terça-feira, 14 de abril de 2020

Análise de Mídia 14/04

DOS JORNAIS DE HOJE: Enquanto Valor Econômico, Estadão e Folha se preocuparam em destacar temas relativos à economia em suas capas, o Globo chamou atenção para a subnotificação de casos do coronavírus no Brasil. A capa diz que “Cientistas calculam que país já tem 300 mil infectados”. Há dias os jornais começaram a mencionar que existia subnotificação dos casos, agora, após o isolamento de Luiz Henrique Mandetta no governo, o jornal carioca apresenta o estudo de pesquisadores da USP. O tema que até agora estava sendo ignorado pode entrar com força no debate público, ainda mais se as emissoras de tv da Rede Globo passarem a utilizá-lo.
Todos os jornais abordam a situação do ministro da Saúde após a entrevista concedida à TV Globo em que ele criticou a postura e o discurso de Jair Bolsonaro. As reportagens dão conta de que Mandetta perdeu apoio dos militares, de Paulo Guedes e até de Sergio Moro. A Folha publica reportagens sobre as relações entre os Poderes, como as ações de Jair Bolsonaro podem ser travadas pelo Judiciário e a competição entre entes da federação na busca por EPIs.
Outro tema que está presente em todos os jornais é a aprovação do programa de socorro a estados e municípios. Além deste, a Folha aborda a PEC do chamado “Orçamento de guerra” que pode sofrer mudanças. O Valor Econômico informa que o relator alterou o texto que dava superpoderes ao BC e, por isso, a PEC voltará para a Câmara. O jornal O Globo publica entrevista com o economista francês Pierre Salama que faz previsões para o mundo pós-pandemia.
O Valor Econômico, por sua vez, informa que a arrecadação do governo federal já estava em queda antes mesmo da pandemia atingir o Brasil. O jornal também informa as estratégias dos governos estaduais para reduzir gastos com outros poderes e aborda as medidas que estão sendo estudadas pelo governo junto aos bancos para oferecer crédito a médias e microempresas.
 
 
 
CAPA – Manchete principal: *”Câmara aprova socorro aos estados; Guedes defende veto”*
EDITORIAL DA FOLHA - *”Fome de dólar”*: Como quase sempre ocorre durante crises econômicas globais, são especialmente os países não desenvolvidos os mais sujeitos a riscos. Embora a pandemia da Covid-19 faça menos distinção entre ricos e pobres, e ao menos até agora submeta todos a duras provas, vai ficando evidente que os emergentes, sobretudo os que se incluem no grupo de mais baixa renda, terão maior dificuldade em mitigar os impactos do novo coronavírus. Além da falta de estrutura doméstica, a dificuldade de acesso a crédito é uma deficiência grave para o enfrentamento da calamidade. Países que não conseguem financiamento em larga escala na moeda local precisam buscar recursos no exterior. Mas a escassez de dólares se agudiza justamente nesses momentos de necessidade, quando as cotações da moeda americana se elevam abruptamente. É o que se observa agora. Além da perda de valor das moedas nacionais, desde o início da crise a fuga de capitais dos países pobres e remediados já chega a US$ 100 bilhões, segundo o Fundo Monetário Internacional. O montante corresponde a cerca do triplo do registrado em 2008, outro momento de desembarque de investidores.
A dominância do dólar como meio de pagamento no comércio internacional e nos mercados financeiros praticamente obriga todos a buscarem financiamento na divisa dos Estados Unidos. Desde a derrocada internacional de 12 anos atrás, a dívida em dólares de países emergentes e suas empresas disparou, passando da casa dos US$ 3 trilhões. O resultado é um descasamento que pode se tornar impagável. A queda dos preços das matérias-primas constitui outro fator agravante, pois reduz as receitas em moeda forte e aumenta o risco de déficits nas transações de bens e serviços com o restante do mundo. A corrida pelo dólar é desafio para todos. Já se aventaram alternativas de financiamento de cunho multilateral, notadamente por meio do FMI, mas nunca foi possível superar o domínio absoluto da divisa norte-americana. Enquanto uma solução definitiva não se mostra clara, cabe tratar da emergência do combate ao coronavírus. Instituições como o Fundo e o Banco Mundial propuseram suspender a amortização da dívida externa de 76 países muito pobres, com alívio potencial de até US$ 130 bilhões neste ano. O G20 também indica que apoiará um esforço coordenado nessa direção, com diferimento ou mesmo perdão de dívidas bilaterais. A tarefa de coordenação é complexa, mas tudo sugere que algo avançará. Da mesma forma que todos os governos estão se endividando para proteger seus cidadãos da recessão econômica, é papel dos organismos e grupos multilaterais evitar a insolvência dos emergentes.
PAINEL - *”A pedido de Bolsonaro, Exército já fez 2,2 milhões de comprimidos de cloroquina e vai ampliar produção”*: O laboratório do Exército já produziu 2,2 milhões de comprimidos de cloroquina para uso no tratamento de coronavírus no Brasil e vai aumentar a fabricação para 1 milhão por semana. Cada pílula custa R$ 0,20. A produção foi uma determinação do presidente Jair Bolsonaro, defensor da droga. Em entrevista nesta segunda (13), a equipe técnica do Ministério da Saúde voltou a dizer que não há nenhum estudo científico que comprove o funcionamento do remédio para casos de Covid-19. A destinação dos comprimidos caberá ao Ministério da Defesa, afirmou a assessoria da pasta. Até agora, o Ministério da Saúde liberou cloroquina para uso em casos graves e internados, quando o médico julgar necessário. A equipe técnica do ministro Luiz Henrique Mandetta apresentou uma cartilha com análise de 33 teses sobre o remédio e concluiu que até o momento nenhuma é válida do ponto de vista científico.
PAINEL – COLETIVA: Os ministros Sergio Moro (Justiça) e Damares Alves (Direitos Humanos) foram pegos de surpresa quando viram que fariam sozinhos a entrevista diária das 17h no Palácio do Planalto sobre coronavírus. Mandetta, general Braga Netto (Casa Civil) e o AGU, André Luiz Mendonça, estavam na programação enviada no começo da tarde. A entrevista tinha potencial para aumentar as polêmicas entre o presidente e o ministro da Saúde. No sábado (11), o AGU criticou medidas de isolamento e ameaçou entrar na Justiça pela flexibilização. Mandetta, no domingo (12), criticou no Fantástico a dubiedade do governo sobre quarentena. O STF decidiu que cabe aos governadores as medidas de restrições dos estados.
PAINEL - *”Impasse com governadores é resultado de guerra política na visão de Guedes”*: Paulo Guedes tem feito a leitura, nos bastidores, de que o impasse em torno do auxílio a estados e municípios é resultado da guerra política entre Jair Bolsonaro, de um lado, e João Doria (PSDB-SP) e Wilson Witzel (PSC-RJ) do outro. Rodrigo Maia (DEM-RJ) age pelos governadores e também com interesses eleitorais. O principal argumento da Economia é o de que não se pode garantir a arrecadação dos estados porque não se sabe exatamente o tamanho do buraco. A depender da guerra política, ele pode ser enorme. Governadores podem conceder descontos de impostos com a garantia de que nada perderão, pois a União bancará as suas perdas. Mas tem outro ponto. Enquanto Bolsonaro advoga pelo fim do isolamento, os governadores esticam o prazo das medidas de restrição. Para o presidente e seus auxiliares, como Guedes, os governadores devem pagar o preço de sua decisão e não repassar a fatura ao governo federal.
PAINEL - *”Presidente do ICMBio diz que está tomando hidroxicloroquina por indicação de Bolsonaro”*: Presidente do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), o coronel Homero Cerqueira afirma que está tomando hidroxicloroquina para se tratar do coronavírus. Nas redes sociais, ele publicou mensagem em que diz que está se recuperando “graças ao nosso presidente da República que indicou o hidroxocloroquina [sic]”. Ele também compartilhou vídeo em que o médico Roberto Kalil detalha sua experiência com o coronavírus. Kalil usou cloroquina em seu tratamento, afirma que tem recomendado o uso a pacientes e foi saudado por Jair Bolsonaro em pronunciamento. "Todos vão pegar e todos vão se recuperar", escreveu Cerqueira em suas redes sociais. Após a publicação do Painel, Cerqueira apagou a mensagem original e escreveu uma nova: "volto a trabalhar graças ao remédio do Bolsonaro"​.
+++ O terraplanismo sanitário tem evidências.
PAINEL - *”Marcos Pontes presta contas a Carlos Bolsonaro ao apagar mensagens sobre monitoramento por celular”*: Marcos Pontes, ministro da Ciência e Tecnologia, deixou claro que estava prestando contas ao vereador Carlos Bolsonaro ao publicar mensagem nas redes sociais para dizer que havia apagado os vídeos e mensagens sobre a ferramenta desenvolvida por empresas de telefonia que permite monitorar deslocamentos humanos via sinais de celular. Ao fim da mensagem que revela o pedido do presidente por mais cautela, Pontes marcou o perfil de Carlos, que tem atacado o governador de São Paulo, João Doria, por projeto similar. "Por que não rastrear os telefones dos presídios de SP [...] ao invés de fazer isso com a população do Brasil?", escreveu Carlos na sexta (10).
Outro alvo de Carlos no fim de semana, o governador Hélder Barbalho (MDB-PA) rebateu os ataques. "Só tenho um adversário, o coronavírus, não tenho tempo a perder com fake news."
+++ O Brasil é governado por pessoas pequenas, não há dúvidas.
PAINEL - *”É hora de mais trabalho e menos entrevista, diz líder do PP em crítica a Mandetta”*: Líder do PP na Câmara, o deputado Arthur Lira (PP-AL) criticou a postura do ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde) na crise do coronavírus. O PP de Lira é o mais numeroso dos partidos que compõem o chamado centrão na Câmara dos Deputados. "A hora é de mais trabalho e menos entrevista, pois enquanto o médico está dando entrevista, o paciente está morrendo sem respirador, profissionais de saúde estão expostos sem equipamentos adequados e a população está circulando sem máscaras aumentando vertiginosamente o pico de contaminação", escreveu Lira em artigo enviado ao Painel. No texto, o parlamentar criticou ainda os critérios da repartição de cerca de R$ 4 bilhões feita pelo Ministério da Saúde na semana passada. Como mostrou o Painel, a divisão provocou a revolta de secretários de saúde Brasil afora. "Quando os estados e municípios realmente afetados mais necessitam de recursos e apoio do Ministério da Saúde, o órgão repassou R$ 4 bilhões sem qualquer critério a ser observado dentro da estatística epidemiológica", escreveu Lira. "Vários municípios sem casos confirmados foram beneficiados por recursos que deveriam ser destinados a áreas verdadeiramente afetadas. Ou seja, quem mais precisa que aguarde um pouco mais!" O parlamentar afirmou ainda que a entrega de EPIs prometidos a estados e municípios não chegou nem a 10% do prometido e que só 340 leitos de UTI foram efetivamente entregues, alguns incompletos.
*”Bolsonaro quer forçar Mandetta a pedir demissão após ministro perder apoio entre militares”* - A decisão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, de aumentar o confronto com Jair Bolsonaro afetou o apoio que ele detinha junto à cúpula militar do Palácio do Planalto e estimulou o presidente a intensificar a estratégia para forçá-lo a pedir demissão do cargo. Desde a semana retrasada, Bolsonaro avalia trocar o comando do Ministério da Saúde, mas vinha sendo demovido até a semana passada pela cúpula fardada. O conselho era para que ele fizesse uma mudança apenas em junho, ao término da fase mais aguda da pandemia do coronavírus. Assim, além de não descontinuar políticas em andamento para o combate à doença, ele não correria o risco de ser responsabilizado sozinho caso o sistema de saúde entre em colapso.​​ No domingo (12), no entanto, o ministro criou o que militares do governo consideraram uma "provocação desnecessária". Em entrevista à Rede Globo, Mandetta disse que o brasileiro não sabe se escuta ele ou o presidente sobre como se comportar e alertou que os meses de maio e junho serão os mais duros.
Ele também criticou aglomerações em padarias. Na quinta-feira (9), novamente ignorando as recomendações de isolamento social, Bolsonaro entrou em uma padaria para fotos e cumprimentos a apoiadores. Para a cúpula fardada, Mandetta fez um confronto público com Bolsonaro, não obedecendo à hierarquia do cargo, e reacendeu um conflito que havia diminuído de temperatura. A avaliação foi de que o ministro desprezou o esforço do núcleo militar para que ele fosse mantido no cargo e está preocupado apenas com a sua imagem pública, em uma tentativa de se candidatar a governador de Mato Grosso do Sul em 2022. Ao longo desta segunda-feira (13), a postura de Mandetta na entrevista à Rede Globo foi alvo de queixas feitas ao presidente por ministros militares. Segundo relatos feitos à Folha, se antes a opinião da maioria era pela sua permanência, agora passou a ser pela sua troca. Com o diagnóstico de que Mandetta perdeu um apoio de peso, o presidente avaliou, de acordo com deputados bolsonaristas, ter sido aberta uma nova brecha para intensificar a estratégia de pressioná-lo a pedir exoneração. Ao forçá-lo a se demitir, Bolsonaro quer evitar que Mandetta saia do governo com a imagem de mártir. Segundo assessores presidenciais, a ideia é que a partir desta terça-feira (14) o ministro seja escanteado de reuniões, não participe de decisões do governo e que seja dado mais​ espaço a quem lhe faz um contraponto público.
A defesa feita por integrantes do núcleo ideológico, por exemplo, é para que o presidente faça questão de sempre citar tanto em entrevistas à imprensa como em postagens nas redes sociais as opiniões do deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) e da médica Nise Yamaguchi. Os dois são cotados para substituir Mandetta e defendem o uso de hidroxicloroquina para casos de coronavírus em estágio inicial, além da adoção do que chamam de quarentena vertical, que preserve apenas os grupos de risco. A repercussão negativa da entrevista também criou desconforto no Ministério da Saúde. Nesta segunda-feira, Mandetta evitou aparições públicas e não compareceu à entrevista que tem sido realizada diariamente no Palácio do Planalto para apresentar atualizações no cenário do coronavírus no país. Segundo aliados do ministro, ele submergiu para não ampliar o desgaste. A ausência de Mandetta, cuja participação era prevista, não foi justificada e gerou estranheza inclusive entre outros integrantes da equipe ministerial, como Sergio Moro (Justiça), que compareceu à coletiva de jornalistas. Os técnicos do Ministério da Saúde disseram, sem detalhes, que o ministro estava em uma reunião e tentaria chegar a tempo. Aliados de Mandetta reconhecem que a postura adotada por ele foi equivocada e defendem que ele evite novos confrontos. Nesta segunda, questionado por jornalistas sobre a entrevista do ministro exibida no domingo (12), Bolsonaro disse que não assiste à Rede Globo e não quis comentar as declarações do auxiliar presidencial. Segundo assessores palacianos, no entanto, no final da tarde de domingo Bolsonaro foi informado que Mandetta havia concedido uma entrevista à Rede Globo naquela tarde. Segundo relatos feitos à Folha, ele assistiu ao conteúdo no Palácio da Alvorada e, para a surpresa de aliados, minimizou as declarações, avaliando que não foram graves. Na tarde desta segunda, Bolsonaro participou ao lado do ministro da Defesa, Fernando Azevedo, de videoconferência com os responsáveis pelos dez comandos que discutem ações de combate ao coronavírus. O presidente deixou o ministério sem falar com a imprensa.
​A relação entre Bolsonaro e Mandetta nunca foi próxima, sempre foi protocolar. O ministro foi indicado ao cargo pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), aliado de primeira hora do presidente, mas hoje rompido com ele por divergências na conduta de combate ao coronavírus. Pela falta de afinidade com Mandetta, Bolsonaro chegou a cogitar a sua substituição em setembro de 2019, mas desistiu ao constatar que ele tinha amplo apoio junto ao setor da saúde. No início da pandemia do coronavírus, o presidente se queixou ao ministro de que ele deveria defender mais o governo e o repreendeu por ter participado de uma entrevista ao lado do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), adversário político de Bolsonaro. Mandetta modulou sua retórica e passou a pregar a importância de a atividade econômica não parar. Ele, no entanto, não se dobrou à pressão do presidente contra a medida de isolamento social, o que iniciou o embate entre ambos.​ A crise com Mandetta abalou Bolsonaro. Segundo assessores presidenciais, pela primeira vez desde que assumiu o cargo, o presidente receou estar perdendo capital político ao constatar que parte da base bolsonarista nas redes sociais apoia o ministro. De acordo com um aliado do presidente, preocupada com o marido, a primeira-dama Michelle Bolsonaro chegou a recomendar ao presidente que diminuísse o ritmo da ag​enda política para evitar um quadro de estresse.​ Mandetta já mandou recado a Bolsonaro que só deixa o cargo se for exonerado. Ele, no entanto, tem demonstrado sinais de cansaço com a relação conturbada. Segundo servidores da pasta, amigos e familiares de Mandetta têm defendido que ele peça demissão.
