo. Além da explosão no preço, as condições de pagamento ficaram mais duras. Antes, o valor havia sido empenhado no orçamento da Bahia, e o desembolso seguiria o cronograma normal para despesas do tipo, o que poderia levar dias e até semanas. Agora, os chineses exigem pagamento à vista para fazer a entrega. Os aparelhos destinam-se aos estados do Consórcio do Nordeste, presidido pela Bahia, e o custo será rateado entre eles. O governo baiano não informou os nomes das empresas fornecedoras nem quantos aparelhos cada estado receberá. O desafio mais complicado, no entanto, é de ordem logística. Numa tentativa de evitar o revés da carga anterior, a ideia é buscar os respiradores na China, para não correr o risco de o voo fazer escala nos EUA e os produtos ficarem retidos. Em transmissão realizada pela internet nesta quinta-feira (9), o governador Rui Costa (PT) afirmou que está em busca de várias opções. Ele disse que procurou a TAP, empresa portuguesa de aviação civil, pedindo ajuda para buscar os equipamentos, mas ouviu em resposta que seus aviões não são adequados para trazer essa carga. Costa também afirma ter procurado o Ministério da Defesa, que afirmou que as Forças Armadas não têm cargueiros em número suficiente para buscar os aparelhos. Falou ainda com as embaixadas da Rússia e da China, na tentativa de fretar cargueiros, mas tampouco havia encontrado uma solução até aquele momento. “Estamos fazendo um esforço para montar uma estrutura de saúde, mas nem tudo está em nossas mãos. O Brasil não produz respiradores suficientes. Temos que importar da China, mas hoje tem problema de logística, porque a aviação do mundo inteiro está praticamente paralisada”, afirmou o governador. Nesta quinta (9), o Ministério da Infraestrutura afirmou que deve organizar 40 voos com aviões cargueiros para buscar 960 toneladas de equipamentos de proteção na China. Mas o pedido da Bahia, a princípio não estaria incluído nisso. A corrida por produtos relacionados ao combate ao coronavírus se intensificou desde que o número de casos disparou nos EUA. Repentinamente, fornecedores de respiradores, máscaras, equipamentos para proteção de profissionais de saúde e testes de detecção da doença tiveram um salto na demanda. Muitos dos fabricantes são da China, país em que o pior da pandemia já passou e que agora está disponível para fornecer produtos para o resto do mundo. Alguns produtores disseram que vão redirecionar linhas de produção não essenciais neste momento para fabricar equipamentos contra a Covid-19. Outros abriram mão de seus direitos de propriedade intelectual para que novos fabricantes entrem no mercado. Não foi possível, no entanto, contornar totalmente a lei da oferta e da procura, até porque o mercado é dominado por diversas “tradings”, muitas delas americanas, que fazem a intermediação dos contratos de exportação. Elas são especialmente suscetíveis à pressão do governo americano, que vem utilizando uma lei dos anos 1950 para obrigar que todo o material produzido contra o coronavírus permaneça no país em caso de estado de defesa nacional. Uma dessas empresas, a Sabri, foi a responsável por ter cancelado o contrato anterior com o governo da Bahia. Ao Itamaraty, a empresa disse ter tomado a atitude por conta própria, para não ser responsabilizada no futuro caso os respiradores sejam demandados domesticamente. A atitude irritou o governo baiano. “Inicialmente essa empresa alegou que desistiu por livre e espontânea pressão dos americanos. Mas depois disse que foi por vontade própria”, afirmou Costa. “Os americanos tiveram prioridade sobre os brasileiros e baianos”, disse. Já a empresa fabricante dos aparelhos retidos em Miami é a americana Medtronic, uma das gigantes mundiais do setor médico, que tem escritórios, fábricas ou representações em 150 países. A empresa diz que seus respiradores são fabricados na Irlanda e que não teve participação na decisão de suspender a venda ao Brasil. +++ A reportagem parece incompleta porque não explica o motivo pelo qual o governo federal não apoia a compra do governo estadual da Bahia.
