terça-feira, 21 de abril de 2020

Mídia 21/04

DOS JORNAIS DE HOJE: O principal assunto das capas de Estadão e O Globo continua a ser a repercussão da participação de Jair Bolsonaro em um ato contra a democracia. Já a Folha deixa o tema como secundário na capa e destaca o plano de reabertura da economia de São Paulo. Os editoriais continuam a criticar Jair Bolsonaro por ter postura inadequada para o cargo, mas não muito mais do que isso. O noticiário político, evidentemente, se concentra na crise provocada por Bolsonaro. Os jornais mostram que a pressão dos militares fez com que Bolsonaro recuasse do posicionamento que havia assumido no dia anterior. Sem escrúpulos, ele o fez negando a realidade e afirmando que os pedidos por intervenção militar e por um novo AI-5 eram coisa de infiltrados no movimento. Como se não bastasse, ele ainda declarou defender a democracia, a liberdade e “ser” a Constituição. A conduta do presidente e de seus apoiadores (com mandato ou não), deixa transparecer que uma das principais caracterísitcas do bolsonarismo é a distorção da realidade.
O pedido do PGR para que o STF investigue a organização dos atos contra a democracia também teve destaque nos jornais e foi até o destaque da capa do Estadão. Além disso, o noticiário ainda traz demonstrações de apoio e críticas que foram feitas ao presidente da República.
O jornal O Globo informa que a rede bolsonarista voltou a usar a mesma tática baseada na utilização de robôs que havia sido usada nas eleições de 2018. Já a Folha apresenta análise do comportamento da esquerda e da direita no Twitter. O jornal O Globo também publica depoimentos de médicos que estão na linha de frentes em cidades onde o sistema já está em colapso.
 
 
 
CAPA – Manchete principal: *”Governo de SP prepara plano para reabertura da economia”*
EDITORIAL DA FOLHA - *”Golpista que mia”*: Jair Bolsonaro agrediu a Constituição quando discursou no domingo (19) em favor à manifestação que defendia a volta da ditadura. Não foi a primeira vez em que o presidente se reuniu com o “gabinete do ódio” para escancarar na sequência suas aptidões ditatoriais. À diferença do que faz parecer Bolsonaro em sua retórica de apoio ao ato golpista, não é a velha política ou qualquer outra quimera do gênero que o impede de governar. Sua administração é obstruída, desde o início, pela pequenez dos objetivos de um mandatário cujo horizonte mental não vai além de multas de trânsito, porte de armas e bate-bocas em redes sociais. O que ele diz querer neste momento —e serviu de pretexto para a algazarra dos celerados de domingo— constitui tão somente seu desejo patético de subverter a democracia no Brasil. Concordam as autoridades sanitárias, praticamente sem dissenso, que não chegou a hora de relaxar as medidas de isolamento social imprescindíveis para evitar uma sobrecarga do sistema hospitalar.
O golpista da carreata não tem seus arroubos contidos apenas por governadores e prefeitos, Congresso e Supremo Tribunal Federal. É desobedecido também por seus subordinados, como o ministro da Saúde, o novo ou o anterior, e os generais palacianos, que com espírito público fazem o possível para enfrentar a calamidade. Bolsonaro investe contra alvos fáceis, dados os conhecidos e arraigados vícios do sistema político, do Legislativo e do Judiciário brasileiros. A alternativa que sugere, agora com saliência inédita, é personalista, populista e autoritária. Seu discurso encontra eco apenas em uma minoria fanática que pode clamar por AI-5 como mera palavra de ordem, sem noção de seu tétrico significado. Com todas as suas imperfeições, a política e os contrapesos da democracia vão dando as melhores respostas à crise. Por interesse eleitoral ou não, governadores e prefeitos trataram de proteger seus cidadãos; a mesma motivação deve guiá-los no abandono paulatino dos regimes de quarentena. Não sem falhas, excessos e oportunismos, deputados e senadores formularam as providências mais importantes até aqui para mitigar o impacto da inevitável recessão sobre o emprego, a renda e o caixa dos entes federativos. Enquanto isso, Bolsonaro vociferava contra inimigos imaginários. Que as instituições —e a Constituição— façam do rugido golpista um miado sem consequências.
PAINEL - *”Ministro da Saúde se diz novato na política, cobra números e evita falar de isolamento com governadores”*: Em sua primeira reunião de trabalho com governadores, o novo ministro da Saúde, Nelson Teich, cobrou métrica mais detalhada dos estados para decidir sobre como vai distribuir leitos e ventiladores --essa é a principal demanda dos gestores no combate ao coronavírus. Segundo relatos, ele criticou a falta de metodologia única e contestou a real necessidade dos pedidos. O encontro virtual, de mais de 2h, foi com líderes do Nordeste, onde se concentram ferrenhos opositores de Bolsonaro. Teich ressaltou que era a sua primeira conversa com políticos, o que ele não estava acostumado a fazer. Segundo participantes, o ministro demonstrou duas coisas: boa vontade, por ter escutado todas as reclamações, e desconhecimento, por não saber dos problemas enfrentados. Ainda de acordo com relatos, os governadores falaram mais de uma vez sobre a importância de medidas de isolamento, mas Teich não comentou, nem para concordar nem para se opor. Na interpretação de políticos, a principal bandeira do novo ministro vai, em algum momento, virar um problema para Bolsonaro. Pela lógica, quanto mais testes, mais casos e mortes serão confirmados, mais serão necessárias medidas para conter o avanço do vírus.
PAINEL - *”Caiado consultou Mandetta antes de decidir afrouxar isolamento”*: O governador Ronaldo Caiado (DEM) consultou o amigo e ex-ministro Luiz Henrique Mandetta antes de anunciar o afrouxamento do isolamento em Goiás, nesta segunda (20). Segundo relatos, Mandetta e seu número 2, João Gabbardo, passaram o fim de semana na casa do governador e deram uma consultoria informal. Veio do ex-ministro, por exemplo, a sugestão de não fixar uma data limite para a vigência do decreto de Caiado. Segundo o governador, isso acaba com a contagem regressiva do isolamento e permite que ele possa dosar a volta à normalidade.
O DEM deve anunciar nos próximos dias o que Mandetta vai fazer da vida após a demissão. Ele deve retornar a Brasília no fim da semana.
PAINEL - *”Contra coronavírus, Alagoas fecha piscinas naturais, mas deixa livrarias e bancas abertas”*: O governador de Alagoas, Renan Filho (MDB), afirma que o estado segue com o isolamento social, mas com alguma flexibilização. Piscinas naturais, shoppings, cinemas e escolas estão fechados para evitar aglomerações e boa parte do serviço público está no regime de teletrabalho, mas há negócios que receberam autorização para funcionar. "A regra é o isolamento social, mas é possível haver exceções. É tarefa do gestor refletir sobre elas", disse o governador ao Painel. Primeiro, disse ele, foram as óticas, as clínicas de fisioterapia e veterinária e depois lojas de plantas. A regra é não aglomerar. Segundo ele, a ocupação de leitos por pacientes da Covid 19 é de 20%, o que permite a Alagoas manejar o isolamento. O governador monitora, porém, a situação e afirma que os casos aumentaram e se chegar a 50% pode voltar a ampliar o fechamento.
PAINEL - *”Oito partidos de oposição organizam protesto virtual em conjunto contra Bolsonaro”*: Em reunião nesta segunda (20), líderes de oito partidos de oposição no Congresso combinaram de organizar um ato conjunto virtual, para mobilizar as redes e panelaços contra o presidente Bolsonaro, com a participação de artistas.
PAINEL - *”Governo do Maranhão recebe ligações de suposto agente da Abin para tratar de importação de respiradores”*
PAINEL - *”Lixo varrido em SP despenca para o menor índice em pelo menos dez anos durante quarentena”*
PAINEL - *”Amigos planejam missa para Gustavo Bebianno após fim da pandemia do coronavírus”*
*”Bolsonaro modulou discurso após pressão de militares e do Judiciário”* - Sob pressão da cúpula fardada, do Judiciário e do Legislativo, Jair Bolsonaro modulou seu discurso, afirmou que a "democracia" e a "liberdade" estão acima de tudo e disse que ele é a Constituição, um dia depois de ter participado de manifestação diante do quartel-general do Exército que tinha entre suas bandeiras uma intervenção militar. A mudança de tom do presidente da República nesta segunda-feira (20) foi seguida por um comunicado oficial, horas depois, do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, defendendo que as Forças Armadas têm como propósito manter a "paz" e a "estabilidade" e são sempre obedientes à Constituição. A posição faz parte de um esforço iniciado por militares do governo para evitar que o gesto do presidente no domingo (19) crie uma crise institucional. Naquele dia, Bolsonaro discursou a um grupo de apoiadores que pregavam a edição de um novo AI-5, o mais radical ato institucional da ditadura militar (1964-1985).
Antes da divulgação do comunicado, o ministro da Defesa participou de teleconferência com os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica. A presença do presidente no protesto foi avaliada por integrantes do núcleo fardado do Palácio do Planalto como despropositada. "As Forças Armadas trabalham com o propósito de manter a paz e a estabilidade do país, sempre obedientes à Constituição Federal. O momento que se apresenta exige entendimento e esforço de todos os brasileiros", afirmou a nota. O ministro salientou que "nenhum país" estava preparado para a atual pandemia e que a nova realidade requer adaptação das Forças Armadas para combater um inimigo comum a todos: "O coronavírus e suas consequências sociais". No domingo, de acordo com assessores palacianos, o presidente da República foi aconselhado a não comparecer à manifestação, o que ignorou. Após o protesto, ele se reuniu com ministros militares. Segundo relatos feitos à Folha, recebeu a avaliação de que a sua presença poderia ter sido evitada e acabou acirrando ânimos no país, sobretudo no momento em que se exige esforço conjunto no combate à crise sanitária diante do coronavírus. Nesta segunda, Bolsonaro seguiu o conselho da cúpula fardada e modulou seu discurso público. Na entrada do Palácio da Alvorada, ressaltou que, no que depender dele, "democracia" e "liberdade" estão acima de tudo. "O pessoal geralmente conspira para chegar ao poder. Eu já estou no poder. Eu já sou o presidente da República", disse. "Eu sou, realmente, a Constituição", acrescentou.