Em jantar recente, correligionários do ministro disseram que ele estava visivelmente esgotado e que ele reconheceu que sua relação com Bolsonaro está muito desgastada. No encontro, ele também teria demonstrado irritação com o comportamento de Osmar Terra. O ex-ministro da Cidadania tem dado entrevistas defendendo ideias contrárias às de Mandetta. Ao jornal argentino Clarín e a uma rádio, por exemplo, ele disse que o coronavírus “não matará mais do que a gripe do inverno”, menos de 1.000 pessoas. Até agora, 1.328 morreram no Brasil, segundo balanço do Ministério da Saúde. Além do receio de que uma demissão transforme Mandetta em um mártir, Bolsonaro teme também a reação dentro de sua própria base de apoio. Pesquisa Datafolha divulgada no início do mês mostrou que a aprovação do Ministério da Saúde no combate ao coronavírus subiu e já é mais do que o dobro da do presidente da República. ​Governadores e prefeitos também têm avaliação superior à de Bolsonaro. A aprovação à atuação da pasta comandada por Mandetta passou de 55% no mês passado para 76% em abril. Já a aprovação ao presidente seguiu estável (33% ante 35%), dentro da margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos.
*”Mandetta adota posição de enfrentamento a Bolsonaro desde ameaça de demissão; relembre”*
*”Ameaças de Bolsonaro a governadores e prefeitos mobilizam Supremo e Congresso”* - A relação conturbada do presidente Jair Bolsonaro com governadores e prefeitos em torno de medidas de combate ao novo coronavírus levou o STF (Supremo Tribunal Federal) e o Congresso a entrarem em campo para esclarecer as competências de cada ente da federação. Os Poderes Legislativo e Judiciário veem com preocupação os conflitos de gestores locais com o chefe do Executivo federal e temem que as disputas atrapalhem o enfrentamento da doença. Na tentativa de aprofundar o debate sobre o tema, o Supremo irá julgar na quarta-feira (15) se mantém a decisão em que o ministro Marco Aurélio Mello reforçou a autonomia de estados e municípios para imporem medidas de isolamento social. A tendência é que o entendimento do ministro seja referendado por ampla maioria na corte, deixando claro ao Palácio do Planalto que governos locais também têm competência em discussões relativas à saúde pública. Na última quarta-feira (8), o ministro Alexandre de Moraes seguiu a mesma linha de Marco Aurélio e, numa ação apresentada pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), também delimitou as atribuições da União. Em outra frente, ministros do STF passaram a estimular parlamentares nos bastidores para dar fôlego a projeto de lei complementar do senador Antonio Anastasia (PSD-MG) que cria a "decisão coordenada federativa" para ações em saúde em situações de emergência, como a pandemia do coronavírus. O texto regulamenta inciso do artigo 23 da Constituição que trata da competência de cada ente e prevê que as ações de enfrentamento à doença sejam definidas em votação com representantes dos governos federal, estadual e municipais. O projeto foi compartilhado por ministros do STF com pessoas próximas, inclusive pelo presidente da corte, Dias Toffoli, que disseram considerar importante a discussão. Apesar de não ser consenso entre os parlamentares, o texto de Anastasia tem o apoio do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), segundo pessoas próximas.
Este respaldo pode fazer com que a proposta seja impulsionada no Senado. Além das críticas de Bolsonaro aos governadores, o presidente da República tem manifestado a intenção de editar um decreto para determinar o retorno de atividades que foram fechadas pelos estados como forma de propagar o isolamento social. Na primeira menção do presidente à iniciativa, no final de março, ministros do Supremo fizeram chegar a Bolsonaro a informação de que qualquer medida nesse sentido provavelmente seria derrubada pela corte. A avaliação é a de que ele não poderia interferir dessa forma no poder dos governadores. O próprio ministro Gilmar Mendes, em reunião com o presidente no mês passado, sugeriu que ele criasse um comitê sobre a pandemia que incluísse representantes de estados e municípios. O comitê de crise do Executivo tem apenas representantes do governo federal. Após esse episódio, na primeira semana de abril, Bolsonaro voltou a dizer em entrevista à Jovem Pan que poderia baixar um decreto para reabrir atividades fechadas pelos estados. "Para abrir o comércio, eu posso abrir numa canetada. Enquanto o Supremo ou o Legislativo não suspender os efeitos do meu decreto, o comércio vai ser aberto. É assim que funciona, na base da lei", disse o presidente. Novamente, a declaração repercutiu mal em outros Poderes.
Dessa forma, ministros do STF avaliam que o texto de Anastasia normatiza a articulação entre os entes durante a pandemia. O projeto do senador define que participam de uma decisão coordenada "com direito a voto e voz o presidente" da República, o ministro da Saúde (que pode representar o chefe do Executivo na ausência dele), os governadores e os prefeitos das capitais. As ações a serem definidas pelo grupo devem ser referendadas por maioria absoluta dos participantes. As decisões devem ser tomadas, "preferencialmente por meios virtuais", e podem ser convocadas pelo presidente, que comanda as audiências, "por pelo menos um terço dos governadores e metade dos prefeitos de capitais, garantindo a maioria absoluta". Anastasia espera debater o tema quando passarem as votações de projetos prioritários na Casa, que devem consumir as sessões das próximas duas semanas. Quem tem ressalvas ao projeto aponta que muitos senadores não têm interesse em dar mais poder aos governadores, já que muitos são adversários em seus estados. Mesmo assim, Anastasia diz que buscará união em torno do texto. "É um projeto neutro do ponto de vista político. É como se fosse como a lei da gravidade. É um projeto que estimula a convergência", diz. Em outra frente, o presidente do STF, Dias Toffoli, decidiu pautar para esta quarta-feira (15) ações que tratam das atribuições de estados, municípios e governo federal.
Entre elas estão questionamentos de partidos da oposição à medida provisória 926, que determinou que cabe ao governo federal controlar e definir limitações ao deslocamento intermunicipal e interestadual. Segundo o texto, qualquer decisão, como o fechamento de portos, rodovias ou aeroportos, quando afetarem serviços públicos e atividade essenciais, deve passar pela aprovação de órgãos reguladores (Anvisa, Anac e Antaq). Em decisão monocrática, o relator, ministro Marco Aurélio Mello, manteve a validade da MP, mas deixou claro que estados e município têm “competência concorrente” em relação à saúde pública. Ou seja, o magistrado decidiu que governos locais têm autonomia para determinar o isolamento social ou outras medidas que visem proteger a saúde da população. "O que nela [na MP] se contém –repita-se à exaustão– não afasta a competência concorrente, em termos de saúde, dos estados e municípios", escreveu.​​ Alexandre de Moraes, na ação da OAB, foi além e afirmou que sua decisão vale “independentemente” de posterior ato do presidente Jair Bolsonaro em sentido contrário. A expectativa de ministros do Supremo é que esse julgamento seja usado para mandar recados ao Palácio do Planalto em relação a outras áreas em que há atribuições conflitantes entre os entes da federação, não só na saúde. Além disso, preocupam integrantes da corte não só as divergências entre Bolsonaro e governadores, mas também decisões conflitantes tomadas dentro de estados. Ministros citam, por exemplo, casos de prefeituras que mantêm medidas de isolamento e restrição de transporte público contrariando determinações dos governos estaduais. As gestões de Florianópolis e Cuiabá, por exemplo, decidiram prorrogar por mais tempo ações de confinamento, indo em direção contrária ao pronunciamento dos próprios governadores.
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*”Lei do coronavírus abre brecha para batalhas judiciais entre União, estados e municípios”* - A lei que dispõe sobre as medidas que poderão ser adotadas para o enfrentamento da pandemia do coronavírus deixa brecha para que União e governos locais travem disputas jurídicas entre eles. Aprovada pelo Congresso em regime de urgência, a lei entrou em vigor em 6 de fevereiro. Desde então, prefeituras, governos estaduais e União passaram a usar a legislação para medidas excepcionais como as de confisco de equipamentos e serviços essenciais para a prevenção e o tratamento da Covid-19. Motivam essas batalhas judiciais, por exemplo, requisição de respiradores, equipamentos de proteção individual e álcool em gel que ainda estavam nas fábricas. Há casos em que um mesmo alvo é requisitado por mais de uma esfera de governo. Outro entrave são pedidos de confisco da União direcionados a fábricas, mas de olho em lotes já vendidos a estados e municípios. No Amapá, por exemplo, a União havia determinado o confisco de 25 aparelhos respiradores que estavam armazenados pela fabricante Intermed Equipamentos Médico Hospitalar. O lote, porém, já estava vendido para o governo estadual. O caso foi parar na Justiça Federal, após o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) ter entrado com uma ação popular contra o confisco. O próprio governo federal recuou e, em sua manifestação, disse ser a favor de deixar os equipamentos com o estado. Cinco dias depois, o juiz federal Hilton Sávio Gonçalo Pires acatou o pedido do parlamentar e proibiu a retirada dos ventiladores pulmonares da fábrica. Na semana passada, quando o Amapá entrou na fase mais aguda da epidemia, com aceleração de casos, o Ministério da Saúde anunciou o envio de respiradores para Macapá, mas Randolfe diz que o anúncio se refere ao mesmo lote de equipamentos alvo do confisco. “Então eu fui checar e os respiradores que eles dizem que estão mandando são na verdade os que o estado já havia comprado”, disse o senador. Em Cotia, na Grande São Paulo, houve disputa ainda mais acirrada, desta vez envolvendo a prefeitura e União. O município havia comprado um lote de 35 ventiladores pulmonares da empresa Magnamed, que tem fábrica na cidade. Após a compra, o Ministério da Saúde enviou um ofício à empresa requisitando todo o estoque de respiradores e a produção dos próximos 180 dias, o que incluía os 35 ventiladores pulmonares já adquiridos pelo município. O Prefeitura de Cotia, então, entrou na Justiça contra o pedido federal. Mais uma vez houve recuo da União. O Ministério da Saúde emitiu um segundo ofício, no qual retirava a determinação da requisição total da produção, liberando a comercialização de parte do estoque para estados e municípios.
No final de março, a juíza federal Adriana Zanetti derrubou o primeiro pedido de confisco do Ministério da Saúde. Foi a vez então de a prefeitura confiscar aparelhos que já havia comprado. Os 35 respiradores ainda não haviam passado por testes que garantiriam a segurança do seu funcionamento, mas o vice-prefeito, que acumula o cargo de secretário municipal de Segurança, foi até a fábrica com policiais e retirou os 35 equipamentos. Ele estava com a decisão judicial embaixo do braço. No dia seguinte, outra reviravolta. A juíza de plantão Adriana Delboni Taricco decidiu que a prefeitura tinha que devolver os aparelhos respiradores. Ela acolheu pedido do Ministério Público Federal porque considerou um "risco imediato o uso de 35 aparelhos pulmanores microprocessados sem a prévia fiscalização da Anvisa", a Agência Nacional de Vigilância Sanitária. O procurador da República Yuri Corrêa da Luz, que atuou neste caso no plantão, chamou a atenção para a brecha da lei. “A lei feita pelo Legislativo federal que autoriza [o confisco], na verdade autoriza que outros entes da Federação façam também”, disse o procurador à Folha. “Então a lei acaba gerando um ambiente de guerra de requisições entre entes federativos, porque ela não tem nenhum mecanismo previsto nela própria de coordenação dessas requisições. E não há nenhum lugar na Constituição que coloque que a União tem prevalência sobre os outros entes", completa. Preocupado com a possibilidade de confiscos, não só de respiradores, mas também de equipamentos de proteção, o governador João Doria (PSDB-SP) fez essa reclamação ao próprio presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. “Não faz nenhum sentido confiscar equipamentos e insumos. Se essa questão for mantida, tomaremos medidas necessárias no ramo judicial”, disse o governador, no final de março. O diretor da Faculdade de Direito da USP, Floriano Peixoto de Azevedo Marques Neto, especialista em direito do estado, diz que a União tem uma prerrogativa de organizar os esforços, mas a partir da aplicação dos recursos. “Então, por exemplo, se ela compra respiradores para a rede pública de saúde, ela decide onde vai alocar. Mas isso não dá à União o poder de confiscar do poder público equipamentos que são adquiridos pelos entes públicos da Federação para a rede local”, diz Floriano. “A requisição deve ser um remédio excepcional. Ao preferir o exercício autista da autoridade à coordenação de compra e alocação, estão criando um caos onde devia prevalecer a coordenação, desorganizando o sistema. Vai dar errado." Ele considera que as ações sendo direcionadas às fábricas são “um pouco mais delicadas, porque a lei autoriza requisitar do privado. Mesmo assim essa deve ser a exceção e não a regra".
Conforme mostrou a Folha na última sexta-feira (10), medidas judiciais e administrativas em vários estados vêm comprometendo o planejamento de hospitais, laboratórios e da indústria farmacêutica na distribuição de equipamentos de proteção individual a seus profissionais de saúde e funcionários. A falta de critérios definidos que autorizem vários tipos de confisco —na maior parte amparados por decretos estaduais ou municipais— levou 11 entidades da área médica a pedirem intervenção do STF (Supremo Tribunal Federal) e do CNJ (Conselho Nacional de Justiça). A reportagem aponta ainda que as entidades encaminharam uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) ao STF para que haja normatização que delimite as circunstâncias em que esse tipo de confisco possa ocorrer. A ação movida pela CNSaúde (Confederação Nacional da Saúde), entidade que reúne federações hospitalares e sindicados patronais, aponta que “amontoam-se os relatos de fornecedores de equipamentos médicos que recebem múltiplas requisições, oriundas de diversos entes da administração pública, de maneira caótica e desordenada, muitas vezes recaindo mais de uma delas sobre os mesmos bens e comprometendo todos os equipamentos em estoque".
FOLHA POR FOLHA - *”Na Redação quase vazia, dá para ouvir os cães latindo na rua”*
*”Macron anuncia retomada a partir de 11 de maio e pede 'refundação' da França”* - A França deve sair gradualmente da quarentena a partir de 11 de maio, anunciou o presidente Emmanuel Macron na noite de segunda (13), em pronunciamento na TV. Em discurso em que reconheceu falhas no combate à pandemia, ele pediu uma “refundação” da França. A crise do coronavírus, disse, é a chance para criar “um projeto de concórdia, um projeto francês, uma razão de viver juntos”. “Saibamos deixar de lado as ideologias e nos reinventemos; eu, o primeiro”, afirmou Macron, em tom completamente diferente do que adotou em 16 de março, quando anunciou a quarentena e por diversas vezes repetiu “estamos em guerra!”. A palavra que marcou a fala desta segunda foi “ébranlement”, que significa comoção, choque, atordoamento. “Temos que reconhecer: o momento que vivemos é de comoção íntima e coletiva. Saibamos viver como tal e nos lembremos que somos vulneráveis”, disse o presidente, que pretende trabalhar a partir da próxima semana num “novo caminho” para a França. Macron disse que, embora sejam difíceis, as medidas de restrição de mobilidade são indispensáveis para permitir que os hospitais franceses recuperem a capacidade de atender e salvem vidas.
Ele pediu que os franceses sigam as regras nas próximas quatro semanas: “Não há outra forma de agir com segurança para barrar o vírus e permitir a reconstrução”. No dia 11 de maio, devem ser reabertas creches, escolas infantis, colégios e liceus, com reorganização tanto dos horários quanto dos espaços, para reduzir o risco de contágio. Segundo o presidente, a volta das aulas é fundamental para impedir um aumento da desigualdade no país, já que crianças de famílias mais pobres têm menos recursos para continuar sua educação longe das escolas. Faculdades só deverão voltar a ter aulas presenciais depois do verão, e lugares de aglomeração, como restaurantes, bares, cinemas, teatros e hotéis, ainda não têm data para reabrir. Macron também anunciou que as fronteiras do país vão seguir fechadas para não europeus —franceses e cidadaõs da União Europeia seguem sem restrições para entrar no país.O governo deve reavaliar a situação a cada semana para tomar novas decisões de relaxamento ou reaperto das regras. Festivais só voltarão a acontecer a partir de julho, "no mínimo", segundo o presidente. Embora seja mais um país europeu a anunciar planos para sair da quarentena, a realidade da França é bem diferente da dos outros sete que tomaram a dianteira.
Enquanto Eslováquia, República Tcheca e Espanha já retomaram algumas atividades, os franceses precisarão cumprir mais quatro semanas de confinamento para chegar à abertura prometida. A situação nos hospitais franceses também está longe da encontrada na Áustria e na Alemanha, onde o número de pacientes recuperados já supera a soma de doentes e mortos. A França precisou remanejar doentes de UTIs superlotadas e alguns foram transferidos para esses dois países, onde ainda há leitos disponíveis. Com a capacidade de atendimento ainda estressada, Macron pediu que idosos, doentes e outras pessoas vulneráveis continuem em casa depois de 11 de maio. Segundo ele, até lá o governo terá capacidade para testar todas as pessoas que apresentem sintomas relacionados ao coronavírus, como febre e tosse. Quem tiver contágio confirmado será isolado e tratado, e os contatos, monitorados. Para isso, a França também deve lançar um aplicativo, semelhante ao já apresentado na Áustria e na Alemanha, de uso voluntário. O programa rastreia com quem o usuário se encontrou e em que datas. Em caso de infecção confirmada, ele avisa aqueles que tenham tido contato com o doente.