*”Manter boa relação bilateral requer cuidado do Brasil, diz China”* - A Embaixada da China deixou claro nesta sexta-feira (10) que preza a boa relação com o governo brasileiro, mas que ela ficará ameaçada caso não cessem os ataques ao país asiático de figuras importantes ligadas ao presidente Jair Bolsonaro, em razão da Covid-19. “Nossas economias são muito complementares. Temos necessidades cotidianas e estratégicas para fomentar a nossa cooperação. Mas isso requer um cuidado, um carinho muito especial. Temos que colocar tijolos nessa parceria, em vez de tirar os alicerces desse edifício”, afirmou em entrevista coletiva o ministro-conselheiro Qu Yuhui, porta-voz da embaixada. A China não escondeu a irritação com o governo brasileiro em razão de dois ataques sofridos nos últimos dias. Primeiro pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, que atribuiu ao país asiático a culpa pela crise mundial do coronavírus. Depois pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, que ironizou o modo como a fala dos chineses costuma ser retratada, comparando-a à do personagem Cebolinha, da Turma da Mônica. Nenhum dos dois pediu desculpas, o que gerou forte reação chinesa. O ministro repetiu que a China considerou as declarações irresponsáveis. Sobre Weintraub, disse que o conhecimento dele sobre o país “é muito aquém do que desejamos”. Em diversas ocasiões, contudo, o diplomata reforçou que esses episódios até o momento não comprometeram de maneira significativa a relação bilateral. “Há um sentimento anti-China, racista, xenófobo, e esse tipo de declaração coloca óleo ou gasolina nessa fogueira pequenina. Isso não é favorável à manutenção de um bom ambiente de cooperação. Por outro lado, as relações entre China e Brasil são muito maduras”, afirmou. Em um recado ao presidente, o ministro-conselheiro colocou-se contra as duas principais medidas defendidas por ele para lidar com a crise do coronavírus. Sobre o uso da hidroxicloroquina, afirmou que a China ainda é muito cautelosa. “Ainda não temos medicamentos 100% comprovados para curar o coronavírus. No caso da cloroquina, estão sendo feitos testes clínicos, mas ainda não está sendo aplicada no tratamento”. Também se manifestou contrariamente à flexibilização do isolamento social. “Não é hora de relaxar. Não estou olhando com bons olhos as medidas de afrouxamento tomadas por alguns estados. No Brasil, a curva ainda está em expansão. E na China continuamos a fazer enormes esforços para continuar a combater a Covid-19”, declarou. Recentemente, o governo chinês encerrou o isolamento da cidade de Wuhan, epicentro da pandemia, uma vez que a situação lá já está perto de ser controlada. Qu afirmou que a China não pode se responsabilizar pela carga de 600 respiradores retida em Miami na semana passada, que seria destinada ao Nordeste. Ele alfinetou os EUA, ao dizer que a desistência do negócio é de responsabilidade de uma empresa intermediária americana. “Depois parece que [a carga] foi revendida para outra cidade nos EUA. Não foi o fornecedor da China que desviou, para não falar do governo chinês”, afirmou. Ele foi genérico ao ser perguntado se o governo de seu país pode ajudar o governo brasileiro ou os estaduais a comprar e transportar materiais para o combate à doença. O governo da Bahia, por exemplo, adquiriu uma nova carga, de 300 respiradores, para substituir a que ficou retida nos EUA, mas tem dificuldade para conseguir buscá-la. “A vontade existe para ajudar. Mas é uma questão técnica e operacional. Nesse momento, a logística internacional tem sido um dos gargalos”, declarou.
*”Imigrantes se reinventam vendendo máscaras, marmitas e aulas online para driblar crise”* *”Espanha permite reabertura de fábricas e retomada de construção”* *”Peru cancela saída em dias diferentes de homens e mulheres”* *”Itália critica pacote de emergência europeu e prorroga quarentena até 3 de maio”* *”Epicentro do coronavírus na Coreia do Sul registra 1º dia sem casos novos”*
*”Programa que salva emprego formal empobrece trabalhador, diz estudo”* - O programa emergencial que prevê corte de jornada e de salário na iniciativa privada, em troca de garantia de emprego, lançado pelo governo, vai levar muitos trabalhadores formais à pobreza, aponta levantamento realizado pelo economista Gabriel Ulyssea, professor associado da Universidade de Oxford. Ulyssea analisou as recomposições salariais previstas no programa e concluiu que o efeito perda de renda é especialmente severo para quem ganha de três a quatro salários mínimos. Segundo ele, o programa tem o espírito correto, mas está mal desenhado —faz a recomposição parcial do salário a partir de frações do seguro-desemprego. Mas o valor do benefício oferecido pelo governo, diz ele, deveria considerar a manutenção do salário integral do trabalhador. A regra de pagamento do seguro-desemprego prevê três faixas de cálculo, além do valor mínimo, que será sempre o piso dos salários, de R$ 1.045 neste ano. O valor máximo equivale a menos de 1,8 salário mínimo: R$ 1.813,03. A vinculação do benefício ao seguro-desemprego achata o valor final a que o trabalhador tem direito, diz o economista. Quanto mais ele ganha, menor será a renda durante o período pelo qual a empresa adotar as regras do programa. Para quem decidir por jornada e salário menores, a duração pode ser de até três meses. Essa redução salarial também será maior nos casos em que a empresa optar pela suspensão dos contratos. Com exceção das firmas maiores, com faturamento anual acima de R$ 4,8 milhões, as demais poderão manter o vínculo suspenso por até dois meses. Nesse intervalo, só pagarão aos funcionários benefícios previstos em contrato, como plano de saúde. A remuneração será igual ao valor do seguro-desemprego. Para Ulyssea, o teto do seguro acaba sendo um valor arbitrário. “Para o trabalhador que recebe até um salário mínimo e meio, não vai fazer diferença. O que a gente chama de taxa de reposição —ou seja, o quanto o seguro-desemprego repõe da renda anterior do trabalhador— é alta, em torno de 80%”, diz. O problema, segundo o pesquisador, é que