terça-feira, 7 de abril de 2020

Mídia 07/04

DOS JORNAIS DE HOJE: A notícia de maior destaque em todos os jornais é a permanência do ministro da Saúde no cargo apesar de toda a indisposição com o presidente da República. DE acordo com as reportagens, a pressão da ala militar, do Congresso, do Judiciário e de servidores impediu que Jair Bolsonaro demitisse Luiz Henrique Mandetta. Os jornais tratam dos pontos de discordância entre os dois e ressaltam a postura do ministro durante a entrevista coletiva logo após a decisão pela permanência.
A Folha de S. Paulo informa que a rejeição a Jair Bolsonaro cresceu também entre a parcela mais pobre da sociedade. O jornal também publica reportagens sobre as relações trabalhistas, mas ouve majoritariamente representantes do empresariado. Segundo a Folha, empresários querem que benefícios concedidos pelo governo durante a pandemia sejam mantidos quando ela acabar. O presidente da UGT foi o único ouvido pela reportagem e afirmou que a agenda de Paulo Guedes deve avançar a despeito da vontade dos trabalhadores que estão tendo que aceitar as medidas sem possibilidade de discussão. Por outro lado, o jornal informa que o ministro do STF Ricardo Lewandowski decidiu que acordos individuais entre patrão e trabalhador devem ter o aval dos sindicatos. A reportagem trata a decisão como prejudicial para o setor empresarial e não consulta representantes dos trabalhadores. Ainda sobre o noticiário econômico, a Folha entrevista o presidente da Abimaq que revela conflito com os banqueiros. Ele afirma que os bancos estão atrapalhando o país nesse momento.
Fora do noticiário relaciona à pandemia, o Estadão informa que a empresa Ecovias, concessionária de rodovias no estado de São Paulo, denunciou a ação de um cartel em editais de concessão de rodovias em SP. O grupo estaria atuando desde 1998.
Os quatro jornais se mantêm críticos ao presidente Jair Bolsonaro, mas não à agenda econômica de Paulo Guedes. Além disso, a falta de pluralidade de ideias permanece como de costume.
 
 
 
CAPA – Manchete principal: *”Após ameaça de Bolsonaro, Mandetta diz que continua”*
EDITORIAL DA FOLHA - *”Orçamento da crise”*: Se um quase consenso une diferentes correntes políticas e ideológicas em torno da necessidade de expandir vigorosamente as despesas públicas durante o combate à Covid-19, também precisa estar claro que apenas gastos de caráter temporário devem ser criados para o enfrentamento da crise. Aí está o mérito maior da proposta de emenda constitucional (PEC) que altera normas de gestão das finanças públicas na vigência do estado de calamidade, já aprovada pela Câmara dos Deputados. Batizada, espera-se que com exagero, de PEC do Orçamento de Guerra, a matéria busca abrir caminho legal para a expansão rápida e ampla de desembolsos relacionados à crise, com relaxamento momentâneo de limites e controles aplicados na condução ordinária da máquina administrativa. Apenas em novas despesas primárias, ou seja, não financeiras, já se estima um impacto de R$ 224,6 bilhões neste ano, o equivalente a 3% do Produto Interno Bruto ou a quase sete anos de pagamentos do programa Bolsa Família. Esse montante inclui medidas cruciais de amparo aos estratos mais vulneráveis da população, casos do auxílio emergencial de R$ 600 a trabalhadores informais e famílias de baixa renda (R$ 98,2 bilhões) e do complemento ao salários de empregados formais com jornada reduzida (R$ 51,2 bilhões).
Tais gastos urgentes extrapolarão o teto inscrito na Constituição e serão bancados por meio de endividamento, o que não seria possível em tempos normais. A PEC também fixa prazo reduzido, de 15 dias úteis, para o exame de medidas provisórias que criem despesas extraordinárias. De mais controverso, o texto permite que o Banco Central compre títulos públicos e privados, de modo a garantir o financiamento do Tesouro Nacional e a evitar uma paralisia do mercado de crédito. A providência, já adotada por outros países, gerou temores de favorecimento indevido ao setor financeiro. Não parece coincidência, assim, que o Conselho Monetário Nacional tenha limitado temporariamente o pagamento de dividendos e o aumento da remuneração de administradores de bancos. A proposta de emenda constitucional cria um Comitê de Gestão da Crise, comandado pelo Executivo federal mas com representantes —sem direito a voto— dos governos estaduais e municipais. O colegiado terá a missão de deliberar sobre contratação temporária de pessoal, obras, serviços e compras. O Legislativo, que conduz as iniciativas mais importantes nesta crise, dá nova oportunidade ao governo Jair Bolsonaro de exercer sua liderança natural. O chefe de Estado, infelizmente, permanece dedicado à discórdia contínua.
PAINEL - *”Alcolumbre diz a aliados que Bolsonaro é motorista de caminhão que acelera em direção a muro e não freia”*: Jair Bolsonaro foi descrito pelo presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (DEM-AP), em conversas reservadas nesta segunda (6), como o motorista de um caminhão em alta velocidade em direção a um muro, e que mesmo alertado de que vai bater, não para. A imagem foi usada em referência à guerra fria travada com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Para observadores, a cada nova ameaça de demissão não cumprida, é Bolsonaro que se desgasta e passa a imagem de fraqueza. A entrevista de Mandetta anunciando que vai continuar à frente da Saúde escancarou a fragilidade do presidente, na avaliação de parlamentares. O ministro levou toda a equipe para falar com jornalistas, abriu espaço para representantes de entidades darem apoio à sua permanência, agradeceu até a imprensa pela preocupação com o seu futuro, mas não fez nenhuma referência elogiosa a Bolsonaro. Para integrantes do Judiciário, o auge da desmoralização do presidente foi quando Mandetta teve, de novo, de desdenhar do uso da cloroquina antes da comprovação científica. O ministro disse que foi colocado em uma salinha depois da reunião com o presidente para ouvir duas pessoas pedirem um decreto para liberar o uso. A salinha era dentro do Palácio do Planalto.
A decisão do Ministério da Saúde de flexibilizar as medidas de isolamento a partir do dia 13 de abril, revelada pelo Painel, pode diminuir uma parte do confronto entre Mandetta e Bolsonaro, na avaliação de técnicos e parlamentares. Mas não deve ser suficiente. Para a classe política, a ruptura é irreversível. A fritura do ministro é creditada, no Legislativo, ao filho Eduardo, que advoga nos bastidores pela nomeação de Nise Yamaguchi, médica defensora do uso da cloroquina em pacientes com coronavírus. O deputado tenta, com isso, emplacar antagonismo com João Doria (PSDB) em São Paulo.
PAINEL - *”Depen diz que penitenciárias têm déficit de médicos”*
PAINEL - *”Notícia falsa contra Mandetta se espalha em grupos de Whatsapp”*
*”Bolsonaro avalia demitir Mandetta, sofre pressão, e ministro da Saúde diz que fica”* - O presidente Jair Bolsonaro avalia demitir o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, para substituí-lo por um nome técnico que seja defensor da utilização da hidroxicloroquina no tratamento de pacientes com coronavírus, mas uma ala de ministros atua para que ele não exonere o auxiliar. Integrantes do chamado núcleo moderado do governo, que inclui militares, falaram nesta segunda-feira (6) desde cedo com Bolsonaro na tentativa de demovê-lo da ideia de exonerar Mandetta no curto prazo. Em conversas reservadas, o presidente chegou a dizer que a situação estava insustentável. Mandetta, porém, afirmou à noite que vai permanecer no cargo. "Vamos continuar enfrentando o nosso inimigo, que tem nome e sobrenome, o Covid-19. Temos uma sociedade para lutar e proteger, médico não abandona paciente e não vou abandonar", disse, em entrevista coletiva, depois de uma reunião com Bolsonaro e outros ministros no Planalto. “Hoje foi um dia que rendeu muito pouco o trabalho do ministério. Teve gente limpando gaveta, pegando as coisas. Até as minhas gavetas", completou Mandetta. ​Num primeiro momento, a pressão a favor de Mandetta fez efeito. Ministros de fora do Palácio do Planalto estavam apreensivos com a reunião ministerial convocada por Bolsonaro para o final da tarde desta segunda, com receio de que ele anunciasse a saída do titular da Saúde. O encontro teve um clima tenso, segundo relatos, mas o presidente não deu sinais de uma exoneração próxima.
Depois da reunião, Mandetta recebeu aplausos no ministério e disse que, "mesmo que venha outra equipe, estamos aqui para ajudar". "Não é hora de aplaudir ninguém, não terminou nada", disse. “É o que já falei: lavoro, lavoro, lavoro.”​ Sem citar Bolsonaro, ele pediu "paz" para trabalhar. Mandetta afirmou que após a reunião com o presidente foi levado para uma sala para discutir um protocolo de hidroxicloroquina "por decreto". Apontando para Denizar Vianna, secretário de Ciência e Tecnologia e Insumos, ele disse que deveriam discutir com ele a questão. Segundo Mandetta, novas medidas devem ser tomadas pela “ciência, disciplina, planejamento e foco". Na reunião, Bolsonaro e Mandetta expuseram divergências sobre o uso da cloroquina em casos de coronavírus. O presidente disse que havia conversado com especialistas que defendiam o uso do remédio em estágio inicial da doença e cobrou um protocolo sobre a substância durante a pandemia. Bolsonaro citou um estudo da operadora Prevent Senior e do Hospital Albert Einstein que envolve o uso do medicamento, também usado contra malária, em pacientes com a Covid-19. O ministro da Saúde, por sua vez, disse que a pesquisa citada ainda não havia sido publicada e defendeu que não há ainda protocolos seguros sobre o uso do remédio.
Bolsonaro não refutou e ouviu de ministros apelos para que a equipe mantenha a união. A reunião serviu, dizem ministros, para Bolsonaro reforçar sua autoridade. O presidente disse que está sob ataque de adversários, reclamou de governadores e da imprensa, e por isso quer seus ministros atuando unidos. Bolsonaro frisou, porém, que será dele a palavra final sobre as medidas de combate ao coronavírus. Segundos relatos, o chefe do Executivo disse que no passado deixou a equipe muito livre para tomar decisões. Mas afirmou que, agora, diante da atual crise, ele quer ser informado em detalhes sobre o que cada pasta planeja. Em dado momento, o presidente direcionou a fala ao ministro da Economia, Paulo Guedes, e disse que ele e Mandetta precisavam encontrar um ponto de equilíbrio entre saúde e economia. Apesar de não ter indicado que vai demitir o ministro da Saúde, aliados de Bolsonaro avaliam que ele cobrou do auxiliar medidas concretas que prevejam a retomada de atividades nos próximos meses com segurança para a população. No final do encontro, Mandetta disse que está no governo para contribuir, em um aceno ao presidente. "Eu acho que a coisa vai se ajustando"​, disse à Folha o vice-presidente, Hamilton Mourão.
Apesar de não ter dado sinais na reunião de que vai demitir o ministro, aliados de Bolsonaro o consideram imprevisível e por isso buscam alternativas para o cargo. A ideia é encontrar um nome favorável ao uso da hidroxicloroquina. A ideia inicial de Bolsonaro era exonerar o auxiliar presidencial apenas em junho, de modo a não correr o risco de ser responsabilizado sozinho caso o sistema de saúde entre em colapso durante a pandemia da doença. Em conversas reservadas nesta segunda, no entanto, o presidente disse que não tinha como manter o auxiliar no cargo. Para Bolsonaro, ele o tem desafiado em declarações públicas e não conta mais com sua confiança. O núcleo moderado do Palácio do Planalto defende que, caso o presidente substitua Mandetta, escale um médico com um currículo respeitável, que ajude a reduzir um eventual desgaste público com a saída de Mandetta. Sem a presença de Mandetta, o presidente almoçou com os quatro ministros palacianos e com o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS). O parlamentar, cotado para o posto e defensor da hidroxicloroquina e do isolamento vertical, tem ajudado o presidente em uma eventual transição da pasta. Além deles, também estava presente no encontro a médica Nise Yamaguchi, que defende o uso de hidroxicloroquina para casos de coronavírus em estágio inicial.