Macron disse que também partilha “da aflição de não saber quando será o fim desta provação”. “Gostaria de poder responder, mas não tenho essa resposta definitiva. Nesta noite eu partilho o que sabemos e o que não sabemos, com a humildade que nos faz decidir e agir sabendo que há incertezas”, afirmou. Segundo ele, a única solução segura será a descoberta de uma vacina confiável, e o país deve acelerar as pesquisas científicas nessa direção, além de reforçar ensaios clínicos sobre formas de tratamento. O governo promete anunciar nesta semana novas medidas para conter danos econômicos provocados pela pandemia. A França foi o primeiro país europeu a registrar um caso de coronavírus, em 25 de janeiro. A primeira morte veio mais de um mês depois, em 26 de fevereiro. Três dias depois, eventos foram suspensos, mas escolas e lojas continuaram funcionando por mais duas semanas. As aulas só pararam no dia 16 de março. No dia seguinte, Macron decretou quarentena total. Até as 19h (horário do Brasil) desta segunda havia 137.875 casos confirmados de coronavírus e 14.986 mortos no país, quarto maior número no mundo, atrás dos EUA, da Itália e da Espanha. Curaram-se da doença 27.718 pessoas, e 6.821 estavam em estado crítico.
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*”Câmara aprova projeto de socorro aos estados, mas Guedes quer veto de Bolsonaro”* - Após concessões do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), os deputados aprovaram o projeto de socorro aos estados na crise causada pelo coronavírus. Apesar de desidratada, a versão não agrada o ministro Paulo Guedes (Economia), que, em caso de aprovação pelo Congresso, defende veto à proposta. O pacote emergencial não prevê contrapartidas dos chefes de Executivo estadual e municipal, como queria a equipe econômica. O texto-base foi aprovado por 431 votos a 70. O plenário da Câmara analisou e rejeitou os destaques —pedidos de alteração do texto. O projeto segue para o Senado, onde o governo já tenta articular mudanças. Encabeçado por Maia, o projeto prevê auxílio financeiro a estados e municípios que perderam arrecadação com a pandemia. Segundo líderes da Câmara, o efeito do texto-base aprovado nas contas públicas é de R$ 89,6 bilhões. A versão original, apresentada na semana passada, tinha um impacto calculado em R$ 220 bilhões pelo Ministério da Economia, que classificou a proposta como bomba fiscal. A proposta inicial de Maia encontrou resistência até mesmo de aliados. O pacote, na versão mais ampla, foi divulgado na última quinta-feira (9). O presidente da Câmara tentou aprovar o projeto no mesmo dia e não teve apoio no plenário. Ele teve, portanto, que negociar com partidos para conseguir aprovar o socorro nesta segunda.
Em outra frente, o time de Guedes tentou emplacar um projeto próprio, mas foi derrotado pela articulação da Câmara, apesar de ter conseguido reduzir o pacote de bondades que Maia queria aprovar para os governadores. A proposta apoiada pela equipe de Guedes prevê o repasse entre R$ 30 bilhões e até 40 bilhões para compensar a queda nas receitas dos estados e municípios. No entanto, o montante é considerado por congressistas muito aquém do que os governadores anseiam. A versão apreciada na Câmara calcula em R$ 80 bilhões a transferência de recursos do governo a estados e municípios. O Ministério da Economia quer mudar os critérios de distribuição do dinheiro. Guedes defende que essa transferência tenha um valor fixo, em vez de ser calculada com base na perda de ICMS (imposto estadual) e ISS (municipal). A avaliação é que essa maneira seria juridicamente mais segura. Em mensagens distribuídas a jornalistas nesta segunda-feira, o ministro criticou a compensação variável desses tributos, que, segundo ele, daria mais recursos para estados mais ricos. “Seria uma irresponsabilidade fiscal e um incentivo perverso, um cheque em branco para governadores de estados mais ricos”, disse. Líderes da Câmara, contudo, rejeitaram essa ideia. O texto dos deputados estipula que o pagamento dependerá da perda de arrecadação em cada mês. Assim, governadores e prefeitos teriam a segurança de que a receita nominal (sem considerar a inflação) será a mesma do ano passado.
O prazo para essas compensações também é motivo de impasse entre Câmara e governo. Maia quer que esse mecanismo funcione por seis meses, durante toda a pandemia —de abril a setembro. O Ministério da Economia defende que o plano emergência tenha prazo fixo, o que daria clareza aos cofres públicos. Além disso, o governo avalia que, com a garantia de compensação integral de impostos, estados e municípios poderão conceder benefícios fiscais e diferimentos (adiar prazo de pagamento de impostos) de maneira pouco criteriosa. Diante de duras críticas em relação ao pacote apresentado na semana passada, o presidente da Câmara admitiu nesta segunda que havia problemas na primeira versão do projeto emergencial e anunciou a supressão de dois trechos da proposta. O grupo que articula o pacote desistiu da ideia de abrir margem para que governadores se endividassem neste ano, deixando uma brecha para que os recursos fossem usados em anos posteriores. Esse trecho, que obrigava a União a garantir empréstimos mesmo de estados com baixa capacidade fiscal e tinha impacto aproximado de R$ 55 bilhões, foi retirado do projeto da Câmara. “Nós tiramos o excesso, tiramos os empréstimos e fizemos uma proposta enxuta”, afirmou Maia antes da votação.
Os líderes aceitaram também excluir o trecho que suspendia as dívidas dos estados e dos municípios com a União, cujo impacto seria de cerca de R$ 45 bilhões. Só foi mantida a suspensão de dívidas com bancos públicos, calculada entre R$ 9 bilhões e R$ 12 bilhões. Maia abriu mão ainda de um dispositivo que beneficiava o Rio de Janeiro, estado que aderiu ao RRF (Regime de Recuperação Fiscal) em 2017. O texto excluído anistiaria o pagamento de valores devidos por estados em crise. O impacto da renúncia era estimado em cerca de R$ 15 bilhões, segundo a equipe econômica. As concessões, no entanto, não foram suficientes para acalmar o governo. O time de Guedes defende que governadores e prefeitos sejam impedidos de conceder aumento salarial a servidores públicos em contrapartida ao acesso ao pacote de medidas. A ideia não é consenso dentro do governo. A medida é impopular, especialmente em ano de eleição municipal. “A gente precisa ter clareza que o presidente da República vai assinar a proposta”, disse Maia, expondo a resistência de Jair Bolsonaro à ideia de travar os salários de servidores federais, estaduais e municipais. O projeto aprovado pela Câmara impede aumento de despesas não diretamente relacionadas ao enfrentamento do coronavírus neste ano, mas não trata do congelamento salarial até o fim de 2021, como defendia a equipe econômica.
O líder do governo na Câmara, major Vitor Hugo (PSL-GO), sustentou que o impedimento de reajuste salarial seria um sinal do governo aos anseios de centrais sindicais e até deputados que querem o corte de jornada e de salário no funcionalismo público. A interlocutores, Guedes afirmou que, caso o Congresso aprove um pacote de socorro ampliado para estados e municípios, vai pedir o veto do projeto ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Segundo relatos, em reunião com sua equipe, o ministro disse que conversou com Bolsonaro e ele está disposto a usar seu poder de vetar dispositivos aprovados pelo Legislativo, caso seja necessário. Antes dessa etapa, o texto tem que passar pelo Senado, onde o governo já começa a se articular para barrar os dispositivos que desagradam Guedes. Se a estratégia não der resultado é que Bolsonaro usaria seu poder de veto para impedir um impacto fiscal maior do que o desejado pela equipe econômica. Acusado pela equipe econômica de tentar emplacar uma pauta-bomba para socorrer estados e municípios, Maia rebateu o que chamou de grande “desrespeito” à Casa que comanda. “Agora, nós não podemos ser acusados num dia e depois nós sermos a solução. O desrespeito à Câmara foi muito grande”, afirmou. “Nós ficamos tranquilos, equilibrados, mas agora essa é uma questão que nós entendemos que a sociedade cobra da gente responsabilidade.” Em março, o governo apresentou um plano de ajuda aos governos regionais com impacto de R$ 88 bilhões, incluindo repasses diretos, liberação de crédito e suspensão de dívidas. O pacote incluía o chamado Plano Mansueto, conjunto de ações de médio e longo prazo para ajudar na recuperação do equilíbrio financeiro de estados e municípios que adotassem medidas de ajuste fiscal.
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*”Maioria das 52 emendas à PEC do orçamento de guerra trata de superpoderes do BC”* - A maioria das 52 emendas à PEC do orçamento de guerra, prevista para ser votada de forma virtual pelo Senado na quarta-feira (15), trata de alteração no artigo que se refere à atuação do BC (Banco Central) na compra de títulos privados, maior divergência entre os senadores. Caso o texto aprovado pelos deputados seja modificado, a PEC precisa retornar para apreciação da Câmara. Embora o BC alegue que a atuação do banco no mercado secundário, prevista pela proposta, vai se dar apenas em casos excepcionais, como o que foi feito em outros países que também enfrentam a pandemia do coronavírus, os senadores temem perder o controle pertencente à Casa de fiscalização das ações do banco. Uma carta em branco, segundo relatam alguns parlamentares. “Aquele artigo que dá salvo conduto ao Banco Central é impossível de ser aprovado. Eu sou muito amigo do Roberto Campos (presidente do BC), e não vejo que ele consiga convencer os senadores do contrário. A questão não é ele, é quem estará lá amanhã. As pessoas podem mudar a qualquer momento e não podemos dar essa carta em branco”, disse o senador Major Olímpio (SP), líder do PSL.
Ainda nesta manhã, os líderes partidários estiverem reunidos de forma virtual tratando das mudanças. Enquanto isso, o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), relator da matéria, recebia as emendas dos parlamentares. A expectativa é que o texto seja alterado em consenso com todos os líderes antes do começo da sessão. “O MDB é favorável à mudança do artigo que trata do Banco Central. Da forma como está não podemos deixar passar”, afirmou o senador Eduardo Braga (AM). Na última quinta-feira (9), Roberto Campos Neto, o presidente do Banco Central fez uma apresentação aos senadores defendendo a manutenção do texto original. O BC defende que a medida tem o objetivo de aumentar a liquidez de empresas, mas senadores alegam que o Tesouro Nacional pode ficar exposto a papéis com alto risco de inadimplência, o que pode prejudicar as finanças a longo prazo. Pela proposta, o Tesouro tem de arcar, em todas as negociações, com 25% do valor dispendidos. O ministro da Economia, Paulo Guedes, também entrou na defesa da medida, tendo reuniões separadas com as bancadas do Senado. Atualmente, o Banco Central não pode a entrar nesse mercado, mas apenas de forma secundária: ele não poderá adquirir títulos diretamente com as empresas que os emitem, mas poderá comprá-los de outros atores que já os tenham, como bancos e fundos de investimentos. Mesmo valendo apenas para o período da pandemia, a medida é considerada polêmica e pode travar a tramitação da proposta. Para além da possível inadimplência que resultaria em dívidas para o Tesouro, alguns senadores afirmam que a PEC beneficia em excesso representantes do sistema financeiro, como bancos, e por isso cobram alterações no texto. Uma das defensoras das mudanças é a presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Casa, Simone Tebet (MDB-MS). Devido ao estado de calamidade causado pela pandemia do coronavírus, a PEC não cumpriu os ritos normais de tramitação, não sendo analisada pela CCJ da Casa.​
*”Entenda o que prevê a PEC do orçamento de guerra”*
*”Com tombo na arrecadação por causa do coronavírus, SP faz pacote de austeridade”* - Com uma queda prevista de arrecada de cerca de R$ 10 bilhões de abril a junho devido à crise do coronavírus, o governo do estado de São Paulo elaborou um pacote de corte de custos, O objetivo é preservar o pagamento de salários do funcionalismo e os serviços de saúde e segurança pública. As medidas iniciais preveem impacto de R$ 2,3 bilhões nesses três meses. Até o fim do ano, o governo João Doria (PSDB) crê poder economizar R$ 17 bilhões ao somar isso a outras ações já em curso ou em negociação, como a suspensão da parcela mensal da dívida do estado com a União, de R$ 1,2 bilhão, e do pagamento de PIS/Pasep (R$ 100 milhões/mês). O mais rico estado do país pode entrar em colapso financeiro, com um déficit de até R$ 4 bilhões em caixa em julho, se nada for feito. "A arrecadação do ICMS caiu 20% em abril, ou R$ 2,3 bilhões a menos, e a previsão é de que caia duas vezes mais em maio e junho", disse o vice-governador, Rodrigo Garcia (DEM). A queda é resultado direto da quarentena imposta a serviços não essenciais em São Paulo a partir de 23 de março, medida que tem sido adotada em diversos países para tentar desacelerar a taxa de contágio do novo coronavírus e evitar a sobrecarga dos hospitais. O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços é o principal tributo dos estados. Em 2019, rendeu R$ 147 bilhões aos cofres paulistas, quase 85% do total arrecadado no ano. O estado registrou um superávit primário de R$ 18,3 bilhões. Outros motivos para o tombo na arrecadação são o aumento da inadimplência e a forte redução nas importações. Vários estados estão enfrentando problemas semelhantes.
Hoje, segundo Garcia, o caixa do governo está estável. "Trabalhamos sempre com uma margem de 30% de folga. Sem as medidas, teremos dificuldades já em junho", afirmou. O principal gasto mensal é com o funcionalismo, R$ 6 bilhões. Dois decretos serão publicados nesta terça (14) por Doria. Num deles, é prevista a economia de R$ 650 milhões por 90 dias com reduções orçamentárias. Gastos com limpeza e manutenção predial e com o atendimento presencial do Poupatempo estão suspensos, assim como com o transporte escolar. Serão reduzidos 50% dos contratos com organizações sociais de cultura —com equipamentos como museus fechados, o objetivo é manter apenas o salário dos empregados. Além disso, um segundo decreto prevê R$ 655 milhões economizados com a suspensão de auxílio alimentação e de transporte a servidores trabalhando em casa, de pagamentos de diárias e passagens, de novas compras e despesas, de novas obras, de novos concursos e concursos em andamento. Obras em curso serão mantidas para evitar o impacto no desemprego. Também serão vetados gastos com publicidade e eventos não relacionados à pandemia, a antecipação do 13º salário dos servidores e a venda de 1/3 das férias. Saúde e segurança pública não entram no pacote de limitações, como a suspensão de bônus por resultado. "É um reescalonamento do gasto, como no caso do 13º, que será todo pago em dezembro", afirmou Garcia. Redução de salários ou de jornada para servidores não acontecerão, até porque isso dependeria da aprovação de uma mudança na Constituição. Para o vice-governador, o esforço é necessário nesses primeiros meses pela expectativa de que a atividade econômica comece a se recuperar no segundo semestre. "O Produto Interno Bruto do país vai cair, mas não de forma linear", disse. Nas avaliação do governo paulista, o distanciamento social espraiou um pico mais agudo de casos da Covid-19 em abril e o distribuiu para maio.
O monitoramento de movimentação de pessoas por meio do acompanhamento de seus celulares indicava nesta segunda (13) que 59% dos paulistas permaneceram em suas casa, índice abaixo dos 70% considerados ideais para achatar a curva de contágio e evitar superlotar hospitais. O isolamento é uma peça central da disputa política que cerca a crise do coronavírus no país. O presidente Jair Bolsonaro faz campanha aberta contra a prática, pelo temor de que o impacto econômico óbvio da ação enterre seus planos de reeleição em 2022. Ele acusa Doria e outros governadores que têm pretensões presidenciais, como Wilson Witzel (PSC-RJ), de exagerar os riscos da Covid-19, na contramão das recomendações do próprio Ministério da Saúde e de organismos internacionais. Em pronunciamento na semana passada, disse que prefeitos e governadores seriam os responsáveis pelo desemprego no país. Até aqui, Doria e Witzel têm sido mais bem aprovados do que Bolsonaro na condução da crise, segundo o Datafolha. São Paulo, unidade mais populosa da federação, é um dos centros da pandemia no país. Teve até esta segunda 8.800 casos e 608 mortes, uma taxa de infecção superior à brasileira (19,5 casos por 100 mil habitantes, ante 11 casos por 100 mil habitantes no país). Desde que a crise começou, em março, o estado entregou 1.700 leitos de UTI, ante uma recomendação do Ministério da Saúde para que fizesse 1.400. Hoje, a taxa de ocupação está em 60%, mas o estado não chegou ao pico da pandemia.