existe um contingente grande de trabalhadores que recebem mais, entre três e quatro salários mínimos —e ainda não é de alta renda—, mas que ficarão com uma reposição baixa ante a remuneração que recebia antes. Um trabalhador com um salário médio de R$ 4.180 receberá R$ 1.813,03 por dois meses se a empresa que o emprega decidir suspender o contrato. A redução é de 56%, e taxa de reposição, de 43%. Para o pesquisador, é desejável que essa proporção seja mais equilibrada, chegando a 70% ou 80% da renda. “Não é um rendimento baixo, mas, se você considerar uma família com duas crianças, a renda per capita já não vai ser tão alta. Se a renda desse chefe de domicílio cair a 40%, essa família vai passar por dificuldades”, diz. Ulyssea considera haver grande risco, mesmo entre os trabalhadores formais, de um contingente elevado fazer a transição para a pobreza. Ele afirma, no entanto, que a chave da política emergencial —e também onde o governo acerta— é dar a possibilidade de as empresas pararem durante o momento mais agudo da crise, sem que haja a dissolução do vínculo de emprego. A falha é a vinculação ao seguro-desemprego e, para o economista, o momento exige um esforço fiscal extraordinário, ainda que leve a maior endividamento do governo. No caso da redução de salário e jornada, a medida provisória enviada pelo governo manteve o valor do rendimento por hora. Assim, se o empregador reduzir em 25% o salário, o governo pagará 25% do equivalente ao seguro-desemprego. O encolhimento da renda será menor, mas pode chegar à metade, quanto maior o salário. Alguém que receba R$ 10 mil ficará com um benefício emergencial de R$ 4.269 se o acordo fechado com a empresa for de um corte de 75%. A concessão do auxílio-emergencial de R$ 600, cuja liberação começou na quinta-feira (9), vai na direção correta de proteger os que estão mais vulneráveis na crise. Ele considera, entretanto, que falta uma melhor coordenação entre as políticas de proteção. O economista Marcelo Neri, diretor do FGV Social, considera que o programa protege mais os trabalhadores da base da pirâmide e indica que o governo não quer gastar muito para assegurar renda. Os 50% mais pobres entre os trabalhadores formais em 2019 não recebiam mais do que o salário mínimo. Segundo o IBGE, no trimestre encerrado em fevereiro, o rendimento médio do trabalho com carteira foi de R$ 1.290. “É um tipo de medida importante para proteger empregos. Essa vai ser uma recessão muito atípica, repentina e aguda, criada por uma parada súbita de quase todas as atividades”, diz. As pessoas de renda maior, diz Neri, têm, em média, 14,5 anos de educação formal, além de qualificação e acesso à tecnologia. Essas condições garantem a esses trabalhadores menos chances de perder o emprego, especialmente nesse início da crise. “Essa população tem escolaridade razoável, pode trabalhar em casa. Em períodos de recessão, você demite antes pessoas menos qualificadas e que podem ser rapidamente repostas após a crise.” Para Neri, o esforço do governo vai no sentido de proteger quem tem menos condições e está mais vulnerável e sujeito à demissão. Ele considera importante que as empresas tenham condições de manter o vínculo. “As pessoas com renda mais alta têm mais chances de enfrentar um período assim, muitas têm poupança, mas não é uma regra que se encaixe a todos”, afirma. Entre as exceções, o pesquisador da FGV Social cita os empregados do setor hoteleiro e das companhias aéreas, que têm alta qualificação, mas estão sob risco diante da paralisia das atividades. Para Ulyssea, o Brasil passará por uma recessão severa, com impactos duradouros no mercado de trabalho, incluindo agravamento da informalidade. Assim, diz ele, a manutenção do vínculo de emprego neste momento vai ajudar na da retomada lá na frente. “Do ponto de vista produtivo, essa relação trabalhador-empresa é um capital intangível. O trabalhador conhece como aquela empresa funciona, a empresa já conhece o trabalhador, já tem um hábito de trabalho formado e todas essas coisas afetam produtividade”, diz ele. “Assim, sempre que você precisa trocar um funcionário, há um processo de treinamento para aquela pessoa se familiarizar. Tudo isso fica preservado se você conservar o vínculo. +++ Dentro do Congresso Nacional os partidos de esquerda defendem a ideia de que os valores desembolsados pelo governo são muito baixos, mas a Folha não abre espaço para que esses grupos defendam suas ideias ou para que critiquem o governo federal. No entanto, a mesma perspectiva é apresentada por um pesquisador de Oxford, tem o aval de um pesquisador brasileiros e, mesmo assim, não há espaço para que as esquerdas exponham suas perspectivas que têm convergência com as análises.
*”Empregador de doméstico também pode reduzir jornada e salário e adiar pagamento de impostos”* - Os empregadores domésticos também podem usar as ferramentas definidas pelo governo federal no enfrentamento aos efeitos econômicos da pandemia do coronavírus. Sob o compromisso de não demitir, os empregadores já podem solicitar a suspensão dos contratos por até dois meses. A redução de salário e jornada poderá durar por até três meses. Ariane Marta, diretora da Brascont Contabilidade, diz é necessário fechar o acordo com o funcionário dois dias antes do início da vigência da medida. É necessário lembrar também que, no caso de salários acima de R$ 3.135, o empregador terá de procurar o sindicato da categoria para que haja o aval aos acordos. Buscar o sindicato em quaisquer situações poderá garantir mais segurança às negociações, afirma, independentemente do modelo adotado pelo empregador. Na segunda-feira (6), o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, decidiu, de maneira liminar –e, portanto, provisória–, que os acordos individuais só terão validade se tiverem o aval dos sindicatos. Com a recomendação de isolamento social em vigor, a tendência é a de que os empregadores optem pela suspensão dos contratos na maioria dos casos. Algumas funções como a de jardineiro, por exemplo, tem mais chance de enquadramento na redução de jornada e de salário.