O nome dela, que tem o apoio do grupo ideológico, passou a ser apontado pelo entorno de Bolsonaro como um dos possíveis para substituir Mandetta caso ele seja demitido. Outro nome que conta com a simpatia de Bolsonaro é o do cardiologista Otávio Berwanger. Ele esteve com o presidente na semana passada em reunião com médicos no Palácio do Planalto. O chefe do Executivo tem se incomodado com a demora do Ministério da Saúde em apresentar um protocolo claro para o uso da hidroxicloroquina. Bolsonaro também se queixa da falta de um plano detalhado para o combate ao vírus e retorno de atividades nos estados.​ Na semana passada, Bolsonaro já estava prestes a demitir Mandetta, mas foi demovido por aliados próximos. Nesta segunda, ele ainda recebeu recados negativos do Poder Legislativo. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já informaram ao Palácio do Planalto que apoiam a permanência do ministro. O receio da articulação política é de que uma demissão possa estimular retaliações em votações do governo. Alcolumbre falou ao menos com três ministros —Walter Braga Netto (Casa Civil), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Onyx Lorenzoni (Cidadania), que também é do DEM. O recado foi o mesmo: se Mandetta for exonerado, não apenas o combate ao coronavírus ficaria prejudicado, mas também a relação com o Congresso. No sábado (4), Alcolumbre recusou novamente um encontro com Bolsonaro. Procurado por Ramos, manteve a negativa por entender que o presidente iria querer conversar para convencê-lo da demissão de Mandetta. Na quinta-feira (2), Alcolumbre, assim como Maia, já havia recusado encontro com Bolsonaro. Os dois acabaram jantando com Mandetta.
Nos últimos dias, Bolsonaro chegou a afirmar que falta humildade a Mandetta e que ele extrapolou. O presidente tem divergido, entre outras coisas, das medidas de isolamento social defendidas por Mandetta para combater a pandemia do coronavírus. Bolsonaro adotou um discurso contrário ao fechamento de comércio nos estados, enquanto Mandetta defende que as pessoas fiquem em casa. Após essa declaração, dada na quinta-feira (2), o ministro reagiu em seguida e disse: "Não comento o que o presidente da República fala. Ele tem mandato popular, e quem tem mandato popular fala, e quem não tem, como eu, trabalha". Nos bastidores, Mandetta vem dizendo a aliados que não pretende pedir demissão e só sairá do cargo por decisão de Bolsonaro. Neste domingo, por exemplo, sem citar nomes, Bolsonaro disse que integrantes de seu governo "viraram estrelas" e que a hora deles vai chegar. Em uma ameaça velada de demiti-los, disse não ter "medo de usar a caneta". "[De] algumas pessoas do meu governo, algo subiu à cabeça deles. Estão se achando demais. Eram pessoas normais, mas, de repente, viraram estrelas, falam pelos cotovelos, tem provocações. A hora D não chegou ainda não. Vai chegar a hora deles, porque a minha caneta funciona", afirmou Bolsonaro. "Não tenho medo de usar a caneta, nem pavor. E ela vai ser usada para o bem do Brasil. Não é para o meu bem. Nada pessoal meu", disse o presidente.
Além de Mandetta, outros ministros têm discordado de Bolsonaro nessa crise. Conforme a Folha mostrou, Sergio Moro (Justiça) e Paulo Guedes (Economia) uniram-se nos bastidores no apoio ao colega da Saúde e na defesa da manutenção das medidas de distanciamento social e isolamento da população. O trio formou uma espécie de bloco antagônico, com o apoio de setores militares, criando um movimento oposto ao comportamento do presidente. Segundo pesquisa Datafolha realizada na semana passada, a aprovação da condução da crise do coronavírus pelo Ministério da Saúde disparou e já é mais do que o dobro da registrada por Bolsonaro. Governadores e prefeitos também têm avaliação superior à do presidente. Na rodada anterior, feita de 18 a 20 de março, a pasta conduzida por Mandetta tinha uma aprovação de 55%. Agora, o número saltou para 76%, enquanto a reprovação caiu de 12% para 5%. Foi de 31% para 18% o número daqueles que veem um trabalho regular da Saúde. Já o presidente viu sua reprovação na emergência sanitária subir de 33% para 39%, crescimento no limite da margem de erro. A aprovação segue estável (33% ante 35%), assim como a avaliação regular (26% para 25%).​ A relação entre o ministro e Bolsonaro vem numa escalada de tensão e subiu no final de março, quando o presidente resolveu dar um passeio pela periferia de Brasília, contrariando todas as orientações do Ministério da Saúde. O giro de Bolsonaro ocorreu um dia após Mandetta ter reforçado a importância do distanciamento social à população nesta etapa da pandemia do coronavírus.
*”Limparam até as minhas gavetas, diz Mandetta ao anunciar permanência na Saúde”*
ANÁLISE - *”Com o aval dos militares, Mandetta diz que Bolsonaro fica onde está”*
*”Balançando no cargo, Mandetta tem o passe desejado por governadores”*
*”Reprovação a Bolsonaro na gestão da pandemia cresce entre os mais pobres, diz Datafolha”* - A avaliação negativa do trabalho de Jair Bolsonaro na crise do coronavírus subiu entre os brasileiros de baixa renda, segundo a última pesquisa Datafolha. Já a aprovação ao desempenho do presidente nesse grupo permaneceu estável. Na faixa da população que tem renda familiar de até dois salários mínimos por mês (R$ 2.090), o percentual de entrevistados que dizem que Bolsonaro faz um trabalho ruim ou péssimo no combate à pandemia passou de 33% para 40% em duas semanas. Os dados fazem parte do levantamento feito pelo Datafolha de quarta (1º) até sexta-feira (3). O instituto ouviu 1.511 pessoas por telefone, para evitar contato pessoal, e tem margem de erro de três pontos percentuais para mais ou menos. Variações semelhantes ocorreram nas faixas intermediárias de renda. A reprovação ao desempenho de Bolsonaro passou de 29% para 36% no grupo que recebe de dois a cinco salários. Na faixa com renda de cinco a dez salários, o aumento foi de oito pontos: de 34% para 42%. Houve queda de 51% para 46% na fatia com renda superior a dez salários. Os índices de rejeição ainda são mais altos entre os mais ricos, mas os números apontam uma mudança de percepção na base da pirâmide social. Quase metade da população brasileira recebe menos de dois salários mínimos por mês. Na pesquisa anterior, realizada de 18 a 20 de março, os índices negativos para Bolsonaro haviam sido puxados pelas fatias mais ricas e mais escolarizadas da população —que tinham maior facilidade de acesso à informação e afirmavam ter maior conhecimento sobre o coronavírus. Segundo o Datafolha, a discussão sobre o tema se disseminou. A taxa dos que se julgam bem informados sobre a pandemia subiu cinco pontos entre eleitores que estudaram apenas até o ensino fundamental e quatro pontos no segmento de baixa renda.
Apesar do aumento na reprovação, Bolsonaro também deve a esses segmentos a estabilidade de sua avaliação positiva. O apoio ao desempenho do presidente no estrato mais pobre da população permaneceu inalterado entre as duas pesquisas, em 32%. Diretores do Datafolha, Mauro Paulino e Alessandro Janoni apontam que esses segmentos possuem maior vulnerabilidade econômica, com taxas acima da média de informalidade no mercado de trabalho, ou são trabalhadores registrados com baixos salários, com maior temor do desemprego. Bolsonaro investe em argumentos econômicos para sustentar sua posição contrária às medidas de isolamento social decretadas por governadores e prefeitos em diversas partes do país, como o fechamento do comércio. "Vocês sabem do meu posicionamento: não pode fechar dessa maneira, e atrás disso vem desemprego em massa, miséria, fome, vem violência", disse o presidente na última sexta-feira. A redução da atividade econômica e o fechamento de escolas para conter o alastramento do vírus já impactou a população mais pobre. Muitos trabalhadores informais tiveram corte de renda, e crianças perderam acesso à alimentação que era servida na rede pública de ensino. ​
O governo lançou um programa emergencial de renda para esses segmentos. O pagamento foi ampliado para R$ 600 por mês após negociação com o Congresso, mas a transferência ainda não foi realizada. Bolsonaro prometeu repassar o dinheiro a partir desta semana.​ Os índices negativos sobre a conduta do presidente ainda são maiores em grupos com grau de escolaridade mais alto: no estrato com ensino superior completo, 50% dizem que o presidente faz um trabalho ruim ou péssimo. Outros 28% aprovam seu desempenho. A reprovação, no entanto, subiu nos segmentos com menor nível de instrução. Passou de 27% para 35% na faixa da população que concluiu o ensino fundamental e subiu de 31% para 38% no grupo com ensino médio completo. O maior índice de entrevistados que gostariam que Bolsonaro renunciasse ao mandato aparece entre os eleitores mais pobres. No segmento com renda familiar de até dois salários mínimos, 41% acham que o presidente deveria deixar o cargo. Outros 54% são contrários à sua saída. Os percentuais favoráveis à renúncia são menores nas outras faixas de renda: 33% no grupo que recebe de dois a cinco salários mínimos, 29% no segmento que ganha de cinco a dez salários, e 39% no bloco com rendimento superior a dez salários.
DEPOIMENTO – *”Cheerleaders de Cristo avacalharam o jejum, eu não”*
*”Ignorar isolamento é nova obsessão de Bolsonaro; relembre outras desde o início do governo”*
JOEL PINHEIRO DA FONSECA - *”Direita populista agrava a crise ao apostar no egoísmo desenfreado”*
*”Projeções em prédios ganham espaço em panelaços contra Bolsonaro”*
*”Prescrição e atraso de processos em meio ao coronavírus levam Judiciário a buscar opções”*
*”Doria escolhe segundo colocado em votação interna para comandar Ministério Público de SP”* - O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), escolheu Mário Luiz Sarrubbo para o cargo de procurador-geral de Justiça, o mais alto posto do Ministério Público do estado. Sarrubbo foi o segundo colocado na eleição interna da categoria, que neste ano tinha apenas dois candidatos. Com 657 votos, Sarrubbo ficou atrás do seu concorrente, o procurador de Justiça Antonio Carlos da Ponte, que teve 1.020 votos. No estado de São Paulo, a lei estipula que o governador deve escolher o procurador-geral de Justiça entre os três mais votados pela categoria. Com apenas duas candidaturas, Sarrubbo e Ponte já estavam, portanto, garantidos na lista que seria analisada por Doria. O chefe do Executivo não precisava, porém, respeitar o resultado da votação para a escolha do comandante do Ministério Público. O mandato do atual procurador-geral de Justiça, Gianpaolo Poggio Smanio, vai até o dia 16 de abril. A posse de Sarrubbo como novo chefe do Ministério Público será na semana que vem. Por causa da pandemia do novo coronavírus, a eleição deste ano foi a primeira da história 100% online. Não houve postos físicos de votação nos prédios do Ministério Público. Os promotores e procuradores votaram de casa por um sistema online com senha e criptografado –o voto é obrigatório e secreto. Na eleição passada, em 2018, já havia o sistema de votação remota, mas existia também a opção de votar presencialmente nas sedes das Promotorias. Na ocasião, Gianpaolo Poggio Smanio foi o mais votado e acabou escolhido pelo chefe do Executivo estadual para o segundo mandato no cargo de procurador-geral de Justiça. Em 2018, tanto Ponte quanto Sarrubbo apoiaram Smanio. Desta vez, Smanio escolheu Sarrubbo como seu candidato.​
A pandemia também afetou o trabalho dos candidatos na busca pelos votos. Em janeiro, Ponte e Sarrubbo iniciaram uma campanha convencional, visitando seus colegas pelo estado. Mas do dia 17 de março em diante, quando começou a orientação para a quarentena, os dois usaram as redes sociais e aplicativos de mensagens para tentar convencer os eleitores. Mário Sarrubbo tem 57 anos de idade e ingressou no Ministério Público paulista em 1989. Dirigiu a Escola Superior do Ministério Público e é professor de direito penal na Faap (Fundação Armando Alvares Penteado). Durante a campanha, Sarrubo prometeu mais funcionários para os gabinetes e uma gestão mais racional dos recursos do orçamento, com a contratação, inclusive, de um gestor profissional de fora dos quadros da Promotoria. Em vídeos para os promotores, ele mencionou a proposta de litigância estratégica [linha de atuação dos promotores nos processos], falou em diálogo com a sociedade e no “projeto estratégico do MP social” para definir prioridades.
+++ A manchete faz parecer que a reportagem vai trazer alguma informação contestadora da decisão do governador, mas não.