*”Bolsonaro quer mais testes em monitoramento de aglomeração via celular”* - Depois de um alerta dado pelo presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes, recomendou “prudência” e “mais testes” na ferramenta desenvolvida pelas empresas de telefonia que permite monitorar deslocamentos humanos via sinais de celular. Pessoas que participam das discussões afirmam que não houve veto de Bolsonaro e que a ferramenta ainda poderá ser implementada pelo governo federal. O governador de São Paulo, João Doria, já adotou esse sistema. Pontes apareceu na sexta-feira (10) em suas mídias sociais defendendo o monitoramento de aglomerações via celular em suas mídias sociais. No sábado (11), o ministro disse que Bolsonaro ligou pedindo que o serviço só fosse liberado após testes “exaustivos” pelo governo. Assessores do governo afirmam que o memorando de cooperação assinado entre o ministério e as teles só foi enviado na sexta-feira (10), atrasando o cronograma. As operadoras de telefonia, no entanto, afirmam nos bastidores que a plataforma de monitoramento já está pronta e passou por testes. A reação de Bolsonaro ocorreu depois que muitos aliados reclamaram ao presidente de que poderia haver risco de quebra de sigilo telefônico (acesso a dados protegidos, como o titular da linha telefônica). A Folha teve acesso aos testes da plataforma. Primeiro, os dados se referem sempre ao dia anterior. Ou seja: não funciona em tempo real. Além disso, na tela do sistema, só aparecem manchas formadas pela concentração de celulares em torno das antenas das operadoras. Zonas em azul representam baixa concentração e, ao contrário, em vermelho, elevada aglomeração. A ferramenta, no final, fornece uma espécie de “mapa de calor”.
Não há disponibilização de números de celulares, nem qualquer dado dos clientes. Outra preocupação de quem reclamou da plataforma digital de monitoramento foi a de que daria elementos para que governadores decretassem o recrudescimento de políticas de isolamento. Bolsonaro defende publicamente a retomada das atividades econômicas. Mesmo diante de um atraso no projeto em nível federal, as operadoras dizem que os governadores podem adotar imediatamente essa ferramenta como forma de monitorar aglomerações e traçar medidas de contenção. Por meio de sua assessoria, o Sinditelebrasil, associação que representa as empresas de telecomunicações, informa que “os mapas de calor” [como chamam as imagens com manchas de aglomerações pelas cidades] seguem estritamente a legislação, inclusive a Lei Geral de Proteção de Dados. “São dados estatísticos organizados de forma agregada e anônima. Não são coletados dados de celulares e pessoas”, disse a associação. O uso de sinais de celular para monitorar aglomerações foi implementado com sucesso pela Coreia do Sul e colaborou para políticas de restrições de acesso de vias públicas que ajudaram na redução de infecções pelo coronavírus ao evitar concentrações humanas.
*”Google e Apple lançam tecnologia que notifica contato com contaminado por coronavírus”*
*”Setor automotivo manda 370 mil para casa; previsão é de R$ 42 bi em perdas”*
*”Governo estuda reduzir imposto e dar crédito para socorrer usinas na crise de coronavírus”*
VAIVÉM DAS COMMODITIES - *”Comércio agrícola vai ficar mais protecionista, diz pesquisador do Ipea”*
*”Um milhão de trabalhadores já tiveram salário e jornada reduzidos após MP”* - O governo anunciou nesta segunda-feira (13) que mais de um milhão de trabalhadores tiveram salários e jornadas reduzidos ou contratos suspensos após a edição de MP (Medida Provisória) que autoriza a celebração de acordos entre patrões e trabalhadores durante a pandemia do novo coronavírus. Segundo o IBGE, o Brasil tinha 33,624 milhões de trabalhadores com carteira assinada no setor privado no trimestre encerrado em fevereiro. A informação é do secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Bianco. O dado inclui acordos individuais e também acordos coletivos de categorias feitos com intermediação de sindicatos. "Nesse período, os empresários, confiantes na medida, e os empregados também se uniram e chegaram aos seus acordos individuais e coletivos. Podemos dizer que essa medida provisória já tem frutos, e os frutos são mais de um milhão de empregos preservados", disse. No dia 1º de abril, o presidente Jair Bolsonaro editou uma MP (Medida Provisória) que autoriza corte salários e jornadas de trabalhadores durante a crise provocada pelo novo coronavírus. As reduções poderão ser feitas em qualquer percentual, podendo chegar a 100%.
Trabalhadores afetados receberão uma compensação do governo que pode chegar a 100% do que receberiam de seguro-desemprego em caso de demissão.
Nas contas do governo, a suspensão dos contratos ou redução de salário e jornada deve alcançar 24,5 milhões de trabalhadores com carteira assinada. Segundo o IBGE, o Brasil tinha 33,624 milhões de trabalhadores com carteira assinada no setor privado no trimestre encerrado em fevereiro. O custo total do programa aos cofres públicos é estimado em R$ 51,2 bilhões. Por acordo individual, o empregador pode fazer cortes de jornadas e salários em 25%, 50% ou 70% por até três meses, a depender da faixa de renda do trabalhador. Nos acordos coletivos, é permitida redução em qualquer percentual. O governo pagará a esses trabalhadores uma proporção do valor do seguro-desemprego equivalente ao percentual do corte de salário. A compensação será de 25%, 50% ou 70% do seguro-desemprego, que varia de R$ 1.045 a R$ 1.813,03. A suspensão de contratos, por sua vez, pode ser feita por até dois meses. Nesse caso, o empregado recebe valor integral do seguro-desemprego. O secretário disse que os dados serão atualizados periodicamente. Um site do governo trará uma espécie de "empregômetro", quantificando o número de acordos firmados. Nesta segunda-feira, o ministro Ricardo Lewandowski, do STF (Supremo Tribunal Federal), deu nova decisão em que esclarece que acordos individuais de empresas para cortar salários e jornadas de trabalhadores têm efeito imediato, independentemente de posterior manifestação sindical.
Na última segunda-feira (6), o magistrado havia decidido que os sindicatos deveriam ser comunicados do acordo e poderiam iniciar negociação coletiva caso preferissem. O magistrado manteve o entendimento de que a entidade de classe pode iniciar tratativa coletiva após comunicada, mas esclareceu que o acordo individual passa a valer assim que for assinado. “Esclareço, para afastar quaisquer dúvidas, e sem que tal implique em modificação da decisão embargada, que são válidos e legítimos os acordos individuais celebrados na forma da MP 936/2020, os quais produzem efeitos imediatos”, afirmou Lewandowski. O texto original da MP previa a comunicação do acordo para a respectiva entidade de classe em dez dias, mas não dava poder para a tratativa ser barrada ou alterada. Lewandowski decidiu na semana passada que os sindicatos poderiam deflagrar negociação coletiva, mas não deixava claro os efeitos do acordo individual. A decisão desta semana foi tomada após recurso da AGU (Advocacia-Geral da União). O ministro rejeitou o recurso, mas esclareceu pontos do despacho anterior que deixavam margem para interpretações diversas. Especialistas e membros do governo chegaram a avaliar que a primeira decisão do ministro travaria a validade imediata do acordo individual, exigindo o aval de sindicatos. O entendimento desta segunda aliviou o governo. “Esta decisão traz segurança jurídica à matéria e garante o direito do trabalhador, o emprego e a sobrevivência de milhares de empresas. Vitória do país”, afirmou o advogado-geral da União, André Mendonça, responsável pela defesa jurídica do governo.
*”Decisão no STF libera acordo individual para corte de salário e jornada”* - O ministro Ricardo Lewandowski, do STF (Supremo Tribunal Federal), deu nova decisão, nesta segunda-feira (13), em que esclarece que acordos individuais de empresas para cortar salários e jornadas de trabalhadores têm efeito imediato, independentemente de posterior manifestação sindical. Na última segunda-feira (6), o magistrado havia decidido que os sindicatos deveriam ser comunicados do acordo e poderiam iniciar negociação coletiva caso preferissem. O magistrado manteve o entendimento de que a entidade de classe pode invalidar a tratativa individual após comunicada, mas esclareceu que o acordo passa a valer assim que for assinado. "Esclareço, para afastar quaisquer dúvidas, e sem que tal implique em modificação da decisão embargada, que são válidos e legítimos os acordos individuais celebrados na forma da MP 936/2020, os quais produzem efeitos imediatos", afirmou Lewandowski. O texto original da MP previa a comunicação do acordo para a respectiva entidade de classe em dez dias, mas não dava poder para a tratativa ser barrada ou alterada. Lewandowski decidiu na semana passada que os sindicatos poderiam deflagrar negociação coletiva, mas não deixava claro os efeitos do acordo individual. A decisão desta semana foi tomada após recurso da AGU (Advocacia-Geral da União), comanda pela ministro André Mendonça. O ministro rejeitou o recurso, mas esclareceu pontos do despacho anterior que deixavam margem para interpretações diversas​.
Especialistas e membros do governo chegaram a avaliar que a decisão travaria a validade imediata do acordo individual, exigindo o aval de sindicatos. A proposta de negociação direta entre patrão e empregado para reduzir jornadas e suspender contratos durante a pandemia do novo coronavírus está na MP (medida provisória) 936, editada pelo presidente Jair Bolsonaro. Após a decisão da última semana, um recurso foi apresentado pela AGU. Agora, a nova decisão mantém o que havia sido determinado pelo ministro e deixa mais claros os pontos apresentados pelo governo. De acordo com Mendonça, a nova decisão esclarece que todos os dispositivos da MP estão em pleno vigor e que os acordos individuais são válidos e têm efeito imediato. Diz ainda que, havendo acordo coletivo posterior, o empregado poderá aderir. “Esta decisão traz segurança jurídica à matéria e garante o direito do trabalhador, o emprego e a sobrevivência de milhares de empresas. Vitória do país”, afirmou.​
*”Empresas afirmam que sindicatos cobram até R$ 500 para fechar acordo trabalhista”* - Empresas que aderiram ao programa do governo federal que permite redução de salário e jornada e suspensão de contratos relatam ter recebido cobranças de até R$ 240 por funcionário para que os sindicatos de trabalhadores dessem o aval aos acordos. A prática, segundo especialistas, é ilegal. Associações patronais falam também em cobranças de R$ 500 por empresa e de percentuais da folha de pagamento entre 4% e 8%. A Medida Provisória 936 de 1º de abril permitiu acordos individuais para reduzir salários e jornada e também para supender os contratos de trabalho. Para Paulo Solmucci, presidente da Abrasel, uma das entidades a acusar a cobrança, a decisão do ministro Ricardo Lewandowski, do STF (Supremo Tribunal Federal), que em liminar na semana passada definiu que os acordos individuais terão validade somente após manifestação do sindicato dos trabalhadores, estimulou a exigência por parte dos sindicatos. “Ninguém tem dinheiro nem para pagar salário, não fazem nem sentido”, diz. Na segunda (13), em nova decisão, Lewandowski diz que as negociações individuais de empresas têm efeito imediato, independentemente de posterior manifestação sindical.
As seis centrais sindicais orientaram os sindicatos associados a não fazer qualquer cobrança no momento. Em nota conjunta, CUT (Central Única dos Trabalhadores), Força Sindicial, CSB (Confederação dos Sindicatos do Brasil), UGT (União Geral dos Trabalhadores), CTB (Confederação dos Trabalhadores do Brasil) e NCST (Nova Central) disseram considerar a cobrança criminosa e que sindicatos serão denunciados ao MPT (Ministério Público do Trabalho) caso insistam na prática. Além da Abrasel, Alshop (associação dos lojistas de shoppings) também divulgou nota relatando a existência desse tipo de cobrança. Não informou, no entanto, quais sindicatos exigiram pagamento para liberar os acordos. Em Santa Catarina, o sindicato que representa os funcionários de hotéis, restaurantes, bares e na rede de hospedagem de Florianópolis e dos municípios do entorno, o Sitratuh, decidiu incluir uma cobrança chama taxa negocial. O advogado Fernando Fávere, assessor jurídico da entidade, defende a cobrança, que varia de R$ 20 a R$ 100 por acordo; o valor muda de acordo com o tamanho da empresa. “Nós temos que analisar acordo por acordo, não é simplesmente carimbar papel. Já liberamos 400 e ainda temos 300, então todo mundo está fazendo horas extras. É uma operação que tem um custo para o sindicato”, afirma.
Para o professor de direito trabalhista da FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas) Ricardo Calcini, a cobrança é ilegal. Ele afirma que os sindicatos têm o direito de buscar novas receitas, mas não deveriam cobrar por serviços que são próprios às suas funções. “Além de ilegal, me parece que acaba criando um estímulo à rescisão do contrato”, diz. A medida provisória definiu que as empresas poderão fazer reduções de jornada e salário em 25%, 50% e 70% por um período de até três meses. Para os funcionários que ganham entre R$ 3.135 e R$ 12.202, esses acordos poderão ser feitos de maneira individual e os sindicatos serão comunicados em até dez dias. Para quem ganha mais de R$ 3.135 e menos do que R$ 12.202, somente a redução de 25% dispensa negociação coletiva. Solmucci, da Abrasel, diz que, em levantamento realizado na semana passada, a associação identificou a exigência cobranças de até R$ 680 por funcionário em caso de suspensão de contrato, mas que depois de as empresas denuciarem a prática, muitos sindicatos recuaram.
A advogada Priscila Arraes Reino diz que, ainda que algum tipo de taxa negocial seja prevista em convenção coletiva, a cobrança não deveria ser aplicada no momento. “É uma situação muito peculiar e você acaba criando um empecilho às negociações”, afirma. Para ela, cobrar um valor fixo ou um percentual sobre a folha de pagamento não estão previstos em lei. Em São Paulo, os sindicatos dos comerciários, dos metalúrgicos e dos trabalhadores de bares e restaurantes informaram que todos os acordos estão sendo analisados e liberados em qualquer tipo de cobrança. A advogada Caroline Marchi, do Machado Meyer, afirma que não há, na legislação, nada que proíba, de fato, essa cobrança às empresas, mas que a prática é desaconselhada pela OIT (Organização Internacional do Trabalho). Se houvesse uma cobrança, ela não poderia ser aplicada aos funcionários, pois o interesse, nos caso desses acordos, é indireto.
CECILIA MACHADO - *”Mãos no volante, olhos no retrovisor”*
*”Doação de R$ 1 bilhão do Itaú Unibanco leva a recorde”*
*”Febraban afirma que aumentos de risco e de custo exigiriam taxas de juros maiores”* - A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) afirmou que os riscos e o aumento do custo de captação trazidos pela crise do coronavírus exigiriam taxas maiores de juros nas concessões de crédito pelas instituições bancárias. “Estender o crédito nas condições atuais me parece um grande passo, já que as condições de risco são muito mais adversas agora do que eram antes, com elevação do custo de funding [captação], menor liquidez e um risco de crédito muito maior. Tudo isso exigira taxas até maiores”, afirmou o economista-chefe da entidade, Rubens Sardenberg, em transmissão ao vivo promovida pela Necton nesta segunda-feira (13). Ele disse ainda que há necessidade de liquidez adicional no sistema financeiro e que o país precisa garantir o que ele chamou de hibernação da economia, de forma que pessoas e empresas consigam ter recursos para passar pelo momento de quarentena. O presidente da federação, Isaac Sidney, avaliou que parte da composição de risco veio pela maior demanda das grandes empresas no início da crise. Segundo ele, os desembolsos dos bancos para as grandes empresas aumentaram de 5 a 10 vezes porque companhias que antes captavam recursos na Bolsa de Valores tiveram forte desvalorização por causa da pandemia e agora buscam crédito nos bancos.
“O problema é que são valores vultuosos que se tornam significativos para a liquidez do setor bancário e que causam oscilações em termos de risco e captação. Os bancos continuam monitorando o risco de crédito e de inadimplência e há um esforço para que pessoas físicas e pequenas e médias empresas tenham taxas de juros mantidas nas negociações e novas concessões. PreMerccisamos encontrar um equilíbrio”, disse. Os bancos estão sob forte crítica de pessoas físicas e empresas, que relatam dificuldade de acesso a crédito e aumento das taxas de juros após a adoção de medidas de controle do coronavírus. Segundo Sidney, para os juros caírem seria necessário que os órgãos reguladores não aumentassem a carga tributária nem os riscos jurídicos para as instituições financeiras, e que os clientes não quebrassem os contratos de crédito firmados com os bancos. O último levantamento parcial da Febraban, da semana passada, aponta que os bancos receberam, de 16 de março a 8 de abril, 2 milhões de pedidos para renegociação de prazo de pagamento de empréstimos, que correspondem a R$ 200 bilhões. O Bradesco afirmou nesta segunda-feira que só na instituição já foram contabilizados 1,1 milhão de pedidos. Os números atualizados da Febraban devem ser divulgados na quinta-feira (16). A renegociação dos contratos, anunciada em 16 de março pela Febraban, consiste em adiar os vencimentos de dívidas de clientes pessoas físicas e micro e pequenas empresas por até 60 dias. O acordo vale para contratos vigentes e com pagamento em dia. Caso o banco queira estender o benefício para contratos atrasados, pode fazê-lo, mas isso depende dos critérios estabelecidos por cada instituição. Segundo Sidney, dos R$ 200 bilhões pedidos aos bancos até agora, cerca de R$ 140 bilhões já foram renegociados.