*”Governo registra mais de 290 mil acordos de redução salarial ou suspensão de trabalho”* - O número de acordos entre patrão e empregado para redução de jornada, com corte proporcional de salário, ou suspensão temporária do contrato na crise do novo coronavírus saltou para 290 mil até esta quinta-feira (9). No começo da semana, eram menos de 10 mil. Os dados são do Ministério da Economia, que faz o registro das tratativas para poder pagar o benefício de complementação de renda do trabalhador que tiver redução salarial na pandemia. Esse forte aumento ocorre apesar de o ministro Ricardo Lewandowski, do STF (Supremo Tribunal Federal), ter decidido, na segunda-feira (6), que os acordos individuais —direto entre empregador e funcionário—precisam ser validados pelos sindicatos. Esse veredito tem efeito imediato e, por isso, grande parte das negociações registradas pelo governo aguardam o posicionamento final do STF, na próxima semana, quando o plenário deve analisar o caso. A flexibilização das regras para acordos trabalhistas é, segundo o ministro Paulo Guedes (Economia), uma medida para evitar demissões em massa durante a crise provocada pela Covid-19. O governo vai tentar reverter a decisão de Lewandowski, pois avalia que os empresários precisam de soluções ágeis no enfrentamento da queda do consumo e produção em 2020. No ano passado, foram registrados 35.082 acordos coletivos (intermediados por sindicatos) e, que na avaliação de especialistas, demoram mais para serem concluídos. Entidades patronais já indicaram que, caso o Supremo não aceite as normas propostas pela equipe econômica, vão optar por demitir empregados, em vez de reduzir os salários ou suspender contratos. O Ministério da Economia esperava mais de 1 milhão de acordos individuais até o meio de abril, mas essa projeção poderá ser revista dependendo do posicionamento do STF. Programa lançado pelo governo prevê um auxílio aos trabalhadores formais (com carteira assinada) que tiverem perda de renda. No caso do corte de jornada, o empregado receberá o salário reduzido (na proporção das horas de trabalho excluídas temporariamente) e também um benefício do governo —uma parcela calculada com base no seguro desemprego (que varia de R$ 1.045 a R$ 1.813) a que o trabalhador teria direito. Para quem tiver o contrato temporariamente suspenso, o governo pagará um auxílio com o valor total do seguro desemprego que seria recebido em caso de demissão. Diante da crise do coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) editou a MP (medida provisória) 936 prevendo que a negociação direta entre empregados e empregadores seria suficiente, na maioria dos casos, para as empresas alterarem os contratos. Para a equipe econômica, a decisão de Lewandowski pode comprometer o resultado esperado com o programa, que poderá atender, com a complementação de renda, a 24,5 milhões de trabalhadores formais afetados pelo corte de renda. Pelas regras editadas por Bolsonaro, o acordo individual seria aplicado a trabalhadores que ganham até três salários mínimo (R$ 3.135) por mês em todas as situações —redução de jornada e suspensão de contrato. Para quem tem salários acima disso e até R$ 12.202, já é exigido o acordo via sindicato quando o corte de jornada superar 25% e em caso de suspensão de contrato. No caso de trabalhadores com renda acima de R$ 12.202, por terem um tratamento diferente na CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), também valeria o acordo individual em qualquer caso. “Se a liminar [decisão de Lewandowski] for mantida, os empregadores tendam a demitir. Rescindir o contrato de trabalho é mais fácil que negociar com sindicato”, disse Luiz Marcelo Góis, sócio da área trabalhista do escritório BMA Advogados. Sindicalistas, porém, apoiam a decisão do ministro do STF. “Os acordos vão sendo feitos e monitorados pelos sindicatos, que tem prazo determinado para isso. Se o sindicato for omisso, vale o acordo individual entre empregado e empregador”, afirmou o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, conhecido como Juruna. Lewandowski determina que os acordos só passam a valer se a entidade que representa os trabalhadores se manifestar após a comunicação feita em dez dias a partir do momento da celebração do acordo individual. O sindicato poderá então levar os termos do acordo individual à negociação coletiva, se discordar dos termos estabelecidos. Se a entidade não se manifestar no prazo de dez dias, significa que ela aceita o acordo individual celebrado entre empregado e empregador. Para empresários, a decisão do ministro cria um entrave às negociações num período de crise. Por isso, defendem a manutenção das regras previstas originalmente na medida provisória. Além disso, há dúvidas de como o patrão comprovaria a ausência de resposta do sindicato após o prazo previsto. Apesar do impasse gerado pela decisão do ministro do STF, técnicos do Ministério da Economia dizem que, com o julgamento do caso em plenário na próxima semana, o cenário de insegurança jurídica deverá se encerrar. Assim, o Supremo já indicaria os rumos do programa que visa evitar demissões na crise.
