terça-feira, 28 de abril de 2020

Leal a Bolsonaro, Andre Mendonça substitui Moro


O presidente Jair Bolsonaro passou o dia sob pressão dentro do Palácio do Planalto — pretendia nomear para o ministério da Justiça o secretário-geral da Presidência Jorge Oliveira e, para o comando da Polícia Federal, Alexandre Ramagem. Ambos são amigos pessoais, pessoas íntimas da família, o que aos olhos de alguns assessores mais próximos corria o risco de parecer confirmar as acusações do ex-ministro Sérgio Moro: de que Bolsonaro queria intervir politicamente na PF. O Diário Oficial da União publicou hoje as nomeações e Bolsonaro mudou uma delas. O novo ministro da Justiça é André Luiz Mendonça, advogado-geral da União, que tem currículo melhor do que Oliveira e é igualmente leal a Bolsonaro, um dos candidatos mais fortes a uma vaga no Supremo. Ramagem, particularmente próximo do Zero Dois Carlos, assume a PF, onde correm investigações que se aproximam do presidente. (G1)

Pois é... No Supremo, o decano Celso de Mello decidiu ontem mesmo abrir o inquérito solicitado pela Procuradoria-Geral da República e investigará as acusações feitas por Moro. O presidente é acusado de falsidade ideológica por ter assinado a demissão do ex-diretor da PF com o nome de Moro, sem que Moro a assinasse; De prevaricação, que é praticar indevidamente uma obrigação por interesses pessoais; Obstrução de Justiça. Mas o inquérito também investigará Moro, que é suspeito de corrupção passiva privilegiada — quando uma autoridade deixa de denunciar um ato ilegal de autoridade superior para protege-la. Caso as acusações do ex-ministro se mostrem infundadas, ele também responderá por denunciação caluniosa e crime contra a honra. “O presidente da República”, destacou o decano, “também é súdito das leis, como qualquer outro cidadão deste País e não se exonera da responsabilidade penal emergente dos atos que tenha praticado, pois ninguém, nem mesmo o Chefe do Poder Executivo da União, está acima da autoridade da Constituição e das leis da República.” (Estadão)



A Justiça Federal determinou que o governo tem 48 horas para fornecer ao Estadão os resultados dos exames para o novo coronavírus do presidente Jair Bolsonaro. (Estadão)


O Datafolha foi ao telefone na segunda perguntar à população sobre como percebe o momento político. Jair Bolsonaro é avaliado como bom ou ótimo por 33% dos brasileiros. Em dezembro tinha 30%. As duas pesquisas não são comparáveis, pois a anterior foi feita presencialmente. 38% consideram Bolsonaro ruim ou péssimo e, 26%, regular. Os pesquisadores também indagaram sobre impeachment — 48% defendem que o Congresso deve abrir o processo e, 45%, são contra. Ainda há 50% que consideram que o presidente não deveria renunciar. 46% acham que deve. (Folha)

Outra pesquisa que circulou no fim de semana, de forma reservada, é a do Atlas. Realizada entre sexta e domingo, indica que 30,5% dos brasileiros aprovam o desempenho do presidente. E 64% desaprovam. Curiosamente, Bolsonaro é mais bem avaliado do que sua administração. 20,8% dizem que o governo é ótimo ou bom, 28,3% que é regular e, para 49,2%, é ruim ou péssimo. O Atlas também questionou sobre a demissão do diretor da PF. 14,4% concordam, 68% discordam. E 72,2% concordam com as críticas feitas por Sérgio Moro. 19,1% discordam. (Atlas Inteligência)



Marcos Nobre, cientista político: “O fato de Bolsonaro demitir Moro é tão importante quanto o fato de fazer isso agora. Essa demissão tem várias funções. Temos hoje um número de mortes por causa do coronavírus que é padrão Espanha. E não estamos discutindo o nível de desespero para o qual estamos indo, porque estamos o dia inteiro discutindo a crise política. Portanto, existe um elemento diversionista importante. Outro aspecto importante é que Bolsonaro se deu conta de que a pandemia vai atingir o governo dele. Ele tem até agora cerca de um terço do eleitorado, segundo as pesquisas, e sabe que não vai conseguir manter essa fatia. Então, decide fazer um movimento de recuo para se proteger em seu núcleo de apoio fanático. Segundo o Datafolha, representa cerca de 12% do eleitorado. Seu raciocínio é o de que vai ter crise econômica e vão vir com impeachment para cima dele, então é melhor garantir uma base de apoio mínima. Parte desse eleitorado que ele vai perder está com Moro. O ex-ministro era símbolo de uma expansão da base bolsonarista de 12% para 30% do eleitorado. Mas, a partir do momento que Bolsonaro se recolhe para os 12% iniciais, ele escolhe fazer um governo de guerra. E, num governo de guerra, você não pode ter uma pessoa que é maior que você. Isso explica tirar Mandetta e também explica tirar Moro. Ele vai se livrando de todas essas pessoas.” (El País)

Valter Hugo Mãe, escritor português: “Nunca se deixem convencer de que o Brasil deu errado. Esse é o primeiro passo que o usurpador do poder dá em direção ao domínio, ele precisa que o povo se motive ao abandono. Um povo convencido de que é um erro é um povo predisposto a desistir. Não caiam nessa armadilha.” (Globo)

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