sábado, 4 de abril de 2020

Mídia 04/04

DOS JORNAIS DE HOJE: Folha e O Globo destacam em suas capas o resultado da pesquisa do Instituto Datafolha sobre a aprovação ao governo. No entanto, o destaque é dado ao fato de a aprovação ao Ministro da Saúde ter disparado e a de Bolsonaro ter caído. Já o Estadão trata da aprovação do “orçamento de guerra” pela Câmara. O noticiário político dos três jornais é bem semelhante. Tratam de diferentes aspectos do conflito entre Bolsonaro e Mandetta. A Folha mostra também que Carlos Bolsonaro, representante máximo do “terraplanismo político” fez postagem sobre um plano de Mourão para derrubar Jair Bolsonaro. O jornal também publica notícias sobre novas falas grotescas do presidente. Além disso, medidas que estão sendo votadas no Congresso e que ainda precisam de aprovação do presidente também são notícia.
O jornal Folha de S. Paulo mostra que o novo coronavírus já chegou a pequenas cidades do Nordeste e há preocupação com o risco de colapso e caos nessas localidades. Em seu noticiário político, o jornal O Globo publica reportagem sobre a ação de redes sociais online que começaram a apagar posts de “terraplanistas sanitários” como o presidente da República e o pastor Silas Malafaia. O jornal aponta a notícia como algo positivo, mas não traz qualquer crítica a tudo o que essas redes já permitiram. Além disso, falta a abordagem sobre outro problema. Esses “terraplanistas sanitários” têm espaço na televisão e o aproveitam para defender essas ideias. Na TV, continuam sem serem “apagados”.
 
 
CAPA – Manchete principal: *”Pasta de Mandetta tem 76% de aprovação; Bolsonaro, 33%”*
+++ O jornal aproveita a personalização do conflito proposta pelo próprio presidente para anunciar que Mandetta tem alta aprovação. A manchete podia dizer que o Ministério da Saúde é bem avaliado, mas não.
EDITORIAL DA FOLHA: *”Proteção parcial”* - O governo Jair Bolsonaro deu novos passos para atenuar o impacto econômico da crise provocada pelo coronavírus, mas infelizmente ainda parece hesitar diante dos desafios impostos pela calamidade. Medida provisória publicada na quinta (2) criou mecanismos para proteção do emprego e da renda de trabalhadores do setor formal, oferecendo algum alívio às empresas atingidas pela paralisia da economia e aos seus funcionários. De acordo com as regras do novo programa, o governo pagará uma parte do salário dos trabalhadores que tiverem a jornada reduzida ou o contrato suspenso nos próximos meses, em troca do compromisso de que suas vagas sejam mantidas. Sujeita a questionamentos legais, a MP garante o pagamento, pelo Tesouro, de uma fatia do benefício a que os trabalhadores teriam direito se fossem demitidos e recorressem ao seguro-desemprego, até o limite de R$ 1.813 por mês, como complemento à parcela do salário a cargo dos patrões. O mecanismo será suficiente para preservar a renda dos empregados com vencimentos menores no período que se afigura como a fase mais aguda da crise, mas os que recebem salários mais altos sofrerão perdas significativas.
Um trabalhador com rendimento mensal de R$ 5.000 que tiver a jornada reduzida em 70%, por exemplo, receberá R$ 2.769 com o programa —conservará o emprego, mas perderá 44,6% de sua renda. Em alguns países da Europa, onde pacotes de combate ao coronavírus incluíram medidas semelhantes, os governos se comprometeram a garantir parcelas entre 60% e 80% dos salários de quem tenha a jornada reduzida ou fique impedido de trabalhar na quarentena. O Ministério da Economia estima que o novo programa custará R$ 51 bilhões e ajudará a preservar 12 milhões de empregos, mas é provável que se revele tímido para lidar com as consequências recessivas do avanço da Covid-19. A lentidão do governo aumenta a insegurança da população. Basta recordar que a primeira versão do novo programa, divulgada há duas semanas e prontamente revogada, simplesmente autorizava a suspensão de contratos de trabalho sem nenhuma compensação. Na segunda-feira (30), o Congresso aprovou a criação de um auxílio emergencial de R$ 600 para os trabalhadores do setor informal, que tendem a sofrer ainda mais com a crise. Bolsonaro demorou dois dias para sancionar a lei, e ainda não se sabe ao certo quando o dinheiro chegará aos beneficiários. Embora as medidas adotadas até aqui sigam direção correta, a demora na sua implementação reflete desorganização e mostra que ainda falta ao governo o sentido de urgência exigido.
PAINEL - *”Opositores veem contradição entre atitudes e discurso de Bolsonaro sobre desemprego”*: Apesar das declarações de Jair Bolsonaro sobre preocupação com desemprego, políticos e integrantes do Judiciário apontam ao menos cinco posturas contraditórias do governo com este discurso. O Planalto chegou a publicar medida de suspensão de contratos de trabalho sem contrapartida, ofereceu, no início, apenas R$ 200 para informais, colocou a meta fiscal e, depois, a regra de ouro como entraves e, por fim, ainda não tem data para os pagamentos ocorrerem. Em entrevista nesta sexta (3), Paulo Guedes (Economia) disse que os que criticam a demora na liberação dos R$ 600 estão fazendo política. A promessa de pagamento foi renovada. O Ministério da Cidadania assegurou que na terça (8) começará a receber inscrições por meio de um novo aplicativo. A expectativa oficial é que 59 milhões de pessoas busquem o auxílio. Mas ainda não há data para o início do pagamento.
Um gesto do general Braga Netto (Casa Civil) causou estranheza nesta sexta-feira (3) após o fim da já tradicional entrevista coletiva no Palácio do Planalto. O ministro chamou os três repórteres (Globo, Record e CNN) que foram sorteados para ter direito ao microfone e elogiou as perguntas feitas por eles. Bolsonaro considera a imprensa uma inimiga.
PAINEL - *”Barroso diz que unificar eleições deste ano com as de 2022 desrespeitaria eleitor e criaria 'inferno gerencial'”*: Contra unificar as eleições deste ano com as de 2022, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo e próximo presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), diz que a junção não lhe parece boa sob três aspectos: constitucional, institucional e gerencial. Ele afirma que a mudança desrespeitaria o mandato dado pelo eleitor, de quatro anos, confundiria a população ao colocar sete cargos ao mesmo tempo em votação e, por último, causaria "um verdadeiro inferno gerencial", ponderando também a dificuldade em dividir tempo de televisão. Na defesa de adiar a eleição de 2020 apenas por tempo necessário para se realizar com segurança, Barroso também aponta que o precedente na história brasileira de prorrogação de mandatos ocorreu na ditadura militar. "Uma emenda constitucional estendeu até 1982 o mandato de prefeitos e vereadores eleitos em 1976, e que deveria terminar em 1980", diz.
PAINEL - *”MDB dá chega pra lá em filiado Osmar Terra e diz que apoia recomendações da OMS e da Saúde”*: O MDB mandou recado ao ex-ministro Osmar Terra, filiado ao partido, pelo Twitter nesta sexta (3). Para exigir rapidez do governo em relação à liberação dos R$ 600 a informais, a legenda escreveu que, desde o início da pandemia, segue e apoia as recomendações da OMS e do Ministério da Saúde. O ex-ministro virou contraponto de Luiz Henrique Mandetta e referência de bolsonaristas. Terra, que também é médico, diz que apenas idosos e grupos de risco devem ser isolados.
*”Aprovação do Ministério da Saúde sobe 21 pontos e é mais que o dobro da de Bolsonaro, diz Datafolha”* - A aprovação da condução da crise do novo coronavírus pelo Ministério da Saúde disparou, e já é mais do que o dobro da registrada por Jair Bolsonaro. Governadores e prefeitos também têm avaliação superior à do presidente. É o que revela pesquisa do Datafolha feita de quarta (1º) até esta sexta (3). O levantamento ouviu 1.511 pessoas por telefone, para evitar contato pessoal, e tem margem de erro de três pontos percentuais para mais ou menos. Na rodada anterior, feita de 18 a 20 de março, a pasta conduzida por Luiz Henrique Mandetta tinha uma aprovação de 55%. Agora, o número saltou para 76%, enquanto a reprovação caiu de 12% para 5%. Foi de 31% para 18% o número daqueles que veem um trabalho regular da Saúde. Já o presidente viu sua reprovação na emergência sanitária subir de 33% para 39%, crescimento no limite da margem de erro. A aprovação segue estável (33% ante 35%), assim como a avaliação regular (26% para 25%). Nessa duas semanas entre as pesquisas, Bolsonaro antagonizou-se com Mandetta em diversas ocasiões. Contrariando a recomendação internacional seguida pelo ministro, insistiu que o isolamento social não é medida salutar para conter o contágio do Sars-CoV-2. Chegou a fazer pronunciamento em rede nacional na semana passada para fazer a defesa da abertura do comércio e foi pessoalmente visitar ambulantes no entorno de Brasília. Após uma tentativa de enquadramento por parte da ala militar do governo, modulou seu discurso e fez nova fala, na terça (31), mais ponderada.
