quarta-feira, 6 de maio de 2020

STF quer vídeo de reunião no Planalto; Pandemia se agrava

Hoje era um dia para que o arranque no número de mortes causadas pelo novo coronavírus se impusesse como manchete. Nada pode ser mais importante do que o registro de mais 600 pessoas que perderam a vida. É um recorde. Será batido logo. De que o Ministério da Saúde só entregou 11% dos testes que havia prometido. De que disparou em São Paulo, na última semana, o número de novos doentes. De que no Rio é no bairro de Campo Grande que mais morre gente. Justamente onde há mais denúncias de aglomerações humanas. Vai crescer mais e mais rápido. Mas o presidente da República, Jair Bolsonaro, transformou em prioridade sua a troca do superintendente da Polícia Federal no Rio. Isto disparou uma crise política que, ontem, levou o Supremo a convocar três ministros e a exigir a entrega do vídeo de uma reunião no Planalto. Há uma crise política gravíssima à porta que impõe, ao Brasil, uma distração inevitável enquanto o vírus mata.  


O ministro Celso de Mello deu ao Palácio do Planalto 72 horas para que apresente o registro em vídeo de uma reunião da qual participaram o presidente da República, Jair Bolsonaro, ministros e presidentes de bancos públicos, ocorrida em 22 de abril. Também quer que prestem depoimentos os ministros generais Luiz Eduardo Ramos, Augusto Heleno e Braga Netto — os três estavam presentes. Foi nesta reunião, de acordo com o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, que Bolsonaro lhe apresentou um ultimato: queria ele, pessoalmente, o controle da Polícia Federal no Rio de Janeiro. O inquérito presidido pelo decano do Supremo Tribunal Federal correrá aberto — o vídeo será tornado público. (Globo)

Se houver vídeo. De acordo com apuração do jornalista Claudio Dantas, o cartão de memória no qual ficou registrada a reunião estava nas mãos de um assessor da presidência que o devolveu ontem. Apagado. Talvez haja becape. (Antagonista)

O depoimento prestado por Sérgio Moro à PF no último sábado foi divulgado ontem, no final da tarde, furo do repórter Caio Junqueira. “Moro, você tem 27 superintendências, quero apenas uma, a do Rio de Janeiro” — afirmou o presidente, de acordo com o ex-ministro. Moro também disse que Bolsonaro não cometeu crime. Leia a íntegra do depoimento. (CNN Brasil)

Míriam Leitão: “A frase síntese dita pelo presidente — ‘você tem 27 superintendências, quero apenas uma’ — é reveladora da obsessão de interferência na Polícia Federal, mas não só. Mostra uma Presidência insana. Todos os graves assuntos de Estado para serem enfrentados, mas Jair Bolsonaro tinha uma preocupação. Era março, quando ele disse isso. A pandemia já estava infectando brasileiros. Em abril, quando ela se espalhou como uma grande tragédia humana, Bolsonaro aumentou a intensidade da pressão para nomear, a qualquer custo, o superintendente da PF no Rio de Janeiro. No relato do ex-ministro Sergio Moro à Polícia Federal, o que impressiona é o conjunto e o contexto. O presidente briga, é capaz de derrubar uma peça-chave de seu governo, para escolher o superintendente da PF no Rio. Que crime o presidente pode ter cometido, isso dependerá da capacidade de investigação da Polícia Federal. Hoje, Bolsonaro é um homem acuado. Só resta a ele a grosseria de mandar a imprensa calar a boca. Não será atendido.” (Globo)

Mas mandar calar a boca, ele mandou. Foi pela manhã, à saída do Alvorada. Em fúria, voltou-se para os repórteres se queixando da manchete da Folha. “Que imprensa canalha”, afirmou. Estava irritado com a constatação, pelo jornal, de que o novo diretor da PF havia já tirado o superintendente do Rio, como ele próprio, Bolsonaro, desejava. “Eu estou trocando ele? Eu estou tendo influência? Isto é uma patifaria”, disse com a voz elevada e repetiu. “Uma patifaria.” Quando entre os jornalistas alguém pediu esclarecimento sobre o assunto, reagiu mais incisivo. “Cala boca, não te perguntei nada.” Assista. (YouTube)