*”Próximo presidente do TSE, Barroso dá prazo até junho para definir eleição e se diz contra adiá-la para 2022”* - O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) deve decidir em junho se adia ou não as eleições municipais deste ano. A afirmação, feita em entrevista ao UOL, foi do ministro do STF, Luís Roberto Barroso, que em maio assume a presidência do TSE. O adiamento do pleito, marcado para outubro, vem sendo cogitado devido à pandemia do novo coronavírus. "A verdade é que nós estamos monitorando a evolução da doença. Não gostaria de adiar as eleições, acho que ainda não é preciso decidir isso neste momento, mas acho que não podemos fechar os olhos a este risco. Imaginaria junho como sendo o momento em que nós temos que ter uma definição. O que eu sou radicalmente contra é o cancelamento das eleições e fazer todas coincidirem em 2022", disse Barroso. Para o ministro, o seria adiar "por um prazo máximo de dois meses" as eleições deste ano. Unir as eleições municipais e nacionais violaria, para ele, a "vontade do eleitor" que votou para um mandato de quatro anos dos governantes. Ele ainda avalia que o excesso de candidatos criaria "um inferno gerencial". "Nós estamos estimando 750 mil candidatos entre prefeitos e vereadores. Se você juntar isso a milhares de candidatos nas eleições nacionais vai criar um inferno gerencial nestas eleições", afirmou.
*”Sintomas de coronavírus pioram, e Boris Johnson vai para UTI”*
*”Noruega afirma que pandemia está sob controle no país”*
*”Dinamarca diz que pode reabrir escolas depois da Páscoa”*
*”Equador usa caixões de papelão para suprir demanda de mortos por coronavírus”*
*”Vírus fará com que maior parte dos votos na eleição dos EUA seja por correio, afirma Biden”*
*”Japão anuncia estímulo de 20% do PIB em combate ao coronavírus”*
*”Racista, postagem de Weintraub é negativa para relação com Brasil, diz embaixada da China”* - A embaixada da China reagiu no início da madrugada desta segunda-feira (6) à manifestação do ministro da Educação, Abraham Weintraub, que associou a origem da Covid-19 ao país. "Deliberadamente elaboradas, tais declarações são completamente absurdas e desprezíveis, que têm cunho fortemente racista e objetivos indizíveis, tendo causado influências negativas no desenvolvimento saudável das relações bilaterais China-Brasil", diz nota divulgada pela embaixada nas redes sociais. "O lado chinês manifesta forte indignação e repúdio a esse tipo de atitude." No sábado (4), em postagem em uma rede social, o ministro usou o personagem Cebolinha, da Turma da Mônica, para fazer chacota da China. "Geopolíticamente, quem podeLá saiL foLtalecido, em teLmos Lelativos, dessa cLise mundial? PodeLia seL o Cebolinha? Quem são os aliados no BLasil do plano infalível do Cebolinha paLa dominaL o mundo? SeLia o Cascão ou há mais amiguinhos?", escreveu o membro do gabinete do presidente Jair Bolsonaro, trocando a letra "r" por "l", assim como na criação de Mauricio de Sousa.
A mudança das letras ridiculariza o sotaque de muitos asiáticos ao falar português. Junto à postagem, Weintraub colocou a capa de um dos gibis da Turma da Mônica cujo enredo se passa na China. Depois, o ministro apagou a postagem de sua conta no Twitter. Em resposta, a embaixada da China acrescentou ainda que a pandemia da Covid-19 está se espalhando globalmente e traz um desafio que nenhum país consegue enfrentar sozinho. "A maior urgência neste momento é unir todos os países numa proativa cooperação internacional para acabar com a pandemia com a maior brevidade, com vistas a salvaguardar a saúde pública mundial e o bem-estar da humanidade", diz a nota. A embaixada reforça ainda que a OMS (Organização Mundial da Saúde) e a comunidade internacional se opõem à associação do coronavírus a um país ou região, combatendo a estigmatização. Na manhã desta segunda o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, publicou mensagem no Twitter na qual diz que "o lado chinês aguarda uma declaração oficial do lado brasileiro sobre as palavras feitas pelo ministro da Educação, membro do governo brasileiro". "Nós somos cientes de que nossos povos estão do mesmo lado ao resistir às palavras racistas e salvaguardar nossa amizade. Esse não é o primeiro ataque de uma pessoa ligada ao presidente Jair Bolsonaro contra o país onde se registrou o começo da pandemia e que, por isso, é acusado de ter gerado a crise mundial da Covid-19. Wanming já havia feito duras críticas ao deputado federal Eduardo Bolsonaro após o filho do presidente, também em uma rede social, comparar a pandemia do coronavírus ao acidente nuclear de Tchernóbil, na Ucrânia, em 1986.
As autoridades, à época submetidas a Moscou, ocultaram a dimensão dos danos e adotaram medidas de emergência que custaram milhares de vidas. "A culpa é da China [pela crise da Covid-19] e liberdade seria a solução." O episódio gerou crise diplomática entre os países. Com a repercussão do caso, o deputado federal afirmou no dia seguinte às declarações que jamais quis ofender o povo chinês e ressaltou que o embaixador chinês não refutou seus argumentos sobre o surgimento do coronavírus. Entre membros do Planalto, o vice-presidente Hamilton Mourão disse que o filho de Bolsonaro não falava em nome do governo, enquanto a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou que a "posição do governo brasileiro é de amizade com a China". A China é o maior parceiro comercial do Brasil. Em 2018, 26,7% das exportações brasileiras tiveram o país asiático como destino —Pequim lidera o ranking de compradores dos produtos brasileiros, segundo o Ministério da Economia. Entre 2003 e 2019, investiu US$ 79 bilhões no Brasil. A crise fez com que o presidente brasileiro telefonasse para o dirigente da China, Xi Jinping, para aparar as arestas criadas pelo filho. Ao comentar a ligação, também em uma rede social, Bolsonaro disse que ele e o líder chinês reafirmaram "nossos laços de amizade, troca de informações e ações sobre a Covid-19 e ampliação de nossos laços comerciais".
*”Weintraub condiciona desculpas à China por 'imbecilidades' a venda de respiradores ao Brasil”* - O ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse nesta segunda-feira (6) que pode pedir perdão por uma postagem considerada racista pela embaixada da China no Brasil caso o país se comprometa a fornecer respiradores ao Brasil. Em postagem numa rede social no sábado (4), o ministro usou o personagem Cebolinha, da Turma da Mônica, para fazer chacota da China e associar a pandemia de coronavírus a interesses do país asiático. Na mensagem, ele trocou a letra "r" por "l", assim como na criação de Mauricio de Sousa, ridicularizando o sotaque de muitos chineses ao falar português. Apesar da postagem, Weintraub negou nesta segunda, em entrevista à Rádio Bandeirantes, que seja racista, disse que já esteve no país e que até tem amigos chineses. "Eu sou brasileiro. Então, vou fazer o seguinte, meu acordo aqui: vou lá, peço desculpa, falo 'por favor, me perdoem pela minha imbecilidade', e a única condição que tenho é que, dos 60 mil respiradores que estão disponíveis, eles vendam mil respiradores para o MEC, para salvar a vida dos brasileiros, pelo preço de custo", disse na entrevista ao jornalista José Luiz Datena. O ministro cita que há necessidade de mil respiradores na rede de hospitais universitários ligada ao MEC, que também atende pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde). Weintraub apagou a mensagem publicada no Twitter, no sábado, que tinha o seguinte conteúdo: "Geopolíticamente, quem podeLá saiL foLtalecido, em teLmos Lelativos, dessa cLise mundial? PodeLia seL o Cebolinha? Quem são os aliados no BLasil do plano infalível do Cebolinha paLa dominaL o mundo? SeLia o Cascão ou há mais amiguinhos?", escreveu o membro do gabinete do presidente Jair Bolsonaro. A embaixada da China reagiu à manifestação do ministro no início da madrugada desta segunda-feira (6), por meio de uma nota publicada no Twitter, na qual classifica as declarações do ministro de "absurdas e desprezíveis", com "cunho fortemente racista e objetivos indizíveis, tendo causado influências negativas no desenvolvimento saudável das relações bilaterais China-Brasil".
"O lado chinês manifesta forte indignação e repúdio a esse tipo de atitude", completou. Weintraub minimizou a mensagem e disse que a apagou a postagem a pedido de um amigo, e não do presidente Bolsonaro. "Falar que eu sou racista é uma acusação que, se fosse um brasileiro, ia ter que provar na Justiça." Na entrevista, o titular da Educação ainda acusou a China de negligenciar informações sobre a doença e agora quer lucrar "com a tragédia". "O governo da república chinesa, onde começou o coronavírus, poderia ter alertado o mundo inteiro que ia faltar respirador. Que nós teríamos três meses para fazer respirador. Isso não foi feito", disse. "Agora que estamos desesperados correndo atrás de respirador, o que é que acontece? Aparecem 60 mil respiradores na China, e eles estão leiloando. Aparece um monte de equipamento, de proteção, de máscara, e eles estão leiloando. Então, assim, teve tempo de eles se prepararem para vender para o mundo, pelo preço mais alto, respirador e máscara." Esse não é o primeiro ataque de uma pessoa ligada ao presidente Jair Bolsonaro contra a China, país onde foi registrado o começo da pandemia e que, por isso, é acusado de ter gerado a crise mundial da Covid-19. A embaixada já havia feito duras críticas ao deputado federal Eduardo Bolsonaro após o filho do presidente, também em rede social, comparar a pandemia do coronavírus ao acidente nuclear de Tchernóbil, na Ucrânia, em 1986, quando a antiga União Soviética ocultou a dimensão do desastre. Membros do governo, como o vice-presidente Hamilton Mourão e a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, tentaram colocaram panos quentes na crise diplomática. Depois, Bolsonaro telefonou para o dirigente da China, Xi Jinping, para aparar as arestas criadas pelo filho. Ao comentar a ligação, o presidente disse que ele e o líder chinês reafirmaram "nossos laços de amizade, troca de informações e ações sobre a Covid-19 e ampliação de nossos laços comerciais". A China é o maior parceiro comercial do Brasil. Em 2018, 26,7% das exportações brasileiras tiveram o país asiático como destino —Pequim lidera o ranking de compradores dos produtos brasileiros, segundo o Ministério da Economia. Entre 2003 e 2019, investiu US$ 79 bilhões no Brasil.
*”Escritora de Wuhan ataca a máquina comunista da China e vira estrela na internet”*
*”Empresários querem manter benefícios do governo após fim da crise do coronavírus”* - Medidas anunciadas pelo governo para mitigar os danos causados pelo coronavírus na economia servirão de teste para que sejam implementadas definitivamente depois da crise. Setores que pleitearam essas mudanças, como os da indústria e do agronegócio, além dos de comércio e serviços, apostam em perenizar algumas das novas regras. Desde o mês passado, o governo vem anunciando providências para, de um lado, reforçar os sistemas de saúde, e, de outro, preservar os empregos. Elas afetaram as relações trabalhistas, financeiras e tributárias. Permitiram, por exemplo, a redução de até 70% da jornada de trabalho com recomposição de uma parte das perdas salariais pelo governo, via seguro-desemprego. Também modificaram os esquemas para férias, como o fim da antecipação de um terço do salário do mês a vencer, como forma de manter mais dinheiro no caixa das empresas. O Banco Central mudou regras do sistema financeiro para permitir que os bancos tivessem ainda mais recursos disponíveis para crédito. A União permitiu que tributos como o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) fossem suspensos por três meses em operações de crédito. Somente para a CNI (Confederação Nacional da Indústria), o impacto do pacote dará um fôlego estimado de R$ 180 bilhões no momento em que as empresas estão praticamente paralisadas devido ao isolamento imposto pela epidemia. Segundo Renato da Fonseca, gerente-executivo da confederação, a entidade vai “monitorar os efeitos das medidas tomadas para ver se farão efeito”. “Algumas delas, como o fim da cobrança do IOF, vamos defender lá na frente, na reforma tributária”, disse. O impacto da isenção ao longo da pandemia servirá de modelo para a argumentação com o governo em uma próxima etapa.