Na quinta (2), contudo, voltou a criticar Mandetta em entrevista. Durante o período, panelaços contra o presidente se tornaram frequentes em grandes cidades, o que se espelha na sua reprovação mais alta em regiões metropolitanas: 46% de ruim ou péssimo. Bolsonaro é mais mal avaliado por mulheres (43% de reprovação), pessoas com curso superior (50%) e mais ricos (acima de 10 salários mínimos mensais, 46%). A erosão entre instruídos e mais abastados, antes bases bolsonaristas, manteve o padrão da pesquisa anterior. Jovens (16 a 24 anos, 45% de ruim/péssimo) e ouvidos de 25 a 34 anos (47%) são os que mais o rejeitam. A aprovação geral, ainda que não seja comparável metodologicamente a pesquisas presenciais anteriores, vai em linha com o suporte geral do presidente no eleitorado. A sucessão de ordens e contraordens na gestão da crise cobra um preço. Para 51%, Bolsonaro mais atrapalha do que ajuda no combate ao vírus. Pensam o contrário 40%.
O Datafolha voltou a aferir a aprovação de governadores e incluiu a de prefeitos nesta pesquisa. O presidente está em pé de guerra com os chefes estaduais desde que a crise eclodiu, e ameaça baixar um decreto para romper o fechamento do comércio em locais como São Paulo. Aprovam a gestão de seus governadores 58% dos brasileiros, ante 54% da rodada anterior. Os reprovam os mesmos 16% e a avaliação regular caiu de 28% para 23%. Já os prefeitos recebem ótimo e bom e 50%, 25% de regular e 22% de ruim e péssimo. A rejeição ao trabalho de Bolsonaro subiu mais entre moradores do Sudeste (de 34% para 41%) e no Norte/Centro-Oeste (24% para 34%) —neste caso, é notável a dissidência de um expoente da região, o governador goiano Ronaldo Caiado (DEM), que rompeu com Bolsonaro na semana passada. Ainda assim, essa região é a que melhor avalia (41% de ótimo/bom) o presidente, juntamente com o Sul (39%), onde um governante aliado, Comandante Moisés (PSL-SC), também deixou as hostes bolsonaristas. O Nordeste se cristaliza como um centro de rejeição ao presidente nesta crise, com a maior taxa de ruim e péssimo, 42%. Também por lá acham que Bolsonaro mais atrapalha a gestão 57%. Já as avaliações do desempenho dos governadores se mantiveram alinhadas à tendência apontada há duas semanas, com o Nordeste (64%) e o Norte/Centro-Oeste (61%) liderando o índice de satisfação. Entre prefeitos, os da região Sul recebem ótimo ou bom de 58% de seus moradores, ante 48% do Sudeste, 53% do Nordeste e 44%, do Norte/Centro-Oeste. A maior insatisfação é nesta última região, 24%, empatada com os 23% do Sudeste.
Por fim, outra novidade da pesquisa foi a inclusão da avaliação do Ministério da Economia, cujas medidas são fundamentais para atacar o flanco da crise econômica que se antevê com o coronavírus. A maioria dos ouvidos considera o trabalho da equipe de Paulo Guedes ou bom e ótimo (37%) ou regular (38%). Para 20%, ele é ruim ou péssimo. A maior aprovação vem de empresários (43%), e a pior, de funcionários públicos (27%). Acham a condução, que tem redundado em diversos conflitos entre a pasta e o Congresso sobre a velocidade da implementação das medidas, mais regular estudantes (55%) e trabalhadores assalariados sem registro (49%).
PESQUISA FOI FEITA POR TELEFONE PARA EVITAR CONTATO
A pesquisa telefônica, utilizada neste estudo, procura representar o total da população adulta do país, mas não se compara à eficácia das pesquisas presenciais feitas nas ruas ou nos domicílios. Por isso, apesar de aproximadamente 90% dos brasileiros possuírem acesso pelo menos à telefonia celular, o Datafolha não adota o método em pesquisas eleitorais, por exemplo. O método telefônico exige questionários rápidos, sem utilização de estímulos visuais, como cartão com nomes de candidatos. Além disso, torna mais difícil o contato com os que não podem atender ligações durante determinados períodos do dia, especialmente os de estratos de baixa classificação econômica.
Assim, mesmo com a distribuição da amostra seguindo cotas de sexo e idade dentro de cada macrorregião, e da posterior ponderação dos resultados segundo escolaridade, os dados devem ser analisados com alguma cautela. Na pesquisa divulgada nesta sexta-feira, feita dessa forma para evitar o contato pessoal entre pesquisadores e respondentes, o Datafolha adotou as recomendações técnicas necessárias para que os resultados se aproximem ao máximo do universo que se pretende representar. Todos os profissionais do Datafolha trabalharam em casa, incluídos os entrevistadores, que aplicaram os questionários de suas casas através de central telefônica remota. Os limites impostos pela técnica telefônica não prejudicam as conclusões pela amplitude dos resultados apurados e pelos cuidados adotados. Foram entrevistados 1.511 brasileiros adultos que possuem telefone celular em todas as regiões e estados do país. A margem de erro é de três pontos percentuais. A coleta de dados aconteceu do dia 1º ao dia 3 de abril de 2020.
*”'Médico não abandona paciente', diz Mandetta sobre eventual pedido de demissão”* - O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse que não cogita pedir demissão e usou uma metáfora médica para indicar sua posição. "Médico não abandona paciente, meu filho", respondeu ao ser indagado por jornalistas em entrevista coletiva nesta sexta-feira (3). Mandetta evitou polemizar o resultado de pesquisa Datafolha que mostrou que a aprovação de sua pasta na condução da crise do coronavírus é o dobro da do presidente Jair Bolsonaro. "Não, isso não tem nada a ver com a minha performance, nada a ver com o presidente. Nós estamos falando de instinto. Isso é o instinto de preservação da vida." Segundo o levantamento, a aprovação do Ministério da Saúde saltou de 55% para 76%, em um intervalo de praticamente dez dias. A reprovação caiu de 12% para 5%. O índice daqueles que veem um trabalho regular caiu de 31% para 18% No mesmo período, a aprovação do presidente Jair Bolsonaro na condução da crise se manteve estável, oscilando dentro da margem de erro de 35% para 33%. A reprovação aumentou de 33% para 39%, também dentro da margem de erro. Permaneceu estável aqueles que consideram regular, passando de 26% para 25%. Mandetta ressaltou que a aprovação da pasta da Saúde é fruto do momento atual enfrentado pela população, em meio à pandemia. Por isso, as pessoas estariam mais apegadas e em busca de amparo. "Tenho 31 anos de medicina. A gente se prepara para cuidar de pacientes. Eu já tive pacientes em que a família às vezes questiona o médico, briga, e o compromisso é com o paciente", disse o ministro nesta sexta-feira, novamente usando a metáfora de que o país é seu paciente, e Bolsonaro, um membro da família.
*”Mandetta cita poeta morto de pneumonia ao dizer que 'a mão que afaga é a mesma que apedreja'”*
*”Maioria aprova pedido de Doria para ignorar recomendação de Bolsonaro, aponta Datafolha”* - O pedido feito pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), para que a população não seguisse as recomendações do presidente Jair Bolsonaro sobre a pandemia do coronavírus reverberou na população. Segundo pesquisa do Datafolha divulgada nesta sexta (3), 57% dos entrevistados acham que Doria está correto. Já 33% consideram que ele está errado e 11%, não souberam responder. A maior aprovação à frase do tucano vem do Nordeste (65%), dos jovens de 16 a 24 anos (66%) e dos mais ricos e instruídos (64%). Já ficam mais do lado de Bolsonaro, ainda que minoritários, homens (38%) e quem ganha de 5 a 10 salários mínimos (39%). O dado nordestino é vistoso para as pretensões de nacionalização do nome do tucano. Pesquisas qualitativas feitas por partidos sempre indicam uma rejeição ao caráter excessivamente paulista associado a Doria, o que é um tabu antigo para disputas nacionais.
