segunda-feira, 11 de maio de 2020

Análise de Mídia 11/05

DOS JORNAIS DE HOJE: As capas dos jornais destacam fatos bem variados, mas todos relacionados à epidemia: a semana decisiva para o inquérito no STF sobre Moro e Bolsonaro, na Folha; o avanço rápido do coronavírus para o interior do Rio de Janeiro, no Globo; investigações relacionadas a compras de respiradores, no Estadão e a negociação de uma dívida da União com governos estaduais para fazer chegar dinheiro aos cofres dos estados.
A Folha é o jornal que adota tom mais crítico a Jair Bolsonaro em todos os seus textos. No entanto, as críticas consistem em apontar contradições e hipocrisias, mas não trazem questionamentos contundentes. O jornal chama atenção para um material publicado pela comunicação do governo que tem semelhança com mensagens utilizadas pelo nazismo. O jornal também entrevista acadêmicos sobre os posicionamentos que os militares vêm tomando diante dos posicionamento autoritários e antidemocráticos de Jair Bolsonaro. Os pesquisadores consideram que o simples fato de as Forças Armadas se verem obrigadas a realizar pronunciamento já é algo preocupante. A Folha de S. Paulo publica ainda reportagens sobre o avanço do coronavírus e do número de mortes em presídios de São Paulo e do Rio de Janeiro.

O jornal O Estado de S. Paulo aborda o surgimento de uma série de projetos em assembleias legislativas para tentar aplicar punições para quem compartilhar e produzir fake news relacionadas à pandemia. Pesquisadores ouvidos pela reportagem consideram que as medidas podem colocar em risco a liberdade de expressão e a prática do jornalismo. O Estadão também publica reportagens sobre o avanço do coronavírus para o interior do estado de SP e sobre possíveis complicações nas contas de prefeituras. No entanto, a reportagem parece mais uma pressão por manutenção da austeridade.

O Valor Econômico noticia o plano do governo para liberar o caixa dos governos estaduais, mais um que demora para se tornar realidade enquanto a epidemia avança pelo país. O jornal também publica reportagem sobre o declínio de Sergio Moro e como o ex-ministro pode ser alvo de uma CPI na Câmara.

Os jornais mantêm o silenciamento das ideias progressistas ao mesmo tempo em que evitam nomear Jair Bolsonaro como um político de extrema-direita, da mesma forma, os textos publicados não apontam a associação das Forças Armadas à extrema-direita. Embora não permitam a abertura de espaço para ideias da esquerda e do setor progressista, os jornais direcionam críticas à esquerda. Na edição de hoje, o Estadão pública texto sobre o ex-presidente Lula. O jornal considera que Lula deixou de ter protagonismo.

 
CAPA - Manchete principal: *”Semana será decisiva para apuração sobre Bolsonaro”*
EDITORIAL DA FOLHA - *”Pressão deflacionária”*: Com a queda de 0,31% dos preços ao consumidor em abril, a maior para o mês desde 1998, vai se confirmando o diagnóstico de que o impacto da pandemia de Covid-19 é deflacionário. Fora alimentos, todos os outros grandes grupos de produtos experimentaram pressão de baixa, o que sugere falta geral de demanda na economia. Medida pelo IPCA, a inflação em 12 meses ficou em 2,4%, inferior à meta de 4% fixada para este ano —e mesmo ao piso de 2,5% admitido pela política do Banco Central. A tendência, ao menos por enquanto, é de queda adicional. Para 2021, as projeções também apontam para inflação bem abaixo da meta de 3,75%, o que confere espaço para o Banco Central reduzir ainda mais sua taxa de juros, a Selic. Há decerto dúvidas quanto à duração do fenômeno. O risco de surpresa inflacionária mais adiante existe, dada, por exemplo, a forte desvalorização do real, que encarece as mercadorias importadas. Mas, com estoques em alta e a possibilidade de mudança duradoura nos hábitos do consumidor, reduz-se o espaço para uma grande recomposição de preços por parte das empresas. Diante desse cenário, o BC cortou os juros em 0,75 ponto percentual, desta vez para 3% ao ano, novo recorde baixista. A autoridade monetária indicou, além disso, que, se não houver mudança significativa na conjuntura, deverá promover mais uma queda de magnitude similar, levando a Selic a 2,25%, algo impensável poucos meses atrás.Há riscos na estratégia, sem dúvida. Um deles é o incentivo, em tese, para saída de capitais do país, ocasionando perdas ainda maiores do valor do real ante o dólar. Em algum momento, haveria repasses de custos para os preços locais.
A cotação da moeda norte-americana, com efeito, atingiu R$ 5,85 na quinta (7), maior cifra da história do real, em termos nominais. A inflação muito abaixo das metas, no entanto, tende a pesar mais na decisão. A opção clara do BC foi por afrouxar as condições monetárias internas. Busca nem tanto estimular a demanda, que a esta altura enfrenta restrições físicas, mas minimizar o custo financeiro para empresas e famílias e, assim, facilitar uma retomada mais adiante. A grande ameaça que paira sobre a permanência dos juros baixos, na verdade, é a fragilidade do Orçamento. A despeito da necessidade indiscutível de elevar despesas públicas para mitigar os efeitos da pandemia, o país não pode prescindir da devida cautela com as contas do Tesouro Nacional. Sinais de desconforto aparecem, por exemplo, nos juros ainda elevados para prazos mais longos, os que mais importam para financiamentos. A própria queda do real, ademais, pode estar ligada à desconfiança quanto a solvência do governo a longo prazo. A política monetária, sozinha, não conseguirá estabilizar a economia. Com a dívida pública mais alta, governo e Congresso precisam emitir sinais inequívocos de que retornarão à agenda de reformas no pós-crise. Do contrário, a experiência dos juros baixos será efêmera.
PAINEL - *”TCU fará pente-fino em cadastros do auxílio emergencial”*
PAINEL - *”Injeção de recursos em fundo de garantia para empréstimos divide Economia”*: Há uma divisão, dentro da Economia, sobre o ritmo de ampliação do FGI (Fundo Garantidor para Investimentos) --fundo de R$ 20 bi para destravar o crédito. O Tesouro deu sinal verde à liberação do dinheiro, mas defende que seja parcelada em quatro vezes de R$ 5 bi. Só em caso de elevada procura, as parcelas aumentariam. Outra ala, quer a liberação já em duas vezes de R$ 10 bi.
PAINEL - *”Para Randolfe, ofício da PF com elogios a Ramagem é 'escárnio'”*
PAINEL - *”Governo faz recomendações a frigoríficos para evitar surto de coronavírus”*: O governo emitiu, na última quinta (7), recomendações especiais para evitar que frigoríficos tenham surtos de coronavírus em suas unidades de produção. Nos EUA, grandes produtoras, como a Smithfield, tiveram que ser fechadas após a contaminação maciça de funcionários, reduzindo o abastecimento interno e exportações. O documento, assinado pelos ministérios da Saúde, Economia e Agricultura, recomenda a busca ativa de casos, com o monitoramento dos sintomas nos trabalhadores e distanciamento na produção. Em caso de suspeita, o funcionário deve ser mandado para casa por 14 dias. São traçados ainda procedimentos de contingência para evitar que a fábrica feche. Todos os que tiveram contato com uma pessoa doente devem ser observados e os ambientes por onde essa pessoa passou desinfectados, inclusive o transporte de funcionários. As medidas preventivas devem ser elevadas após o primeiro caso.
PAINEL - *”PSOL processa Bolsonaro e Wajngarten por homenagem a ex-militar da Guerrilha do Araguaia”*: O PSOL ingressou com ação na Justiça Federal do DF contra Bolsonaro e o secretário de comunicação, Fabio Wajngarten, pela publicação em perfil oficial do governo uma homenagem ao major Curió --militar denunciado por assassinatos na Guerrilha do Araguaia.
@secomvc: “A Guerrilha do Araguaia tentou tomar o Brasil via luta armada. A dedicação deste e de outros heróis ajudou a livrar o país de um dos maiores flagelos da História da Humanidade: o totalitarismo socialista, responsável pela morte de aprox. 100 MILHÕES de pessoas em todo o mundo.”
O partido pede a retirada da postagem do ar e fala em desvio de finalidade no uso do perfil estatal.
TIROTEIO: “Bolsonaro cancelou por falta de quórum: só iriam os filhos, provocando o maior surto de diarreia mental da história” - Do deputado Alexandre Padilha (PT-SP), sobre o churrasco que o presidente disse que daria neste sábado e depois disse que era falso
*”Bolsonaro tem semana decisiva em investigação que pode levar a seu afastamento do cargo”* - Esta semana será decisiva para a PGR (Procuradoria-Geral da República) concluir se irá denunciar o presidente Jair Bolsonaro por corrupção passiva privilegiada, obstrução de Justiça e advocacia administrativa por tentar interferir na autonomia da Polícia Federal. De segunda (11) a quinta-feira (14), três ministros de Estado, seis delegados e uma deputada federal devem prestar depoimento no inquérito que investiga a veracidade das acusações do ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro contra o chefe do Executivo. Além disso, o ministro Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal), pode decidir nos próximos dias sobre a publicidade do vídeo da reunião ministerial em que Bolsonaro teria ameaçado Moro de demissão caso não trocasse o diretor-geral da PF. Nesta investigação, Bolsonaro poderá ser denunciado pela PGR e, se a Câmara aprovar o prosseguimento das investigações, será afastado do cargo automaticamente por 180 dias. O encontro ministerial gravado em vídeo foi citado pelo ex-ministro em depoimento à PF. Interlocutores do Palácio do Planalto temem que a divulgação da gravação gere uma crise ainda maior, uma vez que pessoas presentes dizem que, na ocasião, outros ministros teriam feita duras críticas aos Poderes Judiciário e Legislativo. Celso de Mello permitiu que o ex-ministro, a PGR e Bolsonaro vejam o vídeo, “em ato único”, antes de decidir se o mantém em sigilo ou não. Isso ocorrerá, segundo o advogado do ex-ministro, Rodrigo Sánchez, na terça-feira (12). Moro voltará a Brasília pela primeira vez depois da demissão para acompanhar a transmissão do vídeo. Ele tem passado os últimos dias em Curitiba.
Ao pedir demissão do Ministério da Justiça e Segurança Pública no último dia 24, Moro disse que o presidente queria obrigá-lo a trocar o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, para colocar alguém de seu contato direto no cargo. Na manhã daquele dia, a exoneração de Valeixo foi publicada no Diário Oficial. Nesta segunda-feira, ele irá à PF na condição de testemunha no inquérito que apura as acusações do ex-ministro. O objetivo da mudança seria facilitar o acesso de Bolsonaro a relatórios de inteligência e detalhes de apurações em curso, o que viola a autonomia da corporação prevista em lei. O escolhido do chefe do Executivo para comandar a PF e operar seus pedidos dentro da corporação, segundo Moro, seria Alexandre Ramagem, que prestará depoimento nesta segunda. A oitiva é considerada pelos investigadores uma das mais importantes por Ramagem ser considerado uma peça-chave nos episódios relatados por Moro. Atual diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), ele é próximo da família Bolsonaro e, após Moro e Valeixo pedirem demissão, chegou a ser indicado para comandar a PF. O ministro Alexandre de Moraes, do STF, no entanto, vetou a posse dele no cargo por entender que a escolha não observava os princípios da moralidade e da impessoalidade. Diante da decisão do Supremo, o presidente indicou Rolando de Souza, braço direito de Ramagem na Abin, para o posto.
Outra acusação de Moro é em relação à insistência de Bolsonaro em trocar o superintendente da PF no Rio de Janeiro. Primeiro, em setembro do ano passado, pressionou até Moro aceitar a troca de Ricardo Saadi por Carlos Henrique Sousa à frente da corporação no estado fluminense. A substituição, no entanto, não teria sido suficiente, e Bolsonaro teria seguido com a intenção de mudar a chefia da PF no RJ. Na segunda-feira (11), ambos irão prestar depoimento. Além dos dois, também deve ocorrer a oitiva de outros dois delegados: Alexandre Saraiva, que foi cotado para assumir a corporação, e Rodrigo Teixeira, responsável pelo inquérito da facada que Bolsonaro levou quando era candidato a presidente, em 2018. Ao pedir que os delegados fossem ouvidos, o procurador-geral da República, Augusto Aras, afirmou que eles são fundamentais para investigar “eventual patrocínio, direto ou indireto, de interesses privados do presidente perante a PF”. Na terça-feira, será a vez de três ministros do governo deporem simultaneamente, para evitar que combinem versões. Eles foram convocados por terem sido citados por Moro como testemunhas das investidas do presidente para interferir na PF.
Serão ouvidos Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Walter Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo). Participarão dos depoimentos investigadores da Polícia Federal e da Procuradoria-Geral da República (PGR). Por fim, na quinta-feira, acontecerá a oitiva da deputada Carla Zambelli (PSL-SP). O ex-ministro da Justiça divulgou mensagens trocadas com a parlamentar como prova de que não teria aceitado que Bolsonaro interferisse na PF. Na conversa ocorrida antes de Moro pedir demissão, Zambelli pediu que Moro aceitasse a mudança no comando da PF e não rompesse com Bolsonaro para, assim, ser indicado a uma vaga no Supremo. Nas mensagens, primeiramente, Zambelli pede "por favor" para Moro aceitar Alexandre Ramagem no comando da PF. "E vá em setembro para o STF. Eu me comprometo a fazer o JB prometer", completou a deputada. Moro, então, respondeu: "Prezada, não estou à venda". Também há expectativa em relação à liberação do vídeo da reunião em que Bolsonaro teria ameaçado Moro. O ministro Celso de Mello permitiu que a PGR, Moro e Bolsonaro vejam a íntegra da gravação antes de decidir se torna pública a gravação ou apenas parte dela. Antes, o magistrado deve aguardar um parecer do procurador-geral da República a respeito. O decano do STF anunciou que decidirá "brevissimamente" sobre o tema.
No pedido de abertura de inquérito, Aras afirmou que oito delitos podem ter sido cometidos nos episódios narrados por Moro: falsidade ideológica, coação no curso do processo, advocacia administrativa, obstrução de Justiça, corrupção passiva privilegiada, prevaricação, denunciação caluniosa e crime contra a honra. De acordo com interlocutores do PGR, Moro pode ser enquadrado nos três últimos e Bolsonaro, nos seis primeiros. Bolsonaro é investigado por falsidade ideológica por causa da exoneração de Valeixo da direção-geral da PF, publicada no Diário Oficial com a assinatura de Moro. Ao pedir demissão, o ex-ministro disse que não endossou a publicação e que nem sequer teve notícia de que sairia. Horas depois, o Diário Oficial foi republicado sem assinatura do ex-juiz da Lava Jato.
*”Vou sair em 1º de janeiro de 2027, diz Bolsonaro ao ser indagado sobre renúncia ou impeachment”* - Confrontado sobre a possibilidade de renúncia ou impeachment, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse que vai sair do Palácio do Planalto somente em 1º de janeiro de 2027, sugerindo que será reeleito em 2022. Bolsonaro não quis falar com a imprensa neste domingo (10), mas conversou com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente. Em meio ao público, um dos visitantes afirmou: a “democracia pede sua renúncia ou impeachment”. Surpreso com a declaração, o presidente disse: “Vou sair em 1º de janeiro de 2027”. Pedidos de impeachment de Bolsonaro foram apresentados à Câmara, mas o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ainda não se decidiu sobre isso. Justamente por seu isolamento político e pelas dezenas de pedidos de impeachment na Câmara, Bolsonaro tem se articulado com siglas do centrão, distribuindo cargos a essas legendas em troca de apoio no Congresso. ​ Bolsonaro esteve neste domingo em evento para revelação do sexo do filho de Eduardo Bolsonaro, deputado federal do PSL por São Paulo, e Heloísa Wolf. Nas redes sociais, Eduardo publicou um vídeo, no qual ele usa uma arma para estourar um balão, que revelou a cor rosa, indicativo de sexo feminino.
Após o evento, Bolsonaro retornou ao Palácio da Alvorada. Questionado por alguns apoiadores sobre qual o sexo da futura neta, o presidente disse que não responderia para não gerar polêmica. “Se eu falar, dá polêmica”. Bolsonaro anunciou ainda que nesta segunda-feira (11) irá decretar mais atividades como serviços essenciais, que podem continuar em funcionamento durante a pandemia do novo coronavírus. Nesta quinta (7), ele ampliou a lista, ao incluir, por exemplo, construção civil. O presidente não informou quais atividades passarão a ser classificadas como essenciais. “Amanhã [segunda] devo botar mais algumas profissões como essenciais. [...] Já que eles [governadores] não querem abrir, a gente vai abrindo aí”, declarou o presidente. Segundo Bolsonaro, nesta segunda também será sancionado o projeto que cria o pacote de socorro financeiro aos estados e municípios diante da pandemia. Com a crise, a arrecadação desses entes cai. Governadores e prefeitos pedem mais dinheiro ao Palácio do Planalto para combater a Covid-19 e pagar salários do funcionalismo. O governo ofereceu um plano de auxílio estimado em R$ 125 bilhões, mas, em contrapartida, o ministro Paulo Guedes (Economia) pediu que os salários dos servidores públicos fossem congelados até o fim de 2021. No entanto, o Congresso, em articulação apoiada por Bolsonaro, blindou diversas categorias, como professores, policiais militares, policiais federais, garis, agentes socioeducativos, profissionais de assistência social, além das Forças Armadas. Isso incomodou Guedes. Para agradar as bases eleitorais, parlamentares governistas, de oposição e de partidos independentes aprovaram emendas ao projeto de socorro para permitir que essas categorias possam ter aumento nos próximos meses. O ministro, então, pediu que Bolsonaro vetasse o trecho que flexibiliza a regra de congelamento salarial. O presidente afirmou a apoiadores neste domingo que irá sancionar o projeto com veto. Na conversa, Bolsonaro voltou a atacar a imprensa. “Se você ler jornal, você se envenena”.
