quinta-feira, 9 de abril de 2020

Mídia 09/04

DOS JORNAIS DE HOJE: O noticiário político indica existir uma polarização no país, mas não entre direita e esquerda e, sim, entre o pensamento bolsonarista e o resto do país. Raramente, os jornais mencionam os partidos de esquerda ou entrevistam pensadores que sejam ligados ao campo progressista. É mais comum que sejam consultados analistas ligados ao mercado e políticos da centro-direita como Rodrigo Maia, Davi Alcolumbre, João Doria e outros que estão na mesma linha. A imprensa não deixa claro quais são as diferentes visões do país e os objetivos de cada uma das forças políticas. O veículo que mais publica notícias em que são apresentadas as perspectivas da esquerda e do campo progressista é o Valor Econômico.
Os jornais de hoje repercutem o último pronunciamento de Jair Bolsonaro, a desidratação do seu poder pela decisão do STF de que o presidente não pode decretar o fim do isolamento social, a relação de Bolsonaro com Luiz Henrique Mandetta e a polêmica da hidroxicloroquina. Além disso, a Folha mostra que durante os panelaços pessoas têm sido vítimas de disparos de armas de pressão em bairros de São Paulo. A tensão política incentivada pelo presidente vai, aos poucos, materializando o discurso bélico, autoritário e fascista do próprio.
Já com relação ao cenário econômico, os jornais apontam que o governo federal demora demais para tomar medidas que possam minimizar a crise que já está instalada no país. A substituição do “plano Mansueto” por um “socorro emergencial” é abordado em todos os jornais e foi até elogiado em editoriais. Evidentemente, os veículos de comunicação informam quais medidas estão sendo tomadas e quais ainda estão sendo estudadas. O Valor Econômico informa que o setor do varejo já estava em queda mesmo antes da epidemia provocar a desaceleração da economia. O jornal também traz informações sobre a insatisfação do empresariado com a demora do governo.
Por fim, os jornais mostram que o coronavírus já chegou e causou mortes em favelas cariocas e na periferia de São Paulo, o que só aumenta a possibilidade de colapso do sistema de saúde e a gravidade da crise social e econômica.

 
 
 
CAPA – Manchete principal: *”Tolhido pelo STF, Bolsonaro reforça aposta na cloroquina”*
EDITORIAL DA FOLHA - *”Tentativa e erro”*: Ainda não se dispõe de resposta auspiciosa para os que perguntam quando o pesadelo da pandemia do coronavírus estará superado e a vida voltará ao normal. Países que pareciam estar lidando bem com a crise, mantendo a curva epidemiológica sob relativo controle sem sacrificar demais a circulação de pessoas e a economia, como Singapura, Japão e Suécia, já se preocupam com as estatísticas mais recentes e anunciam medidas de restrição mais drásticas. A própria China, que começa a relaxar o cerco sobre as áreas mais atingidas, age com extrema cautela. O receio é que o vírus volte a ter transmissão sustentada, dando início a um segundo surto epidêmico. Os europeus Áustria, Dinamarca, Noruega, República Tcheca e Bélgica previram retomadas graduais de atividades após a Páscoa, e a Eslováquia reabriu parte do comércio. Mesmo nessas nações, cujos sistemas de saúde não ficaram sobrecarregados, a cautela predomina. Não é simples conter uma pandemia. A melhor forma de fazê-lo consiste em desenvolver uma vacina, e alguns dos melhores cientistas do mundo trabalham nisso. Não há garantia, porém, de que conseguirão achá-la rapidamente e produzi-la em escala comercial.
Sem isso, epidemias de grande porte tendem a só acabar depois que determinada parcela da população já tiver sido infectada e desenvolvido imunidade contra o patógeno. À medida que a proporção de imunes aumenta, diminui a probabilidade de uma pessoa infectada encontrar uma suscetível para transmitir-lhe a doença. A certa altura, chega-se à chamada imunidade de rebanho. Não sabemos, porém, quando a teremos. Faltam bons estudos epidemiológicos sobre o Sars-CoV-2. A quantidade de pessoas que um doente típico infecta —a informação mais importante a ser obtida— foi inicialmente estimada em algo entre 1,4 e 3,9, mas trabalhos mais recentes sugerem números mais elevados. Também se desconhece a proporção de pacientes assintomáticos para cada infectado que identificamos. Se elevada, como sugeriu um modelo de pesquisadores da Universidade Oxford, a distância para a imunidade de rebanho cai. A boa notícia é que estão em curso trabalhos que prometem oferecer algumas dessas respostas, indispensáveis para um bom planejamento tanto das necessidades hospitalares como de um eventual relaxamento das restrições. Alguns desses estudos, como o conduzido em Heinsberg, na Alemanha, devem trazer resultados preliminares já nos próximos dias. Até o devido conhecimento, resta aos governos de todo o mundo guiarem-se por prudência e flexibilidade para rever orientações a partir da experiência acumulada.
PAINEL - *”Ministério da Saúde já mandou 500 mil comprimidos de cloroquina a estados”*: O Ministério da Saúde distribuiu 500 mil comprimidos de cloroquina entre estados do Brasil. A decisão foi no dia 27 de março, antes da discussão sobre o uso do remédio chegar ao atual nível de politização. A recomendação da pasta autoriza a utilização do medicamento em casos críticos e graves (internados que não estejam ainda intubados). A maioria dos secretários estaduais decidiu adotar a droga, segundo o presidente do conselho que reúne os representantes da Saúde do país. "Para nós, é uma questão sobre a qual já existia consenso e já pacificada. Não é político-ideológica. Quase todos os estados têm adiantado o uso da cloroquina para pacientes internados", diz Alberto Beltrame, presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e secretário de Saúde do Pará.
São Paulo, que tem o maior número de mortes do Brasil (428), foi o estado que recebeu mais comprimidos, 170 mil. O segundo foi o Rio de Janeiro, com 74 mil. "A recomendação é que os hospitalizados recebam os medicamentos o mais precocemente possível após a internação", disse Fábio Vilas-Boas, secretário da Bahia.​
*”Em pronunciamento, Bolsonaro defende cloroquina e retoma embate com governadores e prefeitos”* - Em seu quinto pronunciamento em rede nacional de rádio e TV sobre a crise do coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) defendeu nesta quarta-feira (8) o uso da cloroquina para tratar doentes da Covid-19 desde a fase inicial da doença, apesar da falta de consenso científico a respeito. Num discurso de cerca de cinco minutos, ele retomou o embate com governadores e prefeitos, ao responsabilizá-los pelas medidas de isolamento impostas à população, como o fechamento do comércio e a proibição de outras atividades. A fala se deu no mesmo dia em que o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), decidiu que governos estaduais e municipais têm autonomia para determinar o recolhimento. Segundo o magistrado, a União não pode “afastar unilateralmente” as decisões de executivos locais sobre as providências de restrição de circulação que vêm sendo adotadas durante a pandemia do novo coronavírus. Ele esclareceu que as decisões valem “independentemente” de posterior ato do presidente em sentido contrário. Enquanto discursava, Bolsonaro foi novamente alvo de panelaços em bairros de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador, Recife, Belo Horizonte e Porto Alegre.
No discurso, Bolsonaro se alinhou aos que defendem a cloroquina como solução. “Instruí meus ministros: após ouvir médicos, pesquisadores e chefes de Estado de outros países, passei a divulgar, nos últimos 40 dias, a possibilidade de tratamento da doença desde sua fase inicial”, declarou o presidente ao se referir ao medicamento, testado e aprovado para o cuidado de pacientes com enfermidades como a malária, mas cuja eficácia contra o novo vírus ainda está em fase de pesquisa. Bolsonaro disse ter parabenizado o cardiologista Roberto Kalil, que assumiu ter tomado a hidroxicloroquina, com sucesso, para se curar da Covid-19 e que também a ministrou a pacientes. “Todos estão salvos. [Kalil] Disse mais: que, mesmo sem ter finalizado o protocolo de testes, ministrou o medicamento agora para não se arrepender no futuro. Essa decisão poderá entrar para a história como tendo salvo milhares de vidas no Brasil”, defendeu. O presidente disse ainda ter conversado com o premiê indiano, Narendra Modi, e acertado o envio de material para que a fabricação do medicamento no Brasil prossiga, com previsão de chegada até o próximo sábado (11). “Receberemos matéria-prima para continuar produzindo a hidroxicloroquina." Bolsonaro voltou a jogar sobre os ombros de gestores locais a responsabilidade sobre restrições adotadas na pandemia. “Respeito a autonomia dos governadores e prefeitos. Muitas medidas, de forma restritiva ou não, são de responsabilidade exclusiva dos mesmos. O governo federal não foi consultado sobre sua amplitude ou duração”, discursou.
Pela primeira vez, Bolsonaro expressou solidariedade com os familiares das vítimas da Covid-19. "Gostaria, antes de mais nada, de me solidarizar com as famílias que perderam seus entes queridos nessa guerra que estamos enfrentando." Segundo boletim do Ministério da Saúde divulgado nesta quarta-feira, o Brasil registra 800 mortes pela doença. O presidente novamente equiparou a necessidade de salvar vidas com a de manter empregos. “Sempre afirmei que tÍnhamos dois problemas a resolver, o vírus e o desemprego, que deveriam ser tratados simultaneamente”, comentou. “Os mais humildes não podem deixar de se locomover para buscar seu pão de cada dia. As consequências do tratamento não podem ser mais danosas que a própria doença”, continuou, acrescentando que o desemprego leva à fome e também à morte. O presidente fez um aceno ao seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, com o qual teve sucessivos embates e que cogitou demitir nos últimos dias. "Tenho certeza de que a grande maioria dos brasileiros quer voltar a trabalhar. Essa sempre foi minha orientação a todos os ministros, observadas as normas do Ministério da Saúde.”
Bolsonaro ressaltou ainda que sua equipe deve trabalhar alinhada com o presidente. “Nosso objetivo principal sempre foi salvar vidas. Tenho a responsabilidade de decidir sobre as questões do país de forma ampla, usando a equipe de ministros que escolhi para conduzir os destinos da nação. Todos devem estar sintonizados comigo.” Ao fim de seu pronunciamento, Bolsonaro listou medidas econômicas anunciadas pelo governo para minimizar o impacto da pandemia no país. A primeira delas foi o pagamento do auxílio de R$ 600 a trabalhadores informais, alvo de críticas pela demora no pagamento, que deve ter início nesta quinta-feira (9). "A partir de amanhã começaremos a pagar os R$ 600 de auxílio emergencial para apoiar trabalhadores informais, desempregados e microempreeendedores durante três meses. Concedemos também a isenção do pagamento da conta de energia elétrica aos beneficiários da tarifa social por três meses atendendo a mais de 9 milhões de famílias que tenham suas contas de até R$ 150", disse. O presidente listou outras medidas, como a linha de financiamento de R$ 60 bilhões da Caixa Econômica Federal para capital de giro para micro, pequenas e médias empresas. Ele ainda comentou medida provisória publicada nesta quarta que autoriza saques de até R$ 1.045 do FGTS.​ Em pronunciamento em 24 de março, o presidente foi explícito na defesa do chamado isolamento vertical, restrito a idosos e pessoas com doenças preexistentes. Já em outro, no dia 31, mudou o tom de seu discurso e pediu um pacto nacional para o enfrentamento à pandemia. “Agradeço e reafirmo a importância da colaboração e a necessária união de todos num grande pacto pela preservação da vida e dos empregos: Parlamento, Judiciário, governadores, prefeitos e sociedade”, declarou naquele discurso. Bolsonaro disse no dia 31 que o país enfrenta um grande inimigo. "Estamos diante do maior desafio da nossa geração. Minha preocupação sempre foi salvar vidas." No último fim de semana, como mostrou a Folha, os dirigentes do Congresso se recusaram a ter uma conversa com Bolsonaro, incomodados com a postura do presidente. Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, e Davi Alcolumbre (DEM-AP), presidente do Senado, enviaram a Bolsonaro o recado de que a saída de Mandetta dificultaria o diálogo entre Executivo e Legislativo.
*”Bolsonaro é alvo de panelaço em meio a mais um pronunciamento sobre coronavírus”*
*”Em derrota a Bolsonaro, Moraes decide que estados têm autonomia para impor isolamento social”* - O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), decidiu nesta quarta-feira (8) que governos estaduais e municipais têm autonomia para determinar o isolamento social. Segundo o magistrado, o governo federal não pode “afastar unilateralmente” as decisões de executivos locais sobre as medidas de restrição de circulação que vêm sendo adotadas durante a pandemia do novo coronavírus. E esclarece que a decisão vale “independentemente” de posterior ato do presidente Jair Bolsonaro em sentido contrário. Moraes decidiu na ação em que a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) pede para o Supremo obrigar o presidente Jair Bolsonaro a seguir as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde). O ministro foi na mesma linha da decisão de março do ministro Marco Aurélio, em outra ação, e afirmou que os entes da federação têm competência concorrente nesta área, ou seja, a decisão de um não pode sobrepor a do outro. O magistrado ressalta que é “inequívoco” que pode ocorrer eventual conflito federativo e classifica como “importantes” as medidas que estados vêm adotando. Segundo o magistrado, a eficácia do isolamento social, da suspensão de atividades de ensino e a restrição a comércios, atividades sociais e à circulação de pessoas estão comprovadas por vários estudos científicos e seguem as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde). No processo, a Advocacia-Geral da União afirmou que o Executivo tem seguido todas as orientação da OMS. Bolsonaro, no entanto, tem criticado o isolamento social e defendido o que chama de isolamento vertical, só para pessoas em situação de risco. Em nota, o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, elogiou a decisão de Moraes, que "mostra a firmeza do STF na defesa da nossa Constituição, dos princípios da Federação, da independência e harmonia entre os Poderes e, acima de tudo, uma vitória do bom senso na luta contra nosso único inimigo no momento: a pandemia que ameaça a vida de milhares de brasileiras e brasileiros". A decisão é mais uma sinalização de que o Supremo está disposto a derrubar eventual decreto de Bolsonaro para flexibilizar a quarentena. O ministro afirma que a sobreposição de decisões a respeito podem criar riscos sociais e à saúde pública que justificam a concessão da liminar. A decisão tem efeito até o plenário da Corte analisar a matéria. "A adoção constitucional do Estado Federal gravita em torno do princípio da autonomia das entidades federativas, que pressupõe repartição de competências legislativas, administrativas e tributárias". Alexandre de Moraes afirma que a OAB tem razão ao pedir ao Supremo “que seja determinado o respeito à determinação dos governadores e prefeitos quanto ao funcionamento das atividades econômicas e as regras de aglomeração”.
De acordo com o ministro, não cabe ao Judiciário substituir o juízo de conveniência do presidente da República sobre as ações, mas fez uma ressalva: “É seu [do STF] dever constitucional exercer o juízo de verificação da exatidão do exercício dessa discricionariedade executiva perante a constitucionalidade das medidas tomadas, verificando a realidade dos fatos e também a coerência lógica da decisão com as situações concretas”. O ministro afirma que não cabe ao Supremo determinar a realização de medidas específicas, como pede a OAB, mas, sim, fazer controle constitucional dos atos presidenciais. “Ressalte-se, entretanto, que o caráter discricionário das medidas realizadas pelo Presidente da República, bem como de suas eventuais omissões, é passível de controle jurisdicional, pois está vinculado ao império constitucional, exigindo a obediência das autoridades ao Direito, e, em especial, ao respeito e efetividade aos direitos fundamentais”, diz.