Nesta sexta, Doria voltou a defender o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que, segundo ele, é “Bolsonaro às avessas”. Questionado pela Folha, o tucano disse que a saída do ministro seria um “desastre para o país” no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus. Em coletiva no início da tarde desta sexta, Doria pediu ao ministro que “resista aos despreparados. “A sua resistência está ajudando a salvar vidas de milhares de brasileiros e eles estarão ao seu lado reconhecendo que seu esforço ajuda a salvar vidas”. “Seu esforço é reconhecido por todos, do mundo da ciência, da medicina e pelo governador de São Paulo. Sei que outros governadores também têm mantido uma relação correta, altiva, republicana, distanciada de visão política, ideologismo e partidarismo”, continuou Doria.
+++ O antagonismo, no momento, se dá entre o combate à epidemia baseado na ciência e a crença cega nos pilares que alimentam a desigualdade no Brasil.
ANÁLISE - *”Resiliência de Bolsonaro ampara-se em estratos vulneráveis da população”*
FERNANDO CANZIAN - *”Logo teremos um zé-ninguém na Presidência, indica pesquisa Datafolha”*
*”Maia e Alcolumbre recusam aceno do Planalto e respaldam Mandetta”* - Os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), recusaram um convite para encontrar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na noite desta quinta-feira (2). Em vez disso, jantaram com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. O convite foi feito pelo ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), pouco antes de Bolsonaro, em entrevista à Jovem Pan, afirmar que está "faltando humildade" a Mandetta. Sem combinar, Maia e Alcolumbre rejeitaram o convite para encontrar com o chefe do Executivo. Segundo relatos de pessoas próximas aos dois congressistas, o presidente do Senado se recusou porque não havia uma pauta clara para o encontro, e Alcolumbre acabou de se recuperar da Covid-19. Além disso, como o convite foi feito por Ramos, e não pelo próprio presidente, o senador entendeu o gesto muito mais como uma tentativa de articulação por parte do ministro do que uma vontade de Bolsonaro. Já o presidente da Câmara, de acordo com relatos de aliados, entendeu que seria uma reunião ruim pois Bolsonaro insiste na tese de flexibilizar o isolamento social. Para evitar constrangimentos, Maia também disse não. ​Logo depois, os chefes do Legislativo receberam Mandetta em um longo jantar na residência oficial da presidência do Senado.
No jantar, Maia e Alcolumbre disseram a Mandetta que ele tem total apoio do Congresso Nacional. Nesta sexta, o presidente da Câmara chegou a dizer em uma videoconferência promovida pelo jornal Valor Econômico que, apesar dos ataques, Bolsonaro não tem coragem de demitir Mandetta e mudar a política de enfrentamento ao coronavírus. "É fundamental que, no meio do processo [de enfrentamento à doença], a gente não tenha uma perda de um nome como o do Mandetta", disse Maia. Segundo ele, uma eventual substituição mudaria a política do Ministério da Saúde e significaria que Bolsonaro não acredita no que o ministro está fazendo. "Ao mesmo tempo, ele não tem coragem de tirar o ministro e mudar oficialmente a política. Ele fica numa posição dúbia." Mais tarde, antes do início da votação da PEC (proposta de emenda à Constituição) que segrega o Orçamento, voltou a defender Mandetta. Ao comentar o resultado do Datafolha, que apontou crescimento na aprovação do Ministério da Saúde ante o presidente Bolsonaro, Maia afirmou que a pesquisa mostra que a sociedade brasileira está compreendendo o que representa a pandemia e o trabalho comandado por Mandetta. "[É uma demonstração da] condução firme, transparente e muito objetiva e corajosa do ministro Mandetta, que vem tocando com muita competência o ministério, da mesma forma que fez na secretaria municipal em Campo Grande, como fez quando deputado", defendeu.
Maia também sinalizou que o Congresso está atento às movimentações de Bolsonaro no sentido de flexibilizar o isolamento social. "Todos os decretos do governo são muito bem analisados pelos partidos, lideranças, mesa da Câmara, mesa do Senado. E algum que tenha divergência em relação ao papel que tem um decreto do presidente sempre pode ser avaliado e discutido e rejeitado pelo Parlamento", afirmou. A impressão que ficou para Maia e Alcolumbre após cerca de cinco horas de jantar é que Mandetta está cansado, claramente esgotado física e mentalmente, mas não pretende deixar o posto. Assim como o próprio ministro tem dito publicamente, ele só sairá do cargo por vontade do presidente. Bolsonaro teria assim de arcar com o ônus de sacar alguém mais popular do que ele e que tem aprovação inclusive em sua bolha de apoiadores. A disputa que o presidente tem travado com Mandetta isola Bolsonaro dentro do próprio governo. Nos últimos dias, ministros como Sergio Moro (Justiça) e Paulo Guedes (Economia) deram declarações reforçando a importância do isolamento contra o coronavírus. Entre os governadores, Bolsonaro também perdeu apoio como os de Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Comandante Moisés (PSL-SC).
*”Maia diz que Bolsonaro não tem coragem de demitir Mandetta e mudar política contra coronavírus”*
*”Direita 'racha' sobre Mandetta no Twitter, após crítica pública de Bolsonaro”* - Os usuários com perfil de direita no Twitter vinham firmes em defesa do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Até que o presidente Jair Bolsonaro cobrou, publicamente, humildade do subordinado na crise contra o coronavírus, em entrevista nesta quinta (2). Agora, Mandetta passou a ser atacado por esse campo ideológico. Alguns tuítes já ligam o titular da Saúde e seu partido, o DEM, a um suposto golpe em curso, para tirar o presidente do poder. Outros dizem que tudo bem haver divergência no governo. A Folha analisou os tuítes mais populares na direita em dois momentos na rede social. O primeiro período foi do dia 24 de março (quando São Paulo iniciou o isolamento da população) ao começo da noite de quinta; o segundo momento considerou as 12 horas após a entrevista de Bolsonaro criticando o ministro. São dois cenários opostos. Antes do ataque público de Bolsonaro, os tuítes mais populares falavam que o ministro era sério. Também havia tuítes dizendo que era a imprensa que estava criando uma divisão no governo. O terceiro tuíte mais popular desse período, por exemplo, foi “e o Governo Jair Bolsonaro é o primeiro do mundo a anunciar oficialmente o tratamento para covid-19. Mandetta ainda confirmou a desinformação da imprensa: ele nunca pediu quarentena. Dia ruim para as hienas”.
A mensagem, de Felipe Pedri (assessor da Casa Civil), citava a discordância de avaliação de como conduzir a crise, o que afastou Bolsonaro de Mandetta. O ministro tem defendido o isolamento de toda a população, para evitar que o covid-19 se espalhe rapidamente. Já Bolsonaro tem ressaltado o prejuízo econômico que as pessoas estão sofrendo com comércio, empresas e escolas fechadas. E defende o isolamento apenas das populações mais vulneráveis. Publicamente, até então, Bolsonaro e Mandetta trocavam elogios, ainda que nos bastidores já se sabia que a relação entre os dois estava ruim. Na quinta, o presidente escancarou as divergências em entrevista à rádio Jovem Pan. Os tuítes mais populares na direita, então, mudaram de tom. O terceiro mais popular após a crítica de Bolsonaro foi do agrônomo Xico Graziano, que diz estar tudo bem com a divergência, desde que haja lealdade. Outros partiram para o ataque. O quarto e quinto tuítes mais populares afirmam estar em curso um golpe para tirar Bolsonaro do poder, capitaneado pelo DEM, partido de Mandetta. O tuíte mais popular na direita falava da expectativa da chegada de cinco milhões de testes para identificar pessoas infectadas, e o segundo, atacava o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM).
A classificação dos usuários entre centro, direita e esquerda é feita pelo GPS Ideológico, ferramenta da Folha que categorizou 1,7 milhão de perfis no Twitter, com interesse em política. Os usuários são distribuídos numa reta, do ponto mais à direita ao mais à esquerda, de acordo com quem eles seguem na rede social.
MANDETTA IGNORADO
Antes do dia 24 de março, quando São Paulo começou o isolamento da população, Mandetta era o terceiro perfil com que o presidente Jair Bolsonaro mais interagia no Twitter. Nos nove dias anteriores ao início da quarentena, Bolsonaro havia retuitado ou respondido seis mensagens do ministro. Já entre o dia 24 e o fim da tarde do último dia 2, Bolsonaro não mencionou ou respondeu publicamente nenhuma mensagem de Mandetta no Twitter. Com o distanciamento entre Mandetta e Bolsonaro, sobrou também para o perfil do Ministério da Saúde. A pasta era a que mais recebia interação do presidente antes do dia 24 (nove menções). Depois, com cinco menções, caiu para a quinta conta que o presidente mais interagiu. Estava atrás do Ministério da Defesa (8), da Educação (6), do chanceler Ernesto Araújo (6) e da Secretaria de Comunicação (6). Neste período que Mandetta não recebeu nenhuma interação do presidente, Bolsonaro interagiu com 41 perfis, incluindo contas de fora do governo, como do apresentador Milton Neves, que foi retuitado pelo presidente. Mandetta havia tuitado 91 vezes nos nove dias anteriores a 24 de março e 68 vezes depois.