*”INSS recebe atestado por aplicativo e auxílio pode ser pago sem perícia”* *”Embraer propõe suspender contratos de trabalho e reduzir salário de quem fica em 25%”* PAINEL S.A. - *”Hackers atacam site do governo de segurança digital”* CIFRAS & LETRAS - *”Greenspan celebra triunfo do capitalismo americano e lamenta perda de dinamismo”*
*”Governo vai investigar alta abusiva do preço do leite com pandemia”* ANÁLISE - *”No Brasil, setor leiteiro vive normalidade, mas precisa de incentivos”* TEC - *”Apple e Google vão criar tecnologia de rastreamento de contatos para combater coronavírus”* *”Coronavírus já chegou a duas plataformas de petróleo”*
MARCOS MENDES - *”Novo Plano Mansueto ainda está ruim”* *”Termômetro da economia, consumo de energia caiu quase 15% nas últimas semanas”* *”Guedes diz a senadores que PIB pode recuar até 4% se isolamento passar de julho”*
*”Guedes pede para senadores 'salvarem a República' contra a Câmara”* - O ministro da Economia, Paulo Guedes, fez um apelo a um grupo de senadores com quem esteve reunido na noite da última quinta-feira (9) para que barrem o projeto que será votado pela Câmara em socorro aos estados durante a pandemia do coronavírus. A proposta, encabeçada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), prevê que a União destine R$ 35 bilhões para neutralizar a queda de arrecadação de ICMS (imposto estadual) por três meses, além de R$ 5 bilhões para o ISS (municipal). O governo já se manifestou contrário ao projeto, que depois de aprovado pela Câmara ainda precisa do crivo dos senadores. “Ele (Paulo Guedes) foi muito crítico ao Rodrigo Maia, ao caminho que a Câmara está seguindo. Ele chegou a falar com todas as letras: ‘Se aprovarem isso (projeto) na Câmara, eu vou pedir para vocês salvarem a República. Vou pedir aos meus amigos do Senado para que salvem a República’”, disse o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), um dos parlamentares que participou do encontro virtual. Negociado entre o presidente da Câmara e os governadores, o texto permite ainda que os estados possam contratar empréstimos e financiamentos, limitados a 8% da receita corrente líquida do ano passado, para bancar medidas de enfrentamento ao novo coronavírus e para estabilizar a arrecadação em 2020. A estimativa é que estados possam contratar R$ 50 bilhões. Embora construído pelo próprio presidente da Casa, a proposta não conseguiu ainda consenso entre os partidos.“O governo vende a coisa como ele quer, da forma como ele quer. O pano de fundo dessa polêmica é um debate que não queremos entrar. Por que não querem uma solução para o ICMS? Há um enfrentamento político por trás de uma falsa disputa de um projeto que vai garantir a sustentação aos estados”, afirmou Maia, na quinta. Maia enfrenta resistência dentro da própria Casa que comanda. A votação, que seria na quinta, foi adiada para a próxima semana, ainda sem data definida. Para Maia, se Guedes avaliar que o melhor é reduzir a fatia (de 8% da receita corrente líquida) e vincular o acesso a esses recursos a obras e investimentos, daqui três ou quatro meses, para estimular a recuperação econômica, o texto poderá ser adequado. O presidente da Câmara também sinalizou aceitar essa redução na medida de crédito se o governo compensar a queda de ICMS e ISS por mais tempo (além dos três meses já previstos). Isso reduziria o impacto do pacote nos próximos anos. O presidente da Casa, contudo, criticou o que chama de “enfrentamento político” travado pelo governo. “Temos convicção no que estamos fazendo. Estamos abertos a uma proposta. Quatro, cinco meses de ICMS, estamos abertos ao debate. O que não estamos abertos é um debate cinzento. Não podemos misturar temas, estratégias, temos de ter paciência. Queremos encontrar uma solução para que todos possam continuar trabalhando”, disse. Diante deste cenário, a reunião entre Guedes e os senadores, inicialmente convocada pelo ministro para tratar da PEC do Orçamento de Guerra, que terá sua votação no Senado na segunda-feira (13), tomou outros contornos com a proposta que a Câmara deverá votar. Além de Guedes, os senadores também não escondem a insatisfação diante de a Câmara encaminhar propostas sem tempo para que o Senado faça a apreciação mais detalhada. Os senadores ainda reclamam de que matérias apreciadas por eles não recebem a mesma agilidade na Câmara. Só na semana passada, Maia e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) conversaram duas vezes sobre as reclamações dos senadores. “Na prática, a Câmara está muito mal-acostumada. Não dá para votar as coisas no mesmo dia, sempre com pressa. Precisamos de tempo para analisar as medidas”, afirmou o senador Izalci Lucas (PSDB-DF).