+++ Até aqui, as reportagens da Folha empregam um tom crítico contra Jair Bolsonaro, mas não são ouvidas fontes que façam críticas diretas.
*”Derrota de Bolsonaro no STF ocorre em meio a críticas a isolamento e ameaça de 'canetada' contra estados”*
*”'Quem comanda esse time é o presidente Bolsonaro', diz Mandetta após divergências”* - Após entrar em rota de colisão com o presidente Jair Bolsonaro e chegar a estar ameaçado de demissão, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, fez nesta quarta-feira (8) um aceno a seu chefe e disse que quem comanda a equipe da resposta à crise do coronavírus no Brasil é o mandatário. "A todos aqueles que estão com os ânimos mais exaltados, para deixar claro: aqui está tudo bem. Nós estamos olhando para o para-brisa e essa estrada a gente vê que vai ter dias muito duros, muito difíceis. E quem comanda esse time aqui é o presidente Jair Messias Bolsonaro. E nós vamos gradativamente deixando todos tranquilos para que a gente possa fazer bom trabalho", enfatizou Mandetta, durante coletiva no Palácio do Planalto. "O Ministério da Saúde tem total tranquilidade para tomar as suas medidas. Tivemos as nossas dificuldades internas? Tivemos, isso é público. Porém, nós estamos prontos. Cada um ciente do seu papel nessa história", concluiu. A declaração de Mandetta ocorreu em meio a comentários sobre a cloroquina, medicamento defendido por Bolsonaro e um dos pontos de atrito entre o ministério e o Planalto. Enquanto o presidente quer que a substância seja administrada inclusive para casos menos graves, Mandetta tem resistido, destacado que existem efeitos colaterais e pedido que se aguardem mais estudos.
Durante a entrevista, o titular da Saúde fez outros gestos a Bolsonaro. "O presidente da República em nenhum momento fez qualquer colocação para mim diretamente de imposição. [sobre cloroquina] Ele defende ,como todos nós, que se há chance melhor para esse o aquele paciente, que a gente possa garantir o medicamento. Mas também entende quando a gente coloca situações que podem ser complexas, que nós precisamos que os conselhos [de medicina] analisem", disse Mandetta. Mandetta afirmou ainda que pediu ao Conselho Federal de Medicina que haja um posicionamento da entidade até o próximo dia 20 sobre o uso desse medicamento para pacientes com o coronavírus —na reunião ministerial de segunda-feira (6) Bolsonaro pediu uma manifestação ao ministro da Saúde sobre a cloroquina até o final deste mês. Principal rosto do combate ao Covid-19 no Brasil, Mandetta chegou a estar ameaçado de demissão. Além do uso da hidroxicloroquina, ele e Bolsonaro passaram as últimas semanas discordando sobre a extensão das políticas de isolamento. O ministro acabou ficando no cargo por pressão da ala militar do governo e também por seu apoio popular e junto à cúpula do Congresso. Fortalecido após vencer a queda de braço com Bolsonaro, Mandetta adotou um tom mais conciliador nesta terça-feira (7), o que foi interpretado por integrantes do Planalto como um sinal de busca de alinhamento. Apesar desse movimento e da pressão interna e externa, auxiliares mantêm o discurso de que a demissão não está descartada, que Bolsonaro é imprevisível e continua insatisfeito com Mandetta. Os dois se reuniram novamente na manhã desta quarta-feira no Planalto. Questionado nesta quarta sobre o segundo encontro da semana com Bolsonaro, o ministro falou em unidade disse que o presidente lhe passou orientações. "O presidente é muito parceiro, muito voluntarioso, tem um pensamento muito forte no Brasil. A gente vai dando passos rumo a uma unidade muito boa por parte do governo".
De acordo com relatos de aliados do chefe da Saúde, Mandetta adotou um tom duro na reunião ministerial de segunda, defendendo a sua linha de atuação pautada nos atuais consensos científicos, o que é seguido pela maioria dos países. Depois, ele seguiu para o ministério e replicou a fala dura em um pronunciamento à imprensa. ​Integrantes da ala militar avaliaram que Mandetta exagerou no tom dessa fala, ocasião em que, mesmo sem se referir diretamente a Bolsonaro, repetiu diversas vezes que iria se pautar exclusivamente pela ciência. Entre outros recados endereçados a Bolsonaro o ministro citou ter lido o "Mito da Caverna" de Platão, gesto interpretado por aliados do presidente como uma provocação para que ele se livre das falsas interpretações que tem da realidade. Por isso, esses integrantes do governo pediram a Mandetta que ele baixasse o tom. A solicitação, na avaliação de aliados do presidente, surtiu efeito. Em entrevista ao programa Brasil Urgente, da TV Bandeirantes, Bolsonaro não quis responder se chegou a estudar a demissão de Mandetta. "Um beijo para você. Um abraço para você, Datena", afirmou o presidente ao apresentador Luiz Datena depois de rir e ficar em silêncio ao ser perguntado sobre a possibilidade de demitir o titular da Saúde.
Ele ainda elogiou o ministro por ele ter feito concessões sobre o uso da hidroxicloroquina para a Covid-19. Este era um dos principais pontos de divergência entre o ministro e o presidente na crise do novo coronavírus. O presidente disse que o atrito entre eles "é comum" e comparou a problemas de relacionamento. "É comum acontecer num momento em que todo mundo está estressado de tanto trabalho, eu estou e ele está. Ele, inclusive, a questão da hidroxicloroquina, de ontem para hoje, ele decidiu também fazer com que no início da manifestação possam ser atendidos. Foi bem-vindo da parte dele, eu até parabenizo no tocante a isso." Na mesma entrevista, o presidente disse que não seria bom que haja mais panelaço no país dizendo que é momento de "união" e não de derrubada de presidente. ​"Eu não vou estimular isso dai, mas se porventura alguém promover um panelaço contra uma emissora de televisão que está todo dia me criticando eu acho que a gente vai fazer um barulho enorme. É bom eles não continuarem estimulando isso, primeiro porque não é bom para o estado atual que nós nos encontramos. Não está na hora de querer derrubar presidente ou zicar a popularidade dele via Datafolha, não vai bem. É hora de unir, agora esse pessoal não quer se unir nunca com ninguém. Eu lamento, eu faço a minha parte, mas não devemos desperdiçar energia contra A, B ou C. Mas se continuar batendo panela, da minha parte, faz parte da democracia, fiquem à vontade.​"​
*”Bolsonaro e Mandetta discutem relação, fazem reunião 'tranquila' e conversam sobre leitos”* - A reunião, que durou mais de uma hora, foi definida por interlocutores de Bolsonaro como uma DR (discussão da relação) com resultado positivo. Os dois não tinham ainda conversado mais reservadamente, e o presidente indicou a Mandetta que eles precisavam falar a mesma língua, pois, até então, havia muitos recados dados por ambos, além de fofoca, o que acirrou ainda mais os ânimos. Interlocutores do ministro dizem que ele relatou uma reunião tranquila após encontro com Bolsonaro. Os dois despacharam sobre medidas adotadas em relação ao coronavírus. Entre os temas, estava a ocupação de leitos hospitalares devido à doença. A pasta pretende lançar, nos próximos dias, um painel para acompanhamento em tempo real da ocupação de leitos no país. Estados e municípios serão obrigados a informar a situação de cada local, sob risco de não receberem os repasses de recursos de média e alta complexidade. O painel está em fase final de elaboração. A ocupação de leitos é um dos critérios indicados pelo ministério em proposta, lançada nesta semana, de transição para a recomendação de distanciamento social seletivo, focado em idosos e pessoas com doenças crônicas. A ideia é que o modelo seja aplicado em estados e municípios cuja quantidade de casos confirmados de coronavírus não tenha causado impacto severo no sistema de saúde –ou seja, em mais de 50% da capacidade instalada de leitos. Neste caso, pessoas com idade inferior a 60 anos que não tenham os sintomas podem circular livremente. O objetivo da estratégia é promover o retorno gradual às atividades econômicas.
*”De 'gripezinha' a pacto, compare pronunciamentos de Bolsonaro na crise do coronavírus”*
ANÁLISE – *”Bolsonaro abraça cloroquina como panaceia para o vírus e para sua fragilidade”*
*”Polícia investiga tiros de armas de pressão contra apartamentos durante panelaço em SP”* - A Polícia Civil de São Paulo investiga a autoria de disparos de armas de pressão na direção de janelas de apartamentos de Perdizes (zona oeste) durante panelaços contra o presidente Jair Bolsonaro. Moradores do bairro registraram dois boletins de ocorrência relatando tiros contra suas residências. No dia 25 de março, um projétil atingiu um prédio na rua Wanderley e no dia 31 ocorreram dois disparos contra janelas de um apartamento na rua Iperoig. A Secretaria de Segurança Pública do Estado disse, em nota, que o 23º Distrito Policial, em Perdizes, “investiga duas ocorrências de disparo de armas de pressão que atingiram dois edifícios” e que “foram solicitados exames periciais, que estão em elaboração, para determinar a origem e trajetória dos disparos”. A secretaria não informou detalhes sobre as duas ocorrências nem sobre os rumos da investigação. Apesar dos disparos, a nota diz que “a Polícia Civil esclarece que não há registros de tiroteios na região”.
A Folha conversou com um morador de um dos apartamentos atingidos por dois tiros de espingarda airsoft. Um projétil de chumbo quebrou o vidro do banheiro e parou numa toalha. O outro entrou pela janela do quarto e foi encontrado entre as roupas da família. Ele pediu para não ser identificado pois teme novos ataques. No último dia 31, ele e a esposa protestavam contra Bolsonaro na janela do quarto quando ouviram o barulho do vidro da janela do banheiro se despedaçando. O outro tiro atravessou o quarto onde estava o casal. Segundo o morador, eles não abrem mais as janelas. A situação de confinamento devido à pandemia do coronavírus piorou, diz ele, pois agora a família se sente caçada por apoiadores do presidente. Após o atentado contra o casal o síndico do prédio distribuiu na vizinhança uma carta com o relato sobre o ocorrido. A mensagem foi compartilhada em aplicativos de mensagens e redes sociais. No comunicado, o síndico menciona um outro caso, que "aconteceu dias antes na rua Monte Alegre [também no bairro de Perdizes], onde uma professora da PUC (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) foi atingida durante outro panelaço". Ainda segundo o síndico, a polícia encontrou cinco projéteis dentro do apartamento. A Folha ouviu peritos da Polícia Civil, que disseram que nesse caso os projéteis eram de uma espingarda de chumbinho. Peritos enviaram artigos técnicos que mostram que espingardas de pressão são de baixo potencial letal, mas podem até cegar se atingir o olho de uma pessoa
Na nota enviada à reportagem, a Secretaria de Segurança Pública confirmou que a Polícia Civil investiga uma ocorrência de disparos de arma de pressão na rua Wanderley (que faz esquina com a rua Monte Alegre), cujo boletim de ocorrência foi registrado no dia 25 de março. A pasta não informou se o ataque deixou feridos. No dia 31, quando o apartamento da rua Iperoig foi atingido, o bairro registrou panelaços contra Bolsonaro, que fez um pronunciamento em rede nacional às 20h30 sobre a crise do coronavírus. Minutos antes, porém, já eram ouvidos protestos no bairro. Nesse discurso Bolsonaro pediu um pacto nacional para enfrentar a pandemia, mas voltou a equiparar vidas e empregos ao criticar medidas de isolamento social aplicadas por governadores.
+++ O jornal poderia ouvir algum intelectual que analisasse o comportamento político de quem atira nos que pensam de forma antagônica.
*”Em embate com Bolsonaro, Mandetta dispara em popularidade digital e supera Lula e Huck”* - Até o início deste ano alheio às polêmicas do presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, tem aumentado sua popularidade na internet durante a pandemia da Covid-19. A expansão, em parte previsível diante da crise sanitária, é impulsionada pelos embates que o chefe da pasta protagoniza com o presidente da República. Antes uma figura morna, Mandetta ultrapassou figuras que buscam manter visibilidade política, como o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), o ex-presidente Lula (PT) e o apresentador Luciano Huck, possível presidenciável em 2022. A análise é da consultoria Quaest, que acompanhou o movimento nas redes entre os dias 26 de fevereiro e 4 de abril. A empresa elaborou um índice comparativo de 0 a 100 a partir de variáveis como número de seguidores, volume de comentários, reações positivas e engajamento nas redes sociais. Buscas na enciclopédia online Wikipedia e no Google também foram considerados. Desde o início do monitoramento, o índice de Mandetta aumentou 189%, o maior crescimento, enquanto Lula teve queda de 30%, Huck, de 46%, e Bolsonaro se manteve estável. A ascensão digital do ministro da Saúde ganha força a partir do dia 11 de março, quando a OMS (Organização Mundial da Saúde) declara que há uma pandemia do novo coronavírus. A partir de então, o índice parece acompanhar os conflitos entre ele e Bolsonaro. No dia 15 de março, quando Mandetta passou Lula pela primeira vez, o presidente se juntara a manifestantes aglomerados em frente ao Palácio da Alvorada. O ministro o repreendeu: “É ilegal? Não. Mas a orientação é não. E continua sendo não para todo mundo”, disse em entrevista.
Quando disse que "médico não abandona paciente", atingiu seu pico —um índice de 51,4. No dia anterior, Bolsonaro (com índices próximos de 70 a 80) havia declarado, em entrevista à rádio Jovem Pan, que lhe faltava humildade. Já Lula, que enfrenta queda brusca, a partir do meio de março conseguiu índices acima de 35 em apenas cinco dias, chegando a, no máximo, 43,1. O início do período, no dia 19, coincide com a publicação de um vídeo do ex-presidente em que ele fala sobre a crise e critica Bolsonaro. A popularidade digital de Mandetta ultrapassa a de Huck a partir do dia 23 de março —o apresentador, desde então, cai e não alcança nem 35 no índice da consultoria Quaest. Com os patamares mais baixos entre figuras nacionais (pico inferior a 18), Doria pode parecer estagnado. Mas o tucano, que tem pretensões de concorrer à Presidência em 2022, foi o que mais cresceu entre os governadores —26,9%. Atrás dele, o índice do governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B), cresceu 24,8%. Para o coordenador da pesquisa, Felipe Nunes, Doria não cresceu mais porque Mandetta apareceu. "Se o Mandetta não tivesse surgido, o Doria, com certeza, seria um nome nacional a se contrapor a Bolsonaro", afirma. "O mercado político é limitado. Não dá para todo mundo crescer com o mesmo tamanho." Além disso, a crise acaba favorecendo líderes nacionais com mais poder de execução. O baixo crescimento de Lula e Huck também se deve a esse fator. O apresentador, que parece ter escolhido se recolher, despenca. É quem tem a maior taxa de queda: 46,4%. Liderando, Bolsonaro só viu o seu índice cair no dia 24 de março, depois de pronunciamento de ataque a governadores e medidas de isolamento. Mas o presidente logo se recupera. Para Nunes, ele pode ter perdido seu eleitor pragmático e pouco ideológico, que viu irresponsabilidade em sua postura. Por outro lado, ele pode estar caminhando para tornar ainda mais coesa a sua fiel base. "É arriscado porque ele perde um pedaço, mas em contraposição ele unifica ainda mais. E isso se deve ao fato de que a sua rede volta a ficar coesa em torno da defesa de sua agenda política", afirma.