Ainda segundo o presidente da Febraban, os bancos emprestaram entre R$ 330 bilhões e R$ 350 bilhões nas últimas três semanas, volume que ultrapassa a média mensal registrada pelas instituições no primeiro trimestre deste ano, de R$ 290 bilhões. “Isso mostra que os recursos estão chegando na ponta para os clientes e que estamos focados em conceder crédito. Além disso, de 85% a 90% dos pleitos das empresas para a linha de financiamento da folha de pagamento estão sendo atendidos”, disse Sidney. A linha de empréstimo para folha de pagamentos foi parte de uma MP (medida provisória) anunciada pelo governo em 3 de abril, que liberou R$ 40 bilhões em crédito –sendo 85% destes recursos financiados pelo Tesouro Nacional e 15% pelos bancos– para ajudar empresas com faturamento anual entre R$ 360 mil e R$ 10 milhões a pagarem o salário de seus funcionários em meio à pandemia do coronavírus.​
*”Brasil tem 105 novas mortes por coronavírus em 24 h; total é de 1.328”*
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MÔNICA BERGAMO - *”Mandetta acredita que demissão pode trazer responsabilidade a Bolsonaro”*: A demissão de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde era considerada pelo próprio médico algo positivo em pelo menos um aspecto: Jair Bolsonaro teria que se tornar mais responsável no combate ao novo coronavírus quando nomeasse um novo ministro. Mandetta disse a interlocutores, no fim de semana, que o presidente agiu até agora de maneira irresponsável porque queria defenestrá-lo da pasta. A mudança de comando, na visão de Mandetta, poderia ter o efeito de acalmar o presidente.
MÔNICA BERGAMO - *”TV Escola disponibiliza acervo e aulas para o Enem para professores e alunos”*
MÔNICA BERGAMO - *”Petra Costa quer reunir depoimentos de brasileiros sobre a pandemia do coronavírus”*
MÔNICA BERGAMO - *”Barroso estreia no Twitter na semana em que assume presidência do TSE”*
MÔNICA BERGAMO - *”Caiado deve começar a flexibilizar quarentena depois do dia 19”*
MÔNICA BERGAMO - *”Suspeita de Covid-19 coloca 48 presos em isolamento em São Paulo”*
MÔNICA BERGAMO - *”Mortos por coronavírus no Brasil vão superar as vítimas da década por influenza em igual período”*: O Brasil deve chegar nesta semana a um número oficial maior de mortos, por Covid-19, do que o de todas as vítimas dos últimos dez anos da influenza em período equivalente. De janeiro a meados de abril, 1.645 pessoas morreram infectadas pelos vírus que causam a gripe. De fevereiro, quando o primeiro caso de coronavírus foi registrado, até a segunda (13), 1.328 óbitos foram registrados. O país teve 105 mortes só na terça (13). Se o ritmo trágico se mantiver, como previsto, já nesta semana as mortes por Covid-19 vão ultrapassar as de influenza na década, no período até abril. O número de vítimas do novo coronavírus nos primeiros meses do ano já ultrapassaram o do total de mortos em todo o ano de 2019 por influenza (1.149), de 2018 (1.348) e de 2017 (514).
MÔNICA BERGAMO - *”Estudo aponta que 85% dos brasileiros acham que rotina se normalizará em junho”*
 
CAPA – Manchete principal: *”Cientistas calculam que país já tem mais de 300 mil infectados”*
EDITORIALDO GLOBO - *”Área da saúde necessita de apaziguamento”*: Os choques entre o presidente Bolsonaro e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, transcorrem à medida que avança a epidemia da Covid-19 no país, causando insegurança e incertezas na equipe do governo federal que trabalha no enfrentamento da mais grave crise de saúde no mundo nos últimos cem anos. A maior das incertezas é sobre a continuidade da política de isolamento social, a única forma eficaz de impedir a explosão de casos, para dar tempo à União, aos estados e aos municípios de prepararem o sistema de saúde, o SUS, a fim de resistir ao impacto do aumento no número de infectados, o que já acontece. A coincidência deste conflito com o início da fase de expansão mais rápida da doença pode criar dificuldades inconcebíveis na defesa da população contra o coronavírus. Não deve passar despercebido que os respectivos serviços diplomáticos aconselharam alemães e italianos a saírem do Brasil. Bolsonaro é o presidente, mas está isolado no governo contra a prática do isolamento social para “achatar a curva” dos infectados e permitir que todos sejam atendidos e não aconteça a terrível situação em que médicos precisam escolher quem viverá ou morrerá, devido à falta de equipamentos suficientes para a ventilação pulmonar de todos os doentes graves. Bolsonaro, filhos e seguidores se recusam a aprender com as tragédias de Itália, Espanha e dos Estados Unidos, em que o estado de Nova York também demorou a instituir o isolamento das pessoas e assiste a uma tragédia. O presidente quer que a economia volte logo a girar, sem ligar para os custos.
O Ministério da Saúde informou ontem que as mortes no país chegaram a 1.328, tendo ocorrido 105 em apenas 24 horas. A epidemia segue o padrão. Despreocupado, o presidente Bolsonaro viajou no sábado a Águas Lindas, em Goiás, com Mandetta na sua comitiva, para visitar um hospital de campanha em construção na cidade, para receber pacientes da Covid-19. Foi recepcionado pelo governador Ronaldo Caiado, seu exaliado e patrono de Mandetta na sua nomeação para o ministério. Provocativo, o presidente foi confraternizar com o público, para desrespeitar normas divulgadas pelo seu Ministério da Saúde que desaconselham aglomerações e apertos de mão. Na noite do domingo, em entrevista ao “Fantástico”, ao responder a uma pergunta acerca dos desencontros com o chefe sobre como enfrentar a epidemia, o ministro foi claro ao dizer que esta duplicidade de discursos confunde o brasileiro. Tem razão. Mas precisa haver um entendimento entre Bolsonaro e Mandetta. O presidente deve considerar que o ministro fala com respaldo técnico consistente de especialistas que anteveem a evolução da epidemia. E dias piores se aproximam, como o ministro e sua equipe não se cansam de repetir. Bolsonaro tem de somar esforços aos do ministro, em defesa da população.
*”Quinze vezes pior – Infectados no país passam de 313 mil”* - O número de casos de infecção pelo novo coronavírus no Brasil supera 313 mil pessoas, segundo uma nova análise de modelagem numérica da Covid-19 —o último boletim do Ministério da Saúde fala em 23.430 casos confirmados. A estimativa foi apresentada ontem pelo portal Covid-19 Brasil, que reúne cientistas e estudantes da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Brasília (UnB), entre outros centros de pesquisa do país. Para a data de 11 de abril, a modelagem estimou haver 313.288 infectados, número mais de 15 vezes maior que o oficial naquela data, de 20.727. O Brasil é um dos países que menos testam no mundo, embora seja o 14° mais afetado. Se o número de casos subnotificados projetado fosse considerado, seria o segundo do mundo, atrás somente dos EUA, que testam 8.866 pessoas por milhão, enquanto o Brasil faz 296 testes por milhão de habitantes.
MEDIDAS MAIS RÍGIDAS
O grupo, que tem acertado as projeções sobre a doença desde o início da epidemia, também projeta as estimativas de ocupação dos leitos de emergência e de UTIs nos estados. A primeira projeção detalhada, para o Distrito Federal, traça três cenários. Em todos, a situação é dramática.
— O modelo que trabalhamos considera que para os três cenários todos os leitos estão disponíveis no começo da epidemia. Mas, como segundo o próprio Ministério da Saúde informa, estamos em média com uma taxa de ocupação de 75%, e essas previsões podem ser mais dramáticas — observa o especialista em modelagem computacional Domingos Alves, integrante do grupo e líder do Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP).
O caos na rede de saúde em São Paulo poderá acontecer ainda mais cedo do que nos demais estados. A análise detalhada não foi realizada ainda para São Paulo, mas, devido ao número de infectados ser muito maior do que o notificado e ao fato de a população ter reduzido o engajamento às medidas de distanciamento social. Alves diz que o cenário é muito negativo.
—Se não houver medidas de distanciamento mais restritivas e o isolamento for reduzido, a cidade de São Paulo poderá ver o colapso de sua rede hospitalar já na próxima segunda-feira. Em Manaus, a rede já colapsou, a taxa de hospitalização está muito acima da capacidade de atendimento —afirma Alves.
O Maranhão, a despeito do número pequeno de casos notificados, é o estado que tem a maior discrepância com as projeções de casos subnotificados, em torno de 5.177,91%, segundo o estudo. No Rio de Janeiro, essa diferença foi estimada em 1.427,5%. Em São Paulo, 1.496,31%. E no Amazonas, 3.745,62%. Para estimar o número de casos subnotificados de infecção por coronavírus no Brasil, os pesquisadores fizeram uma modelagem reversa para superar a colossal falta de dados sobre a doença no país devido à falta de testagem em massa. Os cientistas usaram como base de cálculo o número de mortes notificadas. Embora estas também sejam subnotificadas, é o indicador mais consolidado no país, explicou o cientista Rodrigo Gaete. Eles aplicaram a taxa de letalidade da Coreia do Sul e ajustaram os números à pirâmide etária do Brasil. A Coreia do Sul foi escolhida porque o país é um dos poucos com dados consolidados sobre testagem em massa desde os primeiros casos. A modelagem numérica empregou ainda um ajuste no cálculo da letalidade proposto por cientistas chineses na revista Lancet e considerado o mais acurado. O ajuste foi feito para levar em conta o período entre o registro do óbito e a confirmação de caso. Se considerou para cálculo da taxa de letalidade a data em que a pessoa teria adoecido e não a em que morreu. Com isso, para o cálculo, a data foi fixada em dez dias antes do registro, uma vez que os testes no Brasil têm sido realizados já em processo de agravamento da doença e não nos sintomas iniciais. No fim, a taxa de mortalidade real para o Brasil seria de 1,08%, muito menor que a de 5,7% registrada oficialmente.
— O número de mortos ainda assim é enorme, e deve ser ainda maior, porque o número real de infectados é muito grande —salienta Gaete.
Considerando o número de 1.124 óbitos em 11 de abril e o valor ajustado estimado de população infectada, de dez dias antes, naquela data, dia 1° de abril, haveria 104.368 brasileiros com coronavírus, em vez dos 6.836 casos notificados. Isso dá um percentual de 93,45% de subnotificação.
‘TESTES SÃO ESSENCIAIS’
Gaete acredita que Manaus vive o caos agora porque olhou para os números errados no início da epidemia.
— Quando se pensava que tinha cerca de mil pessoas com o coronavírus, na verdade, já existiam 40 mil. Por isso, testes são essenciais, e o Brasil precisa desesperadamente fazer isolamento social se quiser evitar o colapso da rede de saúde e o caos —destaca o pesquisador.
Alves diz que as medidas de distanciamento social tomadas por Rio de Janeiro e São Paulo ajudaram a evitar que o pico da doença acontecesse em abril e a ganhar algum tempo, mas não o suficiente para os estados se prepararem. Ele observa que, conforme afirmou o ministro Luiz Henrique Mandetta ao Fantástico, anteontem, o pico dos casos deve acontecer em maio e junho, e haverá uma explosão de mortes, se o número de infecções continuar a crescer devido à redução do isolamento social daqueles que podem ficar em casa:
— Teremos em muitas cidades um cenário como o de Guaiaquil, no Equador, com pessoas mortas em casa e corpos nas ruas, porque os hospitais estarão lotados.
*”Brasil já registra 23.430 casos e 1.328 mortes”*
*”A decisão sobre o isolamento – Aras defende poder do governo federal”*
*”Mais isolado – Mandetta perde apoio de ministros”*
*”Governo adia uso de dados de operadoras de celular”*
*”Material médico chinês em nova rota – Contra apreensões, Brasil busca via por Oceania, África e Ásia”*
*”Efeito colateral suspende estudo – Pacientes tratados com a cloroquina tiveram arritmia”* - Um estudo brasileiro com a cloroquina foi interrompido por razões de segurança. Pacientes com a Covid-19 que tomaram uma dose elevada — considerada a necessária para, em tese, bloquear a multiplicação do novo coronavírus —apresentaram como efeitos colaterais arritmia e tiveram aumentado o risco de sofrer um ataque fatal do coração. O estudo foi realizado com 81 pessoas internadas em Manaus por pesquisadores da equipe CloroCovid-19, integrada por cientistas de 21 instituições. A pesquisa é liderada pela Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, do governo do estado do Amazonas. No artigo, eles destacam que “num grupo maior de pacientes, descobriram que a alta dosagem de cloroquina por dez dias levantou bandeiras vermelhas sobre a sua toxicidade”. Ao mesmo tempo, não encontraram evidências significativas de que a alta dosagem da cloroquina reduziu significativamente a replicação do coronavírus. O uso amplo de cloroquina e hidroxicloroquina como profilaxia e tratamento da Covid-19 foi desaconselhado ontem oficialmente pelas duas mais importantes entidades de médicos e cientistas do Brasil. Em nota conjunta, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Academia Nacional de Medicina (ANM) alertam “que o uso indiscriminado da CQ e HCQ, no atual momento, não está apoiado em achados científicos robustos e publicados nas melhores revistas cientificas mundiais”.
As duas academias destacam que “enquanto não estiverem disponíveis os resultados dos estudos clínicos que estão sendo conduzidos em todo o mundo com esses dois medicamentos, testando um número adequado de pacientes, de acordo com as melhores práticas cientificas, seus usos no tratamento de pacientes portadores da Covid-19 devem ser restritos a recomendações de especialistas com consentimento do paciente ou de sua família e cuidadoso acompanhamento médico”. O temor dos especialistas são os efeitos colaterais dos dois remédios, principalmente, para pacientes com doenças cardiovasculares, diabetes e câncer, justamente os grupos mais vulneráveis ao novo coronavírus. O estudo do francês Didier Raoult, que deu origem à onda de interesse nas duas drogas, está sob investigação da editora da revista científica que o publicou, a “Elsevier”, segundo informou ontem o site “Retraction Watch”, que denuncia fraudes em ciência. Diretor de operações da Organização Mundial da Saúde (OMS), Michael Ryan disse ontem em entrevista coletiva que a cloroquina e a hidroxicloroquina são medicamentos licenciados em todo o mundo e com muitas indicações — para tratar doenças como malária e doenças crônicas específicas — e que, nestes pacientes, há bons resultados, salvando vidas. Por outro lado, afirmou que ainda não há “evidência empírica” o bastante que prove sua eficácia no tratamento de infecções por coronavírus. De acordo com ele, há diversos estudos em curso sobre o uso da droga, mas que ainda aguardam os resultados dos testes. E que há potencial nela, mas que é preciso precaução com relação aos seus efeitos colaterais.
*”Coronavírus é dez vezes mais letal que H1N1, adverte diretor da OMS”*
ENTREVITSA – PIERRE SALAMA, economista - *”Estamos diante de uma nova grande mudança”*: O motor do caminhão parou de repente, em noite escura, no meio da estrada deserta, e o motorista não sabe como fazer para buscar socorro. Esta seria uma metáfora para o desafio que se coloca diante do Ocidente em relação aos destinos da economia num mundo pós-Covid-19. Há os que estão convencidos de que recuperar omo tore seguirem frente está fora de cogitação. Entre eles, o economista francês Pierre Salama,que observa que o motor só sobreviverá se o caminhão mudar de percurso. Salama é professor emérito da Universidade de Paris 13 e ex-aluno de Celso Furtado. Está convencido de que acabaram os dias de um sistema de globalização tal como foi praticado até agora.
- Já é possível medir o tamanho da crise provocada pela pandemia do coronavírus?
- É uma crise espantosa. O modelo econômico das últimas décadas está desmoronando por causa de um vírus. Isso expõe a vulnerabilidade extrema de um sistema assentado sobre uma globalização selvagem, capaz de provocar o colapso internacional de uma cadeia de valor com a perda de soberania de países avançados sobre produtos essenciais. Está claro que a crise de hoje é muito mais importante que a de 2008. É uma crise estrutural, no mínimo do mesmo porte da de 1929. Será indispensável repensar a economia nas suas relações humanas e nas relações entre Estado e mercado.
- Alguns veem sinais de que o capitalismo entrou em fase terminal...
- O fim do capitalismo é uma canção que todos conhecemos desde 1914, mas ainda sobram muitos recursos. É in questionável, porém, que estamos fechando um ciclo. O capitalismo não será mais oque foi no ano passado. Estamos diante de uma nova grande transformação, em favor da preservação dos bens comuns, que em tese deverá exigir o controle dos cidadãos sobre a relação Estado-mercado.
- Vivemos também um deslocamento hegemônico do Ocidente para o Oriente, que vai repercutir sobre essas novas escolhas...
