O ministro Celso de Mello deu ao Palácio do Planalto 72 horas para que apresente o registro em vídeo de uma reunião da qual participaram o presidente da República, Jair Bolsonaro, ministros e presidentes de bancos públicos, ocorrida em 22 de abril. Também quer que prestem depoimentos os ministros generais Luiz Eduardo Ramos, Augusto Heleno e Braga Netto — os três estavam presentes. Foi nesta reunião, de acordo com o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, que Bolsonaro lhe apresentou um ultimato: queria ele, pessoalmente, o controle da Polícia Federal no Rio de Janeiro. O inquérito presidido pelo decano do Supremo Tribunal Federal correrá aberto — o vídeo será tornado público. (Globo)
Se houver vídeo. De acordo com apuração do jornalista Claudio Dantas, o cartão de memória no qual ficou registrada a reunião estava nas mãos de um assessor da presidência que o devolveu ontem. Apagado. Talvez haja becape. (Antagonista)
O depoimento prestado por Sérgio Moro à PF no último sábado foi divulgado ontem, no final da tarde, furo do repórter Caio Junqueira. “Moro, você tem 27 superintendências, quero apenas uma, a do Rio de Janeiro” — afirmou o presidente, de acordo com o ex-ministro. Moro também disse que Bolsonaro não cometeu crime. Leia a íntegra do depoimento. (CNN Brasil)
Míriam Leitão: “A frase síntese dita pelo presidente — ‘você tem 27 superintendências, quero apenas uma’ — é reveladora da obsessão de interferência na Polícia Federal, mas não só. Mostra uma Presidência insana. Todos os graves assuntos de Estado para serem enfrentados, mas Jair Bolsonaro tinha uma preocupação. Era março, quando ele disse isso. A pandemia já estava infectando brasileiros. Em abril, quando ela se espalhou como uma grande tragédia humana, Bolsonaro aumentou a intensidade da pressão para nomear, a qualquer custo, o superintendente da PF no Rio de Janeiro. No relato do ex-ministro Sergio Moro à Polícia Federal, o que impressiona é o conjunto e o contexto. O presidente briga, é capaz de derrubar uma peça-chave de seu governo, para escolher o superintendente da PF no Rio. Que crime o presidente pode ter cometido, isso dependerá da capacidade de investigação da Polícia Federal. Hoje, Bolsonaro é um homem acuado. Só resta a ele a grosseria de mandar a imprensa calar a boca. Não será atendido.” (Globo)
Mas mandar calar a boca, ele mandou. Foi pela manhã, à saída do Alvorada. Em fúria, voltou-se para os repórteres se queixando da manchete da Folha. “Que imprensa canalha”, afirmou. Estava irritado com a constatação, pelo jornal, de que o novo diretor da PF havia já tirado o superintendente do Rio, como ele próprio, Bolsonaro, desejava. “Eu estou trocando ele? Eu estou tendo influência? Isto é uma patifaria”, disse com a voz elevada e repetiu. “Uma patifaria.” Quando entre os jornalistas alguém pediu esclarecimento sobre o assunto, reagiu mais incisivo. “Cala boca, não te perguntei nada.” Assista. (YouTube)
Nos bastidores, conforme ouviu Malu Gaspar, Bolsonaro já informou algumas das encomendas que pretende fazer a quem estiver no comando da PF fluminense. Qual fosse sua polícia particular, quer mandar que se descubra por que o porteiro de seu condomínio afirmou que um dos suspeitos de matar a vereadora Marielle Franco tinha ido a sua casa. O presidente desconfia de que foi armação do governado Wilson Witzel. Bolsonaro também quer uma investigação que descubra problemas no governo estadual, de preferência corrupção, para atacar seu desafeto. (Piauí)
Vera Magalhães: “De forma sucinta e extremamente calculada, Moro tratou de: 1) entregar provas, evidências, testemunhas e caminhos de investigação para todas as suas declarações do dia 24 de abril e 2) evitar dizer que Bolsonaro cometeu algum crime. Essas duas primeiras estratégias visam evitar que o ex-juiz e ex-ministro: 1) seja acusado de ter praticado denunciação caluniosa e 2) seja acusado de ter prevaricado diante do que sabia ser pedidos ilícitos do então chefe. Tomado esse cuidado, passou a executar seu outro grande objetivo com o depoimento: enredar o presidente e desenhar para a PF e o Ministério Público Federal o caminho das pedras e do xeque-mate. Moro evoca o testemunho de vários ministros, com destaque proposital aos militares. Mexe com o senso de disciplina e senso de dever das Forças Armadas e aposta que os generais não vão mentir para proteger o presidente. O golpe fatal: Moro deixa claro que a verdadeira preocupação de Bolsonaro era com o inquérito do STF, tanto que dá a cereja do bolo do depoimento, quando diz que tem outra mensagem do presidente para si sobre esse assunto (ainda inédita).” (Estadão)
É o inquérito que investiga a origem das fake news.
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