*”Arrependidos do voto em Bolsonaro somam 17% de seus eleitores, diz Datafolha”* - Entre eleitores que votaram em Jair Bolsonaro na eleição presidencial de 2018, 17% dizem que estão arrependidos da escolha, segundo o Datafolha. A pesquisa do instituto foi feita de quarta-feira (1º) até a sexta-feira (3) da semana passada, por meio de 1.511 entrevistas. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos. Segundo o levantamento, feito por telefone por causa da pandemia, 39% dos entrevistados consideram a gestão de Bolsonaro na crise do coronavírus ruim ou péssima, ante 33% que acham a atuação dele boa ou ótima. A taxa de ruim/péssimo sobe para 63% entre aqueles que dizem ter se arrependido do voto no atual presidente na eleição de 2018. Para efeito de comparação, o índice é quase tão negativo para o presidente quanto o obtido entre eleitores do petista Fernando Haddad —70% de ruim ou péssimo. Entre os entrevistados que defendem a renúncia do presidente, a reprovação ao modo como responde à Covid-19 chega a 77%. No grupo desses eleitores arrependidos, as mulheres são maioria —60%. A situação se inverte no conjunto dos 83% de eleitores do presidente que negam ter arrependimento sobre o voto. Em pesquisa feita duas semanas atrás, feita de 18 a 20 de março, a quantidade de eleitores arrependidos de ter votado em Bolsonaro era de 15%, diferença dentro da margem de erro em relação ao levantamento da semana passada. A pesquisa também mostrou que os eleitores dele arrependidos também têm mais medo do coronavírus do que a população em geral (45% nesse grupo ante 38% da média geral) e acham mais que a quantidade de mortes por causa da pandemia será elevada (66%, ante 52% da população). Também têm opiniões mais duras do que a população em geral em temas como a permanência do isolamento social e o fechamento de escolas para evitar a disseminação da doença.
Bolsonaro foi eleito em segundo turno, com 57,8 milhões de votos (55,1% dos votos válidos). Este levantamento do Datafolha, assim como o anterior, foi feito por telefone para evitar contato com o público em meio à pandemia da Covid-19. A pesquisa por telefone exige questionamentos mais rápidos. No geral, os números do instituto mostraram que a população aprova as medidas de restrição de circulação e não apoia a renúncia do presidente da República. Entre os entrevistados, 76% defendem que a população fique em casa para conter a disseminação do vírus. No Brasil, não há penalidade para quem sair de casa, como existe em vários países europeus. A renúncia do presidente é rejeitada por 59% dos brasileiros. A aprovação da condução da crise do novo coronavírus pelo Ministério da Saúde, segundo a pesquisa, é mais do que o dobro da registrada por Bolsonaro. A pasta conduzida por Luiz Henrique Mandetta tem 76% de avaliação ótima ou boa. Governadores e prefeitos também têm avaliação superior à do presidente. O presidente tem se colocado contra medidas de restrição decretadas por governadores e vem minimizando os efeitos da pandemia. Em pronunciamento na TV, já chegou a defender a volta à normalidade e a retomada das atividades escolares e do comércio.
ENTREVISTA - *”Presidente da CNBB critica Bolsonaro e diz que falas desinformam e geram cisões”*: O presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Walmor Oliveira de Azevedo, 65, considera preocupante o comportamento do presidente Jair Bolsonaro na crise do coronavírus e diz que a instabilidade política prejudica a resposta do país à pandemia. A entidade foi uma das signatárias de carta, divulgada após o presidente chamar a Covid-19 de “resfriadinho” na TV, que acusava Bolsonaro de ameaçar a saúde pública com “campanha de desinformação”. A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) e a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), entre outras, também subscreveram essa manifestação. Para dom Walmor, que é arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, a sociedade civil tem o dever de advertir e orientar o governo, e isso não deve ser visto como posicionamento político-partidário. À Folha ele disse por email que medidas de proteção social precisam ser mais rápidas e que a desinformação na crise sanitária é um “itinerário para a morte”. Também critica decreto do presidente, questionado na Justiça, que permitiu a abertura de igrejas com argumento de que fazem parte de “atividades essenciais”, pleito de denominações evangélicas.
RESPOSTA DA SOCIEDADE À PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
- A mobilização é forte e, pelo que sabemos, tem contribuído para conter a aceleração. Mas muitos aspectos poderiam ser melhorados. Há uma minoria que relativiza o isolamento social e tenta manter a rotina de um tempo anterior à pandemia. Não é raro ver aglomerações em ruas e praças. Isso preocupa Ficar em casa é atitude altruísta, gesto cidadão, de quem busca o bem maior, da coletividade. São urgentes mecanismos de proteção social, capazes de garantir o emprego e a renda, especialmente dos mais pobres. A pandemia impõe à sociedade graves consequências econômicas e cabe às autoridades, aos líderes do país, a missão de, criativamente, encontrar soluções. É hora de todos se unirem.
BENEFÍCIOS SOCIAIS A ATINGIDOS
- As autoridades não podem conviver pacificamente com o sofrimento da população, sobretudo dos mais pobres, que, com a renda ameaçada, não sabem o que vão comer no dia de amanhã. Deveria haver mais celeridade. Em vez de embates desnecessários, os líderes deveriam favorecer a cooperação entre si, pensando não apenas no contexto interno do Brasil, mas também na relação com outras nações. Apesar de existirem muitas iniciativas solidárias, espontaneamente organizadas, falta mais senso de corresponsabilidade entre governantes, no Brasil e no mundo. Da mesma forma que a parcela mais privilegiada da população, que inclui seus governantes, não pode desconsiderar a realidade dos mais pobres, as nações desenvolvidas deveriam ser mais solidárias.
COMPORTAMENTO DE OUTRAS IGREJAS CRISTÃS NA CRISE
- Sem fazer juízo de outras confissões, falo sobre o que ensina a fé cristã católica: buscar soluções fáceis, barganhando com Deus, não é o caminho. Cada pessoa deve fazer a sua parte, acolhendo as recomendações da ciência. Deus fala ao mundo de diferentes formas. Devemos estar abertos para ouvi-lo. Nesse sentido, acreditamos que a inteligência humana, seus avanços tecnológicos e científicos, são dons de Deus a serviço da humanidade. Então, devemos considerá-los. Hoje, a observação científica a respeito do que ocorreu em outros países atingidos pela pandemia remetem a uma recomendação inequívoca: fique em casa. Todos precisam acolher essa orientação e não banalizar a ocorrência de milagres, condicionando a fé à manifestação de fenômenos extraordinários, para além das leis naturais.
IGREJAS COMO ‘ATIVIDADE ESSENCIAL’, COMO ESTABELECEU O GOVERNO
- É importante não confundir: templo fechado não significa privação de genuína espiritualidade, que coloca o ser humano em contato com o transcendente. Nos primórdios da Igreja Católica, não havia templos, e os cristãos se reuniam para rezar em suas casas. Hoje, retoma-se esse costume, fortalecendo mais o que chamamos de igreja doméstica, o lar de cada pessoa. Há ampla oferta de publicações digitais, com roteiros de oração, e celebrações transmitidas pelos meios de comunicação católicos. Nossos sacerdotes e demais evangelizadores continuam a oferecer acolhimento fraterno às pessoas, orientação.
REAÇÃO DA CNBB APÓS FALA DE BOLSONARO SOBRE ‘RESFRIADINHO’
- Há uma efervescência permanente no cenário político que é obstáculo para um grande pacto nacional no enfrentamento da pandemia. Declarações polêmicas, dissidentes de perspectivas balizadas pela ciência, por instâncias reconhecidamente competentes na defesa da saúde, não ajudam, pois, além de desinformar, provocam cisões onde deveria haver união. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil publicou manifesto, ao lado de organizações da sociedade civil, pedindo ao governo federal para presidir e promover um amplo processo de diálogo, imprescindível para que ocorram as mudanças necessárias, ultrapassando a insensatez das provocações e dos personalismos, para se concentrar nos princípios da Constituição.
ATITUDES DO PRESIDENTE NA CRISE, COMO PASSEIOS E JEJUM
- [É] preocupante, pois estão na contramão das recomendações científicas, vindas do próprio Ministério da Saúde, da Organização Mundial da Saúde e de outras instâncias embasadas na pesquisa. A prática do jejum é exercício espiritual importante, sobretudo quando direcionado pelo objetivo de se reencontrar o equilíbrio e se exercer a solidariedade. Para a Igreja Católica, a quaresma, período que antecede a Páscoa, é tempo oportuno para o jejum. Mas é importante saber: não basta privar-se de algo. É preciso abertura de espírito para acolher as lições oferecidas pela experiência do jejum.
CARTA CRÍTICA AO PRESIDENTE, ESCRITA COM OAB E ABI
- A sociedade civil tem o dever e a responsabilidade de dirigir-se ao governo federal, apresentar ponderações, advertir. A democracia se fortalece com a participação. Quando as entidades signatárias da carta e tantas outras se manifestam, buscam colaborar. A CNBB dialoga permanentemente com instituições da sociedade civil, inclusive com as quais tem discordâncias em muitos aspectos, pois sabe que o diálogo é caminho para amadurecimentos. Todas as pessoas e instâncias da sociedade civil devem cultivar a capacidade para humilde escuta. É processo enriquecedor. Pelo diálogo, descobrimos convergências, nascem manifestações de entendimentos. Não embates com o governo, ou mesmo ação ideológica, com interesses políticos partidários. A CNBB busca colaborar com o Brasil e ajudar aqueles que exercem o poder. Isto requer coragem para manifestar discordâncias.
CRISE POLÍTICA SOMADA À CRISE SANITÁRIA NO PAÍS
- As turbulências políticas, com seus desdobramentos econômicos, desestabilizam o país, geram imprevisibilidade. Vivemos em uma sociedade polarizada, em que as diferenças, lamentavelmente, motivam inimizades. Sem o mínimo de entendimento, a democracia se enfraquece, pois os próprios Poderes começam a ser questionados. Com a democracia enfraquecida, perde-se o qualificado exercício da cidadania. Em vez de haver união pelo bem comum, impera o egoísmo, fechamentos ao redor das próprias convicções. E a população sofre.
RISCOS EM POSICIONAMENTO OPOSICIONISTA
- A CNBB está ciente das muitas incompreensões que decorrem de uma sociedade polarizada. Mas permanece firme, ao lado dos mais pobres, manifestando-se de modo independente das convicções ideológicas ou político-partidárias.
DESINFORMAÇÃO E NOTÍCIAS FALSAS NA CRISE
- Na chamada sociedade da informação, as fake news são itinerário para a morte. Veja o exemplo desta pandemia. As falsas notícias que relativizam a gravidade da situação induzem pessoas a não se precaver e, com isso, estarem mais vulneráveis ao contágio. A Igreja Católica tem oferecido formação para agentes de pastoral que se dedicam à comunicação. O fenômeno exige mobilização de diferentes instâncias da sociedade, desde as famílias às escolas. Superar esse mal exige qualificada capacitação humanística. Para o cristão, é ainda mais grave partilhar fake news. Jesus Cristo é a verdade, palavra de Deus. Quem se dedica à mentira se opõe a Jesus. Nesse sentido, a relação da igreja com as entidades científicas é de respeito e colaboração. A ciência é dom de Deus para a humanidade. Mas, é importante ressaltar, nem todas as respostas podem ser encontradas pelo pensamento racional.
PÁSCOA SOB PANDEMIA
- Certamente será a mais diferente Páscoa que vivi. Mas a vida tem seus mistérios e esta Semana Santa não será menos rica em espiritualidade.
FERNANDO SCHÜLER - *”A crise nos pede para 'olhar para dentro' e escolher o melhor que podemos ser”*
*”Para responder a coronavírus, Assembleia de SP estuda reduzir salários de deputados”*
*”Pedágio do sistema Anchieta-Imigrantes seguirá o mais caro do país mesmo após acordo”*
*”Sanders desiste da corrida democrata, e Biden deve enfrentar Trump na eleição presidencial”*
*”Europa quer manter fronteiras fechadas até 15 de maio”*
*”Há um mês em quarentena, Itália projeta saída gradual com teste de imunidade”*
*”Por coronavírus, Portugal aprova mecanismo que pode libertar 15% da população carcerária”*
*”EUA vão reter exportações de máscaras, luvas e respiradores”*
*”Etiópia declara estado de emergência por coronavírus”*
*”ONU alerta para riscos de falta de camisinhas durante a pandemia”*
*”Bogotá determina que mulheres e homens terão de sair de casa em dias alternados”*
*”Na América Latina, coronavírus encontra pobreza e falta de estrutura”*
*”Com respaldo de Maia, Câmara tenta aprovar hoje pauta-bomba pró-estados”* - O plano de socorro aos estados na pandemia do novo coronavírus opõe Ministério da Economia a governadores. Os chefe dos Executivos estaduais tentam emplacar, com o respaldo do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), um pacote de alívio financeiro a curto prazo e sem contrapartidas dos mandatários. A equipe econômica considera a proposta uma bomba fiscal de R$ 180 bilhões. Maia, em defesa do texto, disse que “não há nada de exorbitante”, afirmou que as contas do governo não batem e que os entes federados precisam dessas medidas para enfrentar a crise. Para ele, seriam R$ 35 bilhões em gastos para compensar as perdas de arrecadação de ICMS (imposto estadual) e ISS (municipal) mais R$ 50 bilhões para garantias a empréstimos. Apesar de encampado por Maia, o projeto de bondades aos governadores gerou desgaste até mesmo entre os deputados, inclusive aliados do presidente da Casa. Congressistas resistem a aprovar ações que beneficiem adversários políticos em prefeituras ou em estados de origem. O empenho de Maia é apontado por deputados, mesmo do grupo de centro na Câmara, como uma manobra para tentar privilegiar o Rio de Janeiro. O estado aderiu ao RRF (Regime de Recuperação Fiscal) em 2017. Fiador da agenda liberal e reformista de Guedes, o presidente da Câmara, geralmente, dita o ritmo e a pauta de votações na Casa de forma alinhada com o ministro. Na condução do projeto de socorro aos estados na crise do coronavírus, no entanto, Maia e Guedes entraram em rota de colisão. Os dois lados —governadores e equipe econômica— acusam o oponente de oportunismo.
Para o time de Guedes, os estados querem aproveitar a pandemia e a urgência refletida no Congresso para aprovar um pacote de bondades e fugir da responsabilidade de adotar contrapartidas, como cortes de despesas, normalmente exigidas pela União. Em março, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) atendeu demandas dos governadores e anunciou um pacote de R$ 88 bilhões para fortalecer o caixa dos estados e municípios na crise. O auxílio incluiu recomposição da verba para fundos, renegociação de dívidas com bancos públicos e suspensão de dívidas com a União. Poucos dias depois, os mandatários estaduais pediram que o valor do socorro praticamente dobrasse. O texto em apreciação na Câmara prevê o socorro para os entes federados sem que os governadores e os prefeitos sejam cobrados por medidas estruturantes, como redução de gastos com servidores e venda de estatais dependentes dos cofres públicos.
Antevendo uma derrota na Câmara, o governo já trabalha para barrar o novo plano no Senado. O presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), avaliava o projeto nesta quarta-feira (8). Já os estados afirmam que o governo quer impor mudanças estruturais num momento em que a discussão é socorro emergencial. Até segunda-feira (6), a ideia de Guedes e de Maia era destravar o Plano Mansueto, conjunto de ações de médio e longo prazo para ajudar na recuperação do equilíbrio financeiro de estados e municípios que adotassem medidas de ajuste fiscal. Essa proposta, apresentada em junho do ano passado, exigia que, para ter acesso ao financiamento com garantia da União, era necessário adotar 3 de 8 medidas, como privatizar empresas dos setores financeiro, energia, de saneamento ou de gás; e reduzir em 10% os incentivos ou benefícios tributários. O Tesouro Nacional havia reservado R$ 40 bilhões, sendo R$ 10 bilhões por ano, para dar aval a empréstimos estaduais. Governadores, no entanto, consideraram que as exigências são muito duras, o que contribuiu para o entrave do plano. Na crise do novo coronavírus, o Ministério da Economia então apostava na aprovação rápida do Plano Mansueto —cujo nome faz referência ao secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida—, mesmo que fossem incluídas medidas de curto prazo. A estratégia falhou.