- Sim, ele se acelerou nos últimos 15 anos. Mas é provável que estejamos diante de um novo sistema de relocalização industrial radical dentro dos países ocidentais, e as capacidades de intervenção da China serão bastante alteradas.
- Muitos imaginam que a China sairá com mais força da pandemia...
- Nada será como antes. Há anos se discute a “desglobalização”, tema do qual a extrema direita se apropriou nos países avançados. Aforçada Chinas e concentrou na sua transformação em ateliê do mundo. Esta agora pode ser sua fraqueza. Se as relocalizações crescerem de maneira significativa, em especial nos bens de alta tecnologia, é pouco provável que a China saia fortalecida.
- A pandemia evidenciou a precariedade de França, Itália e Espanha nos meios de combate à Covid-19. Este não parece ter sido o caso da Alemanha. Por quê?
- Ao contrário de seus vizinhos, a Alemanha não conheceu nos últimos 15 anos um processo de desindustrialização. Pelo contrário, sua indústria se fortaleceu. Em termos de PIB, a indústria alemã produz o dobro da França. O exemplo daindústriaf arma cê ut icaégritante,p orquena França 80% dos medicamentos vêm da Ásia, com oc ons e quência da transnacionalização das empresas francesas.
- É esta a razão da falta do reagente que impede a aplicação de testes em massa num país rico como a França?
- Sim, o reagente é importado, como as máscaras de proteção respiratória e os respiradores artificiais. É assim que se evidencia a perda de soberania sobre problemas estratégicos.
- A principal medida anticíclica de vários países europeus é o financiamento da remuneração dos assalariados que ficaram inativos por causa do isolamento social. Na França, ele é de 80% do valor dos salários. Na Alemanha é de 60%. Por que a diferença?
- O desemprego parcial é a forma de evitar que a maior parte dos trabalhadores seja demitida, para que a empresa possa conservar seu capital humano e amanhã ter condições de sair mais facilmente da crise. Segue também uma lógica social, porque um aumento grande de desempregados pode significar uma quebra do seguro-desemprego. A Alemanha adotou um critério mais austero, ainda que sendo mais rica, talvez imaginando reverter a pandemia mais facilmente, porque tem um sistema de prevenção mais eficaz. O problema é que a Alemanha é o país europeu que mais irá sofrer com a crise, porque é um país exportador, e o comércio internacional está desmoronando. Essa estratégia terá que mudar.
- Já existe um plano de nacionalizações na mesa do ministro da Economia da França. É eficaz?
- Creio que é possível fazer algumas nacionalizações em setores estratégicos, como é o caso da indústria farmacêutica. Por outro lado, é preciso pressionar as empresas privadas a investirem mais no país. A medida mais acertada foi a de impedir o pagamento de dividendos. Não é possível pagar dividendos e ao mesmo tempo exigir ajuda do governo na isenção de impostos.
- Ao contrário da direita nacionalista europeia, no Brasil temos um governo subordinado aos EUA. Que cenário prever para o Brasil no mundo pós-Covid-19?
- Trágico. Se considerarmos a pandemia uma guerra, como fez Macron, Bolsonaro é um criminoso de guerra. Seu líder, Donald Trump, mudou de posição e se apresenta como um guerreiro contra o vírus. Bolsonaro perdeu sua hora.
*”Contágio de agentes preocupa comando da segurança do Rio”*
*”No Rio, um terço em estado grave – Rede do SUS tem 447 internados, sendo 159 em CTIs”*
*”Alertas de desmatamento na Amazônia batem recorde”*
 
 
 
CAPA - Manchete principal: *”Corte de salário e jornada já atingiu um milhão de pessoas”*
EDITORIAL DO ESTADÃO - *”O vírus e a República”*: Opresidente Jair Bolsonaro resolveu mais uma vez contrariar as recomendações de isolamento social feitas pelo Ministério da Saúde para conter a pandemia de covid-19 e saiu a passear por Brasília na sexta-feira passada, causando aglomerações e mantendo contato físico com eleitores, atitudes que podem facilitar a transmissão do novo coronavírus. Nada indica que não tornará a fazê-lo quando lhe der na telha. Questionado sobre seu comportamento, o presidente respondeu: “Eu tenho o direito constitucional de ir e vir. Ninguém vai tolher minha liberdade de ir e vir. Ninguém”. De fato, o direito de ir e vir está entre os direitos e garantias fundamentais de todos os brasileiros, conforme a Constituição. No entanto, diferentemente do presidente da República, a maioria dos cidadãos está cumprindo as determinações dos governos locais, baseadas em consenso médico e científico, para que permaneça em casa e de lá só saia em caso de necessidade. Ou seja, milhões de cidadãos aceitaram um limite temporário a seu direito constitucional de ir e vir em nome da preservação de um precioso bem coletivo, isto é, a saúde pública. Essa é a essência da ideia de república, em que o desejo pessoal de cada indivíduo, por mais legítimo que seja, não pode se sobrepor ao interesse coletivo, expresso nas leis pactuadas por políticos democraticamente eleitos. Para que a república se realize plenamente, portanto, é preciso que seus cidadãos desenvolvam consciência cívica, isto é, tenham noção não somente de seus direitos, mas também, e sobretudo, de seus deveres. Estamos muito longe da república ideal quando justamente o eleito para presidi-la se comporta como se não tivesse qualquer responsabilidade sobre o bem comum. Ao insistir na “volta à normalidade” muito antes do que a prudência recomenda, fazendo demagogia barata à custa da morte de milhares de compatriotas, o presidente Bolsonaro manda às favas seu dever irrenunciável de liderar os esforços para proteger a saúde da população diante da ameaça real da pandemia. Pior: inspira seus mais fanáticos seguidores a fazer campanha contra as determinações dos governantes estaduais e municipais destinadas a forçar o isolamento social.
Assim, não se trata somente de uma divergência em relação à melhor forma de enfrentar a pandemia; trata-se de uma verdadeira sabotagem aos esforços do Ministério da Saúde e de governadores e prefeitos para que o sistema hospitalar tenha condições de atender o máximo possível de doentes, poupando os médicos da terrível tarefa de ter que escolher quem viverá e quem morrerá. Quando Bolsonaro, na condição de presidente da República, passeia por Brasília, confraterniza com simpatizantes e diz, no seu idioma peculiar, que “parece que está começando a ir embora essa questão do vírus”, estimula muitos brasileiros a imaginar que a crise esteja perto do fim ou que talvez não tenha a gravidade que as autoridades sanitárias – a começar pelo Ministério da Saúde – apregoam. Não à toa, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, queixou-se do comportamento do presidente em entrevista ao Fantástico. Ao defender um discurso “unificado” no governo, baseado na ciência e no bom senso, o ministro Mandetta disse que hoje o brasileiro “não sabe se escuta o ministro ou o presidente”. Para os bolsonaristas radicais e o próprio Bolsonaro, contudo, não há dubiedade alguma. Não existe bem comum a ser preservado. Só existem os interesses particulares de Bolsonaro e de seus fanáticos seguidores, incapazes de aceitar os limites republicanos para suas vontades. Não por coincidência, são esses que vivem a vituperar contra as instituições republicanas, justamente aquelas que, felizmente, impedem Bolsonaro de realizar plenamente seu projeto de poder. Afortunadamente, como mostrou um estudo de cientistas políticos divulgado pelo Estado, a maioria dos brasileiros – e dos eleitores de Bolsonaro – é favorável ao isolamento social pelo tempo que for necessário. Ou seja, o bolsonarismo antirrepublicano é minoritário mesmo entre aqueles que um dia votaram no presidente. Na hora da crise, a consciência cívica afinal parece falar mais alto – e as autoridades farão bem se ignorarem o alarido dos que só pensam em si mesmos.
*”Planalto vê provocação de Mandetta em entrevista”* - As últimas atitudes do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, elevaram a temperatura do confronto com o presidente Jair Bolsonaro e podem acelerar sua saída da equipe, vista até por seus aliados como uma questão de tempo. O estopim da nova crise foi a entrevista dada por Mandetta ao programa Fantástico, da Rede Globo, na noite de domingo. O tom adotado pelo ministro foi considerado por militares do governo e até mesmo por secretários estaduais da Saúde como uma “provocação” ao presidente. Na ocasião, Mandetta afirmou que o governo carece de um discurso unificado sobre o enfrentamento à pandemia e dirigiu cobranças a Bolsonaro, que tem ignorado recomendações de isolamento social e defendido o retorno ao trabalho. Nos bastidores, não apenas a ala ideológica do governo como até alguns apoiadores do titular da Saúde já acreditam que, com essa estratégia, ele força uma situação para sair do governo. “O brasileiro não sabe se escuta o ministro da Saúde, o presidente, quem é que ele escuta”, disse Mandetta ao Fantástico, um dia depois de Bolsonaro ter visitado, ao seu lado, um hospital de campanha, em construção, na cidade de Águas Lindas (GO). Naquele sábado, como de outras vezes, o presidente foi ao encontro de eleitores, que se aglomeraram para cumprimentá-lo. Mandetta também criticou o comportamento de quem tem quebrado a quarentena. “Quando você vê as pessoas entrando em padaria, supermercado, fazendo fila, piquenique isso é claramente uma coisa equivocada”, destacou. Na quinta-feira, Bolsonaro foi a uma padaria em Brasília. “Ninguém vai tolher meu direito de ir e vir”, afirmou.
Questionado ontem sobre a cobrança de Mandetta, Bolsonaro desconversou. “Não assisto à Globo, tá ok? Vou perder tempo da minha vida assistindo à Globo agora?”, disse ele, pela manhã, ao deixar o Palácio da Alvorada. No Planalto, porém, não foi apenas a referência de Mandetta à “dubiedade” do governo que causou contrariedade. O fato de o ministro ter dado entrevista para a emissora vista como “inimiga” também foi classificado como uma afronta. Não passou despercebido, ainda, o local da gravação: o Palácio das Esmeraldas, sede do governo de Goiás. O governador Ronaldo Caiado rompeu com Bolsonaro, no mês passado, após ele ter incentivado a população a retomar suas atividades para evitar um colapso econômico. Ao contrário do que estava previsto, Mandetta não participou da entrevista coletiva de ontem ao lado dos ministros Sérgio Moro (Justiça) e Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), no Planalto, sobre as medidas de combate ao coronavírus. A explicação oficial para a ausência foi a de que ele estava em outro compromisso e não conseguiu chegar a tempo.
Hierarquia. Na avaliação de militares ouvidos pelo Estado, Mandetta tenta montar uma espécie de “ministério técnico autônomo” para se dissociar das ações de Bolsonaro e ganhar os holofotes. Há nas Forças Armadas a percepção de que o ministro desrespeita não apenas a hierarquia como acordos firmados. Mandetta tem confrontado o presidente, quando havia combinado com os militares que agiria para acalmar os ânimos. Interlocutores de Bolsonaro também afirmam que áreas técnicas do governo já detectaram falhas na execução de medidas por parte do Ministério da Saúde, como a distribuição de equipamentos que não estavam em perfeito estado. Respiradores enviados ao Amazonas, Amapá e Ceará, por exemplo, teriam sido entregues com defeito, necessitando de reparos. O secretário executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo, admitiu o problema, mas afirmou que soluções já estão sendo dadas para amenizar as dificuldades. Segundo ele, de 100 equipamentos enviados para Manaus, 20 já estão em funcionamento. Na outra ponta, embora secretários estaduais da Saúde estejam se manifestando a favor de Mandetta, há insatisfação com critérios para repasses de recursos e pedidos para que o governo também leve em conta municípios com pequena população, mas grande número de atendimento de pessoas da região, procurando os hospitais. Sob alegação de que está preocupado com os empregos diante do prolongamento da quarentena, Bolsonaro continua travando uma queda de braço com governadores, especialmente com João Doria (São Paulo) e Wilson Witzel (Rio), seus adversários políticos. Apesar das queixas, porém, todos evitam uma manifestação mais dura contra Mandetta, pois temem que ele seja substituído pelo deputado Osmar Terra (MDB-RS), até agora o nome mais cotado para o cargo, no caso da saída do ministro.
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*”Skaf defende volta gradual da atividade econômica”* - Aliado de Jair Bolsonaro, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf (MDB), tem sido a principal ponte entre o governo e os empresários desde o início da pandemia do coronavírus. Ao contrário de empresários bolsonaristas, o dirigente não aderiu à proposta de reabrir imediatamente o comércio das grandes cidades e acabar com o isolamento social. Ele advoga a tese de encerrar a quarentena determinada pelo governo paulista no dia 22 de abril, sem que haja prorrogação. Para Skaf, nesta data, a infraestrutura de saúde vai estar preparada para a demanda de doentes. “Até o dia 22 nós temos tempo para ter toda a infraestrutura de saúde preparada e começarmos a reativar a atividade econômica de forma gradual. Temos de reativar de forma prudente, gradativa e com todas as cautelas, com o uso de máscara e distanciamento. Defendo que isso seria o melhor para o Brasil”, disse o dirigente. Esse foi o tema de reunião virtual com 40 empresários, como Abílio Diniz, Luiz Carlos Trabuco e David Feffer, que fazem parte do grupo “Diálogo pelo Brasil”. Eles discutiram um protocolo para a retomada da economia a partir do fim da quarentena. Apesar do otimismo do empresariado, há risco de faltar leitos em São Paulo. Segundo o secretário de Saúde da capital, Edson Aparecido, em uma semana, 60% dos 1.662 leitos de baixa e média complexidade para pacientes com coronavírus foram ocupados. O Estado acumula o maior número de mortes por covid-19 no Brasil, 608, segundo dados divulgados ontem pelo governo estadual.
No último dia 6, o governador João Doria (PSDB) prorrogou a quarentena em São Paulo até o dia 22 de abril. No entorno do tucano, a avaliação é de que esse decreto pode ser prorrogado por 15 dias ou mais, a depender do quadro do avanço da pandemia. A Fiesp não se manifestou sobre as falas de Bolsonaro minimizando a covid-19 ou pregando o fim da quarentena, mas também não se opôs ao decreto paulista. A entidade vai lançar nas próximas semanas uma campanha em defesa do uso de máscaras pela população. O Senai tem programas para recuperar respiradores e produzir álcool em gel. Skaf tem mantido uma agenda intensa com ministros do governo Bolsonaro e empresários. Na semana retrasada, a Fiesp realizou uma reunião virtual com o presidente, o ministro da Saúde, Henrique Mandetta, o ministro-chefe da Casa Civil, general Braga Netto, e 40 grandes empresários. Na ocasião, Skaf manifestou uma “preocupação” que vai ao encontro do discurso do Palácio do Planalto de enfrentamento aos governadores: as decisões isoladas dos Estados e prefeituras podem “desestruturar” a operação da produtiva. “A questão da segurança jurídica preocupa porque ela é tudo no momento em que você sente que cada prefeito ou governador vai ter regras distintas ou impedir a logística que leve alimentos e remédios”, disse.
Monitoramento. O empresário recebeu a reportagem usando máscara em unidade do Senai. Ao chegar ao local, todos têm a temperatura medida e quem for detectado com febre é impedido de entrar. Na sede da entidade, na Avenida Paulista, as regras são ainda mais rígidas. Além da medição de temperatura, visitantes são submetidos a um questionário feito por uma enfermeira. O presidente da Fiesp afirmou que fez duas vezes o exame para covid-19, sendo que ambas deram negativo. Ainda filiado ao MDB, mas de malas prontas para o Aliança pelo Brasil quando a sigla sair do papel, Skaf evitou se posicionar publicamente em defesa do presidente, que tem sido alvo de panelaços diários. O empresário recebeu a promessa de assumir o comando do Aliança no Estado e ser o candidato em 2022.
*”Flávio tenta usar crise para se afastar do caso Queiroz”* - O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) tenta aproveitar a pandemia do novo coronavírus para se reposicionar politicamente, avaliam interlocutores e aliados do filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro. Alvo de investigação sobre “rachadinha” em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Flávio passou todo o primeiro ano de mandato em Brasília submerso e até distante publicamente do núcleo familiar para evitar associação com o caso do ex-assessor Fabrício Queiróz.
Com a escalada da covid-19 no País, no entanto, o senador, considerado o mais comedido do clã Bolsonaro, subiu o tom nas redes sociais, encabeçou a defesa contra o isolamento social e passou a marcar presença em reuniões no Palácio do Planalto e entrevistas coletivas. Integrantes do gabinete de crise alegam que ele participa como ouvinte e não tem voz nas decisões do governo. O senador também puxou para si a responsabilidade de conversar com parlamentares sobre o posicionamento do presidente em relação ao enfrentamento da covid-19. A ele é atribuída a interlocução com empresários que pedem o fim da quarentena. Procurado pelo Estado, Flávio respondeu, via assessoria, que sua prioridade e a do governo é “devolver tranquilidade à população”. “Garantir vidas, empregos e renda é o mais importante. Toda a minha energia está dedicada a encontrar soluções para essa crise.” Flávio também é suspeito de manter relações com o miliciano Adriano Nóbrega, morto em fevereiro na Bahia. A mãe e a mulher do ex-policial militar trabalharam no gabinete de Flávio na Alerj, contratadas por Queiroz. Para pessoas próximas ao senador, a crise da Saúde evidencia um fortalecimento das relações familiares e do papel de Flávio como conselheiro do presidente. No primeiro ano de governo, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), o filho “02”, responsável pelo chamado “gabinete do ódio”, que controla as redes sociais do presidente, e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) exerceram mais ascendência sobre o pai. Em uma publicação em 26 de março, Flávio elogiou Carlos, com quem mantém um histórico de desentendimentos políticos e familiares. “Parabéns, Carluxo, por não ficar em casa e trabalhar! Sou testemunha de sua vital importância ao lado do presidente Jair Bolsonaro para vencermos a crise”, escreveu.