Gigantes do chamado centrão, como PP, PL e Republicanos, estão gerenciando a distribuição de cargos do governo federal para atrair partidos menores para a base de apoio de Bolsonaro. Eleito com a promessa de acabar com o que chama de “velha política”, moldada no toma lá dá cá, o presidente iniciou nas últimas semanas negociações com o novo centrão. O “toma lá” são os vários cargos de segundo e terceiro escalão da máquina federal, postos cobiçados por caciques partidários para manter seu grau de influência em Brasília e nos estados. O “dá cá” é uma base de apoio mínima no Congresso para, mais do que aprovar projetos de seu interesse, evitar a abertura de um possível processo de impeachment. Para se ver fora da cadeira presidencial, Bolsonaro precisa ter ao menos 342 dos 513 deputados contra ele e um clima propício à destituição —economia em frangalhos, tensão nas ruas, por exemplo. Líderes de partidos do chamado centrão afirmam que Bolsonaro enquadrou ministros que resistiam em ceder cargos de suas pastas ao grupo, deixando claro que quem se opuser pode ser demitido do governo. Segundo relato desses parlamentares, a atitude de Bolsonaro se deu em dois atos: primeiro, forçou a demissão de Sergio Moro (Justiça), que no começo da gestão chegou a ser considerado “indemissível”, justamente em um contexto de que tem a palavra final sobre cargos-chave. ​ Antes da exoneração, ele havia deixado claro em reunião com todos os ministros que a prerrogativa de fazer nomeações no governo era dele. Depois, reafirmou a quem ficou, em encontros coletivos e a sós, que ele irá distribuir postos de segundo e terceiro escalão ao centrão e que não aceitará recusas. A conduta do presidente foi confirmada por integrantes do governo à Folha.
+++ A Folha deixa as críticas a Jair Bolsonaro muito bem pontuadas no texto, assim como as contradições do discurso com relação à prática do presidente da República. No entanto, o que os jornais não conseguem trabalhar – talvez pela falta de preocupação com os direitos dxs trabalhadorxs – é o quanto Bolsonaro considera descartáveis as vidas de quem é funcionário, ou prestador de serviço. Para ele, não vale afetar a economia para salvar dezenas de milhares de pessoas da morte solitária causada pelo coronavírus.
*”Secom da Presidência usa expressão semelhante a slogan nazista para divulgar ações na pandemia”* - Responsável pela comunicação social da Presidência da República, a Secom publicou neste final de semana em suas redes sociais um vídeo de divulgação de ações federais no combate à pandemia e usou, em determinado ponto, uma expressão que remete à famosa inscrição nazista na entrada do campo de concentração de Auschwitz (Polônia): “Arbeit macht frei” (“O trabalho liberta”). A peça da Secom, que foi compartilhada pelo presidente Jair bolsonaro (sem partido), afirma, em determinado ponto: "O trabalho, a união e a verdade nos libertará [sic]​". No texto em que apresenta o vídeo, o perfil da Secom no Twitter faz uma leve variação, sem o erro de concordância: "Parte da imprensa insiste em virar as costas aos fatos, ao Brasil e aos brasileiros. Mas o @govbr, por determinação de seu chefe, seguirá trabalhando para SALVAR VIDAS e preservar o emprego e a dignidade dos brasileiros. O trabalho, a união e a verdade libertarão o Brasil." A informação sobre a semelhança entre a frase da Secom e o lema nazista foi publicada pelo UOL. O secretário Fabio Wajngarten reagiu ao caso em uma rede social. "É impressionante: toda medida do governo é deformada para se encaixar em narrativas. Na campanha, faziam suásticas fakes; agora, se utilizam de analfabetismo funcional para interpretar errado um texto e associar o governo ao nazismo, sendo que eu, chefe da Secom, sou judeu!​" "Abomino esse tipo de ilação canalha, sobretudo nos tempos difíceis pelos quais estamos passando. Esquecem dos ensinamentos judaicos recebidos por mim e por boa parte da minha equipe, e da tradição de trabalho do povo judeu de lutar por sua liberdade econômica." E completou: "Acusar injustamente de nazifascismo tira o peso do termo. Se todos são nazifascistas, ninguém é, o que muito interessa aos criminosos, que passam a ser vistos como pessoas comuns.É a isso que se prestam alguns políticos e veículos da mídia na busca por holofotes a qualquer preço".
No mês passado o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, foi cobrado a se retratar por líderes judaicos por ter comparado o isolamento social para conter o coronavírus aos campos de concentração nazistas que mataram milhões de judeus. O ministro afirmou ter havido uma leitura distorcida de sua manifestação. Em janeiro, o secretário especial de Cultura Roberto Alvim foi demitido após divulgar um vídeo em que parafraseava um discurso de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Adolf Hitler, além de usar outras simbologias nazistas. O vídeo divulgado pela Secom neste fim de semana surgiu em meio às críticas de falta de empatia do presidente com a quantidade de brasileiros mortos em decorrência do novo coronavírus. A propaganda apresenta, em ordem cronológica, uma sequência de medidas implementadas pelo governo e declarações do presidente e de seus ministros, como Paulo Guedes (Economia), Nelson Teich (Saúde) e Ônix Lorenzoni (Cidadania). Algumas informações, no entanto, foram apresentadas fora de contexto e por isso oferecem uma leitura distorcida dos fatos. Em determinado momento, por exemplo, afirma-se que o Brasil tem uma das menores taxas de letalidade por milhão de habitantes, entre as maiores economias do mundo. A informação se refere ao dia 23 de abril.
O Brasil apresenta de fato um índice menor. No entanto, seria preciso levar em consideração que os países encontram-se em momentos diferentes do combate à pandemia. O surto atingiu antes a China —epicentro da crise sanitária— e os países europeus. Alguns desses agora vêm apresentando crescimento menor no número de mortos. O Brasil aparenta ainda estar distante do pico da pandemia, que muitos especialistas acreditam que vá acontecer entre os meses de junho, julho e agosto. Como a Folha mostrou neste sábado, o número oficial de mortes no país cresce atualmente a um índice de 6,5%, muito superior aos europeus e apenas abaixo dos Estados Unidos. O material divulgado pela Secretaria de Comunicação também ressalta frases, como a dita por Bolsonaro, afirmando que tem "o Brasil a zelar" e em outra, no qual ressalta que "estamos juntos na defesa da vida do povo brasileiro, na defesa dos empregos e também buscando levar tranquilidade e paz para o nosso povo". Também é lembrada frase de Paulo Guedes, na qual afirma que "o presidente desde o início disse que nenhum brasileiro ia ficar para trás". Bolsonaro vem sendo criticado por suas declarações e comportamento polêmicos em meio à pandemia do novo coronavírus. Neste sábado (9), quando o Brasil registrou 10 mil mortes em decorrência da Covid-19, o presidente havia marcado um churrasco, que acabou cancelado. Bolsonaro, no entanto, saiu para um passeio em uma moto aquática.
*”Apoiadores de Bolsonaro reviram lixo do Alvorada para atacar jornalistas”* - Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) reviraram o lixo em frente à sala de imprensa do Palácio da Alvorada na manhã deste domingo (10) para atacar jornalistas que faziam plantão no local. Diante da sala onde trabalham os repórteres diariamente, em meio aos simpatizantes do presidente, dois homens passaram a mexer nas notas fiscais nos lixos para ler os nomes dos profissionais. Eles reviraram embalagens de um serviço de entrega de comida ao lado de uma lixeira cheia do dia anterior. O material não havia sido recolhido até as 10h deste domingo e estava organizado em sacos de papel, até ser revirado pelos apoiadores com camisetas onde se lia "direita raiz".​ Dois homens gravaram então um vídeo atacando a imprensa. Um outro homem acompanhou o ato dos bolsonaristas. A Folha estava presente e gravou em áudio parte das críticas. "Não tem o nome da pessoa aqui [na nota fiscal]. Mas, enfim, querendo ou não, isso é um descaso com o meu dinheiro, com o seu dinheiro, é um descaso com o nosso patrimônio porque isso tudo aqui é sustentando com o dinheiro dos nossos impostos." "E eles não valorizam, não têm capacidade sequer para zelar pela higiene e pela limpeza. E é por isso que quando falam que esta mídia é porca, suja, é nos dois sentidos. Eu pensei que era só em um, mas é literalmente também", disse um dos homens, não identificado pela reportagem. A lixeira revirada fica em frente à sala onde jornalistas ficam diariamente de plantão à espera do presidente, que costuma falar com apoiadores e repórteres, quando sai e chega à residência oficial. Para ter acesso ao local, é preciso passar por um portal de detecção de metal e por um scanner para, só então, ter acesso à área restrita.
Durante a gravação do vídeo, não houve nenhuma abordagem aos apoiadores por parte da segurança do Palácio da Alvorada, a cargo do GSI (Gabinete de Segurança Institucional). Quando os apoiadores se deslocaram então para o local onde geralmente interagem com o presidente, um agente de segurança foi até os jornalistas para saber o que havia ocorrido. Em seguida, o agente foi até a área dos apoiadores e retornou informando que o vídeo havia sido apagado. Instantes depois, os três homens foram embora. Procurada para comentar o episódio, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República informou que deve se manifestar em nota. Hostilidade à imprensa se tornou algo recorrente na cobertura diante do Palácio da Alvorada, incentivados pelo comportamento do presidente, que, na terça-feira (5), mandou repórteres calarem a boca. Repórteres e militantes são obrigados a entrar e sair na área reservada pelo mesmo local. Na quarta-feira (6), um homem filmou repórteres enquanto os profissionais, apesar de credenciados pela Presidência, forneciam o número do CPF para ingressar na área reservada. Na sexta-feira (8), jornalistas foram xingados em frente à sala de imprensa. No o último dia (3), profissionais de imprensa foram agredidos verbal e fisicamente por manifestantes em frente ao Palácio do Planalto.
CELSO ROCHA DE BARROS - *”Bolsonaro promove corrupção brasileira do furto para o assalto à mão armada”*
*”Com demissão de Moro, Bolsonaro considera indicar Aras para o Supremo”*
*”Bolsonaro gasta mais que Dilma e Temer no cartão corporativo da Presidência”* - Os gastos com cartão corporativo da Presidência República têm sido maiores no governo de Jair Bolsonaro (sem partido) do que nos de Michel Temer (MDB) e de Dilma Rousseff (PT). Na gestão atual, gastou-se, em média, R$ 709,6 mil por mês, o que representa uma alta de 60% em relação ao governo do emedebista e de 3% em comparação com a administração da petista. Por mês, Dilma tinha uma média de gastos de R$ 686,5 mil, enquanto Temer despendia R$ 441,3 mil. Os dados são do Portal da Transparência do governo federal, que reúne informações de 2013 a março de 2020 (fatura mais recente). Os valores foram corrigidos pela inflação do período. Dilma, Temer e Bolsonaro tiveram as mesmas regras para uso dos cartões. Não houve mudança nos critérios desde 2008, segundo o Palácio do Planalto. Naquele ano, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva adotou restrições, como limitação de saques, diante de compras abusivas realizadas com esse recurso.
Antes de assumir o governo, a equipe de Bolsonaro chegou a avaliar o fim desses cartões, que desencadearam um escândalo político com auxiliares do ex-presidente Lula. Os cartões corporativos, porém, ainda continuam funcionando. Esses meios de pagamento foram criados em 2001, no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Eles são distribuídos a pessoas que ocupam postos-chave da gestão pública e cobrem despesas de urgência pela compra de produtos e serviços ou pela cobertura de gastos de viagens. Na gestão Bolsonaro, as despesas vinculadas ao gabinete do presidente e a funcionários do Palácio do Planalto aceleraram a partir de outubro do ano passado. O pico foi de R$ 1,9 milhão em um único mês. O valor foi desembolsado em fevereiro de 2020 e registrado no sistema em março, mas sem que a finalidade da despesa, que está praticamente toda sob sigilo, fosse informada. Essa foi a maior despesa mensal já lançada no Portal da Transparência. O recorde anterior era de Dilma, em outubro (com registro em novembro) de 2014, quando gastou R$ 1,6 milhão, em valores atualizados pela inflação do período. Em fevereiro deste ano, a agenda oficial do presidente registrou viagens de Bolsonaro para São Paulo, Rio de Janeiro e Pará. No feriado do Carnaval, ele se deslocou a Guarujá, cidade do litoral paulista. Segundo o Palácio do Planalto, também foram computados em março os gastos com a viagem para o resgate, em fevereiro, dos 34 brasileiros que estavam Wuhan, na China, onde foram registrados os primeiros casos do coronavírus. Como a lista de gastos não é divulgada, não é possível saber o peso de cada atividade nas contas mensais.
As comparações são com base nas faturas do CPGF (Cartão de Pagamento do Governo Federal) da Secretaria de Administração da Presidência da República, que cuida das despesas de Bolsonaro, de sua família e de funcionários próximos, por exemplo, da Casa Civil. Os cartões corporativos do Palácio do Planalto são usados, entre outras despesas, para a compra de materiais, prestação de serviços e abastecimento de veículos oficiais. Também financiam a operação de segurança do presidente em viagens (até o momento foram 13 internacionais), além da manutenção e realização de eventos na residência oficial, o Palácio da Alvorada. Os valores totais das despesas do cartão da Presidência são divulgados, mas há sigilo sobre a maioria dos gastos, como alimentação e transporte do presidente. O argumento é que são informações sensíveis da rotina presidencial e que a exposição pode colocar o chefe do Executivo em risco. A Vice-Presidência tem cartões próprios, cujos custos são separados. Segundo o governo, as faturas da Secretaria de Administração da Presidência só incluem os gastos do vice-presidente quando ele exerce a função do presidente, por exemplo, se Bolsonaro está em viagem internacional.
No discurso que fez após a saída do ex-juiz Sergio Moro do Ministério da Justiça, há duas semanas, Bolsonaro citou iniciativas que ele diz ter tomado para evitar gastos excessivos do dinheiro público e para “dar exemplo”. “Na vida de presidente, eu tenho três cartões corporativos, dois são usados para despesas, as mais variadas possíveis. Afinal de contas, mais de cem pessoas estão na minha segurança diariamente. Despesas de casa, normal”, disse. O presidente disse que não usou até o momento o terceiro cartão corporativo a que tem direito e afirmou que mudou o cardápio da residência oficial. Mas esses gastos são sigilosos. Disse ainda que desligou o aquecedor da piscina do Palácio da Alvorada para diminuir o gasto. Só que ele é solar, não elétrico. Em agosto do ano passado, Bolsonaro prometeu mostrar aos veículos de imprensa o extrato de seu cartão corporativo pessoal, mas até hoje não o fez. "Eu vou abrir o sigilo do meu cartão. Para vocês tomarem conhecimento quanto gastei de janeiro até o final de julho. Ok, imprensa? Vamos fazer uma matéria legal?", afirmou na época. Na transição de governo, o atual ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, chegou a defender o fim dos cartões corporativos, só que a proposta não teve o apoio de toda a equipe do presidente e o benefício foi mantido. Em novembro, o STF (Supremo Tribunal Federal) derrubou trechos de um decreto de 1967 para dar transparência a gastos do Palácio do Planalto, inclusive com cartões corporativos. No entanto, a “caixa-preta” não foi aberta. Procurado pela Folha, o Palácio do Planalto diz que as informações que colocam em risco o presidente e a família dele não podem ser divulgadas, com base numa lei de 2011.
