terça-feira, 7 de abril de 2020

Com raiva de Mandetta, Bolsonaro para país por um dia


O presidente Jair Bolsonaro manteve ontem o país em suspenso ao ponto de a tensão imobilizar por um dia, durante a maior pandemia em um século, o funcionamento do ministério da Saúde. Já no final da manhã, as principais colunas de notas políticas começaram a anunciar a iminente demissão do ministro Luiz Henrique Mandetta. O presidente é contra a política de recolhimento em casa defendida por seu ministro, pela Organização Mundial da Saúde e quase todos os governos do mundo. Bolsonaro também gostaria de ver o ministério promover com mais ênfase terapias com base no remédio hidroxicloroquina. Mas, novamente, os técnicos vêm mantendo a linha de seguir as recomendações da OMS e dos institutos de pesquisa nacionais. Irritado, o presidente se movimentou para colocar na pasta o deputado Osmar Terra, com quem tem o discurso alinhado. A tentativa de expurgo de Mandetta mobilizou Brasília. Os presidentes da Câmara e do Senado fizeram o presidente saber que ele tornaria difícil a relação com o Congresso caso a demissão ocorresse. O Conselho Federal de Medicina se pôs contra. E os ministro militares do Planalto, em conjunto, levam ao presidente a notícia de que se opunham à decisão. Foi apenas perto das 20h que a repórter Andréia Sadi ouviu, do vice-presidente Hamilton Mourão, a notícia de que a crise findara. “Mandetta segue no combate”, afirmou. “Ele fica.” (G1)

Àquela altura, Bolsonaro já estava chegando ao Alvorada. Com a fisionomia tensa, saltou como de costume perante seus eleitores que se concentram à porta. Ameaçou falar, mas desistiu. Voltou ao carro e entrou em casa.

Gilmar Mendes: “Tenho muita dúvida se algum tribunal vai validar eventual decisão do governo federal que contrarie as orientações da OMS. Acho que nenhum juiz do Supremo Tribunal Federal vai validar esse tipo de entendimento.” (Globo)

Mandetta chegou a ser pressionado, ainda no Planalto, a endossar um decreto para liberar por completo o uso de cloroquina. “Me levaram para uma sala com dois médicos que queriam fazer protocolo de hidroxicloroquina por decreto”, contou em entrevista coletiva. “Eu disse que eles devem, nas sociedades brasileiras de imunologia e anestesia, fazerem o debate entre seus pares. Chegando a um consenso, aqui do Ministério da Saúde a gente entra.” (Estadão)

Aliás... Em sua coletiva, Mandetta comentou que lera, durante o fim de semana, O Mito da Caverna, que faz parte de A República, de Platão. É uma metáfora de defesa da compreensão da realidade a partir da busca de conhecimento. (Época)

A manutenção do ministro no cargo não é certa. Carlos Bolsonaro, o filho Zero Dois, voltou esta semana a bater ponto no Palácio do Planalto, diz Bela Megale. Ele costuma ser o mais influente dentre os defensores do núcleo ideológico, anti-Mandetta. (Globo)



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