*”Mais de mil pessoas já morreram pelo novo coronavírus no Brasil”* ANÁLISE - *”Coronavírus é mais letal entre negros no Brasil, apontam dados da Saúde”* *”Mais de 100 mil pessoas já morreram pelo novo coronavírus no mundo”*
*”Especialistas apoiam isolamento maior em SP, mas não uniforme”* - A cidade de São Paulo já dá sinais de necessidade de medidas mais drásticas de isolamento social, chamadas de lockdown (bloqueio generalizado da movimentação), para conter a pandemia do novo coronavírus, na avaliação de epidemiologistas, virologistas e infectologistas. No entanto, eles afirmam que faltam dados mais concretos sobre a real dimensão da pandemia e questionam se o endurecimento deve ser estendido igualmente e ao mesmo tempo a todo o estado, já que há cidades com poucos ou nenhum caso da doença. De modo geral, os especialistas apoiam o endurecimento de medidas para dissipar aglomerações, como o uso de força policial, cogitado pelo governador João Doria (PSDB). “O lockdown acontece quando a capacidade de resposta hospitalar acaba. Infelizmente, é provável que, em São Paulo, estejamos nos dirigindo para isso”, diz o médico Ivan França Júnior, médico e professor da Faculdade de Saúde Pública da USP. Saber a hora de instalar um bloqueio mais rígido ou de relaxar as medidas depende de dados sobre a dinâmica da doença na região. “Mas provavelmente já existem muito mais casos e mortes que o governo não está conseguindo pegar. Não dá para acreditar nos dados. Estamos navegando no escuro”, afirma França Júnior. Para o epidemiologista da USP Paulo Lotufo, as curvas conhecidas de infecção e de mortos estão subindo e, ao mesmo tempo, o número de pessoas circulando na cidade, aumentando. Isso, por si, já tornaria defensável o endurecimento do isolamento. “A gente deveria ter bloqueado a Grande São Paulo há muito mais tempo. São Paulo é um foco. Essa história de o aeroporto estar funcionando é absurda”, afirma. Para o virologista Maurício Lacerda Nogueira, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (SP), podem ser necessárias medidas mais rigorosas para se alcançar a taxa de isolamento de 70%. “Se a gente não baixar a curva de casos, as consequências podem ser terríveis. Veja Nova York abrindo sepulturas em massa. O que leva as pessoas a acharem que não teremos nada parecido?” Na opinião de Raquel Stucchi, infectologista da Unicamp e consultora da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), em regiões que demonstram aumento descontrolado no número de casos e sobrecarga no sistema de saúde, medidas mais duras de bloqueio já deveriam estar em andamento. “Os dados mostram que o ideal é que pelo menos 70% das pessoas fiquem sem circular para termos um menor número de casos graves e permitir que o sistema de saúde se organize pra receber os pacientes”, afirma. “Nesta semana, as pessoas voltaram a circular mais. Fala-se no número de mortes e parece que as coisas estão sob controle, mas em São Paulo já é difícil conseguir UTI.” O nível necessário de isolamento social é calculado com modelos matemáticos nos quais as populações são divididas em grupos como infeccioso, saudável e assintomático, faixa etária, entre outras variáveis. Com dados, por vezes de outros países, é feita uma previsão dos infectados, dos internados, dos que precisarão de UTI etc. Ainda é observada a estrutura médica disponível para ver se as políticas de distanciamento em curso são suficientes, segundo explica Silvio Ferreira, especialista em modelagem de sistemas complexos de propagação de epidemias da Universidade Federal de Viçosa (MG). Há, contudo, modelos ainda mais complexos, e especialistas de outros países que enfrentam situações críticas pregam que o isolamento social deve ser máximo, diz Ferreira. “Portanto, esses 70% de isolamento podem ainda ser insuficientes dependendo do local e da situação.” Para os especialistas, implantar as mesmas medidas de restrição social para todas as cidades é controverso. “Deve ser feita uma análise muito crítica dos dados”, afirma Stucchi. O virologista Maurício Lacerda Nogueira, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (SP), concorda: “O governo de São Paulo tomou a medida correta, mas ela deveria ter sido escalonada no estado”. Ele cita o exemplo prático da sua cidade, Rio Preto. “Estamos duas ou três semanas epidemiologicamente atrás de São Paulo. O isolamento aqui no interior está funcionando bem, mas as pessoas têm a sensação que está exagerado, porque estamos com poucos casos. Talvez a gente tenha exagerado e começado antes do necessário. Mas ainda acredito que é melhor pecar por excesso.” A médica Fatima Marinho, pesquisadora do Centro de Estudos Avançados da USP, vê desarticulação. Para ela, um olhar mais regional para a pandemia, levando em conta a velocidade do espalhamento do vírus, poderia gerar mais proteção a municípios que ainda não tem casos. “Poderia-se utilizar mais inteligência. Mas para isso tem que ter testes. Se eu não tenho testes, como vou rastrear?” Na opinião dela, seria importante rever a decisão de se fazer testes apenas em casos graves da doença. A epidemiologista Rita Barata, da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa, diz que, como em qualquer doença, a Covid-19 tem diferenças importantes em relação à composição de população. “Ela vai ser muito mais importante nas cidades maiores, onde há maior oportunidade de transmissão e de contato entre as pessoas. O interessante seria que cada região traçasse sua situação epidemiológica para se tomar medidas com mais dados.” +++ O que não está dito pelos pesquisadores é que não existem testes para fazer um controle eficaz da disseminação do vírus. Isso deveria ser dito para toda a população a fim de que se compreendesse porque o isolamento se faz necessário.