O plano emergencial, articulado por Maia, foi oficializado nesta quarta e substitui completamente o projeto original do governo. A nova versão, contestada por Guedes, atropelou o Plano Mansueto a contragosto do ministro. “Muitos sabem que a votação do Plano Mansueto hoje [esta quarta] seria de alto risco, e muitas emendas seriam aprovadas, contaminando e prejudicando o futuro dos estados brasileiros. Essa é uma votação que facilita e unifica o Parlamento”, disse o presidente da Câmara, antes do início da sessão do plenário. Ao longo das discussões, porém, Maia percebeu uma insatisfação crescente entre líderes partidários, o que poderia comprometer a aprovação. Decidiu, então, adiar a votação para esta quinta-feira (9). O texto em apreciação na Câmara tem um dispositivo que, na avaliação de deputados contrários à medida, anistiaria o pagamento de valores devidos por estados em crise. Quando o Rio de Janeiro aderiu ao Regime de Recuperação Fiscal, renunciou à prerrogativa de ingressar com ações contra a União e reconheceu que teria que pagar juros. O parágrafo do plano de socorro abriria brecha para que o estado não precisasse pagar esses valores.
O projeto emergencial, de relatoria do deputado Pedro Paulo (DEM-RJ), prevê que a União pague uma recomposição do ICMS (imposto estadual) e do ISS (municipal). O custo dessa medida, estimado em cerca de R$ 40 bilhões, tem efeito no Orçamento federal. “Toda a conta da queda de arrecadação está sendo repassada para a União, que já está com elevados compromissos no atendimento à emergência sanitária”, disse o economista Marcos Mendes, colunista da Folha. Além disso, o texto permite que estados possam contratar empréstimos e financiamentos, limitados a 8% da receita corrente líquida do ano passado, para bancar medidas de enfrentamento ao novo coronavírus e para estabilizar a arrecadação em 2020. Maia estimou que os estados possam contratar R$ 50 bilhões. Esse é um dos pontos mais polêmicos, na avaliação do time de Guedes. Técnicos acreditam que o crédito, portanto, não será restrito ao combate à pandemia e poderá ser usado inclusive nos próximos anos. O Tesouro deverá dar as garantias para essas operações de crédito, mesmo para estados com baixa condição de pagamento. A equipe econômica calcula que a proposta tenha um impacto de R$ 180 bilhões, entre medidas primárias (bancar a queda do ICMS e ISS) e financeiras, como a suspensão do pagamento de dívidas com a União, que deve aliviar o caixa dos estados e municípios em R$ 45 bilhões. Sem prever contrapartidas para acesso aos recursos, o governo afirma acreditar que a proposta desestimula que governadores façam a adesão futura a planos estruturantes para controle das contas públicas, como o Plano Mansueto, que precisaria ser ressuscitado por Guedes após a pandemia.
+++ Falta pluralidade mesmo entre as fontes técnicas do jornal
PAINEL S.A. - *”Rodovias esperam queda de receita na Páscoa”*
*”Governo avalia permitir que devedores do INSS possam usar crédito público”* - O Ministério da Economia debate uma forma de permitir empresas devedoras do INSS a contraírem empréstimos com recursos públicos. A medida, que seria necessária para ampliar o acesso ao programa que financia folha de salários, ainda não reúne consenso. O empréstimo para pequenas e médias empresas pagarem funcionários por dois meses está previsto pela MP (medida provisória) 944, publicada na semana passada. Pelas regras anunciadas, o Tesouro Nacional vai destinar R$ 34 bilhões ao programa e os recursos serão repassados por meio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). O texto da MP ressalta um trecho da Constituição que impede empresas em débito com o sistema da seguridade social de contratarem com o poder público ou receber dele benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios. O secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, afirmou na terça-feira (7) que uma nova MP passou a ser estudada para liberar o acesso de devedores a crédito. “A gente está tentando elaborar uma MP que isenta várias empresas que não estavam pagando impostos, inclusive a municípios e estados, para poderem renovar dívida e pegar crédito”, disse. Ele lembrou, no entanto, que há um entrave sendo considerado. MPs não têm força para se sobrepor à Constituição. “Em geral, a gente tem problemas de uma medida provisória mudar regra constitucional. Isso é um pouquinho mais complicado”, afirmou. Uma possibilidade aventada é aproveitar uma PEC (proposta de emenda à Constituição), como a do orçamento de guerra, para mudar o impedimento previsto ao menos durante o período de calamidade. Mas a real necessidade de uma nova medida sobre o tema está longe de ser um consenso no Ministério da Economia.
*”Saque extraordinário do FGTS vai liberar até R$ 36,2 bi e governo mantém abono anual do PIS-Pasep”*
*”Governo extingue PIS-Pasep e libera R$ 1.045 para saque do FGTS por coronavírus”* - O governo federal extinguiu o PIS-Pasep e liberou o saque de R$ 1.045 do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) a partir de 15 de junho. Uma medida provisória foi publicada em edição extra do DOU (Diário Oficial da União) no fim da noite de terça-feira (7). De acordo com a MP, o patrimônio acumulado nas contas individuais dos participantes do Fundo PIS-Pasep​ fica preservado. O governo estima que há R$ 21 bilhões que não foram resgatados pela população após sucessivas campanhas relacionadas ao fundo. A ideia do Ministério da Economia é transferir esse montante para dar mais liquidez ao FGTS, que vem sendo usado nos últimos anos para injetar dinheiro na economia e estimular o consumo e quitação de dívidas das famílias.​ Os recursos serão transferidos para a conta do FGTS em 31 de maio. De 15 de junho a 31 de dezembro, fica disponível o saque de até R$ 1.045 por trabalhador em razão do enfrentamento do estado de calamidade pública e da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente da pandemia de coronavírus. Para quem tem mais de uma conta, há uma ordem estabelecida pela MP: primeiro, contas vinculadas relativas a contratos de trabalho extintos, com início pela conta que tiver o menor saldo; depois, as demais contas vinculadas, com início pela conta que tiver o menor saldo.
Os saques serão efetuados conforme cronograma de atendimento, critérios e forma estabelecidos pela Caixa Econômica Federal. Será permitido o crédito automático para conta de depósitos de poupança de titularidade do trabalhador previamente aberta no banco ou o crédito em conta bancária de qualquer instituição financeira indicada pelo trabalhador, desde que seja de sua titularidade.​ A transferência para outro banco será gratuita. Como se trata de uma medida provisória, a operação tem aplicação imediata, mas precisa ser aprovada pelo Congresso em 120 dias. Diante da crise da Covid-19, o Congresso editou um ato para que as MPs tenham um rito mais rápido no Legislativo durante este período, de apenas 16 dias. Também nesta terça, o governo publicou edição extra do Diário Oficial com o decreto que regulamenta a operação do pagamento do auxílio emergencial de R$ 600. O programa com custo de R$ 98,2 bilhões deve atender 54 milhões de pessoas.
*”Pedir auxílio emergencial de R$ 600 sem ter direito pode ser crime, dizem advogados”*
*”Em menos de dois dias, 27 milhões de pessoas pedem auxílio de R$ 600”*
*”Regularização de CPF para auxílio de R$ 600 está disponível 24h por dia, diz Receita”*
*”Veja como é o cadastro para o auxílio emergencial e quem poderá receber os R$ 600”*
ENTREVISTA - *”Todos culpam os bancos, mas somos parte da solução para crise do coronavírus, diz presidente do Bradesco”*
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VINICIUS TORRES FREIRE - *”Novos poderes podem ajudar BC a reduzir pânico dos juros do coronavírus”*
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*”Potencial de crescimento de grandes países tem pior queda da história por coronavírus, diz OCDE”*
*”Emergentes ficarão mais distantes de desenvolvidos após coronavírus, avalia presidente do BC”*
*”Estados temem epidemias de dengue e outras doenças junto com coronavírus”*
*”Médica entusiasta da cloroquina contra Covid-19 já defendeu outras terapias sem evidências”*
*”Médicos que apoiaram Bolsonaro relatam decepção com presidente por causa do coronavírus”*
*”David Uip recomendou a Mandetta uso de cloroquina contra coronavírus na rede pública”* - O coordenador do comitê de controle do coronavírus em São Paulo, o médico David Uip, recomendou na última semana ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, a distribuição da cloroquina na rede pública do país, desde que haja receita médica e autorização do paciente. A informação foi dada pelo governador João Doria (PSDB) e pelo próprio médico nesta quarta-feira (8). Uip afirmou que se reuniu com Mandetta na última quinta-feira (2). "Eu era o único infectologista e sugeri que ampliasse o uso de cloroquina para todos os pacientes internados em duas condições: desde que o médico receitasse e o paciente autorizasse." Ele afirmou que conhece há anos o medicamento, usado no tratamento da malária, que tem efeitos adversos, cardíacos, hepáticos e visuais, que não são desprezíveis. "É um medicamento que tem que ser usado com critério e com cuidado, sempre com observação do médico que prescreveu." O médico deixou claro que nada mudou e que "não há um trabalho científico até agora que concluiu a eficácia e eficiência desse medicamento. Nós aguardamos os resultados". Um dia depois da reunião de Uip com Mandetta, o ministro afirmou que o governo ampliaria o uso do medicamento. Em entrevista à imprensa no fim da tarde desta quarta, Mandetta afirmou que a decisão partiu de reunião com o Conselho Federal de Medicina, e pediu que governadores não façam política com o medicamento. David Uip, curado após ter sido infectado pelo coronavírus, tem sofrido ataques em redes sociais por não dizer se foi ou não tratado com a cloroquina ou a hidroxicloroquina, medicamentos para malária que entrou no debate após políticos como o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e dos Estados Unidos, Donald Trump, defenderem seu uso para o combate à Covid-19 mesmo sem evidências concretas de que ele seja efetivo.
O cardiologista Roberto Kalil admitiu nesta quarta que foi tratado com o medicamento da infecção pelo novo vírus e defendeu seu uso em pacientes que estão hospitalizados. Doria abriu entrevista à imprensa defendendo Uip, Kalil e também Mandetta. "Que país é esse onde o confronto através das redes sociais é feito para destruir a reputação de pessoas?", afirmou. "Atacar médicos não salva a vida de ninguém." O presidente Bolsonaro publicou em seu Twitter na manhã de terça (7) um vídeo em que questiona se Uip usou ou não a hidroxicloroquina em seu tratamento. Nesta quarta, o médico reagiu. "Presidente, eu respeitei seu direito de não revelar seu diagnóstico. Respeite meu direito de não revelar meu tratamento. Eu nunca revelei o tratamento dos meus pacientes. Eu nunca revelei doenças dos meus pacientes sem ser autorizado. Presidente, por favor, me respeite e respeite o meu direito de privacidade." Pessoas próximas ao presidente foram infectadas pelo coronavírus, incluindo mais de 20 pessoas que viajaram com Bolsonaro aos Estados Unidos, como o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, e o chefe da comunicação institucional do Planalto, Fabio Wajngarten. Bolsonaro afirmou que não foi infectado, mas se recusou a mostrar o teste negativo. Circula em redes sociais bolsonaristas uma foto do que supostamente seria uma receita de cloroquina para Uip. O médico disse que vai tomar providências legais quanto a isso. "A minha privacidade foi invadida. A privacidade da minha clínica, que lida com doentes sob sigilo absoluto, foi invadida. Tomarei as providências legais adequadas para essa invasão da minha privacidade e dos meus pacientes." O estado de São Paulo tem 371 mortes confirmadas em decorrência da Covid-19, doença causada pelo vírus, mais da metade das 667 mortes registradas no país todo. Há ainda outras 861 pessoas internadas em UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) e 815 internadas em enfermarias, segundo dados apresentados pelo governo. O governador pediu que os paulistas não viajem em direção ao litoral nesse feriado de Páscoa, a fim de evitar aglomerações e a disseminação do vírus para outras partes do estado, porque o sistema de saúde das cidades menores não suportaria infecções em massa. As praias do estado estão com acesso fechado.
Doria anunciou ainda o começo do pagamento do Merenda em Casa, que vai pagar R$ 55 para as famílias de 732 mil alunos da rede pública do estado (21% da rede) em situação de vulnerabilidade, a princípio por dois meses, mas que será válido enquanto as aulas estiverem suspensas. O pagamento será feito por meio de um aplicativo, e o dinheiro pode ser transferido para uma conta bancária convencional ou sacado em caixas do Banco24Horas Doria foi questionado se convidaria o ministro Luiz Henrique Mandetta, cuja permanência no governo federal é incerta em meio a atritos com Bolsonaro, para ser seu secretário de Saúde. "Mandetta é fundamental no combate ao coronavírus e é fundamental que ele exerça essa função como ministro de Estado da Saúde, que é onde ele está." O tucano tem buscado antagonizar o presidente nas entrevistas diárias que dá a imprensa, como mostrou a Folha. ​Doria foi eleito em 2018 pegando carona na popularidade de Bolsonaro, rompeu com ele no início de 2019 e agora tornou-se antagonista do presidente por defender o isolamento da população. A medida técnica é recomendada pela OMS (Organização Mundial da Saúde), enquanto o Palácio do Planalto incentiva a volta ao trabalho de quem não pertence a grupos de risco. Como o governador planeja se candidatar à Presidência da República em 2022, a pandemia lhe deu a janela perfeita para enterrar o "BolsoDoria" e partir para a oposição ao presidente que deverá enfrentar nas urnas. Nesta quarta, Doria voltou a atribuir ataques ao "gabinete do ódio", ligado ao Palácio do Planalto, e afirmou que a ação parte de uma milícia digital. Ao final da coletiva, se dirigiu a Bolsonaro, lembrando que o presidente veio a São Paulo para se tratar do ataque a faca que sofreu em 2018 e, na ocasião, agradeceu os médicos. "Respeite a medicina, respeite os médicos, o senhor pode precisar deles outra vez", disse Doria.
*”Médico com coronavírus relata efeitos colaterais com a cloroquina”* - O médico Júlio César Antunes de Oliveira, 39 anos, sentiu em seu corpo os efeitos devastadores do coronavírus e, também, os danos colaterais da hidroxicloroquina. Com teste positivo para a Covid-19, o cardiologista do Rio de Janeiro afirma ter ficado muito debilitado, com dor, desidratação e náusea, a ponto de dizer que não sabe se um "idoso toleraria essa medicação" fora do ambiente controlado de um hospital. O médico resume a Covid-19 como "desproporcional a qualquer doença que eu já tive" e rejeita as tentativas de minimizar a gravidade da situação. "Definitivamente, infecção por coronavírus não é uma gripe. É grave e debilitante", diz. Depois de ficar "prostrado e nauseado" nas primeiras 48 horas, Júlio César começou a sentir a face mais grave da doença. Os primeiros sintomas foram mialgia (dor muscular), indisposição e febre. Horas depois, perdeu o paladar e o olfato. O quadro evoluiu e surgiu a tosse, seguida de problemas respiratórios. Ele começou, então, o tratamento experimental, indicado pelo infectologista que o atendeu. A escolha pelo medicamento se deu diante da evolução do quadro de saúde de Júlio César. "Eu iniciei o protocolo de hidroxicloroquina com azitromicina, drogas que, para este fim, ainda estão em teste. E eu tive muitos efeitos colaterais. Dor ocular, muita náusea e diarreia, a ponto de ficar desidratado. Não consegui me alimentar adequadamente", conta.