Para a ONG Transparência Internacional, as normas “deixam claro que sigilos podem ser tolerados apenas quando abrangem informações verdadeiramente sensíveis à segurança nacional, o que definitivamente não é o caso de todos os gastos com cartões corporativos”. A postura do Palácio do Planalto também é criticada pela Artigo19, ONG internacional que defende o direito à liberdade de expressão e acesso à informação. “A falta de transparência pode gerar uma crescente desinformação, uma crescente falta de credibilidade no poder público, que gera, obviamente, uma falta de circulação de informações e impacta a capacidade da população fiscalizar representantes do Estado”, avalia a Artigo19. No pronunciamento feito após a demissão de Moro, o presidente disse que o terceiro cartão corporativo a que tem direito permite a ele sacar R$ 24 mil por mês. Ele ressaltou, no entanto, que até o momento não fez uso desse dinheiro. Não é possível, no entanto, confirmar a informação, já que os extratos não foram ainda divulgados, apesar da promessa.​
Em 2008, a Folha mostrou um escândalo na utilização dos cartões corporativos durante a gestão de Lula. Eles foram usados em 2007 para pagar despesas em loja de instrumentos musicais, veterinária, óticas, choperias, joalherias e em free shop. O desgaste provocado pela denúncia de irregularidade derrubou a então ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. Em 2007, as despesas dela somaram R$ 171 mil, sendo R$ 110 mil com o aluguel de carros e mais de R$ 5.000 em restaurantes. Procurada pela Folha, a Secretaria-Geral da Presidência da República afirmou que as despesas com os cartões corporativos são decorrentes, entre outros gastos, do “atendimento da manutenção” e de “eventos na residência presidencial”. A pasta ressaltou que o número de familiares do presidente é maior do que o de seus antecessores, o que “acarreta no incremento de despesas para as atividades, sobretudo as de segurança institucional”. Em relação às viagens do presidente, o governo diz que todas contam com suporte da equipe de segurança, o que inclui hospedagem, alimentação, pedágios e combustível. Nos deslocamentos internacionais, são pagas ainda despesas aeroportuárias. A pasta ressalta que os meses com maiores volumes de gastos coincidem com o pagamento das despesas de um maior número de viagens, tanto nacionais como internacionais. Em outubro, por exemplo, Bolsonaro fez um giro pela Ásia e Oriente Médio.
*”Até gasto com cartão corporativo gera polêmica, diz Bolsonaro sobre aumento de despesas”*
*”Necessidade de militares defenderem a Constituição sob Bolsonaro preocupa, dizem analistas”* - A divulgação de notas pelo Ministério da Defesa para reforçar seus compromissos institucionais já indica uma deterioração do ambiente político do país, segundo analistas ouvidos pela Folha. Nas últimas três semanas, a pasta chefiada pelo general Fernando Azevedo e Silva se pronunciou duas vezes por meio desses comunicados para reafirmar sua "missão constitucional" e seu papel na manutenção da "paz e a estabilidade", diante de manifestações pelo país a favor de intervenção militar em benefício do presidente Jair Bolsonaro. Para especialistas ouvidos pela reportagem, só o fato de os militares terem de vir a público para reagir a essas solicitações antidemocráticas e para destacar o comprometimento com a ordem vigente já proporciona uma preocupação. A publicação mais recente da Defesa ocorreu na segunda-feira (4), um dia depois de Bolsonaro novamente participar em Brasília de ato com pedidos de intervenção militar. "Temos o povo ao nosso lado, nós temos as Forças Armadas ao lado do povo", disse o presidente, em frente a apoiadores críticos ao Congresso e ao STF (Supremo Tribunal Federal). A nota assinada por Azevedo, um dia depois, afirmava: "Marinha, Exército e Força Aérea são organismos de Estado, que consideram a independência e a harmonia entre os Poderes imprescindíveis para a governabilidade do país".
O professor de relações internacionais da UnB (Universidade de Brasília) Antonio Jorge Ramalho da Rocha, que estuda temas relacionados à Defesa, diz que o fato de os militares sentirem a necessidade de se pronunciar a respeito "implica reconhecer que há atores políticos importantes considerando" a alternativa" da intervenção. Ramalho da Rocha entende que esse tipo de nota seria o equivalente aos Correios divulgarem um comunicado prometendo "entregar cartas para todas as pessoas". "Está errado vir a público ter que dizer isso." Carlos Fico, professor de história da Universidade Federal do Rio de Janeiro que pesquisa o regime militar e as Forças Armadas, diz que as iniciativas do atual ministro da Defesa indicam a volta a uma época em que os militares eram "garantidores da democracia". "Estamos a todo momento tendo de ouvir do comandante do Exército, dos militares em geral, que vai haver observância da Constituição, a permanência da democracia." Ele também critica o fato de as notas não conterem uma condenação das "iniciativas autoritárias, do presidente ou de outros setores". Outro acadêmico, o professor sênior da Universidade Federal de São Carlos (SP) João Roberto Martins Filho, entende que as notas foram divulgadas principalmente em resposta a questionamentos da imprensa. Na mais recente delas, o Ministério da Defesa chama de inaceitável "qualquer agressão a integrantes da imprensa" —uma referência ao ataque a profissionais do jornal O Estado de S. Paulo no domingo passado (3), também em ato em Brasília. O professor afirma que não há precedentes de pronunciamentos desse tipo das Forças Armadas desde o fim do regime militar. "Porque nenhum presidente da República, desde 1985, fez esse discurso de confronto com Judiciário e Legislativo, a quem eles respeitavam profundamente." Para Martins Filho, Bolsonaro, ao inflar críticas aos demais Poderes, tem conseguido criar uma unidade no meio militar contra o Supremo, principalmente depois que o juiz decano da corte, Celso de Mello, determinou que três generais ministros prestem depoimento no inquérito que investiga a suposta interferência política na troca do comando na Polícia Federal determinada por Bolsonaro. Em despacho na semana passada, Celso de Mello disse que os depoimentos podem ocorrer de maneira coercitiva, "debaixo de vara", caso os generais não compareçam. "Bolsonaro foi tentando e tentando até criar uma causa que unifique [os militares]. Nesse caso ele conseguiu: há uma tensão no meio militar com o Supremo."
PRESTÍGIO DAS FORÇAS ARMADAS
Para o professor Ramalho da Rocha, o presidente, que é capitão reformado, tenta se colar às Forças Armadas para se valer do prestígio dessas instituições e legitimar seu modo de governar. "Tenta trazer as Forças Armadas de uma associação com o Estado para uma associação com o seu governo. Isso é muito perigoso." Outro risco, afirma o professor da UnB, envolve a atuação de militares da ativa em postos-chave de seu governo, como a Secretaria de Governo, chefiada pelo general Luiz Eduardo Ramos. "Essas pessoas passam a ter uma lealdade não mais à unidade de comando estabelecida pela instituição, mas a seu chefe imediato, que é o governo. Pode gerar cizânia dentro das Forças Armadas, lealdades distintas." Na manifestação em Brasília no último domingo, em um contexto de críticas ao Supremo, Bolsonaro falou em uma situação "limite". Em abril, em entrevista no Palácio da Alvorada, disse: "Eu sou, realmente, a Constituição". Os apoiadores de uma intervenção militar costumam afirmar que a própria Constituição prevê que as Forças Armadas podem tomar esse tipo de iniciativa. O artigo 142, que trata do papel dos militares no país, diz apenas que as Forças Armadas "destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem". Em 2017, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, órgão do Ministério Público Federal, expediu nota criticando essa interpretação da Constituição e afirmando que a postulação de um levante pode ser enquadrada como crime inafiançável. "Não há no ordenamento jurídico brasileiro hipótese de intervenção autônoma das Forças Armadas, em situação externa ou interna, independentemente de sua gravidade." O professor Carlos Fico considera muito difíceis de se concretizarem as possibilidades de uma ofensiva militar sobre o Judiciário ou o Legislativo inflada pela mobilização de apoiadores extremistas das Forças Armadas e do presidente. Para ele, a perspectiva para o meio militar é de desgaste em sua imagem pela associação com o governo Jair Bolsonaro. "O fracasso dessa atual conjuntura política é certo. Fatalmente esse governo não vai dar certo, e isso acabará caindo no colo do Exército."
+++ O jornal deixa de inserir no texto informações que são importantes para classificar as forças políticas. A reportagem trata os militares da cúpula do governo como integrantes das Forças Armadas, embora a maioria já esteja na reserva e isso deveria estar claro, é de interesse público. Outro ponto é que esses militares reformados integram um governo ultraneoliberal de extrema-direita. Se a nomenclatura não for utilizada, a informação não vai circular e o público dificilmente poderá comparar com outros espectros políticos.
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*”Após fila de espera na internet, Caixa atualiza app para reduzir tumulto pelos R$ 600”* - As filas na Caixa Econômica Federal para a obtenção do auxílio emergencial de R$ 600 concedido pelo governo federal não aconteceram só em agências físicas. Na internet, o aplicativo Caixa Tem, que permite a transferência do recurso e o pagamento de boletos, criou filas digitais e longa espera para parte da população que tentou acessar o dinheiro sem sair de casa. Criado em 2019 e aprimorado às pressas diante da urgência da pandemia de coronavírus, o serviço tem quase 82 milhões de downloads e foi alvo uma forte sobrecarga com a corrida de desempregados e informais à internet pelo auxílio. Mais de 50 milhões de brasileiros devem receber a verba. No primeiro mês de funcionamento, o app não deu conta de atender os milhares de acessos simultâneos, e muitos cidadãos tiveram que recorrer às agências. Na loja de aplicativos do Google, há relatos de trabalhadores que citam demora superior a uma semana para conseguir fazer operações com o dinheiro. Também mencionam sequências de erros e travas no aplicativo, como problemas de conexão com o servidor e de validação dos dados. "O app trava muito e quase sempre não consegue completar as operações de transferência ou pagamento [importantes para não precisar ir até a agência]", disse um usuário em 5 de maio. "Não permite que você faça uma transferência nos finais de semana [quando há menos usuários] para que a mesma seja efetivada no próximo dia útil, o que contribui ainda mais para o congestionamento", continuou. “Não consegui ter acesso por 10 dias seguidos. Péssimo”, disse outra. A espera virtual é um recurso semelhante a uma sala de espera física, utilizado em diversos aplicativos com entrada de milhares de pessoas ao mesmo tempo, como de shows e grandes eventos. O problema é que, enquanto em uma sala física a pessoa aguarda com uma senha na mão e a certeza de que será atendida, na sala virtual do Caixa Tem o usuário precisa manter a tela do aplicativo ativa, sem poder utilizar outras funções do celular, como abrir uma simples mensagem de WhatsApp. Segundo a Caixa, isso foi corrigido.
ATUALIZAÇÃO
Antes de quinta-feira (7), quando o banco realizou uma atualização no aplicativo, esse processo poderia levar mais de meia hora e, no final, apresentar erro. Depois de inúmeras reclamações e diante das preocupantes filas em agências —o que levou a Justiça de estados como o Maranhão determinar a reorganização do sistema de pagamentos—, a Caixa diz que consertou o problema. “Hoje [quinta-feira] a fila não está demorando mais do que um minuto, na versão 1.20.1 [do aplicativo]. É só baixar no Android e fazer o teste. No iOS, sistema da Apple, vamos migrar de sexta (8) para sábado (9). A usabilidade melhorou 1.000%”, disse Cláudio Salituro, VP de Tecnologia da Caixa. Em menos de 30 dias, o banco fez 15 versões com melhorias ao aplicativo. A última atualização, segundo o banco, permitirá 5.000 usuários por minuto. O teor dos comentários mais recentes nas lojas de aplicativos já mudou. Na sexta-feira (8), trabalhadores disseram conseguir efetuar as transações após semanas de tentativas. “Depois de mais de um mês, eu consegui fazer o saque, o aplicativo ficava muito lento e tinha que enfrentar a fila virtual, mas sempre caía e depois dava erro”, afirmou uma usuária. O Caixa Tem foi concebido a clientes do banco e, até antes da pandemia, funcionava na versão beta. Ele foi idealizado para atender 1 milhão de pessoas no período de um ano e, em menos de 30 dias, começou a receber até 4 milhões de acessos por dia.
O app existe para oferecer uma poupança social digital, alternativa bancária a quem não possui conta em instituições financeiras privadas, e permite transações bancárias e o pagamento de boletos e contas de água, luz e telefone. Hoje, é possível acessá-lo pelo CPF quem for autorizado a receber o auxílio —o processo anterior de verificação é feito em outro aplicativo da Caixa, dedicado apenas ao preenchimento de dados cadastrais. A necessidade de escalar uma solução emergencial gerou uma série de problemas. O banco reconhece que houve falhas e que o sistema como um todo foi sobrecarregado com a demanda, não atribuindo falhas apenas à conexão com servidor, à limitação de software ou ao desenvolvimento, mas ao conjunto da obra. "De fato é legítima a reclamação, mas a cada dia estamos implantando melhorias no Caixa Tem e, agora, temos o conforto de dizer que estamos quase lá", diz Salituro. Segundo ele, o app do auxílio emergencial foi feito em sete dias e, depois, "uma avalanche" chegou ao Caixa Tem. Um técnico do banco afirmou que não foi possível escalar 100 ou 200 vezes a infraestrutura para atender uma demanda de 15 minutos, por exemplo. Profissionais de tecnologia compararam que a adaptação do aplicativo foi como a troca de asa de um avião durante o voo, com quase toda a equipe em home office.
FALTA DE INFORMAÇÃO
Apesar de aparente melhora na fila digital nos últimos dias, pesquisadores criticam outros pontos, como a falta de informação sobre os requisitos mínimos para celulares que podem usar a aplicação e a dificuldade de instalação em aparelhos mais antigos. Observam, ainda, que o repasse tem sido feito diretamente à poupança da Caixa, não a outros bancos em alguns casos. “Governo e Dataprev conseguiram revelar 46 milhões de brasileiros que estavam invisíveis a políticas sociais. Mas as pessoas não estão necessariamente recebendo em suas atuais contas, mas na poupança social digital. Isso sobrecarrega porque não distribui para quem pode receber pelo Banco do Brasil, por exemplo”, diz Marco Konopacki, pesquisador ro ITS-Rio e ligado à New York University, que se debruçou sobre as falhas do app.
Além disso, ele menciona que CPFs iniciados com zero não estavam sendo identificados, o que a Caixa diz já estar solucionado. Assim como em outros países, o Brasil utilizou sua infraestrutura tecnológica já existente para conectar governo e cidadãos na pandemia, ressalta a pesquisadora de internet e governo Yasodara Cordova. Como a Caixa já tem a expertise do Bolsa Família via aplicativo, adequou o Caixa Tem para a distribuição do dinheiro. “Não podemos comparar o Brasil com a Inglaterra nesse sentido, que trabalha com um gabinete digital há 20 anos e tem um site simples, universal e que oferece ajuda a analfabetos e idosos. O que faltam são agentes do governo auxiliando as pessoas na fila, os idosos, para que consigam realizar as operações pelo celular”, afirma. Além de críticas nas lojas de aplicativos, usuários já relataram a entidades de defesa ao consumidor, como a Proteste, dificuldade de contato com o suporte técnico. Na última semana, a Caixa divulgou em seu site que intensificou o atendimento às pessoas que estão nas filas, com prestação de informações e geração de códigos para a realização de saques. De acordo com os últimos dados do Dataprev, empresa pública responsável por processar e analisar as informações sobre a possibilidade de conferir o auxílio do governo, cerca de 46 milhões de brasileiros solicitaram o auxílio e 44,9 milhões de cadastros elegíveis foram enviados ao banco de 7 a 22 de abril.
DUAS SEMANAS
Em nota, a Caixa diz que o pagamento do auxílio é o maior programa de inclusão social, financeira e digital do Brasil, e ressalta: "ele foi implementado em apenas duas semanas". "Ao longo da semana, o banco registrou uma redução considerável das filas nas agências de todo o país e verificou-se que o atendimento foi normalizado", afirmou. Sobre a compatibilidade com celulares antigos, o banco afirma que o app foi projetado para ser o mais leve do mercado financeiro, de forma a funcionar em qualquer modelo de smartphone. Os horários de maior acesso ao Caixa Tem são das 7h30 às 18h e das 20h às 21h30, portanto usuários podem testar o uso em horários com menos concentração. Para obter as correções, é preciso atualizar o app nas configurações do celular ou na loja de aplicativos do sistema Android ou iOS.por iss
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*”Hidroxicloroquina não reduz mortes ou intubação, mostra estudo”* - Um novo e grande estudo publicado no The New England Journal of Medicine, um dos mais importantes periódicos científicos, mostrou que a hidroxicloroquina não tem eficácia para redução de mortes ou para impedir intubação de pacientes com a Covid-19. O estudo observacional (ou seja, os pesquisadores não fizeram intervenções em pacientes) analisou informações de 1.376 pacientes que tinham sido tratados no Hospital Presbiteriano de Nova York (que é associado à Universidade Columbia e à Weill Cornell Medicine) entre 7 de março e 8 de abril (com acompanhamento até 25 de abril). As pessoas infectadas pelo novo coronavírus poderiam receber uma dose de 600 mg de hidroxicloroquina no dia 1, seguido por doses diárias de 400 mg por quatro dias. Outra opção terapêutica era associação de hidroxicloroquina e azitromicina, com uma dose inicial da segunda de 500 mg e de 250 mg nos quatro dias seguintes. Entre os 1.376 pacientes que tiveram do dados analisados, 811 receberam hidroxicloroquina e 565 não. A maior parte das pessoas que tiveram os dados analisados começou a receber a medicação em até 48 horas após a hospitalização.