ENTREVISTA - *”Com menos de 50% de isolamento, não haverá leitos suficientes em SP, diz infectologista”* *”Ameaça de prisão por Doria é constitucional, mas detenção é improvável, dizem especialistas”* *”Mesmo com dados, país pode estar pobre de informações sobre coronavírus, diz diretor da OMS”* *”Expansão de testes prometida por Doria trava em credenciamento de laboratórios”*
*”Em meio a pandemia, Covas aumenta em 41% previsão de gasto com cemitérios”* *”Com quarentena, crimes patrimoniais em SP caem até 65%, mas homicídios sobem 10%”*
*”Hospital referência de coronavírus do AM colapsou, diz funcionário de plantão”* - A UTI e a sala de emergência lotados, duas mortes e a família de uma idosa orientada a levá-la para morrer em casa. O relato, feito ao longo da madrugada desta sexta-feira (10), é de um dos trabalhadores de plantão no hospital Delphina Aziz, a unidade de referência para o novo coronavírus no Amazonas. Segundo ele, é a primeira vez que o hospital na zona norte de Manaus, reservado apenas para casos de Covid-19, entra em colapso. Com a taxa de incidência de coronavírus mais alta do país (19,1 por 100 mil habitantes), o Amazonas é uma das cinco unidades da federação com indícios de transição para a fase de aceleração descontrolada de casos. A descrição indica que o Delphina Aziz foi o primeiro hospital público de referência do país a colapsar em razão da epidemia. Há pacientes infectados por coronavírus em outras unidades hospitalares de Manaus, que também atendem a outras doenças. A capital do Amazonas é a única cidade com UTI do maior estado do país, com um território um pouco maior do que a soma das regiões Sul e Sudeste. De acordo com o funcionário, que falou com a reportagem sob a condição do anonimato, os 50 leitos da UTI lotaram na madrugada, enquanto o governo do Amazonas se apressa para instalar mais 19 leitos até o final desta sexta-feira. A unidade perdeu a capacidade de atender pacientes que chegam em estado grave, relata ele. A família de uma octagenária foi orientada a levá-la para casa para se despedir. Só houve a abertura de vagas na UTI após dois óbitos. As outras alas do Delphina, como a sala rosa (que abriga casos leves e moderados) e as enfermarias, estão perto de atingir sua capacidade total. Os mortos já estão sendo levados a dois contêineres refrigerados, instalados ali na semana passada. Por volta das 9h locais, a Folha entrou em contato com a diretora-presidente da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS), Rosemary Costa Pinto. Ela informou, via WhatsApp, que só responde sobre questões de vigilância. Questionada então sobre os dois óbitos, ela afirmou que só poderá confirmar a informação na próxima entrevista coletiva, marcada para o sábado (11). Rosa Pinto não forneceu o contato de ninguém do governo estadual responsável por responder sobre a situação do Delphina Aziz. Na segunda-feira (6), o então secretário da Saúde do Amazonas, Rodrigo Tobias, disse que 95% dos leitos públicos de UTI estavam ocupados. Dois dias depois, ele foi demitido e substituído pela biomédica paulista Simone Papaiz. A mudança foi criticada pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, por ter sido feito no meio da crise. Desde a declaração, o número de casos confirmados de Covid-19 no Amazonas saltou de 532, nesta segunda, para 899, na quinta-feira (9). Os óbitos subiram de 19 para 40. Em uma tentativa de suprir a falta de leitos, o governo do Amazonas alugou o hospital da Universidade Nilton Lins, que está sendo adaptado para atender exclusivamente casos de coronavírus. O hospital tem 400 leitos clínicos. Já a Prefeitura de Manaus anunciou nesta semana a construçao de um hospital de campanha, com capacidade inicial de cem leitos. O governo do Amazonas prevê que o pico de contaminação no estado ocorrerá entre o final deste mês e o início de maio. Em entrevista coletiva nesta quinta-feira, Rosa Pinto exortou os moradores a não saírem de casas. Ela atribuiu o alto número de mortos ao fato de os pacientes buscarem os hospitais quando o quadro clínico já está irreversível. Em declarações reproduzidas pelo portal G1, o governador Wilson Lima (PSC) disse nesta quinta que dois hospitais da rede privada de Manaus estão com as UTIs lotadas. Ele afirmou que 55% dos respiradores do estado estão em uso, mas, com o ritmo atual de avanço da doença, há o risco de todo o sistema de saúde do estado colapsar.
*”Veja perguntas e respostas sobre coronavírus e mande suas dúvidas”*
*”Crivella estuda 'hospedagem compulsória' contra coronavírus para idosos de favela e Copacabana”* - O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos), afirmou nesta sexta-feira (10) que estuda a "hospedagem compulsória" de idosos que moram em favelas e em Copacabana (zona sul) para que sejam isolados a fim de evitar contaminação pelo novo coronavírus. A medida, que dependeria de uma decisão judicial, visa resolver a baixa adesão ao programa de prefeitura de oferecer quartos de hotéis para idosos se isolarem. Até esta sexta (10), apenas 40 haviam aceitado o convite dos assistentes sociais —estão disponíveis mil vagas. "Vamos levantar os casos dos idosos que as clínicas de família considerem mais importantes para serem preservados nos hotéis. O próximo passo será conversar com eles. Não queremos de forma alguma constrangê-los, mas, sim, protegê-los. Não havendo aceitação, teremos que apelar, realmente, para uma ordem judicial", disse Crivella. A prefeitura, em nota, usou como base para a pretensão a lei federal que dispõe sobre as medidas para enfrentamento do novo coronavírus, editada em fevereiro. Em seu artigo 3º, ela autoriza a realização compulsória de medidas profiláticas. O foco do prefeito são pessoas acima de 60 anos que moram em