Em uma breve entrevista, o presidente se mostrou bastante incomodado com as críticas que recebeu por participar da manifestação e disse que, durante o protesto, não atacou nem o Judiciário nem o Legislativo. "Peguem o meu discurso. Não falei nada contra qualquer outro poder. Muito pelo contrário. Queremos voltar ao trabalho, o povo quer isso", disse. "É isso, mais nada. Fora isso é invencionice, tentativa de incendiar a nação que ainda está dentro da normalidade", emendou. Além da defesa de um novo AI-5, o ato que permitiu o fechamento do Congresso Nacional durante a ditadura militar, a manifestação do domingo levantava bandeiras contra o Legislativo e o Judiciário. Ainda na noite da manifestação, o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, falou ao telefone com os ministros e generais Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Fernando Azevedo, que já foi assessor do magistrado. Toffoli se queixou da ambiguidade das declarações de Bolsonaro. Para ele, o presidente ora defende as instituições democráticas ora apoia atos favoráveis à ditadura. Segundo assessores presidenciais, o comunicado emitido por Azevedo teve como objetivo responder a essa dúvida e pacificar a relação entre os Poderes. O presidente do STF, em mais de uma oportunidade, atuou para apaziguar os ânimos entre Bolsonaro e a cúpula da Câmara e do Senado. Nesta segunda-feira, por exemplo, Toffoli fez questão de exaltar as seis entidades que assinaram o "Pacto pela vida e pelo Brasil" e emitiu uma nota circular para todos os ministros para informar que recebeu o documento. "É valoroso lembrar, neste momento, da importância que essas seis instituições da sociedade civil tiveram na redemocratização do país, no processo constituinte que sintetizou os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil", escreveu.
Além da OAB e da CNBB, também participam do movimento a Comissão Arns (Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns), ABC (Academia Brasileira de Ciências), ABI (Associação Brasileira de Imprensa), e SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). Ao longo do dia, ministros militares entraram em contato com líderes partidários para esclarecer que, apesar de Bolsonaro ter comparecido ao protesto, ele não havia defendido o AI-5 ou adotado um discurso contrário ao Congresso. Na porta do Alvorada, após o conselho dos militares, o presidente deu um pito em um apoiador que pediu que ele fechasse o Supremo. "Esquece essa conversa de fechar. Aqui não tem fechar nada, dá licença aí. Aqui é democracia." Apesar do discurso favorável à democracia, Bolsonaro voltou a atacar os veículos de imprensa. Ele disse que só ele falaria e estava dispensado quem não quisesse ouvi-lo. "O Estado de S. Paulo e Folha de S.Paulo, a mesma manchete. Combinados", disse. "Tentando levar a opinião pública para o lado de que eu quero o retrocesso?", questionou. O ministro da Economia, Paulo Guedes, saiu em defesa do presidente. Afirmou que Bolsonaro é "democrata". E que a democracia "faz barulho". Segundo ele, se tiver uma passeata com bandeira do Brasil, o presidente participa dela. O discurso de Bolsonaro no domingo, no qual disse "chega de velha política" e afirmou que "nós não queremos negociar nada", ocorreu num momento em que o governo, nos bastidores, avança com ofertas de cargos a partidos do chamado centrão, em ofensiva para isolar cada vez mais o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e formar uma base que lhe garanta vitórias no Parlamento.
+++ Mais uma vez, Bolsonaro distorce o que disse e distorce o contexto no qual fez a própria fala. A realidade para Bolsonaro é extremamente líquida, quase que gasosa. É um fato que torna-se mais impressionante porque o slogan de Jair Bolsonaro é o de trazer a verdade. Falta que a imprensa lhe pergunte o que é verdade para ele e o que é a democracia para ele. É provável que sejam compreensões bem singulares.
*”Eu sou a Constituição, diz Bolsonaro ao defender democracia e liberdade um dia após ato pró-golpe militar”*
*”Forças Armadas trabalham por estabilidade e obedecem à Constituição, diz Defesa”*
*”Bolsonaro é democrata, e democracia faz barulho, diz Guedes sobre ato pró-golpe”*
*”Aras pede ao Supremo abertura de inquérito para investigar atos pró-intervenção militar”* - O procurador-geral da República, Augusto Aras, solicitou ao STF (Supremo Tribunal Federal) a abertura de inquérito para investigar manifestações realizadas no domingo (19). O objetivo de Aras é apurar possível violação da Lei de Segurança Nacional por "atos contra o regime da democracia brasileira por vários cidadãos, inclusive deputados federais, o que justifica a competência do STF". “O Estado brasileiro admite única ideologia que é a do regime da democracia participativa. Qualquer atentado à democracia afronta a Constituição e a Lei de Segurança Nacional”, afirmou o procurador-geral, sem citar o presidente Jair Bolsonaro, que também participou de ato em Brasília. A PGR afirma que a reedição do AI-5, “ato institucional que endureceu o regime militar no país”, foi uma das pautas dos protestos.
Também ressalta que a Procuradoria pretende apurar “fatos em tese delituosos” e que a “investigação refere-se a atos realizados em todo país”. As informações foram divulgada por meio de nota. ​ No pedido ao STF, a PGR cita que os organizadores das manifestações podem ser enquadrados no artigo 23 da Lei de Segurança Nacional. O trecho da legislação fixa pena de 1 a 4 anos de prisão a quem incitar "a subversão da ordem política ou social” e a “luta com violência entre as classes sociais” ou a quem estimular a animosidade entre as Forças Armadas e a sociedade. Além disso, a PGR acredita que os manifestantes podem responder pelo artigo 22 da lei, que prevê a reclusão de 1 a 4 anos para quem fizer propaganda em público de processos violentos ou ilegais para alterar ordem política social. Na visão de pessoas ligadas a Aras, a investigação também pode revelar a prática descrita no 16 da Lei de Segurança Nacional. Trata-se do trecho da legislação que prevê pena de 1 a 5 anos de prisão a quem integrar “partido, comitê, entidade ou grupamento que tenha por objetivo a mudança do regime vigente ou do Estado de Direito, por meios violentos ou com o emprego de grave ameaça”.
O pedido de Aras foi distribuído ao ministro Alexandre de Moraes, que será o responsável por decidir se o inquérito será ou não aberto, e só depois de uma decisão favorável a PGR poderá começar a apurar o caso. O objetivo de Aras é investigar os organizadores das manifestações. Como há indícios de que deputados podem estar envolvidos e parlamentares têm direito ao foro privilegiado, o caso ficará sob responsabilidade do STF. O processo corre sob sigilo e a PGR não informou quais deputados serão investigados. A maioria dos integrantes do Congresso próximos a Bolsonaro participaram dos atos e ajudaram a convocá-lo. O deputado federal Bibo Nunes (PSL-RS), por exemplo, justificou nas redes sociais que “as pessoas querem a volta do regime militar por verem tanto desrespeito pelo presidente eleito”.
A deputada Carla Zambelli (PSL-SP) também exaltou os atos e disse que as manifestações não foram antidemocráticas. "Oras, o único motivo pelo qual o povo teve motivo de ir às ruas foi o autoritarismo de Rodrigo Maia e o desrespeito à legítima eleição de Jair Bolsonaro. Quem é o ditador afinal?” Interlocutores do procurador-geral afirmam que, inicialmente, o presidente Jair Bolsonaro não será investigado. Eles alertam, porém, que, caso sejam encontrados indícios de que o chefe do Executivo ajudou a organizar as manifestações, ele pode vir a ser alvo do inquérito. A expectativa na PGR é que o STF atue de maneira rápida e não demore a autorizar a abertura do inquérito. Isso porque os ministros do Supremo fizeram duras críticas aos protestos de domingo e pressionaram Aras, nos bastidores, a tomar alguma providência. A Lei de Segurança Nacional a que se refere o procurador-geral foi sancionada em 1983 e tipifica crimes que podem ser cometidos contra a ordem política e social. A legislação prevê crimes que lesam a “integridade territorial e a soberania nacional”; o regime representativo democrático”; e “a pessoa dos chefes dos Poderes da União”. Entre as penas, há a previsão de 3 a 15 anos de prisão para quem tentar mudar, com emprego de violência ou grave ameaça, o “regime vigente ou o Estado de Direito”. A lei também estabelece 1 a 5 anos de reclusão para quem integrar qualquer “agrupamento que tenha por objetivo a mudança do regime vigente por meios violentos ou com emprego de grave ameaça”. ​
+++ Vale notar que a distorção da realidade não está presente apenas na fala de Jair Bolsonaro, mas também no posicionamento dos parlamentares bolsonaristas. Carla Zambelli tem coragem de afirmar que Rodrigo Maia é autoritário. Se observarmos falar de integrantes do movimento bolsonarista, também será possível ver que a distorção da realidade é característica.
*”Um dia após ato pró-golpe, Toffoli afirma que não há solução fora da democracia”* - Um dia depois de o presidente Jair Bolsonaro participar de manifestação pró-intervenção militar, o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Dias Toffoli, afirmou que não há solução para o país fora da democracia. A declaração de Toffoli ocorreu em reunião em que recebeu o texto do "Pacto pela vida e pelo Brasil" de entidades como OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). “As seis entidades têm no DNA o conhecimento do quão nefasto é o autoritarismo, do quão nefastos são os fundamentalismo, do quão nefasto é o ataque às instituições e à democracia. Neste momento é bom sempre relembrar a importância que essas seis instituições tiveram na redemocratização do país”, disse. O presidente do Supremo ressaltou que o conteúdo do texto vai ao encontro dos direitos e garantias assegurados pela Constituição. “O STF tem sido a todo momento chamado exatamente para ser guarda desses objetivos e princípios. Não é possível admitir qualquer outra solução que não seja dentro da institucionalidade, do Estado Democrático de Direito, da democracia e desses objetivos que estão na Constituição”.
O presidente do STF sempre defende a harmonia entre os Poderes e, em mais de uma oportunidade, já atuou para apaziguar os ânimos entre Bolsonaro e a cúpula do Congresso Nacional. Desta vez, porém, Toffoli também ficou irritado com a postura do chefe do Executivo e chegou a conversar com ministros do governo que são originários do Exército para reclamar do discurso do presidente. Toffoli falou ao telefone no domingo (19) à noite com o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, e com o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, que já foi seu assessor no STF. A queixa do chefe do Supremo diz respeito à “ambiguidade” das declarações de Bolsonaro, que ora defende a Constituição e as instituições, ora apoia movimentos que vão no sentido oposto.
*”Por coronavírus, governo edita em um mês mais de metade das MPs de 2019”*
*”Esquerda inflama após ato pró-intervenção com Bolsonaro, e direita fala de golpe contra presidente”* - O presidente Jair Bolsonaro referendou no domingo (19) ato de manifestantes de direita de apoio a intervenção militar, mas foi a esquerda que se inflamou no Twitter com esse gesto. A Folha analisou 885 mil mensagens que continham o nome do presidente na rede social, postadas das 14h de domingo (logo após ele falar aos manifestantes que não estava negociando nada) até as 12h desta segunda-feira (20). O número de usuários de esquerda que se manifestaram (77 mil) foi superior aos de direita (50 mil). Os perfis de centro reagiram menos (27 mil contas). A classificação dos usuários entre centro, direita e esquerda é feita pelo GPS Ideológico, ferramenta da Folha que categorizou 1,7 milhão de perfis no Twitter, com interesse em política. Os usuários são distribuídos numa reta, do ponto mais à direita ao mais à esquerda, de acordo com quem eles seguem na rede social. Na esquerda, os tuítes mais populares ironizavam as manifestações pelo país. O que mais circulou nesse espectro mostra o vídeo de uma pessoa tocando berrante em frente a pessoas com roupas do Brasil. O gesto foi uma alusão ao gado, termo usado pejorativamente contra apoiadores de Bolsonaro. Esse também foi o tuíte mais popular no centro. Na direita, o tuíte mais popular falava sobre uma suposta conspiração contra o governo, usando a epidemia do coronavírus como pretexto. A segunda e terceira mensagens mais populares eram tuítes do próprio presidente, um chamando para um vídeo seu e outro para live da dupla musical Henrique e Juliano. Para essa análise, a reportagem dividiu os usuários em três grupos (33% mais à esquerda, 33% no centro e 33% à direita).
