O general Walter Braga Netto se apresentou ontem para a coletiva diária do Palácio do Planalto com o intuito de inaugurar uma nova fase na gestão política da crise provocada pelo novo coronavírus. A ação, como em estratégia militar, inclui quatro frentes. Uma, na política, é a operação para neutralizar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Consiste em cooptar ao menos parte do Centrão, oferecendo cargos no governo. A segunda é o Plano Pró-Brasil, que visa lançar uma série de obras públicas para dar partida na economia assim que o vírus passar. A terceira é na comunicação. O vereador carioca Carlos Bolsonaro foi afastado, com ele o gabinete do ódio, e a intenção é pôr na rua mensagens mais propositivas. Os técnicos do ministério da Saúde, que vinham trazendo um retrato diário do momento da pandemia, estão fora da coletiva. O general Luiz Eduardo Ramos, ministro da secretaria de Governo, apelou à imprensa que não dê tanto destaque a covas, caixões e mortes. Por fim, há um não tão discreto empurrão para que a população deixe suas casas. O novo ministro da Saúde, Nelson Teich, afirmou que apresentará um plano de retorno na semana que vem. E o governo decidiu segurar a segunda parcela do auxílio emergencial de R$ 600, que pretendia adiantar. Dificulta, assim, às famílias mais pobres que mantenham o afastamento social.
O deputado Baleia Rossi, presidente nacional do MDB, deixou ontem o Palácio do Planalto com um discurso simpático ao presidente e afirmando que o momento é de união nacional. “Está todo mundo preocupado”, afirmou, ao mesmo passo em que negava a intenção de ocupar cargos no governo. “Este tema não deve nem circular”, afirmou, e completou. “Neste momento.” (Poder 360)
Já Arthur Lira, do Progressistas, gravou vídeo com Bolsonaro que circulava, ontem, pela Câmara. Um dos mais importantes líderes do Centrão, com inúmeros processos, já está atuando pelo governo na Câmara. (CNN Brasil)
Aliados de Rodrigo Maia avaliam que ele pode ter passado do ponto. A questão não é apenas o conflito com o Executivo — a pressão real por parte de empresários e do mercado financeiro pelo retorno da economia. “Quando o Rodrigo brigava só com o Planalto, todo mundo achava que era do jogo”, afirmou um deles. “Quando começou a brigar com a equipe econômica, aí o negócio mudou de patamar.” (Crusoé)
Sem participação da equipe econômica, o Plano Pró-Brasil — apelidado Plano Marshall — será tocado driblando o teto de gastos. Para isto, usará o artifício dos créditos extraordinários, que são permitidos em casos como o de calamidade pública. Não há dinheiro internacional para tocar as obras calculadas em R$ 300 bilhões. A esperança do Planalto é que parte venha de concessões e, outra, de investimento público. O ministério da Economia tenta segurar o projeto. (Estadão)
Segundo Igor Gielow, a avaliação generalizada é de que Paulo Guedes saiu enfraquecido. (Folha)
Os governadores também sentem a pressão e começam, vários deles, a falar em abertura. Em alguns casos — como do paulista João Doria e do gaúcho Eduardo Leite — é com cautela. Em Santa Catarina já há shoppings reabertos. “Mas em todos os casos talvez seja cedo demais”, comenta Míriam Leitão. “O Brasil continua subindo o Everest. O coronavírus não nos deu trégua ainda.” (Globo)
Enquanto o ministro Luiz Eduardo Ramos pede que a imprensa mostre menos corpos, um estudo da FioCruz aponta que está aumentando muito o número de internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave. Até 4 de abril deste ano, o Brasil teve 33,5 mil internações por SRAG. A média desde 2010 é de 3,9 mil casos. Mesmo em 2016, quando houve um surto de H1N1, foram registrados 10,4 mil casos no mesmo período do ano. (G1)
O pior ainda está ali na frente. Esconder caixões não vai mudar a realidade. |
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