Após cerca de 22 dias, 346 pacientes morreram ou foram intubados. No fim do estudo, 232 pacientes tinham morrido, 1.025 sobreviveram e receberam alta hospitalar, e outros 119 permaneciam hospitalizados. Segundo os pesquisadores, a análise dos dados estatisticamente não aponta benefícios no uso da hidroxicloroquina para os parâmetros observados, ou seja, a morte ou a intubação. “Nossos achados não apontam para a indicação do uso da hidroxicloroquina fora de testes clínicos randomizados que estejam testando sua eficácia”, afirmam os autores. Os pesquisadores também afirmam que as sugestões de tratamento com azitromicina e com hidroxicloroquina foram retiradas das orientações do hospital em 12 de abril e em 29 de abril, respectivamente. A partir de então, de acordo com cada paciente, a indicação das drogas ficou a critério da equipe médica responsável pela pessoa. Segundo o estudo, alguns pacientes, em seguida, passaram a tomar outras drogas que estão em teste contra o Sars-CoV-2, como o sarilumab e o remdesivir —o qual apresentou resultados preliminares modestamente positivos em pesquisa financiada pelo NIH (National Institutes of Health), dos EUA, e que, por isso, recebeu uma autorização para uso emergência contra a Covid-19 no país. O infectologista brasileiro André Kalil, da Universidade de Nebraska Medical Center, é um dos cientistas que lideram os estudos com o remdesivir. Segundo ele, a droga é a mais promissora no momento —mesmo não significando cura—, considerando que nenhum outro estudo com fármacos mostrou efeito significativo contra o vírus.
Há no momento diversos estudos em andamento para buscar a melhor droga para combater o novo coronavírus. Inclusive, a cloroquina e seu derivado, a hidroxicloroquina, são as drogas mais estudadas no mundo para tratamento de pacientes com a Covid-19. Um em cada três estudos em humanos estão usando a cloroquina —e o Brasil está entre os países com a maior quantidade dessas pesquisas. A droga ganhou forte apelo político após o presidente americano Donald Trump passar a defendê-la como resposta à pandemia. O presidente brasileiro Jair Bolsonaro (sem partido) seguiu as ações de Trump e passou a defender pública e constantemente a hidroxicloroquina como resposta para a Covid-19. Bolsonaro chegou a instruir que o exército aumentasse a produção da droga. De início, o Ministério da Defesa chegou a divulgar que produziria 1 milhão de comprimidos por semana. Contudo, recentemente a produção foi interrompida por falta de insumos e o foi colocado um teto para a produção da droga: mais 1,75 milhão de pílulas e depois só se houver demanda. Bolsonaro e Trump diminuíram o tom na defesa da droga. Antes, a hidroxicloroquina estava presente em pronunciamentos brasileiros oficiais em rede nacional e nas redes sociais dos dois presidentes. O estudo publicado pelo The New England Journal of Medicine, por seu desenho, não coloca ainda um ponto final na questão da eficácia (ou falta de) da hidroxicloroquina. Uma resposta mais precisa deve aparecer em breve, com os resultados dos estudos randomizados e controlados com a droga.
*”Com salários atrasados há dois meses, médicos querem trancar a residência”*
*”Coronavírus avança e 35% de presídios de SP têm casos suspeitos ou confirmados”* - Medidas de segurança adotadas pelo governo paulista, iniciadas em março, não estão sendo suficientes para conter o avanço do coronavírus pelo sistema prisional. Há funcionários afastados ou presos isolados por suspeita ou confirmação de infecção por coronavírus em 62 das 176 unidades prisionais do estado, ou 35% do total das prisões sob responsabilidade da Secretaria da Administração Penitenciária. Ao menos 27 unidades têm presos com suspeita ou confirmação de contaminação, o que representa 15% do total. São 79 presos isolados e 232 servidores afastados das funções. O número de presos isolados não inclui os colegas de cela que também ficam confinados, sem poder acessar ao pátio de convivência, enquanto dura a investigação para saber se o detento está mesmo infectado. Foram confirmadas 13 mortes de pessoas ligadas ao sistema: 7 detentos e 6 funcionários. Com exceção de uma morte em Guarulhos, as outras se concentram no interior do estado. Em Sorocaba são dois detentos e um agente mortos. Esses números fazem parte de um relatório interno do governo paulista obtido pela Folha com dados produzidos até a última sexta-feira (8) e, assim, com um quadro atual da situação que envolve uma população de cerca de 223 mil detentos confinadas e cerca de 35 mil funcionários. Entre as medidas implementadas pelo governo paulista a partir de 15 de março, algumas espontaneamente e outras por força de determinações judiciais, estão a suspensão de visitas dos familiares e da entrega presencial de alimentos e outros itens, os chamados “jumbos”. Essas entregas agora podem ser feitas só pelos Correios. Também foram suspensas as assistências religiosas e educacionais com participação de integrantes externos, assim como as saídas temporárias de presos do regime semiaberto, tanto para o trabalho externo quanto para visitas às famílias em datas específicas, as chamadas “saidinhas". Essa última decisão chegou a provocar revolta de presos em algumas unidades do estado.
Além disso, os funcionários do grupo de risco foram afastados e medidas de segurança foram adotadas em todas as unidades para evitar que funcionários infectados adentrassem as unidades, como a verificação de se estão com febre. “De todo servidor é medida a temperatura corporal; ele também precisa se higienizar para entrar na unidade, para evitar justamente o vetor de contaminação não seja de fora para dentro”, disse o secretário da Administração Penitenciária, Nivaldo Restivo. Para o governo, a explicação possível para o vírus ter entrado no sistema e ter conseguido avançar é a mesma dificuldade encontrada em todo mundo para combatê-lo: a transmissão por pessoas que não apresentam sinais da doença.“Provavelmente, há grande chance de isso ter acontecido com algum servidor assintomático. Porque mesmo que ele adote as medidas de profilaxia interna, ainda assim é um vetor de transmissão”, disse. Os dados obtidos pela Folha apontam um aumento no número de presos e funcionários isolados ou afastados por suspeita de contaminação. No último dia 23, o número de presos era de cerca de 40 casos –ante os atuais 79. De funcionários, no mesmo dia, eram algo em torno de 40 pessoas –agora são 232.De acordo com o governo, o acompanhamento dessa movimentação dos números é diário e eles são, por ora, considerados dentro do controle e do esperado. O presidente do Sifuspesp (Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo), Fábio Cesar Ferreira, o Jabá, concorda com o secretário. “Somos nós que estamos levando lá para dentro”, disse. Para ele, preocupa o crescimento do número de funcionários infectados e, por outro lado, a dificuldade de conseguir realizar exames para descartar ou confirmar a doença. Uma das medidas adotadas pelo sindicato é tentar conscientizar os servidores, em especial no interior do estado, sobre a necessidade de isolamento.
Ferreira diz que muitos colegas seguem o discurso bolsonarista de minimização da gravidade da pandemia ou tratam com indiferença a quantidade de mortes. Alguns agentes chegam a recusar a usar material de proteção. “A maioria apoiou o Bolsonaro [nas eleições] e a maioria reverbera esse discurso dele de ‘E daí se morreu muita gente?’, ‘Isso é um gripezinha’. [...] Então, de vez em quando tem lá um servidor fazendo gracinha e não quer usar [os equipamentos de segurança]. Nossa recomendação é para que use”, disse. Outro problema que a categoria também enfrenta, embora não tenha dado causa a ele, é o preconceito sofrido por servidores em algumas cidades do interior. Ele afirma que alguns prefeitos estão culpando o sistema prisional como vetor da doença e, com isso, os profissionais estão sofrendo hostilidade.“Está ocorrendo aquele mesmo efeito dos enfermeiros de São Paulo que estava sendo agredidos no metrô. Só não foram agredidos ainda, mas quando reconhecem o funcionário, colocam luva, máscara e dizem: ‘fica longe de mim”, disse. Para os sociólogos Álvaro Gullo, da USP e Luis Flávio Sapori, da PUC Minas, as medidas de segurança precisam ser mantidas, como proibição de visitas, isolamento dos presos infectados (se possível em outras unidades) e uso de equipamentos de segurança pelos agentes penitenciários. Eles também concordam em relação a defender a soltura de presos com menor grau de periculosidade. “É preciso acentuar a política de prisão domiciliar, intensificar esse tipo de medida principalmente para presos da baixa periculosidade, média periculosidade, que estão no regime semiaberto”, disse Sapori. “Porque há um risco muito grande de ter uma mortandade de presos, em especial nos estados onde a doença está recrudescendo”, disse.
Para o professor da USP, a notícia de aumento de casos no sistema paulista é grave. “Até por que as condições do sistema, todos nós sabemos, são péssimas. São cubículos, superlotados. Acho a medida mais correta, mais adequada, mais viável, mais lógica, diante dessa situação. Para não agravar a situação dentro e fora dos presídios”, disse Gullo. “A liberação de presos de menor potencial criminológico infectados com o coronavírus pode ser considerada como uma medida protetiva não só para o sistema prisional mas para a toda a sociedade”, disse. Até a última sexta-feira, foram soltos por determinação da Justiça 3.190 presos. A advogada Priscila Pamela dos Santos, presidente da comissão de Política Criminal e Penitenciária da OAB São Paulo e também diretora do IDDD (Instituto de Defesa do Direito de Defesa), a soltura de presos concedida até agora pela Justiça é insignificante. Segundo ela, a Secretaria da Administração Penitenciária informou, ao ser requisitada, que o sistema possui 25 mil presos que se encaixam no grupo de risco. Segundo ela, essa lista será disponibilizada para os advogados apresentarem requisição ao Judiciário. “Nós nos propusemos a criar um mecanismo dentro da própria OAB para o advogado, com procuração comprovada, faça consulta na OAB e a gente consiga dizer para ele: ‘está no grupo de risco’”, disse a advogada. Essa lista deve disponibilizada nesta segunda-feira (11) e fornecida mediante requerimento. O OAB também solicitará ao Tribunal de Justiça que encaminhe essa lista para todos os juízes, para facilitar a consulta na hora de decidir sobre a concessão de medida.“Não é liberar sem qualquer consequência. É soltar para continuar cumprindo a medida que foi imposta, mas em casa”, disse.
*”Prisões do RJ têm 4 mortes e agentes em grupo de risco trabalhando”* - No Rio, onde havia quatro mortes de detentos confirmadas até esta quinta (7), os agentes penitenciários recorreram à Justiça para tentar retirar da linha de frente servidores com mais de 60 anos. Chegaram a obter liminar, mas o governo do estado conseguiu reverter a decisão. A liminar foi obtida no início de abril pelo Sindsistema (Sindicato dos Servidores do Sistema Penal do Rio de Janeiro). Beneficiou também servidoras gestantes e lactantes. Na ação, o sindicato alegou "necessidade de proteção à vida e saúde dos servidores". No recurso, a Seap (Secretaria de Administração Penitenciária) argumentou que a carreira de agente penitenciário não comporta trabalho remoto e que o afastamento dos servidores gera risco de colapso no sistema, que enfrenta déficit de profissionais. "A falta de inspetores trabalhando junto aos presídios pode representar sérios prejuízos não só à segurança pública mas à própria integridade física dos detentos", afirmou. "Há sério risco de colapso, com facilitação de fugas e rebeliões, caso isso aconteça." O sistema do Rio abrigava, ao fim de 2019, 51 mil detentos, segundo dados do Depen (Departamento Penitenciário Nacional). Entre os agentes lotados em unidades prisionais, 113 têm mais de 60 anos. O presidente do Sindsistema, Gutembergue de Oliveira, critica a decisão do governo, dizendo que poucos deles aceitariam migrar para trabalho remoto, já que 73 não abririam mão de um regime especial que garante R$ 600 adicionais por plantões. Segundo ele, há hoje mais de cem servidores da área em licença médica por Covid-19, dois deles em estado grave, além de um óbito. A secretaria diz que suspendeu visitas e adota medidas para aumentar a segurança nos presídios, como distribuição de equipamentos de proteção individual e a intensificação da higienização. A pasta não informou se há isolamento de detentos com casos confirmados, mas afirmou que novos presos passam por isolamento de 14 dias.
*”Mortes causadas por Covid-19 se espalham em asilos de SP”*
*”Com menor taxa de isolamento de SP, Presidente Prudente tem idosos no centro e parque cheio”*
*”Moradores relatam descaso com isolamento social nas periferias de SP”* - Na região com mais vítimas com Covid-19 em São Paulo, a aposentada Aparecida André da Silva Hora, 68, conta que viu pouca coisa mudar desde que foi divulgado que havia uma pandemia em curso. Ela vive no Jardim Carumbé, no distrito da Brasilândia, na zona norte da capital. Por ali, churrasco, baile funk e pessoas bebendo nas ruas são algumas coisas que ela observou desde que o isolamento social foi instituído na cidade. "Ninguém respeita nada de isolamento", diz ela. Na segunda-feira (4), a região tinha 103 óbitos por Covid-19 confirmados ou suspeitos. Ela relata a dificuldade em ficar em casa durante as semanas de quarentena, mas critica a atitude dos vizinhos. "Que adianta os velhos trancados em casa e os novos na rua badernando?", questiona. "No fim de semana, pode passar de noite que têm barulho e gente sem máscara. Nem com os doentes eles não tem respeito." Na cidade de São Paulo, os índices de isolamento da população, divulgados pelo governo do estado, computaram os menores índices das últimas semanas. Na terça-feira (5), ficou em 48%, quando o ideal é de 70% para evitar a propagação do coronavírus.
A autônoma Alessandra Peres, 42, é filha de Aparecida e também mora na Brasilândia. Ela é uma das pessoas que faz o caminho do mercado e da farmácia para evitar que a aposentada saia às ruas. Para ela, na região, "reina a falta de respeito" dos moradores. "Vejo muita falta de respeito, muita turminha fumando narguilé e sem máscaras", comenta. A autônoma cita que perto de casa, algumas pessoas foram infectadas pelo vírus, e nem isso foi motivo para diminuir o fluxo dos vizinhos nas ruas. O marido de Alessandra trabalha de noite e chega no bairro na madrugada. Segundo ela, nem nessa hora há sossego. "É gente na rua, rodinhas com funk, além dos motoqueiros, pessoas caminhando sem máscara". Para Alessandra, as pessoas que não se conscientizaram ainda. "Verão que a doença é grave quando alguém morrer na família". O educador social Fábio Ivo, 49, lidera a Rede Brasilândia Solidária, composta por 23 entidades do bairro com o objetivo de pressionar o poder público por melhores condições aos moradores da região e conscientizar a população. Para ele, de algumas semanas para cá, existe uma nova Brasilândia, pois na comparação com um mês atrás as pessoas estão mais conscientes. "Ainda tem muita gente circulando, mas o número é menor. A maioria está ficando em casa", comenta. Por outro lado, ele observa as dificuldades de muitas famílias em conseguir manter o isolamento social, por causa da falta de comida e do tamanho das casas.
O descumprimento às medidas de isolamento social tem sido visto em várias regiões da capital. Além de moradores que precisam ir às ruas para trabalhar em locais que prestam serviços essenciais, como mercados e farmácias, há trabalhadores informais que têm restabelecido a rotina. Por outro lado, a descrença com relação às medidas de isolamento e dúvidas em relação à letalidade da Covid-19 também têm afetado o cumprimento da quarentena. O vistoriador de carros e imóveis Luis Fernando Pereira, 43, mora na Vila Ré, na zona leste, e diz que a situação retratada pela mídia não passa de exagero. "Você só vê abrirem covas, mas não vê as mesmas sendo utilizadas", comenta. "Isso me causa grande estranheza". Por outro lado, diz que os jornais são sua principal fonte de informação, já que "as redes sociais têm muitas fake news". Ele questiona porque a doença "só pega em trabalhador" e diz não ter ouvido falar em casos na cracolândia, região do centro de São Paulo, onde há concentração de pessoas com dependência química. Também diz acreditar que óbitos causados por outras enfermidades como derrames foram somadas às de Covid-19, pois querem causar pânico na população. "Continuo levando minha vida normal", diz, apesar de usar máscara para ir trabalhar. Sobre os defensores do isolamento no bairro, Luis comenta que são "‚pessoas que estavam querendo férias dos empregos e aproveitaram a doença pra ficar em casa de boas".
Em São Mateus, na zona leste, o aprendiz de chaveiro automotivo Marcelo Brandão da Silva Junior, 20, também discorda do isolamento, mas diz que tem a medida tem seus benefícios no sentido de alertar sobre o perigo do vírus. "Acho que a grande dificuldade é com as medidas bruscas para repressão da população", pontua. "O povo brasileiro precisa muito do contato, do calor humano", completa. Marcelo afirma que lamenta por quem perdeu familiares na pandemia, mas admite que nos últimos dias, fez festa para a namorada e visitou parentes, comportamentos não indicados pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Por outro lado, diz que usa álcool em gel e evita contato com os avós. Ele diz que vê as centenas de mortes no noticiário sobre outros países, como Itália e Espanha, mas não acredita que o Brasil sofra nas mesmas proporções. Para ele, os preocupados com as mortes "são desesperados". Moradora de Taboão da Serra, na Grande São Paulo, a professora Najara Lima Costa, 39, mestra em Ciências Humanas e Sociais, aponta como um dos motivos para o descumprimento cada vez maior da quarentena a confusão que a sociedade vive sobre os impactos na economia e a eficiência do isolamento social. Najara acrescenta que um óbito por coronavírus pode atuar de forma mais silenciosa do que um homicídio. "Seja por conta da subnotificação ou pelo fato de assassinatos demonstrarem a violência de forma mais direta", define. "Não temos a dimensão que afrouxar o isolamento social pode consequentemente matar inúmeras pessoas, pois a morte pode demorar algumas semanas para chegar e não é possível saber, com precisão, quem transmitiu o vírus", completa a professora. Líderes comunitários se preocupam com o aumento do fluxo de pessoas nas ruas. No Jardim Valquiria, no Campo Limpo, zona sul, Gilmar Antonio de Sousa, 56, relata que as pessoas tratam o isolamento como estivessem de férias. "Ninguém está respeitando a coronavírus", completa. De acordo com ele, a situação não mudou, apesar da contratação de carros de som alertando sobre os perigos da pandemia. Gilmar diz que falta empenho do poder público. Nas semanas anteriores, grupos na zona leste fizeram vaquinhas online para circulação de carros de som, nos bairros de Cidade Tiradentes, Cohab ll e Guaianases. O áudio orienta sobre o uso da máscara e indica coletivos locais que estão fazendo distribuição de alimentos.