Ele fez um tratamento de cinco dias de azitromicina e cinco dias de hidroxicloroquina. "Não sei, sinceramente, se um idoso toleraria essa medicação, fazendo uso em casa, sem estar monitorado, sem receber hidratação venosa", diz.​ O cardiologista conta que as consequências de realizar um tratamento como esse não são banais, principalmente sem algum tipo de supervisão médica. "Fiquei desnutrido, perdi peso, perdi força e perdi massa muscular." O medicamento, comumente usado em casos de malária, lúpus e artrite reumatoide, ainda não tem eficácia comprovada na melhora de pacientes com a doença e está em fase de estudos para utilização contra o novo coronavírus.
Medo
O médico preferiu não procurar o hospital e tentar lidar com a doença em casa, mas agora, passados alguns dias, se arrepende da decisão. O cardiologista está praticamente recuperado, mas perdeu 4 kg durante este processo e ainda está com um quadro gastrointestinal alterado por conta das medicações. Para proteger a si e a sua família, Júlio César se isolou em casa. A mulher e a filha foram para a residência da sogra do médico, e os pais dele permaneceram em outra casa. "Esse isolamento é fundamental para evitar contaminação, mas, como me isolei, se eu precisasse ter algum socorro não sei como seria", conta o cardiologista. "Em alguns momentos, eu tive medo de morrer." "Analisando retrospectivamente, eu deveria ter sido internado, mas eu fiquei com receio, os colegas sobrecarregados, receio de uma infecção secundária, e a questão do isolamento, tudo aquilo. Eu optei por tentar segurar em casa." O cardiologista acredita que se contaminou durante o trabalho e diz que está sendo acompanhado e "muito bem assessorado". Diante do crescimento no número de casos e após ter encarado de frente a Covid-19, Júlio Cesar questiona se o sistema de saúde vai conseguir dar conta de um número grande de pacientes. "Eu, sinceramente, acho que não."​
Hidroxicloroquina
Entre os principais efeitos colaterais apresentados pela hidroxicloroquina já registrados pelos estudos clínicos estão as arritmias cardíacas, a hepatite medicamentosa, as lesões de retina, as alterações hematológicas como anemia e queda das plaquetas e sintomas gastrointestinais como náuseas, vômitos e diarreias. "A hidroxicloroquina é um medicamento antigo utilizado para o tratamento da malária e no controle de algumas doenças autoimunes como o lupus e a artrite reumatóide", afirma a médica Christieni Rodrigues, doutora em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. A especialista explica que, com a epidemia do novo coronavírus, alguns estudos e relatos de casos na China e na Europa começaram a identificar resposta terapêutica ao uso experimental da hidroxicloroquina em pacientes infectados, especialmente os mais graves. Christieni, que é médica coordenadora da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Santa Paula, ressalta que estes estudos não são conclusivos "devido ao número pequeno de casos e situações diferentes da população estudada". Segundo ela, isso dificulta avaliar "neste momento inicial, a real eficácia da droga. No momento, seu uso deve ser rigorosamente monitorado e prescrito em situações específicas, como em pacientes graves, sob supervisão médica e em protocolos de pesquisas, muitos já em andamento no nosso país".
*”Moro confirma 1º caso de coronavírus no sistema carcerário”* - O ministro Sergio Moro (Justiça) afirmou que o país registrou o primeiro caso de um preso com o novo coronavírus nesta quarta (8). O caso foi registrado no Pará e comunicado ao Depen (Departamento Penitenciário Nacional). O preso não teve a identidade revelada. De acordo com informações da Susipe (Secretaria de Estado de Administração Penitenciária) do Pará, o preso cumpre pena em regime semiaberto no Centro de Progressão Penitenciário do Pará (CPPB), em Belém, e apresentou sintomas leves ao voltar a unidade. No início da noite, a secretaria informou que preso recebeu benefício de prisão domiciliar pelo poder judiciário e foi encaminhado para casa sob monitoramento de tornozeleira eletrônica. O plano de contingência do sistema prisional do estado foi acionado. Os internos que tiveram contato com o interno serão monitorados e avaliados por uma equipe médica e, havendo suspeita de gripe, serão postos em quarentena em outro pavilhão. O ministro Sergio Moro (Justiça) voltou a defender o isolamento de detentos como medida de prevenção à pandemia do coronavírus durante live feita com representante da AMB (Associação dos Magistrados do Brasil). As visitas no sistema prisional federal estão suspensas desde 15 de março. "A minha compreensão é que está havendo uma compreensão do sistema penitenciário e das famílias sobre a medida (isolamento social) necessária no momento", afirmou o ministro sobre as restrições às visitas. Moro tem falado que não há motivo para "terror infundado" em relação ao sistema penitenciário e que em outros países, como a Itália, o número de casos é mínimo. O ministro disse ainda não haver resistência à soltura pontual de presos em regime semi-aberto e de grupos de risco, desde que não representem riscos.
*”Órgão de saúde dos EUA recua enquanto hospitais seguem usando cloroquina”*
*”HC da USP e Sírio-Libanês testam anticoagulantes em pacientes com coronavírus”*
*”No ritmo atual, UTIs podem lotar na primeira quinzena de maio”*
*”Recém-nascido com teste positivo para o novo coronavírus morre no RN”*
*”Com Manaus à beira do colapso por coronavírus, só 5% dos moradores de ruas estão abrigados”*
*”Adolescente é primeiro ianomâmi a contrair coronavírus”*
MÔNICA BERGAMO - *”Sistema de UTIs em SP já tem 65% de leitos ocupados”*
 
CAPA – Manchete principal: *”Mortes diárias crescem no país, e governo compra 6.500 respiradores”*
EDITORIAL DO GLOBO - *”Salvamento dos estados requer cuidados especiais”*: Entre os problemas econômicos que a crise deflagrada pelo coronavírus agrava, o das finanças dos estados e municípios chega a ser tão ou mais complexo do que o das contas públicas federais, devido ao fator político. De forma simplificada, pode-se dar o exemplo da reforma da Previdência, necessária pelo menos desde os anos 1980, mas nunca realizada diante da resistência de corporações de servidores e de outros grupos também com grandes espaços de poder no Congresso. Mas, em decorrência da pressão da própria crise econômica e de uma negociação política bem conduzida, aprovou-se uma reforma aceitável em um ano, e o país ganhou tempo para digerir a necessidade de outra mais à frente. Porém, pela multiplicidade de interesses regionais, não se pôde estender as mudanças para o resto da Federação, o que parecia até mais fácil. Na questão dos estados (e grandes municípios ), a crise força a que Executivo e Legislativo deem uma resposta à acelerada desestabilização do caixa dos governos regionais. De forma rápida e protegida de qualquer maior contaminação por interesses políticos que pensem em se aproveitar da operação bilionária de salvamento da nação que o Tesouro empreende, para se desvencilhar de passivos que foram acumulados pela irresponsabilidade fiscal de governadores e prefeitos. Uma operação perfeita de socialização de prejuízos e de lavagem de malfeitos nas finanças públicas.
A pandemia começou na Ásia quando o chamado “Plano Mansueto ”, inspirado no nome do secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, para melhorar o Programa de Recuperação Fiscal—que ajudou o Rio de Janeiro a não quebrar, mas o estado não faz o ajuste necessário —, já tinha os contornos básicos para em breve ir ao plenário da Câmara. Veio o maremoto do coronavírus — a onda da saúde começou a quebrar, e o tsunami econômico já produz os primeiros estragos —e a Câmara, com seu presidente Rodrigo Maia, fez certo ao adiar a votação do Plano Mansueto, para no seu lugar ser negociada uma versão “light” do programa, com a finalidade socorrer os estados nestes três meses em que o país deverá estar em queda livre. Sensato, porque não se misturam os horizontes de tempo. Estados e municípios, como a União —mas esta pode emitir títulos da dívida pública —, precisam ter compensadas as perdas nos tributos. No ICMS (estados) e no ISS, Imposto Sobre Serviços (municípios), estimam-se cortes na arrecadação de 30% a 40%. Nas negociações que continuarão hoje, delibera-se sobre a suspensão de aumentos dos servidores nestes três meses, por óbvio; moratória de dívidas com bancos públicos; aval do Tesouro para empréstimos etc. Será mais uma conta alta para a sociedade digerir. Ela não pode é ser ampliada porque governadores, prefeitos e respectivas bancadas negligenciaram no passado e desejam agora passar ao Erário o custo de sua negligência.
*”Mortes em alta – Óbitos chegam a 800 no Brasil, e STF decide que governadores podem impor medidas”*
*”Mais mortes e menos testes explicam letalidade”*
*”Mutirão da indústria local – Ministério compra 6.500 respiradores feitos no Brasil”*
*”Em defesa de mais circulação – Bolsonaro, alvo de panelaços, volta à criticas restrições”*
*”A distância como remédio – Isolamento freia o vírus, mas tempo de ação leva até 1 mês”*
*”Risco para indígenas – Governo admite perigo com casos em três estados”*
*”Injeção de ânimo – Governo libera R$ 1.045 por trabalhador em recursos do FGTS a partir de junho”*
 
 
 
CAPA – Manchete principal: *”Agência vai exigir que plano de saúde atenda inadimplentes”*
EDITORIAL DO ESTADÃO - *”Fique em casa”*: Ogovernador de São Paulo, João Doria (PSDB), fez o que se espera de um gestor público responsável e estendeu até o dia 22 deste mês a quarentena decretada no Estado para conter a expansão desenfreada dos casos de covid-19. Permanecem abertos apenas os estabelecimentos que prestam serviços essenciais, como supermercados, postos de combustíveis e farmácias. Bares e restaurantes só podem funcionar com serviço de entrega em domicílio. Não há qualquer razão a justificar outra decisão que não a tomada pelo governo paulista. De acordo com as autoridades sanitárias, o País ainda não atingiu o pico de casos de infecção pelo novo coronavírus, previsto para o final de abril, início de maio. Portanto, seria absolutamente temerário flexibilizar as medidas restritivas à circulação de pessoas justamente no Estado que concentra o maior número de casos confirmados e de mortes por covid-19.
A extensão do prazo do isolamento social é igualmente bem-vinda porque, não obstante grande parte dos paulistas ter aderido voluntariamente à medida, observa-se que um número maior de pessoas começa a relaxar quanto ao necessário recolhimento, tanto na capital como no interior. Não se trata daqueles que devem estar nas ruas por dever de ofício. No fim de semana passado, a beleza do pôr do sol visto da praça de mesmo nome, na zona oeste da capital paulista, contrastou com a imagem da aglomeração de pessoas que lá se divertiam em grupos como se um vírus mortal não estivesse em circulação. Um aumento do fluxo de pessoas também foi registrado em outros pontos da cidade, como a Avenida Paulista e o entorno do Parque do Ibirapuera. Em alguns municípios do interior do Estado, onde a quantidade mais reduzida de casos de covid-19 transmite à população uma falsa sensação de normalidade, o descontrole é ainda maior. Os trágicos exemplos de pequenas cidades da Itália e da Espanha, que no início desdenharam do poder de disseminação da Sars-CoV-2 e não adotaram o isolamento, recomendam máxima cautela. O governo paulista estima que 277 mil pessoas morrerão em decorrência da covid-19 nos próximos seis meses se o isolamento não for respeitado no Estado. Com a estrita observância das medidas restritivas, o número de óbitos cairia para 111 mil. Em ambos os cenários, são números de guerra. No entanto, a redução de 60% entre um e outro dá a medida da responsabilidade social que recai sobre os ombros de cada habitante de São Paulo. “Nenhuma aglomeração, de nenhuma espécie, em nenhuma cidade ou área de São Paulo, será permitida”, afirmou o governador.
Estudo feito pelo Instituto Butantan e pela Universidade de Brasília (UnB), com base em dados de geolocalização de telefones celulares, mostrou que entre os dias 23 de março e 2 de abril o isolamento na capital paulista caiu de 66% para 52,4% da população. “Por meio da triangulação das antenas que recebem sinal de celular, temos condições de observar quem se deslocou por mais de cem ou duzentos metros de casa”, disse o pesquisador Júlio Croda, que participou do estudo. Em que pese a necessidade de preservar a privacidade do indivíduo em monitoramentos deste tipo, o estudo é um instrumento a mais para orientar as decisões governamentais tendo em vista a segurança da coletividade. Durante o anúncio da prorrogação da quarentena no Estado, o governador João Doria não descartou o uso da Polícia Militar para dispersar as aglomerações. “Em um primeiro momento, serão medidas de orientação. Em um segundo momento, coercitivas. Mas espero que isso não seja necessário”, disse Doria. Oxalá não seja mesmo. Não é hora de baixar a guarda. Não há espaço para a autoconfiança irresponsável. O vírus pode ser mais perverso para certos grupos, mas ninguém está imune a ele. A vida de milhões de paulistas está sob risco. Se poucos começarem a não respeitar o isolamento, como tem ocorrido, muitos cidadãos que o fazem com disciplina e espírito público começarão a questionar o poder de seu sacrifício pessoal para frear a disseminação do contágio, o que seria o prenúncio de uma tragédia inaudita. Portanto, fique em casa.
*”Bolsonaro vai à TV para defender uso da cloroquina”* - No quinto pronunciamento em rede nacional de rádio e TV em um mês, o presidente Jair Bolsonaro voltou a defender ontem à noite o amplo uso da cloroquina no combate à pandemia do coronavírus, embora ainda faltem estudos conclusivos sobre a eficácia do medicamento. Ele citou o exemplo do médico Roberto Kalil Filho, diretor-geral do Centro de Cardiologia do Hospital Sírio-Libanês, que admitiu, também ontem, ter tomado o remédio para se tratar da doença. Depois de insistir no isolamento vertical, o presidente tem feito da defesa da cloroquina uma forma de disputa política e ataque a adversários. Mencionado por Bolsonaro no, o cardiologista Roberto Kalil Filho afirmou em entrevistas às rádios Jovem Pan e Bandeirantes que usou a hidroxicloroquina para tratar a covid-19, junto a outros remédios. Segundo ele, porém, não dá para dizer que o medicamento foi determinante para sua melhora. “Melhorei só por causa dela? Provavelmente não. Ajudou? Espero que sim. Tomei corticoide, anticoagulante, antibiótico”, disse. O pronunciamento do presidente, que durou quatro minutos, foi novamente acompanhado por panelaços nas principais cidades do País. Na mensagem, Bolsonaro disse que defende, há 40 dias, o uso do remédio desde a fase inicial da doença, em desacordo com o que prevê o Ministério da Saúde. A pasta indica cloroquina apenas para pacientes com quadro grave de saúde.