Numa segunda etapa, o mesmo contingente foi dividido em seis grupos, para ser possível identificar perfis mais extremos, dentro de cada grupo. Com esse recorte, foi possível verificar que houve divisão dentro da direita. Os mais extremos nesse espectro se engajaram mais que os mais moderados. Foram 37 mil perfis mais à direita tuitando, ante 13 mil mais ao centro (diferença de 180%). Na esquerda, essa divisão não ocorreu. O número de usuários mais à esquerda (45 mil) foi próximo aos perfis um pouco mais ao centro (33 mil), uma diferença de apenas 35%. Também no conteúdo houve descolamento entre os dois grupos de direita. Para o grupo mais ao centro, o tuíte mais popular foi do ministro Luís Roberto Barroso (STF), que condenava o ato. Em outras ocasiões, mais usuários de direita participaram das discussões do que os de esquerda, como à época de atos de 15 de março, também contra Congresso e Supremo ou quando o STF tomou decisão que soltou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “As denúncias de Roberto Jefferson são sérias e devem ser imediatamente apuradas. Um impeachment tramado entre Maia, o presidente da OAB (Felipe Santa Cruz) e setores da oposição num acordo espúrio para derrubar o Presidente Bolsonaro é um grave crime de lesa pátria.” Na esquerda mais radical, o tuíte mais popular mostrava uma foto de um policial empunhando uma arma, aparentemente protegendo os manifestantes críticos ao Supremo e ao Congresso. Na esquerda mais moderada, o tuíte sobre o berrante e o gado foi o mais popular.
OUTRA ANÁLISE
Monitoramento feito pela consultoria Quaest mostra que a popularidade de Bolsonaro nas redes sociais caiu no fim da semana passada, após ele demitir o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Num índice que vai de 0 a 100, Bolsonaro vinha com 78, mas caiu para 65 até este domingo (19). Mas ele ainda tem número maior que o próprio Mandetta (56), Lula e o apresentador Luciano Huck (que vinha se movimentando para concorrer à Presidência) --estes dois com cerca de 30 pontos. A empresa elaborou um índice a partir de variáveis como número de seguidores, volume de comentários, reações positivas e engajamento nas redes sociais. Buscas na enciclopédia online Wikipedia e no Google também foram consideradas.
*”Veja possíveis crimes cometidos por Bolsonaro em ato pró-golpe; leia discurso comentado”*
*”Zema defende Bolsonaro e diz que há pessoas adotando 'totalitarismo contra o presidente'”* - O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), defendeu a participação do presidente Jair Bolsonaro nos atos registrados no domingo (19), que incluíram pedidos de intervenção militar e críticas ao Congresso, ao STF (Supremo Tribunal Federal) e às políticas de isolamento social para conter a pandemia do coronavírus. Segundo ele, há "pessoas que estão adotando um totalitarismo contra o presidente". Zema foi um dos sete governadores que não assinaram a carta conjunta em defesa da democracia e em apoio aos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, ambos do DEM. Na pauta dos atos também apareceu a defesa do AI-5 —ato institucional assinado em 1968, que recrudesceu a tortura no regime militar (1964-1985). A PGR (Procuradoria-Geral da República) pediu ao Supremo para apurar as manifestações devido ao teor pró-intervenção militar. Em entrevista ao MG1, telejornal local da Rede Globo, Zema disse nesta segunda (20) que preferiu não tomar posição porque já tem muitos incêndios a apagar em Minas Gerais. Sem citar nomes, ele criticou pessoas que estariam se aproveitando do conflito entre os Poderes para ganhar palanque. "Eu vejo que está havendo um movimento exacerbado, desnecessário, com relação a algumas falas, algumas questões do presidente. Outro dia até brinquei, se o presidente arrotar, vai virar motivo de alguém se manifestar. Nós deveríamos focar no nosso trabalho”, afirmou. Sobre aparições públicas de Bolsonaro, que provocaram aglomerações, contrariando recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde) para conter a pandemia, Zema respondeu que é um direito dele e que pode ser que não concorde com a posição do presidente. “Eu não tenho feito isso aqui em Minas Gerais. Agora, é um direito dele se manifestar, nós estamos em uma democracia e temos que lembrar disso. A riqueza da democracia é a diferença de opiniões. E parece que tem pessoas que estão adotando um totalitarismo contra o presidente. Aí eu não concordo também”, disse.
Em março, o governador mineiro contrariou a postura de 25 governadores e também não assinou documento que cobrava Bolsonaro por ações contra o coronavírus. Zema tem mantido uma relação próxima ao governo federal. No dia 9 de abril, ele e uma comitiva foram recebidos em Brasília por Bolsonaro e ministros como Paulo Guedes (economia) e o general Luiz Eduardo Ramos (governo), para negociar a situação financeira de Minas Gerais, uma das piores do país. Na entrevista desta segunda, Zema repetiu a avaliação que publicou nas redes sociais, de que Minas Gerais está enfrentando de forma satisfatória a pandemia do novo coronavírus e disse que a ocupação de leitos de UTI, em decorrência da doença, pode subir até 15 vezes, que o estado ainda terá condições de atender a demanda. Números citados por ele na entrevista apontam que 3% das internações atuais em UTIs são em decorrência do novo coronavírus. Minas tem 41 mortes e 1.189 casos confirmados de infecção até esta segunda. Há ainda 75.441 casos suspeitos, mas segundo Zema, por questões financeiras, não há planos de testagem em massa no estado. O governo tem dito que avalia a situação da curva epidemiológica a cada semana e com base nisso tomará as decisões dos próximos passos, como previsão de retomada de atividades paralisadas.
*”Após defender Collor e delatar mensalão, Roberto Jefferson veste figurino bolsonarista”*
ANÁLISE – *“Auxílio de R$ 600 e discurso à base aliviam avaliação de Bolsonaro, aponta Datafolha”*
JOEL PINHEIRO DA FONSECA - *”O mínimo de decência se tornou uma utopia”*
*”CNJ decide pela retomada dos prazos processuais da Justiça de 1ª e 2ª instância a partir de maio”*
*”Mulheres que ajudaram Tiradentes viraram nota de rodapé na história”*
*”Netanyahu e Gantz chegam a acordo para formar governo de emergência em Israel”*
*”Essenciais para reabertura, testes viram nova etapa de rixa entre Trump e governadores”*
*”Cem mil descumprem ordens de confinamento e participam de funeral em Bangladesh”*
*“Em pleno confinamento, manifestantes e policiais entram em confronto no subúrbio de Paris”*
*”Nova Zelândia planeja aliviar bloqueio a partir de 27 de abril”*
*”Alemanha reabre comércio com restrições de número de clientes por loja”*
*”Na Alemanha, fraudes desviam até 100 milhões de euros de programas contra crise do coronavírus”*
*”Preço do petróleo americano derrete e fica negativo pela 1ª vez na história”* - O contrato futuro de maio do barril de petróleo WTI (West Texas Intermediate), referência nos Estados Unidos, colapsou nesta segunda-feira (20), antes do seu vencimento nesta terça (21), e pela primeira vez na história fechou no terreno negativo. O cenário reforça o desequilíbrio entre a oferta e demanda global e, segundo analistas, sinaliza para uma retomada de preços mais lenta, o que pode reforçar medidas de cortes de custos e suspensão de investimentos no setor. O barril no tipo WTI caiu 289,4% na Bolsa de Chicago, fechando o pregão a menos US$ 37,63 (R$ 199,81) o barril. Isso significa, na prática, que os investidores estão pagando para se livrar da obrigação de receber os barris ao fim do vencimento. Nos mercados futuros, como o de petróleo, compra-se o direito de receber o produto ao fim de determinado prazo —nesse meio tempo, pode-se negociar os papéis para realizar lucros em momentos de alta, ou rolar para novos contratos com prazo maior, mas as posições abertas no dia do vencimento envolvem entregas físicas do produto.
Nesse caso, o vencimento dos contratos se dá em meio a um cenário de queda histórica na demanda e estrangulamento da capacidade de estocagem, o que provocou uma correria entre os que estavam em posição comprada para se desfazer dos papéis. “Ninguém quer o petróleo na mão, o estoque americano está no máximo do máximo. Para quem tem como estocar, vale a pena comprar, mas ninguém sabe por quanto tempo terá que guardar o óleo”, diz Alexandre Cabral, professor do Ibmec. “É como se o produtor de petróleo estivesse pagando para alguém levar sua produção por que não tem mais onde estocar”, diz a diretora da Escopo Energia, Lavínia Holanda. “É uma anomalia, que nuca tínhamos visto antes.” Cabral aponta que também contribuíram para a pressão vendedora os mecanismos de “stop loss” (interrupção de perdas, em inglês), que são vendas automáticas de fundos de investimento quando determinado ativo atinge o limite de perda aceitável. Para não ter mais prejuízo, o fundo se desfaz de todos os papéis do ativo, independente do preço. Com grandes ordens de venda, o preço cai ainda mais. Especialistas dizem que, embora inédito e preocupante, o fechamento negativo reflete uma pressão pontual pelo vencimento dos contratos de maio. O contrato de WTI com vencimento em junho, por exemplo, teve uma queda menos expressiva, de 18,4%, a US$ 20,43. Já o barril de petróleo Brent de junho, negociado na Bolsa de Londres e referência internacional, caiu 8,9%, a US$ 25,57, menor valor desde 1º de abril. O contrato do Brent e maio venceu em 31 de março.
Ainda assim, é um indicador de que os preços internacionais do petróleo demorarão a se sustentar, já que o ritmo da retomada do consumo é incerto e há elevados estoques no mundo. No centro de entregas de Cushing, em Oklahoma, o principal dos Estados Unidos, estão estocados 55 milhões de barris, perto da capacidade máxima de 76 milhões de barris. Além disso, há 160 milhões de barris, também um recorde, armazenados em navios, como alternativa para a falta de capacidade em terra. No ano, o petróleo sofre uma forte desvalorização de cerca de 60%, com a guerra de preços entre Rússia e Arábia Saudita e a desaceleração econômica devido a medidas de combate ao coronavírus. Os países exportadores chegaram a um acordo para reduzir em 9,7 milhões de barris por dia a produção a partir de maio, mas o mercado já tem dúvidas se o volume será suficiente para acomodar os preços – no mercado fala-se que a redução da demanda pode chegar a 30 milhões de barris por dia. A forte queda da commodity derrubou as principais Bolsas globais. Nos EUA, Dow Jones caiu 2,4%, S&P 500, 1,5% e Nasdaq, 1%. No Brasil, o Ibovespa fechou estável, a 78972 pontos. As ações preferenciais (mais negociadas) da Petrobras caíram 1%, a R$ 15,95, enquanto as ordinárias (com direito a voto) tiveram queda de 0,9%, a R$ 16,55.