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CAPA – Manchete principal: *”Rio já tem 93% das cidades com casos de Covid-19”*
EDITORIAL DO GLOBO - *”É preciso preparar a base industrial para o SUS”*: Empresas químicas e farmacêuticas começaram a debater alternativas de produção local de insumos, produtos e equipamentos essenciais ao setor de saúde, para reduzir a alta dependência de fornecedores externos, sobretudo da China e da Índia, que concentram 90% do mercado global. Tem sido grande a mobilização pública e privada para assegurar insumos e equipamentos essenciais ao Sistema Único de Saúde nessa crise provocada pela pandemia. O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta apelou a empresas privadas (Vale, Lojas Americanas, Bradesco, Itaú e Santander, entre outros) para mapear fornecedores. Já chegaram as primeiras cargas de máscaras, luvas, insumos químico-farmacêuticos, respiradores e outros equipamentos médico-hospitalares comprados na China e na Índia.
Quando ultrapassada a emergência, será necessária uma revisão da estrutura produtiva brasileira nessa área. Como mostrou O GLOBO, empresas como EMS, Braskem, Guararapes e outras dos segmentos de higiene, perfumaria e cosméticos já planejam a substituição de importações, das quais dependem, e a diversificação da produção. É oportunidade de negócios num país cuja vulnerabilidade está expressa no aumento do déficit setorial da saúde. Há duas décadas era de US$ 3 bilhões. Saltou para cerca de US$ 20 bilhões. Importar, preferencialmente, foi uma decisão política baseada no critério de custo-benefício em relação à produção local. Está visível que levou-se ao extremo a dependência externa. Na pandemia, governos passaram a considerar produtos de saúde como estratégicos à segurança nacional. Os Estados Unidos, por exemplo, decidiram que a produção da 3M de máscaras do tipo N95 deve ser integralmente reservada para consumo dos cidadãos americanos. Nas palavras do secretário de Estado, Mike Pompeo, países como o Brasil poderão “contar com nosso apoio para conseguir itens importantes no combate ao coronavírus, mas terão de esperar que a situação melhore no território americano antes.” Sem um plano preventivo de reconversão industrial, o governo tenta estimular uma produção doméstica de 15 mil respiradores para entrega em 90 dias. A experiência pode ser didática: será preciso estabelecer uma base industrial de saúde que possa ser ampliada rapidamente —esta é a segunda pandemia em uma década, considerando-se a da gripe H1N1, em 2009. O debate é relevante, mas a intervenção estatal merece ressalvas. Uma elas é a necessidade de se evitar a repetição do clássico erro das reservas de mercado. Não faria sentido, por exemplo, privilegiar empresas públicas ou privadas com quaisquer incentivos, sem mecanismos de cobrança de eficiência e produtividade, além de real capacidade de competição no mercado mundial.
*”Avanço rápido para o interior do Rio – Sem isolamento, covid-19 já se espalhou por 93,5% das cidades”* - Na pequena Sapucaia, de 18,2 mil habitantes, no Centro-Sul fluminense, o gerente de um posto de gasolina morreu vítima da Covid-19, e funcionários do principal mercado local adoeceram, o que pôs todos os trabalhadores do estabelecimento em quarentena. Cortada ao meio pela BR-393 (a antiga Rio-Bahia), e com 37 casos e três óbitos confirmados pela prefeitura, a cidade está na rota de um acelerado avanço do novo coronavírus pelo interior do Rio —um dos argumentos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para recomendar o lockdown no estado. Até a noite da última sexta-feira, a doença já tinha chegado a 93,5% (86) dos 92 municípios do Rio. E, desde o último dia 15 de abril, o número oficial de infectados tinha crescido 307% na Região Metropolitana, contra 465% fora dela. Embora essa interiorização seja um drama nacional, no segundo estado mais rico do país há motivos para o alerta acender mais forte. Como parâmetro, também na sexta-feira, eram 62% dos municípios paulistas afetados, e 25% dos mineiros. Em todo o país, o percentual do Rio só era superado pelo Amapá (100%) e se assemelhava ao de Roraima (93,3%) e ao do Ceará (91,3%). Um processo que, segundo especialistas, precisa ser mitigado não só com medidas rígidas de confinamento, mas também com um planejamento regionalizado da rede de saúde para atender pacientes de lugares que, muitas vezes, não têm UTIs ou sequer hospital. É o caso de Sapucaia, que corre contra o tempo para montar cinco leitos com respiradores em salas de um posto de saúde. Enquanto não ficam prontos, doentes que necessitam de internação são mandados para cidades da região, como Três Rios.
— Tem sido difícil conseguir as transferências. Há muitos pacientes da Baixada, por exemplo, vindo para os municípios próximos daqui — afirma Marília Gabriela Teixeira, coordenadora de epidemiologia de Sapucaia. — Além disso, é complicado convencer as pessoas sobre o distanciamento social, sobretudo nos distritos mais rurais. A BR-393 é outra preocupação, porque é federal e não podemos fechá-la nem fazer uma barreira sanitária.
Dessa forma, o tráfego pesado de caminhões e carretas segue normal na estrada. No Centro da cidade, ela se transforma numa rua de paralelepípedos, onde trabalham pessoas como o vendedor de frutas ambulante Antônio Luiz Benedito, de 52 anos.
— Acredito que a doença chegou pela BR. Mas continuo trabalhando, munido de máscara e álcool em gel, porque essa é minha fonte de renda —diz ele.
Com as rodovias como um dos vetores iniciais do espalhamento da doença, o fechamento delas (pelo menos as estaduais e intermunicipais) foi cogitado na semana passada no ofício enviado pelo governador Wilson Witzel ao Ministério Público do Rio, no qual ele afirma que o estado elabora uma proposta de lockdown. No entanto, o documento da Fiocruz que recomenda esse isolamento mais duro—em particular na Região Metropolitana—ressalta que, até municípios com menos de 50 casos reportados, possivelmente já registrem transmissão comunitária. Ou seja, não é possível mais localizar a origem da infecção, indicando que o vírus circula entre indivíduos que não viajaram ou tiveram contato com quem veio de fora. Neste estágio atual do Rio, o epidemiologista Roberto Medronho, da UFRJ, é taxativo: o lockdown é a única saída para evitar um espalhamento ainda maior da Covid-19.
— É a “vacina” que temos disponível — afirma ele. — Para que seja efetiva, deveria ser aplicada em âmbito estadual, principalmente na Região Metropolitana, de onde a doença irradia, com a avaliação da medida em outras áreas —acrescenta ele.
CONEXÃO ENTRE CIDADES
O também epidemiologista Diego Xavier, do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict/Fiocruz), ressalta que, no Rio, no dia 20 de março, o coronavírus já tinha atingido todas as cidades com mais de 500 mil habitantes. Em 23 de abril, afetava 100% das com mais de 100 mil moradores. E, em 4 de maio, zerava a lista dos municípios com mais de 50 mil pessoas. Hoje, a doença só não foi identificada em seis municípios, o maior deles Rio Claro, na divisa com São Paulo, com 18,5 mil habitantes.
—O coronavírus segue as redes de conexão entre as cidades, irradiadas maiores para as menores. Avisamos que seria assim — diz Xavier, um dos responsáveis pela ferramenta MonitoraCovid19, da Fiocruz.
No Rio, segundo ele, um dos erros foi que medidas como o isolamento social não foram adotadas seguindo essa lógica der e desde interações e interdependências entre os municípios:
— As cidades não existem de forma isolada. Mesmo o lockdown não dá para ocorrer com decisões unilaterais. As prefeituras precisam fazer isso de forma conjunta, com coordenação dos governos estadual e federal.
Embora de forma empírica, os moradores reconhecem essa necessidade. Na Região dos Lagos, o guarda-vidas e surfista Marcos Monteiro, de 44 anos, conta que Saquarema fechou as praias depois de municípios do entorno. O resultado não demorou a aparecer.
— Muita gente que não podia surfar em suas cidades veio para cá —conta.
Às vésperas do feriado de 1º de maio, a prefeitura chegou a pedir nas redes sociais que turistas não visitassem a cidade, com 47 casos e quatro mortes pela Covid-19 até sexta-feira.
DESCOMPASSO DOS DADOS
A velocidade com que o coronavírus toma o interior, contudo, pode ser ainda maior que a divulgada oficialmente. Ao cruzar dados do boletim do estado da última quarta-feira com os anunciados por 82 municípios até então, levantamento do GLOBO mostrou que, naquele dia, havia ao menos 1.936 casos e 103 óbitos, confirmados pelas prefeituras, que não apareciam nas estatísticas da Secretaria estadual de Saúde( SES ). Ainda não estão nos bancos dedados histórias como ade um aposentado de 60 anos, morador de Miracema, no Noroeste Fluminense, morto no último dia 30. O uade um idoso de 86 anos, que tampouco resistiu à doença em Pinheiral, no Médio Paraíba. As duas cidades não apareciam com um caso sequer no boletim do estado. Já Comendador LevyG asparia n identificou, na semana passada, seu primeiro caso, e ainda era apontada como livre da doença no painel da SES. Dezoito dos casos e um óbito de Sapucaia também não eram computados. E uma das maiores discrepâncias ocorria em Teresópolis, cuja prefeitura informava 310 casos da noite da sexta-feira, mas só 77 reportados pelo estado no mesmo horário. Esse descompasso pode prejudicar outra ação que especialistas apontam como crucial no cenário em que a doença se espalha: o manejo e o dimensionamento da rede hospitalar para atender os pacientes.
— Três Rios, por exemplo, precisará dar conta da sua população e de outras, como ade Sapucaia—afirma Regina Flauzino, especialista em Saúde Coletiva e Epidemiologia das Doenças Transmissíveis da UFF.
Conselheiro da Associação dos Hospitais do Rio (Aherj), o médico Graccho Alvim Neto sugere, inclusive, parcerias interestaduais:
— Pacientes poderiam ser levados, por exemplo, para Minas, que tem cidades hoje com uma situação mais confortável.
Senão forem tomadas medidas regionalizadas, coma inauguração de hospitais de campanha, Diego Xavier, da Fiocruz, aponta que as consequências podem ser graves:
—Há o risco de ambulâncias dessas pequenas cidades ficarem com os doentes sem ter para onde levar.
Questionada na quinta-feira, a SES não respondeu como planeja organizar o sistema de saúde no interior. Já sobre a defasagem nos números da pandemia, o órgão disse que a notificação de casos e óbitos é de responsabilidade dos município seque, se observadas discrepâncias, a Subsecretaria de Vigilância em Saúde entra em contato coma prefeitura. Já o Palácio Guanabara afirmou que o governador apoiará e colocará a estrutura do estado à disposição, incluindo a Polícia Militar, das prefeituras que decretarem medidas mais rígidas de isolamento, como o lockdown.
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CAPA – Manchete principal: *”Compras sem licitação por Covid-19 são investigadas em 11 Estados”*
EDITORIAL DO ESTADÃO - *”Assombrações”*: Estão bem longe da perfeição as instituições republicanas do Brasil. Não são poucos os exemplos de abusos ou omissões do Supremo Tribunal Federal ou de corrupção e irresponsabilidade do Congresso. Ainda assim, se o Brasil pretende permanecer uma democracia, é preciso lutar para aperfeiçoar e prestigiar esses pilares, e não sugerir, como fazem os bolsonaristas, que estaríamos melhor sem eles. Do mesmo modo, a saúde da democracia se mede pelo vigor da oposição. Nenhum grupo no poder que se considere democrático pode tratar a oposição como se fosse uma ameaça existencial. No Brasil sob a Presidência de Jair Bolsonaro, contudo, todos os que não devotam total lealdade ao governo são vistos não como opositores, mas como inimigos que almejam destruir o País. O bolsonarismo, como todo movimento de corte autoritário, vive de cevar fantasmas para atemorizar a sociedade. A todo momento, vozes muitas vezes autorizadas por Bolsonaro – quando não o presidente em pessoa – invocam das trevas imaginárias a assombração da volta do lulopetismo ao poder. Segundo esse discurso, quem contraria Bolsonaro – na imprensa, no Congresso e no Judiciário – faz parte de uma grande conspiração para ressuscitar a turma de Lula da Silva, o Belzebu do bolsonarismo.
Nada nem ninguém escapa desse julgamento sumário – até o ex-ministro Sérgio Moro, outrora herói bolsonarista, foi chamado de “Judas” pelo presidente Bolsonaro porque ousou contestá-lo. Se o Supremo toma decisões que atrapalham o projeto de poder bolsonarista, como tem acontecido com frequência ultimamente, isso significa que os ministros togados estão a serviço do diabo, que não é vermelho à toa. Se o Congresso não vota os projetos do governo e não aceita sem discussão todas as medidas, inclusive as esdrúxulas e as ilegais, emanadas do Palácio do Planalto, então está claro que os políticos continuam a ser o grande empecilho para a redenção nacional prometida por Bolsonaro. O bolsonarismo empenha-se em fazer o País acreditar que poucos brasileiros hoje se abalariam em defender o Supremo e o Congresso, especialmente quando estes se negam a atender aos desejos de Bolsonaro. Afinal, dizem, Bolsonaro é justamente a resposta natural e necessária a um sistema podre, que só pode ser aniquilado de vez por alguém como ele, que deliberadamente ignora os mais básicos princípios do exercício da Presidência. Sendo assim, quando desrespeita as instituições republicanas, Bolsonaro, segundo os ideólogos do movimento que leva seu nome, na verdade está enfrentando corajosamente os responsáveis pela destruição do Brasil. Nessa mistificação que faria inveja aos fabuladores petistas em seus bons tempos, Bolsonaro surge como o campeão da guerra para livrar o País da corrupção e do “marxismo cultural”, cuja máxima expressão é o Foro de São Paulo, organização de partidos esquerdistas latino-americanos que só petistas nostálgicos e bolsonaristas paranoicos ainda levam a sério. Para o bolsonarismo, o Foro de São Paulo e o PT de Lula da Silva são mais perigosos para o
País do que o coronavírus, tratado pelo presidente Bolsonaro como uma “gripezinha”. Pouco importa que Lula da Silva seja hoje praticamente um zumbi político, que só aparece no noticiário quando sofre suas rotineiras derrotas na Justiça nos diversos processos a que responde por corrupção. Lula, o PT e a esquerda latino-americana são as estrelas do bestiário bolsonarista, que o presidente brande sempre que precisa justificar os atos injustificáveis de sua funesta Presidência. Mais de uma vez, Bolsonaro cobrou apoio incondicional a seu governo sob o argumento de que, sem isso, “o PT volta” ou então “o Brasil vai se transformar numa Venezuela”. No mais recente exemplo disso, durante a vergonhosa intrusão no Supremo Tribunal Federal protagonizada por Bolsonaro e um punhado de sindicalistas patronais, para pressionar aquela Corte a flexibilizar as medidas de isolamento adotadas contra a pandemia de covid-19, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que “a economia está começando a colapsar e não queremos o risco de virar uma Venezuela” ou “de virar sequer a Argentina”. Cruz-credo!
*”Compras emergenciais são investigadas em 11 Estados”* - A pandemia de covid-19 pressiona prefeitos e governadores a agir de forma rápida para assegurar a aquisição de insumos necessários ao enfrentamento da doença. Respiradores, máscaras e demais equipamentos de proteção individual entraram para a lista prioritária de compras realizadas sem licitação em função do novo coronavírus. É uma guerra comercial, mas que revela implicações políticas e até policiais. Desde abril, investigações por mau uso do dinheiro público se espalharam por ao menos 11 Estados e o Distrito Federal. Desde fevereiro, a legislação brasileira permite que gestores públicos comprem, sem fazer licitação, bens, serviços e insumos destinados ao enfrentamento da pandemia. Os contratos passam a ser investigados quando Ministério Público e polícia notam indícios de irregularidades, como preços muito acima da média praticados por fornecedores ou demora para entregar mercadorias. Segundo o Ministério Público Federal, que atua nas investigações quando há repasse da União, há 410 procedimentos abertos de forma preliminar que podem originar processos criminais.