*”Carlos Bolsonaro insinua que Mourão conspira para derrubar o pai”* - O vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho presidencial responsável pela estratégia digital do pai, atacou o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) em uma postagem no Twitter nesta sexta (3). Insinuou que ele conspira para derrubar seu pai. Com isso, Carlos incendeia uma situação bastante tensa dentro da ala militar do governo, que vem tentando contornar a sucessão de conflitos entre Bolsonaro, governadores e seu próprio ministro da Saúde na gestão da crise do coronavírus. O vereador reproduziu uma postagem do Flávio Dino (PCdoB) na qual o governador do Maranhão relatava uma reunião virtual do Conselho da Amazônia com Mourão, ocorrida com todos os chefes estaduais da região na quinta (2). Dino, adversário de Bolsonaro, disse: "Tivemos uma reunião com diálogo técnico, respeitoso, sensato. Claro que Mourão não é do meu campo ideológico. Mas, se Bolsonaro entregar o governo para ele, o Brasil chegará em 2022 em melhores condições". Já Carlos comentou: "O que leva o vice-presidente da República se reunir com o maior opositor socialista do governo, que se mostra diariamente com atitudes totalmente na contramão de seu presidente?". As primeiras reações entre políticos e militares variaram entre a descrença e a certeza de que a escalada de Carlos era previsível por seu temperamento, dado o adensamento dos rumores de que Bolsonaro poderia renunciar como uma saída para as dificuldades de governança de seu governo no combate à pandemia. O próprio presidente negou a hipótese, de resto sugerida antes por Dino e outros políticos de esquerda no começo da semana. Mas a questão é Mourão. Desde a campanha eleitoral, quando o general da reserva obteve a vaga de vice Bolsonaro quase acidentalmente, já que o também general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) tivera um problema partidário, Mourão tem uma relação atribulada com o que chama de "os meninos". São os três filhos políticos do presidente, dos quais Carlos é o mais carbonário em redes sociais. Eles já haviam trocado farpas antes, mas o momento é outro. Isolado politicamente devido à sua insistência em primeiro minimizar a Covid-19 e, depois, de sugerir estratégias na contramão do que se recomenda internacionalmente e governadores de estado estão aplicando no Brasil, Bolsonaro procurou refúgio entre os militares. Pediu apoio direto ao ex-comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, que acabou publicando uma postagem simpática à sua "coragem" na crise. Mais importante, aceitou modular o tom de confronto num pronunciamento em rede nacional na terça (31).
Ao mesmo tempo, instalado no Palácio do Planalto, Carlos manteve a tática agressiva no manejo das redes do pai. No dia seguinte ao pronunciamento, Bolsonaro já estava a atacar governadores —até com uma fake news sobre desabastecimento em Minas, pela qual se desculpou. Como diz um general da ativa, os fardados do Planalto já não sabem como lidar com a instabilidade do presidente. O chefe da Casa Civil, general Walter Braga Netto, assumiu a linha de frente de comunicação e coordenação da crise, num movimento duplo de Bolsonaro. Primeiro, ceder poder à ala militar e, segundo, isolar Luiz Henrique Mandetta, o ministro da Saúde cuja avaliação do trabalho é muito melhor entre a população do que a do presidente, segundo o Datafolha. Na prática, os ministros têm tentado tocar a administração dos aspectos práticos do combate à pandemia e ignorar Bolsonaro. Muitos já se alinharam ao colega da saúde. A frase de Mandetta ao ouvir a enésima farpa do presidente contra si, numa entrevista na quinta, resumia: "Quem tem mandato, fala; quem não tem, como eu, trabalha". Ocorre que num sistema presidencial centralizado como o brasileiro, arranjo é bastante frágil, não menos porque Bolsonaro não é considerado "controlável" pelos seus auxiliares. Carlos, ao atacar Mourão e tentar associar uma reunião usual de trabalho com vários governadores a uma conspiração, expõe uma estratégia algo desesperada. Antes da crise, a relação de Bolsonaro com o Congresso já havia se tornado inviável pela disputa sobre o manejo do orçamento, o que só piorou quando o presidente participou de ato sugerindo o fechamento do Legislativo e do Judiciário. O Supremo Tribunal Federal também fez chegar a Bolsonaro a avaliação de que medidas exageradas na condução da crise não terão guarida legal, expondo ainda mais o isolamento presidencial. Mourão não é o líder da ala militar no Planalto, mas é o único indemissível. Isso lhe garante uma ascendência que não tinha quando era um general de quatro estrelas no Alto Comando do Exército. O nome mais forte do setor fardado no governo é o general da reserva Fernando Azevedo, ministro da Defesa, que faz a ponte com a ativa das Forças e também com o Judiciário —trabalhou com o presidente do Supremo, Dias Toffoli. Toda e qualquer continuidade da crise, acirrada nesta sexta por Carlos, passará pelo julgamento de Azevedo.
*”Destruíram minha vida por causa de um vídeo, diz professora que desabafou a Bolsonaro”* - Acusada em redes sociais de fazer diante do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) um desabafo falso sobre suas dificuldades financeiras, Fátima Dantas Montenegro, 52, diz que não mentiu ao se descrever como uma professora particular desamparada na crise do coronavírus. Em entrevista à Folha, ela disse ser dona de um pequeno curso de caligrafia há 30 anos em Brasília, que teve de encerrar as atividades após as determinações de isolamento no Distrito Federal. “Não posso dar aulas. Meu espaço é num coworking. Minha renda caiu a zero.” Eleitora de Bolsonaro, que já postou outros vídeos em apoio ao presidente, Fátima diz ter de sustentar seus três filhos. A pensão desembolsada pelo pai delas, alega, banca apenas o aluguel do apartamento em que vivem. “Estou desesperada, tenho contas para pagar”, afirma, acrescentando ainda não ter como contar com a ajuda de seus pais. O vídeo de Fátima foi postado nas redes sociais por Bolsonaro na última quinta (2). Diante do Palácio da Alvorada e em meio a apoiadores que se aglomeravam junto a uma grade, ela chamou o presidente e, entre outros apelos, pediu uma intervenção das Forças Armadas contra o fechamento do comércio. “Não tem condições de a gente viver nesta situação, vai faltar coisa para os meus filhos. Estou aqui pedindo para o senhor: põe os militares nas ruas”, disse, dramaticamente, ao presidente. A professora argumentou a Bolsonaro que as pessoas querem trabalhar com liberdade, sem depender de ajudas de custo. “Não quero que o governo banque nossa vida, isso é para vagabundo. Abre esse comércio.” O presidente assistia ao desabafo calado, a alguns metros de distância. “As lojas Americanas estão abertas, o camelô não pode abrir. Por quê?”, questionou. Bolsonaro não se aproximou, mas declarou ao fim: “Pode ter certeza de que a senhora fala por milhões de pessoas”.
Após a publicação, um internauta postou no Facebook que Fátima é empresária em Brasília e que teria mentido sobre ser uma professora em apuro financeiro. Nos registros da Receita Federal, ela consta como sócia de duas microempresas, a ABZ Curso de Caligrafia, aberta em 1997, e a Fátima Montenegro Curso de Caligrafia, de 2010. Ambas constam com o inaptas por “omissão de declarações”. Após a suspeita ser lançada nas redes sociais, críticos e políticos de oposição a Bolsonaro passaram a dizer que o video era uma farsa e a sugerir que a professora foi cooptada para fazer os apelos publicamente. Um desses foi o deputado Alexandre Frota (PSDB-SP). “Chega ao fim mais uma farsa. Fátima Montenegro, a mulher que se passou por vitima de perder o emprego e implorou para Bolsonaro o fim da quarentena, é uma empresária de Brasília e militante do bolsonarismo. Foi colocada estrategicamente no dia para criar comoção”, postou Frota em sua conta no Twitter. Questionada sobre acusações de que foi contratada para fazer o desabafo, Fátima reagiu: “Que contrato, gente? Se tivesse esse contrato, eu estaria bem. Não tem isso."