O analista da corretora Ativa, Ilan Arbetman, diz que, por ter 70% de sua receita com vendas no Brasil e a China como principal cliente das exportações, a estatal sentiu menos a variação nas bolsas nesta segunda. A empresa já havia anunciado corte de investimentos, suspensão de dividendos, redução de salários e produção, além de um empréstimo de R$ 40 bilhões para enfrentar a crise. Arbetman diz, porém que a manutenção de preços tão baixos vai exigir medidas mais profundas. “Agora é pensar na subsistência”. Holanda acrescenta que o cenário atual deve levar a postergações de investimentos na exploração de petróleo no país, interrompendo retomada ensaiada nos últimos anos, após os primeiros leilões do pré-sal do governo Temer. “Tinha gente na indústria montando equipe, contratando serviços...”, afirmou. Com a perspectiva de adiamento de investimentos exploratórios, ela vê impacto no emprego do setor, principalmente em prestadoras de serviços terceirizadas. No pregão desta segunda, o dólar comercial fechou em alta de 1,3%, a R$ 5,3080, maior valor desde 3 de abril, quando a divisa foi ao recorde de R$ 5,3270. Na máxima da sessão, o dólar foi a R$ 5,3210. O turismo está a R$ 5,60 na venda. Além da turbulência do mercado financeiro internacional, a moeda reflete a tensão política brasileira, após líderes do Legislativo e Judiciário repudiaram a participação do presidente Jair Bolsonaro de um ato pró-golpe no domingo (19).
PAINEL S.A. - *”Empresários desaprovam comportamento de Bolsonaro”*: A participação de Jair Bolsonaro na manifestação neste domingo (19), que defendia a intervenção militar e o fechamento do Congresso, recebeu críticas até entre setores do empresariado que costumam apoiá-lo. A avaliação é a de que o presidente é um forte defensor de uma mensagem agradável aos ouvidos da maior parte dos empresários, a reabertura da economia, mas ele provocou uma instabilidade política e uma insegurança que não interessam a ninguém. Para Paulo Solmucci, presidente da Abrasel (associação de restaurantes e bares), a postura de Bolsonaro assustou, e qualquer movimento de retrocesso na democracia gera insegurança.​ “Queríamos ver pontes sendo construídas. O governo não tem potência na caneta para resolver sozinho a crise, e o Congresso tem que se harmonizar com o Executivo”, diz. “Não é conveniente ficar criando grandes dificuldades com o Congresso em um momento como este”, afirma Humberto Barbato, presidente da Abinee (associação da indústria elétrica e eletrônica). Barbato, porém, defende Bolsonaro e diz ter visto nesta segunda (20) uma intenção de baixar a fervura. “Embora a manifestação dele tenha sido dura, eu acredito que há muito tempo ele vinha tentando manter um bom nível de relacionamento com o Congresso e vinha tendo dificuldade, principalmente com o presidente da Câmara”, diz.
“Foi inoportuno. Seria melhor que, ao invés de ter ido na manifestação, ele tivesse marcado encontro com os presidentes da Câmara e do Senado para agendar os tópicos que temos pela frente na crise”, diz José Roriz, vice-presidente da Fiesp e presidente da Abiplast (plásticos). Roriz cita como exemplo a medida provisória do Emprego Verde e Amarelo. Sem conseguir convencer o Senado, nesta segunda (20), Bolsonaro revogou o texto, que reduz encargos para empregadores. Ele afirma que o empresariado, de fato, quer a reabertura da economia, mas precisa ser planejada. "Tem que ser com todo o cuidado possível e obedecendo protocolos de saúde, mas ainda não tem nada que diga que se pode fazer essa abertura de imediato, até porque, no Brasil tem muito pouco teste", diz Roriz.
PAINEL S.A. - *”Venda de maconha nos EUA sobe após auxílio do governo”*
*”Gasolina nas refinarias passa a R$ 0,91 por litro após novo corte”*
RODRIGO ZEIDAN - *”O dia em que poder comprar petróleo foi o melhor negócio do mundo”*
*”Caixa e Sebrae criam linha de crédito de R$ 7,5 bi para micro e pequenas empresas”*
*”Bancos emprestaram 58,4% a mais para empresas em período de intensificação do isolamento”*
*”Governo contraria promessa, e Bolsa Família não bate recorde”* - Assim que estourou a crise do novo coronavírus no Brasil, Onyx Lorenzoni, recém transferido para o Ministério da Cidadania, anunciou que em abril a cobertura do Bolsa Família, após sofrer sucessivos cortes, bateira um recorde. “Teremos um número que nunca existiu”, disse há cerca de um mês. Mas os dados contradizem a promessa. São 14,27 milhões de famílias beneficiadas neste mês, contra 14,34 milhões em maio de 2019, quando o governo passou a, na prática, travar novas entradas no programa. Portanto, o esforço do governo em ampliar a cobertura diante da pandemia do novo coronavírus não foi suficiente para que o Bolsa Família retornasse ao patamar registrado em maio de 2019, antes da maior sequência de cortes na história do programa. A inclusão de 1,2 milhão de famílias em abril foi possível após o envio de uma verba extra de R$ 3 bilhões —1% do pacote de medidas emergenciais com impacto no Orçamento. Apesar do destravamento do programa, a fila de espera (formada por famílias vulneráveis que pediram o benefício e aguardam resposta) ainda não foi zerada. Cerca de 200 mil famílias ainda aguardam resposta, segundo técnicos do governo que não querem ser identificados. Procurado, o Ministério da Cidadania não quis comentar a reportagem. O atendimento a todos que pediam para entrar Bolsa Família foi sinalizado pelo secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, em 16 de março, quando a equipe econômica anunciou as primeiras medidas na crise do coronavírus, inclusive o repasse de R$ 3 bilhões. Poucos dias depois, Onyx corrigiu a informação e publicou em uma rede social que “a fila fica praticamente zerada com essa inclusão” de 1,2 milhões de famílias. O Bolsa Família é o carro-chefe dos programas sociais do governo federal e transfere renda diretamente para os mais pobres. A fila de espera se forma quando as respostas demoram mais de 45 dias.
O prazo vinha sendo cumprido desde agosto de 2017, durante a gestão do ex-presidente Michel Temer (MDB). Mas, por falta de recursos, o programa não consegue atender a todos os pedidos desde junho do ano passado. Mesmo com a ampla inclusão de beneficiários em abril, dos 4.734 municípios atendidos pelo Bolsa Família, 712 continuam com fila. O programa atende famílias com filhos de 0 a 17 anos e que vivem em situação de extrema pobreza, com renda per capita de até R$ 89 mensais, e pobreza, com renda entre R$ 89,01 e R$ 178 por mês. O benefício médio foi de R$ 191,86 até março. Temporariamente, durante a pandemia de Covid-19, o valor depositado a quase todas as famílias será o mesmo do auxílio emergencial dado a trabalhadores informais e microempreendedores —de R$ 600 a R$ 1.200. Esse aumento na renda foi articulado pelo Congresso. Inicialmente, o governo de Jair Bolsonaro queria manter o mesmo valor (cerca de R$ 200) para quem é atendido pelo Bolsa Família. Especialistas dizem que as medidas do governo federal para ampliar o programa não são suficientes diante da crise econômica provocada pelo novo coronavírus. Mais famílias devem sofrer corte na renda neste ano e entrar na faixa considerada pobre ou extremamente pobre, que tem direito à transferência. Para o economista Marcelo Neri, diretor da FGV Social, após o aumento temporário durante a pandemia, o benefício deveria ser corrigido de forma permanente para compensar a falta de reajuste dos últimos anos.
“O Bolsa Família é uma política pró-pobre, eficiente e que está nas mãos do governo, mas o governo não usa. Isso é um péssimo sinal”, disse Neri, lembrando que o gasto é baixo em relação aos efeitos para a população. Consultores da Câmara indicam ainda que o programa poderá precisar de um novo reforço orçamentário. A verba atualmente é de R$ 32,5 bilhões —a mesma de 2019, quando a fila cresceu no segundo semestre e foi depositada uma 13ª parcela aos beneficiários. O 13º ainda não está previsto para 2020. No ano passado, os apelos por ampliação do orçamento do programa começaram em fevereiro. O Ministério da Cidadania pedia mais recursos para evitar o ressurgimento da fila em meados do ano. Os pleitos, contudo, foram negados pela Junta Orçamentária, da qual Onyx, quando ocupava a Casa Civil, fazia parte.
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*”PSDB, PSB, PSOL e OAB vão ao STF impedir repasse de dados de operadoras ao IBGE”* - A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e os partidos PSDB, PSB e Psol recorreram ao STF (Supremo Tribunal Federal) para tentar revogar a medida provisória editada pelo presidente Jair Bolsonaro que obriga operadoras de telecomunicações a repassar dados ao IBGE durante a epidemia de coronavírus. A MP 954/2020, publicada na semana passada e antecipada pela Folha, determina que as empresas entreguem dados como nome, endereço e telefone de clientes pessoas físicas e jurídicas para que o IBGE realize a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, que mede o desemprego. A justificativa, um pedido do IBGE ao Ministério da Economia, é que a transmissão de dados seja feita para que o instituto possa realizar a pesquisa de forma não presencial, diante das regras de distanciamento social impostas pelo novo vírus. A norma, no entanto, surge em um contexto sensível no debate de proteção de dados no Brasil, já que a Autoridade Nacional de Proteção de Dados, que fiscalizaria o uso e tratamento de dados pelos setores público e privado, não foi criada pelo Executivo. O PSDB diz que o ato é “típico dos Estados ditatoriais, ao despir o brasileiro de seus direitos fundamentais essenciais ao convívio em sociedade”, segundo trecho da ADI impetrada na madrugada desta segunda-feira (20). O partido afirma que a "suspensão de direitos fundamentais [como de privacidade] só é admitida em condição de Estado de Defesa ou de Sítio –o que não é o caso brasileiro, apesar da emergência trazida pela pandemia da Covid-19".