Nos bastidores, conforme ouviu Malu Gaspar, Bolsonaro já informou algumas das encomendas que pretende fazer a quem estiver no comando da PF fluminense. Qual fosse sua polícia particular, quer mandar que se descubra por que o porteiro de seu condomínio afirmou que um dos suspeitos de matar a vereadora Marielle Franco tinha ido a sua casa. O presidente desconfia de que foi armação do governado Wilson Witzel. Bolsonaro também quer uma investigação que descubra problemas no governo estadual, de preferência corrupção, para atacar seu desafeto. (Piauí)

Vera Magalhães: “De forma sucinta e extremamente calculada, Moro tratou de: 1) entregar provas, evidências, testemunhas e caminhos de investigação para todas as suas declarações do dia 24 de abril e 2) evitar dizer que Bolsonaro cometeu algum crime. Essas duas primeiras estratégias visam evitar que o ex-juiz e ex-ministro: 1) seja acusado de ter praticado denunciação caluniosa e 2) seja acusado de ter prevaricado diante do que sabia ser pedidos ilícitos do então chefe. Tomado esse cuidado, passou a executar seu outro grande objetivo com o depoimento: enredar o presidente e desenhar para a PF e o Ministério Público Federal o caminho das pedras e do xeque-mate. Moro evoca o testemunho de vários ministros, com destaque proposital aos militares. Mexe com o senso de disciplina e senso de dever das Forças Armadas e aposta que os generais não vão mentir para proteger o presidente. O golpe fatal: Moro deixa claro que a verdadeira preocupação de Bolsonaro era com o inquérito do STF, tanto que dá a cereja do bolo do depoimento, quando diz que tem outra mensagem do presidente para si sobre esse assunto (ainda inédita).” (Estadão)
É o inquérito que investiga a origem das fake news.






O Brasil soma mais 600 mortes registradas pelo novo coronavírus e leva vítimas oficiais da Covid-19 a 7.921. O Ministério da Saúde registrou ainda 6.935 novas infecções, enquanto 48.221 pessoas são consideradas recuperadas.
São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco e Amazonas. Segundo o Ministério da Saúde, ainda não há informações disponíveis para afirmar quando, efetivamente, ocorrerá o pico dos casos de contaminação e mortes pela Covid-19 nos cinco Estados mais afetados pela doença no país. A única informação que pode garantir hoje, segundo Wanderson de Oliveira, secretário da pasta, é que o período mais crítico da doença será conhecido entre maio, junho e julho.

Dos 46 milhões de testes
 anunciados pelo Ministério da Saúde para oferta no país, apenas 5,1 milhões já foram entregues, o equivalente a 11% do total. O número inclui 1,6 milhões de testes que usam a técnica de RT-PCR, que verifica o material genético, e cerca de 3,5 milhões de testes rápidos, que verificam a presença de anticorpos, doados por empresas privadas.

Pois é... a notificação de casos suspeitos e confirmados de Covid-19 na cidade de São Paulo disparou em oito dias. Ontem, a média diária de novos registros da doença chegou a 3,7 mil. O bairro de Brasilândia, na zona norte, contabiliza o maior número de mortos pelo novo coronavírus na cidade. São 67, segundo levantamento divulgado pela prefeitura. O número é quase dez vezes maior do que a quantidade de óbitos no Morumbi —sete—, bairro nobre na zona sul, que é o que tem mais casos registrados: 332. No Brasil, de acordo com dados divulgados pela ONG Rede Nossa São Paulo, o fator de risco para que a Covid-19 seja fatal é o endereço. No Rio de Janeiro, o bairro que mais registra denúncias de aglomerações se tornou o local da capital com mais mortes. Campo Grande, na Zona Oeste da cidade, passou Copacabana e é o primeiro no ranking de óbitos por Covid-19, com 38.
Em São Paulo, alunos da rede pública temem perder o ano por falta de material e internet para acessar o aplicativo e as aulas à distância promovidas pelo estado. (G1)

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