A professora disse que decidiu ir ao Alvorada após o governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), decretar que o fechamento do comercio e de outras atividades não consideradas essenciais vai se estender até 3 de maio. O anúncio, segundo ela, a desesperou. Pedagoga de formação, Fátima oferece na internet diversos cursos, como de caligrafia técnica e artística, com método que diz ter criado. A modalidade online custa R$ 427 em 12 prestações ou R$ 320 à vista. Ela conta já ter tentado vender seu peixe a políticos, sem sucesso, no passado. “Meu produto sou eu. O que eu sempre pedi, inclusive para governos anteriores, é que comprassem meu projeto.” Fátima divulga seu celular no Facebook. Após seu vídeos e as contestações a ele viralizarem, ela diz que seu WhatsApp foi inundado de mensagens, algumas a chamando de nazista e fascista, além de ameaças do tipo “se você sair, vou te pegar”. Nesta sexta (3), a professora foi a delegacia de polícia para registrar queixa. Chorando, relatou ter saído das redes sociais por causa das intimidações. “Quero proteção, estão me ameaçando. Destruíram minha vida só por causa de um vídeo. Por causa de ideologia.”​
*”'Vai quebrar tudo', diz Bolsonaro em nova crítica ao fechamento do comércio”* - Em mais uma crítica às ações de isolamento social tomadas por governadores, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nesta sexta-feira (3) que a sociedade brasileira "não aguenta ficar dois, três meses parada". "Vai quebrar tudo", declarou o presidente a um grupo de apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada, em Brasília. "Vocês sabem do meu posicionamento: não pode fechar dessa maneira, e atrás disso vem desemprego em massa, miséria, fome, vem violência", disse Bolsonaro, ao ser interpelado por um simpatizante que se queixou de medidas do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), que determinou o fechamento de comércios e a suspensão de aulas. "Esse vírus é igual a uma chuva. Vai molhar 70% de vocês. Isso ninguém contesta. Toda a nação vai ficar livre da pandemia depois que 70% for infectado e conseguir os anticorpos. Desses 70%, uma pequena parte, os idosos e quem têm problema de saúde, vai ter problema sério e vai passar por isso também." "O que estão fazendo [com o isolamento social] é adiar [a transmissão do Covid-19] para ter espaço nos hospitais. Mas tem um detalhe: a sociedade não aguenta ficar dois, três meses parada. Vai quebrar tudo", afirmou Bolsonaro.
Um dia antes, Bolsonaro reconheceu que ainda não tem apoio popular suficiente para determinar uma reabertura da atividade comercial no país. Em entrevista à rádio Jovem Pan, ele disse que pode tomar uma decisão por meio de um projeto, mas que precisa estar amparado por um apoio maior da sociedade. "Eu estou esperando o povo pedir mais, porque o que eu tenho de base de apoio são alguns parlamentares. Tudo bem, não é maioria, mas tenho o povo do nosso lado. Eu só posso posso tomar certas decisões com o povo estando comigo", afirmou. “Para abrir comércio, eu posso abrir em uma canetada. Enquanto o Supremo e o Legislativo não suspenderem os efeitos do meu decreto, o comércio vai ser aberto. É assim que funciona, na base da lei." O presidente defendeu que, a partir da próxima segunda-feira (6), estados e municípios determinem uma reabertura gradual da atividade comercial, evitando um aumento no desemprego. Ele ressaltou que já tem pronto em sua mesa um modelo de proposta para determinar que os estabelecimentos comerciais sejam considerados uma atividade essencial durante a pandemia do coronavírus. “Eu tenho um projeto de decreto pronto na minha frente para ser assinado, se preciso for, considerando atividade essencial toda aquela exercida pelo homem e pela mulher através da qual seja indispensável para levar o pão para a casa todo dia”, disse.
O presidente ressaltou, no entanto, que tem sofrido ameaças para não assiná-la, entre elas até mesmo a abertura de um processo de impeachment no Legislativo. Ele não especificou, no entanto, quem o tem ameaçado. “Eu, como chefe de Estado, tenho de decidir. Se tiver que chegar a esse momento, eu vou assinar essa medida provisória. Agora, sei que tem ameça de tudo o que é lugar para cima de mim se eu vier a assinar. Até de sanções tipo buscar um afastamento, sem qualquer amparo legal para isso." Para o presidente, após a pandemia do coronavírus, a economia brasileira levará um ano para se recuperar. Na entrevista, ele disse ainda que fará um chamado nacional para que a população brasileira faça um dia de jejum religioso para que o país “fique livre desse mal”. Na entrevista, o presidente voltou a fazer críticas a prefeitos e governadores que adotaram medidas restritivas diante da pandemia da doença. O mais atacado foi o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Bolsonaro disse que Doria faz "política o tempo todo" e recorre a "demagogia barata". Segundo o presidente, como porta-voz dos governadores do país, o tucano é "péssimo em todos os aspectos".
+++ Como dito em observação anterior, levar a sério esse discurso depende de uma crença cega porque ele não traz qualquer explicação sobre o momento. É um 1+1=3 maluco. Infelizmente, os jornais não trazem nas reportagens opiniões que apontem tal maluquice. Ao invés disso, Jair Bolsonaro continua aparecendo como portador de ideias, mas agora a confrontação a ele tem espaço, pelo menos isso.
*”Não cheguei à Presidência para perder para esses urubus, diz Bolsonaro em novo ataque à imprensa”* - Em mais um ataque à imprensa, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nesta sexta-feira (3) que não chegou à presidência da República "para perder para esses urubus aí". Bolsonaro deu a declaração ao responder a uma apoiadora, que disse a ele que "Deus é o senhor do tempo" e que o melhor da vida do presidente ainda está por vir. "Eu não cheguei aqui... pelo milagre da facada, e a eleição também, para perder para esse urubus aí", respondeu o presidente, ao gesticular em direção ao grupo de repórteres que diariamente acompanha a sua entrada e saída do Palácio da Alvorada. Ao descer do comboio presidencial, Bolsonaro pediu que seus simpatizantes se juntassem mais próximos da portaria do Alvorada, para que ficassem longe dos jornalistas —que aguardam em local separado. "Vamos vencer essa guerra, pessoal", também disse o presidente na ocasião. A um apoiador que afirmou "só estamos esperando a tua voz", Bolsonaro respondeu: "Vai chegar a hora certa aí".
Ele não se dirigiu em nenhum momento aos jornalistas. Aos apoiadores teceu novas crítica às ações de isolamento social tomadas por governadores. Ele disse que a sociedade brasileira "não aguenta ficar dois, três meses parada". "Vai quebrar tudo", declarou o presidente. "Vocês sabem do meu posicionamento: não pode fechar dessa maneira, e atrás disso vem desemprego em massa, miséria, fome, vem violência", disse Bolsonaro, ao ser interpelado por um simpatizante que se queixou de medidas do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), que determinou o fechamento de comércios e a suspensão de aulas. "Esse vírus é igual a uma chuva. Vai molhar 70% de vocês. Isso ninguém contesta. Toda a nação vai ficar livre da pandemia depois que 70% for infectado e conseguir os anticorpos. Desses 70%, uma pequena parte, os idosos e quem têm problema de saúde, vai ter problema sério e vai passar por isso também." "O que estão fazendo [com o isolamento social] é adiar [a transmissão do Covid-19] para ter espaço nos hospitais. Mas tem um detalhe: a sociedade não aguenta ficar dois, três meses parada. Vai quebrar tudo." Em outra referência a governadores e prefeitos que determinaram políticas de restrição de movimento nas ruas, ele acusou ainda "algumas autoridades" de praticar "demagogia". "A opinião pública aos poucos está vindo para o nosso lado. Os políticos têm que ouvir o povo. Sabemos que vai ter morte, não negamos isso. Morre de gripe comum, morre de H1N1", concluiu. Bolsonaro tem sido criticado por governadores e especialistas em saúde pública por suas declarações em que minimiza o impacto do novo coronavírus e faz apelos pela volta da normalidade. O argumento de sanitaristas e infectologistas é que o isolamento social é efetivo para a redução da velocidade de proliferação da Covid-19.
DEMÉTRIO MAGNOLI - *”As mentiras nos EUA luzem sob o sol, enquanto na China seguem escondidas abaixo da superfície”*
ANÁLISE - *”Convocado por Bolsonaro contra vírus, jejum tem conotação de penitência”*
*”Manobra do governo fracassa, e CPMI das Fake News é prorrogada até outubro”* - Os trabalhos da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) das Fake News foram prorrogados até outubro. Parlamentares da base do governo Jair Bolsonaro (sem partido) tentaram manobrar até as 23h59 da quinta (2) para retirar as assinaturas necessárias para a continuidade da comissão. O regimento interno prevê que após a leitura do pedido de prorrogação, que deve ter o apoio de no mínimo de 181 deputados e 27 senadores, as assinaturas podem ser contestadas até o final do dia. O líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), conseguiu convencer dez senadores a retirarem os apoios, mas acabou sendo derrotado porque outros sete aderiam ao pedido de prorrogação. No total, 209 deputados e 34 senadores pediram a extensão dos trabalhos da CPMI. "Os trabalhos foram prorrogados por mais 180 dias. Foi uma guerra grande até a meia noite que era prazo fatal. Eles conseguiram retirar dez assinaturas, mas outros sete aderiram", afirmou o senador Angelo Coronel (PSD-BA), presidente a comissão.