Já o PSB argumenta que há falhas como a imprecisão na finalidade para o repasse de dados, o que o torna desproporcional, já que obriga a transmissão, por meio eletrônico, de dados de todos os brasileiros. A ação destaca que o texto não cita qual será o mecanismo de segurança para minimizar o risco de acesso e uso indevido dos dados. A OAB vai na mesma direção, alegando que a MP de Bolsonaro viola "o princípio da proporcionalidade" e que o ato fere a privacidade e o sigilo de dados pessoais. Diz, ainda, que a guarda de dados pelo IBGE não será controlada por nenhum órgão da sociedade civil, Judiciário ou Ministério Público, na ausência de uma autoridade. "A Adin ainda exigirá um controle efetivo para que tais informações sejam transportadas e armazenadas em segurança", afirma a OAB. No texto da MP, o Executivo proíbe a Fundação IBGE de disponibilizar os dados a quaisquer empresas públicas ou privadas ou a órgãos ou entidades da administração pública. Também orienta que, superada a situação de emergência de saúde pública, "as informações compartilhadas serão eliminadas das bases de dados da Fundação IBGE". Cientes das ações no Supremo, ex-presidentes do IBGE chegam a falar em "apagão estatístico" se as ações progredirem.
Uma nota assinada por nove ex-titulares, como Edmar Bacha, Sérgio Besserman e Eurico de Andrade Neves Borba, faz um apelo para que o Judiciário e o Congresso apoiem a medida. Justifica que "as informações são as mesmas que eram antes publicadas nas páginas amarelas ou catálogos de telefones" e representam a única alternativa para elaborar uma amostra significativa da população. Em comunicado, o IBGE diz que, para atender as recomendações de afastamento social do Ministério da Saúde e da OMS, adiou o Censo Demográfico e suspendeu todas as suas pesquisas presenciais no dia 17 de março. "Em função disso, para não comprometer a produção de indicadores e estatísticas sobre a economia, e fornecer um retrato fidedigno e atualizado sobre o país", terá que migrar suas pesquisas para formas de coleta de dados não presenciais, "adotando, principalmente, a coleta por telefone", afirma. O IBGE diz que o tratamento de dados ocorrerá "exclusivamente no âmbito do IBGE, sob a observância de documentos, princípios e procedimentos institucionais basilares aplicados à produção de informações". Por fim, o instituto afirma que a MP "está adimplente com todas as condições da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais) e foi objeto de amplo debate dentro do Ministério da Economia". O IBGE tem dados de domícilios desde 1940. O que alega, neste momento, é que precisa parear o endereço com o telefone para poder realizar uma amostra correta e verificar se o número corresponde ao endereço domiciliar.
RISCO À PRIVACIDADE
Especialistas em privacidade e advogados envolvidos nas ações ouvidos pela Folha argumentam que não há desconfiança dos padrões de segurança utilizados pelo IBGE, mas receio de que a abrangência do texto, que não especifica quais são os recursos de proteção, traga riscos à privacidade dos cidadãos. O movimento é visto até como uma possibilidade de o Supremo se debruçar sobre o tema do direito fundamental de proteção de dados. É consenso que o tratamento de dados deve atender a demandas diferenciadas no contexto da Covid-19. No entanto, há dúvidas sobre a necessidade de a MP solicitar todas as linhas telefônicas de pessoas jurídicas para a PNAD.
Críticos também dizem que a própria Anatel, por meio de convênio, poderia repassar dados que operadoras já lhe enviam para a realização de pesquisas de satisfação, sem necessidade de envolver o setor privado nisso. "Se a PNAD lida com uma amostra, por que é necessário dados de mais de 200 milhões de linhas telefônicas, quando a proteção de dados lida com o princípio de minimizar ao máximo essa coleta?", diz Estela Aranha, presidente da Comissão de Proteção de Dados da OAB/RJ. A advogada Laura Schertel, professora da UNB, afirma que não há garantia de segurança de que esse repasse não "caia nas mãos de quem não deveria", a exemplo da série de casos recentes de violação de privacidade, quando dados cadastrais são relacionados a outros e usados para microtargeting. "Há risco quando dados são compartilhados de forma pouca segura, não explicada [na medida] e de maneira tão rápida. A MP não estabelece prodecimentos seguros", afirma. Segundo ela, também é desproporcional exigir dados de todos os brasileiros quando a pesquisa é feita por amostragem. A especialista afirma que isso deveria estar explícito na redação. Além da falta de uma autoridade fiscalizatória, há críticas sobre o relatório de impacto proposto na MP ser realizado somente após o repasse das informações. Em parecer na noite desta segunda, o presidente do conselho diretor da Anatel foi favorável à medida, pontuando que devem ser observados princípios constitucionais, da Lei Geral de Telecomunicações, da Lei de Acesso à Informação e da Lei Geral de Proteção de Dados, mesmo que esta não esteja em vigor. A agência pondera que, como medida de transparência, "é relevante que a avidade de tratamento dos dados possa ser auditada por órgãos de controle". Até então, a divulgação desses dados pelas operadoras só poderia ser feita em configuração de informações agregadas, que não permitissem a idenficação, direta ou indireta do usuário.
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MÔNICA BERGAMO - *”Aplicativo subsidia transporte de doações para pessoas em situação de vulnerabilidade”*
 
CAPA – Manchete principal: *”Forçar Armadas obedecem à Constituição, afirma Defesa”*
EDITORIAL DO GLOBO - *”Bolsonaro tem sido um fator de desestabilização”*: Pode ser conveniente ao político Jair Bolsonaro avançar e recuar no seu radicalismo, mas não atende às exigências do cargo de presidente da República. A fórmula do ex-capitão de aumentar a carga ideológica do seu discurso de extrema direita para conclamar as claques que o apoiam quando se sente fragilizado, para depois voltar atrás, aumenta tensões já criadas pela maior crise da história ainda em sua fase inicial, também degrada a atmosfera política e atrapalha o próprio governo em ações para reduzir o número de mortes na epidemia da Covid-19 e conter ao máximo os estragos que a recessão já provoca no emprego e na área social. Bolsonaro presta um desserviço à nação e a ele. Por cálculo político, preocupado apenas com os efeitos na economia causados pelo isolamento social — a única forma eficaz de se conter a expansão do vírus Sars-CoV-2 e dar tempo para o sistema de saúde conseguir salvar vidas —, o presidente deseja acelerar a volta das atividades econômicas a qualquer preço, e nisso tem o apoio das falanges bolsonaristas mais radicais que veem no Congresso e no Supremo dois obstáculos a seu intento. Têm razão. Para evitar decisões alucinadas do Executivo é que também existem o Legislativo e o Poder Judiciário. Assim, as carreatas convocadas pelas redes bolsonaristas, alegadamente em favor da “volta ao trabalho”, para grandes cidades no domingo, transformaram-se em atos contrários à Constituição—favoráveis a um golpe militar, à reedição do funesto AI-5, ao fechamento do Congresso e do Supremo. O resto, a História ensina, vem por força da lei da gravidade: prisões, violência sem freios etc. E Bolsonaro, em Brasília, aderiu a este ato de agressão à Carta, em frente ao Quartel-General do Exército, o Forte Apache.
Cumprindo roteiro conhecido, baixou ontem o tom na sua rotineira confraternização com seguidores, à saída do Alvorada: “No que depender do presidente Jair Bolsonaro, democracia e liberdade acima de tudo”. Responsabilizou “infiltrados” pelas faixas pedindo a volta do AI-5, e ainda incorporou a Carta: “Eu sou realmente a Constituição”. Não é. Está sob ela. O procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu ao Supremo inquérito para apurar responsabilidades na organização das manifestações de domingo, “atos contra o regime da democracia participativa”. Aras não mencionou o presidente, mas identificou “deputados federais ”— também haveria empresários —por trás dos atos, daí haver acionado o Supremo. É preciso que, por este inquérito, fique demonstrado que a Constituição garante um regime de liberdades, mas também oferece recursos para a democracia se defender. Já em nota divulgada ontem no final da tarde, o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, registrou que as Forças Armadas são “sempre obedientes à Constituição”, e que elas se encontram em adaptação para combater o inimigo comum a todos, “o coronavírus e suas consequências sociais”. Precisa ser interpretada corretamente por bolsonaristas.
*”A barreira da lei – Após Bolsonaro ir a ato contra democracia, Defesa prega obediência à Constituição”*
*”Aras pede ao STF inquérito para investigar protestos”*
*”Com a força dos robôs – Na pandemia, militância usa táticas de 2018”* - Em meio à crise provocada pelo novo coronavírus, a militância bolsonarista nas redes sociais tem lançado mão da mesma tática de atuação usada desde o período da disputa eleitoral de 2018, com ataques orquestrados contra adversários no Twitter, uso de robôs e criação de grupos de WhatsApp para difundir informações falsas. Apesar da atuação constante desde a posse, há a constatação de que a base de Jair Bolsonaro vem caindo sem, porém, que esse grupo perca a capacidade de pautar o debate que se destaca no mundo virtual. Um estudo amostral da consultoria Arquimedes feito após a manifestação antidemocracia de domingo em frente ao QG do Exército em Brasília mostrou que, após participar do ato, o presidente viu o seu apoio nas redes sociais cair. Numa análise de 38 mil menções, foi identificado o percentual de 30% de apoio a Bolsonaro. “Não há, fora do isolado grupo bolsonarista, apoio ao presidente”, aponta o relatório da empresa. Na última sexta-feira, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sofreu o maior ataque até hoje no Twitter. A hasthag #ForaMaia ficou em primeiro lugar na lista de assuntos mais comentados da plataforma no Brasil.
A ofensiva ocorreu após Bolsonaro fazer, em entrevista à CNN Brasil, na quinta-feira, críticas contra Maia chegando a dizer que ele quer “enfiar a faca no governo”. O presidente da Câmara costuma ser alvo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro no mundo virtual desde o ano passado, mas os ataques de sexta-feira superaram os anteriores. Há semanas, tem havido uma série de troca de acusações tanto por parte de Bolsonaro contra Maia, como vice-versa. As discussões têm ajudado a alimentar os debates nas redes sociais.
—Foi o maior ataque de todos os tempos (dos bolsonaristas) contra a figura dele (Maia) — afirma David Nemer, professor do departamento de estudos de mídia da Universidade da Virgínia.
Nemer identificou cerca de 1,5 milhão de menções ao presidente da Câmara. Dentro desse grupo, o professor fez uma análise amostral de 50 mil postagens e afirma ter identificado 11 contas robôs. Os perfis chegam a fazer 50 retuítes num período de dez segundos, o que é humanamente impossível, avalia a Arquimedes. Além dos robôs, foram identificadas contas falsas ou com características de atuação profissional. Esses perfis fazem apenas postagens em favor de Bolsonaro basicamente do mesmo teor quase ao mesmo tempo. Nemer acredita que a ofensiva no Twitter contra Maia faz parte de uma estratégia conjunta com a entrevista concedida pelo presidente contra Maia:
— A entrevista e os ataques no Twitter são estrategicamente coordenados. É uma tática rotineira do bolsonarismo eleger um inimigo. Na construção do inimigo, você consegue manter a sua base unida e motivada para lutar por você.