Em São Paulo, o Ministério Público Estadual instaurou um inquérito civil, desmembrado em cinco procedimentos, para apurar compras do governo João Doria (PSDB). A gestão fechou o maior contrato estadual até aqui: US$ 100 milhões (cerca de R$ 574 milhões) por 3 mil respiradores da China. Por enquanto, 150 unidades foram liberadas pelo governo chinês, que limita a entrega em lotes. Segundo a administração tucana, a empresa chinesa foi escolhida após pesquisa de mercado por apresentar as melhores condições de volume e prazos. “A aquisição cumpriu as exigências legais e os decretos estadual e nacional de calamidade pública”, informou o governo. Na semana passada, Doria anunciou a criação de uma corregedoria para acompanhar compras relacionadas à covid-19. No Paraná, o comitê de crise criado para a pandemia já tem entre seus participantes o controlador-geral do Estado, Raul Siqueira, que instituiu um conselho de aquisições públicas em parceria com o Tribunal de Justiça, o Ministério Público e o Tribunal de Contas do Estado. Em outros Estados, investigações apuram situações em que os produtos não foram entregues, mesmo após o pagamento integral. São os casos de Rio de Janeiro e Santa Catarina, onde o governador Carlos Moisés (PSL) vai enfrentar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar se houve desvio de recursos na negociação dos respiradores. Anteontem, uma força-tarefa da Polícia Civil de Santa Catarina cumpriu 35 mandados de busca e apreensão em quatro Estados. A Operação O2 (símbolo do oxigênio) investiga a compra de 200 aparelhos por R$ 33 milhões.
O governo catarinense afirma que apoia as investigações e busca reparação aos cofres públicos por meio judicial em processo conduzido pela Procuradoria-Geral do Estado. Em nota, disse ainda que instaurou sindicância interna para apurar possíveis irregularidades e afastou preventivamente servidores. O secretário de saúde, por exemplo, deixou o cargo. No Rio, o ex-subsecretário de Saúde Gabriell Neves e outros três suspeitos de obter vantagens em contratos emergenciais para a aquisição de respiradores foram presos na semana passada. O governo de Wilson Witzel (PSC) fechou contrato de R$ 9,9 milhões por 50 aparelhos. A investigação corre em sigilo. O governo informou que o subsecretário foi afastado e que os contratos são monitorados por auditoria permanente. A origem do recurso empregado – via governos federal, estaduais, municipais ou uma mescla de todos – dificulta a fiscalização. Na Paraíba, a Operação Alquimia, da Polícia Federal, apura o desvio de verbas do Estado e da União em Aroeiras, na região de Campina Grande. A suspeita é que a prefeitura tenha usado parte dos repasses destinados à compra de insumos médicos para adquirir, por R$ 580 mil, cartilhas sobre o coronavírus oferecidas, de graça, no site do Ministério da Saúde. A prefeitura não foi localizada para comentar.
Prejuízo. Denúncias também renderam ações da PF no Amapá, onde a Operação Virus Infectio apontou variações de até 814% no preço de máscaras compradas pelo fundo estadual de saúde. Se a irregularidade se confirmar, o prejuízo seria de R$ 639 mil. O governo de Waldez Góes (PDT) diz que a compra ocorreu no início da pandemia, quando os preços estavam “majorados”. Após a ação da PF, Góes abriu uma conta específica dos gastos com a pandemia para facilitar a fiscalização.
*”Respiradores chegam quebrados e falsificados”* - Assim como o avanço de casos da doença, denúncias de negócios supostamente superfaturados se alastram pelo País. Mas há situações em que a suspeita de irregularidades parte do próprio poder público. Na semana passada, a Prefeitura de Rondonópolis, terceira maior cidade de Mato Grosso, chamou a polícia após constatar que 22 respiradores comprados por R$ 4,1 milhões eram falsos. O vendedor, que está preso, entregou monitores cardíacos em caixas “maquiadas” com adesivos e manuais dos produtos solicitados pela administração municipal. No Pará, o governador Helder Barbalho (MDB) se disse surpreso ao constatar que os primeiros 152 aparelhos de um total de 400 importados da China, por R$ 50 milhões, chegaram sem condições de uso. A PF abriu procedimento para investigar, e Barbalho conseguiu na Justiça o bloqueio dos bens da empresa contratada, além da retenção dos passaportes dos sócios até que se forneçam equipamentos em condições de funcionamento ou que se faça o ressarcimento do valor empenhado. O Pará entrou em lockdown ontem. O Estado já soma mais de 650 mortes. Em Roraima, o secretário da Saúde foi exonerado depois de comprar e pagar, de forma antecipada, respiradores que não foram entregues. “No nosso caso, o secretário não seguiu os ritos internos. Não comunicou sobre a compra à controladoria nem a mim. Não se trata de má-fé, mas de falha administrativa”, afirmou o governador Antonio Denarium (PSL), que diz ter aberto sindicância interna para apurar o caso.
*”Multa por fake news chega a R$ 10 mil”* - O dinamarquês Salah Sulaiman, de 46 anos, disse em seu canal no YouTube que a polícia de Kuala Lumpur, capital da Malásia, demorou cerca de uma hora para atender uma ocorrência que ele havia denunciado. Os oficiais provaram que o atendimento, na verdade, demorou só oito minutos. Com isso, ele se tornou o primeiro preso no âmbito da lei contra fake news que começava a valer no país asiático. Isso aconteceu em 2018 e, dois anos depois, as tentativas de punir a produção e disseminação de informações falsas se intensificaram, sobretudo em meio à pandemia do novo coronavírus. No Brasil, ao menos três Estados já aprovaram leis para punir quem divulga fake news. A decisão mais recente é do Acre, onde quem for flagrado distribuindo desinformação na internet sobre a pandemia terá que pagar multa de R$ 7,4 mil. A punição pode chegar a R$ 2,2 mil no Ceará e R$ 10,2 mil na Paraíba, onde também foram aprovadas leis. Segundo analistas, porém, o discurso de proteger a saúde do cidadão pode trazer riscos à liberdade de expressão e de imprensa. As leis aprovadas até agora nos Estados têm informações gerais sobre quem pode ser punido. Para a presidente da Comissão de Estudos Constitucionais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Ceará, Arsenia Breckenfeld, que analisou a regra aprovada em seu Estado, a lei é dúbia por citar “meios eletrônicos ou similares”, o que não representa clareza sobre qual é plataforma.
A descrição é semelhante nas leis aprovadas nos outros dois Estados. Além disso, a falta de critério sobre quem vai atestar se a informação é falsa pode abrir brechas para o cerceamento da liberdade de imprensa, avalia Marcelo Träsel, presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). “A imprensa é quem mais produz informação sobre a pandemia. E muitas autoridades são negacionistas. Se alguma delas receber o vídeo de um epidemiologista defendendo a quarentena, vai considerar ‘fake news’?”, questiona. “Como as leis são vagas, fica a critério das autoridades decidir o que se enquadra e o que não”, afirma. O Estadão levantou medidas como essas em discussão já em pelo menos mais cinco assembleias legislativas do País. Em São Paulo, o deputado estadual Thiago Auricchio (PL) propõe multa de até R$ 5,5 mil a quem divulgar fake news sobre o coronavírus. “A desinformação é perigosa em qualquer momento, mas, no quadro atual se torna mais grave pois pode custar vidas”, diz o parlamentar. Projetos similares tramitam nas assembleias do Piauí, Amazonas, Espírito Santo e Bahia.
Imprensa. O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB) revogou horas depois de sancionar, na sexta-feira passada, uma lei aprovada pelos deputados que permitiria ao Estado multar quem divulgasse informações e opiniões “sem comprovação de veracidade” com o objetivo de provocar desinformação ou para “manchar a honra pessoal de autoridades”. A regra valeria inclusive para a imprensa. “O texto aprovado implica em vício forma e material de inconstitucionalidade”, explicou o governador após o veto. Ele promete enviar um projeto com nova redação para a assembleia. O movimento acontece após uma sequência de casos de fake news envolvendo a ação dos Estados frente à crise de coronavírus. No Ceará, antes da aprovação da multa, a administração de Camilo Santana (PT) foi alvo de um boato que utilizava áudio falso para sugerir que o governador estaria usando a pandemia para desestabilizar o governo do presidente Jair Bolsonaro. O áudio era atribuído a um suposto assessor do governo chamado Ricardo Certi, mas ele não consta da lista de servidores estaduais. De acordo com a Secretaria da Casa Civil do Ceará, o caso foi informado às autoridades para que seja investigado.
Na Bahia, o governo estadual apresentou, na terça-feira passada, projeto sugerindo multa que pode chegar a R$ 18,8 mil a quem divulgar informações falsas sobre pandemias. O projeto do governador Rui Costa (PT) ressalva que textos produzidos por jornalistas e textos opinativos não podem ser considerados ilícitos. “Desconheço a polêmica criada de que nosso projeto para combater as fake news iria cercear a liberdade de expressão. Jamais existiu essa intenção. Mais do que nunca, o momento é da sociedade de unir para combater essa milícia digital que tanto mal tem feito ao nosso País”, diz Costa.
Risco. Para Cristina Tardáguila, diretora adjunta da International Fact-Checking Network, entidade ligada ao Instituto Poynter que reúne mais de 80 organizações de checagem de informações, é um risco que o Estado faça regulamentação de um conceito que ainda não tem uma definição clara. Ela relata que experiências de regulamentação em países como Tailândia, Índia e Cingapura abriram brechas para violação de direitos humanos. Para Cristina, os projetos e multas contra fake news podem levar a regulamentações com consequências graves, como o caso de Sulaiman, citado no início desta reportagem. “Já estivemos em países onde legislações foram aprovadas e que passaram a vivenciar situações de autocensura e de censura. É enorme a possibilidade de a América Latina replicar as falhas no combate à desinformação que aconteceram na Ásia.” “É uma pena que essa discussão, que merece um enorme debate democrático, esteja acontecendo num momento em que a conversa não está fluindo normalmente (por causa da pandemia do coronavírus). Qualquer tentativa de legislar sobre isso, neste momento, é oportunismo”, diz a diretora da International Fact-Checking Network.
*”Bolsonaro minimiza gasto recorde de cartão corporativo”* - O presidente Jair Bolsonaro minimizou ontem gastos com cartões corporativos da Presidência. Para apoiadores, mesmo sem ser questionado, ele disse que as despesas subiram porque teve de enviar aviões à China para repatriação de brasileiros que estavam isolados em Wuhan, em razão do surto da covid-19. “Teve quatro aviões para China para buscar gente lá. Daí gastou mesmo”, disse. O Estadão mostrou, na edição de ontem, que gastos com cartão corporativo da Presidência da República, usado para bancar despesas sigilosas do presidente, dobraram nos quatro primeiros meses de 2020, na comparação com a média do mesmo período nos últimos cinco anos. A fatura entre janeiro e abril foi de R$ 3,76 milhões, valor que é lançado mensalmente no Portal da Transparência do governo, mas cujo detalhamento é escondido pelo Planalto. As declarações foram feitas no fim da tarde de ontem, quando Bolsonaro parou em frente à residência oficial para conversar com apoiadores. Ele retornava de uma cerimônia de “chá revelação” na casa de deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), seu filho, que será pai de uma menina. Confrontado por um cidadão, que afirmou que “a democracia pede sua renúncia ou impeachment”, o presidente respondeu que fica no comando do País até 1.º de janeiro de 2027. Para seguir no cargo até essa data, Bolsonaro precisa vencer a eleição presidencial de 2022 e cumprir um segundo mandato inteiro. “Vou sair em 1.º de janeiro de 27”, disse Bolsonaro. Quando o homem mencionou renúncia ou impeachment do presidente, ele foi vaiado por apoiadores de Bolsonaro que vão diariamente ao Palácio do Alvorada. Mais de 30 pedidos de impeachment contra Bolsonaro foram apresentados ao Legislativo em cerca de 16 meses. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já afirmou que não é o momento de colocar o tema em pauta.
Vídeo. Nas redes sociais, Bolsonaro, voltou a criticar medidas de isolamento social aplicadas por governos estaduais e fez reclamações sobre a imprensa. Em duas publicações, Bolsonaro compartilhou vídeos em que presta conta de ações desenvolvidas pelo governo federal, fala mal da imprensa e dos governadores e compila declarações feitas por ele e sua equipe – sem citar os momentos em que minimizou a pandemia, quando a chamou de “gripezinha”. Assinado pela Secretaria de Comunicação, a peça publicitária tem 4 minutos de duração e começa com uma mensagem criticando a imprensa. Após apresentar uma série de manchetes de jornais nacionais e internacionais criticando a postura do presidente na condução da pandemia, o vídeo lista medidas do governo federal, intercalando com declarações de Bolsonaro e dos ministros Paulo Guedes (Economia), Onyx Lorenzoni (Cidadania) e Nelson Teich (Saúde). O vídeo também foi compartilhado pela conta oficial da Secom ontem à tarde. Na mensagem, o perfil oficial do governo escreveu a seguinte mensagem: “Parte da imprensa insiste em virar as costas aos fatos, ao Brasil e aos brasileiros. Mas o governo, por determinação de seu chefe, seguirá trabalhando para salvar vidas e preservar o emprego e a dignidade dos brasileiros. O trabalho, a união e a verdade libertarão o Brasil.” O texto foi rapidamente criticado por internautas, que viram semelhanças entre a parte final do texto e o slogan nazista “O trabalho liberta”, famoso por ter sido afixado na entrada do campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, onde se estima que mais de 1 milhão de judeus foram mortos. Em outra publicação, Bolsonaro criticou o governo do Maranhão. O governador Flávio Dino (PCdoB) respondeu citando passeio de jet-ski do presidente.
*”Homens mexem em lixo de sala de imprensa”*
*”Lula não encontra protagonismo após deixar prisão”* - Quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou a carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, em 8 de novembro do ano passado, lideranças partidárias avaliavam que, fora da prisão, ele poderia ajudar a organizar a oposição contra o presidente Jair Bolsonaro. Seis meses depois, porém, o petista não encontrou o protagonismo político que tinha no passado, mantém pouca interlocução com outros setores da oposição e praticamente não tem diálogo com segmentos da sociedade fora da esquerda. Acostumado a tomar algumas das principais decisões do partido, Lula foi confrontado recentemente em uma escolha do PT em Pernambuco e não atuou para resolver impasse em torno da candidatura para a prefeitura de São Paulo. “A libertação de Lula não despertou qualquer nova energia no partido”, avalia o cientista político Carlos Melo, do Insper. “Lula preso tensionava muito mais com a política do Brasil do que agora”, disse. De novembro para cá, Lula não se reuniu nem com antigos aliados, como os presidentes do PDT, Carlos Lupi, e do PSB, Carlos Siqueira. O ex-presidente José Sarney (MDB) e outros antigos parceiros políticos já reclamaram a interlocutores do que chamam de isolamento de Lula. Presidentes de centrais sindicais que não são ligadas ao PT também criticam a postura. “Ele está bastante recluso, contido, acho até que por orientação dos advogados. Não está aquele Lula de antigamente”, disse Lupi, que foi ministro do Trabalho. Para Siqueira, os sinais de que Lula teria uma atuação menos ampla foram dados logo em seu primeiro discurso após deixar a prisão, quando defendeu que o PT lance candidatos próprios em todas as grandes cidades. “Podia ter sido um discurso de unidade da esquerda mas foi um exclusivista, pensando no PT”, disse ele.
Exceções nas agendas de Lula são encontros com Guilherme Boulos (PSOL), líderes de movimentos sociais e acadêmicos para debater questões como economia e saúde. A presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann, afirmou que começou a articular encontros de Lula com os presidentes das outras siglas antes da pandemia e deve retomar as conversas. Para ela, a atitude de Lula não mostra isolamento, mas, sim, um novo posicionamento político. O ex-presidente passou um ano e meio preso, após ser condenado em segunda instância a 12 anos e um mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá. O processo já chegou ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), que reduziu a pena a 8 anos e 10 meses. Na quarta-feira passada, o Tribunal Regional Federal da 4ª. Região (TRF-4), manteve a condenação do petista a 17 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro na investigação do sítio de Atibaia.
Partido. Nos últimos seis meses, o ex-presidente se dedicou a resolver questões familiares e ao relacionamento com a socióloga Rosângela da Silva, a Janja, com quem está morando. Também têm tomado tempo de Lula as disputas internas do PT. No início do ano, ele participou de uma reunião para arbitrar a disputa entre quem defende o apoio a João Campos (PSB-PE) e à deputada Marília Arraes (PT-PE) na candidatura à prefeitura do Recife. Segundo relatos, Lula tentou impor o nome de Marília mas foi confrontado pelo senador Humberto Costa (PT-PE), que defende aliança com o PSB. Também não tem se esforçado para evitar a indicação de Jilmar Tatto como candidato do PT a prefeito de São Paulo. Para lideranças petistas, são sinais de que Lula hoje depende mais do PT do que o partido depende dele, ao contrário do que ocorreu nos últimos 40 anos. Lula tem intensificado as transmissões ao vivo pela internet e entrevistas a rádios e jornais regionais e veículos do exterior. Com relação às próximas eleições, auxiliares dizem Lula não descarta novas alianças para fora da esquerda, mas não está disposto e não vê condições para repetir a ampla conciliação com empresários e partidos políticos que o ajudou a se eleger em 2002. Os termos seriam outros. Um dos motivos é a adesão de grande parte da elite ao bolsonarismo.