De acordo com o senador, os membros da CPMI vão discutir na próxima semana se os trabalhos continuam remotamente ou se será necessário aguardar a volta do funcionamento normal do Congresso. Desde o início de março, as sessões da comissão estão paralisadas por conta da crise da pandemia do novo coronavírus. A CPMI tem na fila para votar propostas de convocação de 89 pessoas para depor do Congresso. Outras dez podem ainda ser convidadas. Ao contrário de um convite, a pessoa convocada é obrigada a comparecer se a audiência for marcada. A lista de convocação inclui o ex-funcionário da Yacows Hans River do Rio Nascimento, as jornalistas Patrícia Campos Mello e Mônica Bergamo, ambas da Folha, o filho do presidente e vereador no Rio Carlos Bolsonaro (Republicanos). Hans mentiu em depoimento à CPMI em fevereiro e insinuou que Patrícia Campos Mello queria trocar informações por sexo. O Código Penal estipula que fazer afirmação falsa como testemunha em processo judicial ou inquérito é crime, com pena prevista de 2 a 4 anos de reclusão, além de multa. ​Além desses requerimentos, 153 pessoas tiveram convites ou convocações já aprovados pela CPMI.
Os integrantes da CPMI têm duas linhas de investigação em curso. Uma das linhas analisa os contratos assinados pela Yacows, empresa de marketing digital usada nas eleições de 2018 para disparos em massa pelo WhatsApp. Os congressistas investigam como a Yacows recebeu recursos não declarados de empresários e de campanhas políticas para disparar lotes de mensagens em benefício de políticos. Outro caminho, que está sendo seguido por técnicos da CPMI, é de acessar os perfis que atacaram congressistas em nos últimos dois anos. Até agora, a CPMI já identificou 24 números e centenas de endereços de IPs envolvidos na operação. Além de seis perfis em redes sociais, um ligado a um assessor do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). O Twitter e o Facebook negaram à CPMI das Fake News acesso a dados e conteúdos de usuários investigados por ataques ao Congresso. O presidente do colegiado, senador Ângelo Coronel (PSD-BA), não descarta recorrer à Justiça quando os trabalhos foram normalizados. As empresas se negaram a fornecer as identificações e conteúdos de 11 perfis ligados a sites conservadores e a um deputado estadual de São Paulo, quatro deles administrados no Twitter e os restantes no Facebook. A alegação é que é preciso de uma ordem judicial para repassar as informações pedidas.
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*”Senado aprova flexibilização de 9 pontos do direito civil e do consumidor e proíbe despejos até 30 de outubro”* - O Senado aprovou na manhã desta sexta-feira (3), em sessão remota e simbólica, por unanimidade, um projeto de lei que flexibiliza as relações jurídicas durante a pandemia do coronavírus em nove pontos, alterando com isso questões do direito civil e do consumidor. A matéria ainda precisa ser aprovada pela Câmara dos Deputados. Entre os princípios alterados estão o que proibi à Justiça a concessão de liminares em ações de despejo até o dia 30 de outubro. A regra, contudo, só vale para as ações que foram protocoladas na Justiça a partir do dia 20 de março, quando teve início no país as ações mais intensas para o combate ao vírus. Outra mudança aprovada no texto permite que haja uma suspensão do prazo previsto no Código de Defesa do Consumidor relativo ao "direito de arrependimento" pelo prazo de 7 dias na hipótese de entrega delivery, aquela que diz respeito a compras feitas pela internet ou telefone e entregues em casa. A regra vale apenas em relação a produtos perecíveis ou de consumo imediato, como alimentos e medicamentos. “Não podemos esquecer que essas empresas também estão tendo problemas em seu faturamento, e essas empresas empregam trabalhadores que precisam de seus empregos”, defendeu a relatora, senadora Simone Tebet (MDB-MS).
O projeto foi preparado pelo presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Dias Toffoli e apresentado pelo senador Antonio Anastasia (PSD-MG). A proposta inicial tratava também da suspensão de pagamento de aluguéis até o 30 de outubro de 2020.Sem acordo, contudo, essa medida foi retirada do projeto pela relatora, senadora Simone Tebet (MDB-MS), para que a votação pudesse ser acelerada. De acordo com a relatora, caso a suspensão dos aluguéis fosse mantida no projeto, poderia trazer prejuízos tanto para os inquilinos quanto para os locatários. A mudança no texto teve aval do presidente do STF. “O momento é de instabilidade social e econômica no país, e precisamos levar em consideração todas as partes. O ideal é deixarmos esse tema para as negociações privadas”, afirmou a relatora. A proposta elaborada pelo STF tem como objetivo aliviar as demandas do judiciário diante das ações que devem ser ingressadas como consequência de mudanças na economia, como redução de salários e de jornada de trabalho dos profissionais. Diante deste cenário, outra mudança aprovada proíbe o regime fechado de prisão para os casos de atrasos em pagamento de prisão alimentícia. A regra vale até o dia 30 de outubro deste ano, prazo que devem durar as ações de combate à proliferação do vírus no país.
O projeto também modifica a rotina das empresas e de condomínios. Reuniões e assembleias poderão ser feitas à distância por videoconferência e os votos de diretoria enviados por e-mail, mas a nova regra também só pode ser aplicada até o dia 30 de outubro. No caso das companhias abertas, caberá à CVM (Comissão de Valores Imobiliários) regulamentar esses procedimentos. Nos processos familiares de sucessão, partilha e inventário, os prazos serão congelados. A medida também prevê que fique a cargo do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) editar normas que prevejam medidas excepcionais de flexibilização da logística de transporte de bens e insumos e da prestação de serviços relacionados ao combate dos efeitos decorrentes da pandemia. Destacado para votação em separado, foi aprovada ainda uma emenda do senador Fabiano Contarato (Rede-ES), que beneficia os motoristas de aplicativos. Pela medida, fica reduzindo temporariamente em 15% o repasse que os profissionais são obrigados a fazer às empresas durante o período de combate à pandemia. A medida, assim como o restante do projeto, precisa ser avaliado ainda pela Câmara.
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*”Governo irá lançar aplicativo para pagamento de auxílio emergencial de R$ 600”* - O ministro Onyx Lorenzoni (Cidadania) afirmou nesta sexta-feira (3) que a Caixa Econômica Federal irá lançar um aplicativo para identificar informais que têm direito ao auxílio emergencial de R$ 600, mas que não estão no cadastro único do governo federal. A ferramenta deve ser apresentada no início da próxima semana e irá ajudar o Executivo a encontrar pessoas que tenham direito ao benefício mas que são consideradas invisíveis por não estarem no cadastro único. "São 15 ou 20 milhões de homens e mulheres no Brasil [nessa situação] e que precisam urgentemente desse amparo e desse esforço que o presidente [Jair] Bolsonaro determinou que fizéssemos", disse Onyx, em coletiva no Palácio do Planalto. "Queremos trazer uma palavra de tranquilidade às pessoas e dizer que o esforço do governo está sendo pleno", afirmou Onyx, ao lado do ministro Paulo Guedes (Economia) e do presidente da Caixa, Pedro Guimarães. Aprovada pelo Congresso na segunda-feira (30) e sancionada pelo presidente nesta quinta (2), a ajuda foi criada para amenizar o impacto da paralisação econômica gerada pelo Covid-19 sobre a população que perdeu ou teve a sua renda reduzida.