Relatório da consultoria Arquimedes identificou mais de 1,3 milhão de menções da hasthag #ForaMaia. “A ação, apesar de barulhenta nas redes, tem se mostrado isolada e sem tração com o debate público, ficando restrita a um grupo de perfis de apoiadores do presidente Bolsonaro”, afirma o relatório. Pablo Ortellado, professor da USP e coordenador do Monitor de Debate Político no Meio Digital, afirma que os bolsonaristas atuam de forma diferente em cada plataforma:
— No Twitter, há um ataque coordenado. No WhatsApp, é campanha de desinformação pesada. No YouTube, há muito uso de imagens oficiais do presidente. Canais bolsonaristas do YouTube têm quatro vezes mais visualização do que outros canais políticos.
GRUPOS WHATSAPP
Ortellado relata ainda ter recebido informação de três pessoas diferentes que afirmam ter sido acrescentadas recentemente em grupos de WhatsApp bolsonaristas voltados para informações sobre o novo coronavírus:
—Como estudo isso, as pessoas me procuram. Foi feito esse relato de três pessoas com backgrounds muito diferentes.
Ainda segundo o professor, esse tipo de mobilização exige recursos, porque é preciso comprar o cadastro das pessoas para serem incluídas no grupo e pagar alguém para alimentar as mensagens.
— Essa estratégia foi usada na eleição e aparentemente reativada. Isso só ocorreu na eleição porque é muito caro manter. Entre as informações disseminadas nesse tipo de grupo, está a de que os hospitais estão vazios e que o vírus é uma artimanha criada por chineses.
Os assuntos são abordados em áudio, textos e vídeos. Ortellado faz monitoramentos diários de grupos bolsonaristas:
— Constatei três coisas no meu monitoramento (desta segunda-feira): os governadores estariam inflando os números de doentes, a cloroquina seria a salvação e os governadores seriam os responsáveis pelo coronavírus porque incentivaram o carnaval.
*”Relaxamento da quarentena – Com 46 milhões de testes, Teich quer saída planejada”*
*”SP anuncia amanhã plano para retomar atividade”*
*”Leitos esgotados – ‘Temos de escolher quem respira’, diz enfermeira de hospital em Manaus”* - Falta de equipamentos básicos e respiradores; inexistência de testes para doentes, médicos e enfermeiros; Unidades de Pronto Atendimento (UPA) fazendo as vezes de UTI, porque os leitos de terapia intensiva estão saturados pela epidemia causada pelo novo coronavírus. O retrato atual do sistema público de saúde do Amazonas, onde corpos já foram deixados ao lado de pacientes, serve de alerta para outros estados. Em São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará e Pernambuco, quarteto que lidera o ranking nacional de casos confirmados e mortes por Covid-19 (ver quadro ao lado), a rede de leitos aproxima-se de seu limite. Ou seja, o cenário amazonense pode, em breve, ser replicado no Sudeste e no Nordeste. Segundo levantamento do Ministério da Saúde, o Brasil chegou ontem a 2.575 vítimas fatais do coronavírus entre 40.581 infectados. Os relatos de Manaus foram feitos ao GLOBO por enfermeiros que estão na linha de frente do combate à epidemia, ouvidos sob a condição de anonimato.
— Estamos tendo de escolher quem vai respirar ou não — resume uma enfermeira, diante da falta de equipamentos básicos no Hospital João Lúcio, onde foram gravados vídeos de corpos deixados ao lado de pacientes com Covid-19.
De acordo com o governo do Amazonas, quase 90% dos leitos de UTI estão ocupados, numa demanda que ultrapassou a capacidade do hospital de referência para Covid-19, o Delphina Aziz, em Manaus. Foi necessário recorrer a outros hospitais, como o João Lúcio, que colapsou diante da quantidade de infectados. O estado tem a segunda maior incidência de infectados no país, com 415 diagnosticados por 1 milhão de habitantes.
‘A GENTE JÁ VIVE UM COLAPSO’
Segundo um enfermeiro que trabalha em uma UPA da capital amazonense, a unidade está sendo obrigada a prestar o atendimento que seria de uma UTI:
— Não há como mandar mais para hospital de referência. Todas as unidades de média complexidade estão tendo de assumir os pacientes críticos, até que se abram vagas. No meu último plantão, recebemos nove pacientes. A gente já vive um colapso.
Segundo uma enfermeira que trabalha no João Lúcio, onde câmaras frigoríficas foram providenciadas depois da revelação das cenas de pessoas mortas ao lado de pacientes, não há pessoal suficiente para o atendimento necessário:
— Na sala onde trabalho, são necessários cinco técnicos de enfermagem. Tem só um. Quando muito, dois.
Exames demoram um dia inteiro para serem providenciados. Não há máscaras de proteção para os pacientes. Aventais que deveriam ser descartáveis são esterilizados para serem reusados.
— A demanda está tão grande que o SOS Funeral, destinado a pessoas pobres, não tem condições de recolher todos os corpos. Como as famílias não têm condições financeiras de providenciar a retirada, os corpos ficam ali, ao lado de pacientes —afirma a enfermeira.
Uma outra funcionária diz conhecer 12 colegas da enfermagem que foram infectadas pelo novo coronavírus. Ela diz que os profissionais não conseguem fazer o teste para detectar se têm Covid-19.
— Sabemos que estamos em uma guerra. O problema é estar em guerra sem nenhuma arma. A gente não tem equipamento de proteção individual —afirma ela.
O governo do Amazonas diz que está providenciando EPIs para os profissionais de saúde e mais leitos de UTI, além de reposição de profissionais por meio de convocações de concursados e abertura de novos processos seletivos. Os cinco hospitais da rede terão 1.023 leitos, conforme a Secretaria de Saúde. O Delphina Aziz, por exemplo, ativou 25 leitos de UTI e 20 leitos clínicos a mais, segundo a pasta.
RIO CORRE CONTRA O TEMPO
No Rio, os leitos de UTI para pacientes com Covid-19 estão no limite. Enquanto o funcionamento dos hospitais de campanha depende do recrutamento de pessoal e equipamentos, já há filas de pacientes graves aguardando internação em unidades de saúde. Às 17h30m, a Secretaria municipal de Saúde admitia que 90% dos 269 leitos do SUS para tratamento intensivo de adultos com coronavírus estavam ocupados. Ontem, o Hospital Universitário Pedro Ernesto, da rede estadual, estava com 100% das UTIs para Covid preenchidas. A prefeitura do Rio promete lançar amanhã edital para a contratação de mil leitos de terapia intensiva na rede privada. Os hospitais municipais de campanha de São Paulo chegaram ontem a 21% de ocupação. Os complexos do Pacaembu e do Anhembi têm, juntos, 231 pacientes internados. Ontem, o Anhembi registrou a primeira morte por coronavírus, um paciente de 79 anos — não foi informado se a vítima tinha doença preexistente. Em 12 de abril, o hospital Pacaembu registrou sua primeira morte, um homem de 36 anos com histórico de doença de Chagas. O Hospital das Clínicas e o Instituto de Infectologia Emílio Ribas vêm sofrendo pressão: suas UTIs tinham mais de 90% de ocupação no domingo. A Zona Leste de São Paulo também preocupa: na semana passada, ao menos quatro hospitais da região tinham 100% de ocupação de UTI. O Ceará continua com lotação de 100% dos seus leitos de UTI destinados a pacientes infectados com o novo coronavírus. Para contornar o problema, a Secretaria da Saúde promete inaugurar até hoje 36 novos leitos para pacientes que precisam de tratamento intensivo. A Secretaria de Saúde de Pernambuco informa que, somando os 319 leitos de sua rede e do SUS, a taxa de ocupação é de 95%. Entre os leitos de enfermaria, o número é de 83%.
*”No olho do furacão – ‘A sensação é de impotência’, diz intensivista do Gazolla, no Rio”* - Coordenador médico de terapia intensiva do Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, em Acari, referência para o tratamento da Covid-19 no Rio, Sandro Oliveira conta que tem dormido apenas três horas por dia e que emagreceu nove quilos desde o começo da pandemia. O médico, pai de Camile, de 11 anos, e Bernardo, de 7, não vê os filhos há um mês. Os dois estão com a mulher, em Jacarepaguá, enquanto ele fica na Barra da Tijuca. Seu maior medo, além de contaminar a família, é se infectar e ter que deixar o front no combate ao coronavírus.
Falar um pouquinho do que está se passando na nossa vida, na nossa cabeça, é o mesmo que dizer que estamos em um furacão. Tenho dois medos: caso me infecte, ter que sair da linha de frente e não poder mais colaborar presencialmente; e contaminar meus familiares. Por esse motivo, não tenho contato físico com eles. Infelizmente, não tenho ainda previsão para voltar a ver meus filhos. A nossa comunicação é basicamente por telefone, chamada de vídeo. Dói o coração, mas o risco e a nossa preocupação com o bem-estar de quem a gente ama superam toda essa saudade, toda essa angústia. Quando meus filhos reclamam, eu falo: papai só vai voltar a ver vocês quando essa Covid-19 passar. Nossa missão é essa, não podemos fugir da luta. A nossa parte é contribuir para melhorar a saúde da população. E a parte da população é se manter em isolamento, ficar em casa para diminuir o risco de contaminação.
Fui o responsável pelo atendimento a gestantes com H1N1 no Hospital Estadual Albert Schweitzer, em 2009, e pelo atendimento dos adolescentes e das crianças na tragédia da escola em Realengo, em 2011. Mas não há nada parecido com a pandemia atual. Hoje chego ao hospital por volta das 6h30m e saio lá pelas 21h para, em casa, ainda estudar as novas publicações médicas e desenvolver, conforme mudanças na literatura, protocolos e treinamentos para a equipe. Nos fins de semana, tenho ficado de sábado de manhã até domingo à noite direto no hospital. Atualmente, durmo em torno de três horas por dia. Minha rotina de trabalho antes era estar no hospital nos períodos da manhã e da tarde, raramente vinha ao hospital nos fins de semana. Atualmente, são todos os dias, de manhã, de tarde e de noite. Além disso, regularmente, na madrugada oriento a equipe pelo telefone, estudando ou montando conteúdo. Já emagreci nove quilos desde o início da pandemia por falta de tempo para comer adequadamente. Acabou que isso não entrou como prioridade na minha vida atual. Os pacientes que chegam à UTI são muito graves, com necessidades particulares, principalmente na parte respiratória. Tive contato com diversos pacientes e cheguei a comunicar famílias sobre óbitos. Em alguns casos, principalmente pela rápida evolução, fiquei com a sensação de impotência em relação a essa doença. Hoje, vendo pacientes muito graves na UTI, é difícil sair do hospital com a sensação de dever cumprido. Mas saio porque preciso no mínimo parar meu corpo para o próximo dia.