Após ameaçar cancelar na “canetada” decretos estaduais que restringem a circulação de pessoas como forma de evitar a disseminação da doença, Bolsonaro disse ontem que “respeita a autonomia” dos chefes dos Executivos de Estados e municípios, deixou claro que a Presidência não foi consultada sobre medidas restritivas e afirmou que a responsabilidade por elas é “exclusiva” de prefeitos e governadores. Durante o dia, o discurso era outro, e Bolsonaro entrou em mais uma polêmica com o governador paulista, João Doria (PSDB). Pela manhã, sugeriu que o infectologista David Uip, coordenador do Centro de Contingência para o novo coronavírus de São Paulo, escondia o uso do remédio por “questões políticas”. Diagnosticado com coronavírus no dia 23, Uip vinha sendo cobrado a esclarecer se tomou cloroquina. Nas redes sociais, circulou a imagem de uma receita para aquisição do remédio assinada por Uip e datada de 13 de março. “A receita é da minha clínica. Ela é real. Alguém, em algum lugar, vazou essa receita de forma incorreta”, declarou Uip, em entrevista à rádio Gaúcha. Segundo ele, a receita foi utilizada para estocar o medicamento em sua clínica para que pudesse ser utilizado por funcionários e médicos que, eventualmente, fossem infectados. Uip não revelou se usou a cloroquina. “A cloroquina tem efeitos adversos, cardíacos, hepáticos e visuais. Tem que ser usada com critério, com observação do médico que prescreveu. Presidente, eu respeitei o seu direito de não revelar seu diagnóstico, respeite o meu de não revelar meu tratamento”, disse o infectologista, durante entrevista.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes também participou da discussão. Em uma rede social, afirmou que Uip deve ser respeitado por suas “contribuições acadêmicas e profissionais”. “A guerra pelo tratamento da #covid19 não é um embate eleitoral. Sejamos adultos!” O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, defendeu um “posicionamento técnico” sobre a prescrição da cloroquina. “Não existe ninguém que é o dono da verdade. Hoje esse medicamento não tem paternidade. Não tem que politizar esse assunto”, disse, após reunião em que Bolsonaro lhe cobrou mensagens otimistas e medidas para evitar danos à economia. Sem citar os atritos que tem tido com Mandetta desde o fim de semana, Bolsonaro declarou, no pronunciamento, que sua equipe deve estar sintonizada com ele. “Sempre afirmei que tínhamos dois problemas a resolver, o vírus e o desemprego, que deveriam ser tratados simultaneamente.” Segundo o presidente, “a grande maioria dos brasileiros quer voltar a trabalhar”. Ele anunciou que, a partir de hoje, o governo começará a pagar R$ 600 de auxílio emergencial para trabalhadores informais e desempregados e disse que o Brasil começará a receber até sábado, da Índia, matéria-prima para produzir hidroxicloroquina.
+++ O texto do Estadão mostra que Bolsonaro segue alongando o conflito político, embora peça união. Evidentemente, a união deseja por Bolsonaro é que todos concordem com ele. O texto sempre insere informações que enfraqueçam ou coloquem em contradição os posicionamentos do presidente.
*”Ministério só recomenda substância em caso grave”*
*”Presidente quer discurso otimista de Mandetta”*
*”Disputa política em Minas trava hospital”* - Um embate político entre o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), impediu a construção de um hospital de campanha, com capacidade para cerca de 500 leitos, destinado ao tratamento de pacientes com covid-19. Até ontem, Minas tinha 14 mortes confirmadas por coronavírus e outros 97 óbitos sob investigação. Ao todo, foram 614 casos confirmados para a doença, de acordo com informações da Secretaria Estadual de Saúde. O hospital seria construído na esplanada do estádio Mineirão. A estrutura seria bancada pela prefeitura em parceria com empresa do setor de mineração. A concessionária que administra o estádio já havia autorizado a obra e, segundo o prefeito, foi acertado com Zema. Porém, na segunda-feira passada, Kalil informou que o hospital não seria mais construído depois do que classificou de proposta “imoral, indecorosa e politiqueira” por parte do Estado, que é o dono do Mineirão. A proposta citada pelo prefeito foi apresentada pelo secretário estadual de Infraestrutura e Mobilidade, Marco Aurélio Barcelos, segundo a qual Kalil e Zema deveriam aparecer juntos em apresentações públicas que envolvessem o hospital. “O Estado não cedeu a esplanada para a prefeitura de Belo Horizonte, infelizmente, apesar de que eu já tinha combinado pessoalmente com o governador. E, depois, um secretário, Marco Aurélio Barcelos, que é um garotinho, acho que tem 39 anos, fez uma proposta imoral, indecorosa e politiqueira para ceder o espaço”, disse Kalil, em entrevista coletiva na segundafeira. “Quero dizer a esse rapaz que isso não é hora de promover o governador, de promover governos. É hora de salvar vidas”, acrescentou.
O Estado procurou a assessoria de comunicação do governador, que encaminhou nota da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade. A Secretaria afirmou, em nota, que ofereceu na semana passada o espaço para a montagem do hospital de campanha pela prefeitura “sem qualquer custo”. Mas, “por se tratar de um equipamento administrado por empresa privada, contratada pelo Estado de Minas Gerais, informou-se que seria necessária a atuação conjunta de ambos os entes para a realização do empreendimento, tendo sido a Secretaria Municipal de Saúde comunicada de que as equipes da Seinfra estavam de prontidão para dar andamento a todas as medidas jurídicas e operacionais necessárias”. A nota diz ainda que “a oportunidade de atuar em conjunto com as autoridades municipais neste momento de crise independe de preferências ou de qualquer contexto eleitoral”. Kalil afirmou ter resolvido o problema em acerto feito entre as secretarias estadual e municipal de Saúde e os hospitais Santa Casa de Misericórdia, São Francisco e São José. Conforme o prefeito, houve um remanejamento que tornou possível oferecer mil leitos especificamente para atendimento a pacientes acometidos pela covid-19. Segundo a assessoria da prefeitura, os leitos serão montados na medida em que for identificada demanda pelo sistema de saúde na cidade.
Isolamento. Zema e Kalil já haviam se estranhado no início da adoção de medidas de isolamento social como forma de reduzir a velocidade do contágio do novo coronavírus. O prefeito, no dia 18 de março, disse que o governador não havia adotado medidas necessárias em relação ao comércio nas cidades. Ao mesmo tempo, decretou o fechamento de lojas consideradas não essenciais e regras sanitárias para o funcionamento de estabelecimentos como lanchonetes, que não podem permitir a entrada de clientes, e restaurantes, que só podem funcionar com entregas em casa. Zema retrucou afirmando que essas decisões deveriam ser tomadas pelos prefeitos e que o momento “não era para bate-boca”.
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*”Para liberar fundo bilionário, ANS exige que planos atendam inadimplentes”* - A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) decidiu exigir garantias de atendimento a clientes inadimplentes de plano de saúde durante a crise da covid-19. A medida é uma das contrapartidas para desbloquear cerca de R$ 15 bilhões do fundo de R$ 54 bilhões de reservas técnicas de operadoras do setor. Cerca de 50 milhões de brasileiros são atendidos por operadoras privadas de saúde e mais de 150 milhões dependem do sistema público, o SUS. Diretores da agência aprovaram ontem um termo de compromisso com as operadoras para acertar também o pagamento a prestadores de serviço durante a pandemia. O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse em 19 de março que o governo facilitaria a liberação de ao menos R$ 10 bilhões do fundo. Segundo fontes do governo, o termo de compromisso cria regras para que o recurso seja usado para equilibrar o mercado durante a pandemia. Prestadores de serviço, como hospitais e laboratórios, têm apresentado queda de receita, como resultado de esforços – como cancelar cirurgias eletivas – para reduzir fluxo nas unidades.
Na Justiça, também já surgem demandas para que os planos atendam clientes, mesmo que ainda não tenha sido cumprido o prazo de carência. O argumento é de que é preciso evitar sobrecarga no Sistema Único de Saúde (SUS), pressionado por causa da pandemia. A liberação de ativos deste fundo é pleito antigo do setor. A agência já sofreu forte pressão do governo em 2019 para facilitar o uso, mas não cedeu. Agora, os diretores entendem que é razoável liberar parte do fundo. “A Agência Nacional de Saúde faz com que os planos de saúde depositem um dinheiro, que é a garantia, para, caso deixem de funcionar, paguem as pessoas. Esse fundo garantidor, desde 2012, 2013, 20% dele pode ser usado para a construção de hospitais, compra de equipamentos. E o setor vinha usando pouco esse recurso. A burocracia era muito difícil. Praticamente não mexeram com isso”, afirmou Mandetta em março. A queda na receita também é vista em hospitais do SUS, que recebem verba da União conforme procedimentos executados. Para equilibrar as contas, o ministério decidiu repassar a média do que tem sido pago em períodos anteriores à pandemia.
Dados. O Ministério Público Federal (MPF) quer ter acesso aos dados de custeio total do tratamento de infectados por covid-19, de testes de laboratórios realizados em domicílio e do tratamento em casa. Além disso, o MPF pediu aos planos de saúde que informem os clientes sobre todos os serviços de teleconsulta disponíveis e garanta o pleno acesso a eles. A telemedicina foi regulamentada em março e pode funcionar durante a pandemia. O atendimento deve garantir a privacidade do paciente, e os médicos estão autorizados a emitir atestados ou receitas desde que assinados eletronicamente e acompanhados de informações sobre o profissional. O documento também questiona a ANS sobre disponibilidade e credenciamento de leitos para atender à quantidade de infecções projetadas pelos governos federal e estaduais. Isso porque só 44% dos leitos de UTI estão no SUS. A ANS disse que, em função do horário, não foi possível confirmar o recebimento do ofício do MPF, mas assegurou que responderia ao órgão no prazo estipulado. Disse ainda que toma medidas para enfrentar a pandemia, incluindo cobertura obrigatória para o exame de covid19 e prorrogação de prazos máximos de atendimento.
Já a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) disse que tem orientado associados a atuar em consonância com as melhores práticas de políticas públicas. Quanto à telemedicina, a Abramge disse entender a importância, mas por causa das “restrições impostas até então”, algumas operadoras demandarão mais tempo no desenvolvimento de ferramentas. Por fim, a solicitação à agência reguladora de liberação de parte dos ativos garantidores tem como objetivo manter a assistência à saúde durante a crise. A Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) disse que “irá avaliar as decisões e seus impactos para a saúde suplementar com suas associadas, sempre sob perspectiva de manter o setor” em “seu melhor funcionamento”.
*”País tem recorde de mortes pelo segundo dia consecutivo”*
*”Até 50 voos para a China podem ser contratados”* - Com pressa pelo avanço da pandemia do novo coronavírus, o governo prepara uma “operação de guerra” para trazer, de forma mais rápida, as 240 milhões de máscaras que o Ministério da Saúde está comprando na China. Poderão ser contratados de 20 a 50 voos em aviões comerciais para buscar os produtos. De acordo com fontes do governo, seriam necessárias de 15 a 20 aeronaves distintas para a operação que, em volume, é considerada a maior compra governamental do exterior da história – são 4 mil metros cúbicos e 960 toneladas. Outra opção seria usar aviões da Força Aérea Brasileira (FAB), mas a avaliação é de que as aeronaves da Força são menores e demandariam mais voos, o que custaria mais aos cofres públicos. Mesmo em aviões comerciais, as viagens poderiam ganhar status de “voo de Estado”, o que implicaria maior segurança e menos burocracia no transporte da carga. A operação é encabeçada pelo Ministério da Infraestrutura com o envolvimento de vários órgãos, incluindo a Controladoria-Geral da União (CGU). A pasta da Infraestrutura já começou a fazer cotações com empresas aéreas. Uma das interessadas é a Latam, que poderá ter preferência, por ser brasileira.
Itinerário. O Itamaraty estuda agora onde seria o melhor local para que as aeronaves façam escalas. Israel, Dubai e Nova Zelândia são os destinos mais prováveis para os pousos no momento. Os aviões precisam parar para reabastecer, mas a maior dificuldade é que a carga transportada é cobiçada por vários países neste momento e poderia ser interceptada. A preocupação aumentou depois de uma carga de respiradores comprada pelo governo da Bahia ter ficado retida em Miami (EUA). O negócio foi cancelado pela empresa fornecedora e a suspeita é de que o material tenha sido destinado para uso norte-americano. Por causa disso, os aviões brasileiros devem evitar paradas nos Estados Unidos e também na Europa, que foi fortemente afetada pela pandemia. A expectativa é de que cada voo leve cerca de 40 horas. Usualmente, uma carga com esse volume seria transportada por navio, mas isso levaria até 45 dias, um prazo que o governo não pode esperar no momento.
Compras. Na sexta-feira, o governo publicou no Diário Oficial da União o extrato de dispensa de licitação, informando a compra de 200 milhões de máscaras cirúrgicas e 40 milhões de máscaras N95 com filtro, no valor de R$ 694,320 milhões. O produto é essencial para proteger profissionais de saúde no atendimento a suspeitos e infectados por coronavírus. A compra já foi publicada no Diário Oficial da União, mas ainda não foi confirmada pelo fornecedor. O contrato foi firmado com uma empresa de Wuhan, justamente a cidade onde a epidemia do novo coronavírus teve início, no fim de 2019. O embarque da mercadoria será no Seroporto de Guangzhou. Apesar dos contratos, não há a certeza de que os produtos chegarão. Em entrevista coletiva na semana passada, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse que a pasta fez a compra e espera a China “pacificar o mercado” para começar a buscar os produtos. “Quando o mundo acabar com essa epidemia, eu espero que nunca mais cometa o desatino de fazer 95% da produção de insumos que decidem a vida das pessoas em um único país”, declarou o ministro. Até agora, contratos para a compra de medicamentos e insumos de saúde eram feitos já com o frete incluído. Com a pandemia do novo coronavírus, no entanto, os países passaram a ser responsáveis por buscar os produtos na China, o principal fabricante mundial.
*”Mandetta diz que saúde dialoga com o tráfico e a milícia”* - O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse ontem que o combate à pandemia do novo coronavírus passará por comunidades dominadas pelo tráfico e pela milícia e afirmou ao Estado que para isso vai conversar “com quem precisar”. “Como entra no morro em guerra para retirar uma senhora com sintomas? Saúde não é polícia. Vou conversar com quem precisar.” Mais cedo, Mandetta disse em entrevista coletiva, no Palácio do Planalto, que a Saúde “dialoga, sim, com o tráfico, com a milícia, porque também são seres humanos e precisam colaborar, ajudar, participar”. “A gente deixa claro que todo mundo vai colaborar (no combate à covid-19)”, afirmou. Mandetta reconheceu que há dificuldade para implementar o plano de manejo das favelas e comunidades com exclusão porque são regiões marcadas pela ausência do Estado e dominadas por líderes informais ligados ao crime organizado. Há relatos de toques de recolher impostos por esses grupos aos moradores dessas regiões. “Temos dificuldade, sim, em apresentar o plano de manejo das favelas ou das comunidades com exclusão. Hoje nós começamos o primeiro plano, não vou falar em qual comunidade será, para fazer um teste piloto porque ali você tem de entender a cultura, a dinâmica, ali a gente tem de entender que são áreas que muitas vezes o Estado está ausente, que quem manda é o tráfico.”
Desde o início da crise, Mandetta e autoridades discutem como garantir medidas de isolamento para pessoas de baixa renda, especialmente do Rio. Em março, o ministro da Saúde debateu o assunto com integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF). Um dos pontos levantados é que moradores de comunidades muitas vezes não possuem saneamento básico e compartilham com parentes casas com um ou dois cômodos. O receio do governo é de que, após os primeiros casos nas comunidades, será mais difícil controlar a propagação da doença. A assessoria do Ministério da Saúde esclareceu a reportagem que a intenção do ministro em sua fala foi dar um recado para traficantes e milicianos de que na hora em que o vírus começar a se disseminar nas favelas os profissionais de saúde vão ter de entrar nas comunidades. Mandetta reconhece que algumas áreas são dominadas pelo tráfico e milícia, que impõem suas regras aos moradores, então a comunidade vai ter de resolver essa situação de permitir a entrada de agentes de saúde em suas residências.