Muitas confederações empresariais, as associações que representam os empregadores, têm a avaliação de que existe a chance de uma revisão mais ampla na legislação trabalhista com base na atual experiência de exceção. Alguns setores patronais do ramo de serviços entendem que manter benefícios agora obtidos ajudaria empresas no momento pós-crise, que também será muito ruim. A equipe econômica já considera a possibilidade de uma recessão no segundo semestre deste ano. Esse grupo milita por um passo adiante na reforma trabalhista feita em 2017, valendo-se do afrouxamento imposto pela pandemia. Medidas como aquelas que mexem com regras de banco de horas e férias poderiam continuar no futuro, se for preciso. “Todas as conversas que tenho tido com membros do governo são que, se houver necessidade, há possibilidade de as medidas continuarem”, afirma Paulo Solmucci, presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes). A medida provisória 927 autorizou os empregadores a adiar o recolhimento de parcelas do FGTS. Também os liberou de exigências relativas à concessão de férias, que agora podem ser antecipadas. O abono de um terço do valor do salário, antes pago até dois dias antes de o empregado sair para o descanso, pode ser adiado até a data de quitação do 13º salário. Outra mudança é quanto ao pagamento da remuneração do mês de férias, que não precisará mais ser antecipada. Para o presidente da Central Brasileira do Setor de Serviços (Cebrasse), João Batista Diniz Júnior, essas medidas, agora ou depois, ajudam as empresas a ganharem prazo e a ter fluxo de caixa para o cumprimento das obrigações. “Esse tipo de flexibilização daria um fôlego maior e proporcionaria para a gente otimizar e administrar melhor os contratos, e até oferecer preços melhores”, disse. A Cebrasse congrega cerca de 80 entidades patronais do setor. Os associados representam 640 mil empresas com mais de 12 milhões de trabalhadores formais. Sob seu guarda-chuva, estão as firmas de terceirização de mão de obra, cujos custos são muito impactados pelas exigências da lei trabalhista.
Para Ricardo Patah, presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores), que representa 11 milhões de trabalhadores no país, os trabalhadores foram obrigados a aceitar as novas regras para evitar o desemprego. “É óbvio que tivemos de escolher entre matar a árvore ou a raiz”, disse. “Mas passamos a viver numa espécie de laboratório em que testamos o choque nas relações entre capital e trabalho. Sairemos com sequelas.” Patah e dirigentes de outras centrais consultados pela Folha consideram que a calamidade acabará ajudando no desmonte da legislação trabalhista, promessa do ministro Paulo Guedes (Economia) quando assumiu o cargo. “Estamos vendo a prevalência dos acordos individuais. Se isso continuar, pode ser uma tragédia,” disse Patah.
Além da flexibilização das regras trabalhistas, entidades patronais de outros setores aproveitaram a pandemia para adaptar pedidos antigos, como a isenção de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) nas operações de crédito, que foi concedida por três meses. Dentre vários pleitos, a CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil) também solicitou o fim do pagamento de uma taxa que incide sobre as importações e serve para abastecer o FMM (Fundo da Marinha Mercante). A suspensão também foi concedida por três meses. Para o superintendente técnico da CNA, Bruno Lucchi, não faz sentido pagar essa taxa sobre importação de insumos para que esse dinheiro financie o FMM. “Isso encarece as nossas importações. Depois, produtos essenciais ficam mais caros internamente.” Ainda segundo Lucchi, a crise ajudou os importadores de bens de capital (máquinas e equipamentos), informática e telecomunicações. Esse grupo convenceu o Ministério da Economia a manter, mesmo depois da pandemia, duas portarias que permitem as importações com tarifas menores do que as praticadas pelo Mercosul. “Na crise, muitas coisas são teste para discutir lá na frente como permanente.” Ainda segundo ele, tanto o fim da cobrança da taxa quanto a permanência das alíquotas reduzidas serão defendidas no pós-crise.
A pandemia também ajudou a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) a convencer o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, a liberar cerca de R$ 300 milhões que estavam saindo a “conta-gotas” mensalmente como contrapartida da União [10% dos recursos totais] para a construção de residências do Minha Casa Minha Vida. “O FGTS [que responde pelos 90% dos recursos] tinha R$ 69 bilhões à espera desse dinheiro”, disse José Carlos Martins. Segundo ele, com a crise, a Economia decidiu que as próximas obras poderão ser integralmente realizadas com recursos do FGTS. Outro pleito da construção junto à Casa Civil virou uma determinação do Conselho Nacional de Justiça. Para agilizar transações de imóveis, caso alguém precise vender rapidamente e, assim, se capitalizar, os cartórios só receberão pelos registros de documentos no ato da entrega. “Isso agiliza sensivelmente, porque inverteu a lógica do processo. E isso valerá para sempre.” A equipe econômica, porém, tem manifestado preocupação com o impacto fiscal das medidas e defende que sejam apenas transitórias. “A piora fiscal deste ano é justificável, no Brasil e no mundo. Mas temos que ter cuidado para não transformar despesas temporárias em permanentes”, ressaltou o secretário do Tesouro, Mansueto Almeida. As ações anticrise anunciadas pelo governo até agora, considerando receitas e despesas, têm impacto de R$ 224,6 bilhões para as contas públicas. Com isso, o resultado primário do governo central já está estimado em um déficit de R$ 419,2 bilhões (ou 5,55% do PIB). Caso confirmado, esse será o pior resultado da história.
*”Ministro do STF decide que acordo individual precisa de aval de sindicato para redução de salário”* - O ministro Ricardo Lewandowski, do STF (Supremo Tribunal Federal), decidiu nesta segunda-feira (6) que os acordos individuais para redução de jornada de trabalho e de salário e para suspensão de contrato terão validade após manifestação do sindicato dos trabalhadores. O governo Jair Bolsonaro editou a MP (medida provisória) 936 que prevê a negociação direta entre empregados e empregadores durante a crise do coronavírus. A tratativa, pelo texto em vigor, é suficientena, na maioria dos casos, para as empresas alterarem os contratos com funcionários sem intermediários. Para a equipe econômica, a decisão pode comprometer o resultado esperado com o programa, que deve atender, com a complementação de renda, a 24,5 milhões de trabalhadores formais afetados pelo corte de renda. Empresários acreditam que, com entraves à redução temporária de custos, demissões podem aumentar. Uma MP tem força de lei por até 120 dias. Porém, nesse período, o texto precisa ser chancelado pelo Congresso Nacional. A decisão de Lewandowski desta segunda ainda precisa ser analisada por todos os ministros da corte, mas tem efeito imediato. Ela determina que os acordos só passam a valer se a entidade que representa os trabalhadores se manifestar após a comunicação feita em dez dias a partir do momento da celebração do acordo individual. O sindicato poderá então levar os termos do acordo individual à negociação coletiva, se discordar dos termos estabelecidos. Se a entidade não se manifestar no prazo de dez dias, significa que ela aceita o acordo individual celebrado entre empregado e empregador. Poucas horas após o programa que permite o corte de jornada e suspensão de contratos entrar em vigor, o governo recebeu mais de 7 mil acordos individuais (entre patrão e empregado). Para a equipe econômica, a liminar do STF pode gerar insegurança jurídica.
Com receio de que a medida de Guedes para manter empregos na crise (mesmo com salários mais baixos) seja alvo de disputa no Judiciário, a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), um dos setores mais afetados, acredita que os empresários podem acabar optando por demitir os funcionários, em vez de manter os empregos a um custo menor. “Nós estamos entrando numa semana delicada, com o pagamento dos salários de março. Agora, com essa decisão, fica ainda pior. A gente está vivendo um ambiente de incerteza”, disse o presidente da entidade, Paulo Solmucci. No programa lançado pelo governo, o acordo individual seria aplicado a trabalhadores que ganham até três salários mínimo (R$ 3.135) por mês em todas as situações -- redução de jornada e suspensão de contrato. Para quem tem salários acima disso e até R$ 12.202, já é exigido o acordo via sindicato quando o corte de jornada superar 25% e em caso de suspensão de contrato. No caso de trabalhadores com renda acima de R$ 12.202, por terem um tratamento diferente na CLT, também valeria o acordo individual em qualquer caso. A ação foi proposta pela Rede Sustentabilidade. O partido questiona a constitucionalidade dos artigos que estabelecem o acordo individual. De acordo com Lewandowski, "tudo indica que a celebração de acordos individuais​ [...] sem a participação dos sindicatos de trabalhadores na negociação, parece ir de encontro ao disposto nos arts. 7, VI, XII e XVI, e 8, III e VI, da Constituição". A Constituição prevê a negociação coletiva. A MP prevê a comunicação do acordo ao sindicato, mas não prevê a possibilidade de rejeição.
Segundo o ministro, "a simples comunicação ao sindicato, destituída de consequências jurídicas, continua a afrontar o disposto na Constituição sobre a matéria". "Por isso, cumpre dar um mínimo de efetividade à comunicação a ser feita ao sindicato laboral na negociação", escreveu Lewandowski. "E a melhor forma de fazê-lo, a meu sentir, consiste em interpretar o texto da medida provisória, aqui contestada, no sentido de que os 'acordos individuais' somente se convalidarão, ou seja, apenas surtirão efeitos jurídicos plenos, após a manifestação dos sindicatos dos empregados", afirmou na decisão. O ministro do STF escreveu ainda que não duvida da boa vontade do governo ao editar a medida, mas afirma que as "incertezas do momento não podem permitir a adoção acrítica de quaisquer medidas que prometam a manutenção de empregos". "Na hipótese sob exame, o afastamento dos sindicatos de negociações, entre empregadores e empregados, com o potencial de causar sensíveis prejuízos a estes últimos, contraria a própria lógica subjacente ao direito do trabalho, que parte da premissa da desigualdade estrutural entre os dois polos da relação laboral." Além disso, ele ressaltou que a OIT (Organização Internacional do Trabalho) mesmo em meio à crise tem reafirmado a necessidade de diálogo entre governos, representantes das empresas e dos trabalhadores para ações que interfiram na vida dos empregados. Para Lewandowski, a decisão provisória pretende "preservar ao máximo o ato normativo impugnado [a MP], dele expungindo a principal inconstitucionalidade apontada na exordial, ao mesmo tempo em que se busca resguardar os direitos dos trabalhadores, evitando retrocessos". "Almeja-se, com a saída proposta, promover a segurança jurídica de todos os envolvidos na negociação, especialmente necessária nesta quadra histórica tão repleta de perplexidades."
Na visão de integrantes da equipe econômica, a decisão de Lewandowski descaracteriza uma das principais medidas do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, uma das apostas do Executivo para conter a crise econômica. O ministro, porém, cita experiências de outros países e diz que a participação de sindicatos nas negociações não foi dispensada no resto do mundo. "Não se trata aqui, obviamente, de adotar soluções alienígenas, desconsiderando-se a realidade brasileira, mas sim de reconhecer que, em outros países, plenamente integrados ao capitalismo global, a necessária participação das organizações representativas dos trabalhadores nas tratativas vem sendo respeitada". O ministro também destaca que a Justiça precisa agir com cautela durante a crise, mas que não pode abdicar das suas funções. “Não é dado aos juízes, independentemente da instância a que pertençam, seja por inércia, comodidade ou tibieza, abdicar de seu elevado múnus de guardiães dos direitos fundamentais, sobretudo em momentos de crise ou emergência”, afirma. O ministro ressalta que as soluções para a crise devem ser “construídas pelos atores sociais que dele são protagonistas”. “A assimetria do poder de barganha que caracteriza as negociações entre empregador e empregado permite antever que disposições legais ou contratuais que venham a reduzir o desejável equilíbrio entre as distintas partes da relação laboral, certamente, resultarão em ofensa ao princípio da dignidade da pessoa e ao postulado da valorização do trabalho humano”, afirma.
+++ A forma como a reportagem é construída faz entender que a decisão do ministro do STF vai na contramão dos interesses do setor econômico. O texto traz apenas o embate entre o princípio defendido pelo ministro e o que defendem Ministério da Economia e empresários, trabalhadores estão fora da discussão.