*”Tratamento experimental – Pacientes do Rio são os primeiros do país a receber plasma”*
*”Exploração em meio à dor – Funerárias cobram por serviços não prestados”*
*”Casos de Covid-19 no Rio podem dobrar em oito dias”*
*”Derrocada histórica – Petróleo fecha abaixo de US$ 0 pela 1ª vez. Produtores pagam para se desfazer do produto”*
*”Caso Flávio: ministro do STJ vê indício de crime”* - Ao recusar recurso do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), o ministro Felix Fischer, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), afirmou, em decisão obtida pelo GLOBO, que a quebra do sigilo fiscal e bancário do filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro foi autorizada “em decisões judiciais devidamente fundamentadas” e ainda “no amparo de fortes indícios de materialidade e autoria de crimes”. Na última sexta-feira, Fischer rejeitou o pedido da defesa de Flávio, que pretendia parar a investigação sobre peculato e lavagem de dinheiro em seu antigo gabinete na Alerj. “Ao contrário do que o recorrente informa, que a investigação tenha acontecido em face de pessoa politicamente exposta, com vazamento de seus dados fiscais e bancários por cerca de dez anos, fato é que, conforme consignado nos presentes autos, a quebra de sigilo foi autorizada em duas decisões judiciais devidamente fundamentadas (no amparo em fortes indícios de materialidade e autoria de crimes; na suposta formação de grande associação criminosa, com alto grau de permanência e estabilidade na Alerj; e, como se não bastasse, na imprescindibilidade da medida)”, escreveu o ministro, relator do caso no STJ. O pedido da defesa do senador foi feito no início do mês passado. Os advogados do senador apresentaram recurso à Corte depois que seus pedidos junto à 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio tinham sido negados. O recurso na Corte foi a 9ª vez que a defesa de Flávio tentou paralisar as investigações, desde janeiro do ano passado. O senador argumenta que ocorreu quebra de sigilo fiscal e bancário na comunicação feita pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf ) sobre suas movimentações atípicas. Os relatórios de inteligência financeira, que instruíram a primeira fase das investigações, revelaram movimentações atípicas de recursos no gabinete de Flávio, na época em que era deputado estadual no Rio. O primeiro mostrou a movimentação atípica de R$ 1,2 milhão do ex-assessor Fabrício Queiroz — o documento abriu as investigações. Depois, por meio de outro relatório, ficou conhecido que o senador fez 48 depósitos de R$ 2 mil totalizando R$ 96 mil ao longo de cinco dias em junho de 2017. Esse relatório é um dos que a defesa alega ter havido quebra de sigilo bancário sem autorização judicial. Em abril de 2019, o TJ do Rio autorizou a quebra de sigilo fiscal e bancário de Flávio e outras 95 pessoas e empresas.
Um dos argumentos da defesa de Flávio é que teriam ocorrido comunicações informais entre MP-RJ e o Coaf para obter relatórios. A afirmação foi rejeitada por Fischer: “No que tange especificamente à suposta ausência de formalidade nas comunicações entre o d. Ministério Público e o Coaf, o v. acórdão recorrido também foi expresso ao confirmar as alegações ministeriais de que a troca de e-mail não ultrapassou o próprio âmbito do Ministério Público e de que as comunicações entre este e o Coaf respeitaram o decidido pelo col. Supremo Tribunal Federal”. Outro ponto levado pela defesa ao STJ é que as informações no relatório do Coaf seriam minuciosas demais e teriam constituído uma “devassa” nas contas do senador. Fischer concordou com o que foi decidido pelo TJ-RJ e citou trecho da decisão da 3ª Câmara Criminal do Rio. “O acórdão rechaçou a tese defensiva com a simples exposição do caso concreto: ‘Ao contrário do que diz a Impetrante, não houve qualquer devassa indiscriminada na conta do ora Paciente, cuja análise se limitou ao período e 2017 e 2018, quando exercia o mandato de Deputado Estadual; não há a indicação de quem seriam os depositantes do referido numerário, nem muito menos, de maneira geral, para quem o Paciente teria feito as transferências”, escreveu. Fischer disse ainda que a defesa não apresentou provas da “devassa” e destacou não ter observado nos autos “abuso de poder” ou “ilegalidade flagrante.” Na última sexta-feira, o advogado Frederick Wassef, que atua na defesa de Flávio, disse que “a defesa nunca tentou impedir a investigação das chamadas “rachadinha” apenas age contra irregularidades praticadas no processo.
 
 
 
CAPA – Manchete principal: *”PGR pede inquérito para investigar autoria de atos pró-ditadura”*
EDITORIAL DO ESTADÃO - *”O preço da pusilanimidade”*: Opresidente Jair Bolsonaro assumiu de vez que é candidato a caudilho. Em comício para seus simpatizantes, de caráter escandalosamente golpista, anunciou: “Nós não queremos negociar nada. Queremos é ação pelo Brasil. Chega da velha política. Acabou a época da patifaria. Agora é o povo no poder. Lutem com o seu presidente”. Não é possível dizer que Bolsonaro desta vez passou dos limites, pois, a rigor, ele já os havia ultrapassado quando, ainda militar, se insubordinou ou então, quando deputado, violentou o decoro parlamentar seguidas vezes. No primeiro caso, recebeu uma punição branda; no segundo, nem isso. Ou seja, a pusilanimidade das instituições ao lidar com Bolsonaro deu-lhe a segurança de que, para ele, não há limites, salvo os ditados por seu projeto autoritário de poder. É reconfortante, no entanto, observar que, desta vez, integrantes de todas as instituições da República se manifestaram com firmeza contra mais essa afronta de Bolsonaro e de seus seguidores à democracia. Até mesmo o procurador-geral da República, Augusto Aras, que vinha se omitindo ante a escalada bolsonarista, anunciou a abertura de um inquérito para investigar “fatos em tese delituosos envolvendo a organização de atos contra o regime da democracia representativa brasileira”. O presidente não está entre os investigados, porque não há indícios de que tenha ajudado a organizar o comício, mas o simples fato de o procurador Aras ter qualificado como atentatório à democracia um ato que teve como sua estrela o presidente da República deveria ser suficiente para embaraçar Bolsonaro. Mas será difícil constranger o presidente, cuja desconsideração pela opinião alheia, salvo quando é a dos filhos ou dos bajuladores que o cercam, é notória. Diante da repercussão negativa de seu discurso autoritário, o presidente, como sempre, tratou de minimizar o fato, insultando a inteligência de todos. No dia seguinte à afronta, Bolsonaro negou que tivesse atacado os demais Poderes e disse que, “no que depender do presidente Jair Bolsonaro, democracia e liberdade acima de tudo”. Felizmente, nem a democracia nem a liberdade dependem de Jair Bolsonaro. Dependem, exclusivamente, do cumprimento da Constituição. Num arroubo à Luís XIV, Bolsonaro chegou a dizer: “Eu sou realmente a Constituição”. Não é. A Constituição é a materialização do pacto democrático, aquele ao qual todos se submetem, do mais humilde cidadão ao presidente da República.
Mas Bolsonaro, como sempre fez em sua trajetória política, está testando a disposição da sociedade de defender a ordem democrática por ele sistematicamente ameaçada. Pode-se quedar inerte diante das bravatas bolsonaristas, permitindo que se instaure um clima golpista, mas também se pode riscar uma linha no chão e dizer que, deste ponto em diante, é o terreno do intolerável. Por isso, espera-se que o até agora silente ministro da Justiça, Sérgio Moro, faça jus à sua fama de inflexível cruzado da moralidade e da lei no exercício do serviço público e manifeste pelo menos desconforto diante do comportamento acintosamente impróprio de Bolsonaro na chefia da Nação. O mesmo se espera dos tantos ministros do presidente, militares reformados e da ativa, tidos como bedéis do governo, responsáveis por conter os muitos excessos de Bolsonaro. Até agora, contudo, predomina o silêncio – tão mais embaraçoso quando se recorda que o ato golpista protagonizado pelo presidente Bolsonaro, que é o comandante em chefe das Forças Armadas, ocorreu no Dia do Exército e diante do QG do Exército. Consta que a afronta bolsonarista gerou malestar nas Forças Armadas, que não querem se ver vinculadas a movimentos que pedem a volta da ditadura militar e de medidas de exceção, como o famigerado AI-5, em franco desafio à Constituição. Para os generais, a guerra a ser vencida hoje não é contra os inimigos que Bolsonaro inventa todos os dias, mas contra o coronavírus. Mas a guerra de Bolsonaro, já está claro, é contra as instituições da República e contra a maioria absoluta dos brasileiros, afrontados por um presidente que só se importa com o poder. Quem estiver na trincheira com Bolsonaro, seja no governo, seja em movimentos golpistas, vai se desmoralizar junto com ele.
COLUNA DO ESTADÃO - *”Inquérito dá esperança aos alvos dos ataques”*: Apesar de não citar Jair Bolsonaro, o inquérito pedido pela PGR para investigar as manifestações e os movimentos antidemocráticos fez olhos brilharem de esperança nos bastidores dos mundos jurídico e político. As investigações do STF, agora respaldadas pelo Congresso, podem dar respostas que a CPI de Fake News, por exemplo, ainda não obteve. Quem são os donos dos perfis que promovem esses atos e propagam essas ideias? São financiados por alguém? Como são confeccionadas as faixas? Há apoio político do governo ou do clã Bolsonaro?
» Tensão. Do ex-presidente Michel Temer: “É preocupante verificar que, após 31 anos de vigência de uma Constituição democrática, grupos agridam o Legislativo e o Judiciário, suportes da democracia”.
» Tensão 2. “Todos sabemos que a Constituição determina a harmonia entre os Poderes. A desarmonia é inconstitucional sob o foco jurídico e desastrosa sob o prisma político. Não há espaço para aventuras”, completa o ex-presidente.
» Com propriedade. Ronaldo Caiado (DEM-GO), mais uma vez, foi o autor de uma das estocadas mais sentidas pelo bolsonarismo: “Nunca transigi de dois princípios, a defesa da vida e da democracia”, disse o governador, que desde os anos 1980 também não transigiu com os valores de direita e o combate à esquerda.
*”Aras pede investigação sobre atos pró-ditadura”* - O procurador-geral da República, Augusto Aras, solicitou ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de um inquérito para investigar “fatos em tese delituosos” envolvendo a organização de protestos antidemocráticos realizados no domingo. O pedido não mira o presidente Jair Bolsonaro, que participou de uma manifestação, diante do Quartel-General do Exército, em Brasília, marcada por faixas e palavras de ordem contra o Congresso e o STF – e a favor de uma intervenção militar. Na ocasião, Bolsonaro pregou o fim da “patifaria”, atacou a “velha política” e disse que não quer “negociar nada”, o que provocou forte reação dos três Poderes. Um integrante da cúpula da PGR ouvido reservadamente pela reportagem informou que o inquérito “não tem alvo” e, sim, se trata de uma “investigação para apurar autorias”. A postura de Aras, no entanto, gerou críticas de integrantes do Ministério Público Federal (MPF), que avaliam que o procurador ficou “em cima do muro” ao deixar de lado a participação de Bolsonaro, e focar apenas nos organizadores dos protestos em todo o País, entre eles deputados federais e empresários. Para um subprocurador, Aras tratou a participação de Bolsonaro como se ela fosse irrelevante ou secundária, quando, na verdade, foi a presença do presidente que fez o protesto ganhar contornos ainda mais dramáticos, amplificando a repercussão negativa do ato. Um outro integrante do MPF define o pedido como um “jogo ensaiado”.