Família. Em 21 de março, data de aniversário do presidente, Flávio registrou em suas redes os três irmãos juntos enquanto o pai gravava um vídeo anunciando que havia determinado a ampliação da produção de cloroquina no laboratório químico e farmacêutico do Exército. Ainda não há estudos conclusivos sobre a eficácia do medicamento no tratamento da covid-19. O senador passou a defender a volta dos brasileiros ao trabalho, contrariando a determinação de autoridades sanitárias. Também partiu das redes sociais do filho do presidente o vídeo, encomendado pelo governo, incentivando o fim do isolamento com o mote “O Brasil Não Pode Parar.” A Secretaria Especial de Comunicação (Secom) disse que o vídeo foi feito em caráter “experimental”, mas não explicou como o material chegou às mãos do senador para que ele pudesse postar. O senador ainda compartilhou publicação de site bolsonarista que usou uma foto falsa para ilustrar supostos casos de cura da covid-19 com cloroquina. Na imagem aparece uma pessoa que não contraiu a doença. O filho “01” também tem se aproximado de aliados do presidente. No feriado, visitou um hospital de campanha ao lado do prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), que deve concorrer à reeleição.
*”Equador tira 36 corpos por dia em casas de Guayaquil, núcleo do surto no país”* - Com os sistemas hospitalar e de saúde em colapso em razão do coronavírus, as autoridades de Guayaquil, maior cidade equatoriana, retiraram de dentro das casas, na últimas três semanas, 771 corpos – média de 36 por dia. A pandemia fez do Equador, ao lado do Panamá, o país com mais mortes de covid-19 na América Latina: 20 óbitos por 1 milhão de habitantes. O Brasil tem 6 mortos para cada 1 milhão de pessoas. Segundo Jorge Wated, líder de uma equipe de policiais e militares criada pelo governo diante do caos na cidade, os mortos retirados de residências superam o total de óbitos ocorridos em hospitais no mesmo período, que era de 631 até ontem.
A Província de Guayas concentra 72% dos 7,5 mil casos da covid-19 confirmados desde a primeira notificação do vírus no Equador, em 29 de fevereiro. O número oficial de mortes é 333, mas como faltam testes para comprovar as causas dos óbitos, o presidente equatoriano, Lenín Moreno, já disse considerar que o total seja bem maior. Apenas em Guayaquil, centro econômico do país, existem 4 mil pacientes com coronavírus. Segundo especialistas, o motivo foi a soma de um sistema de saúde frágil, a demora em adotar o isolamento social e a conexão com a Europa. A cidade tem um fluxo permanente de migrantes pobres que voltam para passar as férias, sobretudo moradores da Espanha. E como capital econômica do país, tem também moradores de alto padrão de vida que viajam à Europa por lazer. Conforme autoridades de Guayaquil, a situação foi agravada por um toque de recolher de 15 horas diárias em todo o país, causando atraso na liberação de corpos no Instituto Médico Legal e nas funerárias da cidade. Com as restrições impostas pelo governo, os corpos são sepultados sem o acompanhamento de parentes e amigos e um painel eletrônico mostra onde cada pessoa foi enterrada. Caixões de papelão foram improvisados após a doação de lojas que empacotam bananas e camarões. Autoridades locais dizem que o primeiro caso confirmado no Equador foi de uma migrante que havia retornado da Espanha. Muitos regressaram para Guayas e não cumpriram nenhum tipo de quarentena.
“Aqui há muita gente pobre que vive do dia a dia, de vender água ou bala no farol, por exemplo. Vivem sem água, sem eletricidade, sem os serviços básicos, em casas de madeira. É muito difícil fazer quarentena, ficar em casa nessas situações. E se essas pessoas não saem para trabalhar, não comem”, conta a jornalista Carolina Mella. “O caso é complexo por várias razões, uma delas é a questão do adensamento populacional. Trata-se de uma região de alta densidade para os padrões do Equador. Além disso, Lenín (Moreno) e o governo de Guayaquil vinham minimizando a pandemia. Isso levou a uma situação catastrófica”, afirmou o coordenador do curso de relações internacionais da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP), Moisés Marques. A tragédia em Guayaquil é o resultado do colapso de um sistema de saúde fragilizado pela demissão de 3,5 mil trabalhadores do setor, no ano passado, em razão do pacote fechado pelo presidente Moreno para cumprir as exigências dos credores internacionais. As finanças do Equador se deterioraram após a queda no preço do petróleo, principal fonte de ingresso monetário do país. “Ainda não dá para saber o tamanho do estrago. O que ocorrer nos próximos 15 dias vai definir o que acontecerá no resto do país”, afirmou Marques. Após as mortes em sequência, o vice-presidente, Otto Sonnenholzner, pediu desculpas aos cidadãos em nome do governo (leia mais nesta página). Ele, que até dezembro era desconhecido do grande público, assumiu protagonismo na crise.
Medidas. Entre as medidas anunciadas por Moreno para conter a crise estão o corte de 50% nos salários dele, do vice-presidente, de ministros e vice-ministros e de outros funcionários públicos. Além disso, o governo anunciou a criação de uma conta de assistência humanitária que será financiada por empresas privadas e cidadãos que recebam salários superiores a US$ 500 por mês (R$ 2.590). “A pandemia nos atingiu em um momento crítico. Nos pegou sem um centavo nas contas e com uma dívida histórica de US$ 65 bilhões”, disse Moreno, na sexta-feira.
*”França e Itália ampliam quarentena”*
*”Espanha relaxa isolamento após vírus desacelerar”*
*”Covid e síndromes gripais afastaram 5% dos profissionais da rede pública de SP”*
*”País tem 12 capitais em emergência, voo buscará máscaras”* - Das 27 capitais do Brasil, 12 já entraram em cenário de emergência, por causa do número de contaminações pelo coronavírus em relação à população total de cada uma. Hoje, o cenário nacional aponta uma incidência média de 111 contaminações para cada 1 milhão de habitantes. Em 12 capitais, porém, o volume de contaminações está acima dessa média. É o caso de Fortaleza (573), São Paulo (518), Manaus (482), Macapá (391), Florianópolis (345), Recife (339), São Luiz (302), Rio de Janeiro (297), Vitória (279), Porto Alegre (210), Brasília (204) e Boa Vista (175). Ontem, o Brasil registrou 105 mortes e 1.261 novos casos da covid-19 em apenas 24 horas, de acordo com informações divulgadas pelo Ministério da Saúde. A letalidade da doença subiu e está em 5,7%, ou seja, de cada 100 casos confirmados da covid-19 até agora, cinco pessoas morreram. Em todo o País, o número total de mortes chegou a 1.328. Já são 23.430 pessoas contaminadas pelo novo coronavírus. O Estado de São Paulo continua sendo o mais afetado pela doença, seguido pelo Rio.
Voo. O primeiro voo para buscar máscaras compradas pelo governo brasileiro na China partirá esta semana do Brasil e fará uma escala em Doha, de acordo com fontes do governo. O voo será feito pela Latam e será pago por doações de empresas para o governo que estão sendo feitas para ajudar no combate à pandemia. Cerca de 15 milhões de máscaras serão trazidas no primeiro voo, de um total de 240 milhões compradas pelo Brasil. A expectativa é de que o voo chegue até o início da próxima semana. Como mostrou o Estado na semana passada, o governo montou uma operação de guerra para buscar o material. Poderão ser contratados de 20 a 50 voos em aviões comerciais para buscar produtos. Seriam necessárias de 15 a 20 aeronaves distintas para a operação que, em volume, é considerada a maior compra governamental do exterior na história – são 4 mil metros cúbicos e 960 toneladas.
*”50% dos pacientes graves têm menos de 60”* - Embora a mortalidade por covid-19 seja maior entre idosos, metade dos casos graves da doença no Estado de São Paulo ocorreu em pessoas com menos de 60 anos, segundo estatísticas da Secretaria Estadual da Saúde. Até o dia 8 de abril, último dado disponível, 2.355 pessoas foram hospitalizadas em hospitais paulistas com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) causada pelo coronavírus. Dessas, 1.193 (50,6%) não eram idosos. Os números detalhados por faixa etária mostram que 816 internados tinham entre 40 e 59 anos e 352, de 20 a 39 anos. As crianças e adolescentes, que raramente apresentam complicações, têm número baixo de internações, mas não estão completamente fora de risco. Foram 25 casos graves na população de 0 a 19 anos, incluindo duas mortes. De acordo com especialistas, parte dos internados abaixo dos 60 anos faz parte de outros grupos de risco, como pacientes com doenças crônicas. Há, porém, um número crescente de pessoas jovens e saudáveis, sem nenhuma doença preexistente, que também desenvolvem pneumonia e outras complicações da infecção. “Eu mesmo cuidei de vários pacientes na faixa dos 40 anos, sem comorbidades, que ficaram em estado muito grave. O fato de a letalidade ser maior em pessoas com fatores de risco não deixa jovens e pessoas saudáveis isentas de desenvolverem complicações. O que difere é que, caso internados, eles têm mais chance de sobreviver porque têm uma reserva pulmonar maior para aguentar a doença”, explica José Eduardo Afonso Jr., pneumologista do Hospital Israelita Albert Einstein. Na unidade, 60,5% dos 314 pacientes que estão hospitalizados ou que já tiveram alta tinham menos de 60 anos. O especialista explica que o cenário se torna ainda mais preocupante se chegarmos a uma situação em que o sistema de saúde não consiga dar assistência adequada a todos os doentes. “Uma pessoa saudável tem uma condição de responder melhor à infecção, mas se ela não conseguir um respirador ou se for internada em um local que não siga os protocolos existentes, ela corre o risco de morrer como qualquer outro paciente”, diz Afonso Jr.
Para o intensivista Ederlon Rezende, membro do conselho consultivo da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) e médico no Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo, os casos graves e mortes por covid-19 geralmente estão relacionados a uma resposta inflamatória exagerada do nosso organismo, o que pode acontecer em jovens saudáveis também. “Quando o nosso corpo recebe alguma agressão, nosso organismo tenta nos defender, mas essa resposta pode ser tão intensa que acaba nos prejudicando, levando ao comprometimento de diferentes órgãos. E, apesar de o grupo de risco ser formado por pessoas acima de 60 anos ou com comorbidades, tem sido muito frequente ver pacientes jovens internados nas UTIs”, destaca. Foi justamente o que aconteceu com a empresária Juliana Gorla Villas Boas, de 37 anos. Adepta de uma vida mais saudável e sem doenças crônicas, ela ficou internada cinco dias no fim de março, dois deles na UTI, como conta o marido, o advogado Fernando Bruno Romano Villas Boas, de 37 anos. “Ela começou com uma tosse, depois veio a dor de cabeça. Foi duas vezes ao hospital e retornava para casa porque não era grave. Depois de uma semana de sintomas, começou a falta de ar e ela teve de ser internada”, conta ele. Já em casa, Juliana conta que os dias na UTI foram os mais difíceis. “Fui pega de surpresa. Tento me alimentar bem, tenho uma horta em casa, procuro só comer alimentos orgânicos, nunca fumei. Não imaginei que poderia ter um quadro grave. Quando cheguei à UTI, sem poder receber visita nem levar celular e vendo um monte de gente entubada, fiquei angustiada. Não sabia quanto tempo ia ficar ali nem se ia conseguir sair. Ficava rezando e contando os minutos”, diz ela.
*”116 recuperados testam positivo novamente”* - A Coreia do Sul relatou ontem que ao menos 116 pessoas inicialmente recuperadas do novo coronavírus voltaram a se infectar. O país só comunicou 25 casos novos nesta segunda-feira, mas o aumento de pacientes “reativados” causou preocupação enquanto o país se dedica a acabar com as infecções. Especialistas internacionais também alertam que a imunidade a reinfecções também não é garantida, como projetavam alguns médicos. Autoridades coreanas ainda estão investigando a causa das recaídas aparentes, mas Jeong Eun-kyeong, diretor dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças da Coreia (KCDC), disse que o vírus pode ter sido reativado, em vez de os pacientes terem sido reinfectados. Os 116 casos são mais do que o dobro dos 51 do tipo que a Coreia do Sul relatou uma semana atrás. A resposta também pode estar ligada a um estudo ainda preliminar da Universidade de Fudan, em Xangai, que aponta que 8% dos infectados pelo novo coronavírus não desenvolveram anticorpos. Como o estudo levou em consideração somente pessoas que apresentaram sintomas leves – até por causa da necessidade de tratamento daqueles que precisaram de internação –, ainda será necessário novos trabalhos a respeito. À BBC News Mundo, em março, um dos principais virologistas espanhóis, Luis Enjuanes, do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC), já havia levantado a hipótese de reativação. “A explicação é que em alguns casos, quando a resposta imunológica diminui, o vírus, que fica escondido no corpo, reaparece”, lembrou, citando agentes que chegam a ficar três meses no organismo. Há, segundo a OMS, a possibilidade de que alguns indivíduos possam transmitir o coronavírus por mais tempo, o que também precisará ser mais estudado. O chefe de emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS), Mike Ryan, disse que “os especialistas assumem que as pessoas que sobreviveram ao novo coronavírus e têm um nível detectável de anticorpos devem ter algum nível de proteção”. “Mas nós simplesmente não sabemos qual é.” Líder da resposta da OMS à pandemia, a epidemiologista Maria Van Kerkhove disse que a entidade ainda precisa de muito mais dados para conhecer melhor a doença, incluindo por quanto tempo uma pessoa infectada pode transmiti-la. O infectologista do Hospital Sírio-Libanês Ralcyon Teixeira lembrou que os casos de reincidência registrados na Ásia são poucos se comparados com a quantidade total de casos de infecção pelo coronavírus no mundo. “Quando fazemos o exame, procuramos vírus e fragmentos do vírus. Ainda não sabemos o quanto os vírus estão vivos e atuantes no organismo. Há relatos de pessoas que testaram positivo para o coronavírus até 37 dias depois.”
*”Um milhão já teve contrato suspenso ou salário e jornada cortados, diz governo”*
*”Sem acordos, haverá demissão em massa em maio, prevê Bosch”* - Com 8,5 mil funcionários nas fábricas do País, o presidente da Bosch na América Latina, Besaliel Botelho, teme a resistência de alguns sindicatos de trabalhadores nas negociações para suspensão de contratos ou redução de jornada e salários, conforme prevê a MP 936. “Se não resolvermos a questão nesta semana, prazo para podermos fazer planejamentos para o próximo mês, vai ocorrer demissão em massa no setor de autopeças em maio”, diz. A Bosch iniciou ontem negociações, mas já encontra algumas dificuldades, afirma o executivo, sem dar detalhes. O mesmo ocorre em outras empresas do setor de autopeças, que emprega cerca de 248 mil pessoas. “A MP é a única ferramenta que temos para segurar empregos e manter um nível mínimo de atividade produtiva em nossas empresas”, diz Botelho. “Há sindicalistas que não estão sensíveis ao momento – que é de pandemia e não de questões de mercado – e agem como se fosse uma negociação de data-base, impondo condições que não cabem numa situação em que as empresas estão sem faturar.” Cientes de que a retomada de atividades não deve ocorrer antes de maio, várias empresas, incluindo montadoras, negociam acordos com corte de salários de 5% a 25%, dependendo da faixa salarial. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, lembra que a opção de férias coletivas, adotada até agora, se esgotou, e novos acordos são necessários. O Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo criou um app para agilizar negociações. “Entendemos as dificuldades e já temos alguns acordos”, diz Miguel Torres, presidente da entidade que representa trabalhadores de 11,5 mil empresas, das quais 9,5 mil têm até 30 funcionários. “Se ocorrerem negociações individuais vamos fiscalizar para corrigir injustiças.” Segundo ele, não há cobrança pelas negociações.