*”Bancos não permitirão renegociação de dívidas a autônomos inadimplentes”*
*”Comércio paulista deve perder R$ 15 bilhões em faturamento em abril com quarentena maior”*
*”PIB pode cair até 6,4% em 2020 por causa do coronavírus, prevê Itaú”*
PAINEL S.A. - *”Fornecedores de produtos de saúde se queixam de câmbio e pagamentos”*
PAINEL S.A. - *”Material de garrafa de Guaraná Antarctica vira máscara contra coronavírus”*
PAINEL S.A. - *”Contadores pedem para adiar entrega de dados do emprego”*
*”Com fábricas paradas por coronavírus, produção de veículos cai 21,1% em março”*
*”'Bancos estão atrapalhando o país', diz presidente da Abimaq”* - No domingo (22), o presidente Jair Bolsonaro e o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Gustavo Montezano, anunciaram medidas emergenciais para ajudar empresas durante a quarentena imposta para tentar conter a pandemia do novo coronavírus. Entre os anúncios, o banco destinou R$ 5 bilhões para uma linha de crédito para micro, pequenas e médias empresas (MPMEs), por meio dos bancos parceiros. Até o momento, no entanto, as empresas têm reclamado dos altos custos e das dificuldades e exigências impostas pelos bancos privados para dar acesso a essas linhas. “O custo desse dinheiro é 6% TLP, a taxa de longo prazo, que é onde o BNDES remunera o FAT [Fundo de Amparo ao Trabalhador], mais 1,25% de spread do BNDES e mais o spread do banco repassador, que pode fazer o spread que quiser”, disse José Velloso, presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos). Segundo ele, é o spread cobrado pelos bancos parceiros que tem encarecido a linha de crédito. “Pegamos casos em que os bancos estão cobrando 8%.” A Frebraban (Federação Brasileira de Bancos) diz que os bancos estão sensibilizados com a necessidade de os recursos chegarem rapidamente. Velloso afirma que esse foi o caso mais caro, mas que a média do custo da linha de crédito está entre 12% a 15% ao ano, somando a TLP e os spreads cobrados pelo BNDES e pelos bancos privados. As taxas também foram alvo de críticas de fontes ouvidas pela Folha, que preferiram não ter o nome publicado. Um ex-executivo do BNDES, por exemplo, afirmou que um spread de 8% é muito violento e que o banco público deveria ter imposto um limite para os bancos privados. Ele afirma que as taxas finais inviabilizam a linha, que não teria interessados.
Segundo ele, os R$ 5 bilhões disponibilizados também seriam um valor irrisório. Ele usa como exemplo o cartão de crédito do BNDES voltado para pequenas empresas no início da década de 2010, que girava um valor de R$ 11 bilhões por ano. “A gente acha que uma linha com esse custo não é uma linha emergencial. A gente entende que linha emergencial é uma linha para alguém que tá sofrendo, que é o infeliz que tá com a fábrica parada”, diz Velloso. Além das queixas pelas altas taxas de spread cobrados, Velloso diz ainda que os bancos privados estão “dificultando tremendamente” a análise de crédito das empresas. “Os bancos estão atrapalhando o país. O governo e o BNDES tiveram boa vontade, colocando R$ 5 bilhões nessa linha, mas os bancos estão prejudicando de uma forma geral”, afirma ele. “A gente constata que nos últimos sete anos os bancos tiveram recorde de lucro e a crise só aumentou. Do jeito que está nessa época da pandemia, é provável que os bancos privados apresentem mais uma rodada de recorde de lucro.” Outros anúncios do BNDES englobam outros R$ 30 bilhões, que serão usados para a suspensão temporária de pagamentos de parcelas de financiamento, que serão jogadas para o final do contrato.
Desse montante, R$ 19 bilhões para empréstimos feitos diretamente com o BNDES e outros R$ 11 bilhões para bancos privados. “É uma boa medida, estava entre as sugestões que já tínhamos feito ao governo, mas não é dinheiro novo. É dinheiro que eu já peguei no passado e que simplesmente estão me dando uma folga no pagamento”, afirma Velloso. O benefício só está previsto para empresas que não tenham conseguido os empréstimos com a chamada equalização do Tesouro Nacional, uma espécie de subsídio geralmente usado para financiamentos agrícolas. Segundo Velloso, com essa limitação, o benefício vai deixar de fora empresas que fizeram o financiamento entre 2009 e 2016. “A medida só vai atender quem fez financiamento fora do agronegócio do início de 2017 para cá.” Ele elogia a interlocução com o governo federal, mas diz que é preciso regras para que os bancos privados facilitem o acesso ao dinheiro subsidiado pelo governo. Na semana passada, a Folha noticiou que os maiores bancos elevaram os juros em todas as operações. Os relatos foram feitos por representantes de entidades do setor privado, altos executivos de grandes empresas, proprietários de médios e pequenos negócios. Em alguns casos, as taxas dobraram e até triplicaram. Setores mais atingidos tiveram o crédito cancelado.
OUTRO LADO
O BNDES diz que para promover a competição e a transparência das taxas cobradas do tomador final, criou uma página com tabelas que mostram a taxa média cobrada em cada estado e de cada perfil de empresas. A Frebraban (Federação Brasileira de Bancos) diz que os bancos continuarão agindo com foco para que o crédito seja dado nas mãos das pessoas físicas e das empresas. Diz ainda que os bancos receberam e estão processando mais de dois milhões de pedidos de renegociação de dívidas. “Os valores dessas negociações chegam a R$ 200 bilhões conforme levantamento parcial no BB, Bradesco, Caixa, Itaú e Santander”.
*”CMN veda distribuição de resultados e aumento de remuneração de administradores de bancos”*
VAIVÉM DAS COMMODITIES - *”Trigo e hortifrútis podem ser gargalo de oferta no país com o coronavírus”*
NIZAN GUANAES - *”Vamos brigar em outubro”*
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*”Metade dos brasileiros prefere que marcas se comuniquem por jornal, TV e rádio durante epidemia”*
*”Doria estende quarentena por 15 dias em SP e diz que PM dissipará aglomerações”*
*”Governo de SP estima que estado terá cerca de 1.250 mortes por coronavírus em uma semana”*
*”Prefeitos reabrem parte do comércio enquanto vírus se espalha pelo interior paulista”*
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MÔNICA BERGAMO - *”Quarentena de SP deve ser prorrogada mais vezes, dizem especialistas”*
MÔNICA BERGAMO - *”Medicamento contra Aids tem mais efeito que cloroquina para coronavírus, diz estudo da Fiocruz”*: Um grupo de cientistas da Fiocruz publicou estudo sobre os efeitos do Atazanavir, já usado no tratamento de pacientes com HIV, e seus efeitos sobre o coronavírus. Os resultados foram promissores: o medicamento, em laboratório, performou melhor do que a cloroquina. Os testes foram feitos in vitro. Ainda é preciso fazer ensaios clínicos, em pessoas, para que seus efeitos positivos sejam comprovados no uso prático. No laboratório, ele se mostrou eficiente para quebrar uma enzima chave para a multiplicação do novo coronavírus, o que impediria a sua multiplicação no organismo. “O Atazanavir pode vir a compor o arsenal de me dicamentos contra o coronavírus”, diz Thiago Moreno Souza, da Fiocruz, que participa do estudo. Uma das vantagens do Atazanavir é ser um antirretroviral já conhecido e fabricado no Brasil.
MÔNICA BERGAMO – *”Embaixada da China tentou desprezar Weintraub mas reagiu com novos ataques”*
MÔNICA BERGAMO - *”Pedidos de medidas protetivas para vítimas de violência doméstica caem 43% em SP na quarentena”*
MÔNICA BERGAMO - *”Organização dos Estados Ibero-Americanos calcula 126 milhões de estudantes sem aulas”*
 
CAPA – Manchete principal: *”Após ter gavetas limpas, Mandetta é mantido no cargo por Bolsonaro”*
EDITORIAL DO GLOBO - *”Ameaça a Mandetta reflete o que é Bolsonaro”*: A fritura do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, é típica de um governo como o de Bolsonaro, em que a lógica cartesiana costuma ser contrariada por outras condicionantes. Pelo perfil psicológico do presidente e/ou por crenças ideológicas dele, da família e de quem os cerca. Não é lógico e depõe contra a inteligência agredir a China, o maior parceiro comercial do país, e de quem o Brasil precisa de ajuda para enfrentar a epidemia de coronavírus. Mas, nesta espécie de mundo paralelo, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, faz crítica à China, e o ministro da Educação, Abraham Weintraub, segue atrás e põe na rede uma brincadeira de mau gosto e de má-fé com os chineses. Não estão preocupados com assuntos de governo e de Estado, apenas com suas crendices sectárias. Por isso, Mandetta, cuja atuação na epidemia da Covid-19 é aprovada por 76%, segundo pesquisa recente do Datafolha, corre risco de ser mandado embora e no momento em que a crise de saúde inicia sua fase de agravamento. Os sensatos que estão na cúpula do governo ajudaram a convencer ontem o presidente a não cometer o desatino. Há algum tempo Bolsonaro tem demonstrado conviver mal com esta popularidade, ameaçando usar a caneta contra aqueles que “viraram estrelas”. Mais explícito, só se citasse o nome. Talvez falte ao ministro da Saúde o cuidado que tem o colega Paulo Guedes, da Economia, de sempre consultar o chefe. Mesmo ungido superministro, Guedes deve ter considerado a necessidade de ser cauteloso diante do estilo impulsivo de Bolsonaro, mesmo que atue numa área em que teoricamente seria mais difícil Bolsonaro dar ouvidos a outros. Não se deve arriscar. Ou talvez Mandetta devesse ter o cuidado de Sergio Moro, da Justiça e Segurança Pública, escalado nas apostas como concorrente de Bolsonaro em 2022. Moro fez defesas de teses caras ao presidente, caso do “excludente de ilicitude”, entre outros gestos. Cair ministro é parte do jogo de poder. O grave é o que pode significar a saída de Mandetta, responsável, com sua equipe, por adotar no Brasil o isolamento social, como indicam a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a grande maioria dos médicos e especialistas. Reduzir a um mínimo a circulação das pessoas retarda a disseminação do coronavírus e dá tempo ao sistema de saúde, público e privado, de preparar-se para atendera um forte crescimento da demanda por leitos, principalmente de terapia intensiva.
Os contornos da tragédia desta pandemia estão sendo desenhados pelas muitas mortes decorrentes do erro de avaliação de alguns governos, como o que Bolsonaro cometerá se trocar Mandetta por alguém sensível ao seu argumento de que manter as pessoas em casa — com exceção dos trabalhadores em áreas vitais —é destruir empregos e salários, levando o país a uma crise nunca vista. Bolsonaro não se preocupa com um avanço rápido da epidemia, porque—mesmo que não diga— considera que um número maior de mortes será compensado pela preservação dos setores produtivos, a tempo de o crescimento voltar bem antes das eleições de 2022. Engana-se, como vários estudos acadêmicos provam. E ainda incorrerá na questão ética de desprezar vidas em nome de um projeto eleitoral. Uma grande crise econômica haverá de qualquer forma, mas seu governo a tornará mais grave se atrasar bastante a retomada ao permitir o que está acontecendo nos Estados Unidos, na Itália e na Espanha. Seus governos demoraram a se convencer de que deveriam fazer um rígido isolamento social, e o número de seus mortos ultrapassa os 3.300 da China. Nos Estados Unidos, passaram ontem dos 10 mil. O Norte da Itália antecipou o que poderá acontecer no Brasil: a morte de um grande número de idosos infectados por filhos e netos na volta para casa depois do trabalho. O destino de incontáveis famílias pobres poderá ser decidido pela caneta de Jair Bolsonaro.
*”Demissão abortada – Com apoio de Congresso, Supremo e servidores, Mandetta fica na saúde”*
*”Servidores da saúde faz ato em favor do ministro”*
*”Mandetta X Bolsonaro – As teorias que opõem ministro e presidente”* - Teorias e propostas mantiveram em rota de colisão o presidente Jair Bolsonaro e seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Defendidas por nomes como o deputado federal e ex-ministro Osmar Terra (MDB-RS), parlamentares bolsonaristas e pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, as propostas são alvo de questionamentos na comunidade científica e não vêm sendo recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no combate à pandemia global do novo coronavírus.
Achatamento da curva
Os críticos da política de isolamento social afirmam que a medida não é eficiente para reduzir a velocidade e “achatar” a curva de novos casos da doença. A Itália costuma ser citada como exemplo de país onde a medida foi adotada, sem resultados práticos, já que registros da doença dispararam após a implantação da quarentena, no dia 9 de março. O governo italiano, entretanto, já prorrogou a medida até o domingo de Páscoa, dia 12 de abril, e agora observa redução no número de casos. A avaliação é que, no país, o problema foi que a quarentena começou tarde, quando o vírus já circulava muito.
—O número de novos casos nesta semana foi muito menor do que nas últimas semanas. Isto é claramente um efeito da quarentena e das restrições — afirmou Michele Tizzoni, da ISI Foundation, de Turim. —O efeito das políticas nunca é imediato, elas levam algum tempo para produzir consequências.
Especialistas citam ainda a experiência da Coreia do Sul que, após investir na testagem massiva para isolar rapidamente a população infectada, passou a adotar medidas de restrição à circulação de pessoas no fim de março, após identificar um aumento de casos importados de Covid-19. O primeiro-ministro sul-coreano, Chung SyeKyun, defendeu que a população respeite o distanciamento social para conter novos casos novos.