O benefício sobe para R$ 1.200 para mães responsáveis pelo sustento da família. "[O aplicativo] vai permitir que ou pela web o através do seu celular as pessoas possam fazer o seu cadastramento para permitir que, em torno de 48 horas posterior a esse cadastramento, [para] os que cumprirem os requisitos, o recurso estará creditado pela Caixa Econômica Federal, no Banco do Brasil, ou pela rede bancária privada", disse o ministro. "Ou então haverá uma autorização de saque que pode ser processado nas lotéricas e pretendemos tecnologicamente evoluir também para os caixas eletrônicos." De acordo com o governo, o auxílio deve alcançar três grupos. Os beneficiários do Bolsa Família, que seguirão o cronograma normal de pagamento do programa social e já receberão o crédito no dia 16 de abril. Essas pessoas, no entanto, precisarão optar por abrir mão do Bolsa Família para acessar o auxílio emergencial. O segundo grupo é o de informais que estão no Cadastro Único do governo federal, chamados de elegíveis. Onyx e Guimarães garantiram que essas pessoas também terão um processamento ágil dos seus pagamentos. "Aqueles que são os elegíveis, nós já teremos condições muito provavelmente de começar com os depósitos em conta ainda antes do feriado da Páscoa [12 de abril]", disse Onyx. ​Por último, há os informais que não estão no cadastro e que precisarão ser cadastrados pelo governo.​
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*”Saúde prevê sobrevida de 35 dias de estoque de máscaras e luvas a profissionais de saúde”*
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*”Governo facilita importação de insumos para máscaras e respiradores”*
*”Ministério da Saúde volta atrás e diz que 1º caso de coronavírus não ocorreu em janeiro”* - Após informar que o primeiro caso confirmado do novo coronavírus no Brasil havia ocorrido em janeiro, o Ministério da Saúde corrigiu a data e disse que o registro que estava em investigação ocorreu, na verdade, em 25 de março. A mudança foi informada na tarde desta sexta-feira (3). Em nota, a pasta diz que foi comunicada pela Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais "sobre a conclusão das investigações do possível primeiro caso de Covid-19 no país". Segundo o ministério, a data de início dos sintomas foi alterada de 23 de janeiro de 2020 para 25 de março de 2020. Os dados no sistema de notificação estão sendo atualizados, informa. Com isso, a primeira confirmação da Covid-19 no país continua até o momento em 26 de fevereiro, de um paciente atendido em São Paulo e que apresentou sintomas após voltar de uma viagem à Itália. A informação de que havia um primeiro caso em janeiro havia sido divulgada na quinta (2). De acordo com o ministério, o registro era de uma mulher de 76 anos, de Minas Gerais, e que morreu em decorrência do vírus. O caso teria sido analisado em investigação retrospectiva dos casos. Questionada sobre a mudança nas datas, a secretaria de Minas Gerais informou que houve erro no cadastro da paciente. Ela foi internada em 27 de março e morreu no dia 1º de abril. Segundo a secretaria, a notificação é feita por municípios e hospitais, e cadastrada em plataforma nacional.
*”Moradores de rua enganam estômago com água e esperam horas no sol por comida”*
*”Sem esperar ajuda do governo, Paraisópolis contrata médicos para combater vírus”* - Emerson Barata desenha um mapa circular de Paraisópolis e começa a marcar os casos confirmados de coronavírus na maior comunidade de São Paulo. No centro da favela de cerca de 120 mil moradores, localizada entre prédios de luxo e mansões de muros altos, ele desenha quatro pontos. "Vai ficar muito pior", disse o líder comunitário, de 34 anos, a uma equipe médica reunida, acrescentando mais dois pontos a zonas externas da favela. "Ainda não chegou ao pico." Barata está comandando a resposta ao coronavírus na favela paulistana, onde, além dos seis casos confirmados, sua equipe suspeita de outros 60. Ele não tem ligação com o governo, assim como a equipe médica ao seu redor. O ex-jogador de futebol, que não conseguiu seguir carreira dentro dos campos, faz parte da associação de moradores de Paraisópolis, cuja profunda desconfiança no governo a levou a tomar a iniciativa. A associação de moradores contratou um serviço médico privado 24 horas por dia, incluindo três ambulâncias, dois médicos e duas enfermeiras, além de socorristas. Enquanto o presidente Jair Bolsonaro chegou a classificar o vírus como "gripezinha" e disse aos brasileiros que voltassem ao trabalho, Barata perde o sono tentando preparar sua comunidade para o que descreve como "guerra".
Barata se recusou a dizer quanto custa o apoio médico ou como estava sendo financiado, confirmando apenas que parte vinha de doações. Muito ainda precisa ser levantado, disse ele. A equipe médica possui contrato inicial de 30 dias, com possibilidade de renovação. "A favela é a mais afetada", afirmou ele, parado em um estacionamento diante da oficina de um mecânico que serve de base para a equipe médica. "Quem estava desassistido (pelo Estado) agora então está mais ainda." Especialistas em saúde pública concordam. A aglomeração de pessoas, o saneamento precário, a falta de assistência médica e não respeitar medidas de isolamento tornam as favelas brasileiras --onde vivem cerca de 11 milhões de pessoas-- particularmente vulneráveis ​​ao vírus. É provável que Paraisópolis esteja na linha de frente. Muitos de seus moradores trabalham no rico bairro vizinho do Morumbi, marco zero do surto no Brasil. Em toda a América Latina, muitos dos primeiros casos foram diagnosticados em pessoas com condição financeira suficiente para viajar para o exterior, mas a previsão é que o vírus atinja severamente os mais pobres. O Brasil é o país mais afetado pelo coronavírus na América Latina, com quase 7.910 casos confirmados e 299 mortes, segundo balanço de quinta-feira do Ministério da Saúde.
Entre os moradores de Paraisópolis que testaram positivo, dois trabalham no Hospital Albert Einstein, instituição médica privada que diagnosticou o primeiro caso na América Latina. Outro caso é de uma babá. A secretária de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo, Célia Parnes, disse que a “a grande preocupação nas favelas é a velocidade do contágio", e o governo está trabalhando para ajudar bairros pobres como Paraisópolis com refeições subsidiadas e cancelamento dos protestos de dívida por 90 dias. Ela afirmou que o atendimento médico público em Paraisópolis não é diferente do restante da cidade, dizendo que as ambulâncias chegam à favela e que falar sobre ausência do Estado é um "grande exagero". Mas ela elogiou o trabalho da associação de moradores. "Eu reconheço e tiro meu chapéu", afirmou. A Prefeitura de São Paulo, em comunicado enviado por email, disse que distribui alimentos e itens essenciais aos moradores de Paraisópolis, além de enviar carros com alto-falantes ressaltando a importância de lavar as mãos e ficar em casa. A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) informou que estava distribuindo 2.400 caixas d´água para bairros pobres para ajudar durante a crise de saúde. Moradores de Paraisópolis já receberam mais de 900.
ISOLAMENTO DIFÍCIL
Moradores de Paraisópolis reclamam que a água acaba depois das 20h e o lixo fica acumulado ao longo dos becos estreitos e úmidos que atravessam a comunidade. A autoridade máxima da comunidade é o Primeiro Comando da Capital, a maior e mais poderosa facção criminosa do país. "Acho que vai ficar feio... é uma 'gripezinha' que mata", disse Luiz Carlos, um médico de cabelos grisalhos que faz parte da equipe médica contratada. Roberto de Souza, de 41 anos, acredita que pegou o vírus em seu trabalho em uma farmácia -- apesar de usar luvas descartáveis ​​e uma máscara ao atender clientes. Ele teve uma dor terrível nas pernas e logo depois uma tosse constante. Após o teste positivo, ele se isolou no segundo andar de um imóvel em Paraisópolis. "O que mais dói é ficar sozinho trancado", disse ele, com uma máscara facial, entre crises de tosse. "Eu tenho que não só me preocupar comigo, mas de não passar para o próximo." Roberto de Souza vive sozinho. Em Paraisópolis, isso é minoria. Em uma casa apertada uma mulher estava em isolamento, doente, com sintomas de coronavírus. Mas seus três filhos, mãe e irmão não tinham para onde ir, por isso continuavam morando com ela. Para enfrentar esse desafio, a associação de moradores está tentando usar duas escolas locais --fechadas devido ao coronavírus-- para abrigar até 500 casos suspeitos e confirmados, sem sintomas graves. Apesar de todos os preparativos, Barata está preocupado que os moradores não estejam levando a ameaça a sério o suficiente. Ao contrário do restante de São Paulo, onde há um isolamento, em Paraisópolis a maioria dos bares e lojas permanece aberta. As ruas estão movimentadas. Barata teme que muitos mudem de atitude apenas quando um pai ou um amigo morrer. Aí será tarde demais. "Estamos tentando transmitir a mensagem: isso não é brincadeira", afirmou.
*”Coronavírus chega a pequenas cidades do Nordeste, que temem colapso”* - A praça está vazia, a igrejinha fechada e são raras as pessoas que se arriscam a sair nas ruas do povoado Melancia, zona rural de Nova Soure (240 km de Salvador). A 16 km da sede, o povoado, que tem cerca de mil habitantes que vivem da agricultura de subsistência e da criação de ovinos, registrou seu primeiro caso do novo coronavírus há dez dias. "Depois que essa doença chegou, tudo ficou mais difícil. Parece que nosso povoado foi condenado ao fogo dos infernos”, disse o agricultor Alfredo Moreira, 68, que trancafiou-se dentro de casa. A chegada da pandemia às pequenas cidades do interior de estados do Nordeste resultou em um novo desafio para prefeituras que já lidam com falta de renda e um sistema de saúde precário. Só na Bahia, há casos registrados em 15 cidades com menos de 50 mil habitantes. Em geral, são municípios sem respiradores e leitos de UTI e que são ligados aos grandes centros por estradas esburacadas. Em Nova Soure, a doença chegou com a médica do posto de saúde do povoado de Melancia, que mora em Salvador e atendeu 56 pacientes quando já estava infectada. A prefeitura monitora 75 casos suspeitos e mantém em quarentena outras 423 pessoas que vieram de áreas com registros da doença —incluindo o prefeito, Cássio de Souza Andrade.