ENTREVISTA: MARINA SILVA (Rede), ex-ministra e ex-senadora - *”Presidente está esfacelando qualquer forma de ação conjunta”*
*”Com dois assessores infectados, Trump enfrenta vírus dentro da Casa Branca”*
*”Asilo estatal de veteranos tem 72 mortes”*
*”Apesar de casos, governo defende reabertura”*
*”Ásia teme outra onda de infecções com novos casos”*
*”Com menos UTIs que a Grande SP, interior já teme sobrecarga hospitalar”* - Com mais de 12 internações e 4 mortes por hora no Estado, a interiorização acelerada de casos da covid-19 em São Paulo colocou em alerta autoridades e profissionais de saúde, que não descartam colapso geral da rede de atendimento hospitalar, com a possibilidade de um pico da doença e a aproximação do inverno. Das 645 cidades paulistas, 412 já têm pelo menos um caso confirmado, e há um ou mais óbitos em 177 municípios. Entre os dias 3 de abril e 1.º de maio, o Estado registrou crescimento de 2.532% nos contaminados no interior, enquanto na região metropolitana o avanço foi de 625%. Ao menos 90 cidades paulistas com até 10 mil habitantes tinham casos positivos de coronavírus até sábado. Dessas, 26 têm menos do que 5 mil habitantes. Em 11 pequenas cidades já houve ao menos uma morte pela covid-19. Nenhuma dispõe de leitos de UTI. De acordo com o pesquisador Raul Borges Guimarães, especialista em geografia da saúde da Universidade Estadual Paulista (Unesp), a covid-19 pode intensificar o fluxo das pequenas cidades para os centros maiores, causando excesso de demanda. O Estado é o epicentro de casos de contaminação pelo coronavírus no Brasil, com 3.709 mortes (101 relatadas no último balanço diário) e 45.444 infectados. Levantamento que integra o Plano de Contingenciamento do Estado de São Paulo, feito há duas semanas, sobre hospitais e quantidade de leitos (clínicos e de UTI), existentes e previstos para ampliação para receber os pacientes com covid-19, mostra que havia 5.676 vagas de UTI (adulto e pediatria) para as 645 cidades paulistas. Desse total, 3.144 eram na capital e nas cidades da Grande São Paulo e 2.532 leitos nas cidades do interior e do litoral.
Hoje, são mais de 9,8 mil pacientes internados em SP, sendo 3.909 em UTI e 5.938 em enfermaria. A taxa de ocupação dos leitos de UTI reservados para atendimento da covid-19 é de 67,9% no Estado de São Paulo e 83,3% na Grande São Paulo. Com 52% da população do Estado, o interior e o litoral paulista tiveram até aqui um cenário distinto do vivido na região metropolitana, onde estavam concentrados até a semana passada 85% dos casos de covid-19. Possível reflexo das medidas de isolamento social iniciadas em março. Mas esse cenário, de aparente tranquilidade, tem mudado e rápido. A taxa de concentração de novos casos da covid-19 no Estado em cidades fora da Grande São Paulo subiu de 15% para 32% na semana passada. No dia 17 de março – fim da primeira semana da pandemia –, São Paulo tinha 164 casos no Estado e 1 morte, com casos concentrados na Grande São Paulo. Dia 30 de abril, esse número já era de 28.698 casos e 2.735 mortes, com registros espalhados para todas as regiões. Se antes os relatos eram de 7 cidades com registro do primeiro caso a cada três dias, agora são 38 municípios registrando a chegada da doença a cada três dias. O Secretário de Desenvolvimento Regional do Estado, Marco Vinholi, alertou sobre os riscos dessa interiorização da doença. Se a curva de crescimento for mantida, até o fim de maio todas as 645 cidades paulistas terão registros. “Não existe nenhuma região protegida. Nesse momento, a onda epidêmica está se distribuindo”, afirmou Dimas Covas, diretor do Instituto Butantã.
Sobrecarga. A taxa de ocupação de leitos de UTI para a covid-19 no interior e no litoral também tem crescido mais rápido. Na sexta-feira, havia 3.474 internados com coronavírus nas unidades de terapia intensiva do Estado, taxa de ocupação de 70,5%. Um dia antes, a taxa estadual de ocupação desses leitos era de 66,9%. Já a taxa de ocupação dos leitos UTI na capital e cidades do entorno manteve-se em 89,6% nos dois dias. Segundo o presidente do Conselho dos Secretários Municipais da Saúde de São Paulo, Geraldo Reple, que integra o Centro de Contingência do Coronavírus do Estado, na semana passada foi atingida outra marca negativa no Estado: em um único dia foram internadas 1 mil pessoas com a covid-19, enquanto 600 tiveram alta. “Se essa proporção continuar ou até crescer, que é o que parece que vai acontecer, nós estaremos em uma fase extremamente complicada”, afirmou. “Todas as cidades têm plano de contingenciamento, mas muitas não estão preparadas. Muitos municípios não têm leito de UTI. Provavelmente, muitos não têm nem leito de estabilização.”
Frio. O inverno e a chegada do frio, como ocorreu semana passada, é outro agravante que preocupa profissionais de saúde no Estado. Nesse período, historicamente a quantidade de doentes com problemas respiratórios aumenta na rede hospitalar e a capacidade de atendimento nos hospitais beira o limite, como destaca o médico pneumologista e intensivista Luiz Cláudio Martins, que é professor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. “Esse aumento é certo, vai ocorrer. E com a covid-19 é óbvio que vai sobrecarregar ainda mais a rede.” Martins conta que no HC da Unicamp os registros de crianças com a covid-19 internadas ainda são baixos, mas nas enfermarias de pediatria há lotação de casos de doenças respiratórias, em decorrência do frio. “É muito preocupante.”
Isolamento. O crescimento de novos casos da covid-19 tem sido mais acelerado nos últimos dias no interior e no litoral do que na Grande São Paulo. A taxa de isolamento social no Estado foi de 47% nos últimos dias, bem abaixo do esperado 70%. Isso levou o governador João Dória (PSDB) a prorrogar a quarentena até o fim do mês, apesar da pressão de diversas cidades por flexibilização. Para o especialista em geografia da saúde e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Raul Guimarães, o avanço acelerado da doença no interior e no litoral está diretamente relacionado ao relaxamento da quarentena. “O risco de faltar capacidade de atendimento hospitalar para os casos mais graves é grande.” O médico pneumologista e professor da Unicamp, Luiz Cláudio Martins, concorda e afirma que a flexibilização da quarentena neste momento seria “algo temerário, que precisa ser tratado com muito cuidado”. “Não podemos menosprezar uma doença que, em um dia, matou mais de 700 pessoas. O distanciamento é vital neste momento.”
*”Hospital de referência da Unicamp já tem 80% de ocupação”*
*”Na favela, escola vira centro para morador se isolar”* - Jessica Fernandes abraçou e beijou a mãe antes de ela ser internada – e morrer vítima do coronavírus há cerca de 20 dias. “Não posso mentir, fiz isso, senti que era uma despedida.” Depois, foi visitar o pai. Ambos se contaminaram. Ele também foi parar no hospital, mas sobreviveu. A desempregada, de 27 anos, é uma das primeiras pacientes que aceitou morar provisoriamente numa escola adaptada de Paraisópolis para não passar o vírus a mais ninguém. O Estado conversou por videoconferência com o grupo que inaugurou, na semana passada, o espaço na escola estadual que fica na entrada da favela em São Paulo. Como é um centro de isolamento, jornalistas não podem entrar no local. O pedreiro Adeildo Barbosa da Silva, de 46 anos, virou cameraman da reportagem. Com seu celular, ele mostrou as salas de aula transformadas em dormitórios, as camas hospitalares na frente da lousa, agora sem função. “Tudo é novinho e bem organizado. A comida é muito boa também, os cozinheiros estão de parabéns”, comentou.
O Wi-Fi gratuito funciona bem. Foi uma das providências dos organizadores do projeto para que os residentes pudessem manter contato com o mundo de fora, ver filmes, se entreter. Visitas são proibidas, como em qualquer hospital com pacientes da covid-19. Adeildo encontra Jessica no corredor, sentada, sozinha. Ela diz que tem sido um momento de reflexão depois de sua vida virar do avesso por causa “dessa doença que ninguém conhecia”. “É muita dor esse vírus pegar a pessoa que você mais ama”, diz, sobre a mãe. “Dá muito medo. Minha casa tem um cômodo só, como vou me curar lá? Eu ia acabar saindo, não ia ficar quieta”, continua a moça, usando o argumento que fez o projeto surgir na comunidade. Jessica está na Escola Estadual Etelvina de Goes Marcucci, que foi inaugurada na semana passada como o primeiro Centro de Isolamento para Covid-19. Apenas moradores de Paraisópolis podem usar o serviço. Uma outra escola da comunidade também já está pronta para receber pacientes leves do coronavírus e uma terceira, no Jardim Ângela, começa a ser reformada, em parceria com a Fundação Itaú. O programa inclui ainda uma quarta escola em local ainda não definido. “A ideia é menos de tratamento e mais de tirar as pessoas de circulação, para que elas deixem de ser agentes contaminantes”, explica a coordenadora do projeto, da ONG Parceiros da Educação, Ana Leite. Pacientes de alto risco ou com a doença não controlada não podem ser direcionados para lá.
Nova casa. Mais de 40 mil pessoas vivem na favela de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo. Quando a doença começou a se espalhar pelo local, o líder comunitário Gilson Rodrigues pediu ajuda para alugar uma casa no Morumbi, a fim de instalar pacientes que não tinham necessidade de internação, mas que acabariam infectando muita gente se ficassem circulando ou isolados em suas moradias. A quantidade de pessoas em espaços pequenos e a pobreza são grandes barreiras tanto para o isolamento quanto para a higiene, já que há compartilhamento de banheiro, pia, cama e utensílios. Mais de 1 milhão de pessoas moram em locais superlotados na capital, com mais de três familiares por dormitório. A ONG, então, decidiu que a melhor opção seria transformar escolas, desocupadas pela suspensão das aulas, em casas para essas pessoas. Procurada, a Secretaria Estadual da Educação cedeu as unidades. E, em poucos dias, a ONG arrecadou R$ 3 milhões com doadores físicos, que pediram para seus nomes não serem divulgados. Até sexta-feira, a escola abrigava os primeiros 25 residentes. As duas unidades de Paraisópolis podem receber até 510 pessoas. Jessica acha que algumas pessoas não querem ir para lá porque pensam que se trata de uma “prisão”. Há horário para comer e tomar banho, mas os residentes ficam livres o dia todo para fazer o que quiserem. Ana acredita que é apenas uma questão de tempo e de a informação chegar aos moradores. Os organizadores trabalham com a possibilidade de o espaço estar cheio em até dez dias.
Pingue-pongue. Adeildo mostra com seu celular as mesas de pingue-pongue, pebolim e para jogar cartas, compradas para a escola. Há ainda duas salas de TV e um refeitório. Também foram levados computadores, impressoras, equipamentos novos para cozinha industrial. Tudo vai ficar para a escola estadual quando a pandemia passar e as aulas voltarem. O governo do Estado fala em uma “possibilidade” de que os alunos retornem em fim de julho ou agosto. Independentemente da data, o espaço vai passar por uma desinfecção antes. O pedreiro Adeildo é companheiro de quarto do açougueiro Jose Luiz Nascimento, de 32 anos. “Eu não acreditava que existia esse coronavírus, vivia na rua, dizia que não era bode para usar máscara”, conta. “Acabei pegando e passando para meio mundo”, lamenta, explicando porque resolveu ir passar um tempo no centro de isolamento. Ele conta ainda que, quando descobriu a doença, ligou para os parentes em Pernambuco e todos choraram sem parar. “Quando eu ficar bom, vou voltar pra minha cidade, já decidi.” O açougueiro mora em Paraisópolis há dez anos.
Quem vai para o centro de isolamento fica, em média, 15 dias. A ideia é que uma das escolas de Paraisópolis abrigue só mulheres e outra, homens. Mas, como ainda não está cheia, eles estão separados por andares apenas. Os pacientes são apresentados a essa opção quando procuram a UBS ou a AMA de Paraisópolis. Os suspeitos de ter a doença passam pelo teste, que é realizado pelo Hospital Albert Einstein. Quando o resultado é positivo, são orientados a trocar a casa na favela pela escola. O Einstein foi também responsável por montar o protocolo de atendimento no centro. Não há médicos no local. Os cuidadores, selecionados também em Paraisópolis e que recebem salário, medem saturação e temperatura diariamente. Eles repassam informações aos médicos da UBS e da AMA, que monitoram os pacientes por telefone ou telemedicina. Uma ambulância fica disponível 24 horas para levá-los ao hospital em caso de agravamento do quadro. Há também atendimento psicológico para quem requisitar. “Do jeito que estava em casa, achava que era melhor partir já”, diz o marceneiro Sebastião da Silva, de 80 anos, sentado na cama perto de Adeildo. Ele afirma que, agora que foi para o centro de isolamento, se sente bem porque está sendo cuidado e tem um lugar gostoso para dormir. Os residentes se derretem em elogios às cuidadoras, que andam equipadas com máscara, avental, touca e a face shield, a proteção para o rosto todo. Jessica diz que fica feliz em ver “gente disposta a largar a própria vida para cuidar da gente”. “Vou ter saudade daqui quando for embora. Agora nós somos todos uma família para combater esse vírus.”
*”SP inicia rodízio 24h em toda a capital”*
*”No Pará, Dia das Mães com lockdown põe metade em casa”* - A capital paraense e mais nove municípios do Estado viveram um Dia das Mães atípico. Começou a valer a aplicação de multas para quem desrespeitar o Decreto 729/2020, que prevê a suspensão total das atividades não essenciais, o lockdown. Locais centrais de grande circulação, como feiras, mercados, supermercados e cemitérios foram intensamente fiscalizados e houve queda na movimentação. Mas, na periferia, as imagens de aglomeração se mantiveram. Pelos dados mais recentes, de sábado, o Pará permanece no terceiro lugar no ranking brasileiro de isolamento social, com 49,15%, atrás de Ceará (50,76%) e Amapá (50,71%). “Por dias seguidos nós estamos com posições boas no ranking; até primeiro lugar já atingimos. Só que o porcentual de isolamento não nos agrada, tendo em vista que temos de atingir 70%. E, por meio do cumprimento do decreto do lockdown, iremos aplicar muito mais rigor nessas fiscalizações a fim de aumentar o número de pessoas em casa”, ressaltou o secretário de segurança pública, Ualame Machado, à Agência Pará. Quem circulou pelo centro da capital encontrou ruas vazias e baixo movimento até nas feiras livres, famosas pela grande circulação de pessoas, como no complexo do Ver-o-Peso. No local, a PM fez rondas e não houve nenhum ponto crítico de aglomeração. A maior parte dos feirantes encerrou as atividades às 14 horas, antes do horário permitido, que é 15 horas. Igrejas, restaurantes, shoppings, cemitérios e todo o comércio ficaram de portas fechadas. Até as tradicionais Praças da República e Batista Campos estavam vazias. Não se via as comuns cenas de mães com os filhos passeando. Apenas alguns vendedores de flores circulavam pelas vias do centro.
Durante a operação da Polícia Civil, batizada de “Campo Santo”, uma loja de um grande grupo atacadista na capital foi advertida. Já na periferia, conforme os próprios dados do governo, algumas áreas registraram baixo isolamento, como foi o caso desde sábado de Águas Lindas (29,06%). As fiscalizações dos órgãos de segurança passaram a ser mais rigorosas. Entre as penalidades estão advertência, multa diária de até R$ 50 mil para pessoas jurídicas, a ser duplicada por cada reincidência; multa diária de R$ 150 para pessoas físicas, a ser duplicada por reincidência; e embargo e/ou interdição de estabelecimentos. A Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) publicou no fim da manhã deste domingo um novo boletim com os números de casos do coronavírus no Pará. Agora, o Estado tem 7.256 registros positivos de covid-19 e 652 mortes oficializadas. Antes das medidas mais rígidas, as dez cidades do Pará que estão sob o bloqueio tinham apenas medidas educativas. Ou seja, nas barreiras dos agentes de segurança se paravam as pessoas e os veículos apenas para o aconselhamento sobre as novas regras impostas pelo decreto – que visa agora, entre outras medidas, a diminuir a circulação de pessoas para garantir a contenção do avanço da epidemia do novo coronavírus no Estado.
O que muda. Pelas regras de lockdown só pode funcionar o comércio de gêneros alimentícios, medicamentos, produtos médico-hospitalares, de limpeza e de higiene pessoal. Todos devem obedecer algumas exigências como: controlar a entrada de pessoas, limitada a uma pessoa por grupo familiar, respeitando a lotação máxima de 50% da capacidade; seguir a distância mínima de 1 metro para as pessoas, devidamente com máscaras; e fornecer alternativas de higienização (água e sabão e/ou álcool em gel); além de impedir o acesso de pessoas sem máscara; e observar horários restritos de operação.