Isolamento vertical
A alternativa ao isolamento social, defendido pela OMS e pelo Ministério da Saúde, seria o chamado isolamento vertical, em que só grupos de risco, como idosos, são mantidos isolados. Contudo, especialistas alertam que a medida, defendida várias vezes por Bolsonaro, não é suficiente. Apesar de não serem grupo de risco, crianças e jovens devem ficar em isolamento porque são responsáveis pela maior parte das transmissões, uma vez que a doença costuma se manifestar de forma assintomática ou de forma muito branda neste grupo. Sem saber que carregam o vírus, elas colocam em risco os mais velhos. Um estudo publicado por um grupo de cientistas chineses e americanos, coordenados pela Escola de Saúde Pública da Universidade Columbia, de Nova York, indicou que os portadores do vírus sem sintomas são responsáveis por dois terços das infecções. De acordo com o estudo, apesar de os pacientes que desenvolvem a doença serem duas vezes mais contagiosos, os assintomáticos são seis vezes mais numerosos. Mesmo com propensão menor a infectar outros, acabaram se tornando o motor que move a epidemia. Edimilson Migowski, infectologista da UFRJ, explica que a quarentena é “horrível, mas necessária”:
—A Covid-19 é uma doença contagiosa e toda a população está vulnerável, já que não existe uma vacina ou um antiviral licenciado para este fim. Por isso há um grande potencial de que muitas pessoas adoeçam ao mesmo tempo.
Surto de H1N1
Críticos do isolamento social também costumam recorrer ao surto de H1N1, entre 2009 e 2010, para justificar que a quarentena agora é dispensável. Contudo, a necessidade de isolamento social tem relação com a velocidade de contágio e a taxa de letalidade do novo coronavírus, o que pode levar o sistema de saúde ao colapso. O H1N1 passava em média para 1,2 ou 1,3 pessoa e tinha um contágio mais devagar, explica o biólogo Átila Iamarino. Com isso, levou quase um ano e meio para que a doença rodasse o mundo infectando pessoas por diferentes países. Já a Covid-19 passa para duas a três pessoas. O infectologista Antonio Flores ressalta que é importante lembrar que a letalidade do H1N1 variou de 0,02% ou seja, duas morte sacada 10 mil infectados, a 0,1%, uma morte acada mil infectados. Enquanto isso, a letalidade do novo coronavírus varia entre 1% e 4%:
— A letalidade é muito grande. É um vírus com facilidade de se transmitir, tanto que era localizado na China e hoje é um vírus pandêmico. Se ele mata as pessoas nessa proporção temos um grande risco e aí justifica a quarentena, que freia a transmissão e pode reduzir as mortes.
Imunização de rebanho
A tese da chamada “imunização de rebanho”, em que a maior parte da população fica exposta ao contágio com o objetivo de desenvolver anticorpos, foi criticada dentro da comunidade científica do Reino Unido, onde o governo foi um dos poucos a adotar a estratégia em nível nacional. Após uma escalada de casos, Johnson mudou de posição e passou a adotar o isolamento social como política nacional. Para Gulnar Azevedo, presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), as estimativas sobre o percentual de população assintomática após exposição ao Covid-19 têm alto grau de incerteza e que o mais urgente é reduzir o número de casos que necessitam de hospitalização.
*”Reforço ao isolamento – Maior parte do país apoia quarentena”*
*”Ministério recomenda flexibilizar medidas onde há menos casos”*
*”Fiocruz na linha de frente – Instituição terá 200 leitos para covid-19 e produzirá 1 milhão de testes”* - Peste bubônica, febre amarela e varíola eram as doenças que assombravam o Brasil do ano 1900, quando foi criado o Instituto Soroterápico Federal, a origem da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Cento e vinte anos depois, superadas tantas outras epidemias e emergências sanitárias, é na instituição, mais uma vez, que o país deposita esperanças diante do novo coronavírus. Assumindo seu papel de protagonismo, desde que apareceram os primeiros casos na China, um exército de 5.400 servidores públicos e outros milhares de colaboradores da fundação concentra esforços para enfrentara pandemia. E põe em marcha ações simultâneas, que vão da pesquisa científica ao atendimento dos doentes em pelo menos 200 leitos que serão abertos. Enquanto são desenvolvidos e produzidos kits para o diagnóstico da Covid-19 para todo o país, especialistas buscam um tratamento para a doença na Farmanguinhos, unidade da instituição que produz fármacos e os distribui para o Sistema Único de Saúde. Ontem, a agência da Fiocruz divulgou que testes com Atazanavir, usado no tratamento do HIV, mostraram que o medicamento foi capaz de impedir a replicação viral do coronavírus, além de reduzir a produção de proteínas que estão ligadas ao processo inflamatório dos pulmões, o que agrava o quadro clínico dos pacientes. O estudo ainda está em andamento. No laboratório que a Fio cruz mantém em Minas Gerais, há ainda estudos sobre uma possível vacina. Presidente da Fiocruz desde 2017, a socióloga Nísia Trindade Lima disse que a pandemia pôs a instituição diante de um problema que está na origem de sua própria história:
—A Fiocruz surge, no início do século passado, com a emergência criada pelas epidemias urbanas. Oswaldo Cruz (médico e cientista, que erradicou a febre amarela no Rio) teve a visão de estabelecer um centro que olhasse também para a pesquisa. A ideia de ciência aplicada à saúde foi um marco. Desse trabalho, a população passou a esperar que saiam soluções e informações confiáveis —afirma Nísia.
OBRA EM CAMPO DE FUTEBOL
Sob a supervisão do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Focruz), cerca de 100 leitos do novo centro hospitalar devem ficar prontos em menos de 40 dias. No momento, uma verdadeira operação de guerra ergue a unidade num campo de futebol de Manguinhos. Os operários de uma empresa especializada nesse tipo de montagem rápida, vindos de Curitiba, dormem ali, numa área adaptada. Um processo de seleção em curso vai reunir cerca de mil profissionais para trabalhar no local. Os pacientes poderão participar dos estudos para investigar a eficácia de quatro tratamentos para o coronavírus, entre eles a cloroquina. Eles farão parte do ensaio clínico Solidarity (Solidariedade), lançado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em vários países. No Brasil, é a Fiocruz que coordena as ações, reunindo 18 hospitais de 12 estados, com o apoio do Ministério da Saúde. Bem em frente ao centro hospitalar — que ficará como legado pós-pandemia —, está o instituto BioManguinhos que produz os testes para Covid-19. Antes de serem distribuídos, eles ficam armazenados num almoxarifado a uma temperatura de 20 graus negativos. Inicialmente, saíam dali 20 mil kits por semana, capacidade que já foi triplicada. Assim que chegarem mais insumos, a expectativa é entregar, até o fim do mês, um milhão de testes produzidos na Fiocruz, ou 2,5 milhões se considerados os que são feitos por colaboradores. As ações integradas são possíveis porque, de acordo com Nísia, sobretudo a partir de 2000, a Fiocruz adotou o conceito de complexo econômico-industrial de saúde, que atua em parceria com instituições privadas, mas norteado pelo interesse público.
— Nossa visão é que o país precisa ter essa autonomia de produção, particularmente na área de saúde, no sentido de desenvolver vacinas, imunobiológicos e medicamentos de síntese química — ressalta, lembrando que, neste momento de emergência internacional, vários países têm sofrido com o fato de que alguns produtos são fabricados apenas por alguns fornecedores. —Será que o mundo pode ser tão dependente de um único produtor, como no caso dos equipamentos de proteção individual da China? É algo que temos refletir.
A pedido da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), profissionais de nove países da América Latina, entre eles, Argentina, Chile e Colômbia, receberam treinamento da Fiocruz sobre como realizar o diagnóstico dos testes do coronavírus. Novas estratégias de atuação conjunta no continente estão sendo traçadas. Para manter esse desempenho há, claro, dificuldades. Nísia, que integra um fórum de líderes de saúde global, enumera, entre elas, o alto número de servidores prestes a se aposentar e a urgência de concurso para preencher as vagas, além da fuga de novos talentos do país. Com o orçamento apertado, a Fiocruz recebeu, até agora, um crédito de R$ 457,4 milhões para as medidas contra o coronavírus e busca recursos adicionais. Na semana passada, foi lançado o programa Unidos Contra a Covid-19, que abriu um canal para empresas, organizações e indivíduos fazerem doações para manter o trabalho da instituição, como a produção de testes rápidos e a ampliação da capacidade de testagem de amostras.
+++ A reportagem elogia a Fiocruz, mas mostra que a instituição passa por problemas em função da falta de concurso público. A radiografia feita da situação da Fiocruz é extremamente superficial. O jornal ignora há quantos anos a instituição vem sofrendo com a queda nos investimentos.
*”A experiência da internação – Secretária usa remédio polêmico”* - Após passar sete dias internada num hospital privado com Covid-19, a secretária municipal de Saúde do Rio, Beatriz Busch, voltou domingo para casa, onde está em isolamento com o marido e as filhas. Segundo ela, um dos recursos adotados em seu tratamento foi o uso da polêmica hidroxicloroquina, um medicamento que vem sendo prescrito para combater a Covid-19, mas que ainda não tem sua eficácia comprovada por estudos. Tanto a cloroquina quanto a sua variação, a hidroxicloroquina, foram liberadas pelo Ministério da Saúde, a critério médico, apesar de não terem sido indicados para o tratamento da Covid-19 pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A pneumologista Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Fiocruz, ressalta que esse medicamento é recomendado para pacientes com doença autoimune e malária. Muitos tiveram dificuldades de encontrar o remédio depois que ele passou a ser usado no tratamento da doença causada pelo coronavírus.
—Eu não prescrevo a hidroxicloroquina. É um medicamento que nem atrapalha nem ajuda, desde que o paciente não tenho problemas cardíacos. Quando tivermos estudo clínico da Fiocruz, poderemos dar uma informação científica —disse a especialista.
O Hospital Barra D’Or, onde a secretária ficou internada, informou que está usando o medicamento “por decisão do médico e do paciente ou de sua família”. A secretaria disse que pretende levar a experiência que teve com a doença no hospital particular para o Hospital Municipal Ronaldo Gazzola, em Acari, unidade de referência do município.
— O tempo todo anotei o que me fazia sentir melhor pensando em usar na rotina do Hospital de Acari, nossa unidade dedicada à Covid — contou a secretária. — Usaram em mim todos os recursos sobre os quais havia lido em artigos recentes, inclusive a hidroxicloroquina.
A secretária de Saúde saiu do hospital ainda mais convicta da importância do isolamento social:
— Neste momento, o importante é a união de todos, com a população fazendo a sua parte e ficando em casa até isso tudo passar.
Segundo ela, nenhum sistema de saúde é capaz de cuidar de todos os doentes ao mesmo tempo numa pandemia nova, como a Covid-19. A secretária ainda vai ficar 14 dias em casa por causa da pneumonia. Ela está isolada das filhas e do marido. Sobre a internação, Beatriz Busch disse que foram dias difíceis:
— Isolamento total do mundo exterior. Só médicos e profissionais de saúde entravam rapidamente no quarto. Eles tinham muito medo também. Medo de se contaminar, medo de não ter boas notícias para dar. Foram muito humanos, principalmente, nos três primeiros dias durante os quais meus resultados de exames pioravam. No quinto dia, ela disse que seus exames melhoram e saiu do CTI.
 
 
 
CAPA – Manchete principal: *”Bancos já receberam 2 milhões de pedidos de renegociação”*
EDITORIAL DO ESTADÃO - *”Cheque em branco”*: Não resta a menor dúvida de que, por mais robustas que sejam, as medidas adotadas pela maioria dos governos do mundo para mitigar os efeitos da epidemia de covid-19 sobre a economia não serão suficientes para evitar um desastre de proporções ainda desconhecidas. Assim, o aumento exponencial de gastos públicos tornouse quase uma obrigação, sobretudo porque, além de reforçar o sistema de saúde, é preciso proteger os empregos e a renda da parcela da população que vive na informalidade e vê a fome bater à porta. Num cenário como esse, é evidente que não se pode falar, ao menos neste momento, em contenção fiscal, razão pela qual é uma boa notícia a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 10/20, que criou o chamado “orçamento de guerra” – que tratará especificamente das despesas decorrentes do enfrentamento da epidemia, separado do Orçamento da União. O texto passou na Câmara com votações expressivas (505 votos a 2 no primeiro turno e 423 a 1 no segundo) e está para ser apreciado a qualquer momento no Senado. Tal apoio a um projeto gestado pela própria Câmara é claro indicativo de que não há polarização política que resista ao imperativo de salvar vidas e proporcionar ao setor produtivo condições de sobreviver em meio à tormenta já em pleno curso. A PEC do “orçamento de guerra” dá liberdade praticamente irrestrita ao Executivo, representado por um Comitê de Gestão de Crise, que será dirigido pelo presidente Jair Bolsonaro, para administrar os recursos destinados ao enfrentamento da epidemia. Até mesmo a regra de ouro – que impede o governo de emitir títulos para pagar gastos correntes – estará suspensa durante a vigência do estado de calamidade. O Congresso, contudo, se reservou o direito de sustar as decisões do comitê “em caso de irregularidade ou de extrapolação dos limites” estabelecidos na PEC. E fez bem. A calamidade não pode ser pretexto para que se criem despesas permanentes, estranhas ao estritamente necessário para o esforço do combate à epidemia.