*”Rocinha e outras três favelas do Rio têm mortes por covid-19”* - Quatro das maiores comunidades do Rio já tiveram pelo menos seis mortes confirmadas por covid-19. Rocinha, Manguinhos, Maré e Vigário Geral somam 23 casos registrados da doença. A chegada da epidemia nas comunidades é um dos maiores temores das autoridades de Saúde. As favelas não costumam ter saneamento básico, as ruas são muito estreitas e, em geral, muitas pessoas dividem a mesma casa, propiciando a disseminação da doença. Nas comunidades a maior parte do comércio continuou funcionando normalmente, diferentemente do que aconteceu em outras partes da cidade. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, foram duas mortes na Rocinha, na zona sul, outras duas em Vigário Geral, uma em Manguinhos e uma na Maré, todas na zona norte. “É difícil cumprir esses protocolos de isolamento, distanciamento social, uso de álcool em gel nas comunidades”, pondera Eliana Sousa Silva, da ONG Redes da Maré, que está à frente da campanha “A Maré diz não ao coronavírus”, para levar cestas básicas e produtos de higiene a 6 mil famílias. “São 140 mil pessoas vivendo numa área de 4,5 quilômetros quadrados, há dificuldade real de fazer esse distanciamento acontecer. Seria preciso estratégia de prevenção diferente para não haver contaminação em massa.”
Por enquanto, a grande maioria dos 1.449 casos da doença no município está concentrada nos bairros mais ricos, na zona sul e na zona oeste. O número de mortes é de 73. No entanto, os números indicam que já começam a se espalhar nas comunidades mais pobres. A Secretaria Estadual de Saúde havia divulgado pela manhã um número diferente, em que apenas na Rocinha haveria cinco mortes. No fim da tarde, a secretaria disse que houve um erro na elaboração das tabelas.
SP. Na capital paulista, já há relatos de mortes suspeitas por coronavírus em comunidades, como Paraisópolis e na região de Brasilândia e Freguesia do Ó. Com falta de água, de itens de proteção, pouco espaço e perda de emprego, moradores enfrentam dificuldade para se isolar. Segundo o líder comunitário de Paraisópolis e coordenador nacional da organização G10 das Favelas, Gilson Rodrigues, a comunidade já tem 15 casos confirmados do coronavírus e as recomendações do Ministério da Saúde não se encaixam com a realidade do local. “A favela não tem condição de fazer quarentena. As famílias muitas vezes moram em cômodos pequenos, sem ventilação, e falta água. Álcool em gel e máscara são artigos de luxo na favela. Nossos moradores têm continuado nas ruas, acham que é uma doença de ricos.” Para driblar a situação, membros da comunidade criaram uma rede de solidariedade, organizada pelo chamado “comitê da favela”, e diversas ações foram postas em práticas. Moradores voluntários, por exemplo, assumiram a função de presidentes de ruas, responsáveis, entre outras coisas, por chamar atendimento médico quando necessário. A associação de moradores também contratou três ambulâncias para a região, que começaram a atuar há 16 dias.
Segundo o proprietário da empresa que presta o serviço de ambulância, Diego Cabral, sete mortes já ocorreram desde então, quatro delas com sintomas de insuficiência respiratória. Na região da Brasilândia e da Freguesia do Ó, quase 20 óbitos aguardam resultado de teste para a covid-19. A informação é do líder comunitário e representante da associação de moradores na Cachoeirinha e Brasilândia, Henrique Desloste. “Além disso, tem famílias de baixa renda, com crianças, passando fome na região por causa das dificuldades do coronavírus. Esse é um dos motivos que faz as pessoas saírem de suas casas em busca do pão de cada dia, de continuar trabalhando para pagar suas contas”, afirma. Questionada sobre a existência de óbitos por coronavírus nessas regiões, a Secretaria Estadual de Saúde afirmou não ter mapeamento de casos e óbitos por bairro, só por município. Já a Secretaria Municipal de Saúde retornou com documento atualizado no dia 31 de março sobre a situação da epidemia. Nele constam apenas os óbitos por hospital, mas não há registro sobre o local de onde vieram as pessoas que morreram.
*”Quarentena afrouxa em todas as capitais”* - Entre a última semana de março e os primeiros dias de abril, a diminuição no isolamento da população foi o padrão para todas as capitais brasileiras. Mesmo em casos onde a variação foi pequena, houve algum aumento na circulação de pessoas. Nenhuma capital viu suas ruas ficarem mais vazias durante a semana passada. A variação foi identificada com base na localização de 60 milhões de telefones celulares no País, compilada pela empresa In Loco, e tem sido analisada por pesquisadores brasileiros para determinar a relação do movimento nas ruas com o grau de contágio pelo novo coronavírus. A equipe de cientistas – que reúne representantes de Ministério da Saúde, Universidade de Brasília (UnB), Universidade de São Paulo (USP) e Instituto Oswaldo Cruz – já confirmou que o aumento da reclusão no fim de março evitou infecções e internações. Resta saber o quanto a queda recente do isolamento vai influenciar no número de casos nas próximas semanas. Entre as dez maiores capitais do País, a que apresentou maior proporção de pessoas circulando nas últimas semanas foi Manaus. A capital do Amazonas é uma das mais atingidas do País pela covid-19. Menos da metade da população se manteve em casa durante a última semana – a média nos dias de semana ficou abaixo dos 48% de isolamento. Anteontem, a Secretaria de Saúde amazonense admitiu que espera um colapso no sistema de saúde para os próximos dias, considerando intensidade do contágio e o número reduzido de leitos na cidade.
Os pesquisadores acreditam que a movimentação identificada pela base de geolocalização, com os celulares, é muito próxima da movimentação real dos 220 milhões de brasileiros. “Como estamos trabalhando com uma base de 60 milhões de usuários, provavelmente essa queda que você está vendo de 2%, 3% (entre uma semana e outra ) é uma queda real”, diz o pesquisador Júlio Croda, que participou do estudo. No Rio, por exemplo, a diferença de quatro pontos porcentuais de uma semana para outra pode significar, portanto, ao menos 252 mil pessoas a mais nas ruas. Em Manaus, a variação pode significar um aumento de apenas 17 mil, mas o que preocupa especialistas é que a cidade manteve um patamar baixo de isolamento em relação ao restante do País, além da baixa quantidade de leitos em relação à população. Manaus é a única metrópole que se manteve com mais da metade da população circulando na rua mesmo quando considerados os índices do último fim de semana, período em que a reclusão tende a aumentar. Entre as cidades mais atingidas, um dos maiores aumentos na circulação de pessoas ocorreu na capital do Ceará, Fortaleza. Cerca de 59% da população manteve-se em casa durante a última semana de março. Na semana passada o índice caiu seis pontos porcentuais, para 53%. Isso pode representar cerca de 158 mil pessoas a mais nas ruas.
Entre as maiores capitais do País, Goiânia, Belém, Salvador e Curitiba vêm logo em seguida, com os menores níveis de isolamento. O motivo pode estar nas alternativas de renda para a população mais pobre. “Para conseguir segurar essas pessoas em casa, precisaríamos de acesso à renda. É nisso que demoramos muito (para fazer)”, diz o infectologista Eliseu Waldman, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP. “Ficar dentro de uma casa nessas condições em Manaus, na temperatura e umidade que têm na cidade, é muito difícil.”
Variação. Variações maiores ocorreram em capitais com populações menores. Florianópolis, em Santa Catarina, foi o local com o maior aumento na circulação de pessoas. Durante os dias de semana, entre 23 e 27 de março, a cidade chegou a ter 65% da população dentro de casa. Na semana seguinte, a média caiu para 55%. Mas há quem se mantenha confinado. Faz 21 dias que o aposentado Sebastião França, de 61 anos, não encontra os amigos nas mesas de dominós, antes disputadas, no centro de Florianópolis. “Eu não aguento, preciso sair, falar com as pessoas, mas não aparece ninguém. Todos estão confinados”, contou. Na terça-feira, a prefeitura de Florianópolis emitiu as duas primeiras multas por descumprimento do isolamento social na cidade. As duas pessoas estão entre os casos considerados suspeitos e, segundo informou o município, um deles se recusou a assinar termo de isolamento domiciliar e outro se recusou a coletar exames. A multa para cada um foi de R$ 500.
*”Desmate já é recorde na região amazônica”* - A extração ilegal de madeira corre em ritmo acelerado na Amazônia, fazendo com que o volume do desmatamento acumulado de agosto de 2019 a março deste ano já chegue ao dobro do verificado no mesmo intervalo anterior, quando a derrubada recorde da floresta virou alerta global. Uma área superior a três vezes a cidade de São Paulo já foi abaixo neste período. Os números são do próprio governo federal. O Estado levantou os dados no Sistema de Detecção do Desmatamento na Amazônia Legal em Tempo Real (Deter), ferramenta do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que serve para orientar ações de fiscalização contra o desmatamento. Foram checados os cortes feitos de agosto (mês em que começa a medição oficial) até 26 de março, data mais atual disponível. Os dados mostram que o desmatamento nesses últimos oito meses atingiu uma área de nada menos que 5.076 km² da Amazônia, mais de três vezes o tamanho da capital paulista, com seus 1.521 km². Esse volume de corte é quase o dobro do que foi verificado no mesmo intervalo anterior, de agosto de 2018 a março de 2019, quando 2.649 km² de floresta foram devastados. Se observado o intervalo de agosto de 2017 a março de 2018, o número era ainda menor, de 2.433 km².
Uma das situações mais críticas é a do Pará, que concentrou 44% do desmatamento. Os satélites do Deter mostram que, de 1.º de fevereiro a 26 de março, 65 quilômetros quadrados de mata foram devastados no Pará, ante 62 km² verificados nos dois meses completos do ano passado. Em Rondônia, outro Estado que lidera os índices de desmatamento, o corte ilegal também já supera o de fevereiro e março de 2019 e chega a 43 km² neste ano. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sustenta que os alertas do desmatamento são apenas uma referência da situação e têm inconsistências, por causa da incidência de nuvens no período. Ocorre que os dados consolidados e usados pelo governo como a informação mais precisa sobre o desmatamento – o sistema Prodes – sempre resulta em um volume muito maior de área devastada. Em média, o volume confirmado fica 33% acima do verificado pelo Deter. No período de agosto de 2018 a julho de 2019, por exemplo, quando o Deter captou 6.839 km² de área devastada, o Prodes detalhou a situação e concluiu que o desmatamento total na região amazônica havia atingido 10,1 mil km², maior volume dos últimos 11 anos.
Medida. Ao Estado, o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB) disse que pediu apoio federal imediato. “É um volume assustador de desmatamento. Se não houver uma medida drástica e imediata de fiscalização, não haverá mais tempo. Vamos ter um ano de 2020 pior que o ano passado”, disse. Questionado, o Ibama informa que tem mantido as operações em campo na região, mas prioriza algumas ações consideradas prioritárias. No Pará, diz Helder Barbalho, o Ibama conta com apenas 48 servidores para cuidar de todo o Estado. “É uma presença absolutamente rarefeita”, diz. “Se continuar desse jeito, quando acabar o coronavírus o nível de derrubada da floresta será estratosférico.” Na segunda, começa a operar no Pará a Força Estadual de combate ao desmatamento, criada em janeiro. Cem agentes ambientais serão remunerados para entrar na floresta. Eles vão ser pagos com recursos repatriados pela operação Lava Jato, por meio da Petrobrás.
*”Governo libera novo saque de R$ 1.045 do FGTS entre 15 de junho e 31 de dezembro”*
*”Projeto permite mais dívidas a Estados”*
 
CAPA – Manchete principal: *”Estados já constatam forte queda na receita de ICMS”*
*”Circulação de pessoas e veículos volta a ganhar força pelo país”*
*”Crivella confirma mortes por covid-19 na Rocinha”*
*”Parecer libera avanço de concessões em SP”* - Procuradoria dá aval a audiências públicas virtuais; cronograma de leilões não está garantido
*”Saque de R$ 1.045 do FGTS deve zerar 80% das contas”* - Extinto, PIS/Pasep transfere R$ 21,5 bi para o Fundo de Garantia
*”Indústria lidera pedidos ao governo de medidas anticrise”* - A indústria é o setor com mais pedidos de medidas para enfrentamento dos problemas econômicos gerados pelo coronavírus encaminhadas para o governo nas últimas semanas. A informação é do secretário de Infraestrutura do Ministério da Economia, Diogo Mac Cord, que foi deslocado de sua atribuição para coordenar a equipe de mais de 35 pessoas que tem conduzido essa interlocução com o setor produtivo na atual crise. Em entrevista ao Valor, ele explicou como tem sido o processo de recebimento e análise das propostas. Do total de 1.205 sugestões apresentadas pelo setor privado, a indústria foi responsável por 456 demandas; serviços, 263; comércio, 155 e infraestrutura, 119, para ficar nos maiores volumes. Mac Cord explicou que há grande número de repetições nas propostas e que parte do trabalho é agrupar as sugestões e homogeneizá-las. “Nós tivemos que criar metodologia para não deixar nenhuma contribuição de fora”, disse. “Preferimos que as propostas cheguem por canais oficiais, mas não estamos burocratizando”, afirmou, explicando que as sugestões às vezes chegam por e-mail, WhatsApp ou ofícios formais. Segundo ele, quase metade das sugestões foi atendida. A prioridade foi para ações mais “transversais”, ou seja, que atendiam de forma ampla os setores da economia. Nesse contexto que se encaixam iniciativas como ampliação de crédito para capital de giro e postergação de tributos, que foram adotadas nas últimas semanas. “As medidas mais específicas têm um custo administrativo mais elevado. Por isso, sabendo de grupo escasso, priorizamos as iniciativas mais transversais”, comentou.
Mac Cord diz que a tarefa de seu grupo é também triar as propostas que serão efetivamente analisadas. Cerca de 15% de tudo que chegou para o governo foi arquivado, com seus demandantes já avisados. Há também um volume de 39% das propostas que segue sob análise, entre elas medidas para criação de um novo Refis e adiamento de obrigações acessórias e tributos. Após a triagem das medidas, a secretaria leva as propostas para as áreas responsáveis e ajuda na interlocução com o setor produtivo. Nesse sentido, também foi estabelecida uma dinâmica de reuniões envolvendo cerca de dez setores que receberão retorno semanal e trocarão informações com o secretário especial, Carlos Da Costa. Questionado se não seria curioso que a indústria tenha mais pedidos, embora de início o setor de serviços e o comércio pareçam mais atingidos pela paralisação, Mac Cord trata com naturalidade. Segundo ele, o setor industrial tem mais associações e um grau maior de organização. Além disso, pondera, esse segmento está sendo sim fortemente impactado, como mostram dados de consumo de energia, e tem forte relação com os demais setores da economia. Para ele, também não há contradição entre um governo liberal e interlocução setorial. “Sempre dialogamos. E sempre trabalhamos com nossas convicções. Há muita demanda de recurso a fundo perdido, e isso não tem. Quando falamos em setor, falamos em um primeiro momento em medidas transversais, por exemplo como pagar o trabalhador. Uma empresa saudável consegue garantir trabalhador amparado, como consegue garantir fluxo de caixa”, disse. “Estamos estendendo a mão para empresas chegarem do outro lado, mas não estamos selecionando quem vai chegar do outro lado.”