favelas e acima de 80 que vivem em Copacabana, bairro da zona sul com maior concentração de idosos. Os convites começaram a ser feitos há mais de uma semana e já chegaram a ao menos 800 pessoas com mais de 60 anos nessas localidades. Porém, mesmo estando no grupo de risco, a maioria não quis se separar dos parentes ou dos objetos que acumulou ao longo da vida. A expectativa é que a procura pelos quartos aumente com o avanço da doença. "Alguns não querem ficar longe de suas famílias. Quando eles chegam a um hotel, é um lugar mais frio", diz o vice-presidente do SindHotéis Rio (Sindicato de Hotéis e Meios de Hospedagens do Município), José Manuel Caamaño. A aposentada Janete Correa, 67, por exemplo, preferiu continuar no quarto e sala na Rocinha onde mora com o marido, que é cardiopata. Os filhos ficam nos pavimentos acima. "Eles passam aqui e mandam beijo, mas não entram. Acho que tem gente que precisa mais", afirma ela. Apesar da condição de saúde do companheiro, Janete também quis permanecer em casa porque considera que tem tomado todas as precauções necessárias para evitar o vírus. "Lavo tudo com água sanitária. Faço até mais do que o que eles pedem", conta. Outro motivo para a recusa dos idosos, segundo a própria secretária municipal de Assistência Social, Jucélia Freitas, conhecida como Tia Ju, tem sido a proximidade com a data do recebimento da aposentadoria. “Uma das nossas colaboradoras disse que eles estão preocupados em ir para os hotéis agora, no início do mês, que é o período em que recebem o benefício”, diz. “Eles gostam de deixar suas coisas organizadas. A maioria é autônoma, vai ao banco, ao mercado, resolvem tudo sozinhos.” Ela afirma que a abordagem precisa ser presencial, porque por telefone há uma desconfiança. Quem tem feito as visitas são os agentes comunitários de saúde, que já acompanhavam os pacientes cadastrados nas clínicas da família locais. Para convencê-los, usam argumentos como a falta de condições que eles têm de se isolar dos outros parentes em casa e a letalidade do vírus entre os idosos e pessoas com doenças prévias como hipertensão e diabetes. Nos últimos dias, a prefeitura também passou a incluir a oferta da hospedagem nos avisos que saem das sirenes da Defesa Civil municipal nessas favelas. O recado é dado todos os dias na Rocinha e no Vidigal, às 9h e às 13h, e em breve seguirá para outras comunidades. No domingo (5), Crivella fez um apelo aos idosos para que aceitem o convite dos agentes comunitários. "Não sei se está havendo falha de comunicação da prefeitura. Temos hotéis excelentes, alguns até com vista para o mar, e temos poucos idosos que ocuparam as vagas nos hotéis. Quartos com televisão a cabo, internet banda larga, pode ficar dia e noite em contato com a família", disse o prefeito. Por enquanto são três hotéis escolhidos, dois na Barra da Tijuca e um no Centro, mas os nomes dos estabelecimentos não têm sido divulgados para evitar que as pessoas procurem diretamente esses locais. O único ocupado até agora fica no bairro da zona oeste. As diárias não podem ultrapassar R$ 120 e são custeadas pelo município à medida que os quartos vão sendo preenchidos. Crivella vai editar um decreto regulamentando o abatimento desse valor das dívidas de ISS e IPTU dos hotéis que fizerem parte do programa. Os idosos ficam isolados no quarto e recebem na porta as três refeições do dia e os lençóis, que eles mesmos têm que trocar. Uma equipe com psicólogos e assistentes sociais fica no local 24 horas por dia, acompanhando-os por telefone, segundo a secretária. Muitos dos que aceitaram o convite já viviam sozinhos, como Francisco Barbosa, 78, morador do Vidigal há 70 anos. “Estou aqui porque minhas filhas falaram comigo se eu queria vir. Eu disse: eu vou, eu tô sozinho aqui mesmo, eu vou para lá que vou conhecer mais gente e ficar cuidado”, diz ele em vídeo filmado pela prefeitura na piscina do hotel. Outra que decidiu ir foi Damiana Fernandes dos Santos, 63. “Em casa eu estava me sentindo muito só, pressionada com a situação, vendo aquelas coisas na Itália que também me entristeceram muito”, conta na gravação da prefeitura. Ela chegou a ficar dividida: “Deixar minha casa, minha filha, meu gatinho?”, perguntou-se antes de se decidir, mas a apreensão pesou mais. “A pessoa que mora em favela já tem essa carga negativa da violência. Ainda vem um vírus desse, ninguém suporta”, desabafa.
*”Apesar da ofensiva de Bolsonaro, Judiciário se mantém contra hidroxicloroquina”*
MÔNICA BERGAMO - *”Bolsonaro quer ampliar serviços fora de quarentena e deixa parte do governo em tensão máxima”*: A possibilidade de Jair Bolsonaro ampliar a lista de atividades essenciais que poderiam funcionar apesar das medidas de restrição baixadas por governadores estaduais deixava parte do governo em tensão máxima na sexta (10). De acordo com um integrante da equipe de Bolsonaro que foi consultado sobre a iniciativa, a lista estudada era tão vasta que “daqui a pouco até zona de prostituição vão considerar essencial”. Só a discussão da medida, segundo especialistas do próprio governo, induzirá as pessoas a irem às ruas num momento em que a taxa de isolamento já vem caindo. “Segunda-feira vai ser o estouro da boiada”, diz um deles. Se ocorrer, o fenômeno pode fazer a curva da Covid-19 entrar em espiral. De acordo com um médico que participa de um dos conselhos de combate ao coronavírus, a doença, ainda assim, se imporá. Ela já fechou a Itália, a Espanha, a França, Nova York e diversos estados americanos. E acabará fazendo o mesmo com o Brasil. “Não vai ter caixinha de cloroquina que funcione”, afirma o especialista, referindo-se ao remédio pregado por Bolsonaro para ser usado em pacientes de Covid-19.
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