Não é um risco desprezível, a julgar pelo histórico de irresponsabilidade do poder público com o dinheiro do contribuinte. Basta ver o que fez o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, na sexta-feira passada, ao determinar que a União pague a Estados e municípios o complemento das verbas do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef). Graças a uma interpretação criativa da lei que criou o fundo, que vigorou de 1998 a 2006, Estados com baixa receita e menos alunos julgavam-se no direito de receber o mesmo valor destinado aos Estados com muito mais alunos. A decisão do ministro Dias Toffoli representa uma despesa adicional de R$ 90 bilhões para os cofres da União, já bastante comprometidos pela necessidade urgente de socorrer cidadãos e empresas em meio à epidemia de covid-19. É a criação de esqueletos fiscais dessa natureza que fragiliza as contas nacionais mesmo que não houvesse o novo coronavírus a nos atormentar. Assim, não se pode permitir que as boas intenções – seja a melhoria da educação, seja a luta contra os efeitos da epidemia de covid-19 – sirvam como subterfúgio para favorecer grupos de interesse em detrimento do resto do País, a quem restará pagar a conta do colapso fiscal. “Tem de separar setores com problemas emergenciais do oportunismo”, disse ao Estado a economista Zeina Latif, que defendeu a manutenção do teto de gastos: “Tenho medo do precedente que se abre ao suspendê-lo”. O secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, foi claro ao dizer que “não há por que continuar (no futuro) com políticas que só se justificam em um contexto de calamidade”, mas o receio de que isso venha a acontecer é mais que justificado. O Tesouro Nacional – leia-se, os contribuintes – não tem recursos infinitos, e tudo o que se fizer agora terá consequências graves no futuro. Justamente por estar em branco, o cheque que a sociedade acaba de conferir ao Executivo para lidar com a crise deve ser usado com muito mais parcimônia e responsabilidade.
*”Sob ameaça, Mandetta diz que permanece no cargo”*
*”Gabinete de crise pode ter médica alinhada a presidente”* - Após almoço com o presidente Jair Bolsonaro ontem, a médica imunologista Nise Yamaguchi confirmou ao Estado, por meio da assessoria, que foi convidada para integrar o gabinete de crise do Planalto criado para monitorar o avanço do novo coronavírus no Brasil. Ela disse que ainda avalia se vai aceitar a função. Nise defende o chamado isolamento vertical, focado apenas no grupo de risco (idosos e doentes crônicos), e tem pesquisas relacionadas ao uso da cloroquina no combate ao novo coronavírus. As duas pautas são tidas como prioritárias pelo presidente Jair Bolsonaro, além de serem motivo de desgaste entre ele e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Nise tem o apoio da ala ideológica do governo, comandada pelo vereador Carlos Bolsonaro, para substituir Mandetta. Ela negou ter sido sondada para o cargo durante encontro ontem. A reunião entre Nise e Bolsonaro ocorreu na presença de ministros palacianos e do ex-ministro Osmar Terra, que apoia o discurso contrário ao distanciamento social. Este é o segundo encontro que o presidente promove para discutir questões de saúde sem a presença de Mandetta. Na semana passada, ele reuniu um grupo de médicos para discutir a utilização da cloroquina sem informar o ministro da Saúde.
*”China chama de racista publicação de Weintraub”*
*”Líderes do agronegócio pedem cautela com o país”*
*”Legislativos defendem cortes de salários”* - O avanço do coronavírus no País deflagrou um movimento pela redução salarial de autoridades públicas, como prefeitos, secretários, vereadores e deputados. Em São Paulo, ainda que haja resistência, a ideia se converteu em projetos no Legislativo estadual e em câmaras municipais. Na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), o partido Novo apresentou quatro propostas de redução salarial escalonada para deputados, funcionários comissionados e servidores concursados. Para o líder do Novo na Casa, Daniel José, a redução de salário tem efeito mais moral do que fiscal. “O setor público nunca dividiu a conta da crise com o setor privado.” A deputada Janaina Paschoal (PSL) apresentou um projeto que prevê a transferência de recursos de verba de gabinete e de parte do salário dos deputados ao Tesouro estadual para o combate à covid-19. Ela defende que o salário dos deputados seja reduzido em 59% durante o período de calamidade e que sejam suspensas as gratificações especiais. “O exemplo poderá, em alguma medida, incentivar o Poder Judiciário a também desvincular seu elevado fundo para o combate à pandemia”, justifica.
Presidente da Alesp, Cauê Macris (PSDB) já declarou que a Casa não utilizaria os recursos economizados de bancadas que abrem mão das verbas de gabinete. Desta forma, os recursos podem serdestinados para um fundo de combate ao vírus. A proposta de redução salarial tem apoio da oposição. “Na hora do aperto, os deputados têm que colaborar”, disse Emídio Souza (PT). Há resistência, no entanto, de deputados que dizem ter o salário contado para o sustento da família, segundo a líder do PSDB na Alesp, Carla Morando. “Eu, que doei meu salário, defendo que o poder público tem que aceitar uma redução para combater o coronavírus.” O prefeito de Jundiaí, Luiz Machado (PSDB), diz que vai enviar à Câmara municipal projeto de lei para reduzir temporariamente em até 30% o próprio salário e também do vice-prefeito, secretários e assessores – que recebem entre R$ 15 mil e R$ 23 mil. “Não é razoável exigir sacrifício de toda a sociedade e ficarmos isentos”, afirma. A presidente da Câmara municipal, Faouaz Taha (PSDB), disse que levará ao plenário a proposta de redução nos vencimentos dos vereadores, diretores e comissionados. O prefeito de Itapevi, na Grande São Paulo, Igor Soares (Podemos), encaminhou à Câmara projeto para reduzir seu salário e de secretários em 10% com o objetivo de pagar bônus para funcionários da área da saúde.
*”Criticado por reabrir comércio, prefeito renuncia”* - O prefeito de Varginha (MG), Antônio Silva (PTB), renunciou ontem diante da repercussão negativa de sua decisão de reabrir o comércio da cidade. Na semana passada, ele assinou um decreto que permitia a retomada do funcionamento de estabelecimentos durante a pandemia do coronavírus. Pressionado, Silva revogou o decreto e decidiu deixar o cargo. O viceprefeito, Verdi Lúcio Melo (Avante), vai assumir. A reação contra o decreto do prefeito partiu de órgãos do próprio governo, como o conselho municipal de Saúde e o grupo de trabalho criado pela prefeitura para propor medidas e ações contra a covid-19. “Ele (Silva) já vinha pensando em deixar o cargo, por ter 78 anos e ter que fazer atendimentos neste período de pandemia. Mas a reação pela decisão de reabrir o comércio foi o que realmente o levou a renunciar”, relatou o vice-prefeito. Na carta de renúncia entregue à Câmara Municipal, o prefeito, que já administrou Varginha por três vezes, reconhece que, “nas atuais circunstâncias e por razões de foro íntimo”, não tem condições de continuar no cargo. O vice afirmou que, após assumir o cargo, precisará encontrar um “ponto de equilíbrio” entre comerciantes da cidade que pressionam para a retomada dos estabelecimentos e defensores da quarentena.
*”Cartel atuou em editais de concessões, diz Ecovias”* - A concessionária Ecovias, que administra o sistema Anchieta-Imigrantes, firmou ontem um acordo com o Ministério Público Estadual em que afirma que todos os 12 contratos de concessão rodoviária assinados pelo governo de São Paulo a partir de 1998 foram fraudados por meio da ação de um cartel. Segundo a companhia, o grupo, formado por dezenas de empresas, pagou propina a agentes públicos e fez repasses para caixa dois de campanhas políticas. Durante a duração do cartel, estiveram no comando do Estado de São Paulo os governadores Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra, todos do PSDB. Como parte do acordo de não persecução cível assinado ontem, a Ecovias se comprometeu a pagar R$ 650 milhões ao Estado. Deste total, R$ 150 milhões deverão ser usados para custear uma redução de 10% no valor da tarifa do pedágio da Ecovias entre 21h e 5h, em uma ação voltada a caminhoneiros que continuam trabalhando em meio à pandemia de coronavírus. Outros R$ 36 milhões serão usados para custear UTIs para pacientes com covid-19 e testes da doença. Segundo relatos feitos ao MP, a Ecovias e dezenas de empresas formaram consórcios para disputar licitações com o objetivo apenas de simular competição. Nem todas, porém, tinham condições reais de assumir as rodovias em disputa.
Obedecendo regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Ecovias, que é do grupo EcoRodovias, cujas ações são negociadas na bolsa de valores, divulgou um fato relevante ao mercado no início da noite de ontem dando informações sobre o acordo. O principal acionista da empresa é a Primav, empresa de capital fechado da CR Almeida, uma das construtoras investigadas pela Lava Jato. Este é o maior acordo cível já assinado pelo MP paulista, em valores arrecadados. Os promotores envolvidos na negociação, Silvio Marques, José Carlos Blat e Paulo Destro, disseram que não iriam se manifestar, pois o acordo está sob sigilo e ainda precisa ser homologado pelo Conselho Superior do MPSP e, depois, pela Justiça. Do total que será pago pela Ecovias, R$ 450 milhões serão usados para obras. A maior, de R$ 400 milhões, será destinada ao Corredor de Exportação Anchieta, obra prevista desde o começo da década para facilitar o caminho ao Porto de Santos. A definição de como o dinheiro será gasto foi feita com participação do governo paulista. O governo não teve acesso à investigação nem assina o acordo, mas o Secretário de Transportes e Logística, João Octaviano, foi consultado sobre como investir esse valor.
Início. As investigações sobre o caso tiveram início no fim de 2018, e a Ecovias fez acordo parecido no Paraná, quando concordou com o pagamento de R$ 400 milhões durante a Lava Jato – a ação foi homologada em setembro de 2019. Ao admitir a formação de um cartel e concordar com a reparação de danos, a Ecovias evita a possibilidade de receber outras punições administrativas, como ser banida de novas licitações. A empresa terá de apresentar provas de todas as ações delatadas.
Nova lei. A conclusão do acordo entre Ministério Público Estadual e Ecovias foi facilitada com a entrada em vigor na nova Lei Anticrime, no ano passado, que criou esse instrumento (acordo de não persecução cível). Agora, promotores podem firmar acordos com réus mediante a admissão de culpa e estabelecimento de punições, que depois são validados pela Justiça. Embora os delitos confessados pela empresa tenham sido iniciados em 1998, há entendimento de que eles não prescreveram, segundo fontes próximas à costura do acordo. O Supremo Tribunal Federal (STF) já deu votos na linha de que atos de improbidade administrativa dolosos (aqueles em que há intenção) que causaram prejuízo aos cofres públicos só prescrevem após o prejuízo ser reparado, o que ainda não aconteceu no caso da Ecovias.
*”EUA chegam a 10 mil mortes; Nova York planeja enterros provisórios em parques”*
*”Quadro se agrava e premiê britânico é levado para UTI”*
*”Áustria e Dinamarca são primeiros na UE a relaxar quarentena”*
*”Autocratas tentam sobreviver ao inimigo invisível”* - Para o presidente do Egito, Abdel Fatah al-Sissi, a pandemia do coronavírus significou o envio de tropas de combate à guerra química, vestidos com roupas de proteção e armados com desinfetantes, às ruas do Cairo, em uma exibição teatral de poderio militar projetado pelas mídias sociais. O líder da Rússia, Vladimir Putin, vestiu o traje de plástico, em amarelo canário, para visitar um hospital de Moscou para pacientes com coronavírus. Em seguida, ele despachou para a Itália 15 aviões militares cheios de suprimentos médicos e com o slogan “Da Rússia com amor”. O presidente Recep Tayyip Erdogan, da Turquia, um prodigioso carcereiro de jornalistas, mandou prender alguns repórteres que criticaram seus primeiros esforços para combater o vírus, depois enviou uma mensagem de voz ao telefone de todos os cidadãos com mais de 50 anos, enfatizando que ele tinha tudo sob controle. No Turcomenistão, um dos países mais repressores do mundo, nenhuma infecção foi oficialmente declarada, enquanto o presidente vitalício, Gurbanguly Berdymukhamedov, promove seu livro sobre plantas medicinais como uma possível solução para a pandemia. Em resposta ao surto de coronavírus, os autocratas do mundo estão se voltando para seu manual usual, empregando uma mistura de propaganda, repressão e demonstrações de força para exalar uma aura de controle sobre uma situação inerentemente caótica.