*”Após isolamento, CNI quer testar covid em três categorias”*
*”Serviços caem antes mesmo de choque do coronavírus”* - Um desempenho acima do esperado como os ocorridos na indústria e no varejo em fevereiro não se estendeu aos serviços, setor que deve enfrentar em março e abril seus piores momentos devido à crise do coronavírus. O volume de serviços prestados recuou 1% em fevereiro em relação ao mês anterior, informou ontem o IBGE. Foi a queda mais intensa desde julho de 2018 (-3,1%) e reverteu o resultado de janeiro, de crescimento de 0,4%. Na comparação com fevereiro de 2019, o setor subiu 0,7%. No ano, acumula alta de 1,2% e, em 12 meses, 0,7%. Os questionários da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) respondidos pelas empresas não indicam impacto do coronavírus na atividade de fevereiro - o isolamento social começou em meados de março, cujos resultados serão divulgados pelo IBGE no início do mês que vem. Ainda assim, os dados apontam que o setor perdia ritmo no início do ano antes mesmo dos reflexos da pandemia, encontrando-se “em um ponto de inflexão na entrada de 2020”, definiu o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). De novembro a fevereiro, por exemplo, o setor teve três taxas negativas e uma positiva. Alberto Ramos, do Goldman Sachs, observa que a atividade de serviços está 11,1% abaixo da máxima histórica de novembro de 2014.
Para Marcela Rocha, economista da Claritas, o desempenho dos serviços em fevereiro também acende sinal amarelo para a indústria. A perspectiva até então era que o mês havia sido melhor, diz a economista, já que indústria e varejo (incluindo veículos e material de construção) subiram respectivamente, na margem, 0,5% e 0,7%. Foram justamente serviços ligados à indústria e de segmentos que não são facilmente capturados nas outras pesquisas que puxaram os serviços, aponta Marcela. É o caso de serviços profissionais/administrativos (-0,9%) e de informação/comunicação (-0,5%). “Mostra que a avaliação de que temos uma indústria fraca, mesmo com a produção aumentando recentemente, é a mais prudente”, diz Marcela. Segundo a economista, fevereiro deixa herança estatística ruim para o primeiro trimestre. Se o setor ficasse estável em março - o que não será possível, dado o choque negativo do coronavírus na atividade -, os três primeiros meses do ano implicariam queda de 0,8% para os serviços. “Só fomos ter algo fraco assim em 2017”, afirma. A Claritas projeta retração de 10% a 20% nos serviços em março, a partir da observação de indicadores como o índice de gerentes de compras (PMI) do setor da IHS Markit, que registrou o maior declínio mensal em 13 anos.
Rodrigo Lobo, gerente da PMS, lembra que o índice de confiança do setor, calculado pela Fundação Getulio Vargas, já recuou 11,6 pontos em março, com piora também no indicador de expectativas. “Sinaliza que a queda de receita em março pode ser seguida por uma dificuldade mais duradoura de recuperação. É diferente da greve dos caminhoneiros, quando o movimento brusco de paralisação foi seguido de recuperação imediata.” Em relatório, a MCM Consultores prevê retração de 0,6% na receita real dos serviços em março, ante fevereiro, com tendência de aprofundamento da queda em abril. Os mais afetados devem ser os serviços prestados às famílias, seguidos por transportes e serviços profissionais e administrativos. Uma recuperação ao longo do ano vai depender de quando e como quarentenas serão liberadas, diz Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter. E a retomada dos serviços deve ser mais lenta que, por exemplo, a no varejo. “Há uma demanda reprimida, a pessoa deixa de fazer compras hoje, mas pode voltar depois. A parte de serviços é mais temporal. Não devemos ter uma compensação tão forte no segundo semestre”, afirma.
*”Nas favelas, 71% apoiam quarentena”* - Nas favelas brasileiras, 71% dos moradores discordam do presidente Jair Bolsonaro sobre as pessoas começarem a deixar a quarentena provocada pela pandemia do novo coronavírus e manter apenas os grupos de riscos em isolamento, mostra pesquisa realizada pelo institutos Data Favela /Locomotiva em 269 favelas entre os dias 4 e 5 de abril. A posição contrária ao isolamento vertical ocorre apesar das dificuldades enfrentadas nas comunidades. A pesquisa mostra que 82% dos moradores das favelas tiveram redução na renda por causa da pandemia e que 53% têm comida armazenada suficiente para um período de apenas mais uma semana. “Os moradores de favelas são contrários à quarentena vertical porque não querem ter que escolher entre a saúde e o pão”, explica Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva. “É preciso que o governo faça distribuição de renda ou teremos um problema de convulsão social.” Bolsonaro chegou a sinalizar, em entrevista, que já teria “pronto na mesa” um decreto que terminaria com a quarentena total e entrou em divergência com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, sobre a melhor forma de enfrentar a pandemia.
Meirelles conta que 44% dos moradores declararam estar recebendo doações de alimentos - de amigos, parentes ou de ONGs. Para receber os produtos de alimentação e higiene, porém, 61% desses precisaram sair da comunidade para buscar esse auxílio, elevando o risco de contaminação nas favelas. A preocupação com a saúde é bastante elevada nas favelas. Dos moradores entrevistados, 75% estão muito preocupados com a própria saúde. A pesquisa mostra também que 90% dos moradores estão muito preocupados com a saúde de parentes mais velhos. Como é sabido, porém, as comunidades têm problemas de abastecimento de água e de coleta de esgoto, o que limita praticar as orientações de higiene emitidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Do total de lares das favelas, 47% não têm nem sequer fornecimento de água e quase 15% das famílias não têm sabonete. Celso Athayde, fundador da Central Única das Favelas (Cufa), diz que recebeu doações de mais de 600 toneladas de alimentos e itens de higiene e limpeza para distribuir nas comunidades nos últimos 15 dias. São doações de empresas como JBS, Natura, Ambev, Assaí e Marisa, além da Fundação Casas Bahia. “Estamos recebendo doações de ovos, água, sabonetes, cestas básicas, chocolates e álcool em gel. Só de carne uma empresa doou 50 toneladas”, explicou Athayde. “Mas na nossa logística levamos até a casa dos moradores.”
*”Renda estável joga a favor de idoso, diz Neri”* - Fato de viverem em domícilios menores também ajuda na proteção de grupo
*”Pandemia deixa fosso social mais explícito”*
*”Recursos precisam chegar logo ao caixa das empresas”*
*”Bolsonaro e Mandetta discutem a relação e têm dia de trégua na crise”*
*”Discurso na TV mantém moderação”*
*”Presidente vai a campo para reconstruir pontes”* - Em meio à deterioração de sua popularidade na crise do coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro assumiu as rédeas da articulação política e entrou em campo pessoalmente para tentar reconstruir pontes com o Congresso. Nos últimos dias, deflagrou uma rodada de reuniões com presidentes de partidos do Centro para pedir ajuda ao governo para sair da turbulência, em especial num momento de desgaste da relação com os chefes do Legislativo por causa da ameaça de demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Bolsonaro conduziu as conversas individualmente com os dirigentes, sem a participação de assessores ou ministros. Ele reuniu-se ontem com o líder do PL na Câmara, deputado Wellington Roberto (PB), e o senador Jorginho Mello (PL-SC). No fim da tarde, passou mais de duas horas com o primeiro vice-presidente da Câmara e presidente nacional do Republicanos, Marcos Pereira (SP), com quem discutiu trechos do pronunciamento que gravaria logo mais. Na segunda-feira, recebeu o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI). Antes de eclodir a crise sanitária, havia se encontrado com o presidente do PSD, Gilberto Kassab. Segundo uma liderança de um desses partidos, Bolsonaro assumiu a articulação política porque quer somar forças para governar e ajudar o país a contornar a crise. Esta liderança afirma que é preciso dar um “voto de confiança” ao presidente.
Outro líder a par das conversas de ontem acrescentou que Bolsonaro também busca uma reaproximação com os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), com a mediação desses dirigentes partidários. A relação azedou por causa da ameaça de Bolsonaro de afastar Mandetta no auge da pandemia. O ministro é filiado ao DEM e tem o apoio de Maia e Alcolumbre. Na segunda-feira, Alcolumbre disparou telefonemas aos ministros palacianos alertando que se Mandetta fosse demitido, o gesto prejudicaria a relação com o Congresso. Na mesma linha, Maia tem dados declarações incisivas contra Bolsonaro. Afirmou a investidores que as relações do Legislativo com o Planalto não estão boas e declarou que era melhor Bolsonaro “respeitar a ciência do que fritar” o ministro. A harmonia das relações para atravessarem a crise depende, entretanto, do cessar-fogo dos grupos bolsonaristas contra os líderes do Congresso nas redes sociais, mas não foi feito nenhum compromisso da parte de Bolsonaro nesse sentido. As redes sociais são a arena sensível de Bolsonaro e a prorrogação da CPMI das fake news, que investiga proliferação de notícias falsas - inclusive por artilharia bolsonarista - contrariou o presidente. As conversas com PP e PL ocorrem menos de uma semana depois que os senadores Ciro Nogueira e Jorginho Mello retiraram as assinaturas do pedido de continuidade da CPMI. Um dos alvos é o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).
Na semana passada, o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, e os senadores Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e Eduardo Gomes (MDB-TO), líder do governo, dispararam telefonemas pedindo aos senadores a retirada dos apoiamentos à continuação dos trabalhos. Ciro e Mello são dois dos dez que acataram os pleitos, mas a adesão foi insuficiente. Além disso, os deputados do PP e do PL não imitaram os senadores - endossaram a continuidade da CPMI. Em outra frente, o Republicanos filiou há três semanas o senador Flávio Bolsonaro e o vereador Carlos Bolsonaro. Flávio estava sem partido depois de se desfiliar do PSL e enquanto aguarda a conclusão do Aliança pelo Brasil. Carlos estava desconfortável no PSC, sigla do governador Wilson Witzel, que se tornou desafeto de Bolsonaro.
*”Maia articula projeto de socorro a Estados com alto impacto fiscal”*
*”Equipe econômica vê problemas mais à frente”* 
- Proposta traz elementos que são vistos como uma tentativa de se aproveitar da situação de crise para resolver problemas históricos dos Estados e municípios
*”Campos Neto negocia Orçamento de guerra”*
*”Militares no governo reforçam apoio a Bolsonaro”* 
- Mourão e Ramos usam redes sociais para declarar que estão ao lado do presidente, em meio a críticas feitas pelo filho de Bolsonaro
*”Liminar do STF garante quarentenas estaduais”*
*”Doria e Uip dizem que sugeriram hidroxicloroquina”*
*”Governados pelo PT, Ceará e Piauí adotarão protocolo com substância”*
*”Líderes da oposição defendem mudar data da eleição”*- Lideranças nacionais da oposição defenderam ontem a mudança da data da eleição municipal, mas rejeitaram que o mandato de prefeitos e vereadores de todo o país seja prolongado em meio à pandemia do coronavírus. Em debate virtual promovido pelo UOL, os ex-candidatos à Presidência Fernando Haddad (PT) e Guilherme Boulos (Psol), a deputada estadual Manuela D’Ávila (PCdoB) e o líder do PSB na Câmara, Alessandro Molon (RJ), afirmaram que a votação, prevista para outubro, poderia ser feita em novembro ou dezembro, garantindo que os atuais prefeitos e vereadores terminem o mandato em 31 de dezembro deste ano. Para Haddad, prorrogar mandato é “um absurdo, é coisa da ditadura”. “Não tem nada a ver com o regime democrático”, disse. O ex-prefeito defendeu um possível adiamento do primeiro turno, mas afirmou que os prefeitos não devem ficar “um único dia” além do previsto no mandato. Molon afirmou que a eventual prorrogação do mandato foi uma das marcas da ditadura. “A última vez que se fez isso esperamos 25 anos para votar de novo. Se ficar claro que tem que adiar as eleições, a gente vai fazer com responsabilidade, mas sem permitir que se pegue carona na crise para prorrogar [o mandato] por dois anos.”
Pré-candidata à Prefeitura de Porto Alegre, Manuela disse que é possível adiar as eleições “por um ou dois meses”, desde que não haja a prorrogação do mandato. Na mesma linha, Boulos, pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, afirmou que “a pandemia não pode ser pretexto para mandatos biônicos” e criticou a proposta do deputado Aécio Neves (PSDB-MG) de cancelar as eleições deste ano. O tucano apresentou uma proposta de emenda constitucional para unificar as eleições em 2022. Na entrevista, as lideranças da oposição afirmaram que não há clima para o impeachment do presidente Jair Bolsonaro e alertaram sobre os riscos da tutela militar que tem marcado o governo. Apesar das críticas à atuação do presidente no enfrentamento da pandemia do coronavírus, representantes da esquerda e da centro-esquerda avaliaram que o processo para afastar Bolsonaro tiraria o foco do combate à covid-19 e analisaram que não têm o apoio necessário da população. “Parte da população precisa de agarrar em alguma esperança”, disse Molon, ao comentar pesquisa Datafolha que mostra que 33% da população aprovam a gestão Bolsonaro, 40% acreditam que o presidente mais ajuda do que atrapalha no combate à crise e 59% são contrários à renúncia. A pesquisa revela, no entanto, que para 51% dos brasileiros Bolsonaro mais atrapalha do que ajuda no combate à pandemia e 37% são a favor da renúncia. Haddad afirmou que quase todos os líderes do mundo, com exceção de Bolsonaro, viram suas taxas de aprovação aumentarem durante a pandemia, por buscarem a unidade nacional contra um inimigo comum, o coronavírus. “Ele é um dos poucos líderes que perderam popularidade”, disse o ex-prefeito.
Segundo o Datafolha, a avaliação negativa do desempenho do presidente aumentou seis pontos percentuais nas duas últimas semanas. Apesar do desgaste, Molon disse que a situação do país é “grave demais” para a população apoiar o impeachment. “Embora a população perceba a incapacidade de [Bolsonaro] conduzir, teme que o Congresso e o mundo político gastem energia com um processo como do impeachment”, afirmou o deputado. Manuela disse que ainda é preciso construir uma unidade das forças políticas para pensar no pós-Bolsonaro. Na mesma linha, Boulos disse que o presidente “perdeu as condições de governar o Brasil”, mas pondera que tirá-lo do cargo na atual conjuntura não será fácil. Para o ex-candidato do Psol à Presidência, políticos e entidades como a OAB e CNBB devem se unir para construir as condições para tirar o presidente.
*”EUA cogitam taxar petróleo importado para elevar preço”* - Em conversas com executivos e parlamentares, Trump sugeriu tarifas sobre o petróleo importado, possivelmente sob a mesma lei usada contra a China. Tática visa pressionar Arábia Saudita e Rússia a reduzirem o excesso de petróleo no mercado
*”Previsões de queda dos PIBs e do comércio global indicam recessão severa”* - Indicadores da OCDE sinalizam “forte desaceleração” das principais economias mundiais, enquanto dados da OMC confirmam o colapso nos fluxos comerciais em todas as regiões
*”Covid-19 mata centenas abaixo de 50 anos nos EUA”*
Contas públicas - *”Estados estimam perder de 20% a 30% de receita em abril”*
*”Metrô de SP e CPTM devem perder R$ 800 milhões no ano”*
*”Hospitais de excelência apoiam médicos do SUS”* -
 Instituições farão consultas e atendimentos virtuais, disponibilizando seus talentos e sua tecnologia
*”Privatizações de estatais podem ser adiadas”*
*”Pequenos têm recurso para 12 dias, diz Sebrae”* - A folga é mais restrita ainda quanto menor for o faturamento da empresa

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