*”Seguro-desemprego não impede ajuda de R$ 600”*
*”Estados e municípios têm socorro de R$ 89,6 bi”*
*”4 mil empresas prometem não demitir”*
 
CAPA – Manchete principal: *”Em ritmo inédito, doações chegam a R$ 2,2 bilhões”*
*”Revisão de dados de exportação leva superávit do 1º tri a cair 9,3%”* - Com atualização, saldo positivo de janeiro a março, que era de US$ 6,135 bilhões, recua para US$ 5,562 bilhões
*”Caixa vai creditar R$ 4,7 bi do auxílio para 9,4 milhões de pessoas”*
*”Receita tem queda real antes da pandemia”* - A receita de tributos federais em março ainda não sofreu impacto da quarentena imposta pelos governos para reduzir a contaminação da população pelo novo coronavírus. Informações preliminares indicam uma queda, em termos nominais, de cerca de 2,5% na arrecadação dos tributos administrados pela Receita Federal (excluída a contribuição à Previdência Social), na comparação com março do ano passado. Em termos reais, a queda foi superior a 5%. Os fatos geradores da arrecadação de março são de fevereiro, quando o distanciamento social ainda não tinha sido adotado. A maior parte dos tributos é paga no mês seguinte ao da competência. A queda da arrecadação em março não está, portanto, diretamente relacionada à covid-19. A receita de abril será um melhor indicador dos efeitos da pandemia. Os dados do Siafi, o sistema eletrônico que registra todas as receitas e despesas da União, mostram que, em março, nem todos os tributos apresentaram queda nominal. A arrecadação da Cofins e do PIS/Pasep, por exemplo, mostra pequena alta nominal, embora possa ter ocorrido queda real (quando se desconta a inflação do período). A mesma coisa ocorreu com o Imposto de Importação (II), o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e a Contribuição sobre Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre combustíveis.
Mas houve quedas nominais fortes das receitas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), do Imposto de Renda (IR) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Os dados se referem às receitas já deduzidas das restituições e dos incentivos fiscais. Na próxima semana, a Receita Federal do Brasil (RFB) deverá divulgar os dados oficiais, sendo que, nesse caso, as receitas serão brutas. A rigor, os dados preliminares de março reforçam o que já aconteceu em fevereiro, quando a receita dos tributos federais apresentou forte queda. Em outras palavras, a arrecadação tributária já estava caindo no Brasil antes mesmo da pandemia do novo coronavírus. No segundo mês deste ano, os tributos administrados pela RFB (excluída a contribuição à Previdência Social) apresentaram queda nominal de 3,4%, na comparação com fevereiro de 2019. A queda real (descontada a inflação do período) em fevereiro foi de 7,1%, na comparação com o mesmo mês do ano passado, de acordo com o Resultado do Tesouro Nacional (RTN). Todos os dados sobre as receitas estão líquidos de restituições e de incentivos fiscais. Ou seja, são os valores que o governo tem disponíveis para executar as despesas orçamentárias.
Ao contrário de março, em fevereiro houve queda nominal da receita da Cofins e do PIS/Pasep. No caso da Cofins, a queda real foi de 13,9%. Também houve queda da arrecadação do Imposto de Renda e da CSLL. Em fevereiro, a arrecadação líquida da Previdência Social apresentou um crescimento nominal, mas com uma pequena queda real, de 0,8%. Ainda não é conhecido o resultado da receita previdenciária em março. A queda real da receita total da União em fevereiro foi de 2,9%, de acordo com o Tesouro. O que salvou o governo em fevereiro foi a subida de 21,4% das receitas não administradas pela RFB, entre elas os royalties do petróleo. O resultado dessa receita em março ainda não está disponível.
*”Acordos de redução de jornada e salário superam 1 milhão”* - Medida faz parte do pacote de ações do governo para conter os efeitos econômicos da pandemia
*”MG destrava R$ 781 milhões na Justiça”* - Recursos fazem parte de disputa com a construtora CR Almeida que tramita há 20 anos no Judiciário
*”Vírus afetará transporte por 4 meses”* - Mais de 60% das empresas responsáveis pelo transporte rodoviário de cargas no país preveem que o impacto da pandemia de coronavírus no setor se estenderá por, no mínimo, quatro meses. A maioria das transportadoras também alerta que não tem como ultrapassar um período de 30 dias operando sem apoio financeiro, colocando no radar do governo a necessidade de algum tipo de auxílio para evitar que o frete de produtos essenciais, inclusive alimentos e medicamentos, seja colocado em risco. Os dados são de pesquisa inédita da Confederação Nacional do Transporte (CNT), com 776 empresas de cargas e de passageiros de todos os modais, entre 1º e 3 de abril. O cenário detectado na sondagem é devastador, mas chama especial atenção o segmento de cargas rodoviárias, pela importância para a operação do sistema logístico. Três em cada quatro empresas desse segmento relataram queda superior a 20% na demanda por seus serviços em março - quando foram tomadas as primeiras medidas para o isolamento social. Isso está longe, no entanto, de ser um retrato apenas do passado. Para 58% das transportadoras, a redução de faturamento nos próximos 30 dias será de 40% ou mais. Entre as razões apontadas, estão menos demanda, dificuldades operacionais por restrições de movimentação nas cidades, inadimplência por parte dos embarcadores e até cancelamento de contratos.
Os empresários do segmento foram questionados sobre eventuais medidas do governo para aliviar a crise no ramo em que atuam. Suspensão da cobrança de PIS e Cofins, disponibilização de linhas de crédito com carência estendida e juros reduzidos, eliminação temporária de impostos sobre combustíveis estão entre as ações mais pleiteadas. Um terço dos entrevistados, porém, afirma que está mais difícil agora do que antes da pandemia ter acesso ao crédito para capital de giro. O presidente da CNT, Vander Costa, diz que a análise dos resultados da pesquisa, de forma segmentada, ajuda na busca por soluções para os problemas atuais do setor.
*”Estados querem reduzir repasses a outros Poderes”* - Alguns governadores tentam dividir com o Judiciário e o Legislativo parte do impacto da redução de receitas ao longo de 2020 em razão da covid-19. A ideia é negociar uma redução dos valores dos repasses feitos pelo Executivo aos dois outros poderes no decorrer do ano. A medida está no radar não somente por governos de Estados em maior dificuldade financeira, como o Rio Grande do Sul, mas também de entes que possuem maior espaço fiscal, como o Espírito Santo. Em alguns Estados, como Pernambuco e Rio Grande do Norte, o assunto avançou mais. Em Pernambuco, o Tribunal de Justiça do Estado já divulgou medidas de contingenciamento que buscam economia inicial de R$ 60 milhões no gasto previsto para o período de abril a setembro deste ano. As medidas, segundo nota do tribunal, decorreram de anúncio de que o Judiciário do Estado sofrerá corte de 20% no repasse do duodécimo pelo Poder Executivo, em razão de perda de arrecadação. Entre as medidas estabelecidas pelo tribunal estão o contingenciamento da aquisição de materiais de consumo, revisão dos contratos com a redução linear no percentual de 25% dos valores contratados, redução do quadro de terceirizados e suspensão de novos projetos que resultem em aumento de despesa.
No Rio Grande do Norte o assunto estava à mesa em conversas com representantes dos três poderes desde o início do mês. Carlos Eduardo Xavier, secretário de Tributação, diz que houve consenso para redução de 18% nos repasses específicos de abril. “Vamos fazer reuniões mensais para avaliar os cenário de cada mês.” A previsão de impacto da pandemia na arrecadação do Estado é de queda de 25% em abril, afirma ele. Para o governo potiguar, o repasse ao Ministério Público, Judiciário, Assembleia Legislativa, Tribunal de Contas e Defensoria Pública somam R$ 1,5 bilhão ao ano. As despesas totais do Estado, segundo Xavier, são de R$ 13,3 bilhões, segundo previsão do orçamento para 2020. Mesmo antes do impacto do novo coronavírus, o orçamento potiguar já previa déficit de R$ 500 milhões no ano.
No Rio Grande do Sul, o governador Eduardo Leite (PSDB) já anunciou ao Legislativo e ao Judiciário que os repasses sofrerão queda em razão do impacto da pandemia na arrecadação. O tamanho do corte não foi divulgado. Em Mato Grosso, o governador já anunciou aos demais Poderes sobre possíveis medidas em relação aos repasses, informa o secretário de Fazenda, Rogério Gallo. Uma decisão sobre o assunto só deve ser tomada após o dia 20, diz ele. O secretário lembra que um dispositivo da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) estabelecia que em caso de frustração de receitas os Tesouros Estaduais poderiam contingenciar repasses aos demais Poderes. O dispositivo foi suspenso pelo Supremo Tribunal Federal (STF). “É uma pena porque ficamos sem instrumentos legais para fazer a contenção do repasse assim como se faz para os demais órgãos do Poder Executivo”, diz Gallo. “Na ausência dessas ferramentas e confirmando o que já sabemos, que haverá acentuada queda na arrecadação de tributos, o governador já anunciou que poderá chamar os chefes dos Poderes para expor a necessidade de contingenciamento dos repasses proporcional à frustração das receitas A estimativa inicial da Fazenda matogrossense é de perda de cerca de 30% na arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em abril. Para Gallo, o momento é de “razoabilidade, equilíbrio e bom-senso”. Os repasses aos demais poderes e órgãos autônomos, como Ministério Público e Defensoria, somam no Mato Grosso R$ 2,67 bilhões neste ano, dentro de um orçamento total de R$ 20,1 bilhões, diz ele.
Rogelio Pegoretti, secretário de Fazenda do Espírito Santo, diz que o entendimento do governo capixaba é de que, uma vez definidos em lei orçamentária, os repasses ao Legislativo e Judiciário não podem ser alterados. O Executivo, porém, aguarda dados mais concretos sobre o desempenho da arrecadação para decidir se irá propor nova lei orçamentária a fim de reduzir transferências. Segundo Pegoretti, os dois Poderes já estão cientes dessa possibilidade. Se houver decisão nesse sentido, diz, será “no ponto certo, na medida certa”. Em São Paulo as conversas por enquanto versam apenas sobre “ajustes orçamentários”, um assunto que já foi tema de reunião entre o vice-governador, Rodrigo Garcia, e representantes do Legislativo e do Judiciário. O tema deve voltar a ser debatido em nova reunião hoje, informou a assessoria de imprensa do vice-governador.
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*”Bancos e governo discutem crédito para empresa média”* - Depois de implementar uma linha de crédito para financiar a folha de pagamentos de pequenas empresas, governo e bancos discutem agora medidas para estimular o crédito a companhias de médio porte, com faturamento de R$ 10 milhões a R$ 300 milhões, apurou o Valor. Uma proposta em estudo prevê o uso facilitado do Fundo Garantidor de Investimentos (FGI) do BNDES. Criado há dez anos para servir de complemento às garantias oferecidas por empresas e caminhoneiros autônomos para tomar crédito, o recurso é hoje pouco acessado porque os bancos o consideram engessado. O fundo possui patrimônio líquido de cerca de R$ 1,2 bilhão, que proporciona cerca de R$ 11 bilhões em saldo disponível para concessão de novas garantias em operações, segundo o BNDES. Embora o FGI seja voltado originalmente a operações de crédito para investimento, a ideia é que ele possa ser usado também para garantir linhas de capital de giro e modalidades com prazos de até 72 meses, sendo seis meses de carência. O desenho em discussão propõe que haja uma ampliação significativa na cobertura do fundo.
Hoje, o FGI cobre 80% do risco de inadimplência numa carteira em que a taxa de calotes seja de, no máximo, 7%. O restante fica com o banco que concedeu o empréstimo. O modelo proposto mantém os 80% de cobertura, mas, em vez de 7%, a inadimplência máxima assegurada pelo fundo passará a ser de 15% a 20%, segundo fontes que acompanham o assunto. Com isso, os bancos teriam mais incentivos para financiar essas empresas, já que o risco de não pagamento dos contratos disparou com a crise decorrente da pandemia de covid-19. Também há conversas sobre um uso simplificado desses recursos. No formato em vigor atualmente, o processo de obtenção de garantias do FGI é muito burocrático e a recuperação de créditos, difícil, afirma um executivo de um banco. Cássio Schmitt, diretor de empresas, governos e instituições do Santander Brasil, diz que o modelo do FGI, se superada a complexidade operacional, pode dar mais segurança e agilidade na concessão de crédito às médias empresas. Ele afirma que, da forma como o fundo está desenhado atualmente, com uma garantia por operação e outra para a carteira de crédito de cada banco, é difícil trabalhar de forma mais massificada. “Não estou dizendo que a lógica existente não seja correta, porque ela inibe que o banco conceda crédito ruim”, disse o executivo. “Mas a complexidade não pode acabar com a flexibilidade.”
O Valor noticiou na semana passada que o governo estuda injetar entre R$ 5 bilhões e R$ 10 bilhões no FGI e ampliar o escopo de atuação do fundo, voltado a garantir operações vinculadas a investimentos. Ainda estava em aberto, entretanto, se haveria espaço fiscal para bancar essas operações. Não há, por enquanto, pedidos para que haja injeção de recursos públicos na concessão do crédito em si, o que difere essa discussão do modelo que foi adotado no financiamento à folha de pequenas empresas. Os bancos vêm dizendo que não há necessidade de dinheiro do Tesouro Nacional para financiar empresas de médio porte. Empresas que faturam acima de R$ 10 milhões, que são mais estruturadas, podem ser atendidas pelas próprias instituições financeiras, disse na semana passada o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Jr. A demanda agora é no sentido de ampliação da cobertura de calotes dessas operações. Segundo fontes do setor, o uso das garantias do FGI ajudaria a mitigar os riscos de uma crise que ainda é difícil de dimensionar, mas tem se mostrado mais profunda que o originalmente vislumbrado. As empresas com receita entre R$ 10 milhões e R$ 300 milhões contemplam universos de clientes muito distintos para os bancos. As companhias que faturam até R$ 30 milhões são habitualmente atendidas pelas áreas de varejo, enquanto as maiores já estão sob o escopo das unidades de atacado das instituições financeiras, com acesso a produtos mais sofisticados.
Há duas semanas, o governo anunciou medidas para ajudar no financiamento do pelotão que vem imediatamente abaixo - o das empresas que faturam entre R$ 360 mil e R$ 10 milhões por ano. Nesse caso, o Tesouro entrou com R$ 34 bilhões de um total de R$ 40 bilhões para financiar a folha de pagamento dessas pequenas companhias. Além de oferecer 85% dos risco de inadimplência. Aos bancos operadores da linha caberá o restante. Em paralelo, estão em discussão entre governo e bancos ainda medidas para auxiliar no financiamento de empresas ainda menores, com receita de até R$ 360 mil, e de setores específicos. A questão de cadeias produtivas seria tratada ontem em reunião entre representantes de bancos e do Banco Central (BC), informou Lazari, do Bradesco, em teleconferência com investidores. O executivo voltou a mencionar as companhias aéreas, as empresas de energia e a indústria automotiva como segmentos que vão precisar de soluções sob medida. O Valor apurou que o governo também discute ações voltadas à cadeia do varejo, prejudicada pelo fechamento de lojas - medidas que deverão passar pelo uso de recebíveis de cartões como garantia, por exemplo. De acordo com um executivo de banco, o governo vem discutindo em quais segmentos poderá haver uma atuação conjunta com as instituições privadas. No entanto, ainda não está definido como será feita a reestruturação financeira das companhias desses setores e se será feito um refinanciamento dessas cadeias produtivas como um todo. O BNDES já anunciou que entrará no capital de companhias aéreas por meio compra de debêntures conversíveis em ações a ser emitidas pelas empresas. Uma preocupação, segundo outra fonte próxima aos bancos, é detectar quais segmentos realmente precisam de ajuda e afastar os pedidos considerados oportunistas. “Estamos avaliando que setores precisam de mais apoio do que os outros”, afirma.
*”Linha para microempresário deve ser anunciada hoje”* - O governo espera concluir hoje a formatação de uma nova linha de crédito, a ser oferecida pela Caixa aos microempresários. O banco deverá destinar perto de R$ 10 bilhões em recursos próprios para esse público. A linha vai destinar recursos a título de capital de giro que servirão, na prática, para manter o microempresário nesse período em que os estabelecimentos estiverem fechados ou operando abaixo da capacidade. Serão beneficiados perto de 2,2 milhões de empresas. Elas poderão receber, por dois meses, o equivalente a 30% da média de faturamento mensal no último ano. O prazo de pagamento será de 24 meses, com seis de carência. Os técnicos avaliam que o prazo é suficiente para o empresário retomar sua atividade. Na noite de ontem, ainda estava em discussão qual será a taxa de juros a ser cobrada nesses empréstimos. Segundo fontes, o custo do financiamento dependerá do nível de risco a ser assumido pela Caixa. Com essa nova linha, o governo acredita que atenderá um segmento que ainda não havia recebido um instrumento de apoio para enfrentar os efeitos econômicos da pandemia da covid-19. As microempresas que acessarão a nova linha são aquelas com faturamento de R$ 80 mil a R$ 360 mil por ano. Os técnicos acreditam que essas microempresas a serem atendidas pela nova linha provavelmente já colocaram os funcionários em “lay-off”. Assim, o empresário está temporariamente sem a despesa com folha. No entanto, não gera renda para seu próprio sustento. Inicialmente, o governo havia pensado em utilizar recursos do Tesouro Nacional para dar empréstimos às microempresas. No entanto, a ideia foi posta de lado por causa da complexidade administrativa e dificuldade operacional.
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