Às vésperas de completar três meses da primeira confirmação de covid-19 no país, o Brasil chegou às 23.473 mortes e 374.898 casos da doença completamente acéfalo em sua frente de combate. Enquanto o Ministério da Saúde segue sem um comando oficial definido há dez dias, o país falha em apresentar qualquer plano contundente para tentar barrar a progressão da doença, que não para de acumular cifras trágicas: desde a primeira morte, em 17 de março, foram 14 óbitos por hora, em média, no país. O Governo de Jair Bolsonaro segue apostando na estratégia de incentivar o retorno da população às ruas para tentar aquecer a economia, contrariando as determinações das agências sanitárias, e vê, dia após dia, sua promessa de elixir, a cloroquina, ser desacreditada pela comunidade científica —a Organização Mundial da Saúde anunciou nesta segunda a suspensão temporária de ensaios clínicos internacionais com a droga por “precaução”.
Na medida em que o presidente escala sua defesa da cloroquina como solução para a crise, cientistas brasileiros relatam viver um pesadelo com a politização do medicamento. O EL PAÍS conversou com o infectologista Marcus Lacerda, responsável por um experiente grupo de pesquisas dedicado a malária, tuberculose e HIV. Ele coordenou um ensaio clínico com a cloroquina em Manaus e relata as ameaças da direita populista, que transformou o fármaco em uma de suas bandeiras. O teste foi suspenso antes do previsto porque 11 dos pacientes morreram e Lacerda publicou um artigo no qual alerta que o estudo que conduziu “levanta bandeiras vermelhas suficientes para que se pare de usar altas doses de cloroquina porque os efeitos tóxicos superam os benefícios”. “O linchamento começou assim que os resultados foram publicados”, explica Lacerda por telefone. Nas redes de saúde, o remédio é cada vez mais procurado.
Na Nova Zelândia, Jacinda Ardern elevou seu país com pouco mais de 5 milhões de habitantes a nova utopia para onde todo o mundo quer se mudar. Ardern se somou à lista de líderes mulheres que provaram uma eficaz gestão sanitária e social perante o coronavírus —aprovou uma lei que, sob o lema de “bata firme e bata rápido”, conseguiu achatar a curva da pandemia em três semanas (com apenas 21 mortos até o momento).
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