sexta-feira, 8 de maio de 2020

Bolsonaro pressiona STF por fim de quarentena

É tanta informação todos os dias a respeito do novo coronavírus que, por vezes, nos esquecemos de um ponto fundamental: muito desta informação é incerta. Estamos lidando com ciência em movimento. Cloroquina, que chegou a parecer uma droga promissora no trato da doença, hoje é praticamente descartada. Máscaras, que a própria Organização Mundial da Saúde chegou a dizer serem desnecessárias, hoje são recomendadas. Do início da pandemia para cá, muito mudou. Em que momento deve se ir ao hospital? Em que terapias a ciência põe seu foco no momento? O que sabemos a respeito de imunidade? Quais os percalços na busca de uma vacina? Por que em alguns lugares se espalha tão rápido e, noutros, é tão lento? Dedicaremos o Meio de Sábado a uma atualização. Ainda não é conhecimento firme, porém é mais do que sabíamos há um ou dois meses. Este vírus nos impõe uma aula a respeito dos ritos da ciência, que não oferece uma verdade instantânea mas uma lenta e contínua aproximação.



Acompanhado de um grupo de empresários, o presidente Jair Bolsonaro atravessou ontem a Praça dos Três Poderes para pressionar, pessoalmente, o Supremo Tribunal Federal. Os representantes da indústria haviam ido ao Planalto pedir políticas que auxiliem o sustento do setor durante o período da quarentena. Bolsonaro decidiu transformar o encontro num ato político pela volta ao trabalho. “Não estava na nossa agenda inicial, mas o presidente Bolsonaro trouxe a discussão da flexibilização do isolamento no país”, afirmou o presidente-executivo da Associação Brasileira de Indústria de Máquinas e Equipamentos, José Velloso. “Precisamos de uma coordenação, nós precisamos ter um trabalho conjunto para que a volta da atividade seja feita da melhor maneira possível sem risco para as pessoas e preservando o maior número de empregos possível”, completou o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico, José Ricardo Roriz Coelho. Pegando todos de surpresa, o presidente da República então entrou em contato com seu par no Poder Judiciário, Dias Toffoli, e pediu para ser recebido naquele momento. “Temos um problema que vem cada vez mais nos preocupando”, discursou Bolsonaro já no STF. “Os empresários trouxeram essas aflições, a questão do desemprego, a questão da economia não mais funcionar. O efeito colateral do combate ao vírus não pode ser mais danoso que a própria doença.” Sua queixa a Toffoli era de que havia ‘CNPJs na UTI’. O presidente do Supremo recomendou a Bolsonaro que comande o Executivo, organize um comitê de crise e proponha com estados e municípios um plano. O Planalto ainda não tem sugestão de como fazer a abertura que deseja. (G1)

No primeiro momento, o meio jurídico reagiu mal ao fato de Toffoli ter recebido Bolsonaro. Mas rapidamente, informa a Coluna do Estadão, ficou claro que ele não poderia ter fechado a porta na cara do presidente e a avaliação mudou. Toffoli conseguiu manobrar para driblar a armadilha. A principal queixa dos empresários, por sua vez, era voltada para a falta de ajuda dos bancos, principalmente do BNDES. (Estadão)

Carlos Melo, do Insper: “Bolsonaro talvez imaginasse atravessar o Rubicão. Mas, o que lhes sobrou foi o ato cênico de uma extravagante marcha pela Praça dos Três Poderes. Triunfo de nada, mais que inútil foi constrangedor. Gesto de enfrentamento? Talvez fosse intenção, mas restará como história do dia em que um presidente da República espontaneamente submeteu seu Poder a outro, como se Dias Toffoli fosse o verdadeiro chefe de Estado. Foi desconcertante assistir a um embaraçado presidente do STF dizer a Jair Bolsonaro, nas entrelinhas, que o presidente da República é ele, Jair, não Toffoli; que é tarefa do Executivo, não do Supremo, planejar ações, construir consensos, articular atores políticos e a sociedade — governadores, inclusive. Pois, quereriam mais o que aqueles senhores?” (Estadão)



A Advocacia Geral da União pediu ao ministro Celso de Mello que reconsidere. O Planalto não quer entregar o vídeo que provaria a tentativa, por Bolsonaro, de intervir na Polícia Federal do Rio. Ou, então, gostaria de enviar apenas o trecho no qual presidente e o ex-ministro Sérgio Moro interagem. (Poder 360)

Uma fotografia da reunião, tida como delicada, mostra que havia dezenas de pessoas presentes. E os vazamentos já começaram. Bolsonaro, segundo ouviu Bela Megale, estava de ‘péssimo humor’ e afirmou aos ministros que poderia demitir qualquer um — incluindo Moro. O mau humor do presidente, agora, está voltado para o procurador-geral da República, Augusto Aras. Desejava que ele tivesse esperado um pouco mais para abrir uma investigação. (Globo)



A atriz e secretária da Cultura, Regina Duarte, deu ontem uma entrevista insólita à CNN Brasil. Louvou a ditadura, descartou os mortos e torturados no período e se queixou das perguntas dos jornalistas. “Sempre houve tortura”, afirmou. “Não quero arrastar um cemitério. Por que olhar para trás? Não vive quem fica arrastando cordéis de caixões, acho que tem uma morbidez neste momento. A Covid está trazendo uma morbidez insuportável, não tá legal.” Assista. (CNN Brasil)

Contraponto: Seu par em mais de uma novela, o ator Lima Duarte gravou um dia antes um vídeo emocionado de lamento pela morte do amigo Flávio Migliaccio e choque com a celebração da ditadura. Assista.




Nenhum comentário:

Postar um comentário