*”Prefeitos podem adiar pagamento da Previdência e deixar rombo de R$ 18 bi”* - O Congresso Nacional abriu uma brecha para que as prefeituras possam suspender o pagamento de sua parte na contribuição previdenciária aos regimes próprios de servidores municipais de março a dezembro de 2020. Se todos os municípios elegíveis aderirem, 2,1 mil prefeitos jogarão para os sucessores uma bomba de R$ 18,5 bilhões. O problema é que muitos desses regimes previdenciários já estão desequilibrados, e o Ministério da Economia vê risco até de faltar dinheiro para o pagamento de benefícios. O dispositivo foi inserido pelo Senado Federal no projeto de socorro aos Estados e municípios, aprovado por senadores e deputados e que agora está na mesa do presidente Jair Bolsonaro para sanção. A área técnica deve recomendar veto ao presidente, segundo apurou o Estadão/Broadcast, mas o Planalto pode ou não acolher a orientação. Um veto também pode ser derrubado no Congresso Nacional. Entidades municipais negam qualquer interesse eleitoreiro na medida, desenhada, segundo eles, para dar alívio às prefeituras num momento de sobrecarga dos sistemas de saúde e assistência para o combate à pandemia do novo coronavírus. A área econômica do governo, porém, viu na ação uma tentativa de aproveitar a calamidade pública e o afastamento de dispositivos da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) para ajudar os prefeitos a fechar as contas no período final de mandato.
Pagamentos adiados. Além de beneficiar as prefeituras que têm regimes próprios, o projeto também permite a municípios que contribuem ao INSS adiar pagamentos das prestações de dívidas refinanciadas em 2017. Naquele ano, uma lei permitiu às prefeituras parcelar cerca de R$ 75 bilhões em débitos, com descontos em multas juros, por um prazo de até 200 meses. Com a lei aprovada esta semana no Congresso, os pagamentos das parcelas ficam suspensos também entre março e dezembro de 2020. Essas prestações vão para o fim da fila, ou seja, serão quitadas apenas ao final do contrato, que dura até 16 anos e meio. A Confederação Nacional dos Municípios (CNM) estima um alívio de R$ 5 bilhões com essa medida. Procurada, a Secretaria de Previdência do Ministério da Economia informou que “avalia como tecnicamente preocupante a suspensão do pagamento das contribuições previdenciárias devidas pelos municípios”. Segundo o órgão, a iniciativa vai aumentar o endividamento previdenciário dos municípios que recolhem ao INSS e o déficit atuarial dos que têm regime próprio. O déficit atuarial reflete o rombo que sobraria nos cofres caso a prefeitura tivesse que desembolsar hoje todos os benefícios previstos para o futuro. “Alguns municípios, cujos RPPS (regimes próprios) possuem reservas financeiras muito baixas, poderão inclusive enfrentar dificuldade para o pagamento de seus aposentados e pensionistas”, alerta o órgão em nota. Segundo a Secretaria de Previdência, se todos os municípios aprovarem lei suspendendo as contribuições aos regimes próprios, a folga pode chegar a aproximadamente R$ 18,5 bilhões, “agravando a situação do desequilíbrio financeiro e atuarial desses RPPS e o risco de não pagamento de benefícios”.
*”Frente Nacional de Prefeito vê ‘alívio necessário’”*
*”Bolsonaro deve vetar reajuste de servidores”*
*”Socorro de elétricas e aéreas pode sair esta semana”*
 
CAPA – Manchete principal: *”União pagará dívida de R$ 81 bilhões a Estados”*
*”IPCA caminha para deflação no semestre, mesmo com pressão do câmbio no atacado”*
*”Incerteza alarga distância entre projeções para o PIB”*
*”União quer pagar dívida para aliviar Estados”* - Os efeitos da pandemia no agravamento da crise fiscal dos Estados levaram a União a propor um acordo para lhes pagar, ainda no exercício de 2020, 90% de uma dívida de R$ 81,3 bilhões cuja quitação se arrasta há mais de cinco anos. O montante, relativo a precatórios do Fundo Nacional de Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Fundef), seria repassado aos governadores mediante abertura de crédito extraordinário no Orçamento, para investimento imediato no combate ao coronavírus. Em troca, segundo documento ao qual o Valor teve acesso, o governo federal quer deságio entre 30% e 40% e o arquivamento de ações judiciais. A conciliação vem sendo costurada no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF), a quem os governadores recorreram para tentar evitar o colapso econômico diante da propagação da covid-19. Pelo “Plano Nacional de Negociação: Fundef”, a Advocacia-Geral da União (AGU) sugere diminuir de 100% para 10% o valor do fundo destinado à educação, para que a maior parte seja aplicada pelos Estados nas áreas de saúde e cidadania - e ainda abatida de suas dívidas com o governo federal. Sem simpatia do Ministério Público Federal (MPF), que teme perdas irreparáveis para a educação básica, a proposta está sendo analisada pelos procuradores-gerais de nove Estados: Alagoas, Amazonas, Bahia, Maranhão, Pará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe. Com uma dívida de R$ 247 bilhões com a União, São Paulo não poderia beneficiar-se do acordo, pois já recebeu a totalidade do que lhe era devido a título de Fundef (R$ 1,2 milhão).
Consultados, os governadores, embora dispostos a encerrar as demandas judiciais por meio de um encontro de contas com a União, demonstraram-se decididos a negociar um percentual menor de deságio e um indicador de correção monetária mais vantajoso. As partes devem se reunir virtualmente até o fim desta semana para uma nova rodada de debates, mediados pelo ministro Alexandre de Moraes. O Fundef vigorou no país entre 1996 e 2006, quando foi substituído pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). Em 2015, a Justiça entendeu que, devido a um erro na fórmula de cálculo dos repasses, a União pagou R$ 90 bilhões a menos do que deveria. Condenada a fazer a complementação, executou até hoje menos de 10% da dívida R$ 8,7 bilhões, de acordo com monitoramento do Tribunal de Contas da União (TCU). Nos termos sugeridos pela Advocacia-Geral da União (AGU), as verbas para a área da saúde e cidadania chegariam aos cofres estaduais já neste ano, mas as da educação ficariam para 2022, com apresentação de precatórios neste segundo semestre. O restante seria abatido da dívida dos Estados com a União. O valor que sobrar, se sobrar, engordaria a fatia destinada à educação. A AGU oferece três modelos de acordo: quanto maior o deságio, maior a fatia do pagamento a ser recebida de imediato. Por exemplo, se o Estado concordar em desvalorizar o precatório em 40% (percentual máximo), receberá 60% para investir no enfrentamento ao vírus ainda este ano, 10% para a educação em 2022 e 30% para abater de sua dívida.
Além de renunciar às ações judiciais envolvendo dívidas com a União, o governador que aderir ao acordo deverá apresentar um plano de aplicação dos recursos tanto na área da saúde (compra de equipamentos, por exemplo) quanto na mitigação dos efeitos socioeconômicos causados pelo avanço da doença. O mesmo para os investimentos em ensino básico. A fiscalização caberia aos órgãos de controle de cada Estado. Em relação ao abatimento das dívidas, a própria União deverá citar quais seriam compensadas. O Valor procurou as assessorias dos nove governos estaduais que, junto à AGU, negociam o acordo no Supremo, mas apenas quatro responderam: Bahia, Maranhão, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Todos se dizem receptivos ao acordo, desde que o deságio seja reduzido e que haja garantia de que o IPCA vai balizar os cálculos dos valores devidos. A AGU preferiu não se manifestar, para não prejudicar as tratativas. As negociações ainda poderão ser ampliadas para outros Estados. Uma das hipóteses é que os entes federativos que não tenham dívidas com a União também possam receber os complementos do Fundef para aplicá-los no combate à pandemia. A diferença estaria nos percentuais, que ficariam divididos apenas entre saúde, cidadania e educação, também mediante deságio. Já para unidades da federação como Acre, Distrito Federal, Espírito Santo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins, que não têm créditos de Fundef, o acordo deverá ser proposto de outra forma - por exemplo, adiando a retomada do pagamento da dívida com a União para que a verba equivalente seja utilizada para lidar com a crise sanitária.
*”Guedes quer fazer da Economia o modelo de reforma da gestão”* - Ministro quer levar experiência da unificação de cinco pastas sob seu comando no início do governo para toda a administração federal
*”Desemprego pode ser o maior dos últimos 25 anos, preveem analistas”* - Ibre projeta que, na média, taxa de desemprego deste ano subirá para 18,7%, depois de ter fechado 2019 com média de 11,9%
*”Caixa do governo recuou em março com elevação de gasto”* - O caixa do governo teve forte queda em março e deve continuar nessa trajetória nos meses seguintes. Dados do Banco Central mostram que o valor da conta única do governo federal, que fica depositado na autoridade monetária, caiu de R$ 1,39 trilhão em fevereiro para R$ 1,23 trilhão. O recuo equivale a cerca de 2,3 pontos percentuais do Produto Interno Bruto (PIB) nessa comparação, mas é ainda mais forte quando olhado ante dezembro, quando somava R$ 1,48 trilhão. O desempenho reflete o aumento de gastos públicos por conta da pandemia do coronavírus e a dificuldade de renovação da dívida pública pelo Tesouro. Nesse quadro, a queda no caixa tem outro efeito, a elevação das chamadas operações compromissadas, que em março atingiram R$ 1,19 trilhão, com salto de 2,4 pontos percentuais do PIB ante fevereiro. Em dezembro do ano passado elas estavam abaixo de R$ 1 trilhão. Essas operações em que o BC vende títulos com compromisso de recompra elevam a dívida bruta do governo, que já encosta na casa dos 80% do PIB. E são feitas pelo Banco Central para garantir que o juro básico (Selic) fique próximo da taxa definida periodicamente pelo Comitê de Política Monetária (Copom). A Selic hoje está em 3% ao ano. Além da queda no caixa, as compromissadas subiram por conta da liberação dos depósitos compulsórios, dinheiro que os bancos recolhem junto ao BC. Essa medida foi adotada para estimular crédito. Mas, ao ampliar a oferta de recursos na economia (liquidez), a autoridade monetária usa as compromissadas para enxugar uma parte do dinheiro e manter o juro básico no nível que ela julga adequado.
O volume das compromissadas só não foi maior por conta das intervenções no câmbio. Ao vender dólares, o BC retira reais da economia, reduzindo as compromissadas e a dívida bruta. Enquanto a liberação de compulsórios injetou R$ 108 bilhões na economia, as vendas de dólares à vista retiraram R$ 91 bilhões, em março. Apesar da queda no caixa do governo, o colchão ainda é alto e não representa um risco para rolagem da dívida. Cerca de metade dos R$ 1,23 trilhão é reservada ao pagamento de dívida. Agora, a outra metade tem sua maior parte vinculada a despesas previamente definidas e uma parte de recursos livres de uso era de pouco mais de 10% do total e deve se esgotar rapidamente à medida que o governo faz seus gastos para o enfrentamento da crise, o que pode dificultar a gestão orçamentária. “Mas parte da dívida que tem ser controlada para não ficar muito próxima de zero”, comenta uma fonte do governo, lembrando que o Tesouro considera que não é conveniente ficar com volumes inferiores a três meses de vencimento de dívida, porque ficariam mais sujeito a pagar preços mais altos em suas emissões.
Para o diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI), Josué Pellegrini, a queda na conta única é consequência direta do maior volume de gastos e do fato de o Tesouro estar emitindo menos títulos. E o movimento vai continuar. “Ele está usando dinheiro para gastar e segurando emissões de títulos, provavelmente em uma queda de braço com o mercado. O Tesouro deve achar que estão cobrando demais e não está querendo emitir.” Ele explica que o espelho dessa maior injeção de dinheiro na economia é o aumento das compromissadas e da dívida. “As compromissadas devem subir ao menos R$ 85 bilhões em abril. Acontece o que já ocorreu em março. O Tesouro não está rolando os títulos, emitindo pouco”, avaliou, lembrando também do impacto da liberação de compulsórios nesse estoque. Pellegrini não enxerga risco de o caixa do governo zerar, pois ainda haveria cerca de R$ 400 bilhões adicionais do resultado positivo do Banco Central que, em caso de necessidade, o Conselho Monetário Nacional pode determinar que sejam transferidos ao Tesouro. O ex-secretário de Política Econômica do ministério da Fazenda e especialista em política fiscal Manoel Pires diz que em abril deve ser pior em termos de redução de caixa e alta das compromissadas. Para ele, não está no cenário a conta única zerar. “Em princípio, o Tesouro pode emitir dívida [para recompor], só vai sair mais cara”.
*”‘Lockdown’ deve vir ‘antes tarde que nunca’, diz especialista”* - Médica Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Fiocruz, considera que o país perdeu o “timing” para a medida
*”Mortes superam 11,1 mil, mas Bolsonaro quer mais categorias como ‘serviços essenciais’”*
Entrevista - *”‘Resposta desdenhosa de Bolsonaro à doença custará caro ao Brasil’”*
 - Para Maurice Obstfeld, ex-economista-chefe do FMI, atitude do brasileiro fará o país ter perdas tanto em termos de vidas como de renda
*”Moro pode enfrentar cerco do Centrão e PT no Congresso Nacional”* - O ex-ministro da Justiça Sergio Moro, que já contou no passado com sua própria base de sustentação no Congresso de pelo menos cem parlamentares, agora enfrenta uma conjuntura política que lhe é especialmente hostil: depois de denunciar irregularidades no governo, ele se viu transformado em alvo, simultaneamente, da maioria dos parlamentares, de uma ala do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Palácio do Planalto. No Congresso, a soma de interesses do Centrão e do PT formou uma maioria com mais voracidade para fulminar o ex-juiz da Lava-Jato e minar seu projeto presidencial para 2022 do que para atingir o presidente Jair Bolsonaro. Em paralelo, uma ala do STF sempre viu com ressalvas a atuação de Moro na condução dos processos da Lava-Jato, por enxergar excessos em alguns atos do magistrado. Um exemplo é a jurisprudência firmada pela Corte há dois anos declarando inconstitucional a condução coercitiva de réus ou investigados para o interrogatório. Moro utilizou o expediente, por exemplo, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “A esquerda e o Centrão têm mais sede de pegar o [ex-ministro Sergio] Moro do que o [presidente Jair] Bolsonaro”, confirmou ao Valor um deputado de postura independente. Por isso, segundo ele, é mais viável prosperar no Congresso um dos nove pedidos de abertura de comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar as denúncias de Moro do que dos 31 requerimentos de impeachment contra o presidente.
Com o Centrão negociando cargos em troca de apoio ao presidente, a avaliação de parlamentares independentes e da oposição é de que eventual pedido de impeachment neste momento, se fosse processado, seria derrotado. Essa eventual vitória serviria exclusivamente para fortalecer Bolsonaro e fragilizar o Congresso, analisam esses parlamentares. Por isso, há interesse de vários grupos no Parlamento de viabilizar a instalação de uma CPI para investigar as denúncias de Moro. A avaliação é que o instrumento contempla todos os lados porque a investigação pode atingir Bolsonaro mas, igualmente, o autor das denúncias. O PT e o Centrão, juntos, têm mais de um terço dos votos nas duas Casas - número mínimo para a criação da CPI. O PT vê a oportunidade de uma espécie de revanche política com Moro, que levou à prisão o ex-presidente Lula e outras lideranças nacionais da sigla, como o ex-ministro José Dirceu. Da mesma forma, expoentes do Centrão foram alvos do ex-juiz na Lava-Jato. Se ficar comprovado que Moro tinha conhecimento dos fatos há mais tempo, ou se teve acesso a outros desvios do governo, e se calou nas duas hipóteses, o ex-ministro poderia ser investigado pelo crime de prevaricação. Empossado como um dos superministros do governo, ao lado de Paulo Guedes (Economia), Moro deu demonstrações relevantes de musculatura política no Congresso Nacional. Há um ano, na votação da reforma administrativa, ele articulou pessoalmente a manutenção do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) com o Ministério da Justiça.
A votação foi apertada: por apenas 18 votos, o órgão foi remanejado para o Ministério da Economia. Mas foi uma derrota com cara de vitória porque 210 deputados votaram com o ex-juiz. Na época, distinguindo-se do Centrão, o PSD votou em peso com Moro. Hoje o partido negocia espaço no governo Bolsonaro e tem a promessa de indicar o futuro presidente da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), um dos postos mais concorridos do segundo escalão. Moro viu seu prestígio político erodir aos poucos, a partir dos vazamentos de diálogos que manteve com procuradores da Lava-Jato quando conduzia a operação. Alguns trechos em que ministros eram citados constrangeram o STF e o episódio expôs Moro à fritura de Bolsonaro. A consequência mais evidente dessa deterioração do prestígio foi a votação do pacote anticrime, a vitrine de sua gestão no ministério, que foi conduzida na Câmara pelos deputados do Centrão: a presidente do grupo de trabalhos era a deputada Margarete Coelho (PI), do PP. O pacote acabou desidratado, representando uma derrota expressiva para Moro: dois pontos essenciais para o então ministro - a prisão após a condenação em segunda instância e o trecho que ampliava o excludente de ilicitude - não foram aprovados.
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