Aras foi indicado ao cargo por Bolsonaro. A exclusão do presidente da República do pedido de investigação levou o Cidadania a acionar a Procuradoria-Geral da República (PGR) para que Bolsonaro seja incluído no inquérito. Segundo o partido, é essencial que a apuração também alcance o presidente para que fique “cabalmente esclarecida” a sua participação nos atos.
Ideologia. Ao encaminhar o pedido ao STF, Aras alegou que o “Estado brasileiro admite única ideologia que é a do regime da democracia participativa”. “Qualquer atentado à democracia afronta a Constituição e a Lei de Segurança Nacional”, afirmouo procurador-geral. Uma das principais bandeiras dos manifestantes era a reedição de um novo AI-5, o mais duro ato da ditadura (1964 a 1985), que revogou direitos fundamentais, instalou a censura nos meios de comunicação e delegou ao presidente da República o direito de cassar mandatos de parlamentares, intervir nos municípios e Estados. O procurador pretende apurar se houve nos protestos violação à Lei de Segurança Nacional, que estabelece pena de até 15 anos para quem “tentar mudar, com emprego de violência ou grave ameaça, a ordem, o regime vigente ou o Estado de Direito”. A legislação também prevê 4 anos de reclusão para quem caluniar ou difamar o presidente da República, do Senado Federal, da Câmara dos Deputados ou o do STF. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foi um dos principais alvos do protesto. Em nota divulgada na noite do último domingo, Aras reiterou o compromisso do Ministério Público brasileiro de velar “pela ordem jurídica que sustenta o regime democrático, nos termos da Constituição Federal”. O procurador reafirmou discurso proferido na última sexta-feira, em que afirmou que o MP “há de estar atento em defesa da nossa democracia para que se preservem as instituições do Estado brasileiro, pela força normativa da Constituição”.
Análise. O pedido de abertura de inquérito será analisado pelo ministro Alexandre de Moraes, escolhido pelo sistema eletrônico do STF para ser o relator do caso. O ministro vai examinar os fundamentos apresentados por Aras e se há justificativa para deixar a investigação na Corte – como os indícios de envolvimento de parlamentares na organização dos atos, por exemplo. Deputados federais têm foro perante o STF. Moraes é relator de outro processo que apura ataques contra instituições. O “inquérito das fake news” investiga ameaças, ofensas e falsas notícias contra integrantes do Supremo e familiares e já levou à realização de operação de busca e apreensão e à censura de reportagem publicada na revista digital Crusoé e no site O Antagonista que mencionava o presidente do STF, ministro Dias Toffoli.
*”Cobrado por generais, Bolsonaro recua”* - O presidente Jair Bolsonaro foi alertado por militares do governo de que sua participação no ato de domingo, convocado para defender o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF), não apenas causou repúdio – e tirou o foco do combate à pandemia do coronavírus – como expôs as Forças Armadas a situação constrangedora. Em várias reuniões a portas fechadas, militares pediram a Bolsonaro que recuasse e mudasse de tom. Até mesmo o presidente do Supremo, Dias Toffoli, telefonou naquele domingo para o ministro da Defesa, general Fernando de Azevedo e Silva, na tentativa de entender a nova crise. Na conversa, Toffoli se mostrou preocupado e disse que a presença de Bolsonaro em manifestação diante do QG do Exército, pregando intervenção militar, emitia um sinal “nefasto” e alimentava uma escalada autoritária. Para acalmar os ânimos, o ministro da Defesa divulgou nota no fim do dia de ontem destacando que as Forças Armadas trabalham com o propósito de “manter a paz e a estabilidade do País, sempre obedientes à Constituição Federal”. Era o ato final de uma movimentação que começara no domingo. “O momento que se apresenta exige entendimento e esforço de todos os brasileiros. Nenhum país estava preparado para uma pandemia como a que estamos vivendo. Essa realidade requer adaptação das capacidades das Forças Armadas para combater um inimigo comum a todos: o coronavírus e suas consequências sociais. É isso que estamos fazendo”, diz o texto. Azevedo também procurou tranquilizar Toffoli, a quem já assessorou. Mesmo assim, o ministro levou a Bolsonaro a inquietação do comando da Corte e até do Congresso. Na prática, as cúpulas do Legislativo e do Supremo avaliam, nos bastidores, que não há mais conciliação possível com Bolsonaro.
Recuo. Após ser alvo de fortes críticas, o presidente se reuniu com vários ministros do governo, e não só com os do núcleo militar. “Onde foi que eu errei?”, perguntou. Logo pela manhã, ao sair do Palácio da Alvorada, ele repetiu a indagação, diante de apoiadores e jornalistas. “No que depender do presidente Jair Bolsonaro, democracia e liberdade acima de tudo”, disse. “Eu sou, realmente, a Constituição”. Um de seus eleitores chegou a gritar palavras de ordem em defesa do fechamento do STF. Ao contrário do dia anterior, porém, quando se calou diante de pedidos de volta da ditadura, Bolsonaro o repreendeu. “Sem essa conversa de fechar. Aqui não tem que fechar nada, dá licença aí. Aqui é democracia, aqui é respeito à Constituição. (...) Supremo aberto, transparente. Congresso aberto, transparente”, insistiu Bolsonaro. No domingo, em cima da caçamba de uma caminhonete, o presidente disse que a época da “patifaria” chegara ao fim. “Nós não queremos negociar nada. Nós queremos ação pelo Brasil”, afirmou, na ocasião, em discurso inflamado. O presidente tentou culpar a imprensa por vincular sua presença na manifestação à defesa de um novo AI-5, o mais duro ato da ditadura, e de um golpe no País. “Onde vocês estão com a cabeça?”, perguntou
Em tom irônico, Bolsonaro afirmou ser impossível conspirar contra ele próprio. “Falta um pouco de inteligência para aqueles que me acusam de ser ditatorial. O pessoal geralmente conspira para chegar ao poder. Eu já estou no poder. Então, eu estou conspirando contra quem, meu Deus do céu?” Apesar do passo atrás, Bolsonaro deu uma estocada indireta no presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). “O meu time não trabalha de madrugada. O meu time trabalha à luz do dia”, disse o presidente, convencido de que Maia age para derrubá-lo.
+++ O recuo destacado pela reportagem é capaz de repreender aqueles que se manifestaram por uma intervenção militar e por um novo AI-5? Parece que ele serve mais para manter aparências do que tenha qualquer efeito prático ou que diga algo sobre como realmente pensa o presidente.
ENTREVISTA: ROBERTO JEFFERSON, presidente nacional do PTB - *”Para derrubar o presidente, só se for a bala”*
+++ E ainda abrem espaço para Roberto Jefferson dar sua opinião.
*”EUA pregam respeito a autoridades de saúde”*
*”Zema busca apoio de presidente para obter recursos”*
*”Acordo entre rivais evita nova eleição em Israel e Netanyahu fica no poder”* - O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, e seu rival Benny Gantz fecharam ontem um acordo para formar um governo de emergência em meio à pandemia do coronavírus. A decisão põe fim a um ano de paralisia política, marcada pela ausência de maioria no Parlamento após três eleições e consolida Netanyahu no poder, mais uma vez, mesmo após o premiê ter sido indiciado por corrupção. O novo governo terá duração de três anos, sendo a primeira metade liderada por Netanyahu, do partido de direita Likud, e a outra, por Gantz, da coalizão Azul e Branco. Ele serviria como vice-premiê nesta primeira fase do acordo. Como aliados, Gantz e Bibi evitam uma quarta eleição, baixam o tom da retórica política dos últimos meses e oferecem uma chance de unir o país em meio à pandemia.
Em relação a Gantz, ex-chefe do Exército e novato na política, o acordo foi interpretado por muitos como um sinal de fraqueza. Suas três campanhas foram feitas com a promessa de tirar Netanyahu do poder. A decisão foi considerada “traição” por muitos deputados do Azul e Branco, principalmente porque, durante o impasse, Gantz foi ridicularizado pelo premiê. Duas figuras importantes do Azul e Branco, Yair Lapid e Moshe Yaalon, criticaram o exgeneral e definiram o acordo como “rendição”. “O que está sendo formado em Israel não é um governo de emergência nacional, nem um governo de união nacional. É um outro governo de Netanyahu. Benny Gantz se rendeu sem lutar e rastejou na direção de Netanyahu”, disse Lapid. Apesar do senso de urgência de formar um governo para combater o coronavírus, o acordo não resolve definitivamente diferenças políticas importantes entre os dois. Netanyahu pretende anexar territórios palestinos na Cisjordânia, mas Gantz diz que só apoia a anexação se houver consenso internacional, o que não deve ocorrer. O acordo entre os dois adia a anexação até 1.º de julho e declara que ela deve ser feita de maneira a salvaguardar os interesses de Israel, “incluindo as necessidades de preservar a estabilidade regional, protegendo os acordos de paz existentes e aspirando a futuros”. No entanto, o trato deixa as determinações para o governo e diz que Gantz só terá direito a ser “consultado” sobre o tema e não terá poder de veto.
No muro. As negociações entre Netanyahu e Gantz, que já eram complicadas em razão das diferenças entre os dois, se tornaram ainda mais difíceis com a pandemia. Em determinado momento, Bibi ficou isolado em seu bunker, em Jerusalém, de quarentena depois que o ministro da Saúde, Yaakov Litzman, testou positivo para covid-19. Segundo o Channel 13, uma das principais emissoras de Israel, Gantz ficava no pátio do complexo do premiê em Jerusalém, com Netanyahu dentro da residência oficial, e os dois conversavam aos gritos sobre a formação do futuro gabinete. Resta saber agora como a política israelense vai lidar com o julgamento de Netanyahu – é a primeira vez que Israel tem um primeiro-ministro indiciado no exercício do cargo. Em novembro, o procurador-geral, Avichai Mandelblit, transformou Bibi em réu em três casos. O primeiro escândalo se refere ao “Caso 4000”, em que Netanyahu é acusado de dar concessões regulatórias a Shaul Elovitch, acionista controlador da empresa de telecomunicações Bezeq, em troca de cobertura favorável de seu site de notícias Walla. Já o “Caso 2000” é sobre um acordo entre Netanyahu e Arnon Mozes, dono do jornal Yediot Aharonot, por uma cobertura favorável em troca de ações governamentais contra o diário rival Israel Hayom. Por fim, no “Caso 1000”, o premiê é acusado de fraude e de quebra de confiança por aceitar presentes caros de empresários ricos, entre eles o do magnata de Hollywood Arnon Milchan, também em troca de favores.
*”São Paulo prepara plano de abertura gradual da economia pós-quarentena”*
*”Planos resistem a aceitar inadimplentes”*
*”Preços do petróleo derretem nos EUA e barril é negociado abaixo de zero”*
*”Selic deve ter novo corte, sinaliza BC”*

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