Moradora do povoado Melancia, a professora Andreia Nunes, 44, testou positivo para o novo coronavírus. Sua principal preocupação, conta, tem sido evitar o contágio do marido, de 62 anos, e a mãe, de 87 anos. Ambos são considerados grupos de risco e moram na mesma casa. “Fico com um pouco de medo porque moramos em uma região com pouca estrutura”, diz Andreia, que nos últimos dias teve febre e tosse seca, mas não sentiu falta de ar. Nova Soure tem dez unidades básicas de saúde e um pequeno hospital, mas sem leitos de UTI. Com a pandemia, a prefeitura comprou dois respiradores e começou a implantar salas de estabilização. “Nosso hospital foi construído há 40 anos e tem uma estrutura inadequada. Vamos trabalhar para estabilizar os pacientes mais graves até que apareça um leito em uma cidade maior”, explica o secretário municipal de Saúde Ernesto Júnior. A situação não é diferente em outras cidades do Nordeste que começam a registrar casos do novo coronavírus, inclusive nas cidades de médio porte. Em Paulo Afonso, cidade baiana de 117 mil habitantes que fica na fronteira com Alagoas e Sergipe, não há leitos de UTI. Com a crise, a prefeitura corre adaptar leitos de UTI com respiradores em uma Unidade de Pronto Atendimento que ainda não havia sido inaugurada. "Estamos correndo contra o tempo para instalar esses leitos e garantir uma estrutura mínima para Paulo Afonso e outras nove cidades vizinhas que dependem da nossa rede", afirma o secretário municipal de saúde Ghiarone Santiago de Melo, Na Paraíba, um empresário de 36 anos, dono de uma rede de farmácia, precisou viajar quatro horas numa ambulância entre Patos, cidade com 107 mil habitantes do sertão, e um hospital de referência da Covid-19 em João Pessoa. Após apresentar um quadro de tosse, no dia 25 de março, ele foi inicialmente para uma unidade particular em Patos. Um dia depois, devido à complexidade do caso, precisou ser encaminhado para João Pessoa. Após ter sido entubado, o paciente, com histórico de diabetes, morreu no dia 31 de março. Foram registrados ainda outros dois casos da doença no sertão paraibano. Um em Sousa, cidade com 60 mil habitantes, distante mais de 430 km de João Pessoa, e outro na vizinha Igaracy, com população de pouco mais de 6.000 pessoas. Os dois pacientes estão em isolamento domiciliar.
Na 6ª região de Saúde da Paraíba, que engloba 24 municípios do sertão, grande parte deles sem a mínima estrutura hospitalar, o hospital regional Janduir Carneiro, em Patos, recebe os doentes da região. Há apenas seis leitos de UTI. Em Pernambuco, a doença também já chegou ao sertão. Um caso foi registrado em Ipubi, cidade com pouco mais de 30 mil habitantes, distante 581 km da capital pernambucana. O paciente, com quadro estável, foi encaminhado para a cidade vizinha de Ouricuri, onde só existem leitos de UTI privados. Ele não precisou ser levado ao Recife porque o quadro de saúde é estável e, até o momento, não houve necessidade de cuidados de terapia intensiva. Neison Freire, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, entidade ligada ao Ministério da Educação e integra um time que faz mapeamento dos casos em Pernambuco, diz que o sistema não foi dimensionado para uma pandemia. O pesquisador diz que é importante construir hospitais de campanha em áreas estratégicas do interior para agilizar o atendimento aos pacientes e não sobrecarregar as capitais, onde há maior número de infectados. “O avanço da doença expõe a vulnerabilidade das regiões mais pobres e sem estrutura. Imagine uma pessoa com febre, dor no corpo, e ainda ter que percorrer, em alguns casos, 15 horas para chegar a um hospital da capital”, fala. Nesta quarta-feira (2), o governo de Pernambuco anunciou a abertura de dez leitos em Petrolina, no sertão, dedicados à Covid-19. Um hospital de campanha com cem leitos será montado em Serra Talhada, a 430 km do Recife.
Além do impacto no sistema de saúde, o isolamento social trouxe um forte impacto para o comércio das pequenas cidades, com o fechamento de lojas e, principalmente, a proibição de feiras livres. O cenário fez com que a economia das cidades se tornasse ainda mais dependentes de aposentadorias e programas de transferência de renda. O possível cancelamento das festas de São João deve completar o baque, já a festa é a segunda principal data do comércio nas cidades nordestinas. Cidades como Conde (PB), Conceição do Almeida (BA), Petrolina (PE) e Monteiro (PE) já anunciaram o cancelamento da festa. As prefeituras ainda tem como desafio é fazer com que os moradores respeitem a quarentena e fiquem em suas casas. Em Nova Soure, na Bahia, agentes da prefeitura orientavam a formação de filas na entrada dos bancos lotéricas, açougues e mercadinhos. Em geral, os moradores respeitavam às orientações da prefeitura. Mas havia exceções: na quarta-feira (1º), cinco pessoas estavam sentadas juntas debulhando feijão de corda para vender. Um jovem cumprimentou o amigo com um aperto de mão e ainda fez troça: “Comigo não tem esse negócio de bater cotovelo. Meu escudo é aquele lá de cima, é Deus”. Ao contrário das recomendações das autoridades sanitárias, havia um grande número de pessoas, incluindo idosos, nas ruas e praças da cidade. Muitos deles são funcionários ou proprietários dos estabelecimentos comerciais que estavam abertos.
Sem poder armar sua barraca na feira, onde vende mingau, Luís Vicente de Oliveira, 60, conseguiu um trabalho temporário em um açougue: “Se pudesse, não saía. Mas tenho que sustentar minha família”, afirma Oliveira, que trabalha até o meio dia e passa o restante do dia em casa. O vendedor de fumo de rolo Pedro dos Santos, 39, não montou sua barraca, mas tentava vender seu produto no boca a boca. Atualmente, sua única renda é R$ 180 que recebe do Bolsa-família. No povoado de Melancia, mesmo com casos registrados, os moradores evitam as ruas, mas tem ido diariamente para suas roças. Também evitam ir à sede do município, onde ficaram estigmatizados por viverem em uma área com casos confirmados da doença. Pessoas vindas de outras cidades também não sem bem-vindas em Nova Soure. Uma mulher sobressaltou ao ver o carro da reportagem placa da capital baiana. “Vocês são de Salvador? Deus me livre, se saiam”. E entrou em casa. Temem pelo presente e também pelo futuro. Diz o agricultor José Tomás de Aquino, 69: “Isso é uma doença triste, pior que guerra mundial. Se sobreviver a essa, vou vender meu gado e aproveitar o dinheiro enquanto tiver vida”.
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MÔNICA BERGAMO - *”População mais jovem na periferia pode gerar onda epidêmica diferente de coronavírus”*: As diferentes expectativas de vida dos estratos sociais brasileiros podem contribuir para que os efeitos do coronavírus sejam sentidos de forma diversa em regiões até dentro de um mesmo município. Na cidade de São Paulo, por exemplo, a concentração de idosos, mais vulneráveis à Covid-19, é maior nas regiões centrais: em Moema, a média de vida é de 80 anos. Em Cidade Tiradentes, de 57,3 anos. “As ondas epidêmicas vão ser diferentes”, diz o infectologista Esper Kallás, da USP. “Elas podem ser maiores onde a faixa etária da população é mais alta e menores onde ela for mais baixa”, afirma ele. “Haverá diferença entre regiões do país, estados e até mesmo entre bairros”, diz Kallás. “Cada uma terá características especiais.” O pesquisador Marcelo Gomes, da Fiocruz, concorda que o fator idade pode fazer diferença. Mas diz temer que a característica, que poderia baixar a letalidade da Covid-19, seja anulada pelas condições de vida das populações nos lugares mais pobres. “O adensamento facilita a contaminação pelo coronavírus. Há ainda problemas de saneamento, de acesso à água e de mobilidade, além da incidência maior de doenças como tuberculose. Temo que esses outros fatores possam ser mais fortes do que a proteção pela faixa etária”, afirma Gomes. O acesso a hospitais, que será ainda mais dificultado no caso de uma explosão da doença, pode também aumentar o número de mortes que seriam evitadas com tratamento adequado.
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