Efeitos. No curto prazo, a crise oferece uma oportunidade para zombarem dos rivais ou entrincheirarem seus já vastos poderes com pouco risco de censura, em um mundo distraído, onde a luta para conter a pandemia forçou até democracias liberais a considerar medidas duras, como sistemas invasivos de vigilância de celulares. “O coronavírus é o novo terrorismo”, disse Kenneth Roth, diretor da Human Rights Watch, que teme que uma expansão de poderes draconianos possa se tornar o legado duradouro do vírus. “É o pretexto mais recente para violações de direitos, e temo que persista muito depois que a crise terminar.” No entanto, o vírus também traz riscos para os homens fortes. Países como Rússia e Egito estão na frente da curva do vírus, o que provavelmente significa que o pior vai ocorrer em questão de semanas.
Embora poucos analistas prevejam agitação imediata, especialmente à medida que a ansiedade do público cresce, uma pandemia devastadora pode abalar a fé em líderes cuja autoridade repousa em um domínio incontestado. “Em alguns lugares, ele pode acabar com uma ditadura feroz e desagradável. Em outros, a coisa toda pode desmoronar”, disse o analista Steven Cook. Em países já voláteis, o vírus minou o poder da dissidência. As revoltas populares no Líbano, Iraque, Argélia e Chile pararam nas últimas semanas e, dados os riscos à saúde, é improvável que recuperem impulso em breve. A pandemia, porém, também embaralhou os planos de muitos homens fortes. Putin foi forçado a cancelar um referendo que lhe permitiria permanecer no poder até 2036. O governo do Egito anunciou silenciosamente que o vírus havia matado dois de seus generais mais graduados, alimentando especulações de que a doença se espalhou amplamente no alto comando militar. Em muitos desses países, os cidadãos já suspeitam que seus líderes ocultam a verdade sobre a extensão das infecções. Onde as instituições são enterradas, os líderes autoritários ficam cercados por um pequeno círculo de conselheiros – sem dúvida, um bom sistema para silenciar os oponentes, mas ruim para tomar decisões com base na ciência. “Os germes não respeitam a censura”, disse Roth. “A censura pode parar as críticas, mas pode alimentar a crise da saúde pública”, acrescentou.
*”SP vê adesão ao isolamento cair e estende quarentena”*
*”Ministério quer afrouxar isolamento”*
*”Hospital Sírio-libanês testa anticoagulante contra o vírus”*
*”Remédio contra Aids tem resultado promissor”*
*”Estados e municípios estimam fechar o ano com rombo de até R$ 44 bilhões”* - Assim como a União planeja terminar o ano com rombo recorde superior a R$ 420 bilhões nas contas públicas, Estados e municípios também querem espaço maior para contrair novos empréstimos e gastar mais nas ações de enfrentamento da pandemia da covid-19. Governadores e prefeitos pressionam para aumentar o déficit dos governos regionais dos atuais R$ 30 bilhões para um patamar entre R$ 40 bilhões a R$ 44 bilhões em 2020, segundo apurou o ‘Estadão/Broadcast’.
Sem direito a se financiar no mercado, a saída dos governadores e prefeitos para elevar os gastos é via novos empréstimos e suspensão de pagamentos de parcelas da dívida com a União, bancos e organismos internacionais. Antes da pandemia, a estimativa era que os governos regionais fechassem o ano no azul em R$ 9 bilhões. A ampliação do espaço está sendo negociada no âmbito do projeto que cria o chamado Plano Mansueto de socorro aos Estados e municípios. A votação do projeto na Câmara, que ganhou regime de urgência, foi adiada para hoje. A equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, tenta manter o espaço fiscal dentro do déficit estimado de R$ 30 bilhões. Reuniões foram feitas ontem com o relator da proposta na Câmara, deputado Pedro Paulo (DEM-RJ). O resultado negativo indicado na lei está diretamente relacionado à capacidade de empréstimos da cada Estado ou prefeitura. O limite de crédito é autorizado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), órgão que reúne Guedes, o secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Além do limite, cada Estado ou município recebe uma nota de risco que garante ou não aval do Tesouro (com o “selo”, governadores e prefeitos conseguem empréstimos com mais facilidade e a menor custo, já que, caso deem calote, a União cobre).
Regras. Durante a calamidade, o Congresso também quer mudar as regras das notas para permitir que mais governadores e prefeitos tenham acesso aos empréstimos com garantia, mesmo para Estados com nota ruim por terem endividamento alto. Técnicos avaliam que mudar as regras da nota não assegura que o CMN aumentará o limite global de crédito para permitir ampliar o nível de endividamento. O Congresso já autorizou a mudança da meta dos governos regionais para déficit de R$ 30 bilhões por causa da covid-19. A equipe econômica quer manter nesse nível, que leva em conta o impacto das medidas de R$ 88 bilhões para os Estados e municípios já anunciadas pelo governo federal, que incluem suspensão de dívidas e acesso a dinheiro novo, além de um espaço de R$ 6,5 bilhões aberto com o Plano Mansueto, destinado principalmente a Estados com problemas de caixa para pagar funcionários e fornecedores. Em reunião com bancadas do Congresso no fim de semana, Guedes afirmou ser contra o perdão da dívida dos Estados, mas defendeu alívio a governadores para fazer frente a gastos com saúde e à redução na arrecadação. Ao Estado, o relator do projeto admitiu que está abrindo uma janela para governadores e prefeitos lidarem com as despesas. Há no plano a exigência de contrapartidas, como a de não ampliar gastos permanentes. Até o fim de 2020, o programa suspende o pagamento da dívida dos governos regionais com a União, possibilita buscar o setor financeiro e organismos multilaterais a financiar suas dívidas sem aval do Tesouro, mantendo as garantias. No caso do BNDES e Caixa, somente os contratos na Justiça ficam fora desse refinanciamento.
*”Queda de receitas próprias podem chegar a 50%”*
*”Dois milhões tentam renegociar dívidas”*
 
CAPA – Manchete principal: *”Mandetta está ‘por um fio’, mas afirma que fica”*
*”Postos pedem quebra de fidelidade para vender combustível de distribuidoras”*
*”STF exige aval de sindicato para redução salarial”* - Decisão é provisória e será submetida ao plenário do Supremo
+++ A reportagem é ainda mais superficial que a da Folha.
*”Morre aos 83 anos o economista Wilson Cano”* - Professor foi um dos criadores do Instituto de Economia da Unicamp e pesquisador do desenvolvimento econômico e industrial brasileiro
*”Comércio com China responde por quase 80% do superávit”*
*”Ministros tentam reverter mal-estar”*
 - Paulo Guedes e Tereza Cristina têm a missão de tentar apagar incêndio na relação com Pequim
*”Weintraub diz que ‘troca’ desculpas por respiradores”* - Ministro quer que chineses vendam mil respiradores a preço de custo para o Brasil
*”Declarações tendem a deteriorar relações, dizem analistas”* - No médio e curto prazo, porém, atrito não deve respingar nas exportações brasileiras nem nos investimentos chineses em infraestrutura no país
*”Bancos já projetam déficit primário acima de 6% do PIB”* - Com pacote fiscal e queda de receitas em função da retração da economia, economistas veem déficit primário crescente e dívida bruta chegando a 85% do produto
*”Varejo e recreação têm movimento 70% menor, indica Google”*
*”Doria estica a quarentena até dia 22”*
*”Ceará caminha para ser o 1º a atingir pico de contágio”* 
- Previsão indica que auge ocorrerá no dia 25, quando Estado vai superar 3 mil casos
*”Para equipe econômica, medidas vão salvar empregos”* - Mesmo com ajuda do governo, estimativas são de que 2 milhões a 3 milhões de trabalhadores sejam dispensados
*”Alvo de fritura, Mandetta diz que fica”* - Ministro convoca entrevista, redobra aposta em isolamento e surpreende equipe que esperava por demissão
*”Análise do Exército sai do ar e será revista”* - O Exército resolveu tirar do ar a análise, de autoria do Centro de Estudos Estratégicos da instituição, sobre a crise da covid-19. O estudo, intitulado “Estratégias de transição para a normalidade”, estava no site do Exército desde o dia 2. Foi divulgado pelo colunista do UOL, Rubens Valente. Segundo o Centro de Comunicação do Exército, o texto voltará ao ar depois de passar por um ajuste. Teria havido uma leitura “inadequada” de que se tratava de uma postura do Exército contrária ao Comandante Supremo das Forças Armadas, o presidente da República. “Nossa instituição não se presta a interesses que não sejam o da sociedade”, informou. O Centro de Estudos Estratégicos está diretamente subordinado ao chefe do Estado Maior do Exército, segundo cargo na hierarquia da instituição, depois do comandante. O estudo foi divulgado um dia antes de o cargo ser oficialmente transmitido pelo seu ex-ocupante, o ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Walter Braga Netto, ao general Marco Antônio Amaro dos Santos.
Por conta da pandemia, a transmissão foi feita em cerimônia restrita. Além de Braga Netto, que hoje lidera o comitê da crise da covid-19 no governo, e de Amaro, que assumiu a função depois de chefiar o Comando Militar do Sudeste, em São Paulo, compareceram o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e o comandante do Exército, general Edson Leal Pujol. O estudo de 25 páginas preconiza medidas em linha com as orientações da Organização Mundial da Saúde e com a conduta recomendada pelo Ministério da Saúde. “A adoção precoce de estratégias de isolamento horizontal tem apresentado resultados parciais mais efetivos, no achatamento da curva”. Considera o isolamento vertical, defendido pelo presidente Jair Bolsonaro, como uma medida a ser adotada apenas quando se comprovar uma curva descendente de contágio. Pondera ainda que a medida foi bem sucedida em países cuja geografia - e disciplina - são distintas das do Brasil. O texto avança na análise de uma “estratégia de sequenciamento ou mista”, com 14 dias de isolamento horizontal e outras duas semanas de isolamento vertical, condicionados ao perfil epidemiológico de evolução do contágio em cada região, à realização de testes rápidos para separar a população contaminada daquela sem sintomas, além de medidas como o revezamento do horário de funcionamento das atividades comerciais, limitação de transporte urbano e limitação da quantidade de pessoas em circulação.
O estudo pondera que qualquer medida deve levar em consideração as dimensões do país, a precariedade das condições de vida de comunidades periféricas, as deficiências do sistema hospitalar e o desemprego. Alerta ainda que uma das maiores dificuldades para a adoção das medidas é a obtenção de consensos na Federação. “Esse consenso deve ser construído de forma urgente. Não parece razoável uma quebra de governabilidade num momento tão crítico”. Além de apoiar, em linhas gerais, a conduta do Ministério da Saúde, o estudo especula sobre uma possível retomada da centralidade de mecanismos econômicos multilaterais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC), a Organização Mundial do Trabalho (OIT) e o Fundo Monetário Internacional (FMI). A crítica ao multilateralismo tem marcado a atuação do chanceler Ernesto Araújo. A repercussão do estudo somou-se à tempestade perfeita para o presidente da República ao longo do fim de semana. Pesquisa Datafolha indicou que a popularidade do ministro da Saúde, Henrique Mandetta, supera a do seu chefe, levando-o a intensificar as gestões para sua substituição. A precipitação de Bolsonaro rumo a um isolamento ainda maior foi coroada com a atuação de sua milícia digital que decretou guerra com perfis falsos do presidente da Câmara, Rodrigo Maia e de Mandetta, além da radicalização das provocações contra o governo chinês, #bloqueiocomercialchinesja
*”Doria relata ameaças contra família e cita ‘gabinete do ódio’”*
*”Ministros do STF falam contra fim da quarentena”* 
- Para Barroso, suspensão do distanciamento social pode causar um ‘genocídio’ entre os mais pobres
*”Câmara quer votar MP 905 e Mansueto”* - Governadores queixam-se de ação para reduzir o valor dos empréstimos que poderão contrair
*”Governo trabalha para amenizar CSLL para bancos”*
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